-

segunda-feira, 1 de março de 2021

I Am The Walrus Goo Goo GJoob

Esta canção fecha o EP Magical Mystery Tour, ou...

Esta canção fecha o Lado A do LP Magical Mystery Tour 

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 5 canções com Viagens Alucionágenas

as demais 4 canções de mesmo Assunto e  Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

6. I Am The Walrus (Trip Acid Song by John Lennon)

John conclama, alucinado: "Espertos, trouxas, fumantes inveterados, vocês não acham que o Coringa vai rir de vocês? Veja como eles sorriem como porcos num chiqueiro, veja como eles zoam. Eu estou chorando. Sardinhas de semolina escalando a Torre Eiffel. Um pinguim elementar cantando Hare Krishna. Cara, você devia ter visto eles chutando o Edgar Allan Poe"

Gente, o fã que pegou com avidez o EP Magical Mistery Tour, sabendo que tinha apenas 6 canções, botou na vitrolinha , e foi ouvindo a agulha passear pelo vinil, e ouvia o alto-falante despejando a voz de Paul em três canções e a de George e até mesmo uma canção instrumental, coisa que nunca ocorrera na carreira os Beatles, ficou se perguntando, cadê John? Bem, ele não perdeu por esperar.

 

A  canção era uma obra-prima, de John Lennon!!

 

John coloca no papel tudo o que sua mente vê, em seu estado alterado. Ele admitiu em sua famosa entrevista para a Playboy de 1980 que as principais linhas vieram em acid trips em dois fins-de-semana subsequentes, e o resto veio surgindo na mesma linha. A 'Morsa' veio de um poema de Lewis Carroll, The walrus and the carpenter, mas ele não entendeu bem e acabou pegando para a letra o bandido do poema, o mocinho era o carpinteiro, mas depois gostou, pois ficou beeeem mais sonoro, na métrica perfeita. A letra é pontuada por inúmeras imagens estranhas, a freira pornográfica, a massa podre saindo do olho do cachorro morto, o "sentado num floco de milho esperando a van chegar", e policiais em fila voando como "Lucy in the sky" (alguém tinha dúvida de que a canção de Sgt. Pepper's era outra viagem?),  e acabou sobrando até pro pobre escritor Edgar Allan Poe, e tudo culminando no refrão espetacular "I am the eggman, they are the eggmen, I am the walrus, googoogjoob!". Não busque rimas, elas são irrelevantes nessas viagens, em que imagens chegam aleatoriamente à mente do compositor. E era tanta coisa que chegava, que John teve que fazer a mais complexa canção dos Beatles, em termos de estrutura! Vejam que são 6, SEIS, MEIA-DÚZIA, de Versos, uma Ponte e 4 Refrães, sei que devem já estar acostumados com a nomenclatura de minha análises mas vou facilitar as coisas, colocando as frases de abertura dos elementos estruturais pra vocês:
Verso 1: I am he as you are he as you are me...

Verso 2: Sitting on a cornflake waiting for the van to come...

    Refrão: I am the eggman. They are the eggmen...

Verso3: Mr. City, policemen sitting pretty little policemen in a row...

Verso 4: Yellow matter custard dripping from a dead dog's eye...

    Refrão: I am the eggman. They are the eggmen...

Ponte: Sitting in an English garden waiting for the sun...

   Refrão: I am the eggman. They are the eggmen...

Verso 5: Expert, texpert, choking smokers...

Verso 6: Semolina Pilchard climbing up the Eiffel tower...

    Refrão: I am the eggman. They are the eggmen...   

Além dessa quantidade de versos, com letras todas diferentes, a melodia, a silabação, a métrica é distinta, apenas os Versos 2, 4 e 6 são similares entre si. E acresça-se que cada refrão, em que pese terem todos as mesmas palavras, eles têm variações no números de complementos, os onomatopaicos Goo goo g' joob's!!
 
Musicalmente, é outro poço de novidades. Rock vigoroso com arranjo orquestral potente, um coral de vozes para os Hoo Hoo Hoo Hi Hi H Ha Ha Ha e os OOmpa OOmpa..., e note o longo final com a orquestra subindo, subindo, as notas da escala, concomitando com as linhas de baixo descendo, descendo, e vozes de uma transmissão de rádio de uma peça de Shakespare, loucura, loucura, loucura!!! Genial loucura!! 
 
