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sexta-feira, 19 de março de 2021

Happiness is a Warm Gun, ai, ai, ai, John...

Esta canção fecha o Lado A do 1° LP  do Álbum Branco

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 7 canções com histórias engraçadas

                                        as demais 6 canções de mesmo Assunto e Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

8. Happiness is a Warm Gun  (Funny Story Song by George Harrison)

John conta 'Quando eu te seguro em meus braços e seguro meus dedos em seu gatilho, eu sei que ninguém poderá me fazer mal, porque ..'     
A inspiração para John escrever esse libelo contra as armas foi de uma propaganda que tinha os dizeres do título e mostrava um revólver fumegante, após disparar um tiro. Mas a música foi banida das rádios por causa da conotação sexual de algumas palavras... e John admitiu que pensava em Yoko, hehe. O que interessa é que é uma genial canção, mix de três partes. Começa com uma balada sobre uma garota (She's not a girl who misses much tchurururururu oh yeah'... até ...'a soap impression of his wife that she ate and donated to the National Trust')aí vem uma guitarra magnífica, distorcida, com a melodia do início do segundo trecho, seguida do próprio ('I need a fix, cause I'm going down' ... até... 'Mother Superior jump the gun'), e finaliza num sensacional clima de anos 50, com os backing vocals de Paul e George, acompanhando o 'Happiness is a warm gun' de John com 'Bang Bang Shoot Shoot'. Simplesmente perfeito! Tudo em menos de 3 minutos, com variações frequentes de tempo (Ringo teve trabalho). Complexa estrutura, premiada com, além do banimento inicial, o elogio da crítica (consideraram-na a segunda melhor do álbum, apenas perdendo para While My Guitar Gently Weeps), e os corações de todos os quatro Beatles, que declararam ser ela a canção em que tiveram mais prazer em trabalhar! E nela não houve (quase) outros instrumentos senão duas guitarras, baixo e bateria, puro Beatles, na veia!!  
 
Bem, à análise! Vocês se acostumaram ao apontamentos de versos, pontes e refrões, como partes das estrutura da canção. Aqui, esqueçam! São três canções diferentes juntadas numa peça, só. Vocês se acostumaram à análise das rimas, sua qualidade, sua engenhosidade, posicionamento, enfim, o que desse para ser ressaltado na poesia. Aqui, esqueçam! O Trecho 2 tem uma, "down-uptown" e o Trecho 3, outra, "arms-harm" falada, mas o Trecho 1 é uma profusão de frases desconexas, até mesmo pela forma como John a formou. Dele mesmo, apenas a primeira frase que termina com o "tchurururururu oh yeah'." e a garota que não desperdiça nada é Yoko. Agora, as demais, que falam em toque de veludo, em lagarto na janela, espelhos multicoloridos, botas de pregos, impressão em sabão, e outras coisas aparentemente sem relação umas com as outras, realmente não têm absolutamente nenhuma relação umas com as outras. Foram frases saídas de um 'brainstorm' entre John e seus amigos, Derek Taylor, Neil Aspinal, Pete Shotton, numa noite movida a LSD em uma casa em Surrey, propriedade do então 'cunhado' de Paul McCartney, olha a salada, em que John provocou os demais pra falarem frases que viessem na cabeça, John ia anotando, escolheu algumas, e colocou na letra. Mérito para o compositor que conseguiu colocar aquilo tudo numa métrica agradável de ser ouvida.

 

