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sexta-feira, 30 de julho de 2021

Nas Voragens do Pecado - de Yvonne Pereira

Poema em Oitavas Heroicas 

Estrofes em 8 versos decassílabos 

com rimas ABABABCC

 

1

Martinho Lutero fez a reforma.

Era contra maus hábitos da Igreja.

Muitos franceses seguiram a norma

E a defendiam de forma sobeja.

Porém, a Igreja não se conforma

E quer suas cabeças na bandeja.

 

Catarina de Médicis concorda

E manda sobre eles sua horda!


 2

Era época de grande desgosto

Matavam e diziam: Ora pois!

Era coisa de se esconder o rosto,

De ser lembrado bom tempo depois.

Um macabro 24 de agosto

Em Mil Quinhentos e Setenta e Dois

 

Na França, onde o massacre aconteceu,

Era a noite de São Bartolomeu...

 

 

3 

Lá no nordeste do país vivia

Uma família de gente do bem.

Eram pautados na filantropia

Faziam o bem sem verem a quem

Eram protestantes no dia a dia.

Eles não faziam mal a ninguém,

 

Porém, sua fé custou-lhes a pele:

Eram os Bréthancourt De La Chapelle.


 4

Eram companheiros da realeza.

Afastou-os das armas a doutrina.

Criaram sua prole com nobreza.

Os pais, Carlos Filipe e Carolina,

Os cinco Felipes e uma lindeza,

A todos se previa linda sina.

Era muito feliz a linda Ruth.

Porém, a crença deles repercute…

 

 5

Denunciam ao Capitão da Fé

Que a família era real perigo.

Em dúvida, ele consultou até

A Rainha, o Monsenhor e o amigo.

Porém decidiu ir contra a maré,

A fé cega carregava consigo.

 

Elaborou ultimato em missiva

Para manter sua família viva.


 

 6

À Família lhes deram as opções

De emigrarem à vizinha Alemanha,

Ou interromperem as pregações.

Porém, não cabia em suas entranhas

Ir contra ao que estava em seus corações,

E resolveram enfrentar a sanha.

 

Por precaução, enviaram a filha

Ao refúgio da quase nora Otília.

 


 7

Entretanto, num domingo normal,

Carlos Felipe fazia o sermão,

Ouviu de Narbonne a ordem fatal.

Uma espada varou-lhe o coração.

E todos tiveram destino igual,

Muito sangue espalhado pelo chão.

 

A fé na Reforma selou a sina

Da família de Ruth Carolina.



 8

A menina não pôde acreditar.

E como suportar tamanha dor?

A ela, Otília veio se juntar,

E propôs-lhe vil pacto opressor;

Que lhe tomasse o nome e o lugar,

E empreendesse um plano vingador.

 

Quando Otília morreu, Ruth assumiu,

E em busca de vingança ela partiu!

 


 9

Suas armas seriam seus encantos,

Cabelos, olhos, modos de princesa.

Da inocência vestiria o manto,

Conquistaria o coração da presa.

Ao passar o capitão sacrossanto,

Espalhou-se toda sua beleza! 

 

Pobre Capitão ficou aturdido,

A rosa foi a flecha do Cupido.



10

E retornou ao quartel transtornado. 

E desistiu de seus votos de pronto. 

Enviou seu emissário fardado

A descobrir quem o deixara tonto.

Cumpriu sua missão como acordado,

Na igreja marcaram um encontro.

 

Ruth Chapelle apresentou-se ali:

Otília, irmã de Arthur de Louvigny.


11

Simulando recato tão gentil, 

Pediu audiência com Catarina. 

Narbonne a levou, em paixão febril. 

Ruth viu lá no alto a adrenalina, 

Quando viu desmascarado o ardil. 

Contou da vingança à carnificina.

 

A Rainha virou sua aliada

E combinou o plano da empreitada! 


12

Ruth que armasse algo escandaloso. 

Seria punida de mentirinha. 

Quando nota que o Capitão garboso  

À primeira sacada se encaminha ,

Deslumbra com seu sorriso formoso, 

E o segue pelas sacadas vizinhas.

 

Como segunda flecha do Cupido,

Arremessa-lhe um laço do vestido.


13

Então, Ruth se recolhe a convento 

E lhe manda uma carta apaixonada.  

A vil Rainha segue em seu intento

Pois ela sempre foi desconfiada,

De ser Narbonne bastardo rebento, 

Que fora pelo marido enganada.

 

A ser deposta pelo Capitão, 

Resolveu se precaver de antemão.

14

O preceptor falhou segunda vez 

Em mudar a ideia do Capitão. 

Ele inclusive teve a lucidez 

De desconfiar de conspiração, 

Que podia não ser ela, talvez, 

Mas ele estava cego de paixão!

 

Narbonne seguiu firme no caminho. 

Deixou o padre falando sozinho. 

 

15
Em breve, o casamento acontecia 
Para o choque de Gregório e Blandina, 
Ela, que era a dama de companhia, 
Ele, servo da mãe Carolina,
Tentaram convencê-la todo dia, 
Para evitar iminente ruína 

 

Porém, Ruth estava determinada, 
Por Otília, do além, aconselhada. 

 

16
Outrora alegre, doce e angelical 
Tornou-se ríspida e intimorata,  
Uma verdadeira expressão do mal.

Preferia a vingança imediata,

A esperar a via da lei moral,

Estava em firme jornada insensata.

 

Gregório resolveu cessar a espera  

Foi ver Frederico na Baviera. 

 

17

E veio o primeiro baile real 

E Narbonne apresentou sua esposa 

Ela despertou encanto geral

E valsou como linda mariposa. 

Mas não enganou um oficial, 

Que a viu com olhos de raposa.

 

Foi negativo para Ruth o saldo, 

Porque reconheceu-a Reginaldo. 

 

18 
Fora ele o augusto portador 
Daquela carta que era ultimato
Que provocaria aquele terror. 
Testemunhara aquele lindo ato
Da bela menina em seu esplendor.
E na festa desvendou o vil fato:

 

Era inegável sua semelhança.  
Era Ruth e desejava vingança. 
 
19 
Revelou a tramoia em confissão 
Ao Monsenhor, preceptor de Luís,
Considerou contar-lhe de antemão,
Agiu como a um clérigo condiz, 
Disse: "Desista da conspiração!
Será melhor que saia do país."

 

Mas para surpresa do Monsenhor,
Ela disse: "Luís tem o meu amor!" 

20 
Só que àquela altura, naquele dia,
Sabia que chegara Frederico
Oferecendo chance de alforria
Rumo a um futuro seguro e rico, 
De amor, compaixão e sabedoria,
Ambiente sacrossanto e pudico.  

 

Ruth aceitou mas pediu que esperasse! 
Já estava em sua mente o desenlace.

 

21 
Enviou carta denúncia à Rainha
Acusando Luís de ser patrono 
De artimanha nada comezinha 
Para garantir seu lugar no trono.
Tirariam espada da bainha
Contra o Rei de direito Carlos IX.

 

Revelaria à Rainha de fato
Os perpetradores do infame ato.

 

22 
E que esperasse visita noturna,
Viria em busca dela o Capitão.
Ruth, em sua maquinação soturna, 
Entregava o algoz de beijada mão.
Catarina que tirasse da urna
A adequada forma de punição.

 

A senha pra consolidar a trama?  
Condessa de Narbonne, a linda dama!

 

23 
De tarde, a bela fera enfrentava
Capitão e Monsenhor e soldado.
Com vil frieza ela dissimulava, 
Mostrando um coração apaixonado.
Reginaldo, feroz, se revoltava,
Propôs a prisão dela, transtornado. 

 

Mas o Capitão caiu na esparrela...  
Não conseguia mais viver sem ela!


24 
Trancou-a em prisão particular. 
Queria tornar Ruth sua escrava

Mas ela sabia como escapar,

No espírito de Otília se inspirava.
Ela disse a Luís que confessar 
Iria tirar do passado a trava.

 

Então, viu a luz no fim do caminho,
Pois o Capitão caiu direitinho...

25 
Então, de roupas simples se vestiu. 
E foram disfarçados à Igreja

Como sempre pérfida, ela assumiu

Uma postura humilde e benfazeja. 
Quando ao confessionário ele partiu,
Ela colocou no bolo a cereja.

 

Deixou uma carta pré-preparada
Dizendo: Ao Palácio fui convocada!


26 
Saindo da cabine, o Capitão
Não encontrou a falsa penitente.

Entrou em modo de consternação

E recebeu a notícia premente, 
E logo partiu, sem hesitação,
Para o Palácio, porém, entrementes,

 

Dirigia-se à Alemanha carruagem
Com Ruth e Frederico na bagagem.


27  

Catarina perguntou: "A que veio?" 
"Condessa de Narbonne vim buscar!" 
À senha, vem sua Guarda, sem freio. 
Luís, em vão, tentou pelejar, 
Mas não adiantou o esperneio.
E o levaram a terrível lugar:

 

Um calabouço úmido e apertado.
Não teria mais ninguém a seu lado.

