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quarta-feira, 25 de agosto de 2004

O Olheiro Vê Longe


(carta de apresentação à gerência que eu assumia)

Rio, Agosto de 2004

Caros novos colegas,

Os aficionados pelo futebol seguramente já ouviram falar da figura do olheiro.Trata-se daquele profissional que anda pelos gramados da periferia das capitais, ou do interior dos estados, à procura de garotos bons de bola para municiar as divisões de base dos grandes clubes. Há variações para a profissão: tem também aqueles que vão dar uma olhada em como os potenciais adversários de um time estão jogando ou treinando, mas estes merecem mais a alcunha de espião, e ademais, com o advento do video-tape, perderam um pouco de sua utilidade. Já aquela primeira e nobre função continua viva. Foi um olheiro que viu um neguinho mirrado em Três Corações fazendo miséria com uma bola de meia e descobriu Pelé para o Santos. Foi um outro olheiro que viu um garoto de pernas tortas em Pau Grande entortar zaqueiros com duas vezes o seu tamanho e descobriu Garrincha para o Botafogo. Foi um olheiro que descobriu Ronaldo comendo a bola em Campo Grande e o levou para o Cruzeiro. E, mais recentemente, um outro olheiro tirou Diego de Ribeirão Preto para brilhar no Santos, e agora na Europa.
Há olheiros também no nosso meio profissional. Vocês conhecem um deles. Ele percorre os corredores da empresa como quem não quer nada, conversa com as pessoas e, de repente, pára ao lado de um engenheiro desmotivado, e pergunta, não se sabe de onde vem a inspiração: "Você não gostaria de fazer análise econômica?".
Claro que não estou me comparando a Pelé, Garrincha, ou qualquer outro dos citados, mas o processo foi parecido ao que aconteceu comigo. E o olheiro de quem falo é o nosso Adauto, velho de guerra. Ele foi um divisor de águas: o Adauto está para Homero assim como o álbum "Sgt. Peppers's Lonely Hearts Club Band" está para a música mundial, ou seja, tem um antes e outro depois.
O convite foi imediatamente aceito, e migrei para a Gerência de Negociações da Braspetro, a GENEG. Comecei, então, uma nova fase em minha vida profissional. Desenvolvi uma habilidade com planilhas eletrônicas que não sabia que tinha. Fiz um ou outro curso na área econômica, nada muito aprofundado. Em pouco tempo, estava montando complexas planilhas econômicas no saudoso Lotus 123, imprimindo em impressoras matriciais.
Quando Adauto recebeu outro inusitado convite para comandar a Gerência de Contabilidade (um geólogo? ... contabilidade?  .... só mesmo ele!), assumi a chefia da Área de Avaliação Econômica (AVEC), ainda na GENEG. A esta altura, já imprimia minhas planilhas a laser, e um pouco adiante ficava maravilhado com a beleza do WYSIWYG (alguém se lembra?).
Quando a AVEC migrou, inteira, com nome e gente, para a Gerência de Empreendimentos, eu já fazia macros no Lotus que só eu entendia, mas que me facilitavam muito o trabalho, deixando-me mais eficiente. Uma delas me possibilitou montar a primeira Consolidação do Portfolio da Braspetro, lá se vão 10 anos.
Em 1999, mais um convite inusitado, colocou-me na Gerência Financeira da Petrobras America, em Houston, de onde voltei em janeiro. Nesse meio tempo de quase 5 anos, foi criada a Área Internacional em 2000 (e extinta a Braspetro, 2 anos depois), e minha querida AVEC foi promovida a Gerência de Portfolio de E&P.
Nosso querido olheiro veio assumir a nova cadeira de Gerente, após alguns anos no E&P Corporativo, ajudando a empresa a entrar no mundo competitivo. Aqui, ele continuou exercendo sua capacidade de olheiro. Tenho certeza que fez com muitos de vocês o que fez comigo. Montou uma equipe eclética, com variadas especialidades, até engenheiro tinha. Um emérito desenvolvedor de equipe, um incentivador do treinamento de todos, um descobridor de talentos, certamente é um exemplo a ser seguido, imitado.
Quis o destino que ele agora galgasse novos rumos, novas vidas, novas civilizações, audaciosamente indo, onde nenhum Gerente jamais esteve (êpa, isto é Jornada nas Estrelas!), assumindo um novo desafio na Gerência Executiva de Desenvolvimento de Negócios.
E eu voltei a sentar em sua cadeira (será o meu destino?). E garanto que me sinto à vontade nela, por tudo que expliquei acima.
Sei que agora as ferramentas não são as mesmas daquela época romântica, tenho que me adaptar. Ao mesmo tempo, fico tranqüilo devido à qualidade da equipe, que produz análise de portfolio que é reconhecida como benchmark dentro do Sistema Petrobras. Fazendo mais uma analogia com o futebol, não vou mexer em time que está ganhando. Tenho muito a aprender com vocês e espero poder, em breve, começar a produzir à altura das expectativas depositadas em mim.
Mãos à obra.
Em tempo, no pessoal, tenho 46 anos, sou casado há 22 anos, tenho 2 filhos maravilhosos, gosto de Beatles (e música boa, em geral, não me venham com SPA), James Bond, Jornada nas Estrelas, e esportes em geral (de assistir, entenda-se bem!)
Abraço a todos.

Homero Ventura