A primeira vez que Happiness is a Warm Gun foi mostrada aos demais foi no final de maio, na casa de George em Esher, mas ali ainda não havia essa definição de felicidade, havia apenas o segundo trecho "I need a fix 'cause I'm going down, down to the bits that I left uptown .... Mother Superior jump the gun!, sendo que a Madre Superiora seria a Yoko, e o gun que ele pedia para ela jump (sacar), o tal fix que John estava needing, ser uma picada de injeção de heroína, droga que os dois embarcaram, coisa que nenhum dos outros três Beatles experimentou. John jura de pés juntos que não tinha nada a ver com Henry, the Horse (remember Being For The Benefit Of Mr. Kite). Bem, o fix podia ser também um drinque, aprendi isso em I'm So Tired. Enfim ... O trecho final da canção, que dá o tom de humor que me fez defini-la como Funny Story Song, veio já no período que estavam já em estúdio, quando John leu um artigo de uma revista de George Martin com essa manchete, ele achou aquilo o máximo do absurdo, e resolveu colocar mais um trecho na canção que finalmente ganhou seu nome, acompanhado pelos deliciosos bangs e shoots. E aquele trecho maravilhosamente gritado entre os 'refrões', por assim dizer, "When I hold you in my arms (oooh yeah!) and I feel my finger on your trigger (oooh yeah!), I know NOBODY can do me no harm" teria um duplíssimo sentido, uma conotação sexual, pois you pode ser a garota, e o trigger, além de ser o gatilho do revólver,  pode ser aquele órgão sexual, que dispara sensações femininas. Enfim, neste parágrafo, destaquei os dois motivos pelos quais a canção foi banida das rádios, isso porque à época não desconfiaram que a segunda parte veio de uma viagem alucinógena em grupo. 
 
Após aquela mostra inicial de Esher, quase quatro meses se passaram, até que se encontraram no estúdio para ensaiar a canção, em 23 de setembro. E foi duro! Foram 45 takes, em oito horas, muito por causa da variação de tempo entre os três trechos, bem complexo. Note que o tempo passa de 4/4 no Trecho 1 para uma valsa (3/4) no Trecho 2, volta ao 4/4 no começo do Trecho 4 e migra para a valsa novamente, na fala gritada de John, com os "Ooo Oooo Oh yeah". Os entendidos notam outras micro-variações, para um 5/4, um 6/4 e até um 6/8, mas meu ouvido não é treinado o suficiente para identificá-los e passar aqui pra vocês. John também tinha dúvidas quanto ao seu próprio dedilhado no Trecho 1, igual ao que usou em Julia e Dear Prudence. Os quatro estavam em seus instrumentos tradicionais (duas guitarras, baixo e bateria). Entretanto, nada se aproveitou daquele dia! Depois de horas de sono, voltaram à batalha, e foram mais 25 takes, dois dos quais foram considerados apropriados para seguirem adiante! Uma bolha em John fez com que interrompessem a sessão, e decidissem por juntar as melhores partes daqueles dois takes selecionados, e no dia seguinte, estava pronta a base da canção, com o mix dos Takes 53 e 65. Dá até pra notar, percebam um resto de down antes de "I need a fix...", quando entra o outro take. Até essa falha é charmosa! E depois vieram os overdubs, John, em seu extraordinário vocal principal, Paul harmonizando na parte final do Trecho 1 a partir de "Lying with his eyes while his hands are busy..." e em n-1 "Mother Superior jump the gun...", Paul e George 'conversando' com John no "Hapinness" e nos "Ooo Oooo Oh yeah" (enquanto John dá show nas falas gritadas com voz alterada dos "arms, finger and trigger"), e nos "Bang Bang Shoot Shoot", ai, ai, ai, é a terceira vez que eu falo neles, mas é que são tão especiais. E teve um órgão de John logo no começo, pouco audível, e nova linha de baixo de Paul, que também acrescentou um piano na hilário trecho final, e destaca-se um maravilhoso fuzz box de George (remember Think For Yourself) introduzindo o "I need a fix...", e mais pandeiros de Ringo, no clima! Eu já elogiei o vocal de John? Já, mas repito e acrescento e amplifico, não há adjetivos suficientes para qualificar! Que final apoteótico é aquele "Guuuuun"??!! A sessão daquele dia foi eleita pelos quatro Beatles como a mais divertida das sessões do Álbum Branco! O clima estava tão bom que Paul até arriscou uma tuba que estava por ali, mas pouco se a identifica. 
 
Sempre termos a salvação de The Analogues para ver canções dos Beatles ao vivo, e aqui se pode notar a grandeza que foi o vocal de John no Álbum Branco. Apesar de o vocalista que emula o John ser de grande competência, não chega aos pés do que John fez!! Veja aqui, neste LINK. 
 
Desculpem derrubar o nível mas não pude deixar de notar uma triste relação da arte com a vida real. 

Ironia do destino... 12 anos depois...

Uma arma ficou muito quente...

 cinco vezes fumegante...