 

28  

Passaram dias e meses e anos,
Quando, por fim, um guarda lhe falou.   
Luís a ele apresentou seus planos
De liberdade e logo se frustrou.
Entrou em depressão e desengano.
Resignou-se e a morte esperou.

 

Esquecido, sem pompas ou clarins,
O Capitão da Fé chegava ao fim.

 

 29  

Se fosse um conto de fadas normal,
Com a fuga da princesa e seu par,   
E o vilão em desgraça sem igual,
Com prazer, seria de se esperar
Um "Felizes pra sempre" no final.
Porém, vida moral é lapidar.

 

Maus atos são punidos com requinte,
Se não for nesta vida, nas seguintes. 
.

  30  

Quando gente adentrou à sua cela,
Não entendeu o que acontecia,   
E pensou estar livre das querelas.
Ele falava, mas ninguém ouvia. 
Procurando a razão do que sentia,
Pensou em Ruth, foi à casa dela.

 

Então viu, cenas de um triste passado,
Que o deixaram bem mais atordoado.
 

  31  

Com Otília volta e meia presente,
Luís seguia em estado oprimido. 
Ela inda vagava constantemente.
Em lembrança do massacre sofrido.
Seguia em sua missão tão demente
De atazanar o agressor aturdido..

 

Depois de um tempo, encontrou uma luz
Que aliviou um pouco sua cruz.


  32  

Como que um ímã o atraiu,
Ao velho solar da carnificina. 
A opressão de Otília reprimiu.
Emanava de lá sã luz divina.
A família trucidada ele viu,
Ainda pregando sua doutrina.

 

Estampando sorriso angelical.
É sua Família Espiritual.

     

33  

Porém, ao mesmo tempo que feliz,
Por ser acarinhado e recebido 
Por uma família que sempre quis,
Mantinha seu pensamento aturdido
Devido a seus atos cruéis e vis,
Trucidando aqueles entes queridos.

 

E passou muitos anos a vagar
À margem daquele sacro lugar.

 

   34  

Um dia enfim houve por bem entrar.
Ciente estava do arrependimento.
Resolveu permitir se perdoar. 
Era hora de acabar o tormento.
E todos passaram a lhe explicar
O que era aquele novo momento.

 

Ele viu que as crianças trucidadas
Foram seus filhos em vidas passadas.

 

35  

E voltando 12 anos atrás,
Desde o dia em que Ruth se evadiu,
Tinha ela remorso contumaz. 
Sempre imergia em estado febril.
Otília nunca a deixava em paz, 
Postura obsessora assumiu.

 

Inclusive a levava esfuziante.
A visitar Luís agonizante.


  36  

Ruth não conseguiu se perdoar,
De não ter perdoado seu algoz.
Frederico presente a lhe ditar
Boas normas pra desatar os nós,
Ensinou: melhor remédio é orar!
Mas era impossibilidade atroz.

 

Não conseguia aceitar o conselho.
Achava-se indigna do Evangelho.

 

  37 

O espírito de Otília era presente.
E a culpava por Luís ter fugido.
Era isso que sua frágil mente
Acreditava ter acontecido.
Em modo de negação permanente
Pensava que não haviam morrido.

 

Ao final de 12 anos de inferno, 
 
Encontrou no além o calor materno.

38  

Era da mãe Carolina a missão.
De orientar os caminhos da filha.
Rumo a uma nova reencarnação
Porém, só aceitou seguir a trilha.
Ao receber uma carta do irmão:
Carlos representaria a família,

 

Acudindo em sua nova vida,
Seria constante luta renhida.

 

39  

E Narbonne logo retornaria
A outra vida a seguir o caminho.
Otília de Louvigny ficaria
Ainda muito tempo presa ao ninho.
De obsessão e vingança em agonia,
Com sua alma em pleno burburinho.

 

É longo o caminho da redenção 
Na procura da plena expiação.

 

40  

Carlos Felipe, o Conde e a Condessa
Seguem firmes na sagrada missão,
Afastando as influências travessas, 
Orientando com sofreguidão,
Onde quer que a sã luta aconteça,
Encaminhando a regeneração.

 

Persistência, disciplina, paixão, 
Segundo a terceira Revelação.

Please Please Me - Lançamento e Recepção

                                                                                                                    Capítulo 36 

Esta é minha saga  

O Universo das Canções dos Beatles


Todos os Capítulos têm acesso neste LINK 


36.1 Cenário e Assuntos do LP, neste LINK

36.2 As 14 Canções do LP, neste LINK

36.3 Capa Lançamento e Recepção

Merece registro a capa do Primeiro LP dos Beatles. 

  • Primeiro por causa do fotógrafo, Angus McBean, considerado legendário no mundo do teatro britânico, chamado por George Martin. A EMI caprichou logo no LP de lançamento dos rapazes! Os Beatles foram chamados ao edifício sede da EMI, em Manchester Square, e orientados a subirem as escadas, Angus orientou que parassem e olhassem para baixo, e ele com maestria venceu o desafio da backlight e tirou a foto. Veja que as canções de chamada são as que saíram como Lado A dos dois compactos lançados dos Beatles.

Pausa para lançamentos fora da Inglaterra.

No Brasil, o lançamento foi esquartejado entre dois LPs (Beatlemania e The Beatles Again) e um compacto duplo, basicamente com as covers. Nos Estados Unidos também apenas em julho de 1963 o LP Introducing The Beatles por um selo pequeno, o Vee Jay, com as mesmas canções, mas que não fez coceira nas paradas americanas. A Capitol, americana, ainda não despertara para o fenômeno, que somente ocorreria em fevereiro de 1964 quando lançou o compacto com I Wanna Hold Your Hand no lado A e I Saw Her Standing (deste LP) no Lado B.

De volta aos lançamentos oficiais.
  • Segundo, porque, seis anos depois, um dos Beatles teve uma brilhante ideia (deve ter sido Paul, que era quem tinha as ideias naquela época). Era o Projeto Get Back, em que recriavam o clima romântico dos primeiros tempos. Nada melhor então que tirar a mesm, com gravações ao vivo em estúdio, sem quase nenhum  overdub. a foto! Chamaram o mesmo fotógrafo, subiram as mesmas escadas e olharam para baixo, e CLICK, registraram seus novos visuais. Pena que, como o Projeto Get Back não foi pra frente, a foto ficou engavetada, e esta capa nunca foi vista oficialmente, mas foi por pouco tempo...
  • Terceiro, porque, três anos depois do final da banda, a EMI lançou uma coletânea sensacional, eram dois LPs, um com os sucessos de 1963 a 1966, outro com os sucessos de 1967 a 1970, e alguém teve a brilhante ideia de tirar aquela foto da gaveta. Ela ilustra, sobre um fundo Azul, o último, e resgataram a foto original para o primeiro, sobre um fundo Vermelho! O lançamento vendeu muuuito, é cultuado até hoje e eles são conhecidos com The Red & Blue Albums.


O LP Please Please Me foi lançado na Inglaterra em 22 de março de 1963, direto para o topo das paradas, aonde ficou durante 30 semanas até perder o lugar para uma banda chamada .... The Beatles. Sim, era o 2º LP da banda, With The Beatles!

UFA!

Agora que comecei com este grau de detalhe, ainda tenho muito trabalho nos próximos 14 capítulos descrevendo os álbuns...

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Please Please Me -o 1º Livro dos Beatles

Capítulo 36 

Esta é minha saga  

O Universo das Canções dos Beatles


Todos os Capítulos têm acesso neste LINK 

Todos as canções analisadas até aqui foram apresentadas segundo seus grupos, assuntos e classes, e serão agora grupadas como vieram ao mundo, em seus 13 LPs. Aquelas que vieram em compactos também serão apresentados nos dois LPs que coletaram todos os lançamentos que não apareceram nos LPs. Como sói acontecer nesta Saga, o catálogo válido aqui é o original conforme os LPs foram lançados no Reino Unido.

Os Beatles vieram ao mundo em 5 de outubro de 1962, com o lançamento do compacto Love Me Do / P.S. I Love You, coincidentemente com o surgimento de outro fenômeno que dura até hoje, com a estréia do primeiro filme de 007, Dr. No. Olha só que dia! Claro que fui eu quem descobriu essa coincidência e sempre ressalto essa data há 20 anos. Se quiserem saber mais, apresento o que escrevi, neste LINK.

Ainda antes do primeiro LP, a EMI ficou animada com o relativo sucesso dos meninos, que chegara ao posto 17 da parada britânica, e chamaram-nos para gravar mais um single ainda no final de novembro, Please Please Me / Ask Me Why, que foi lançado em 11 de janeiro de 1963, direto para o primeiro lugar das paradas.

Detalhes sobre essas canções mais abaixo...

