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domingo, 16 de maio de 2021

Abbey Road - The Book of The End

 Capítulo 47 


De minha saga  

O Universo das Canções dos Beatles


Todos os Capítulos têm acesso neste LINK 


O cenário para Abbey Road - O Último Disco 

E segue a história dos Beatles

Estamos em 13 de janeiro de 1969! 

E seguem crescendo os números!!!               
Em pouco mais de 6 anos de carreira, lançaram 176 canções, sendo 152 autorais e 24 de outros autores, filmaram três Longas Metragens de sucesso mundial, A Hard Day's Night e HELP!, um de sucesso mediano, reconhecido posteriormente, fizeram 571 shows, sendo 386 no Reino Unido, 94 na Europa Continental, 67 na América, 16 na Austrália e 8 na Ásia, esse número ficou estacionado, e ganharam 4 títulos de Membros do Império Britânico, lançaram 17 compactos, um EP de inéditas, 10 LPs, Please Please Me (LINK)With The Beatles (LINK) A Hard Day's Night (LINK)Beatles For Sale (LINK)HELP! (LINK), Rubber Soul (LINK), Revolver (LINK), Sgt. Pepper's Lonely Hearts CLub Band (LINK), The White Album (LINK), Yellow Submarine (LINK), um EP Duplo - Magical Mistery Tour (LINK) - todos chegando ao primeiro lugar, com exceção do primeiro e de mais um (!!!) compactos, e do último álbum.
Os números seguem espantosos!!!               


O último LP, Yellow Submarine, já havia sido uma quebra da sequência natural de eventos no cronograma da carreira dos Beatles. Aliás, vamos dar uma analisada na história, desde o início, desde o  primeiro LP, Please Please Me.

  1. shows - gravação/filmagem - lançamento de Please Please Me
  2. shows - gravação/filmagem - lançamento de With The Beatles
  3. shows - gravação/filmagem - lançamento de A Hard Day's Night
  4. shows - gravação/filmagem - lançamento de Beatles For Sale
  5. shows - gravação/filmagem - lançamento de HELP!
  6. shows - gravação/filmagem - lançamento de Rubber Soul
  7. shows - gravação/filmagem - lançamento de Revolver
  8. shows - gravação/filmagem - lançamento de Sgt. Pepper's LHCB
  9. shows - gravação/filmagem - lançamento de Magical Mistery Tour
  10. shows - gravação/filmagem - lançamento de The Beatles - O Álbum Branco
  11. shows - gravação/filmagem - lançamento de Yellow Submarine
  12. shows - gravação/filmagem lançamento de Let It Be
  13. shows - gravação/filmagem - lançamento de Abbey Road
  14. lançamento de Let It Be
Então, o trinômio shows - gravação - lançamento foi a tônica nos 8 primeiros álbuns, com filmagem em dois deles, quando então pararam os shows, e nos 2 seguintes passou a um binômio gravação - lançamento, e o último nem teve gravação, pois as canções já estavam gravadas, daí serem 14 as entradas, pois a última teve gravação num ano e lançamento em outro!

Entretanto, 1969 viria com uma novidade, veja no item 12: houve gravação SEM lançamento!! Pois é!  O próximo álbum dos Beatles, que teve o nome inicial de projeto Get Back, teve 20 sessões de gravação, de uma maneira toda heterodoxa em relação ao Beatles way of recording dos últimos anos, começando pelo local das gravações, que ocorreram no porão da Apple em Saville Row, e mais ainda por não terem a presença de George Martin, e tudo sendo filmado e até teve um show inesperado (no dia 30 de janeiro), mas NÃO TEVE lançamento porque o material foi considerado de qualidade inferior, PODE? 

Era o fim dos Beatles? NÃÃÃO!

Já no fim de fevereiro, os Beatles se reuniam em Abbey Road, na velha casa, para começar as gravações daquele que seria seu último álbum, e de volta com George Martin e Geoff Emmerick. E, como aconteceu desde Rubber Soul, era uma canção de John que inaugurava os trabalhos(*), I Want You (She's So Heavy). Era a primeira de 42 sessões que, entretanto, somente se intensificariam a partir de meados de abril, porque em março aconteceriam dois fatos que mudariam as vidas dos dois Beatles mais famosos!
(*) Revolution 1 abriu o Álbum Branco (1968)
I Am The Walrus abriu Magical Mistery Tour (1967)
 A Day In The Life abriu Sgt. Pepper's (1967)
Tomorrow Never Knows abriu Revolver (1966)
Run For Your Life abriu Rubber Soul (1965)


No dia 12 de março de 1969, 
Paul McCartney se casou com Linda Eastman, 
que já tinha uma filha (Heather), 
e que lhe deu mais 3 filhos (Mary, Stella e James)  
que ficaria a seu lado até o fim da vida DELA, 
29 anos depois, quando ELA morreu, de câncer.



No dia 20 de março
 de 1969,
John Lennon se casou com Yoko Ono,
que já tinha uma filha (Kyoko),
e que lhe deu mais 1 filho (Sean),
que ficaria a seu lado até o fim da vida DELE,
11 anos depois, quando ELE morreu, assassinado.




Enquanto isso, George extraía suas amídalas e, no mesmo dia do casamento de Paul, ele e Pattie foram acusados de posse de drogas, possivelmente plantadas em sua casa, mas declararam-se culpados e pagaram multa.

Ringo entrava mais firme na carreira de ator. Seu filme Candy estreou nos cinemas e ele passou muitas semanas filmando The Magic Christian, onde atuava com Peter Sellers, seu amigo. Em uma das sessões de filmagem, se encontrou com a Princesa Margareth, amiga do comediante!

Após se casarem, John e Yoko viraram notícia quando passaram uma semana de pijamas num hotel em Amsterdam (Hilton), falando sobre paz! Depois, foram a Viena onde deram uma conferência escondidos em sacos! O evento 'Bed In' se repetiria em Montreal.

Paul seguia ativo em trabalhos além dos Beatles. Compôs Goodbye e tocou baixo para Mary Hopkins em seu novo compacto, e depois produziu o LP da jovem cantora!

Voltando aos casamentos supramencionados

Você convidou John ou George ou Ringo para o casamento de Paul?
Não? Nem eu! E nem Paul!

Você convidou Paul ou George ou Ringo para o casamento de John?
Não? Nem eu! E nem John!

Isso era uma mostra de como andava o relacionamento entre eles. Eles já estavam em processo de separação. Muitas tensões ocorreram na gravação do Álbum Branco, e que atingiram o ápice com a saída de Ringo que posteriormente retornou. E também ocorreram na gravação do projeto Get Back, que atingiram o ápice com a saída de George que posteriormente retornou. A presença constante de Yoko durante as gravações de ambos os álbuns não contribuía para o clima. Para a condução da carreira dos Beatles, Paul queria John Eastman, seu sogro como empresário, mas John queria Allen Klein, que acabou convencendo George e Ringo. Mas essa história tentarei contar em capítulo subsequente.

O clima todo não impediu, entretanto, que continuassem a produzir material de altíssima qualidade. Em abril, lançaram o compacto Get Back/Don't Let Me Down, direto para o topo das paradas, mesmo destino de um outro compacto, com The Ballad Of John And Yoko/Old Brown Shoe. E, claro, o ar rarefeito das alturas também atingiu as 17 canções constantes de Abbey Road, que começarei a descrever nas próximas linhas.

Os Assuntos de Abbey Road


Foram 17 as canções gravadas. 

Todas Lennon/McCartney, excetuando-se as destacadas

  1. Come Together
  2. Something (George Harrison)
  3. Maxwell´s Silver Hammer
  4. Oh! Darling
  5. Octopus´s Garden (Richard Starkey)
  6. I Want You (She´s So Heavy)
  7. Here Comes the Sun (George Harrison)
  8. Because
  9. You Never Give Me Your Money
  10. Sun King
  11. Mean Mr Mustard
  12. Polythene Pam
  13. She Came in Through the Bathroom Window
  14. Golden Slumbers
  15. Carry That Weight
  16. The End
  17. Her Majesty

 
Agora, vamos aos Assuntos!! O álbum segue a tendência, iniciad a em Rubber Soul e jamais seria abandonada, de ser predominantemente de Mind Songs 

Percebam a tabela abaixo. 



Mais detalhes sobre a divisão entre Heart & Mind Songs, aqui, neste LINK

Traduzindo...

São 5 canções falando ao  Coração
  • 4 sobre Garotas, sendo duas na Classe Amor, uma de Paquera e uma DR
  • 1 sobre Saudade, na Classe Desespero

São 12 canções que falam à Mente
  • 5 com Histórias, sendo 4 Engraçadas e um Conto
  • 4 com Discursos, sendo 2 a uma Pessoa, 1 a um Grupo e 1 ao Mundo
  • 2 com Drogas, sendo 1 História e uma Viagem
  • 1 sobre Si mesmo, na Classe Sonho

O Álbum Branco segue sendo o ÚNICO dos Beatles a ter canções em TODOS os 7 Assuntos em que este cronista dividiu o mundo da música, a saber, a saber, Girl, Miss, Story, Speech, Self, Acid e Nonsense!!  Em Abbey Road, falhou o Assunto Nonsense!


E atualizemos nosso gráfico Heart x Mind, que introduzimos em Sgt.Pepper's!

Após o CAMPEÃO das Mind Songs,  Magical Mistery Tour  

Abbey Road, segue sendo predominantemente Mind, mas o índice é o menor desde Revolver.

Veja o gráfico:




Os próximos índices de Heart Songs serão:
  • Let It Be tem 2 Heart Songs (20%, 2 em 10 + 1 Cover)
  • Past Masters #1 tem 11 Heart Songs (100%, 11 em 11 + 4 Covers)
  • Past Masters #2 tem 5 Heart Songs (38%, 5 em 13)
Lembrem-se que os Past Masters #1 e #2
são coletâneas de canções fora dos LPs

Abbey Road é, portanto, no trinômio Grupo / Assunto / Classe, um

71% Mind,
29% Story,
24% Funny Album!

Em termos de autoria, adotando o conceito de 'propriedade' do álbum, criado em Yellow Submarine,  Abbey Road é um álbum de Paul McCartney, pois fez 8 das 17 canções. As canções estão assim divididas!
  • Paul com 8 canções, sendo 3 com Histórias (duas engraçadas e um Conto), 3 com Discursos (duas a uma Pessoa  e uma ao Mundo), uma sobre Garotas na Classe DR e uma sobre Saudade, na Classe Desespero
  • John com 6 canções, sendo 2 com Histórias (ambas engraçadas), 2 sobre Drogas (uma Viagem e uma História), e 2 sobre Garotas (nas Classes Paquera e Amor)
  • George com 2 canções, sendo uma com Discurso (a um Grupo) e 1 sobre Garotas (de Amor)
  • Ringo trouxe uma canção sobre Si mesmo, descrevendo um Sonho

Na tabela abaixo, as evidências, nas letras, do porquê da classificação acima!



As Canções Normais de Abbey Road

Segundo o Aurelix, ou, o Aurélio do Homerix, uma canção 'normal' de Abbey Road é aquela que tem início, meio e fim, e que está fora do Medley mais famoso da história da música. 

Elas cobrem todo o Lado A do álbum e mais duas faixas do Lado B.

Depois delas, vem um medley de 9 canções.  As 8 canções normais de Abbey Road têm a peculiaridade rara de contar com composições de todos os Beatles. A outra vez em que isso aconteceu foi no Álbum Branco, mas lá, Ringo tinha Uma em 30 canções, aqui é Uma de 8 canções, tendo nosso baterista um peso mais expressivo! E ele dá show! 

Veja na figura, qual Beatle fez quantas canções nesse conjunto!

2 de George - 2 de Paul - 1 de Ringo - 3 de John


E vamos a elas.

1. Come Together  (Trip Acid Song by John Lennon)

John segue viajando: "Ele não usa nenhuma graxa no sapato, ele tem dedos de jogador de futebol, ele tem dedo de macaco, ele atira na coca cola, ele diz: 'eu o conheço, você me conhece'. Uma coisa que eu posso dizer pra você é que você tem que ser livre. Venha cá, agora mesmo junto a mim!." 

Você usaria estas características acima, e outras como, 'velho chato', 'cabelos até o joelho', 'botas de morsa', para a campanha política de um amigo? Acho que não, né? Mas foi por aí que veio a idéia do nome da canção. Timothy Leary, guru do LSD, pediu-lhe uma canção para impulsionar sua campanha contra o ator Ronald Reagan, a governador da Califórnia, que usava 'Come Together' como slogan. Ele nem disputou porque foi preso, por posse de drogas, e nem usou a demo que John compôs pra ele, rapidamente, durante o segundo Bed-in de John e Yoko, em Montreal. Depois, a letra evoluiu, e virou a canção de enorme sucesso, e Leary chegou a reclamar, educadamente, ainda da prisão, o crédito pelo uso do nome da campanha, mas John disse: "Amigo, eu sou um alfaiate. Você encomendou um terno e não veio buscar. Eu vendi pra outra pessoa!'. Grande John Lennon!

Dizem que a figura estragada, degringolada, que ele criou seria um autorretrato, conforme ele se sentia naqueles anos pesados nas drogas. Outros encontram um personagem para cada um dos 4 Versos. Pode ser! O Verso 1 poderia ser referência a Ringo, por causa do 'Got to be a joker', afinal ele era The Funny Beatle, e outras menos convincentes. O Verso 2 poderia ser a George por causa 'He got monkey finger' devido à sua habilidade na guitarra e do 'One thing I can tell you is you got to be free', que era um mantra de George, sempre incitando a ter a mente livre; o Verso 3, claramente autorreferência, por causa de 'Ono sideboard', Yoko sempre a seu lado e do 'Walrus gumboot', claro, pois 'John was the Walrus', e do 'Bag production', referência à sua conferência em Viena quando se apresentou com Yoko, cada um envolto por enorme saco, além de ser o nomeda produtora que ele e Yoko criaram (Bag Productions); e Verso 4, a Paul, principalmente por conta do 'Got to be good looking', ele que era conhecido como The Cute Beatle, e do 'He say one and one and one is three' por estar sempre querendo dar ideias e ensinar aos outros, a até do 'roller coaster', por causa de sua composição Helter Skelter. Há outras associações menos convicentes. Enfim, interpretações estão sempre à disposição! John não confirmou nenhuma delas.

As sessões de gravação começaram em 1 de julho, mas a segunda veio só 20 dias depois, pois John estava de molho, após acidente de carro com Yoko e crianças (Kyoko e Julian), ele chegou a levar 17 pontos, e Yoko, grávida, acabou perdendo mais um filho algum tempo depois. Registrada a ocorrência externa, note bem os instrumentos em Come Together: o baixo levemente distorcido de Paul na introdução e nos versos é inovador, a bateria de Ringo nos 'Shoot me' da introdução é inesquecível, e a guitarra de George no final com o duelo com a voz de John é arrebatadora. Além, claro, do vocal inspirado de John.  E de Paul nos backing vocalsO piano elétrico é de John, notável na sessão instrumental. Paul queria tocar, afinal era o melhor pianista do grupo, mas John disse: 'Desta vez, deixa comigo!' Paul ficou triste, chegou a sair do estúdio. 

Ela abre o LP Abbey Road e foi simultaneamente lançada em compacto com Duplo Lado A, junto com Something, de George, direto ao topo das paradas. Ao vivo, os Beatles nunca a tocaram, mas John sim, uma das pouquíssimas vezes (pouco passa dos dedos de uma mão!) em que ele tocou canções da epoca dos Beatles. Foi em New York, 1972. Veja aqui neste LINK. Michael Jackson e Aerosmith gravaram covers muito bons! 

John teve problemas com Come Together, pois foi acusado de plágio, de uma canção de Chuch Berry, 'You Can't Catch Me', de 1956. O detentor dos direitos o processou e ganhou. A melodia era parecida, e a primeira frase, 'He come old flat top', quase igual. Paul alertou, mas John insistiu. O pagamento foi que John gravasse três canções produzidas pelo mesmo sujeito, inclusivea canção objeto da ação, e lhe entregasse o resultado das vendas. Acho que ficou mais barato que os US$ 5 Milhões que George teve que pagar por My Sweet Lord. 

Finalizando, é muito triste ver uma banda com todos os seus instrumentistas e criadores no ápice de suas capacidades anunciar o seu fim após coisas como as citadas e as outras de seu último LP. 

Como triste ficou o mundo, 11 anos depois, quando um maluco atendeu ao chamado da introdução...