 às 22:30 h de 8 de dezembro de 1980... 

 na portaria do Edifício Dakota, 

 72 Central Park West, New York, NY, USA...

 

Mark Fucking Chapman estava feliz...


 


10 comentários:

  1. Música e analise incríveis, como sempre!!!

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  2. Grande análise, adoro essa canção sem dúvidas uma das Melhores do White álbum.

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  3. Ótima música Homero pra uma ótima análise! Curiosamente conheci esses versos primeiramente pelo Belchior...

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  4. Falar o que? Obra prima, fantástico, maravilhoso, ou simplesmente Beatles na veia

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  5. Falou de yoko e arma...doze anos depois morreu.. coincidência..

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  6. Além da concordância com os comentários, essa música é fantástica e a voz do John maravilhosamente adequada.

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  7. Oh...dessa vez me decepcionei. Eu sempre tive esta musica em alta conta como todas as músicas dos Beatles. E ainda acho que é boa...mas com a explicação ela perdeu o valor. Eu realmente achava, que coisa, que era uma música contra a violência. Mas entao é apenas sobre sexo? Me parecia tão profunda. Sexo....e com Yoko ainda por cima? Apagou meu fogo completamente.

    Homerix, tem certeza que ele não estava criticando a sociedade americana enaltecendo o uso de armas de fogo? Eu podia jurar que sim. Ai, John...que música boba você fez. E nem é autor da letra por inteiro. Pegou o que os amigos falavam. Viche mãe... será que ainda vou gostar de ouvi-la depois de saber isso?
    Se bem que achei legal essa parte de fazer os amigos falarem bobagens sem sentido.

    Olha, tive de buscar mais sobre a música. Estava muito decepcionada, queria ver se achava salvação para ela. E achei. De fato é sobre o que eu pensava. Apenas viu que poderia ter duplo sentido. Mas o sentido que vi desde o início é o principal. Ele viu a revista, como você falou. E o que ele disse é fundamental. "Eu achei que era algo fantástico, insano de se dizer. Uma arma quente signfica que atiraram em algo. " Ou alguém. E o artigo da revista , escrito por Warren W. Herlihy, fala sobre como ele ensinou seu filho adolescente a atirar e como o jovem veio a apreciar o "esporte".

    Então John realmente está, em primeiro lugar, criticando essa coisa de gostar de dar tiros por aí. Então, when I hold you in my arms and I feel etc etc...ele estava mesmo falando sobre essa perversidade de atirar e fez uma comparação com o ato sexual. Para pessoas insanas isso dá tesão. Ele pode até ter falado em Yoko porque, ( isso é teoria minha) ele tinha de falar nela sempre senão apanharia em casa. Mas não há como ser sobre ela sabendo que sua inspiração veio do artigo maluco da revista.Agora sim dá para ver a genialidade de John. Ufa, estáva preocupada. rs rs rs

    TEm mais uma coisa que li faz tempos. A soap impression que algúém comeu e dou para o Naational Trust...Faz sentido. Certas lugares em ruinas de guerra em Liverpool, e considerados como patrimônio histórico, eram usados como banheiro! Fediam bastante. Comeu e doou para o National trust é que alguém foi se aliviar ali nas ruínas.

    A madre superiora é realmente Yoko. E isso dá força a minha teoria que ela comandava. Ele tinha de agradá-la o tempo todo.
    Os outros Beatles, todos eles, consideram esta a melhor música do Album Branco. Sempre bom lembrar que só ficou tão boa assim devido a participação dos quatro. Se fosse na carreira solo de John eu duvido que teria ficado tão saborosa. Sim, já estou gostando novamente dela. Sexo entrou como um duplo sentido, mas não o sentido principal. E alem disso...mostra como algumas pessoas são taradas mesmo. É tara achar tanto prazer assim em atirar em alguma coisa...ou alguém. Um prazer sexual em ...matar. Então, nesse caso, o duplo sentido pegou muito bem.

    A sua análise deixa claro a importancia dos demais para a genialidade da música. Aliás, você sempre mostra como cada um contribuiu. E te agradeço muito por isso. Garanto que tem muita gente aí dizendo que é tudo de John sozinho. Mas todos foram fundamentais para o resultado final.

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