Com essas quatro canções já prontas, ele voltaram ao estúdio no dia 11 de fevereiro para gravar outras 10, sendo mais 4 de autoria deles e outras 6 covers, composições de outros artistas.Ter os Beatles como banda cover era um luxo só. Era garantia de que ela seria, no mínimo em mesmo nível (quando os autores/cantores são Chuck Berry, Little Richards ou Carl Perkins), mas na grande maioria, melhor, bem melhor que a gravação original. Eles já vinham de anos de estrada tocando rock de tudo quanto é jeito, e eram imbatíveis, tinham vigor, tinham harmonia vocal impressionante. Então, vamos à track list do primeiro álbum dos Beatles, que levou o nome de Please Please Me, a canção que os levara ao primeiro N°1 das paradas! As canções cover estão em vermelho.
  1. I Saw Her Standing There (McCartney/Lennon)
  2. Misery (McCartney/Lennon)
  3. Anna (Go to Him) (Alexander)
  4. Chains (Goffin/King)
  5. Boys (Dixon/Farrel)
  6. Ask Me Why (McCartney/Lennon)
  7. Please Please Me (McCartney/Lennon)
  8. Love Me Do (McCartney/Lennon)
  9. P.S. I Love You (McCartney/Lennon)
  10. Baby It´s You (David/Williams/Bacharach)
  11. Do You Want to Know a Secret (McCartney/Lennon)
  12. A Taste of Honey (Scott/Marlow)
  13. There´s a Place (McCartney/Lennon)
  14. Twist and Shout (Medley/Russell)

 Notaram a inversão nos créditos?

Foi a única ocasião em que saiu assim!

Nos lançamentos seguintes, estabilizou-se na histórica ordem

Lennon/McCartney 

Espantou-se com esta última não ser 'dos' Beatles? Pois é, pouca gente sabe disso!!! ‘Twist and Shout’ foi composta por Medley e Russel (Você conhece? Nem eu!). Seguramente, eles jamais sonharam que ela alcançaria a fama que tem até hoje, e que estaria ainda viva mais de 60 anos depois de ter sido escrita. E certamente sorriem no túmulo, a cada vez que ouvem a interpretação Beatle de sua canção dançante, muito melhor que na gravação mais popular até então, pelos Isley Brothers (Você conhece? Nem eu!). Falei sobre ela neste LINK, como ela é colocada até hoje nas festas dançantes por todo o país. Pode crer: se for apenas UMA canção Beatle a ser tocada, ela será Twist And Shout. E eu conto também como foi conseguida aquela espetacular desempenho vocal de John, tarde da noite, num take só! Repito aqui:

Foram 9:45 horas de gravação, naquele que pode ser considerado o dia mais produtivo da história do rock. Isto sem contar os intervalos entre as três sessões, em que eles seguiam ensaiando, e tomando leite, para preservar a garganta, afinal era inverno, estavam todos resfriados. Nada comeram naquele dia. Quando chegou 10:00, o estúdio ia fechar, mas ainda faltava uma canção. Foi quando John disse que a garganta estava prestes a explodir. Tinha ‘estoque’ para mais uma e única performance, um esforço final. Era uma chance só! E decidiram gravar Twist and Shout, justamente a mais berrante das canções do LP, e que era levada justamente por John. Às 10:30 da noite do dia 11 de fevereiro de 1963, John gargarejou uma última golfada de leite, e soltou a voz, mais áspera do que nunca, e a banda acompanhou nos woooos e haaaas. Terminado o esforço, silêncio absoluto no estúdio, todos se entreolhavam calados, um misto de espanto e agradecimento. Haviam acabado de testemunhar a mais impressionante interpretação vocal e instrumental da história do rock’n roll até então. E ela é assim, por muitos, considerada até hoje. Digo mais, ‘Twist and Shout’ somente está hoje aí, firme e forte, por causa da primorosa e imbatível gravação dos Beatles. O que se ouviu naquele momento é exatamente o que se ouve até hoje. Aquela tomada foi a definitiva. Ainda tentaram mais uma, melhorar o imelhorável, mas a voz de John sumiu, apagou, como ele mesmo previra. 
Já que estamos nos covers, seguimos neles, lembrando que todos faziam parte do set list dos shows que faziam em Liverpool e no norte da Inglaterra naquela época.

E aqui, antes de passar à análise, lembre-se que estamos no comecinho de tudo, eles ainda eram uma banda de rock comum, com duas guitarras, baixo e bateria. Não esperem muitas inovações. O primeiro instrumento afora aqueles (e uma gaita de John e um piano eventual de George Martin) viria apenas em 1965, aquela flauta de You've Got To Hide Your Love Away. 

Percebam a tabela abaixo. 


                                   Mais detalhes sobre a divisão entre Heart & Mind Song, aqui, neste LINK

Traduzindo
  • Todas as 8 falam ao Coração (nenhuma às Mentes)
  • São 7 canções no Assunto Garotas e uma no Assunto Saudade
  • Das 7 Girl Songs, 4 são de Amor, duas de Paquera e uma de DR
Please Please Me é, portanto um 

100% Heart, 87% Girl, 50% Love Album!

Na tabela abaixo, as evidências, nas letras, do porquê da classificação acima!



Vamos à análise das canções de autoria dos Beatles!!

A numeração da canção obedece à do LP

LADO A

1. I Saw Her Standing There  (Flirt Girl Song by Paul McCartney)

Paul convida: Bem, ela olhou para mim, e eu, eu pude entender que não tardaria muito para eu me apaixonar por ela. Ela não dançaria com outro (whooh) quando a vi parada lá  
 
A primeira canção do primeiro LP dos Beatles é uma paquera com uma menina de 17 anos que ele convida pra dançar e não vai entregar pra mais ninguém. A letra original falava 'She'd never been a beauty queen', mas Paul não gostou da rima, e John veio com a definitiva 'And you kow what I mean', muuuito melhor, até pelas segundas intenções de sexo com uma menor de idade, enfim. Esse diálogo aconteceu na casa de Paul em Liverpool, em algum dia de novembro de 1962, portanto, após o lançamento de Love Me Do, o 1º compacto dos Beatles. A canção tinha o título provisório de Seventeen, que era a idade de uma das garotas com quem Paul estava saindo, sim, ele saía com mais de uma... depois resolveram nomeá-la com a frase que termina os versos, quase um refrão por si só. I Saw Her Standing There era perfeita para abrir o LP até porque foi a PRIMEIRA canção efetivamente composta pela dupla Lennon/McCartney! Naqueles tempos, e só naquele primeiro LP, a dupla se assinava como McCartney/Lennon, mas a coisa reverteu, e adotou-se o nome que ficou para a posteridade. Ordem alfabética?

 
A estrutura da canção desde já mostrava uma prática de versos + pontes. E também uma prática que foi pouquíssimas vezes quebrada: a  composição dos Beatles terá, no mínimo, DOIS versos com letra diferente! Neste caso, foram, TRÊS. Em tempo, o termo 'Verso', musicalmente falando, não tem o mesmo significado da poesia. Em música, 'Verso' é o conjunto de frases que apresenta a melodia principal, e a ideia básica da letra. O Verso 1 conta como a garota capturou a atenção do autor, parecendo a ele sem comparação com qualquer outra que havia conhecido, e que ele garante que vai dançar com ela. O Verso 2 mostra a resposta do olhar dela e ele logo vê que iria se apaixonar. Aí vem a Ponte, aquele trecho de melodia diferente, que muda o nível de tensão, neste caso para cima (mas pode ser no sentido oposto), onde ele diz que seu coração estava explodindo quando cruzou o salão em sua direção e pegou-lhe a mão, e grita em falsete extremo sua satisfação. O Verso 3 mostra que ele já a conquistou e dançou com ela a noite toda! Depois, nos acordes dos versos, vem o solo de guitarra de George, que seria o primeiro de sua carreira, pois as cinco primeiras canções gravadas (Canções 1 a 4) até então não tinham solos. E, finalmente, o verso final repete ipsis literis o Verso 3.  
 
Como já falado na introdução para este álbum, os dois compactos já lançados com extremo sucesso, levaram George Martin a pedir mais 10 canções para completar um primeiro álbum, e eles só teriam um dia para completá-lo, e esse dia foi 11 de fevereiro de 1963. Os Beatles chegaram cedo, começaram a gravar às 10 da manhã. I Saw Her Standing There foi a segunda canção a ser gravada, antes do almoço. O 1º Take foi perfeito, mas decidiram seguir tentando melhorar, mas houve sucessivos problemas, ou de Paul que errava a letra, ou de John na harmonização. Nos Versos, John e Paul fazem harmonia vocal perfeita, mas a letra variou entre "She wouldn't dance" para "I'll never dance" ou "How could I dance", ou George não fazia um solo legal, ou mesmo Ringo se esquecia de um chimbal, enfim a coisa foi evoluindo até o Take 9, que saiu perfeito. Eles decidiram não almoçar, para continuar praticando outras canções, tomando apenas leite. Mais adiante, George Martin deu sua pitada, e chamou todos no final da tarde para baterem palmas sobre um playback do Take 9. Ficou bom, mas Martin achou que o Take 1 estava melhor, e então repetiu-se a operação das palmas sobre ele!
 

