Esta é a 6ª canção e fecha o Lado A do LP Abbey Road
a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK
É uma de 19 canções sobre Garotas, na classe Paquera
as demais 4 canções de mesmo Assunto e Classe, neste LINK
Atenção, canções com títulos em vermelho
são links que levam a análises sobre elas.
6. I Want You (She´s So Heavy) (Flirt Girl Song by John Lennon)
John se declara: 'Eu quero você tanto que estou ficando louco'
A garota em questão nem era 'garota' mais, era mulher feita, casada e tinha uma filha! Era Yoko Ono, que virou a cabeça de nosso amado John. Era a mulher que ele procurava. Cynthia era a namorada de adolescência que ficou grávida (de Julian) e ele se casou com ela, mas ela não o completava, em muitos sentidos. Ele encontrou Yoko em 1966 (9 de novembro, mais um Number Nine na vida dele) numa exposição de arte, e foi fisgado por sua obra e sua personalidade e mais tarde por seu corpo (dispenso comentários!), e também por sua figura maternal. Eu poderia ter classificado a canção, dentro do Assunto Garotas, na Classe Amor, porque ele realmente estava apaixonado, ou na Classe Sexo, por causa da conotação do verbo To Want, mas deixei na Classe Paquera, porque a expressão "Quero você" pode também ser falada por quem ainda não está com a pessoa, mas quer, e até porque quando ele fez a canção ainda não era casado com ela, enfim, eu defini assim...
John deu intensas demonstrações de amor e carinho por ela, a ponto de dormir no chão do hospital ao lado dela quando ela abortou pela primeira vez em 1968 (ver aqui neste LINK), ou ainda quando trouxe uma cama de hospital para o estúdio em 1969 (ver aqui neste LINK) para que ela ficasse sempre com ele enquanto convalescia de um acidente, já grávida novamente, de um filho que também perderia mais adiante. Yoko já tinha 36 anos e suas gravidezes eram de risco. Ela teria ainda um terceiro aborto antes de dar mais um filho a John, já com 42 anos, quando moravam em New York
Bem, eu estou me estendendo um pouco em aspectos pouco técnicos porque tem um capítulo sobre o qual não se tem muito a falar: a letra! São apenas 15 palavras:
I-want-you-so-bad-babe-it's-driving-me-mad-she's-so-heavy-know-yeah
Na verdade, seriam 16, a contar o "is" que está escondido em "it's" e "she's". Está bem, posso falar da única rima, "bad-mad", e eu até a classificaria de rica, em português, porque o aparente adjetivo "bad", na verdade está em sua função 'advérbio', portanto, rima rica com o adjetivo "mad". Em tempo, entenda-se "bad" não como "mau" mas como "muito", "intensamente", "loucamente" e outros advérbios expressando quantidade de sentimentos, porque é isso que ele sentia por Yoko. E, é preciso esclarecer, o "heavy" nada tem a ver com o significado explícito do adjetivo, "pesada", mesmo porque sabe-se que ela era (e é) magérrima. Entenda-se em seu sentido figurado, como "intensa", "profunda", "incisiva", "definitiva", "significativa". Considerando-se que a canção tem quase 8 minutos, a taxa de aparição de palavras novas é de menos de duas por minuto, também a menor da carreira, sem contar, claro, a única canção instrumental (Flying). Puxa, até que falei muito pra uma letra de 15 palavras ... aliás, não confundir com palavra de 15 letras, como 'cinematográfico", por exemplo.
Bom, chega de papo, e vamos ao que interessa: a parte musical!! A música é espetacular!! E tem desempenhos notáveis de todos os Beatles, inclusive o agregado, Bily Preston, e seu insano órgão. Explica-se: a canção foi ensaiada um punhado de vezes nos três dias finais do Projeto Get Back, em janeiro de 1969, já na fase em que estavam no porão da Apple Studios e, em todas elas Billy esteve presente, seja no piano, no órgão ou até num backing vocal. As primeiras sessões de gravação da canção ocorreram de 22 a 24 de fereveriro, no Trident Studios, sem a presença de Billy, mas com a presença de Yoko, claro, veja na foto, a inspiradora da canção estava sempre presente! Usaram o gravador de 8 canais em sua totalidade, com o luxo de deixar DOIS deles para a bateria de Ringo, o que era inédito. Na ocasião, três de 32 takes (o 9, o 20 e o 32) foram mixados em partes selecionadas (início, meio e fim) para formar uma base, sobre a qual houve overdubs que, entretanto, não sobreviveram. Havia inclusive um prato 'reverso', ou seja, gravado com a fita andando pra trás, pena...