 Shoot me ... Shoot me ... Shoot me ... Shoot me ...

 

2. Something  (Love Girl Song by George Harrison)

George se declara: "Alguma coisa em seu jeito de andar me atrai como nenhuma outra. Alguma coisa no jeito como ela me seduz. Eu não quero deixá-la agora. Você sabe o quanto eu acredito"  

 
Pausa para digressão anglo-linguística!
E reparou no último verbo, 'woo'? Tenho quase certeza que você não conhecia, mas nem precisa dicionário, precisa? '... alguma coisa no jeito que ela me uuuuuuseia'. Esta é uma beleza do idioma inglês: a facilidade com eles substantivam um som, e depois verbalizam, ou seja, colocam ação no substantivo resultante, é uma grandeza. Então, 'She made a woo sound to me!' se transforma rapidamente em 'She gave me a woo!' para logo depois virar 'She wooed me!'. Mágico! A tradução pra o português resulta em 'flertar'. Chega a ser sem graça!
Fim da digressão anglo-linguística!

E antes de passar à parte musical quero deixar bem clara minha classificação da canção como LOVE GIRL SONG! É George falando para Pattie, sua então esposa, e inspiração desde 1964. Eu fiz questão de capitalizar o assunto que defini, porque, à época o George estava numa de dizer que toda canção dele era falando com Deus, e disse que Something era uma delas. SAI PRA LÁ!! Vou destacar algumas partes da letra "the way SHE moves", "the way SHE wooes", "Somewhere in HER smile SHE knows", "Something in HER style", "I don't want to leave HER now""Something in the way SHE knows""And all I have to do is think of HER"Ora, vá plantar batatas! Quer me enganar que conversava com Deus? Acresça-se que as principais divindades indianas, que é onde ele se descobriu em 1966, Brahma, Vishnu, Krishna, e até mesmo Shiva, que tem uma aparência feminina, são masculinas. Sorry, George! Aliás, se fosse uma conversa com Deus, por que você aceitou fazer aquele filme promocional, lindo, com os quatros casais Beatles em ternas imagens, incluindo edição mostrando Pattie andando, Pattie olhando e Pattie sorrindo, enquanto você os verbos correspondentes na letra? Deixo o filmezinho aqui, neste LINK, pra vocês!
 
 
A melodia de 'Something' é linda, suave, triste, a gente se arrepia já na introdução, de bateria e guitarra, o solo de guitarra de George no meio da canção é o mais lindo da história do rock, e na hora da ponte "You're asking me will my love grow, I don't know, III don't know!', a bateria de Ringo é inesquecível. Ela já estava quase pronta em setembrode 1968, quando apareceu no estúdio assim como quem não queria nada, quando George a cantou para Chris Thomas, dedilhando seu começo no cravo que ele ia usar para Pixies e o engenheiro se impressionou, e sugeriu que gravasse aquela canção. George perguntou: 'Você acha boa mesmo?', veja só! E ele pensou em dar para um outro gravar, um certo Jackie Lomax, artista novo da Apple, mas ele escolheu outra, veja só! E ele a deu para Joe Cocker e ele aceitou mas, felizmente, atrasou o lançamento para o final do ano e nesse meio tempo, George finalmente ganhou confiança para gravá-la com os Beatles, e deu no que deu! Insegurança, teu nome é George Harrison! 
 
Depois daquela amostra ao cravo, ele escreve outro verso e a melodia da ponte, e a traz para as sessões do Projeto Get Back, em janeiro de 1969, e pede sugestões de letra, e John sugere as linhas que seriam a finalização de todos os versos: "I don't want to leave her now, You know I believe and how". Incrível, não? Bem poderia então ser uma Harrison/Lennon, mas não foi o caso. Apenas um mês depois, em 25 de fevereiro, ocorreu o primeiro dia oficial de gravação, no formato demo, apenas George e sua guitarra, várias, e também piano. Uma parte dessa sessão sobreviveu e foi lançada no Anthology 3, e deixo aqui o LINK pra vocês, principalmente para mostrar uma letra que não sobreviveu, que ele cantava na sessão solo. Em abril, houve uma sessão estranha, sem a presença de Ringo, Paul tocou bateria e John o baixo, foram 13 takes, todos jogados fora. Duas sessões jogadas fora, aliás, pois tudo começou de novo, do zero, em 2 de maio, e então foram 36 takes, o último válido, com a base com John ao Piano, George nas duas guitarras, Paul no baixo, e Ringo na bateria. Três dias depois,  a sessão foi no Olympics Studios, e foram somente dois overdubs, George na guitarra e Paul no baixo, mas num sentido inverso do que se espera na evolução de uma canção: ele passa de uma tocada mais burilada, para uma mais simples ao final, a pedido de George, que não queria porque não queria que o baixo tivesse destaque em sua canção. Coisas daquela época... 
 
Quase dois meses se passaram, e apenas nesse tempo foi decido que um novo álbum seria gravado. Dia 1 de julho recomeçaram as gravações, e no dia 11, Something estava de volta! George gravou seu vocal e Billy Preston aparceu para brilhar com seu órgão. Nesse ponto, decidiu-se que o piano de John seria eliminado da versão final. E ele não mais voltou. Não existe John em Something!! Paul gravou um piano depois. Após uma mixagem no começo de agosto, George percebeu que uma 'orquestrazinha' iria bem! Que bela decisão! Encomendou o arranjo a seu xará Martin e, no dia 15, aquele magnífico som veio ao mundo! E não só da canção de George, mas de outras quatro de Abbey Road, incluindo a outra dele, Here Comes The Sun.  E foi uma extensa sessão com muitas horas extras pagas aos músicos, e uma conjugação de armengues para fazer com o gravador de oito canais de um estúdio fosse conectado com o Estúdio 1, aquele enorme, que não dispunha do console! Calro que deu tudo certo. E decerto, Abbey Road é o álbum com mais participações orquestrais da carreira dos Beatles! 
 
Entretanto, o mais marcante dessa já marcante sessão, é que George resolveu refazer o seu solo, sim, aquele magnífico solo de guitarra, o mais fenomenal solo romântico da história do rock. Só que.... não havia mais espaço na fita. O último canal tinha que ser o mesmo da orquestra. Ele teria que tocá-lo ao vivo, e sem falhas, para não vazar sons indesejáveis para os outros microfones! Ao ser colocado sobre o problema, George não teve dúvidas: "I'll do it!". 
 
E olha o que ele fez, ouve o que ele fez, sente o que ele fez!!! 
Un parfait Gran Finale pour une Grand Chanson!! 

Enfim, uma grande bola dentro de George. A melhor de todas, em minha opinião! E o mundo assim o percebeu. George a tocou nos dois únicos shows que fez ao vivo em sua carreira solo, Concerto para Bangladesh, e Live in Japan, vocês podem encontrar facilmente. Deixo pra vocês a melhor interpretação da canção, em minha opinião, que foi no Concert for George, neste LINK. Não vou nem descrever, pra vocês sentirem a emoção, a entrada de Paul no ukulele, e depois o arranjo completo, com Eric Clapton cantando, e com Ringo na bateria! 

 

3. Maxwell´s Silver Hammer  (Funny Story Song by Paul McCartney)

Paul conta 'Posso levá-la ao cinema, Joan? Ela aceita e quando se apronta para ir, Maxwell chega à sua porta e 'Bang Bang, o martelo de prata de Maxwell atinge a cabeça dela, até ele ter a certeza de que ela está morta!' 

Caramba, Paul, what the hell? E tem mais, ele ainda vai à escola e a coisa se repete com a professora que lhe deu o castigo de escrever 50 vezes que não deve ser assim, e só depois o rapaz é preso, mas na hora do julgamento, aclamado por Rose e Vallery, repete a dose no juiz! Ah, Paul, mas que humor negro é esse?! Ah, eu gosto muito! E vou repetir aqui:

                D-I-V-E-R-T-I-D-Í-S-S-I-M-A!!!  

A estrutura da canção é composta de 3 Versos, um para cada martelado, cada um seguido por uma ponte, com letras diferentes, e depois o refrão "Bang! Bang! Maxwell's silver hammer came down upon her head. Bang! Bang! Maxwell's silver hammer made sure that she was dead." nos Versos 1 (Joan) e 2 (Professora) e trocando por "his/he" no Verso 3 (Juiz). Destaque-se o Paul de sempre em suas rimas internas ("Science in the home, Late nights all alone", ("Teacher gets annoyed. Wishing to avoid ...", "So he waits behind, Writing fifty times" e "Maxwell stands alone, Painting testimonial pictures), e com a escolha de nomes dos personagens de sua historinha que se encaixassem no tema "Edison-Medicine", "phone -Joan", "Vallery-gallery".

Musicalmente? Um Vaudeville (*) delicioso, estilo dos anos 1920! Mas sou minoria! Críticos arrasaram.... e os demais Beatles detestaram. É que foi muita insistência de Paul. Ele começou a compor em Rishikesh, pretendia que fosse pro Álbum Branco, não deu, tentou nas sessões em Twickenham, no Projeto Get Back, não deu, queria até que fosse single, não deu. Então, de Abbey Road, não escapava, mas ele infernizou a vida de George e Ringo até chegar ao ponto que queria, foram muuuitos takes! Interessante o som do martelo, que foi obtido por Mal Evans batendo numa bigorna! E o sintetizador Moog, já definitivamente na lista dos instrumentos preferidos pelos Beatles. 

Mas vamos a mais um pouco de 

detalhe sobre o tal 'inferno'. A coisa começou ok, em 3 de janeiro, num estúdio de filmagem (Twickenham), onde tudo era filmado, o projeto Get Back. Paul apresentou a canção ao piano, e ensaiaram 10 vezes, primeiro com Paul no baixo, depois George assumiu, passando Paul ao piano. Dia seguinte, além de George ensaiar um backing vocal, a novidade foi a bigorna que Mal Evans trouxe para ser martelada, sugestão de Paul, e o roadie assumiu o martelo, primeiro batalhando pra acertar as horas certas de martelar. Nesse dia, foram mais 18 ensaios. E num terceiro dia, vai contando, mais 13 ensaios. E o quarto dia foi o infausto 10 de janeiro, quando George se desentendeu com Paul e foi-se embora! Mesmo naquele climão, Paul botou os outros dois pra mais 4 ensaios, com direito a vocais irônicos de Paul e John, que certamente veremos na nova versão do filme que está pra sair neste ano. George voltaria 10 dias depois, com Billy Preston, que aparece na foto da bigorna acima. 

Pulemos 6 meses  e algumas estações de metrô adiante, e encontremo-nos em Abbey Road, estúdios da EMI, no glorioso 9 de julho de 1969, e imaginemos Paul, George e Ringo ansiosos pela volta de John após 10 dias de molho por causa daquele acidente de carro que mencionei em Come Together! 

Pausa para um evento marcante 

John chega aparentemente bem, com Yoko, como sempre, mas ela está meio cobalida, grávida de risco, e logo depois abrem-se as grandes portas do estúdio e quatro carregadores invadem, com uma cama hospitalar, com rodinhas, e logo chegam camareiras com lençóis, travesseiros e colchas, fazem a cama, e Yoko lá se instala. Imagine-se as bocas abertas de todos. John comanda a instalação de um microfone para o caso de Yoko participar (!!). Constrangimento geral. Essa pantomima se repetiria por muitos dias, com a cama viajando em suas rodinhas entre os estúdios 2 e 3, conforme fosse o estúdio onde John trabalharia. 

 Fim da pausa pa para um evento marcante 

John não participou das gravações naquele dia, aliás em nenhum outro da canção. Recusou-se a participar. Naquele famoso dia, Paul comandou 16 takes, na mesma configuração dos ensaios de seis meses antes, piano-baixo-bateria. Paul também gravou seu vocal, completo nos Versos 1 e 2, e incompleto no Verso 3, ainda sem letra definitiva (ouça neste LINK). Paul foi muito impositivo com Ringo e George nas sugestões de como queria os instrumentos em sua canção. Paul e George também tocaram guitarra, harmonizando conjuntamente, e cantaram os "tchutchururu" dos refrões. No dia seguinte, mais overdubs, incluindo agora a famosa bigorna e martelo, para serem tocados nos Bang-Bang's, desta vez, por Ringo. E também George Martin num órgão. E Paul e George nos backing vocals em falsete de "Mawxell must go free" do Verso 3, e chamando Ringo para o grave de "Maxwell hammer man". Paul fez arpégios ao piano que se ouvem antes do Verso 3, e finalmente acrescentou o vocal com as letras finais desse mesmo verso, o do julgamento. John ouvia aquilo tudo de longe, impassível, de um canto do estúdio.... Bem, se você pensa que acabou, está enganado! Um mês depois, Paul acrescentou o tal sintetizador Moog em diferentes modos, nos interlúdios instrumentais logo antes do verso 2, e ao longo deles, ao fundo, e próximo à conclusão, todas as inclusões com um efeito marvilhoso.

A canção fecha, com chave de ouro, um pentateuco de fofurice explícita de Paul McCartney, que embarcou nessa onda e surfou muito bem nela, gênio, sempre em homenagem às canções que seu pai colocava ele pra escutar, quando criança. Vejam quais foram, todas fofíssimas, e cliquem em seus nomes para mais detalhes: 

When I'm Sixty Four - Sgt.Pepper's Lonely Hearts Club Band - 1967

Your Mother Should Know - Magical Mistery Tour - 1967

Honey Pie - Álbum Branco - 1968

All Together Now - Yellow Submarine - 1969

Maxwell's Silver Hammer - Abbey Road - 1969 

Bem, gente, nada melhor do que esta animação (LINK) para contar a história que Paul contou!! 

 

4. Oh! Darling  (Dispair Miss Song by Paul McCartney)

Paul grita 'Quando você disse que não precisava mais de mim, bem, você sabe, eu me desmontei e quase morri! Oh! Querida, se você me deixar, eu nunca vou conseguir ficar sozinho' 

Paul diz que quase morreu quando ela disse que não precisava mais dele. Se eu tivesse que designar uma coisa só dessa canção, eu diria: O MAIS ESPETACULAR DESEMPENHO VOCAL DE TODA A CARREIRA, DURANTE E PÓS BEATLES! Paul conta que ia todo dia gravar sozinho até chegar ao vocal sujo que ele desejava para o caráter primal do grito. E disse que cinco anos antes, teria feito muito mais facilmente, certamente se referindo por exemplo a I'm Down e Long Tall Sally. Tem uma interpretação paralela, de que o recado seria direcionada a John, por causa das desavenças entre eles, como um apelo pra que tudo voltasse aos velhos tempos!!! E olha, aquela canção foi até um marco que poderia ser um sinal de que tudo continuaria bem. John, e também George e também Ringo se dedicaram bastante, como uma banda, e produziram espetaculares participações. 

A estrutura é simples, com dois versos, depois uma ponte para um terceiro verso, mais uma ponte para um verso final. Apenas duas rimas na canção, ambas envolvendo verbos, uma delas entre versos, note: no Verso 1, o primeiro pranto, ou pleito, ou súplica, que são muitos ao longo de toda a canção, diz "Oh, darling, please believe me" que rima com a primeira linha do Verso 2, que diz "Oh, darling, if you leave me". Depois, nas pontes (que têm letras idênticas), ele rima "cried" com "died". E só! No resto, o que se denota é a profusão de termos suplicantes, "beg", "please", "don't", só faltou o "bended knees" de outras canções pretéritas! Puro desespero, como classifiquei a canção. E, acompanhado de berros agudos, roucos, primais, como disse antes, faz com que o recado seja muito bem dado, a gente fica até com pena do rapaz.

O que se ouve na versão final é Paul ao piano, com George assumindo o baixo, John em sua guitarra e Ringo em sua bateria, e mais vocais de apoio sensacionais de John e George e Paul. Esse line-up foi definido logo cedo, desde as primeiras vezes em que veio ao mundo, nos estúdios de filmagem do Projeto Get Back, em janeiro, quando a canção foi ensaiada com a presença de todos. Quando Billy Preston chegou ao grupo, trazido por George em sua volta (ele havia abandonado os Beatles!), Paul chegou a assumir o seu tradicional baixo, mas voltou depois ao piano. Ao final daquele mês, que culminou no show do terraço, Oh! Darling ainda não estava ainda pronta e foi rejeitada para o projeto. Ouça neste LINK, que havia a segunda voz de John, e Paul falando algumas partes da letra, e uma jam ao final, com John celebrando o divórcio de Yoko. 

