Esta canção abre Lado B do 2° LP do Álbum Branco
a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK
É uma de 14 canções com Discurso para Um Grupo
as demais 13 canções de mesmo Assunto e Classe, neste LINK
Atenção, canções com títulos em vermelho
são links que levam a análises sobre elas.
25. Revolution 1 (Group Speech Song by John Lennon)
John avisa: "Você me pede uma contribuição. Bem, você sabe, nós todos estamos fazendo o que podemos (Oh shoo-be-do-a, oh shoo-be-do-a), mas se você quer dinheiro para pessoas com ódio na cabeça, bem, tudo que posso lhe dizer é que, irmão, terá que esperar"
O mundo conhece mais o grande, enorme, magnífico hard-rock de John, que seria um Lado A em qualquer outra oportunidade, menos quando a outra canção em questão é Hey Jude. O compacto foi lançado antes do Álbum Branco e teve enorme sucesso. Só que quando ele a criou, era em ritmo mais lento, mais blues. Nesta versão, que foi considerada lenta para lançar como single, há três importantes mudanças: (i) Na letra, quando John diz que se o caso é destruição, podem considerar ele fora ("You can count me out"), ele complementa com um 'Ou não!' (IN!!!), o que acende uma chama de esperança de poderem contar com ele; e (ii) 2. No vocal, Paul e George entoam um delicioso "oh schoo-bee-doo-wa oh schoo-bee-doo-wa" e (iii) nos acompanhamentos, não tem o piano elétrico nem as 'handclaps', mas tem uma magnífica sessão de metais. Além disso, John havia concebido a canção com uma longa série adicional, de mais de 8 minutos, de sons aparentemente sem nenhuma relação com o tema, mas que ele considerava parte da Revolução! Imediatamente, viram que não caberia, mas concordaram que se tornasse outra faixa do mesmo disco, que se chamou Revolution 9!!! Aliás, seria interessante se conhecêssemos as outras, Revolution 2, Revolution 3 ... até Revolution 8, para tentar entender como seu raciocínio foi evoluindo até chegar àquela salada vanguardista de sons de Revolution 9. Brincadeira, eu sei que não foi assim!
Os Beatles, mais John que os demais, queriam abrir a boca sobre política desde sempre, mas eram refreados por seu empresário Brian Epstein, que não queria confusão.... mesmo assim não conseguiu evitar os transtornos com a declaração do astro sobre a popularidade de Jesus Cristo. John queria muito, por exemplo, falar contra qualquer guerra, especificamente, contra a Guerra do Vietnã, mas nunca pôde, ou quando falou, o fez disfarçadamente! Depois que Brian morreu, a coisa ficou liberada! E Revolution foi a primeira canção a tratar de política, era uma mensagem contra o 'establishment', mas mesmo assim com muitas ressalvas. Em resumo, "Se é pra fazer com violência não contem comigo". Ele fez a canção na estrutura verso-refrão-'treis'-'veis'. Todos os versos têm igual configuração:
Linha 1: uma proposta deles
Linha 2: Well, you know
Linha 3: um consideração de John
Linha 4: outra proposta deles
Linha 5: Well, you know
Linha 6: uma outra consideração de John
Linha 7: um alerta de John
Linha 8: uma ação resposta por John
Todas as propostas do povo rimam com "Revolution". Os Versos 2 e 3 têm um complemento delicioso após as considerações de John, os famosos "oh schoo-bee-doo-wa oh schoo-bee-doo-wa" que não sobreviveram na versão mais pesada. Elas aparecem nos refrões também. As Linha 7 e 8 de cada verso são como que introdutórias para o Refrão "Don't you know it's gonna be (em falsete) Oh schoo-bee-doo-wa Allright? Oh schoo-bee-doo-wa", também três vezes. Aqui, é John lembrando-se de um mantra do Maharishi, que aprendeu em seu retiro na Índia!