A canção foi muito tocada ao vivo pelos Beatles, inclusive, no começo, John tocava gaita na seção solo. Ela esteve no set list do histórico show no Washington Coliseum, o 2º do processo de conquista da América, em fevereiro de 1964, mas após junho daquele ano, outras canções tomaram seu lugar. Muito reproduzida ao longo das décadas, em shows, com destaque para o próprio John em sua antológica participação no show de Elton John, em New York, 1974, e por Billy Joel na reinauguração do Shea Stadium em 2008, também na Big Apple, e tal, mas nada supera o destaque mais recente que Paul McCartney deu a ela, cantando inteirinha numa festa de fim de ano corporativa da empresa de sua esposa Nancy Shevell, no final de 2019. Dispenso a piadinha sem graça que acompanhou dezenas de mensagens que recebi, com um texto de quem não sabia nada do que estava acontecendo, e dizendo tratar-se de um avô sem noção com sua netinha... ela que na época tinha 60 anos... neguinho tem que fazer graça... abominei! Olha que show, neste LINKRecentemente, eu descobri uma versão que tem que ser destacada aqui, do grande Little Richards, neste LINK.... parece até que ele assumiu a canção para ele. Que cantor!!

2. Misery  (Dispair Miss Song by Paul McCartney)

John, saudoso, clama que mandem sua garota de volta pra ele, porque sem ela, ele está em petição de miséria. 
 
É a segunda canção do álbum de estreia, que foi gravado todo em UM dia. Adoooro aquele pianinho que aparece na ponte! Aliás, é a primeira contribuição instrumental do Maestro George Martin. Interessante que ela foi composta pela dupla McCartney/Lennon (era assim que eles mesmos se chamavam naquele primeiro LP) para um outro artista. Sim, era para ser a voz de Helen Shapiro, uma jovem cantora já com dois hits Nº1 nas paradas inglesas, para quem eles abriam shows naquele início de 1963. O gerente dela, entretanto, visionário que era, relegou-a. Um outro artista que também fazia parte da tour, entretanto, gostou, então eles modificaram a letra para a ótica ma sculina, e Kenny Linch tornou-se o primeiro cantor a gravar uma original Lennon/McCartney.  (173) Kenny Lynch - Misery - YouTube Alguns dias depois, eles decidiram gravá-la, e John modificou um pouco mais ainda a letra, que era "You’ve been treating me bad" e passou para a nossa conhecida "The world is treating me bad" dando uma conotação muito maior à canção de Saudade, descambando para a Classe Desespero, como eu a defini. 
  
Misery começa numa ótima introdução de John e Paul cantando (quase) a capella a frase final do Verso 1, após o arpejo inicial de guitarra e piano, sensacional. A estrutura da canção mostrava dois versos, com letras diferentes, retratando a mágoa lá em cima (1), e a desesperança de vê-la novamente (2), depois uma ponte, desta feita diminuindo um pouco a tensão do lamento, com o pobre abandonado lembrando os momentos felizes que tiveram, depois um 3º verso volta com o desespero da súplica pela volta dela, sob pena de ele ficar sem chão, ou, traduzindo literalmente, 'continuar na miséria'. Depois, vem uma 2ª Ponte, agora rogando uma leve praga à malvada, finalmente repte-se o Verso 3. Na conclusão, ótimos UUuuu's e um perfeito La la la la la la em falsete!
 
E veio o inesquecível 11 de fevereiro de 1963, quando gravaram um disco inteiro, ou melhor, tudo o que faltava para completar as 14 canções requeridas para o efeito, e Misery foi a 5ª de 10 canções gravadas. O primeiro dos 11 takes, com todos em seus instrumentos,  e com Paul e John cantando juntos a letra toda, já foi perfeito, ou quase, e seguiram tentando melhorar, mas John errava a letra em um take, ou algum acorde em outro, ou George ajustando o volume da guitarra acolá, e Ringo passando a usar um pouco mais de caixa, ou ainda Paul melhorando sua linha de baixo. Adoro a única harmonia vocal, com Paul lançando seu agudo em todas as vezes em que se pronuncia o título da canção "..in miiiisery". Bem, no Take 7, George Martin pediu para o xará Harrison não tocar as notas descendentes que fazia na ponte, entre o "...all the litttle things we've done" e o "Can't she see she'll always be the only one, lonely one" pois decidiu que acrescentaria ali seu ótimo piano.  Aliás, a 2ª Ponte traz aquela praguinha mencionada acima, pois eles mudam a 2ª frase para "She’ll remember and she’ll miss her only one, lonely one.", mostrando desde cedo a preocupação em trazer o máximo de originalidade possível. Os Beatles eram avessos a mesmices. O Take 9 foi considerado bom, e partiram para a sessão noturna de gravações. No dia 20, sem a presença dos Beatles, George Martin gravou seu piano, mas ao ouvir, achou que a primeira parte não estava satisfatória e foi buscar a equivalente do Take 7, fez uma mixagem com a 2ª metade do Take 9, produzindo finalmente o Take 11, por sobre o qual gravou suas partes de piano nas duas pontes e também o arpejo inicial da ótima introdução, dobrando por cima da guitarra de seu xará. 
 
A canção nunca fez parte de nenhum ranking de melhores dos Beatles mas eu a considero sensacional, retrato perfeito daquele início romântico. Ao contrário das demais canções do álbum essa canção, por ter sido composta recentemente e para outro artista, não fora ainda tocada com frequência nos shows dos Beatles, daí o elevado número de takes para acertar o arranjo. Mas ela entrou no set list em alguns shows, e foi gravada também na BBC. Ali, não tem o piano de George Martin, pois volta a guitarra do outro George, agora perfeitamente executada!

 Esta é a 3ª canção do Lado B do álbum With The Beatles, o 2º dos Beatles

a história do álbum, assuntos e canções, aqui neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho são links que levam a análises sobre elas.


 3. Anna (Go to Him) (Alexander)

Gravada originalmente por seu autor, o americano Arthur Alexander, poucos meses antes, Anna (Go To Him) era uma balada soul favorita de John, também uma de minhas favoritas!  A letra é um romance lascado, com o autor reclamando de seu amor perdido "You give back your ring to me and I willl set you free, go with him".  Foi a 7ª de 11 canções gravadas naquele 11 de fevereiro, 10 das quais se materializaram no 1º LP. Era a sessão noturna, que começou com Hold Me Tight, que foi deixada para o LP seguinte. Anna veio logo a seguir! Apenas três takes foram necessários, com todos ao vivo, em seus instrumentos tradicionais. John deu show na gravação vocal. George também a cantava ao vivo em shows. Deixo aqui o LINK da versão tocada ao vivo na BBC, muito bem, virtualmente igual à de estúdio, com John preferindo não subir a nota na 2ª sílaba de "...searCHING", mas as harmonias de Paul e George ("Aaaaaaanna") estão lá, bem como o ótimo baixo de Paul surpreendentemente bem definido para uma gravação ao vivo.

4. Chains (Goffin/King)

Composta por Goffin e King, e este King, na verdade é mulher, e é, sim, a diva Carole King, quem diria... de grandes sucessos nas décadas seguintes, deixo aqui como registro apenas dois, It's Too Late e You've Got a Friend, precisa mais não, né! Quem a gravou originalmente foi o grupo vocal The Cookies, que teve breve sucesso, mas terminou por virar backing vocals de Ray Charles. Ela é cantada por George em Please Please Me. Não é de minhas favoritas, mas tem uma harmonia vocal espetacular de John e Paul, as usual, cantando junto com George nos versos e deixando-o solo apenas nas pontes "I'm gonna tell you pretty baby...". Foi a 9ª de 11 canções gravadas naquele 11 de fevereiro, 10 das quais se materializaram no 1º LP. Apenas quatro takes foram gravados, sendo escolhido o primeiro deles como o melhor, com todos ao vivo, em seus instrumentos tradicionais, mas também com a sensacional gaita de John na introdução, que ele abandona abruptamente para começar a harmonia vocal, e passar à sua guitarra. Aliás, foi esta a primeira vez em se ouviu em disco a maraca registrada dos Beatles: a harmonia vocal tripla! E eles a fizeram ao vivo, sem overdubs. Os Beatles eram sensacionais! Deixo aqui o LINK da versão tocada ao vivo na BBC, aqui, sem a gaitinha.

 

5. Boys (Dixon/Farrel)

Ali, naquela primeira sessão de gravação da história dos Beatles, já se instalava o costume de reservar uma oportunidade para Ringo brilhar. E foi em Boys, sempre tocada nos shows da banda naquele começo de carreira, para gáudio das fãs, uma interpretação vigorosa do nosso querido baterista cantor, coisa raríssima naqueles dias, mais um daqueles nunca-antes-na-história-das-bandas-de-rock. E Ringo herdara essa atribuição do baterista que ele deslocou: era Pete Beat quem cantava Boys. Interessante que era uma canção sobre meninos cantada por The Shireless, um grupo vocal feminino americano (do qual Dione Warwick fez parte algumas vezes), Lado B de um compacto de 1960. E parece que era um número de Ringo em sua antiga banda, Rory Storm and The Hurricanes, da qual John e Paul o sequestraram para os Beatles. Foi a 8ª de 11 canções gravadas naquele 11 de fevereiro, 10 das quais se materializaram no 1º LP. Eles estavam tão afinados, que apenas UM TAKE foi necessário, decidiram que não precisavam tentar melhora nem uma coisinha sequer! O "paptchua papatchua" de Paul, John e George é sensacional! Isso era Beatles, rapaz! E foi a única canção em que isso aconteceu... bem, sim, já cantei em prosa e verso que Twist And Shout foi conseguida no 1º take, só que eles ainda tentaram uma 2ª vez, sem sucesso. Aqui, vou deixar uma performance ao vivo, com vídeo, para se encantarem com Ringo, neste LINK. É um trecho do documentário Eight Days a Week (The Touring Years) e as cenas do show foram no Hollywood Bowl.