Nada do que se fez naqueles sete dias de janeiro foi considerado oficial, e Oh! Darling começou a ser gravada oficialmente em abril, já em Abbey Road, no dia 20. Foram 26 takes, com o último sendo a base para a versão final, mas veja aqui o Take 4, neste LINK, em que se ouve um vocal de Paul muito bom, mas ainda longe do que ouvimos no álbum, e também note o órgão de Billy Preston, que some na versão final. O take escolhido (26) já tinha o espetacular baixo anos 50 (tum tuuuum tuum tum tuuum), os acordes a cada dois tempos na guitarra de John, que acelera em subidas e descidas nos acordes das pontes, e um Ringo antenadíssimo, especialmente insano nas introduções das pontes, acompanhado de um orgulhoso Paul, ao piano! 
 
Àquela altura, ainda nem havia a decisão de se gravar um novo álbum, então apenas em 17 de julho, Oh! Darling voltou à baila, com a gravação dos backing vocals de John, Paul e George, note como começam em "uuuuuh"s e passam a "aaaaah"s no meio dos versos e somem nas pontes, para o esplendor da súplica berrada de Paul. Naquele mesmo dia 17, Paul chegou antes de todo mundo (ele morava a um quarteirão do estúdio) e começou sua batalha para atingir o vocal dos sonhos que ele queria.  Ele repetiria o movimento nos dias 18, 22 e 23, variando de configuração, sentado ou de pé, com ou sem fone de ouvido, com microfone de mão ou no pedestal, enfim, até que atingiu aquela pérola com que nos brindou. Ainda teve forças para dobrar os vocais nas pontes! 
 
John queria muito ter participado, mas era canção de Paul, era uma questão de honra para ele. Invejoso, John chegou a declarar que era uma ótima canção de Paul com um desempenho voal abaixo do esperado. Sai pra lá, John! 
 
Em homenagem a Paul, vou fazer uma coisa que ainda não fiz, por temer que meu post seja proibido. Eis aqui um LINK com a gravaçao de Oh! Darling original dos Beatles.

 

 5. Octopus´s Garden  (Dream Self Song by Ringo Starr

Ringo sonha com um lugar: 'Eu gostaria de estar sob o mar, no jardim do polvo, na sombra. Ele nos deixaria entrar, sabendo de onde éramos, em seu jardim, na sombra'

Olha o Ringão aí, geeente! Depois de um longo período em que via seus amigos produzindo canções e mais canções, Ringo desabrochara no ano anterior, com Don't Pass Me By, sua primeira autoral na época dos Beatles, e um ano depois, gravou sua segunda, uma composição leve, onde sonha em morar num local idílico, sem preocupações, mais especificamente sem as tensões que sentia naquela fase meio turbulenta de sua banda. Ele teve a inspiração na Sardenha usando o iate de Peter Sellers, óia que chique, justamente fugindo das tensões que culminaram com sua saída da banda, em 1968. Contei sobre o episódio aqui Back In The USSR.  Ele comeu polvo pela primeira vez na vida, e o capitão contou que os polvos iam coletando materiais sólidos no fundo do mar e faziam seu refúgio, um 
octopus's garden, e então Ringo sonhou "I'd like to be under the sea!". Ringo teve a ajuda não creditada de George nos acordes, além claro do riff de abertura inspirador e característico de uma children's song, aliás, como ela foi considerada, sendo utilizada no programa Muppets (LINK) várias vezes, e em outras instâncias do gênero.
 
 
Ringo nos presenteia com uma canção só com três versos, mas com versos longos, de 8 linhas, portanto com oportunidade para 4 rimas cada um, e com letras diferentes, obecendo ao The Beatles Way of Composing, um manual que não existe, mas parece estar instalado em suas mentes, com o mandamento "Não repetirás versos!". As vezes em que The Beatles desobedeceram ao mandamento não preenchem uma mão, entre 185 canções que criaram, incrível isso. A única repetição em Octopus´s Garden, é da dupla com o título "I'd like to be under the sea / In an octopus' garden in the shade" que abre a canção, e também fecha também os três versos, consistindo num 'quase' refrão, muito interessante, sendo que no terceiro, o "in the shade"  é trocado por "with you", aliás, rimando com "knowing what to do", boa rima, que em portugués seria considerada rica, assim como a maioria delas. Por exemplo, veja que as frases 1 e 3  cada verso apesentam rimas internas (Paul deve ter ficado orgulhoso), Ringo foi uniforme na estrutura e caprichou:
I'd like to be under the sea
verbo-substantivo
He'd let us in, knows where we've been
preposição-verbo

We would be warm below the storm
adjetivo-substantivo
Resting our head on the sea bed
substantivo-substantivo

We would shout and swim about
verbo-preposição 
Oh what joy for every girl and boy
substantivo-substantivo


Segundo George, seu companheiro Ringo fez, sem querer, uma canção cósmica, de busca de si mesmo, especialmente com a imagem do Verso 2, sonhando com um lugar tranquilo (warm), protegido das tempestades (storm) acima do nível do mar.
 
Com o começo desta canção em mãos, Ringo chegou animado para o segundo dia de ensaios no começo de 1969, e apresentou-a aos demais, juntamente com outras duas de sua lavra, mas apenas a pimeira seguiu adiante. Num glorioso 26 de janeiro, já com George de volta, de seu 'recesso' de Beatles, as câmeras capturaram para a eternidade uma sequência charmosa de cenas retratando  uma pequena mostra da gestação da canção. Ringo estava ao piano, com toda a habilidade dos 3 acordes que ele conhecia, e George chega a seu lado, e  se admira que ele aprendeu um La Menor, e ensina outros acordes tocando junto sua guitarra, e chega John (com Yoko) e vai para a bateria, e chega Paul, e o diretor do filme, mal-intencionado, corta a cena, como se o chefe tivesse chegado pra atrapalhar a brincadeira. Intriga! Na verdade, Paul pegou seu baixo e acompanhou a canção nascedoura em 8 takes! Todos gostaram da canção de Ringo, inclusive, George Martin que estava lá naquele dia! Exatos dois meses depois, ela começou a ser gravada em Abbey Road. Foram 32 takes tendo Ringo na bateria, Paul no baixo, George na guitarra solo e John na guitarra base. Ringo cantou um guia vocal, que foi perdido embaixo do vocal definitivo, três dias depois, com todos elogiando a firmeza com que cantou sua canção. No mesmo dia, acrescentou-se os backing vocals de Paule George, e os efeitos sonoros de fundo do mar. Ringo já estava orgulhoso de sua primeira canção, no Álbum Branco no ano anterior, e agora, estava próximo ao céu, de tanta felicidade! 
 
Acompanhe este LINK com a descrição de fatos sonoros a seguir, claro  imaginando cada Beatle no lugar dos membros da All Star Band de Ringo. Note a colaboraçao de todos, aprecie a introdução de George, e entra Ringo cantando solo as linhas 1 a 4 do Verso 1, dobrando o vocal nas linhas 5 e 6, onde aparece o ótimo piano de Paul, e recebendo a visita de George e de Paul harmonizando os vocais nas duas linhas finais 7 e 8. Já deve ter notado a guitarra de John firme no dedilhado dos acordes, sua especialidade desde Julia e Dear Prudence, que permanece firme ao longo de toda a canção, e também notou Paul firme no baixo, sem muitas firulas. No Verso 2, Ringo tem logo a companhia de Paul e George nos backing vocals em "ooooh"s no começo e passando a "aaaah"s em seguida, descansando na dobrada de Ringo e repetindo a harmonização final. Na sessão instrumental, George dá show no solo de guitarra, Ringo está firme no tambor da bateria, e George e Paul num "Aaaah" perfeito. O Verso 3 vem do mesmo jeito que o Verso 2, PORÉM, com o charmoso acréscimo de vocais resposta de George e Paul após as linhas 2 e 4, o primeiro com "Lies beneath the ocean waves", o último com "Happy and they're safe", e Ringo termina repetindo duas vezes a linha final "In an octopus's garden with you", após o que vem a conclusão brilhante de George na guitarra. Aliás, tudo brilhante... como os objetos que os polvos procuram para fazer seu jardim.  
 
Foi a última vez que se ouviu a voz de Ringo num disco Beatle. Os demais Beatles contribuíram nos instrumentos tradicionais e, veja bem, Ringo Starr é o ÚNICO ser humano a poder contar aos quatro ventos que teve Paul McCartney e George Harrison como vocais de apoio numa canção que ele fez!! Não é pouco!!!

 

 6. I Want You (She´s So Heavy)   (Flirt Girl Song by John Lennon)

John se declara: 'Eu quero você tanto que estou ficando louco'

A garota em questão nem era 'garota' mais, era mulher feita, casada e tinha uma filha! Era Yoko Ono, que virou a cabeça de nosso amado John. Era a mulher que ele procurava. Cynthia era a namorada de adolescência que ficou grávida (de Julian) e ele se casou com ela, mas ela não o completava, em muitos sentidos. Ele encontrou Yoko em 1966 (9 de novembro, mais um Number Nine na vida dele) numa exposição de arte, e foi fisgado por sua obra e sua personalidade e mais tarde por seu corpo (dispenso comentários!), e também por sua figura maternal. Eu poderia ter classificado a canção, dentro do Assunto Garotas, na Classe Amor, porque ele realmente estava apaixonado, ou na Classe Sexo, por causa da conotação do verbo To Want, mas deixei na Classe Paquera, porque a expressão "Quero você" pode também ser falada por quem ainda não está com a pessoa, mas quer, e até porque quando ele fez a canção ainda não era casado com ela, enfim, eu defini assim... John deu intensas demonstrações de amor e carinho por ela, a ponto de dormir no chão do hospital ao lado dela quando ela abortou pela primeira vez em 1968 (ver aqui neste LINK), ou ainda quando trouxe uma cama de hospital para o estúdio em 1969 
(ver aqui neste LINK) para que ela ficasse sempre com ele enquanto convalescia de um acidente, já grávida novamente, de um filho que também perderia mais adiante. Yoko já tinha 36 anos e suas gravidezes eram de risco. Ela teria  ainda um terceiro aborto antes de dar mais um filho a John, já com 42 anos, quando moravam em New York 
 
Bem, eu estou me estendendo um pouco em aspectos pouco técnicos porque tem um capítulo sobre o qual não se tem muito a falar: a letra! São apenas 15 palavras: 
I-want-you-so-bad-babe-it's-driving-me-mad-she's-so-heavy-know-yeah
Na verdade, seriam 16, a contar o "is" que está escondido em "it's" e "she's". Está bem, posso falar da única rima, "bad-mad", e eu até a classificaria de rica, em português, porque o aparente adjetivo "bad", na verdade está em sua função 'advérbio', portanto, rima rica com o adjetivo "mad". Em tempo, entenda-se "bad" não como "mau" mas como "muito", "intensamente", "loucamente" e outros advérbios expressando quantidade de sentimentos, porque é isso que ele sentia por Yoko. E, é preciso esclarecer, o "heavy" nada tem a ver com o significado explícito do adjetivo, "pesada", mesmo porque sabe-se que ela (e é) magérrima. Entenda-se em seu sentido figurado, como "intensa", "profunda", "incisiva", "definitiva", "significativa". Considerando-se que a canção tem quase 8 minutos, a taxa de aparição de palavras novas é de menos de duas por minuto, também a menor da carreira, sem contar, claro, a única canção instrumental (Flying). Puxa, até que falei muito pra uma letra de 15 palavras ... aliás, não confundir com palavra de 15 letras, como 'cinematográfico", por exemplo. 
 
Gravação no Trident Studio, 22-02-69
Bom, chega de papo, e vamos ao que interessa: a parte musical!! A música é espetacular!! E tem desempenhos notáveis de todos os Beatles, inclusive o agregado, Bily Preston, e seu insano órgão. Explica-se: a canção foi ensaiada um punhado de vezes nos três dias finais do Projeto Get Back, em janeiro de 1969, já na fase em que estavam no porão da Apple Studios e, em todas elas Billy esteve presente, seja no piano, no órgão ou até num backing vocal. As primeiras sessões de gravação da canção ocorreram de 22 a 24 de fereveriro, no Trident Studios, sem a presença de Billy, mas com a presença de Yoko, claro, veja na foto, a inspiradora da canção estava sempre presente! Usaram o gravador de 8 canais em sua totalidade, com o luxo de deixar DOIS deles para a bateria de Ringo, o que era inédito. Na ocasião, três de 32 takes (o 9, o 20 e o 32) foram mixados em partes selecionadas (início, meio e fim) para formar uma base, sobre a qual houve overdubs que, entretanto, não sobreviveram. Havia inclusive um prato 'reverso', ou seja, gravado com a fita andando pra trás, pena... 
 
Apenas em 19 de abril, já na EMI, John e George gravaram guitarras na parte final da canção, bem pesada! Dia seguinte, veio Ringo no bongô, e finalmente Billy Preston naquele órgão insano que eu mencionei, parecia que estava possuído, especialmente na longa seção final. Pena que não se ouve tamanha insanidade na versão oficial. Tudo isso até agora foi antes de se decidir que haveria um último álbum, o que aconteceu no comecinho de julho e, em agosto, John quis voltar à gravaçao. No dia 8, John pediu a George para colocar seu sintetizador Moog, lá no alto e encher  de sons aquele refrão final, num modo conhecido como White Noise, e pediu a Ringo que ficasse doido nos pratos de sua bateria, ajudando a gente a entrar no transe. Outro overdub irado feito nesse dia foia harmonização de John, Paul e George em "She's so heavy", tão espetacular e arrebatadora que John decidiu mudar o nome da canção: sim, ela era apenas I Want You, e passou a ser o que conhecemos, com a inclusão de (She's So Heavy). 
 
Houve ainda mais uma sessão, porém sem gravações, apenas de edição e mixagem, pois os últimos sensacionais overdubs haviam sido feitos em uma versão de fevereiro, enquanto havia um outro de abril. John ainda estava em dúvidas e acabou naquele dia 20 optando por juntar os dois, pegando a parte inicial do take de abril, até o último “She’s so...” e, a partir daí, valeu o take de fevereiro. E, com isso, perdeu-se aquele órgão insano de Billy Preston no refrão final estendido, que ele tocou em abril. Uma pena, só não irreparável porque, felizmente, tivemos acesso a ele, por conta do lançamento da versão comemorativa dos 50 anos. Está lá registrado! Bem, ainda houve um overdub adicional, após a mixagem: John disse a Ringo para pegar a máquina de vento e introduzir o som junto do White Noise do sintetizador na última parte da canção, e ir crescendo de intensidade. Nesse ponto, registra-se que Paul está ali na sala de controle, cabisbaixo, olhando pro chão, não concordando com aquilo tudo, mas sem forças para contestar o companheiro. Eu nada tenho a reclamar do resultado. Ficou incrível, assim como incrível foi a decisão de cortar abruptamente a fita, sem permitir o usual fade-out, sempre usado em conlusões longas como aquela. Mais uma bola dentro, perfeita para fechar um lado do disco!
 
Mesmo tendo apenas 15 palavras, a canção não deixa de ter estrutura, e é importante detalhá-la, para poder acompanhar o relato do que se ouve. Deixo, antes, o LINK, para ouvir junto da descrição! Nesta canção de poucas palavras, os versos "I want you  ... so bad... driving me mad" e os refrões são o "She´s so heavy", mas antes do Verso 1, tem uma introdução de cinco compassos na melodia do refrão, no tempo 6/8, uma verdadeira valsa, como todas as ocorrências do refrão, mesmo no final, estendido por minutos. A introdução tem a guitarra de John na gangorra base e a guitarra solo de George, chorosa, dobrada, com leve harmonização pouco antes do break, quando entra o Verso 1, apenas a voz de John acompanhada igualzinho por sua guitarra, nota a nota, magnífico, e três batidas em staccato dos companheiros, mais uma linha de John, voz e guitarra, e mais 4 batidas e então entra a banda toda. Note que o tempo mudou para 4/4. Destaque para a entrada do órgão de Billy Preston, primeiro em 4 acordes depois 3 depois 7, conversando com o baixo de Paul in between. Depois, mais John repetindo voz e guitarra em um tom acima e mais dobradinha Billy-Paul-Billy-Pau-Billy. Fantástico! O segundo verso é tocado por toda a banda sem aqueles staccatos iniciais. E aí vem o primeiro refrão, claro, em 6/8, e impressione-se, entre o "She´s so" e o "heavyyy", com o show do órgão de Billy Preston. É aquilo, elevado ao cubo, que se ouviria no refrão final, mas que foi deixado para trás. Ah, sim, vem a primeira ocorrência da impressionante harmonização John-George-Paul entrando nessa ordem no "heavyyy". O Verso 3 é instrumental e em ritmo de jazz. O refrão seguinte não é igual ao primeiro porque os vocalistas entram com o "heavyyy" um compasso antes, e cantam juntos "She´s so heavyyy". O Verso 4 é igual ao 2, porque John canta, mas é igual ao 3, porque é em ritmo de jazz, e não é igual a nenhum outro porque a dobradinha Billy-Paul é acompanhada por um "YEAAAAAHHHH" primal de John, que mandaram os ponteiros dos equipamentos ao vermelho. Finalmente, vem o refrão final, estendido por três minutos, deixando-nos em transe absoluto, com tudo o que tem direito, o tempo de valsa e todos aqueles sons e vocais descritos nos parágrafos anteriores! Eu, por mim, deixava mais 3 minutos, com o vento crescendo, até virar um furação, e suplantar o som da banda. Não pensaram nisso!  