Revolution (ainda sem o 1 qualificador) foi a primeira canção a ser gravada na maratona para o Álbum Branco, aliás, já contei em outra resenha mas não custa repetir, criou-se o hábito de ser sempre uma canção de John a abrir os trabalhos de um álbum, desde 1965. Então, I Am The Walrus abriu Magical Mistery Tour, A Day In The Life abriu Sgt. Pepper's, Tomorrow Never Knows abriu Revolver e Run For Your Life em Rubber Soul. Veja bem que abriram as gravações, mas coincidentemente, cada uma foi a última canção colocada em suas respectivas bolachas (1 EP e 3 LPs). Neste caso do Álbum Branco, a segunda rotina não se repetiu, mas foi por uma! A última canção, muito apropriadamente, foi Good Night, uma linda canção de ninar de John para seu filho Julian, que Ringo materializou, com espetacular arranjo de cordas. Antes daquele 30 de maio inaugural, a canção foi apresentada aos demais dois dias antes, e foi materializada num dos já famosos Esher tapes, na casa de George. John ao violão e seus vocais dobrados, Paul e George em já ótimas harmonizações, Ringo no pandeiro e todos nas palmas. Ouçam que legal, aqui, neste LINK. Notem que o Verso 3, aquele do Chairman Mao, ainda não existia. No Dia D, ou melhor, 30 de maio, os Beatles fizeram 18 takes da canção, não sem tensão. Paul estava meio acabrunhado, provavelmente com aquela rotina de sempre ser uma canção de John a abrir as gravações, e John também não estava bem, chegou a ser ríspido com Geoff Emmerick, por conta de um som sujo que ela queria extrair do seu violão, e pressionou o técnico para fazê-lo. George não estava, Paul ficou ao piano e Ringo na bateria. Aquele foi o primeiro (de muitos) dia em que John trouxe Yoko, apresentava-a para todos, e tal, e ela chegou chegando, trouxe uns sons eletrônicos gravados em fita, pegou do banco de instrumentos uma tábua de lavar roupa, e a 'tocou', e muito do que ela fez, ficou na versão final. O último take do dia foi estendido em mais de 5 minutos do qual algo se aproveitou para Revolution 9, felizmente os primeiros quase 5 minutos estavam ótimos para overdubs, que vieram, naquele mesmo dia (já era madrugada) à noite.
O primeiro acréscimo foi o vocal de John, com várias tentativas, inclusive alterando letras, especialmente o "count me out" que virava "in" e de volta a "out", até que ele se decidiu por "out in". Na mesma tomada, ele e Yoko acrescentaram aqueles gemidos ao final. E vieram os ótimos shoobedoa's de John, Paul e George. E Paul e George duelando ("Don't you know it's gonna be") com John ("All right"). E Paul afinal introduziu seu ótimo baixo. Aliás, pra não ficar atrás, Paul também trouxe sua nova namorada Francie Schwartz!! No terceiro dia, mais vocal de John (em que inclusive ele tentou cantar deitado no chão do estúdio, sempre buscando um som diferente) e, finalmente, a ótima guitarra distorcida de George, na introdução e outras partes da gravação, especial participação. Os metais chegaram dois dias adiante, com saxofones, trompetes e trombones, gravando pautas criadas por George Martin!
A introdução tem o violão de John e a guitarra de George e a tábua de Yoko. Ringo, na batida de blues na caixa, tem pouco destaque, e o baixo de Paul é tradicional até chegar nas frases finais dos versos, onde se floreia um pouco. Os saxofones e trompetes aparecem no alerta do Verso 1, e repetem a dose nos Versos 2 e 3, e estão nos refrões em triplas duelando com a guitarra distorcida de George (note um em cada lado de sua cabeça, ao ouvir no fone de ouvido). Os trombones seguem em triplas, numa mesma nota, acompanhando os Verso 2 e 3 em suas primeiras 6 linhas. Fundamentais são os metais para a sonoridade da canção. Notáveis, não se pode esquecer de notar, as viradas do violão de John introduzindo cada verso (e que já estavam presentes em Esher), e os glissandos de George na guitarra dos refrões. O refrão final se estende em fade-out com John no All right repetidamente, e juntando-se a Yoko nos gemidos, e esta última no reco-reco da tábua de lavar roupa.