6. Ask Me Why  (Love Girl Song by John Lennon)

John se declara: "Eu te amo porque você me diz coisas que eu quero saber. E é verdade Isso realmente só serve para mostrar que eu sei que eu, eu, eu, eu
Nunca, nunca, nunca deveria ficar triste"
 
Antes de ser canção do Please Please Me, o álbum, Ask Me Why foi lançada em compacto como Lado B de Please Please Me, a canção. Era o 2º compacto dos Beatles, e o 1º a chegar em 1º lugar nas paradas da Inglaterra. Portanto, mais respeito, por favor, com Ask Me Why! Ela faz parte dos prolegômenos dos Beatles.  Pra se ter uma ideia, ela foi ainda executada na EMI com Pete Best na bateria! Era o histórico 6 de junho de 1962, infelizmente sem registro sonoro das quatro canções ensaiadas naquele dia, em que George Martin deu a entender que na sessão seguinte traria um baterista de estúdio para a gravação. John e Paul entenderam o recado e na segunda vez que adentraram aos estúdios da EMI, em 5 de setembro, quem apareceu foi Ringo Starr para pilotar a bateria em novos ensaios, e ela chegou a ser considerada para o Lado B do 1º compacto, mas acabou sendo preterida. Finalmente, em 26 de novembro, Ask Me Why foi gravada seriamente, e após 6 Takes, estava pronta, sem necessidade de nenhum acréscimo, com os Beatles em seus instrumentos tradicionais, e John Paul e George cantando e harmonizando ao vivo. 
 
Ask Me Why era complexa, tanto estrutural como musicalmente. Já era um espanto praqueles dois compositores que não não haviam chegado aos 22 anos à época de sua composição. Vejam que os acordes estavam cheios de sustenidos, menores e sétimas. 
 
E a estrutura era completa, com  Verso 1 - Verso 2 - Ponte - Refrão, repetindo os dois últimos no final.  A ideia original era de John, com Paul ajudando na letra. O Verso 1 está traduzido ali no caput, mas é importante mostrar o efeito marcante da penúltima frase do verso: "That I - I - I - I should never ever ever be blue", além de ser a segunda vez em que usavam a gíria "blue", para denotar tristeza, o que fariam em outra meia-dúzia de canções, até porque era rima fácil para "true" e "you", enquanto "sad" fazia rimas negativas, com "bad" ou "mad", hehe, apenas conjeturando. Nós simplesmente a-ma-mos aqueles quatro I's repetidos! No 2º Verso, John atesta sua felicidade, a ponto de até chorar, não porque está triste (aqui usando "sad"), mas porque ela era a primeira garota dele. Na Ponte, ele diz que ainda não acredita que aquilo aconteceu com ele e ele não concebe (esse verbo é raríssimo em canções, mesmo em inglês) que volta a ficar na miséria. Aliás "misery" seria utilizada em outra canção daquele começo. Finalmente no refrão, vem o nome da canção: "Ask me why, I'll say I love you, and I'm always thinking of you", sempre pensando nela ... ah, o amor!!! 
 
Ask Me Why era parte dos shows do Cavern, viajou a Hamburgo, em 1962, e até foi tocada a BBC, ainda com Pete Best, sendo a primeira Lennon/McCartney ouvida pelos ingleses, depois do lançamento do compacto ela seguiu aparecendo aqui e ali, inclusive na BBC (deixo aqui o LINK), agora com Ringo, até setembro de 1963, quando foi sua última apresentação. Note como eram capazes de fazer harmonias vocais triplas perfeitas, em diversos pontos da canção. Perceberão claramente!

7. Please Please Me  (DtR Girl Song by John Lennon)

John discute o relacionamento: "Eu faço todo o agrado com você, é tão difícil te persuadir. Oh sim, por que você me deixa triste?"
John adorava o fato de a mesma palavra (Please) ter significados diferentes, e as colocou logo no primeiro grande sucesso dos Beatles "Por favor (Please) me agrade (Please Me) como eu agrado você!" e decerto também pensou na conotação sexual da troca mútua de agrados. John faz questão de dizer que ela é 100% dele, assim como Paul faz questão de confirmar isso. O interessante é que ela foi feita como um desafio, nos dois dias seguintes àquele primeiro encontro na EMI, portanto, 7 e 8 de junho de 1962, pois ficaram martelando na cabeça de John as palavras de Martin: '"Vocês ainda não têm material bom o suficiente para o lançamento!"... Ah, é?! Quando os Beatles a apresentaram a Martin ele logo viu que havia cutucado o Leão João com vara curta! 
 
Mas voltemos ao início. Notaram as datas acima? O 6 de junho foi o primeiro encontro de trabalho dos Beatles na EMI, ainda com Pete Best na bateria... Ringo nem sonhava que sua vida mudaria, alguns dias após aquela data histórica. Como dito, John se internou dois dias (7 e 8) em sua casa em Menlove Avenue, inspirou-se em Roy Orbison para a música, e lembrou-se de Bing Crosby na letra, uma canção em que dizia 'Listen to my pleas', associou com o verbo 'to please'. Ele utilizaria a exata fala de Crosby em Tell Me Why de 1964.  Bem, no dia seguinte (9) chegou à casa de Paul, com a canção quase pronta e com duas garotas. Lá ficaram a noite toda, não se tem registro se fizeram algo mais além de arranjos da canção... Mas, sim, elas declararam em entrevistas que os dois trabalharam muito nela! John compôs uma canção na estrutura que seria quase padrão nos Beatles, verso-verso-ponte-verso, sem refrão. No Verso 1, John conta a um amigo (provavelmente Paul) que discutiu com a garota dele na noite anterior, e conta o diálogo que teve, terminando já com o histórico "C'mon, C'mon C'mon, C'mon C'mon, C'mon, C'mon C'monPlease please me, whoa yeah, like I please you". O Verso 2 segue a reclamação do tipo "Quer que eu desenhe"... "Preciso falar todas as vezes?", e repete o brado! Então vem a ponte, melodia diferente, com mais esclarecimentos: "Não quero reclamar, mas por que só eu preciso te agradar? Por que me faz tão triste?". Depois, repete-se o 1º Verso. 
 
Quando a canção chegou a Abbey Road  em 4 de setembro (já com Ringo Starr a tiracolo), ela chegou lenta, mas George Martin, em mais uma intervenção notável como produtor, sugeriu, quase mandando, que se dobrasse a velocidade da canção. Paul olhou pra John que olhou pra Paul, como que pensando: "Esse cara sabe das coisas! Como não pensamos nisso!?". Martin também sugeriu a introdução e a conclusão da canção. Tem potencial esse menino!! Uma semana depois, quando ainda se discutia qual seria a canção para o Lado B do 1º compacto, os meninos mostraram a George Martin o que eles haviam evoluído durante a semana. Ele gostou mas disse que faltava algo. Sugeriu, por exemplo a harmonia vocal de Paul nas frases dos versos. Bom, esse menino! Ao final do dia, John disse que a canção era boa demais para ser um Lado B, e voltariam a ela posteriormente! Há rumores de que a versão daquele dia tinha Andy White, um baterista contratado, no comando das baquetas. Ela apareceu no Anthology 1, ouça aqui, neste LINK. Ringo não confirma nem desconfirma... ele nunca se conformou com a presença de Andy White para fazer o trabalho dele. Note ali que a gaitinha famosa ainda não está, nem as harmonias vocais na ponte, os uuu's e a resposta ("in my heart"). Eles vieram penas em novembro, quando os Beatles recomeçaram Please Please Me do zero, dedicando a ela três horas de gravação ao longo de 18 takesintroduzindo a gaita de John pra cá, modificando a guitarra de George pra ali, Ringo aperfeiçoando a batera acolá, dando um jeitinho nas harmonias vocais perfeitas de George e Paul, e assim que terminou a sessão, Martin falou pelo microfone, lá do 'aquário' do segundo piso: “You’ve just made your first Number One.  
 
                                  Profético! 
 
Muito ajudou para o efeito uma ligação que um certo Dick James deu a um produtor de TV, tocando Please Please Me para ele ali mesmo pelo telefone, encantando o interlocutor e garantindo a participação dos Beatles no programa da TV Thank Your Lucky Stars, numa gelada noite de 12 de janeiro de 1963, um dia após seu lançamento oficial em compacto, tendo Ask Me Why no Lado B. The Beatles ganharam visão nacional e encantaram, não apenas pelas canções, mas pela aparência (os terninhos e os cabelos e os sorrisos) e carisma. Daí, a canção pegou firme o rumo do topo das paradas e o resto é história! O autor do telefonema virou o editor das canções dos Beatles, até o final da carreira. Deixo aqui este LINK de um show nos EUA, pena que o microfone de Paul estava mais baixo, mas dá pra perceber a harmonia dele e depois com George e é muito legal a bateria de Ringo!