 

 7. Here Comes the Sun (Group Speech Song by George Harrison)

George festeja: 'Queridinha, tem sido um inverno longo, frio e só. Queridinha, parece que foram anos desde que esteve aqui. Lá vem o sol, lá vem o sol, E eu digo que está tudo bem
'
George celebra com os compatriotas (O Grupo) o fim de um longo inverno e o retorno dos sorrisos!  Na verdade, ele usa um 'Little Darling' mas  penso que se dirige a todos os saudosos do sol em seu país! De fato, ele começou a escrever a canção (na casa de campo de Eric Clapton) num abril de 1969 que foi o abril mais ensolarado em décadas, antes e depois, e após um fevereiro e março mais frios também em décadas. A inspiração bateu em cheio. A canção tem muuuitas novidades musicais, como a presença de um sintetizador não usado antes, variações em tempos e acordes bastante inovadoras. Acresça-se um rico arranjo de cordas de George Martin, uma bateria inspirada de Ringo, backing vocal de Paul (John não participou por estar se recuperando de um acidente de carro). Ah, e que não se esqueça das sempre oportunas palmas, que marcam o ritmo maravilhosamente! A recepção à canção foi magnífica, colocando George Harrison, cuja outra contribuição ao disco foi Something, no mesmo nível de Lennon/McCartney! E, para se ter uma ideia da aceitação, vá ao Spotify e veja qual é a canção mais baixada dos Beatles, mais 50 anos depois!!
 
Eu coloquei em destaque esse parágrafo inicial porque o mantive ipsis litteris conforme escrito no post sobre as Group Speech Songs onde foi a primeira vez em que falei sobre a extraordinária canção. Vou apenas acrescentar breves palavras abaixo, para manter a estrutura de minhas últimas análises. E, falando em estrutura, vamos à estrutura da canção! 
 
A primeira vez que George canta, ele entra logo com o refrão: "Here comes the sun, djun-ru-djun-ru, here comes the sun and I say it's all right", que é repetido outras três vezes, por entre três versos e uma ponte, que é cinco vezes a frase "Sun, sun, sun, here it comes" com espetacular harmonia vocal com Paul. Os versos têm três letras diferentes (regra informal Beatle). A canção abre com uma introdução instrumental  com a melodia dos versos modificada. A primeira frase do Verso 1 celebra o fim do inverno, no Verso 2, festeja a volta dos sorrisos, e no Verso 3, festeja o céu limpo, sem nuvens. A segunda frase do Verso 1 é a mesma do Verso 2  "Little darling, it seems like years since it's been here", mas no Verso 3, ela muda, com o requinte de uma rima lá comos dois outros versos. "Liitle darling, it's been like years since it's been clear" e, ainda por luxo, é uma rima rica (segundo a definição do nosso português), rimando advérbio com adjetivo, "here" com "clear". A outra rima da canção é na ponte "sun" com "comes", substantivo com verbo. 
 
Quem acompanha minhas análises já localizou mais ou menos a época da gravação inicial de Here Comes The Sun, começo de julho, não é isso, enquanto John convalescia de seu acidente de carro? Bingo! Foi no dia 7 de julho de 1968, justamente no aniversário de 29 anos do mais velho Beatle, e justamente quem mais sofreria com a composição de George: o baterista Ringo Starr! George anunciou: "Prepare-se para tocar no tempo 7 e meio!" Foi o mesmo que falar árabe para Ringo. Era o tempo que acontecia na ponte da canção. Ringo era bom na prática, mas não peça a ele para descrever o tempo, a batida em que está tocando. Ele sabe fazer, mas não sabe qual é! Ele mesmo declarou isso! Ao final de 13 takes, com Paul no baixo e George no violão, com o capo lá no alto, no traste 7, ele finalmente captou o tempo corretotável é a composição de triplets (ta-ra-ra,ta-ra-ra,ta-ra-ra) de George no violão, marcantes, nas viradas da ponte da canção. No Na celebração dos 50 anos de Abbey Road, liberaram o Take 9 dessa batalha, veja aqui neste LINK como George repete frase única a ponte, sem cantar a letra, quatro vezes a mais que o normal, para Ringo poder acertar! Aliás, eu devia ter falado hindi em vez de árabe ali em cima, pois segundo consta, era um tempo comum na música indiana. Curiosidade, o Take 13 foi anotado como "Take 12 and a half", por conta da enorme superstição contra o número 13. 
 
Pausa para curiosidade inglesa 
A coisa é tão séria que os ingleses até pulam a numeraçao, em ruas e em prédios de apartamentos, pode notar. Quem já leu meu relato sobre nomes de ruas em Londres (ver neste LINK) sabe que, em prédios, eles numeram sequencialmente os apartamentos, ou seja, se o prédio tem 5 andares, com 4 apartamenots por andar, eles começam numerando do andar mais baixo, 1,2,3,4, e no segundo andar tem as unidades 5,6,7,8, e assim por diante, até o quinto andar, onde tem as unidades 18,19, 20 e 21, sim, porque eles pularam do 12 pro 14, quando começaram o quarto andar. E nas ruas, não tem essa de lado par e lado ímpar, a numeração é peculiar, pois sequencial, de um lado da rua, até o final, depois segue, voltando do outro lado, super estranho, e, claro, não existem casas Número 13!

 Fim da pausa para curiosidade inglesa. 

No dia seguinte, overdubs, de George em sua guitarra com Leslie speaker, geringonça que eles usaram bastante, desde Tomorrow Never Knows, e também o seu vocal principal com os "djun-ru-djun-ru" e o backing vocals junto com Paul, em "Little darling" nos versos, e no segundo "here comes the sun" e no "it's all right" a partir do segundo refrão, e também na ponte. Teve também os dois dobrando os mesmos vocais para suprir a ausência de John, e, claro, mais Ringo enchendo as falhas ainda presentes na ponte! Uma semana depois, o desafio de George foi orientar os batedores de palmas (Paul, Ringo e o produtor Glyn Johns) a acertar o que ele queria para quela mesma ponte, iguamente complicado. George também colocou naquele dia um harmônio que não sobreviveu na versão final. O quarto dia de gravação, já em agosto, foi somente para George acertar sua guitarra, inclusive uma porção solo, e nisso ele ficou mais de 9 horas!! E teve mais um dia e mais George na guitarra, mais algumas horas tentando melhorar a porção solo, e mesmo assim, ele desistiu dela, deu claras instruções para não usá-la e encomendou a seu xará George Martin um arranjo instrumental para aquela parte. Aquilo e o resto do arranjo que se ouve na canção toda veio à tona na mesma sessão monstro de 15 de agosto que gravou outras quatro canções, inclusive a outra de George em Abbey Road. Ele começa já no primeiro refrão e não deixa mais a canção, fazendo os acordes em legattot, e acompanhando os triplets de George na ponte com uma nota por triplet. Interessante que o arranjo dispensou violinos. Hapenas tem 4 violas, 4 violoncelos, contrabaixo, clarinete e 6 flautas.

A coisa não terminou por aí, porque alguns dias depois George ainda gravou aquele sintetizador, à época uma trapizonga com botões e cabos difíceis de operar, que Dr. Moog fez especialmente pra ele. Ouve-se o sintetizador nos "djun-ru-djun-ru" dos Versos 2 e 3, harmonizando neste último, e na ponte com um modo de som diferente para cada uma das quatro vezes em que se repete a frase "Sun, sun, sun, here it comes"! Ô ponte lindamente rica! Ainda teria a cereja do bolo, que é aquele lindo maravilhoso som descendente da introdução instrumental, que é feito por um ribbon controler, uma espécie de potenciômetro, que se escorrega por uma fita sensível para se conseguir o som desejado. Era Beatles inovando! Esse equipamento seria usado por Vangelis em Blade Runner! 

Poxa, pra quem ia escrever umas poucas palavras ...ando incorrigível. Deixo aqui um videozinho bonitiho acompanhado do som original, pra você poder acomapnhar os detalhes descritos. Aqui, neste LINK.


8. Because (Love Girl Song by John Lennon)

John se declara: 'O amor é velho, o amor é novo. O amor é tudo, o amor é você'

Era agosto de 1969, e John apresentou aos demais sua última canção, que seria a última da dupla Lennon/McCartney a ser gravado pelo Beatles, no último disco gravado pela maior banda de todos os tempos. E foi gravada com o requinte de ter o envolvimento sincero de todos como um time, cada um no seu papel, mesmo o de Ringo sendo maracar o ritmo com palmas na base em um dia, e simplesmente o estar presente e o sentir com os olhos fechados o estupendo desempenho vocal de seus companheiros, nos dias seguintes. A melodia surgira a John quando pediu que Yoko tocasse em reverso no piano a melodia que estava tocando. Era a Sonata ao Luar de Bethoven, embora haja controvérsias sobre que melodia realmente ela tocava, e também sobre se há realmente uma melodia ao reverso. O que interessa é que John disse que foi assim, então só sei que foi assim, como diria o seu xará João Grilo aqui destas bandas paraibano-pernamucanas de Ariano Suassuna. E se Yoko teve essa parcela de contribuição na melodia, decerto também houve algo na letra, ainda que indiretamente. O mundo, o vento e o céu eram temas recorrentes no poemário da artista japonesa, e veja como são os 3 versos da canção, todos começando pelo seu nome: 
Verso 1Because the world is round, it turns me on  
Verso 2Because the wind is high, it blows my mind 
Verso 3Because the sky is blue, it makes me cry 
e entre os Versos 2 e 3, a breve ponte, com a declaração de amor e aonde está a única rima da canção: Love is old, love is newLove is all, love is you 
 
Quando John apresentou Because no estúdio a seus companheiros e a George Martin, tocando-a em sua guitarra, o Maestro ficou encantado e sugeriu que  ele replicasse a melodia num cravo, o que foi imediatamente aceito pelo autor. Logo se viu que a base não requeriria nem George nem Ringo, mas o baterista seria fundamental na base, com seu enorme senso de ritmo, marcando o tempo com palmas. E o guitarrista solo seria fundamental no vocal, e em outro overdub que descreverei oportunamente! Então, naquele dia 1 de agosto, foram gravados 23 takes na configuração descrita, mais o baixo de Paul, um instrumento em cada faixa do gravador de 8 canais, mais as palmas de Ringo na faixa 4. O cravo abre sozinho os quatro primeiros compassos, entrando a seguir a guitarra de John nas mesmas notas, e o baixo de Paul. O Take 1 estava quase perfeito, mas o baixista, sempre exigente, achou que poderiam melhorar. Depois, apenas os Takes 16 e 23 foram até o final, sendo o último considerado a base para ser acrescida com overdubs no dia seguinte. 
 
George e o Sintetizador Moog
Para os vocais, George Martin elaborou 9 linhas, sendo 3 pra cada um dos seus excelentes vocalistas. O que acabou acontecendo, pela falta de espaço nas trilhas, foi que cada um cantou sua parte principal 3 vezes, cada uma delas em um canal. John fazia a linha mestra, Paul, mais agudo e George, mais grave.  Muito treino, cada um fazendo entre 20 e 30 vezes sua parte, até que veio a intimista sessão, luzes baixas no estúdio, cada um em princípio em pé em frente a um microfone, depois sentados em cadeiras, e Ringo fechando o quadrilátero, dando força aos demais, sentindo o show, imerso no clima, de olhos fechados, um time. 
Uma banda, unida, pela última vez.
O resultado foi estonteante. Tendo a primeira parte terminada, o sexto canal preenchido, já se fazia tarde, e as outras duas foram feitas na sessão seguinte, 4 de agosto. Todos estavam  orgulhosos. Posteriormente, mais um overdub foi acrescentado, o sintetizador Moog havia saído da casa de George e estava instalado em uma das salas  da EMI, e conectado por cabo à sala de Controle. Ouve-se-o, tocado por George Harrison, na ponte, fazendo as mesmas notas do cravo e da guitarra, e num verso instrumental no final fazendo a melodia, enquanto os três finalizam num fenomenal "aaaahh" triplamente harmonizado. Foi a primeira vez que o equipamento foi utilizado. Dias depois, outras duas canções se beneficiariam do simpático som: Here Comes the Sun e Maxwell's Silver Hammer   
 
Vamos aos LINKs. Claro que as palmas de Ringo desaparecem na versão final, mas aquele Take 1 foi lançado na celebração dos 50 anos de Abbey Road, e o coloco aqui, neste LINK pra vocês, sem os vocais, nem o sintetizador, claro. George Martin, sempe muito orgulhoso dele e de seus meninos, produziu décadas depois uma versão a capella, lançado no Anthology 3, veja que lindo, neste LINK. E, para finalizar, deixo o excepcional trabalho de um especialista, neste LINK. 
 
Alguns consideram Yoko 
como pivô da separação dos Beatles,
mas pode levar consigo a glória de ter sido 
a inspiração para uma obra-prima!


As Canções do Medley de Abbey Road

Cabe aqui uma explicação, começando por uma definição de dicionário: 

medley |médlei|

(palavra inglesa)

substantivo masculino

1. [Música]  Peça musical que corresponde a uma mistura de canções ou músicas ou de partes delas. 

2. [Brasil]   [Esporte]  Prova ou prática em que um nadador executa percursos em  borboleta, costas, peito e crawl. Ou 4 ESTILOS

Claro que interessa-nos apenas a primeira definição. No Brasil, usava-se mais um equivalente francês, o pout-pourri. Repare num sutil detalhe: o termo é aplicável a uma mistura de canções ou partes de canções EXISTENTES, conhecidas, já previamente gravadas e lançadas. A novidade dos Beatles, é que as canções seriam gravadas e lançadas como parte de um medley. Apesar de não ser uma novidade, afinal Paul teve a ideia por causa de um desconhecido grupo que fizera algo parecido, mas como ninguém se lembra deles... A intenção original era lançar a novidade como um dos lados do disco que sairia do Projeto Get Back, do início de 1969. Com a desistência, engavetamento, emprateleiramento do Projeto, após o show do terraço, a peça foi junto para a prateleira. Porém, voltou com força em maio, quando se decidiu voltar aos estúdios da EMI para gravação de um novo LP, o medley voltou com força e com tanta força que ele estaria no Lado A do novo disco. 
 
John abraçou o projeto (depois, desanimou-se), já tinha duas canções (3 e 4 da lista) tentadas para o Álbum Branco no ano anterior, e criou mais uma (2) para a montagem de canções, como ele chamou. Paul apresentou logo de cara um medley de três canções para abrir a peça, e compôs outras cinco (5, 6, 7, 8 e 9), total de nove canções. Seis delas ensaiadas ainda em janeiro, engavetadas com as demais do projeto e gravadas oficialmente a patir de 1 de julho, em Abbey Road. Das 9 canções, seis foram gravadas em pares, 2 com 3, 4 com 5, 6 com 7, retratando o espírito do medley. Os assuntos das letras, em sua grande maioria, são Histórias ou Discursos. As nove canções formam um conjunto uno, que espantou os ctíticos e os ouvintes, ao perceberem que não havia espaço entre elas na bolacha. A coisa é tão bem conectada que é considerada como uma unidade. Por exemplo, a revista Rolling Stone, quando faz o ranking das Melhores Canções dos Beatles, coloca o medley em uma posição, e não cada uma de suas nove componentes. O conjunto é mais forte que cada uma das partes. Um verdadeiro caldeirão!


 

E agora vamos a elas.  

9. You Never Give Me Your Money  (DtR Girl Song by Paul McCartney)

Paul reclama: "Você nunca me dá seu dinheiro. Você só me dá um papel estranho. E quando a gente negocia, você cai em prantos. Eu nunca lhe dei meu número, eu só lhe contei de minha situação". 