Ao vivo? Revolution 1, não. O que tem é Revolution, inclusive com um video-clipe, mas na versão mais rápida e áspera do compacto, que foi gravada d pois e lançada antes. Agora, felizmente, sempre temos The Analogues para nos redimir. Aqui, neste LINK.
"Revolution" é uma das minhas preferidas, entre as canções de John. Lembremos: em 1969 a ditadura militar mostrou seu lado mais pesado. Eu sempre fui contestador e adorei John abrir a boca sobre o que acontecia no mundo. Tinha acabado de acontecer o Maio de 68 em Paris, a Primavera de Praga em Paris...
ResponderExcluirQuando cheguei em casa e botei o disco no vitrolão, percebi que a rotação do Revolution estava esquisita. Ouvi e ouvi e concluí que era defeito. Fui à loja e reclamei. Tocaram alguns LPS e... era variação na velocidade da gravação! Genial!!!
E - já que Homerix é o melhor analista de rimas que conheço - essa canção tem a "Mãe de todas as rimas": Chaiman Mao com Anyhow. Além do quebra-língua para se cantar: "You ain't going to make it with anyone anyhow"...
Obrigado pelos detalhes da gravação!
Gosto dessa versão tanto quanto a outra versão
ResponderExcluirMaravilhosa música 👏
Homero, tem alguma versão sem Yoko? Porque eu não ouço nada que ela participa. Coisa pessoal minha. Se tem ela ou não ouço a menos que seja por muitos milhões de reais. E mesmo tentando pensar em outra coisa. Eu sempre ouvia a música sem saber que ela estava presente. Já que está não ouvirei mais. Não precism entender, ninguém vai entendr mesmo, mas é impossível para mim. Não sinto bem.
ResponderExcluirMas o curioso é que...eu não sabia. E nunca gostei daquele final com aqueles sons. Sempre amei a música, e quando chegava naquela parte eu achava que tinham exagerado nessa de sons. Agora já sei porque não estava bom. Era ela.
Não vejo porque Paul estaria acabrunhado por mais uma música de John na abertura das gravações. Mesmpo porque a dupla Lennon/McCartney ainda existia. E é bem possível que Paul tenha dado algumas sugestões. A Day in a LIfe por exemplo nunca jamais poderia ser considerada uma música apenas de John. Totalmente Lennon/McCartney. O meio da música é de autoria de Paul. Até cantada por ele.
ResponderExcluirE mesmo se Paul nao tivesse contribuido em nada na Revolution ela ser a primeira a ser trabalhada não o prejudicaria em nada. Estavam gravando uma música dos Beatles.
Mas continuando a leitura vi logo um motivo bem mais possível. A presença de Yoko. Primeira vez que ela chegou querendo mesmo ser uma Beatle, como se isso fosse possível. Mas conseguiu estragar duas faixas e ainda colocar uma terceira praticamente só dela e de John. Revolution 9 não é uma faixa dos Beatles.
Já falei uma vez mas vale repetir. É fato, não é fantasia minha, que o Album Branco foi lançado com defeitos graves aqui no Brasil. A Revolution estava com o som todo torcido. OUvir aquilo era tortura para os ouvidos. Este mistério nunca foi resolvido. Ou melhor, eu nunca li nada sobre isso, mas com certeza a Odeon sabe que absurdo foi aquele. Fomos lesados. Pagamos por um disco com defeito em duas faixas. Good Night está desafinada.
Nâo lembro de ninguém protestando. Lembro de gente achando que era 'assim mesmo, é loucura dos Beatles'. Só quando estive em Londres em 1970 vi que eu tinha razão. A original era bem diferente. Comprei outro album branco lá.
Agora vem a fantasia minha. Foram as más vibrações que interferiram e estragaram a Revolution daquele jeito. Mas vibrações vindas também daqueles sons horripilantes do final da musica e da numero 9.