 

8. P.S. I Love You  (Love Girl Song by Paul McCartney)

Paul escreve à garota: "Guarde estas poucas palavras até que estejamos juntos. Mantenha todo meu amor para sempre. P.S. Eu te amo!" 

Os Beatles estavam em Hamburgo quando receberam a notícia de seu empresário Brian Epstein de que conseguiram um contato na EMI e recomendou que compusessem mais e mais
. Vejam ao lado o histórico telegrama. Paul então imediatamente escreveu esta carta canção, em ritmo latino, tipo cha-cha-chá. Musicalmente, ela é superior a Love Me Do, tem estrutura mais complexa, mais acordes, versos com letras diferentes, mas não poderia ser o Lado A do compacto de lançamento dos Beatles, pois já havia outra canção com o mesmo nome no mercado. Os acordes iniciais são complexos para além do que se esperava de uma banda de rock. John e George contribuem com harmonias vocais perfeitas, com destaque para as participações pontuais em certas sílabas dos versos da canção, como em "TREAsure these few WORDS, till we're toGETHER, keep ALL my love foREVER..." ou em "I'LL be coming HOME again to YOU NOW, unTILL the day I DO NOW", simplesmente sensacional, sempre me encantei com isso desde criança. E Ringo, coitado, foi de dar dó, tocou chocalhos, porque havia um baterista contratado para o seu papel, de tocar bateria! Shame on you, Mr. Martin! 
 
Quando eu ressaltei aqui em cima a complexidade da estrutura, não é que seja povoada de elementos estruturais diversos, não, é apenas verso-verso-ponte-verso, mas o que Paul introduz de variedade é impressionante, para um compositor de 20 anos de idade. Preste atenção na introdução "As I write this letter, Send my love to you, Remember that I'll always, Be in love with you", tenho certeza que você sempre gostou dela, mas talvez não tenha percebido que ela é a ponte, a mesma letra da ponte que se ouve ali no meio da canção (e mais pro fim também) mas com melodia e acordes modificados. Riquíssimo! Note que John e George harmonizam na última frase! Depois da introdução, vêm os dois versos cujas primeiras frases eu já destaquei no parágrafo anterior, com aquelas respostas pontuais de John e George, ambos terminando com "P.S. I Love You You You You". Então, vem a ponte, de fato, melodia diferente, em tom superior, e com John e George harmonizando na íntegra. Volta agora o Verso 1, igual à primeira ocorrência, mas então vem mais uma vez a ponte, mas com o destaque absoluto de Paul respondendo às frases cantadas por ele e seus companheiros, com, na ordem, "Uoou" e "You know I want you to" e "Yeah". Sensacional! Mas ainda não acabou. Agora volta o Verso 2, mas desta vez com os três cantores harmonizando todinho. Brilhante! E tem ainda a conclusão  "You you you - You you you - I love you!". Que adjetivo coloco mais? 
 
A primeira sessão em que P.S. I Love You viu a luz do sol no estúdio da EMI foi justamente naquela data do telegrama de Brian Epstein: 6 de junho de 1962. Portanto, ainda com Pete Best na bateria. Ela foi a 3ª de 4 canções gravadas naquele histórico dia, recebeu elogios de George Martin pelas constantes variações entre acordes maiores e menores, mas infelizmente não há registro da gravação até hoje. Em 4 de setembro, os Beatles ensaiaram P.S. I Love You e mais 5 canções, em meio à discussão sobre quais duas canções integrariam o compacto de lançamento dos Beatles. Àquela altura ainda estava no páreo uma canção não Beatle chamada How Do You Do It, mas nada ficou decidido, tudo sendo deixado para a sessão de uma semana depois, quando Ringo teve uma grande decepção: o produtor de plantão Ron Richards havia chamado um baterista de estúdio para fazer sua gravação! Andy White é o nome dele e é dele a bateria que se ouve na canção. Ele mandou bem. Foram 10 takes gravados em apenas uma hora, chegando à perfeição no último, onde Ringo já estava lá tocando chocalho. Pobre Ringo! Ele nunca perdoou George Martin por ter deixado aquilo acontecer... e ele nem estava na sessão! 
 
Esta pérola foi lançada no Lado B do 1º compacto dos Beatles em 5 de outubro de 1962, chegando ao 17º nas paradas inglesas, mas nunca fez parte dos shows ao vivo das excursões, apenas foi tocada em programas da BBC e em um programa de TV, mas numa versão de 45 segundos, e apenas dublada. Uma pena! Eu sempre tento deixar algum vídeo alternativo nas minhas análises, mas aqui não ne resta nada a fazer a não ser colocar a versão original, mesmo com possibilidade de ser cortado, por direitos autorais, aqui, neste LINK, para que possam prestar atenção em tudo o que contei! 

 

9Love Me Do (Flirt Girl Song by Paul McCartney)

John e Paul paqueram: 'Ame-me de verdade, você sabe que te amo. Serei sempre verdadeiro, então por favoooor, ame-me de verdade')
"A primeira gravação, a gente nunca esquece!"  
O slogan Valisére do comercial de soutién decerto serviu para quatro rapazes. É certo que nenhum deles, vindos de Liverpool, no norte da Inglaterra,  jamais de esqueceu daquele 4 de setembro de 1962, na Abbey Road Nº 3 em Londres, capital do país. O mais velho deles acabara de completar 22 anos de idade. Naquele dia, os Beatles gravaram a primeira de 211 canções que comporiam a carreira em estúdio de maior sucesso da história da música. A ideia original da canção veio de Paul, ainda em 1958, ano bonito, aliás, ano marcante, o primeiro ano desse meu atual estágio neste plano, decerto minha chegada teve suas participação no astral para que ele compusesse aqueles versos simples, de letra mais ainda, e que continuaram simples até maio de 1962, lá em Hamburgo, quando eles receberam um telegrama de seu empresário Brian Epstein, dizendo que preparassem mais composições, porque estava garantido um contrato de gravação com a EMI. Claro que o recado era para dois deles, chamados Paul e John, já que na cabeça do terceiro, George, do alto de seus 19 anos, decerto (terceira vez que uso a palavra) nem passava a ideia de compor qualquer coisa. O quarto? Sim, o quarto ainda não estava com eles àquela altura, mas Ringo já estava nos planos dos outros três. Bem, dado o recado, Paul se lembrou daquela canção simples já com quatro anos de vida, com apenas um verso (Love, love me do, you know I love you, I allways be true, so please love me do) e disse a John para incrementá-la um pouco, e ele criou a ponte ('Someone to love, somebody new, someone to love, someone like you). Note que esta é a totalidade da letra e que as rimas ocorrem no mesmo fonema 'oo' em inglês, o nosso 'u', 'do-you-true-new'. 
 
Ali em cima, eu mencionei o 4 de setembro, mas o processo de gravação começou em junho, dia 6, quando John, Paul e George, junto com o então baterista Pete Best, chegaram aos estúdios da EMI para a primeira gravação de fato. Após acertarem seus instrumentos, tocaram nada menos que Besame Mucho, sim, o bolero, numa versão em inglês que Paul adorava, e já haviam tocado no famoso teste em que foram recusados pela gravadora Decca, em 1º de janeiro daquele ano, deixo aqui o LINK do boleringlish, como curiosidade. George Martin, o produtor, não gostou muito dela e passaram para a segunda, justamente Love Me Do. Martin achou a letra muito simples, mas gostou muuuito da gaita que John tocava, era uma novidade, mesmo assim, considerou-a apenas para o Lado B do compacto, jamais para o Lado A. 
E aqui vai uma fofoquinha sobre a gaita que John usou .... ele a 'tomara emprestado' de uma loja numa cidade da Holanda, lá da primeira viagem a Hamburgo e o 'empréstimo' já durava três anos.... fim da fofoquinha! 
Bem, a tal gaitinha provocou a primeira intervenção como produtor daquele que interviria centenas de vezes na carreira dos Beatles. George Martin não gostou da sobreposição que ocorria na entrada da gaita no final do primeiro verso, quando John a toca, após o 'so ple-e-e-ease... love me ...'. Martin desceu da sala de controle e disse: 'A canção não se chama Love Me Waaaah, então, nessa hora, Paul, você assume o vocal!' Simples assim! Paul declarou que tremeu nas bases, mas venceu esse primeiro desafio, como sabemos!! Só que aquela bateria não agradou a George Martin, e ele disse que iria trazer um baterista de estúdio na próxima sessão. Veja aqui, neste LINK, um dos motivos para esta decisão, note o estilo que acompanha a ponte, bem estranho mesmo! Bem, aquilo veio a calhar! 
 