Gente, que mico! Acho que me enganei na classificação do assunto da letra da canção... ou não? Veja o que pensei, Paul dizendo: "Você não me faz isso, você só me faz aquilo", parecia briga de casal, um reclamando do outro, então concluí, precipitadamente, ser uma DR com uma garota. Agora, pensando melhor, a menção a 'dinheiro' e a 'funny paper' que pode ser considerado como 'documento', refletia a época em que eles estavam, discutindo relações comerciais, sendo gerenciados por empresários que não lhes davam o dinheiro, então a "situation" se referia à situação financeira!! Enfim, é uma DR, sim, mas não com uma garota. Este trecho seria um discurso para uma pessoa, sendo esta Allen Klein, que começava a administrar a situação financeira da banda. Mas olha, pensando bem, vou deixar assim mesmo, até mesmo porque You Never Give Me Your Money, além de iniciar o maior medley da história da música, a primeira de 9 canções, não é UMA canção, mas ela própria é um medley de TRÊS canções, cada uma com um tema diferente, então, faz-se difícil definir um assunto único para as três, portanto, pode ser qualquer um, então deixa assim! 
 
A 2ª canção interna começa por "Out of college, money spent, see no future, pay no rent, all the money gone, nowhere to go" fala das dificuldades de um recém-formado, sem dinheiro e sem saber pra onde ir, uma observação social, e seria mais uma Tale Story Song. E a 3ª canção tem nada a ver com as outras duas, ela diz: "One sweet dream, pick up the bags and get in the limousine, soon we'll be away from here, step on the gas and wipe that tear away", vem a ser uma inspiração de sua esposa Linda, com quem havia acabado de se casar e que gostava quando, mais jovem, de sair sem destino, e colocava o pé no acelerador ("step on the gas"), só que a "limousine" que rima com "dream" reflete melhor o estado de milionário do agora maridão. Seria, por sua vez, uma Person Speech Song. E olha, poderia se identificar até uma 4ª canção porque a brincadeira infantil rimada "One two three four five six seven, All good children go to heaven", orientando ritmadamente um pular de corda, seria mais um Group Speech Song, e não se encaixa com absolutamente nenhum dos outros trechos de  letras. Enfim, uma salada, como a que John fez em Happiness Is a Warm Gun, um ano antes. Então, sendo a canção uma montagem de sons, não faz sentido identificar sua estrutura, falar sobre versos, pontes e refrões. No início, até se identificariam dois versos, começando por "You never give me your money"  e "I never give you my number", mas como se trata de uma letra que para por aí, nem isso dá pra fazer. Essa é a cara dessa montagem de sons. Depois entram aqueles outros dois 'versos' já mencionados. E, lá adiante no super medley, vem um terceiro verso na linha daqueles primeiros, dante Carry That Weight "I never give you my pillow...numa épica recorrência, típica da genialidade da 'montagem'! 
 
A gravação da primeira canção do grande medley foi fora da EMI, no dia 6 de maio, no Olympic Studios, já utilizado antes. Foram gravados 36 takes, com Paul ao piano, John na guitarra distorcida, George numa guitarra usando mais os tons graves, quase um baixo, e harmonizando com o piano e Ringo na bateria. O piano do terceiro trecho “Oh, that magic feeling” foi amplificado pelo já famoso Leslie Speaker. O Take 30 foi considerado bom o suficiente, mas o 36 é bem interessante e foi lançado posteriormente, com vocal apenas de Paul, ainda sem a seção infantil, e com uma finalização extensa que vai diminuindo, fading out. E note, neste LINK, logo no início o que significa o efeito do Leslie Speaker no piano: após um papo nonsense delicioso, Paul começa a tocar seu piano, mas pede à sala de controle: "Leslie out, please!". Incrível!
 
Depois de um break de mês e meio, de descanso e projetos pessoais, em que John fez aquele segundo Bed-in, em Montreal, e teve aquele acidente de carro na Escócia, a canção voltou a receber esforços em 1 de julho, com apenas Paul gravando seu vocal principal. Àquela altura, já se havia decidido que o medley entraria no último álbum da banda, então sem nome. No dia 11, apenas Paul novamente, acrescentando seu baixo sobre o Take 30, a melhor parte dele,estonteante, na seção Out of college.... Quatro dias depois, vocais dobrados de Paul a partir de "funny paper", e ele também acrescentou sinos tubulares em "Oh, that magic feeling, nowhere to go" reforçando (e até afogando, eu diria) a guitarra de John, e George dobrou sua incrível guitarra logo a seguir até o começo da última 'canção' da montagem, que começa com "One sweet dream". A bateria de Ringo não precisou de consertos, estava perfeita! 
 
No final de julho, já com várias canções do super medley quase prontas, começou uma série de sessões para conjuminá-las num conjunto espetacular. Então, eles ficavam indo do estúdio para a sala controle e desta de volta ao chão da fábrica para acrescentar sons. Que sessões devem ter sido aquelas! Como eu queria estar lá! Então, naquele dia 30, os três cantores harmonizaram backing vocals para o trecho "I never give you my number..." e para a seção infantil “One two three four five six seven...” e Ringo tocou um pandeiro no final das frases. Àquela altura, o take de trabalho já era o 40, após algumas reduções. O trabalho final daquele dia foi discutir e acertar qual seria a transição da canção para Sun King, mas dia seguinte, continuou o trabalho. Paul reforçou sua linha de baixo e foram gravados backing vocals "aaaaahhh aaaaahh" na seção “Out of college...”, e lá mesmo desistiu do efeito Leslie, e tocou ali um piano sensacional, ponto alto instrumental da canção, algo que soaria como aquele honky tonk piano, de Rocky Raccoon com os mesmos truques (velocidade reduzida, uma oitava abaixo, e tal). Tão especial, piano, baixo, vocal, sino, letra, que fiz um áudio-clipe com o trecho, clique AQUI para baixá-lo! Paul ainda não estava satisfeito com a transição para Sun King e acrescentou, no dia 13, efeitos sonoros (bolhas, grilos, pássaros, sinos, vozes, grunhidos) e uns tape loops que ele trouxe de casa, e, como sabemos, tudo caiu como uma luva. E depois, entre operações de fita, Paul acrescentou aquele vocal "ah, ah, ah, ah, ah" antes da seção infantil.  

 

10. Sun King (Acid Story Song by John Lennon)

John anuncia: "Lá vem o Rei Sol!  Lá vem o Rei Sol! Todo mundo está rindo! Todo mundo está feliz! Cuando paramucho mi amore de felice corazón. Mundo paparazzi mi amore cicca ferdy parasol. Questo obrigado tantamucho que canite carousel" 

Resolvi não traduzir as três frases com sequências de palavras nas 'romance languages' como os humanos de língua inglesa chamam os idiomas espanhol, italiano, e português. Sim, 'obrigado' é a única lírica tupiniquim em toda carreira dos Beatles! E o tal 'chica ferdy'  era uma expressão da cidade natal Liverpool, pra não dizer 'fuck-off'. Essas palavras assim jogadas, meio sem nexo, quase me fizeram classificá-la como Nonsense Song... mas preferi deixá-la por aqui mesmo, porque é um anúncio da chegada do Sol, como a luz, que abre a mente de quem recebe aquele incentivo lisérgico. Além disso, o clima da canção é etéreo, aquelas harmonias vocais triplas de John, Paul e George, levam a um estado de elevação, de sonho. Sun King é a segunda canção do magnífico medley do Lado B de Abbey Road, aparecendo lentamente após You Never Give Me Money, e terminando abruptamente para uma esplêndida bateria de Ringo, que introduz Mean Mr. Mustard, que, por sua vez, une-se magistralmente a Polythene Pam, aliás, como ocorre entre todas a nove canções. 

Ah! Resolvi deixar aqui o áudio dessas últimas três canções conectadas, como acontece no álbum. É só clicar neste LINK. Além dos quatro Beatles em seus instrumentos usuais, e também pandeiros e maracas, George Martin toca um órgão, ótimo como sempre. importante, o título original da canção era Here Comes The Sun King, o que inspirou George a escrever a magnífica Here Comes The Sun, daí resolveram tirar o anúncio da chegada do Rei Sol do nome. John trouxera a melodia, ainda incompleta, nas primeiras sessões do Projeto Get Back, em pleno inverno de janeiro de 1969. Quando aquele inverno 'mais frio em décadas' foi-se embora, George, em plena primavera, também a mais 'ensolarada em décadas', deu boas-vindas ao sol com letra mais apropriada. A Sun King original era uma imaginação, pois todo mundo NÃO estava feliz nem rindo, como diz o refrão, naquele janeiro. Aliás, boa hora pa falar da estrutura da canção, sim, tão curtinha mas tem estrutura. Começa com a melodia do verso, apenas instrumental, lenta, acalmando os espíritos, você se imagina tendo acordado cedo, ouvindo grilos e pássaros (que foi a transição escolhida por Paul no final da canção anterior), e de repente aparece o Rei Sol, e você, juntamente com outras dezenas de vizinhos testemunhando sua real chegada, une-se a eles na saudação traduzida nas quatro primeiras frases ali de cima, que se constitui no coro da canção, e então você começa a exprimir sua felicidade com as palavras em outros idiomas que não o seu, no aparentemente sem sentido verso final, o único com letra! 

Foram três as sessões de janeiro em que Sun King foi ensaiada, ainda em seu estado embrionário, num total de 10 vezes, a última no mesmo e fatídico dia 10 em que George abandonou a banda, retornando 10 dias depois, Nota 10 para seu retorno, apenas coloquei este 10 para completar quatro vezes a menção do numeral num mesmo parágrafo, agora, cinco! Mais de seis meses depois, e já no útlimo mês de gravação de Abbey Road, ela retornou ao chão de fábrica assoalhado do Estúdio 2 da EMI, com a intenção de integrar o famoso medley, inclusive os registros a chamavam de "Part Two...Here Comes The Sun-King", portanto ainda com o título original, mas já posicionada na posição 2 do medley.

Foi no dia 24 de julho, numa tarde (sim, começaram cedo!) muito inspirada, quando John, muito animado, resolveu chamar Paul para um canto do estúdio para completar a letra como aquele palavreado latino, e depois liderou, já cantando um guia vocal, com sua guitarra ligada no Leslie Speaker, seus companheiros em 35 takes. Era Paul no baixo, George na guitarra solo, e Ringo em sua bateria, mas com a diferença importante de que ele, ao invés das baquetas comuns, municiou-se daqueles pesados batedores de tambor de orquestra que têm uma esfera na ponta, vigorosos. Importante e em boa hora é registrar aqui que John estava tão animado que investiu-se da filosofia do medley e resolveu ensaiar logo em seguida, em cada take, a canção seguinte da montagem, que também era dele, Mean Mr. Mustard, então o que se ouve no disco é a reedição do que foi feito em estúdio, apenas melhorado por posteriores edição, mixagem, e overdubs. Genial sessão de sete horas para sempre gravada nas memórias de todos os envolvidos como a de melhor ambiente daqueles tempos problemáticos no relacionamento! Felizmente, um daqueles takes sobreviveu e foi lançado na celebração dos 50 anos de Abbey Road. Veja aqui, nestes LINK1 e LINK2 e sinta-se no estúdio, participando de uma memorável sessão de Abbey Road. Note as deliciosas falas de John antes, chamando os FAB Gear de volta ao trabalho, após uma jam session em que cantaram o clásssico Ain't She Sweet e outras, pois "...aquilo não vai sustentar o pessoal do estúdio e suas famílias"!  Fiquei arrepiado aqui ao ouvir, aliás, já do começo, com Ringo batendo suavemente no prato de sua bateria. Aliás, aquela versão da antiga canção de Gene Vincent ficou tão boa que foi lançada no Projeto Anthology e até como single em alguns países. Registro-a aqui, neste LINK, pra vocês! Lembra os tempos de Hamburgo, quando ela fazia parte do set list, daquelas sessões de mais de 7 horas em que forjaram sua categoria como banda. Pra arrebentar mesmo, deixo aqui outra versão da mesma canção que saiu no CD Anthology 1, esta sim, da época, neste LINK, com os cumprimentos de Homerix. 

Bem, deixando de lado as reminiscências, voltemos ao babado. No dia seguinte, (qual era mesmo? Ah, sim, 25 de julho), vieram os overdubs, primeiro dos vocais, tanto o de John, principal, como o dele, Paul e George harmonizando em "Aaaaaah, here comes the Sun King" e na sequência de palavras latinas, arranjados magnificamente por George Martin, que também tocou um espertíssimo órgão, no refrão, e Ringo acrescentou maracas e certificou-se de que seus pratos acentuavam um a um cada compasso, muito lindo. E nos dias seguintes houve ainda aquele esforço, já mencionado neste LINK, para juntar as duas primeiras canções do medley (aquele saco de tape loops que Paul trouxe de casa, enfim...).

 

11. Mean Mr. Mustard (Funny Story Song by John Lennon)

John conta 'Que velho malvado! Sua irmã Pam trabalha numa loja, nunca para, sempre vai junto, leva-o pra dar uma olhada na Rainha, um lugar que ele sempre foi, sempre grita algo obsceno, que velho sujo!' 

A canção surgiu durante o retiro espiritual dos Beatles em Rishikesh, mas veio à sua mente de artigos de jornal que ficaram em sua mente, que falavam sobre um certo John Mustard, que era um marido malvado ("mean") e pão-duro, que se barbeava e ouvia rádio no escuro para economizar eletricidade ("trying to save paper"). E aí surgiu uma de quatro Funny Stories da carreira de John, sendo as primeiras lançadas no Álbum Branco (TCS of Bungallow Bill e Happiness Is A Warm Gun) e a última, justamente a que a seguiria no medley. Nota-se no rascunho ao lado, que os dois versos da canção estavam prontos e que um terceiro viria, com uma primeira frase pronta "His mother Charlie works at the bank", seguiria contando sua história. No Verso 1, ele conta que Mr. Mustard "sleeps in the park, shaves in the darkapresenta sua irmã Pam que "Takes him out to look at the queen", um substantivo que rima com o verbo "been" e com o adjetivo "obscene" das frases seguintes. Outra coisa que viria era uma ponte, entre os Versos 2 e 3, a gente percebe isso na demo que John gravou em Esher, no Verso 2, lembra, aquelas sessões na casa de George quando organizaram o material para o Álbum Branco, deixo-o aqui neste LINK. 
 
Foram quatro as sessões, de 8 a 25 de janeiro, em que Mean Mr. Mustard, foi ensaiada no Projeto Get Back, uma delas sem George, que abandonara a banda, retornando 10 dias depois, nas outras três ele tocava sua guitarra, com John no piano, Paul no baixo, Ringo na bateria. Seis meses depois, e já no último mês de gravação de Abbey Road, ela retornou ao chão de fábrica assoalhado do Estúdio 2 da EMI, com a intenção de integrar o famoso medley, já colocada na posição 3.

Foi no dia 24 de julho, numa tarde (sim, começaram cedo!) muito inspirada, quando John, muito animado, liderou seus companheiros em 35 takes. Como contado em Sun King, Mean Mr. Mustard foi todas as vezes tocada em seguida àquela canção. Paul e Ringo tinham que ser rápidos, o primeiro tinha que ligar a Fuzz Box ao baixo, e o último largar suas baquetas de tímpano (de orquestra) e pegar as normais, John e George seguiam em suas guitarras. Então o que se ouve no disco é a reedição do que foi feito em estúdio, apenas melhorado por posteriores edição, mixagem, e overdubs. Genial sessão de sete horas para sempre gravada nas memórias de todos os envolvidos como a de melhor ambiente daqueles tempos problemáticos no relacionamento! Felizmente, um daqueles takes sobreviveu, e foi lançado na celebração dos 50 anos de Abbey Road. Veja aqui, nestes LINK1 e LINK2 e sinta-se no estúdio, participando de uma memorável sessão de Abbey Road. Note as deliciosas falas de John antes de Sun King, chamando os FAB Gear de volta ao trabalho, após uma jam session em que cantaram o clásssico Ain't She Sweet e outras, pois "...aquilo não vai sustentar o pessoal do estúdio e suas famílias", e note como John incluiu divertidas respostas, a cada frase, "Yes, he does!" e "Yes, he is!" e "God save the Queen!", e além disso, que a irmã de Mr. Mustard ainda era a Shirley da letra original. Note como a métrica fica muito melhor com Pam do que com Shirley, "pa-para-RA pa-para-RA pa-para-RA", veja "His-sister-PAM works-in a-SHOP, she-never-STOPS". Adicionalmente admire a rima da última linha "She's a go getter" lá com a mesma linha correspondente do Verso 1, "trying to save paper", viajei? E tem uma última viagem deste admirador. A escolha de "Misterpara colocar entre "Meane o "Mustard" que estavam na reportagem propiciou um efeito sonoro interessante, com o triplo em três palavras. Além disso, o "Mister" do Verso 1 rima com o "sister" do Verso 2. Nossa, de viagem em viagem acho que já estou na Lua.