Mas vamos a mais um pouco de detalhes! E antes, um pequeno retrospecto se faz necessário. Lembrem-se, já mencionado aqui, do passamento inesperado de Brian Epstein, em 27 de agosto. Os Beatles interromperam o seminário de que participavam no País de Gales e retornaram a Londres. No dia 1º de setembro, todos ainda abalados, reuniram-se para falar sobre o futuro da banda, onde John declarou que era o fim, mas Paul se esmerou em que continuassem o projeto Magical Mistery Tour, inclusive porque Brian o havia aprovado, o que acabou sendo acordado por todos. E, apenas 4 dias depois entraram nos estúdios para gravar uma canção de John.  Ele a cantou para George Martin, em tom monotônico, acompanhado de seu violão, com uns versos cheios de linhas inteiras com uma nota só (vários MI), máximo duas (alternando com RÉs sustenidos), e a letra falando sobre homens-ovo e morsas e sardinhas e Edgar Allan Poe, ao que o Maestro perguntou, atônito:  "O que você espera que eu faça com ISSO?", vou até colocar a fala em inglês, muito legal: "Well, John, to be honest, I have only one question: What the hell do you expect me to do with that?". À primeira vista, estranha, logo, logo, Martin viu que tinha nas mãos uma pérola. Mas aquele dia estava realmente difícil de se concentrar, as mentes em Brian, John começou a base num piano elétrico, Ringo na bateria, George na guitarra base, Paul no baixo. Logo se viu que John não acertava, e Martin chegou a sugerir passar para Paul, mas acabou seguindo com ele, e Ringo estava com dificuldade de concentração, e Paul abandonou o baixo e ficou tocando um pandeiro em frente a Ringo para trazer foco ao parceiro. Zoada aquela sessão, mas a base acabou saindo, com Paul no pandeiro! 
 
Dia seguinte, chegou o baixo de Paul, mais bateria de Ringo e o magnífico vocal de John, sem backing vocals de ninguém, estava bom demais, mas John fez um daqueles pedidos estranhos, disse que queria que sua voz parecesse vir da Lua! Geoff Emmerick deu um jeito eletrônico de satisfazer o astro, distorcendo sua voz! E depois, veio o desejo vanguardista de colocar as ondas do rádio na canção, e foi um rebuliço no estúdio, primeiro para encontrar um rádio, e depois para ligá-lo ao som do estúdio, foi uma loucura, mas o resultado ficou sensacional, com aquela peça de Shakespeare no meio de um rock do bom. E note que ela veio por acaso, e feita já na sessão de mixagem, aleatoriamente, deixaram tudo pronto, rodaram o dial, e onde ele parou, ficou, e deram REC... e era a peça Rei Lear. 
 
A notável sessão instrumental foi, claro, orquestrada pelo Maestro George Martin, e materializada por 16 músicos contratados, sendo 8 violinos, 4 violoncelos, 1 clarinete baixíssimo e 3 trompas! Nenhum Beatle esteve presente nessa sessão, porque era de tarde, mas chegaram em seu horário normal, às 7 da noite para testemunhar o final, e gostaram muuuito do que (ou)viram,  a presença de um grupo vocal (8 homens e 8 mulheres) colocando aqueles gritos nos refrães ("Oooooh!") e risadas no 5° verso ("Hoo Hoo Hoo Hi Hi H Ha Ha Ha"), e falas no estonteante final ("Everybody’s got one, everybody’s got one…"), sugeridos por John e orquestrados por Martin, que se juntam aos insanos cordas e metais da orquestra, e a grunhidos de porcos quando são citados, isso sem contar a voz distorcida do genial compositor e vocalista, num clima jamais visto! É inacreditável o resultado que conseguiram, entrou para a história!!! 
 
Bom, gente, melhor para de falar, melhor deixar vocês ouvirem, e prestarem atenção aos detalhes, em três vídeos:

    1. A cena do filme Magical Mistery Tour, com os quatro dublando eles mesmos (lip sync), primeiro em trajes psicodélicos, depois vestidos de animais, John, claro, sendo a Morsa!! Pena que é só um trecho! Não achei o completo! Aqui, neste LINK;
    2. Não poderia deixar de colocar um SURPREENDENTE cover que George Martin tirou da cartola em seu projeto In My Life, de Beatles tocados por outras gentes, convidando Jim Carey para cantar I Am The Walrus. Com certeza, Lennon deve ter esboçado um sorriso onde quer que estivesse! Vejam aqui, neste LINK;
    3. Finalmente, não temos Beatles mas temos The Beatle Analogues, tocando IGUALZINHO ao arranjo original, com orquestra e coral, aqui, neste LINK

8 comentários:

  1. Arranjo magnífico

    ResponderExcluir
  2. Olha, eu dizer que é fantástica não adianta muito. Eu acho tudo deles fantástico. Como classificá-la então? Sem classificação. Só sei que viajei com eles. E sem LSD.