John e Paul, principalmente, gostavam muito do baterista dos Hurricanes de Rory Storm, banda de Liverpool que também ia a Hamburgo, e a decisão de Martin precipitou as coisas, foi feito o convite a Ringo, ele aceitou, assumiu as baquetas em 22 de agosto, para mim, a data de fundação dos Beatles e, agora sim, no dia 4 de setembro, os quatro voltaram a Abbey Road, um deles, George, com o olho roxo por conta de uma briga com fãs inconformados com a saída de Pete Best. A primeira canção que gravaram, entretanto foi How Do You Do It, que Martin havia mandado a eles em Liverpool, para que ensaiassem. Ele realmente não queria Love Me Do no Lado A. Foram dois takes apenas e partiram para a autoral Love Me do, á qual dedicaram 15 takes, produzindo um resultado muuuito melhor que aquele de junho. Os takes foram só com instrumentos, e acrescentaram as vozes depois. Mesmo assim, Martin ainda não estava satisfeito e chamou-os de volta uma semana depois. 
 
O desejo de John e Paul de terem duas originais deles no primeiro lançamento foi conseguido porque Dick James, o editor das canções, ouviu e não gostou da versão de How Do You Do It, e decidiram que finalmente Love Me Do abriria o compacto. No dia 11 de setembro, gravaram P.S. I Love You, sem Ringo, com Andy White, o baterista contratado (Ringo tocou chocalho e nunca perdoou George Martin por aquilo), e ela chegou a ser considerada para ocupar o Lado A do compacto, mas alguém se lembrou de uma canção de mesmo nome já lançada, e a dos Beatles só poderia ver a luz do sol num Lado B. No mesmo dia, também gravaram Please Please Me, e ela chegou a ser considerada para integrar o compacto, mas Martin a considerava boa demais para ser um Labo B e a deixou para o segundo lançamento. O calvário de Ringo foi ainda maior naquele dia: seus três companheiros ainda fizeram 18 takes de Love Me Do com Andy White na bateria, e ele no pandeiro. Aquele último take foi editado e utilizado no LP Please Please Me, no ano seguinte. Felizmente, a versão que Ringo gravara na semana anterior foi a utilizada para o lançamento do compacto, em 5 de outubro. 
  
Esse grande dia chegou! E o mundo.... quer dizer, a Inglaterra ouviu, um novo som, um rythm&blues gostoso, meio que um skiffle, ritmo que já estava ficando pra trás, com uma letra simples, com três versos repetidos, mas com algumas características marcantes: 
  • a introdução na gaita de John, 
  • os vocais principais em harmonia, de John nos médios e Paul nos mais agudos, e um pleeeeeease estendiiiido (a gente até imagina o autor de joelhos) de dois compassos e meio, 
  • uma parada total (portanto, logo de cara, o mundo foi apresentado ao Beatles Break, que ocorreria em muitas de suas gravações no futuro), 
  • chegando ao final do Verso 1, Paul entoando solo o título da canção Love Me ... e, quando entoa o Do, entra John com sua gaita repetindo a introdução. 
Esse verso e suas manobras são repetidos mais duas vezes, mas entre eles, vêm as pontes, uma vez cantada (Someone to love...), em harmonia, e outra vez apenas na gaita de John. Isso, por si só já era diferente, pois os solos instrumentais acompanham normalmente a melodia dos versos. Essa ponte tocada é estendida até quatro compassos, para mais um break introduzindo o verso final. Notável! 
 
Os ingleses gostaram do novo som, as duas canções foram bem tocadas nas rádios, o compacto chegou ao 17º lugar na parada britânica, posição talvez alcançada por conta de uma massiva compra de 10 mil unidades feita pelo empresário Brian Epstein para sua loja de discos em Liverpool, que, aliás, ficou em festa! Ela foi muito tocada ao vivo em 1962 e 1963 em shows pelo Reino Unido e também na última vez em Hamburgo. Deixo aqui uma vídeo-montagem muito simpática, com cenas interessantes daquele começo de carreira, e notem logo no começo aquele sujeito respeitável numa loja de discos, ele é Brian Epstein. Nos Estados Unidos, ela apareceu no álbum Introducing The Beatles apenas em janeiro de 1964, dias antes de os Beatles estourarem 'na América', com I Wanna Hold Your Hand e She Loves You. Na esteira do sucesso, Love Me Do foi lançada em compacto, com a versão tendo Andy White, e atingiu o Nº1 nas paradas americanas, o que possibilitou seu lançamento 38 anos depois no mais que espetacular sucesso da compilação "1". 
 
Antes disso, em 1988, Paul fez um medley com as canções do compacto, chamou-a de P.S.Love Me Do e a cantou no Brasil em 1990 e nos demais locais de sua primeira grande excursão mundial apresentando canções da época dos Beatles. Deixo o LINK aqui, até porque é uma das pouquíssimas vezes em que Paul não está comandando um instrumento, apenas ele e o microfone e passeando no palco, muito raro. E nós fomos brindados com isso! 
 
Posteriormente, em 1998, Ringo incluiu Love Me Do em seu álbum Vertical Man, que é a versão que deixo aqui para vocês, até como uma homenagem ao Ringão, que foi preterido nas versões das duas canções naquele 11 de setembro de 1962, que ele sempre quis esquecer. Tanto que ele até faz piada com a lembrança, dizendo: "Vou apresentar aqui aquela primeira daquela canção em que eu NÃO toquei bateria." Aqui, neste LINK.

 

10. Baby It's You (David/Williams/Bacharach)

A canção (sim, o Bacharah, um dos 3 compositores é aquele mesmo Burt, conhecido das baladas de 1970, coisa pouca, tipo assim Raindrops Keep Falling On My Head) foi um sucesso na voz de The Shireless (de novo, um grupo de meninas!), mas ganhou mais corpo na voz dos Beatles, mais especificamente na de John com direito a charmosísssimos "cheat-cheat", e magnificamente contracantada por Paul e George, em deliciosos "Scha-la-la-la-la-la-la's" e "uuuu's" e "aaaa'sAlém dos instrumentos tradicionais, George Martin adicionou uma pianola, posteriormente, de leve, por sobre o solo de George na guitarra! Foi a penúltima canção gravada na histórica sessão, e foram apenas 3 takes!! A experiência de tocá-la ao vivo já há um ano foi fundamental para essa rápida conclusão. Pra manter a norma, deixo aqui a versão tocada ao vivo na BBC, neste LINK. Note que o solo é feito ao vivo por George, e com extrema competência e com direito a três notas extras em relação à gravação de estúdio. Ele estava confiante! Os rapazes eram de extrema categoria!


11. Do You Want to Know a Secret (Love Girl Song by John Lennon)

George conta um segredo para a garota: "Ouça, deixe-me cochichar em seu ouvido, dizer as coisas que você quer tanto ouvir: Estou apaixonado por você! Ouça, uu-aa-uu, você quer saber um segredo?"
John se lembra de sua mãe Julia cantando 'Want to know a secret? Promise not to tell?do filme Branca de Neve até seus 3 anos, quando ela o abandonou, deixando para a irmã criar. Foi onde se inspirou. Ela foi escrita na mesma onda da recomendação de Epstein, de comporem mais e mais. Paul contribuiu com a ideia de parte da introdução relembrando uma melodia espanhola (só faltaram as castanholas) e na ponte ("I've known a secret for a week or two... nobody knows, just we two"). John delegou o lead vocal, ao caçula da banda, por ser uma melodia simples, de pouca exigência vocal, iniciando uma prática de sempre fornecer uma oportunidade vocal a George, uma exigência das fãs. Neste LP, inclusive, ele teria ainda uma outra canção, uma cover de outro artista. Marcantes são os "uu-aa-uu's" de John e Paul e adoro aquelas batidas com eco, de Ringo, ao final da ponte, aliás, cá entre nós, é a melhor parte daquele trecho, que eu considero fraco, letra fraca, rima fraca, aliás, da mesma palavra (ô, gente, podia buscar um "blue" ou um "true", ou mesmo um "you"!). Note que é a segunda e ÚLTIMA vez, em que os versos são repetidos, sem variações, sendo Love Me Do a primeira e PENÚLTIMA vez e que isso ocorreu EM TODA A CARREIRA DOS BEATLES. NOTÁVEL!! John nunca deu muito valor a ela, e reza a lenda de que ao gravar uma Demo num banheiro de um night club em Hamburgo (última vez em que lá estiveram), por ser o lugar mais silencioso possível, mas quando terminou, puxou a descarga para ela...  injusto... 
 
Sua gravação foi no histórico 11 de fevereiro, quando foram gravadas todas as 10 canções que faltavam para completar o 1º álbum dos Beatles, Please Please Me, sendo as demais 4 gravações utilizadas nos dois primeiros compactos, ainda em 1962. Ela foi a 4ª canção a ser gravada, já de tarde, e levou 5 takes para tomar forma, com todos em seus instrumentos usuais, e com George cantando o vocal principal em todos eles, inclusive os falsetes no final dos versos idênticos em letra. Destaque para a complicada linha de baixo de Paul e para a guitarra 'espanhola' de John na introdução, ideia, como disse, de Paul! No Take 6, Ringo bateu suas ótimas baquetas com eco, conforme sugestão de George Martin, no Take 7, John e Paul introduziram suas respostas vocais em todos os versos, mas John sugeriu que o 1º Verso não tivesse o backing vocal, já incorporando a técnica de estabelecer variação entre versos, além do crescimento de qualidade ao longo da canção, começando por um som mais básico. Sábia decisão! 
 