No dia seguinte, 25 de julho, vieram os overdubs, iniciais, primeiro dos vocais, tanto o de John, principal, já com o nome da irmã trocado para Pam, como o de Paul harmonizando com John no "mean old man" do Verso 1 e no Verso 2 inteiro, e claro, John se lembrou do piano que tocara lá em janeiro, e acrescentou o instrumento, fundamental! Mais três dias, e os dois vocalistas dobraram seus vocais, e Ringo acrescentou aquele pandeiro maneiro a partir da metade do Verso 1 até o final da canção. Houve mais um dia de esforços de overdubs pontuais em várias canções do medley no dia 30, não especificados, mas desconfio fortemente que Paul deu uma reforçada no espetacular Fuzz bass, que está muito mais sonoro na versão gravada do que no take disponibilizado. E aquela 'tuba' disfarçada é very very funny, um ponto fundamental da instrumentação.


 12. Polythene Pam (Funny Story Song by John Lennon)

John conta: "Bem, você devia ver Pam Polietileno, ela é tão bonita, mas se parece com um homem. Bem, você devia vê-la travestida usando sacos de polietileno" 

 
Polythene Pam foi tentada também no Projeto Get Back, em apenas uma sessão em 24 de janeiro, mas nem John nem os demais, todos em seus instrumentos tradicionais, sentiram firmeza na canção nesse estágio, e ela foi para a prateleira. Seis meses depois, e já no último mês de gravação de Abbey Road, ela retornou ao chão de fábrica assoalhado do Estúdio 2 da EMI, rumo à glória de integrar o famoso medley, já colocada na posição 4. A partir de agora, quem me acompanha em minha criação, notará uma similaridade de textos com a descrição de Sun King. É porque, também aqui, foi feita uma extraordinária sessão de gravaçao de duas canções in tandem, ou seja, em seguidinha, seguindo a filosofia de medley da qual elas faziam parte. A canção de John seria seguida por uma canção de Paul, She Came In Through The Bathroom Window. 


Foi no dia 25 de julho, numa tarde (sim, também começaram cedo!) muito inspirada, quando John e Paul, lideraram, cada um em sua canção, seus companheiros, em 39 takes. Era John no violão, Paul no baixo, George na guitarra solo, e Ringo em sua bateria, então o que se ouve no disco é a reedição do que foi feito em estúdio, apenas melhorado por posteriores operações de edição, mixagem, e overdubs. Após duas horas de discussões sobre arranjo, embrenharam-se em genial sessão de seis horas. Felizmente, um daqueles takes sobreviveu e foi lançado na celebração dos 50 anos de Abbey Road. Veja aqui, nestes LINK1 e LINK2 e sinta-se no estúdio, participando de mais uma memorável sessão de Abbey Road. Note as falas de Paul incitando os demais a fazerem suas partes, e os subsequentes trechos. Entretanto, dessa feita, John não ficou satisfeito com a bateria de Ringo (ele foi irônico dizendo que parecia Dave Clark) em sua canção, e pediu para melhorá-la. Paul ajudou o amigo, e Ringo passou as duas horas seguintes aperfeiçoando a tocada nos tom-tom's.

No mesmo dia, de noite a caminho da madrugada, enquanto Ringo melhorava sua bateria, vieram os overdubs iniciais, primeiro do vocal principal de John, acrescentando o "Yeah Yeah Yeah" entre versos, e Paul melhorando sua linha de baixo. Mais três dias e vieram mais overdubs, Ringo acrescentado pandeiro, maracas e cowbell, e George melhorando a transição para a próxima canção em sua guitarra! Paul também tocou piano, acústico e elétrico, mas não sobreviveram na mixagem final. Só no dia final dedicado ao medley, 30 de julho, dentre vários acréscimos a várias canções, John, Paul e George acrescentaram backing vocals, a Polythene Pam, com melódicos "aaaah" nos versos e harmonizando com John nos "Yeah Yeah Yeah". E foi nessa sessão também que, sem querer, John gritou um "Oh, Look out!" que imediatamente foi aceito pela sala de controle como ótimo, e mantido na versão final, ali, enquanto George descende na sua guitarra, rumo a She Came In Through The Bathroom Window. 

E a gente achando que aquilo foi planejado...


 13. She Came In Through The Bathroom Window (Funny Story Song by Paul McCartney)

Paul conta 'Ela entrou pela janela do banheiro protegida por seu berço de ouro mas agora ela chupa seu polegar e vagueia pelos bancos de sua lagoa particular'

Primeira de um sprint de cinco canções de Paul que fecham o fantástico medley de Abbey Road. É recebida por um 'Look out'  de John ao final de Polythene Pam, e vem a abertura acima. A imagem de alguém entrando pela janela do banheiro é de uma grandeza de humor fenomenal. Interpreto como alguém que chegou na vida do sujeito que conta o causo, assim de pára-quedas, pra agitar sua vida. No caso, ela uma dançarina trabalhadora e ele um oficial da polícia. E parece que o movimento foi a expressão da verdade, que uma das Apple Scruffs, que rondavam os Beatles, no estúdio e em suas casas, encontrou uma brecha pela escada de incêndio da residência de Paul, literalmente entrando pela janelinha e inclusive abrindo a porta da frente para as demais... difícil de acreditar. Paul vem 'cantando' essas fãs invasivas desde Fixing A Hole, dois anos antes, em Sgt.Pepper's.
 
 
Outra interpretação rola, por conta do 'protected by a silver spoon' e o 'thucks her thomb' e 'and wanders by the banks of her own lagoon' do primeiro verso e o 'Didn't anybody tell her?' do refrão. Ocorre que a tal 'colher de prata' é equivalente ao nosso 'berço de ouro', então a mulher em questão já teria uma origem rica, e era mimada, porque ainda 'chupava o dedo', o que levaria a dizer que ele se referia a sua esposa Linda, herdeira da família Eastman, e que teria, na ocasião, invadido sua casa trancada por um Paul drogado, enquanto cuidava da filha dela Heather, e que agora ela ficava pensando 'onde é que eu me meti?' reclamando ao telefone com a família nos EUA, e ainda Paul pergunta 'Ninguém contou a ela (onde ela estava se metendo)?' Uau! A imaginação grassa!! Na verdade, deve valer mesmo a versão da fã invasora, há até entrevistas com a pessoa, que se orgulha do ato, tendo ela e amigas levado lembranças da casa do ídolo, o que gerou o "She could steal, but she could not rob" do último verso, ou seja, elas teriam furtado, mas não com violência, além disso, a frase título teria sido ouvida por John, de Paul, numa viagem a New York já em maio de 1968, ainda sem Linda na parada, enfim, Beatles é sempe fonte de muita especulação...  Musicalmente, apenas os quatro Beatles são creditados em seus usuais instrumentos, sendo que John vem num violão de 12 cordas. Ao seu final, entra suavemente Golden Slumbers, para gáudio dos amantes da boa música. 
 
A estrutura original da canção era o famoso verso-refrão-verso-refrão. No Verso 1, há a apresentação da moça, conforme traduzido acima, no refrão, aquele babado que se referiria à Linda, no Verso 2, ele conta que ela contou a ele que era dançarina trabalhando em 15 clubes todo dia. Na versão final, não houve logo a repetição do rerfrao, como fora ensaiado em janeiro, mas sim logo o Verso 3, para diminuir o tamanho da canção por estar em um medley, e só depois viria o refrão final. Esse último verso foi o último a chegar, e a ideia veio de uma outra viagem de Paul a New York, desta vez com Linda e sua filha, quando num táxi a caminho do aeroporto, Paul leu a identificação do motorista, que dizia "Eugene Quits, New York PD", e então criou o "And so I quit the Police Department and got myself a steady job", muito engraçado, e foi a deixa pra rimar com o já mencionado "She could steal, but she could not rob". 
 
SCITTBW foi tentada também no Projeto Get Back,  sendo ensaiada mais de 20 vezes em cinco sessões, com John num piano acústico, depois elétrico, e os demais em sua instrumentos usuais. Mesmo assim, não sentiram firmeza na canção nesse estágio, e ela foi para a prateleira. Quase seis meses depois, e já no último mês de gravação de Abbey Road, ela retornou ao chão de fábrica assoalhado do Estúdio 2 da EMI, rumo à glória de integrar o famoso medley, já colocada na posição 5. Ela integrou a extraordinária sessão de gravaçao de duas canções in tandem, ou seja, em seguidinha, seguindo a filosofia de medley da qual elas faziam parte, seguindo canção de John. 
 
Foi no dia 25 de julho, numa tarde (sim, também começaram cedo!) muito inspirada, quando John e Paul, lideraram, cada um em sua canção, seus companheiros, em 39 takes. Era John no violão, Paul no baixo, George na guitarra solo, e Ringo em sua bateria, então o que se ouve no disco é a reedição do que foi feito em estúdio, apenas melhorado por posteriores operações de edição, mixagem, e overdubs. Após duas horas de discussões sobre arranjo, embrenharam-se em genial sessão de seis horas. Felizmente, um daqueles takes sobreviveu e foi lançado na celebração dos 50 anos de Abbey Road. Veja aqui, nestes LINK1 e LINK2 e sinta-se no estúdio, participando de mais uma memorável sessão de Abbey Road. 

No mesmo dia, de noite, a caminho da madrugada, enquanto Ringo melhorava sua bateria de Polithene Pam, vieram os overdubs iniciais, primeiro do vocal principal de Paul, e Paul melhorando sua linha de baixo e trescentando o piano. Mais três dias e vieram mais overdubs, Ringo acrescentado pandeiro, maracas, algumas palmas, George e John refizeram suas guitarras. Só no dia final dedicado ao medley, 30 de julho, dentre vários acréscimos a várias canções, John, Paul e George harmonizaram os vocais no refrão de SCITTBW.

 

 14. Golden Slumbers (Person Speech Song by Paul McCartney)

Paul conta: "Os seus olhos ficam sonolentos Sorrisos te despertam quando você se levantar. Durma, queridinha, não chore, que eu te canto uma canção de ninar"

É a sexta canção do espetacular medley do Lado B de Abbey Road, intensamente orquestrada. John não participou porque convalescia de um acidente de carro. George tocou baixo, e Paul, piano. Ela é imediatamente seguida por Carry That Weight. Estas foram as únicas palavras que escrevi quando descrevi a canção, juntamente com as demais do mesmo Assunto e Classe: Discurso para uma pessoa. Decerto que há mais a se falar...
 
 
Primeiro, sua inspiração! Foi numa visita à casa de seu pai James, próximo a Liverpool, que Paul o presenteara já em 1964, aonde ele foi morar com sua nova esposa Angela e filha Ruth. Se ainda não sabem, Paul ficara órfão de mãe em 1956, o nome dela era Mary, a quem Paul se referiu em Let It Be ("Mother Mary comes to me") e descrevi brevemente em meu capítulo sobre as Self Dream Songs. Estava ele ao lado de sua meia-irmã, per e viu uma pauta de uma canção, que ele não sabia passar para o piano (ele não sabia 'ler' música), mas viu a letra, e compôs sua própria melodia, com pequenas variações na letra aqui e lá. Ali nasceu o refrão: "Golden slumbers fill your eyes, smiles awak when you erise. Sleep little darling will you do not cryand I will sing a lullaby." As rimas não são de Paul... já estavam lá. Depois, ele juntou um pedaço que veio à sua mente, e que tinha a ver com estar ali, tão próximo a Liverpool e criou o único verso da canção: "Once there was a way to get back homeward. Once there was a way to get back home" e seguiu com as duas últimas frases do refrão! Depois do refrão, na gravação, repete-se o primeiro verso. A idade da canção original, superior a 300 anos, afastou de Paul o receio de acusação de plágio de letra. 
 
Golden Slumbers viu a luz do sol, ou melhor, do inverno londrino, no dia 7 e janeiro de 1969, quando Paul a trouxe ao Twickenham Studios como proposta para o Projeto Get Back. Só ele estava presente e cantou verso-refrão-verso-refrão-verso-refrão. No dia 9, mais ensaios, agora com Ringo, mas ele não sentiu firmeza para seguir, e lá se foi ela para a prateleira por quase seis meses. Voltaram a ela já com a decisão de compor um medley no último álbum da banda, já em 2 de julho. Ainda sem John, desta vez por conta do recente acidente de carro que teve com a família, Paul no piano, George no baixo e Ringo na bateria, fizeram 15 takes da canção, já composta com a peça seguinte do medley, Carry That Weight. Inclusive, esta última era considerada nos registros como parte de Golden Slumbers, como se fossem as duas uma só canção. Os Takes 1 a 3 foram recuperados e lançados na celebração dos 50 anos do álbum, veja neste LINK, claro, ainda sem orquestra, só a voz de Paul, o baixo de George já bem colocado, e perceba que Paul de lembra de A Fool On The Hill, nos acordes iniciais do piano. No dia seguinte, e apenas outras duas vezes no final do mês, Paul apenas melhorou seu vocal. Ele fazia questão de ter aquela forte e rouca emissão no refrão ("smiiiiiiles awake you ..."), até mesmo para alternar com a doce leveza da canção de ninar! Já nessas sessões, os registros de Abbey Road mostravam Golden Slumbers/Carry That Weight, com status de canções separadas. 
 
O toque de classe veio em 15 de agosto na já famosa sessão no enorme Estúdio 1, em que 5 canções de Abbey Road ganharam arranjos orquestrais, pelas geniais mãos de George Martin, duas normais de George, e as três 'de medley' de Paul, a estas últimas sendo dedicadas três horas de gravação. Paul atuou como produtor de suas faixas. As primeiras cordas se ouvem juntamente com a ótima nota forte do baixo de George, após "Once there was a way"e depois numa linda melodia entre frases. As notas de George são ponto alto, em todas as vezes que aparecem. As notáveis viradas de Ringo, com suaves pratos vêm no refrão. O trio final de Paul (Golden Slumbers/Carry That Weight/The End) virou frequente presença nos show de Paul em sua carreira solo, e eu tive a honra de ouvi-lo na primeira vez que ela afez, na excursão em que veio ao Brasil, em 1990, que deixo aqui, neste LINK.


15. Carry That Weight (Person Speech Song by Paul McCartney)

Paul diz "Menino, você vai ter que carregar esse peso por muito tempo' 
 
Na verdade, o 'menino' seria ele mesmo e cada um dos outros três Beatles, sendo o sucesso, aquele peso citado! Concorria o fato de que começavam os problemas comerciais que acabariam por levar ao fim da banda, e que Paul previa que iam durar os problemas de relacionamento! 
 
Carry That Weight viu a luz do sol, ou melhor, do inverno londrino, no dia 6 de janeiro de 1969, quando Paul a trouxe ao Twickenham Studios como proposta para o Projeto Get Back. Ela tinha alguns versos prontos e o refrão traduzido acima, e tinha um ritmo country-western e sua intenção era dá-la para Ringo, relembrando o sucesso que foi Act Naturally com a mesma pegada! Inclusive fizeram quatro ensaios, com George no baixo e Ringo já cantando o refrão! Mas já no dia seguinte, desistiu dos versos e anexou o refrão a Golden Slumbers. Só Paul estava presente e cantou verso-refrão1-verso-refrão2. No dia 9, mais ensaios, agora só com Ringo, mas ele não sentiu firmeza para seguir, e lá se foi ela para a prateleira por quase seis meses. Voltaram a ela já com a decisão de compor um medley no último álbum da banda, já em 2 de julho. Ainda sem John, desta vez por conta do recente acidente de carro que teve com a família, Paul no piano, George no baixo e Ringo na bateria, fizeram 15 takes da canção, já como a peça seguinte a Golden Slumbers. O Take 15 foi um dos poucos em que o vocal de Carry That Weight foi até o fim, mas claro para ser melhorado mais tarde, para ficar do jeito que conhecemos. 
 