    Eu discordo que o fato dele ter falado em Lucy in the Sky na letra signifique com a Lucy original tinha a ver com ácido. Significa apenas que ele achou bom colocar Lucy na letra e nada mais que isso. Se bem que nunca foi negado que poderia haver algo de viagem alucinógena ali. O que John sempre negou, e provou o engano, é que o titulo tinha escrito LSD propositadamente. Ele provou ao mostrar o desenho de Julian. E julian confirma misso. O titulo foi dado pelo menino de cinco anos, penso eu. Por aí. Nunca uma criança iria pensar em LSD. Lucy realmente existiu, era amiga de Julian, ele fez o desenho sobre ela.l..O que acho muito triste pois parece uma premonição. Ele a viu no céu com diamantes. E ela partiu jovem desse mundo vítima de Lupus.

    Pòrém, isso não invalida a tese que John aproveitou o desenho e o título dado por Julian para escrever algo inspirado numa viagem ácida também. Sempre bom lembrar também que Lewis Carrol foi de fato grande influência na vida de John e de Paul ( e na minha, a bem da verdade, se bem que quando criança eu só conhencia a versão de Walt Disney).

    O curioso é John classificá-la como "crap" Uma obra prima dessa. Mas John era assim mesmo. A parte chatinha dele. Tinha que tirar o valor das coisas que ele mesmo fazia. Soube que nem gostava da sua própria voz. Gente, eu amo a voz de John! ( E de todos os outros Beatles).

    Não sei mais onde li isso. Ele teria feito a música numa resposta a Bob Dylan que tinha feito uma música lixo. Queria mostrar que ele também era capaz de fazer lixo.

    E palmas para George Martin. Se espantou a principio, mas entrou direitinho no espirito John. Ficou perfeito. E, convenhamos, podemos dizer que sem ele não seria tão bacana assim.
    E já que falei no John chatinho, falo no John gracinha. Adoro seus pedidos praticamente impossíveis deixando Martin alucinado para atende-lo. Também li, e não tenho como provar, que era comum ele não entender nada do que John queria. Tinha de pedir a Paul para traduzir. E Paul traduzia.
    Essa música realmente não tem participação de Paul na composição em nada, mas soube que tem contribuição de Pete Shotton. E parte da letra é uma Nursery Rhyme.

    Ficou maravilhosa no filme. Obrigada pelos links. ( Jimmy Carrey deitou e rolou magnificamente bem). Mas tem um outro video da musica que desapareceu do youtube. Eu vi o bendito ene vezes. É quase igual, mas com uma parte interessante para dizer o mínimo. Não vou dizer o motivo porque é controverso. Poderão não entender. Mas que está divertido está. Nâo sei o que queriam dizer com aquilo. Coisa de Paul e John.

    ResponderExcluir
  3. Excelente postagem Homerix e adoro os links que você disponibiliza. Em um deles percebe-se a grande "tirada" do grande maestro George Martin ao escolher um grande comediante para interpretar essa música superinteressante. Me surpreendeu a afinação, o ritmo e a boa voz do Jim Carrey. Poderia fazer um pouco menos de presepada ao cantar, mas aí seria pedir demais, né?

    ResponderExcluir
  4. Revendo o link do Jim Carrey, acho que peguei pesado com o cara. Não foram mostradas presepadas do comediante durante as gravações, por sinal realizadas com grande empenho e sim nos intervalos das mesmas.

    ResponderExcluir
  5. Muito doido!!! Criatividade a mil de mentes brilhantes
    Cover excelente
    Em fim, grande viagem, viajamos juntos, com certeza

    ResponderExcluir
  6. Só não gostei dos grunidos dos porcos..animal nojento 😟

    ResponderExcluir
  7. Tá lido Homerix. Sempre aprimorando nossos conhecimentos sobre os fab4, obrigado!

    ResponderExcluir