Do You Want to Know a Secret foi tocada ao vivo logo no dia seguinte à sua gravação, nas duas excursões do primeiro semestre de 1963, e na BBC e programas de TV, mas não encontrei nenhum registro em vídeo ao vivo, então deixou este LINK com a canção original por sobre um vídeo com imagens deles à época! Após o lançamento do LP, ela fez grande sucesso na voz de Billy J Kramer, um camarada deles de Liverpool, amparado por uma back band The Dakotas, que chegou em 2º Lugar, perdendo apenas para os próprios Beatles em 1º com Please Please Me, ouçam a versão dele neste LINK. Esses artistas gravariam ainda outras originais Lennon McCartney! Ela fez sucesso novamente um ano depois, na época da invasão da América, lançada em compacto e chegando ao 2º lugar na parada americana, perdendo só para uma banda chamada The Beatles (!), com Can't Buy Me Love!

 

12. A Taste Of Honey (Scott/Marlow)


A Taste of Honey é uma preferida de Paul, que nos leva a um clima de faroeste, uma valsa, que era um tema instrumental, feita por Scott e Marlow para um musical da Broadway baseado numa peça inglesa, que depois virou filme, tudo do mesmo nome, e que depois ganhou uma letra, nesta versão sendo regravada mais de 250 vezes, portanto com muito sucesso. Ao contrário das outras Covers do LP, A Taste of Honey não foi gravada na sessão noturna daquele 11 de fevereiro histórico, mas abriu a sessão da tarde, após o almoço, que os Beatles optaram por não ter, para ensaiar ainda mais! Muito responsáveis os Beatles!! Foram 5 takes com todos tocando seus instrumentos tradicionais, e Paul cantando seu vocal principal e John e George seus ótimos backing vo
cals
. Após, isso passaram a outra canção, mas George Martin chamou Paul para dobrar o vocal, para dar mais corpo, cantando por sobre o vocal nas pontes da canção ("I wiiiil return yes I will return..."). Martin orientou que ele fizesse uma ponte em cada take, portanto, o Take 7 foi o considerado final! Foi a primeira vez que foi usada essa técnica, de muuuitas que os vocalistas usaram em inúúúmeras canções da carreira, e a única no LP Please Please Me. Note-se a mudança de de ritmo do verso (valsa) para a ponte (r4x4), mostrando a versatilidade de Ringo. E, claro, as harmonias vocais, na introdução com o título da canção, os tchu-ru-ru-ru nos versos, e as respostas "You'll come back..." no final. Excepcionais garotos!

 

 13. There's A Place  (Love Girl Song by John Lennon)

John percorre sua mente: "Povoam minha cabeça coisas que você disse como: Eu amo apenas você'. Em minha mente não há lamentos, você não sabe disso?"
Há um limiar nessa minha definição de que se trata de uma Love Girl Song, e eu mantenho, porque ele está 'in love' com a garota, mas ela quase escorrega para uma Mind Self Song, pois a letra diz  "There is a place where I can go when I feel low when I feel blue. And it's my mind and there's no time when I'm alone". E esse tal lugar é a mente de John! Preferi deixá-la como uma Heart Song, até pra não precipitar as coisas. John nos graves e Paul nos agudos dividem o lead vocal, George faz backing vocal, e destaca-se a gaita de John logo no início! 
 
Pausa para confissão: 
É a canção autoral que eu menos gosto deste LP!!
Fim da confissão 
 
Pois é... mas não que não seja notável em muitos aspectos. A estrutura é aquela que seria repetida muitas vezes ao longo da carreira, verso-verso-ponte-verso, sem refrão. Acresça-se que os dois versos iniciais, além de terem letras distintas, marca registradas dos Beatles em N-2 canções da carreira, aqui, um verso é mais longo que o outro. O Verso 1, de 15 compassos, John é a porção Mind Song da letra, quando John fala daquele local onde ele se encontra quando está triste, que é a sua mente. O Verso 2, tem apenas 12 compassos, por ter no final uma preparação para a ponte, é a porção Love Song da letra, em que John pensa nas coisas que a garota lhe disse, especialmente o 'I Love only you'. Na ponte ele diz que não se arrepende e que não ficará triste, e aqui o autor usa uma das rimas mais manjadas da história, "sorrow" com "tomorrow" do cancioneiro mundial. Depois, repetem o 1º Verso, e a conclusão repetindo várias vezes a letra.] 
 
Ao que parece, os Beatles estavam animados, pois que abriram a sessão histórica de11 de fevereiro de 1963, em que foram gravadas 10 canções do álbum, e There's A Place abriu os trabalhos, ainda com a introdução feita apenas com a guitarra de George. Levaram 10 takes até acertar alguns detalhes, como o volume dos microfones, a harmonia vocal entre John e Paul, especialmente as 5 notas de abertura A Capella dos versos, o "The-e-e-e-ere" e o "I I I I I", também marcante na canção. O outro destaque, que é a gaita de John, na introdução, no meio e no final, foi gravada por sobre o Take 10, mas foram duas tentativas, sendo o Take 13 o que se ouve no disco até hoje! 
 
There's A Place foi tocada ao vivo apenas em programas da BBC, nunca em shows. Deixo aqui esse LINK.

 

14. Twist And Shout (Scott/Marlow)

Excepcionais garotos! Excepcional John Lennon, como já falei na introdução. Um take só, no final do dia, para entrar para a história, assim como o vídeo deste LINK, que deixo pra vocês! 

A canção era quase obrigatória nas performances da banda. Composta por Scott e Marloe, fez sucesso com os Isley Brothers! Ela foi tocada no Ed Sullivan Show, em fevereiro de 1964, na mais espetacular invasão dos Estados Unidos de todos os tempos, uma invasão do bem, quando os Beatles simplesmente tomaram de assalto a principal cidade do país, parando o aeroporto e depois as ruas de New York. E também em outro momento marcante, em novembro de 1963, numa noite de gala no Prince of Whales Theatre, quando, na presença da mãe e da irmã da rainha Elizabeth II, John Lennon fez um famoso e antológico apelo, antes da canção final:

For the next number,

I would like to ask for your help.

Will those in the cheaper seats clap your hands?

The rest of you just rattle your jewelry!


E exibiu seu sorriso sarcástico, olhou para o resto da banda, e mandou:

Tchan tchan tchan tchan tchan - tchan tchan tchan

'ousheikirolbeeibenau'

woooos


Merece registro a capa do Primeiro LP dos Beatles. 

  • Primeiro por causa do fotógrafo, Angus McBean, considerado legendário no mundo do teatro britânico, chamado por George Martin. A EMI caprichou logo no LP de lançamento dos rapazes! Os Beatles foram chamados ao edifício sede da EMI, em Manchester Square, e orientados a subirem as escadas, Angus orientou que parassem e olhassem para baixo, e ele com maestria venceu o desafio da backlight e tirou a foto. Veja que as canções de chamada são as que saíram como Lado A dos dois compactos lançados dos Beatles.

Pausa para lançamentos fora da Inglaterra.

No Brasil, o lançamento foi esquartejado entre dois LPs (Beatlemania e The Beatles Again) e um compacto duplo, basicamente com as covers. Nos Estados Unidos também apenas em julho de 1963 o LP Introducing The Beatles por um selo pequeno, o Vee Jay, com as mesmas canções, mas que não fez coceira nas paradas americanas. A Capitol, americana, ainda não despertara para o fenômeno, que somente ocorreria em fevereiro de 1964 quando lançou o compacto com I Wanna Hold Your Hand no lado A e I Saw Her Standing (deste LP) no Lado B.

De volta aos lançamentos oficiais.
  • Segundo, porque, seis anos depois, um dos Beatles teve uma brilhante ideia (deve ter sido Paul, que era quem tinha as ideias naquela época). Era o Projeto Get Back, em que recriavam o clima romântico dos primeiros tempos, com gravações ao vivo em estúdio, sem quase nenhum overdub. Nada melhor então que tirar a mesma foto! Chamaram o mesmo fotógrafo, subiram as mesmas escadas e olharam para baixo, e CLICK, registraram seus novos visuais. Pena que, como o Projeto Get Back não foi pra frente, a foto ficou engavetada, e esta capa nunca foi vista oficialmente, mas foi por pouco tempo...
  • Terceiro, porque, três anos depois do final da banda, a EMI lançou uma coletânea sensacional, eram dois LPs, um com os sucessos de 1963 a 1966, outro com os sucessos de 1967 a 1970, e alguém teve a brilhante ideia de tirar aquela foto da gaveta. Ela ilustra, sobre um fundo Azul, o último, e resgataram a foto original para o primeiro, sobre um fundo Vermelho! O lançamento vendeu muuuito é cultuado até hoje e eles são conhecidos com The Red & Blue Albums.



O LP Please Please Me foi lançado na Inglaterra em 22 de março de 1963, direto para o topo das paradas, aonde ficou durante 30 semanas até perder o lugar para uma banda chamada .... The Beatles. Sim, era o 2º LP da banda, With The Beatles!

UFA!

Agora que comecei com este grau de detalhe, ainda tenho muito trabalho nos próximos 14 capítulos descrevendo os álbuns...