Naquele dia, ela ainda era considerada nos registros como parte de desta última, como se fossem as duas uma só canção. Os Takes 1 a 3 foram recuperados e lançados na celebração dos 50 anos do álbum, veja neste LINK, claro, ainda sem orquestra, só a voz de Paul, o baixo de George já bem colocado, e perceba que Paul de lembra de A Fool On The Hill, nos acordes iniciais do piano. No dia seguinte, Paul e Ringo adicionaram vocais no refrão, ou melhor Ringo e Paul, com mais foco na voz do baterista, obedecendo ao desejo do autor de que Ringo a cantasse. Ringo acrescentou passagens de bateria e George acrescento uma breve guitarra amplificada num Leslie. Já nessas sessões, os registros de Abbey Road mostravam Golden Slumbers/Carry That Weight, com status de canções separadas. A canção ainda apresenta entre os refrões o verso de You Never Give Me Your Money (INGYMM), com as letras alteradas para "I never give you my pillow, I only send you my invitation, And in the middle of the celebrations, I break down" precedidas pela sensacional guitarra de George, e na orquestração, conto logo a seguir. Essa guitarra veio no último dia de instrumentos tocados por um Beatle, 31 de julho, e Ringo também acrescentou o sempe vigoroso tímpano de orquestra.
 
O toque de classe veio em 15 de agosto na já famosa sessão no enorme Estúdio 1, em que 5 canções de Abbey Road ganharam arranjos orquestrais, pelas geniais mãos de George Martin, duas normais de George, e as três 'de medley' de Paul, a estas últimas sendo dedicadas três horas de gravação. Paul atuou como produtor de suas faixas. As cordas acompanham o refrão, com 12 violinos, 4 violas, 4 violoncelos e um baixo, acompanhando os refrões cantados em coro uníssono pelos quatro Beatles, sim, porque John fez questão de acrescentar o seu vocal só ali, afinal o recado da letra de Paul era pra eles 4. Porém, o ponto alto da orquestração desta canção são os metais, primeiro tocando a melodia da ponte (YNGMYM), depois acompanhando o solo de guitarra de George, e  a mesma ponte ("pillow-invitation-celebrations") harmonizada lindamente por Paul e George, mas o mais marcante é o anúnico dos refrão a seguir, com quatro toques de todo o 'brass ensemble' (4 trompas, 3 trompetes, 2 trombones) num compasso inesquecível... 
conte mentalmente 1-2-3-4
junto dos metais Pa - - PaPaPa
e agora cante com  Ringo-George-Paul-John 
Boy, you're gonna carry that weight, 
carry that weight a long time
  
e depois repetindo, brilhantemente. O trio final de Paul (Golden Slumbers/Carry That Weight/The End) virou frequente presença nos shows de Paul em sua carreira solo, e eu tive a honra de ouvi-lo na primeira vez que ele a fez, na excursão em que veio ao Brasil, em 1990, que deixo aqui, neste LINK. 
 
Paul não menciona isso em suas entrevistas, mas
acho que aquele tal 'peso' foi demasiado para dois deles... 
John, que foi assassinado por um lunático, 
e George, que morreu de câncer mas, um ano antes,
foi atacado por um invasor em sua casa, levando 10 facadas!   


 16. The End (World Speech Song by Paul McCartney)

Esta merece que eu mude a estrutura da análise
And in the End, 
Sim, simples assim, esta é a mensagem da canção 
A verdadeira 
Equação do AMOR

Ela fecha com chave de ouro o pequeno conjunto de 5 canções em que os Beatles falam ao Mundo, as Speech World Songs.

Todas as 5 têm uma palavra em comum: The Word is 'LOVE'

The End fecha (ou deveria fechar, ver abaixo) o medley no Lado B do LP. 

Ela fecha também a carreira dos Beatles. Eu tenho sempre falado aqui nesta minha saga, que houve um disco lançado em 1970, Let It Be, mas o último gravado foi Abbey Road. E The End seria a última música do disco. Ela só não termina o disco porque ficara para trás uma pequena canção chamada Her Majesty, que não encaixara direito no medley que The End termina, e fora simplesmente descartada. Ocorre que havia uma política de nada Beatle ser deixado para traz, então um engenheiro de som tomou a liberdade de incluí-la no final. Apresentada a travessura aos Beatles, eles a aprovaram. Reparem que eles não sabiam que a banda terminaria, e fizeram uma canção final do disco final chamada The End. Só mesmo os Beatles para isso!

Musicalmente tão curta, mesmo assim, ela apresenta dois fatos únicos na carreira Beatle: 

1. Após a segunda introdução "Oh yeah, alright, are you gonna be in my dreams tonight?", entra um solo de bateria de Ringo Starr, que nunca teve essa oportunidade em outras 210 canções lançadas pelos Beatles. Na verdade, ele mesmo não gostava de aparecer. Notável, marcante, sensacional!

2. Logo após, começa o 'Love you, love you, love you, love you', ao longo do qual  há um duelo dos 3 guitarristas, Paul, George e John fazem um solo, três vezes cada, intercalados, nessa ordem. Notável, marcante, sensacional!

Então,  logo após o duelo, vem o pianinho de Paul, introduzindo a mensagem, simples, direta, definitiva, a única de Paul, após as duas de John e as duas de George. 

É a melhor materialização da Lei de Ouro, da Lei de Jesus, não faça aos outros que não quer que façam a ti, coisas do gênero, uma Lei de Talião do Bem, chame como quiser:

O Amor Que Você Ganha É Igual ao Amor Que Você Dá.

Não dava pra terminar de um jeito melhor uma história abençoada!
 

_______________________________________

 
Bem, amigos, o que leram até aqui reflete, ypsis litteris, o que escrevi quando compilei as famosas 5 Discursos para o Mundo, nos primeiros cítulos desta Saga, mas como escrevi sob forte emoção, resolvei duplicá-lo, antes de embrenharmo-nos nos detalhes sórdidos da gravação. E já começo com uma ducha de água-fria.... não, Paul não queria dizer que aquilo era o fim de tudo. Era somente o fim ... do medley! E nem era pra ser o fim do álbum, pois originalmente a ideia era que os lados do LP fossem invertidos, assim fazendo com que a impactante e longa seção instrumental de I Want You (She's So Heavy) o finalizasse. E concordo que seria um final apoteótico. Quer mais uma pequena decepção? Na época da concepção, nem havia a letra!! Era pra ser apenas uma seção instrumental, com a bateria de Ringo e os solos de guitarra dos 3 Beatles, que terminaria ali, abruptamente, antes do famoso pianinho de Paul! Via-se o pouco que se esperava da seção pelo nome, que nos registros de estúdio se a identificava apenas por: "Ending"...  Felizmente, a coisa evoluiu para o que temos hoje, espetacular! 
 
A parte instrumental foi toda gravada no dia 23 de julho, e começou pelo convencimento de Ringo a fazer a seção solo. Não era a praia dele, não queria de jeito nenhum, foi convencido pelos demais, inclusive por George Martin, que desceu da sala de controle para orientá-lo, junto com Paul, na contagem dos compassos. Emmerick fez de tudo para captar bem o som daquele que seria o único solo da carreira de Ringo, e colocou 12 microfones um para cada item do equipamento, e reservou o que proporcionou aquele sensacional som estéreo que se ouve quando se usa fones de ouvido. Para o efeito, o produtor destinou dois canais para ele, olha a importância que lhe foi dada. John e George em suas guitarras distorcidas e Paul no baixo, utilizaram um canal cada um, naquela que foi a base da canção. Antes dos 7 Takes oficiais de gravação, eles ensaiaram mais de 30 vezes. Veja como era a base ANTES de vocais, ANTES de solos de bateria, ANTES de solos de guitarra, aqui, neste LINK. E era pra terminar assim!, abruptamente, sem letra!! 
 
Felizmente, nos 12 dias seguintes, Paul teve a inspiração da letra! E, no dia 5, a cantou, não apenas o trecho já ressaltado aqui, mas aquele logo antes do solo de bateria em que ele pergunta, lá no alto: "Oh, yeah, all right, are you gonna be in my dreams tonight?". E no dia 7 aconteceu uma sessão histórica. Estavam todos na sala de controle (inclusive Yoko), discutindo como fazer o preenchimento de 18 compassos da seção instrumental, e naturalmente, George sugeriu um solo de guitarra. John, animado, ofereceu-se para fazê-lo, com um sorrisinho. Ele gostava de solar, mas sabia ser menos habilidoso que George ou Paul. Ele brincava, mas não tanto, pois logo após sugeriu: Por que não todos nós?. Espanto geral, mas Paul achou legal, e disse que seria o primeiro, por ser o autor, e John disse que tinha uma ótima ideia para concluir. George resignou-se a ser sanduichado. E partiram para o chão de fábrica os três. 
 
Pausa para fofoquinha 
Yoko se levantou para ir com eles, mas John pediu que ficasse ali, na sala de controle. Ela não gostou nadinha. Mas John queria reviver um pouco do velho espírito da banda, que ele sabia que certamente não seria o mesmo com ela. 
Fim da fofoquinha 

Foi ótima a decisão! Paul e George apreciaram muito! Os três reviveram a velha camaradagem, ensaiaram, e fizeram tudo em poucos takes, num canal só, sem edições. Foram nove trechos, três cada um, na ordem combinada, Paul, George, John, verdadeiramente ao vivo, um verdadeiro show! Para identificar: Paul toca nos compassos 1 / 2, 7 / 8 e 13 / 14, George os compassos 3 / 4, 9 / 10 e 15 / 16, e John os compassos 5 / 6, 11 / 12 e 17 / 18. Ao final, sabedores de que haviam feito história mais uma vez, trocaram sorrisos, se auto-cumprimentando, mas claro, sem a efusão de outros tempos, sem tapinhas nas costas, muito menos abraços, o ambiente nunca mais fora o mesmo dos tempos da Beatlemania. Foi a última vez em que os três tocaram juntos, para todo o sempre. 
 
Ainda dois movimentos foram feitos nos dias seguintes. Paul, e somente Paul, gravou aquela sucessão de "Love you, Love you, Love you..." que vem após o solo de bateria genial de Ringo e antes do solo de guitarra dos outros três gênios. E eu ressaltei o "apenas" porque percebem-se várias vozes, mas são todas de Paul, uma por cima da outra, talvez até porque fosse difícil chamar os colegas ao estúdio, vai ver ele teve a ideia em casa, logo no outro quarteirão, teve a ideia e apareceu para gravar. E, finalmente, a famosa sessão de 15 de agosto no enorme Estúdio 1, em que 5 canções de Abbey Road ganharam arranjos orquestrais, pelas geniais mãos de George Martin, duas normais de George, e as três 'de medley' de Paul, a estas últimas sendo dedicadas três horas de gravação. Paul atuou como produtor de suas faixas. Em The End, apenas se ouvem as maravilhosas cordas (12 violinos, 4 violas, 4 violoncelos e um baixo), no épico e apoteótico final. A espetacular conclusão, da música, do medley, do Lado B, do disco, da carreira dos Beatles começa com o pianinho agudo de Paul, 16 notas em dois compassos, e ele canta solo "And in the end..", e George faz um breve riff na guitarra e Paul chama seus companheiros John e George para harmonizar o lado esquerdo da equação "...the love you take..." e logo depois seu complemento "is equal to the love", em que Ringo muda o tempo da canção, de 4/4 para 6/8, e juntamente com este último "love", o staccato do piano se transforma em acordes melódicos e entra a orquestra, e vem Ringo em ótima virada, e Paul termina solo a equação que criou, "you make", e voltam os três juntos harmonizando os "AAAAAA",  acompanhados da orquestra e de outro lindo riff de guitarra de George. Estava concluída, decifrada, resolvida, a linda Equação de Amor, resolvida pelo MateMúsico Paul McCartney. E somente no final de tudo, a canção ganhou seu nome: The End!
 
O trio final de Paul em Abbey Road (Golden Slumbers/Carry That Weight/The End) virou frequente presença nos shows de Paul em sua carreira solo, e eu tive a honra de ouvi-lo na primeira vez que ele a fez, na excursão em que veio ao Brasil, em 1990, que deixo aqui, neste LINK.  Aliás, no disco, o trabalho fantástico de edição de George Martin e equipe da EMI faz com que tudo pareça tocado seguidinho, como no show, um dos pontos altos do fantástico medley de Abbey Road!  
THE END
 

Não... na verdade, não é o fim do álbum, como vimos....

17. Her Majesty (Tale Story Song by Paul McCartney)

Paul conta 'Sua majestade é uma garota bem legal, mas ela muda de um dia para o outro. Quero contar para ela que a amo muito mas eu tenho que ficar cheio de vinho. Sua majestade é uma garota bem legal, um dia ela será minha'. 
 
Apesar de ele falar que 'um dia ela será minha', não a considerei uma canção de amor, porque o compositor não poderia se colocar como pretendente, já que existia (e existe ainda, a mesma, 52 anos depois!) uma Rainha na área. Daí, classifiquei-a como Story Song. Mas a história mais importante dessa canção de menos de 
 
Pontos positivos: 1. O medley acabou tendo três fases, porque começou com uma canção de Paul, depois vêm três canções de John, e finaliza com cinoc de Paul, foi um sanduíche de John por duas fatias de Paul, e Her Majesty ali prejudicaria a uniformidade; 2. A transição entre as citadas duas últimas de John é perfeita... aliás, na celebração de 50 anos de Abbey Road, eles mostram como seria a versão do medley com ela ali no meio e verificamos que não seria apropriado, mesmo. 
 
Ponto negativo? Eu diria, altamente negativo! A travessura do operador de fita impediu que o ÚLTIMO LP gravado pelos Beatles tivesse como ÚLTIMA canção do disco uma canção chamada THE END. Seria lindo, majestoso, mas aí apareceu uma certa majestade travessa... 
 
A canção é tão curtinha que vou colocar aqui sua letra toda, seu verso único: 
 
Her Majesty is a pretty nice girl

but she doesn't have a lot to say (talvez uma breve ironia).

Her Majesty is a pretty nice girl

but she changes from day to day (rima rica com o verbo "say").

I'm gonna tell her that I love her a lot

but I gotta get a belly full of wine (não enrole a língua!)

Her Majesty is a pretty nice girl

someday I'm gonna make her mine (rima rica com o substantivo "wine"). 

 
Poder-se-ia lembrar a Paul que aquela "bonita garota legal" agora está livre, e chegou o dia de "fazê-la sua", ainda que precise "encher a barriga de vinho" para vencer a timidez! São apenas 16 anos de diferença! Aliás, sua admiração pela Rainha vem desde criança, quando ganhou um prêmio literário em sua escola de Liverpool, quando todos foram instigados a mandar uma mensagem à nova rainha que seria em breve coroada (Coronation Day). Aliás, nota-se ali de onde vem a acurácia e a correção do letrista que aprendemos a admirar. Imagine um menininho de 10 anod e 10 meses, como se vê no estruturado cabeçalho, escrevendo "But, on the Coronation Day of our lovely young Queen Elizabeth II, no ---ing or ---ing will take place because present day royalty rules with affection rather than force..." (quem entender as ações ---, me conta, por favor!).
     
 
Her Majesty (com J) surgiu à mente de Paul em seu retiro de Mull of Kintire, na Escócia, apenas aquele único verso, que compôs ao violão. Sabemos disso porque ele a tocou em uma entrevista de divulgação do Álbum Branco em novembro de 1968, que ele deu à Rádio Luxemburgo, se alguém souber desse áudio, me conta, por favor. Ele a ensaiou em janeiro, no Twickenham Studios, com intenções de usá-la no Projeto Get Back, sozinho no dia 9 e depois com os companheiros Ringo e John, este numa guitarra havaiana, no dia 24. Pela falta de substância para uma canção 'inteira', deixou-a na prateleira, para ressurgir para a vida em maio, quando se decidiu montar aquele medley de canções, e já que ele não havia conseguido aumentar o número de versos da letra, ela se encaixou perfeitamente no novo projeto, do jeitinho que ela estava. E foi gravada logo no segundo dia de maratona final de Abbey Road, em 2 de julho. E assim, foi muito rápido, apenas Paul estava presente, como sempre acontecia nas tardes de Abbey Road, com ele morando a um quarteirão de lá, apenas Paul era necessário, ele e seu violão, apenas três takes, ao longo de uma hora, que eu deixo aqui, neste LINK. Os parênteses com o J ali de cima foram por causa de um pobre e nervoso novato operador de fita encarregado da gravação naquele dia. Nervoso porque foi chamado a trabalhar com os Beatles, de repente, e corria a fama de que o ambiente não estava bom. Tão nervoso ficou que quando Paul lhe disse o título da canção, deu-lhe um branco e ele não soube como escrever e teve que perguntar como se soletrava. Bem, a ideia de utiliza Her Majesty entre as duas canções de John mencionadas era porque a primeira falava que a irmã de Mr. Mustard o levava para ver a Rainha, razoável motivação, mas musicalmente não se encaixou bem, conforme já explicado, ocorrendo a inversão, sendo colocada ao final de tudo, inclusive levando um resto de acorde de violão de Mean Mr. Mustard com ela. Errado, mas mantido, para nossa alegria. 