George disse que sentia as más vibraçoes. Ele estava lá e pode falar. Eu acredito nele. Mas já vi algo assim acontecendo aqui em casa enquanto ouvia uma coisa assim vindo dela. Um áudio que está no Youtube. Todos devem conhecer. Ela falando John John John sem parar. A Rolling Stone ousou dizer que foi uma grande performance dela. rs rs rs. Enfim, eu estava ouvindo e meu cachorro passou mal. Não conseguia se levantar e nem respirar. Claro que não pensei em más vibrações. Levantei para socorre-lo e nada. Parecia que estava morrendo. Desliguei o audio para providenciar ajuda veterinária. E assim que desliguei ele ficou bonzinho. Sarou completamente. E ainda veio lamber minhas mãos em agradecimento. Sim, pensei ter sido coincidência, e talvez tenha sido mesmo. Mas ...continuo em outro box
Eu escutava o aúdio conversando num chat com uma amiga que também ouvia o mesmo audio. Assim que Pablo se recuperou voltei a falar com ela me desculpando por ter saído sem nem me despedir. E contei o motivo. Pois o gato dela tinha tido reação parecida. Não ficou quase morrendo. Mas gritava feito louco pulando para o ar com o pelo arrepiado. Para piorar viu chamas na lámpada da cozinha. Foi quando desligou o áudio. E...gatinho volta a ser calminho. E as chamas apagaram sozinhas. A làmpada não queimou. Ficamos nos perguntando se tudo isso teria sido más vibrações daquele áudio...Claro que não temos como afirmar nada. Mas prefiro não arriscar. Por isso não ouço nada que tenha a participação dela.
ResponderExcluirHá muitos fâs dos Beatles que gostam dela. Por isso peço desculpas por contar isso, mas isso de fato aconteceu. É pelo menos curioso e não estou afirmando que realmente veio dela. Apenas deu para desconfiar. Eu só não quero me arriscar mais.
Naquele dia eu senti forte que os Beatles não podiam mesmo continuar juntos. Nâo com a presença dela. Naquele dia eu entendi mesmo admitindo que possa ter entendido de forma equivocada. Não tenho provas.
Acabei de me lembrar que..parece se no mesmo áudio onde ouvimos John dizendo que George poderia sair porque colocariam Eric Clapton em seu lugar. Mais um sinal que algo estava feio. Nunca John poderia pensar que os Beatles seriam os Beatles sem George Harrison. Só mesmo estando possesso.
Que me entendam. Que os fâs de Yoko não se aborreçam comigo. Estou compartilhando algo que vivi. Eu não tenho ódio de Yoko. Não tenho ódio de ninguém. Não gosto do que certas pessoas fazem. Não gosto do que ela fazia ali. Mas é possível perdoá-la...embora sem ouvir seus sons.
Sobre o count me in / out eis o que li em algum lugar. Sem confirmação. Amigos de John da extrema esquerda a favor de revoluções sangrentas teria ficado aborrecidos com ele por ser contra. A música deixa bem claro que era contra isso. Ele podia pela abertura da mente . YOu better free your mind instead. E ainda cita Mao não a seu favor. Ele não sairia carregando seu cartaz. Então se aborreceram. Para acalmá-los teria incluído o 'in'.
ResponderExcluirNão adiantou muito porque todo o restante da letra é pacifista. Nâo era contra guerra, luta armada é uma guerra. Da direita ou da esquerda...não poderiam contar com ele.
Eles falaram sobre o Vietnam quando saiu aquela capa horrorosa deles com bonecas quebradas e pedaços de carne. Paul ( Paul sempre foi político também) disse que seria um protesto contra a guerra do Vietnan. E John confirmou.
Foi Paul que se levantou de repente numa entrevista gritando "Ban the Bomb!"
Aí não veio a data, mas me parece que foi escrita quando aconteceu aquela revolta estudantil em Paris. Os Rolling Stones também entraram nessa revolução com Street Fightin Man.
E finalmente, eu gosto muito da música e agradeço por tantes informações importantes sobre a gravação. Aprendi muito. A amei os links, claro.