 

Lançamento, Recepção e Legado de Abbey Road 

Não se pode falar desses três títulos deste capítulo sem falar de seu mais importante marco:  a capa do LP Abbey Road. A efeméride, podemos chamar assim, foi tema de um dos meus mais lidos posts, com mais de 1000 acessos. Vou reproduzir partes dele aqui, com as necessárias adaptações e, para ler o resto, cliquei aqui, neste LINK.

Por que não vamos lá fora e atravessamos a rua?
disse ele a seus amigos, há quase 52 anos.

Essa pergunta, aparentemente bobinha e sem sentido, teria caído em esquecimento total e absoluto se fossem outros o lugar, os personagens envolvidos na cena, e o que aquele ato simples de atravessar a rua representaria para o mundo da música.

         O lugar:           Estúdios da EMI, em Londres
         O dia:              8 de agosto de 1969
         Ele:                 Ringo Starr
         Seus amigos:   John Lennon, Paul McCartney e George Harrison 
         A proposta:     Atravessar em fila indiana a Abbey Road,
                                 ter o movimento registrado em fotografia,
                                   e ter a fotografia estampada na capa 
                            do último disco dos Beatles,
                                     na minha opinião, o melhor de todos eles,
                                      não sem motivo, o mais vendido de sua carreira.
Estava a maior banda do mundo envolta em dúvidas sobre a capa e até mesmo sobre o nome do disco que estavam acabando de gravar. E era um disco especial, todos sabiam, John, nem tanto. Eles vinham de uma experiência que consideraram frustrada, o projeto Get Back, em que haviam embarcado numa ideia de volta às origens, e abandonado a batuta de George Martin, o grande produtor e mentor de seus discos até então. Só eles mesmos para ficarem frustrados com aquilo que viria a se tornar o último disco LANÇADO dos Beatles, que acabou levando o nome de Let It Be. Fiz questão de capitalizar o particípio qualificativo acima, para distingui-lo de GRAVADO, que é o que se aplica àquele disco sobre o qual pairava a dúvida da capa.
                 Estava praticamente combinado que eles voltariam a aparecer na capa, como somente haviam deixado de fazer no nono LP de estúdio, o famoso The Beatles, conhecido como Álbum Branco, pela total ausência de cor, inclusive no nome, que aparecia em alto relevo. Afora aquele álbum, todos os demais traziam a imagem deles na capa, fosse em foto ou desenho, e era bom para registrar as mudanças de visual do grupo: naquele verão de 1969, John, Ringo e George ostentavam grande cabeleira, e grossas barbas. Somente Paul, que nunca foi adepto do estilo cabelão, sempre optou por um visual mais comportado, estava de cara limpa, sem barba ou bigode. Aliás, até mesmo porque estava morto ... hehehe  ... depois explico.
            Restava saber aonde tirar a foto. Por uns bons dias, pensou-se em chamar o álbum de Everest, muito devido a uma marca de cigarros fumados incessantemente pelo engenheiro de som Geoff Emerick (que ganharia o Grammy por seu magnífico trabalho naquele disco). E chegou-se a fazer planos para ir ao próprio Everest para tirar a foto, mas a produção seria muito complicada. Dinheiro não era problema, mas acabaria atrasando o cronograma de lançamento do disco. Pensando bem, até que o local seria bastante apropriado, pois era o topo do mundo, exatamente aonde os Beatles se encontravam: no topo do mundo do entretenimento, não havia ninguém mais poderoso que eles.
                    Num belo dia, Ringo , em sua genial simplicidade, fez a proposta título. Discutia-se o nome do último disco, e como seria sua capa, ideias pululavam, além do Everest acima mencionado, Pirâmides do Egito, Coliseu, falava-se em altos custos, mas Ringo não estava querendo arriscar-se em lugares exóticos, que o obrigariam a comer feijão enlatado de novo, como fez na Índia, e soltou um: “Oh, come on!! Let’s cross the street and call it Abbey Road!!”. Aquele disco seria o último dos Beatles e aquela capa, a mais famosa capa de disco de todos os tempos, ao custo de poucas centenas de libras. 
Em tempo, aqui cabe um esclarecimento: desde sempre e até ano passado, eu atribuía a ideia a Paul. Só que Geoff Emmerick, o premiadíssimo engenheiro acima citado, que fumava Everest, contou em sua prestigiadíssima biografia, que foi de Ringo a sugestão. Seja engano dele ou não, achei bem plausível, pela simplicidade e pelo argumento, afinal, o querido baterista sofreu com seu fraco estômago, abalado por inúmeras doenças de infância (ver aqui neste LINK)sofreu com a comida indiana, o que foi decisivo para que voltasse mais cedo do retiro espiritual com o Maharishi no começo de 1968. Então, deixemos a glória para Ringo.

Proposta aceita, Paul fez o sketch ao lado, foi convocado o fotógrafo Iain Mcmillan, que estava de plantão, e saíram do estúdio. A produção teve alguma dificuldade para parar o trânsito, o fotógrafo subiu em uma pequena escada e tirou meia dúzia de fotos. Paul escolheu a que mais lhe agradou. Era o líder de fato do grupo, pois John já estava de saco cheio. Estava decidida e realizada mais uma capa Beatle. E o disco foi também nomeado Abbey Road, em homenagem à casa que os abrigara nos últimos sete anos, palco de muitas revoluções musicais. 
Bem, o restante daquele post celebrativo, inclusive contendo o motivo de por que, aqui acima, eu escrevi "até mesmo porque estava morto ...", você pode acessar no LINK acima informado, aqui não seria o local adequado para fofocas, disse-me-disses e teorias da conspiração que envolveram os membros da banda, à época. Mas vou falar mais um pouco da capa, do que ela provocou, afinal, faz parte do legado do álbum.
A capa de Abbey Road ficou mundialmente famosa. O citado fusca bege ganhou notoriedade imediata e começou a passar de mão em mão de colecionadores. Chegou a valer dezenas de milhares de libras, e hoje está no museu da Volkswagen, na Alemanha.

Desde o fim dos Beatles, todo santo dia, ao menos uma pessoa, às vezes dezenas, preferencialmente em grupos de quatro, repete a coreografia da capa, com pé trocado do 3º, que normalmente está descalço, e tudo o que tem direito. Entre elas, o bocó aqui! Estive lá pela primeira vez em 1992. Só que como eu estava sozinho, tive que esperar por outros três bocós para acompanhar-me na jornada e um 5º bocó para tirar a foto. E retornei algumas vezes: por menos tempo que eu tivesse, fosse apenas uma escala do vôo de ida ou de volta, eu pegava a Jubilee Line do metrô, descia na estação St. James Wood e repetia a coreografia.

E deixava, sempre, minha mensagem no muro dos estúdios da EMI. Claro que nunca encontrava a mensagem anterior: aquele local virou ponto de registro do amor pelos Beatles. Cada centímetro quadrado de sua tinta branca é preenchido com declarações, poemas, citações de letras, Beatles 4ever, fulano esteve aqui, sicrano ama beltrana, e coisas do gênero.  A velocidade de preenchimento é enorme: a cada três meses, o muro tem que ser repintado, para começar uma nova série de pichamentos, totalmente legais e autorizados!

         Quem tiver dúvidas sobre o fenômeno, pode ir ao site da EMI, e procurar a imagem: há uma câmara permanentemente ligada, registrando a movimentação aquela faixa de pedestres. Pode estar vazia agora, mas não demora muito e aparece alguém atravessando e fazendo pose. E se for a Londres, não deixe de pagar o seu mico!!!   

         É a única capa em que não aparece o nome do disco, e também a única em que não aparece o nome da banda, apesar dos protestos dos diretores da EMI. Foi ideia do designer simplesmente conhecido por Koch, que teve seu trabalho muito facilitado porque a foto foi tirada sem a participação dele, mas sentiu-se poderoso o suficiente para se colocar na primeira pessoa junto  dos Beatles, dizendo: "Somos a maior banda do planeta, não precisamos de nome algum na capa". Mais um detalhe da foto: com exceção de George Harrison, que está em trajes excessivamente casuais, os demais três usavam ternos do renomado alfaiate Tommy Nutter. Outra curiosidade: o pobre dono do fusca teve a placa de seu carro - 28IF - roubada repetidas vezes por fãs enlouquecidos porque além de fazer parte do cenário da capa mais famosa de todos os tempos, era evidência de que Paul estava morto.... e o adjetivo 'pobre' foi imediatamente abandonado, porque decerto vendeu sua relíquia por enorme quantia, mais tarde. 

       O disco foi lançado em 26 de setembro no Reino Unido, e 1 de outubro nos Estados Unidos, direto para o topo das paradas, vendendo 4 milhões de cópias em dois meses. Em UK, ficou 18 semanas no topo, com um intervalo de uma semana em que os Rolling Stones assumiram com seu 'Let It Bleed', e saiu do topo em definitivo, após a chegada do álbum de Led Zeppelin com seu 'Led Zepellin II', mas permaneceu nas paradas por 81 semanas. Nos EUA, foi o álbum mais vendido do ano, permanecendo 11 semanas no topo da parada, e chegou aos 7 milhões ao final da década de 1970. E nada se compara a seu desempenho no Japão, em termos de longevidade, pois ficou 100 semanas nas paradas. No mundo todo, suas vendas estão a caminho da marca de 40 milhões de cópias. Foi o LP mais vendido no mundo em 2019, isto é, 50 anos depois!

        A contribuir com o conteúdo das canções em si estava o som mais puro que se ouvira até então, muito por causa das inovações técnicas, começando pela aposentadoria das válvulas em favor dos transistores na mesa de mixagem, uma filosofia que foi exportada para outros ramos da eletrônica, quem viveu a década de 1970 vai se lembrar do que aconteceu com as televisões em nosso ambiente doméstico. O som estava mais redondo, mais macio, nunca o som do baixo foi tão nítido. O álbum inteiro foi gravado em 8 canais, e cada um deles podia ser tratado em separado com compressão de som e limitadores. Foi o primeiro álbum a ser gravado apenas em som estéreo, para desgosto de muitos puristas que preferem o som monaural, se alguém quiser me convencer que este é melhor que aquele, nem tente, não vai conseguir. O grande George Martin era um que sempre preferiu o Mono ao Estéreo. Perceba a diferença, por exemplo ao ouvir a bateria de Ringo em The End, a primeira e única vez em que teve dois canais dedicados a ela, ou o viaje no efeito da cantada de Paul na Rainha passeando por sua cabeça! Na instrumentação, destaque para o Sintetizador Moog, uma geringonça eletrônica que George adquiriu e emprestou ao estúdio, e foi utilizado para contar porque o céu é azul e faz John chorar, e em outras três canções. Além do ribbon controller sensacional, usado por George saudando a chegada do Sol. E, saindo da eletrônica a caminho do básico, houve os sinos saudando o sentimento mágico de Paul sem ter aonde ir, e a incrível bigorna onde Maxwell batia seu martelo de prata, treinando para seu uso em outros alvos mais macios! E sem se esquecer dos efeitos usados na medida certa, desde os sons de fundo do mar no jardim dos polvos onde Ringo se refugiou, ao vento ensurdecedor abafando o grito primal de John pelo tão pesado amor de sua vida.

A crítica, depois de um breve período com uns poucos pentelhos criticando a complexidade e o afastamento dos sons que pudessem ser reproduzidos ao vivo, implicando até com o sintetizador, acabou por se render e se desmanchar de elogios, criativo, inovador, impressionante, de tirar o fôlego, e o elogio definitivo de 'o melhor da carreira', que é como eu o classifico. Em todos os rankings de que participou, ganhou a nota ou grau máximo (de 0 a 100, 100; de 0 a 10, 10; de nenhuma a 5 estrelas, 5; de A a E, A, às vezes A+). E a EMI ficou tão impactada que mudou o nome do local onde o disco foi gravado, de EMI Studios para Abbey Road Studios. Muito justo! 

Seis dias antes do lançamento de Abbey Road na Inglaterra, John Lennon anunciou aos demais que não era mais um Beatle.... Todos esperavam por isso, mesmo assim ficaram perplexos com a confirmação da suspeita. Os próximos meses seriam tempos difíceis, temos de desavenças, desacordos, disputas, desvario, e por que não, desespero para os poucos que sabiam do desenlace, além deles. Nós, fãs, nem desconfiávamos de nada. 

Felizmente, como nada dos Beatles seria deixado para trás, as fitas do Projeto Get Back, lá de janeiro, foram trabalhadas, editadas e transformadas naquele que seria o último álbum lançado pela maior banda de todos os tempos.

Vem aí!

LET IT BE

7 comentários:

  1. Quantas desavenças entre os quatro Beatles, já famosos e milionários, em 1969, prestes a se separarem. Paul se casou com Linda Eastman e não convidou os companheiros da banda; John se casou com Yoko e teve o mesmo comportamento; Ringo passou a gravar sozinho, saiu do grupo mas depois voltou; George operou as amígdalas. Apesar das tensões, trabalhos de altíssima qualidade foram produzidos na época, como o _Álbum Branco_ e compactos, - _Get Back/Don’t let me down_ e outros. Muito interessante conhecer os bastidores da mais famosa banda.

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  2. Tudo se encaminhando to the end

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  3. Abbey Road é fantástico, mesmo com brigas eles produziam músicas magníficas !

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    1. Não brigaram durante a gravação de Abbey Road. Quando George Martin for chamado ele disse que só voltaria se mudassem de comportamento. Só se soubessem como se comportar. Eles concordaram. E deu tudo certo.

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  4. Acho que George foi convidado para o casamento de Paul sim. Pelo menos ele argumentava isso lá na delegacia quando foi preso. Tinha de ser liberado porque Paul estava se casando naquele momento. Citou isso algumas vezes dizendo que tinham impedido que ele fosse ao casamento. Pode ter sido uma desculpa inventadad para ver se saia logo dali. Como também pode ter sido verdade. Afinal Paul foi best man para George. E talvez Paul, se lembrando isso, o tenha convidado. Mas não tenho como saber.
    Aproveito o espaço para divulgar a canal Pop goes do the 60's. È bastante revelador sobre esse tempo dos desentendimentos. Ontem mesmo vi um video onde mostram Paul conversando com Neil Aspinall, Ringo. e outro do qual esqueci o nome. Acho que era o diretor do documentário. Linda também estava presente e conversando demais a meu ver.
    Pela conversa não dá para ver Paul como o ditador que costumam dizer que era. Na verdade ele nem queria impedir Yoko de estar presente. Ele achava que atrapalhava muito, mas era estranho impedir, dar ordens...Mas ela realmente incomodava inclusive nas composiçoes. Ele e John constumavam compor juntos numa boa antes dela. Com a chegada dela tudo mudou porque ela tinha de ficar ao lado o tempo todo e a energia não fluia...ela como que bloqueava.

    Os vídeos desse canal mostram eles conversando, podemos ouvir o que estão dizendo...Desmentem muita coisa que ouvimos, principalmente as divulgadas pela revista Rolling Stone contra Paul.

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  5. Não sabia que George tinha sido operado das amigdalas. Sabia de Ringo. Pois eu também tive as minhas removidas em 74. Quase morri. Uns dizem que foi choque anafilático. Outros que devido a hemorragia. Foi anestesia geral e não vi nada. Mas soube que fiquei dependurada de cabeça para baixo por longo tempo... Por causa da hemorragia. Mas valeu...Eu vivia sofrendo demais desde criança. E já estava com garganta inflamada ha meses! Risco de atacar o coração, assim disseram. Foi cirurgia necessária e a melhora foi impressionante.

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  6. Podemos considerar The End como a última musica desta sinfonia Abbey Road ( eu a considero uma sinfonia). É comum algo aparecer depois do fim sem atrapalhar o fim. Acontece muito em filmes. Vem escrito The End. Passam os créditos...E depois dos créditos não é quem uma cena nova? Mas o Fim de fato é aquele anterior quando lemos The End. A música da rainha, diminuta, é apenas o que vem depois do Fim.

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