Gravação no Trident Studio, 22-02-69
Apenas em 19 de abril, já na EMI, John e George gravaram guitarras na parte final da canção, bem pesada! Dia seguinte, veio Ringo no bongô, e finalmente Billy Preston naquele órgão insano que eu mencionei, parecia que estava possuído, especialmente na longa seção final. Pena que não se ouve tamanha insanidade na versão oficial. Tudo isso até agora foi antes de se decidir que haveria um último álbum, o que aconteceu no comecinho de julho e, em agosto, John quis voltar à gravaçao. No dia 8, John pediu a George para colocar seu sintetizador Moog, lá no alto e encher de sons aquele refrão final, num modo conhecido como White Noise, e pediu a Ringo que ficasse doido nos pratos de sua bateria, ajudando a gente a entrar no transe. Outro overdub irado feito nesse dia foia harmonização de John, Paul e George em "She's so heavy", tão espetacular e arrebatadora que John decidiu mudar o nome da canção: sim, ela era apenas I Want You, e passou a ser o que conhecemos, com a inclusão de (She's So Heavy).
Houve ainda mais uma sessão, porém sem gravações, apenas de edição e mixagem, pois os últimos sensacionais overdubs haviam sido feitos em uma versão de fevereiro, enquanto havia um outro de abril. John ainda estava em dúvidas e acabou naquele dia 20 de agosto optando por juntar os dois, pegando a parte inicial do take de abril, até o último “She’s so...” e, a partir daí, valeu o take de fevereiro. E, com isso, perdeu-se aquele órgão insano de Billy Preston no refrão final estendido, que ele tocou em abril. Uma pena, só não irreparável porque, felizmente, tivemos acesso a ele, por conta do lançamento da versão comemorativa dos 50 anos. Está lá registrado! Bem, ainda houve um overdub adicional, após a mixagem: John disse a Ringo para pegar a máquina de vento e introduzir o som junto do White Noise do sintetizador na última parte da canção, e ir crescendo de intensidade. Nesse ponto, registra-se que Paul está ali na sala de controle, cabisbaixo, olhando pro chão, não concordando com aquilo tudo, mas sem forças para contestar o companheiro. Eu nada tenho a reclamar do resultado. Ficou incrível, assim como incrível foi a decisão de cortar abruptamente a fita, sem permitir o usual fade-out, sempre usado em conlusões longas como aquela. Mais uma bola dentro, perfeita para fechar um lado do disco!
Mesmo tendo apenas 15 palavras, a canção não deixa de ter estrutura, e é importante detalhá-la, para poder acompanhar o relato do que se ouve. Deixo, antes, o LINK, para ouvir junto da descrição! Nesta canção de poucas palavras, os versos "I want you ... so bad... driving me mad" e os refrões são o "She´s so heavy", mas antes do Verso 1, tem uma introdução de cinco compassos na melodia do refrão, no tempo 6/8, uma verdadeira valsa, como todas as ocorrências do refrão, mesmo no final, estendido por minutos. A introdução tem a guitarra de John na gangorra base e a guitarra solo de George, chorosa, dobrada, com leve harmonização pouco antes do break, quando entra o Verso 1, apenas a voz de John acompanhada igualzinho por sua guitarra, nota a nota, magnífico, e três batidas em staccato dos companheiros, mais uma linha de John, voz e guitarra, e mais 4 batidas e então entra a banda toda. Note que o tempo mudou para 4/4. Destaque para a entrada do órgão de Billy Preston, primeiro em 4 acordes depois 3 depois 7, conversando com o baixo de Paul in between. Depois, mais John repetindo voz e guitarra em um tom acima e mais dobradinha Billy-Paul-Billy-Pau-Billy. Fantástico! O segundo verso é tocado por toda a banda sem aqueles staccatos iniciais. E aí vem o primeiro refrão, claro, em 6/8, e impressione-se, entre o "She´s so" e o "heavyyy", com o show do órgão de Billy Preston. É aquilo, elevado ao cubo, que se ouviria no refrão final, mas que foi deixado para trás. Ah, sim, vem a primeira ocorrência da impressionante harmonização John-George-Paul entrando nessa ordem no "heavyyy". O Verso 3 é instrumental e em ritmo de jazz ou blues, como queira. O refrão seguinte não é igual ao primeiro porque os vocalistas entram com o "heavyyy" um compasso antes, e cantam juntos "She´s so heavyyy". O Verso 4 é igual ao 2, porque John canta, mas é igual ao 3, porque é em ritmo de jazz, e não é igual a nenhum outro porque a dobradinha Billy-Paul é acompanhada por um "YEAAAAAHHHH" primal de John, que mandaram os ponteiros dos equipamentos ao vermelho. Finalmente, vem o refrão final, estendido por três minutos, deixando-nos em transe absoluto, com tudo o que tem direito, o tempo de valsa e todos aqueles sons e vocais descritos nos parágrafos anteriores! Eu, por mim, deixava mais 3 minutos, com o vento crescendo, até virar um furação, e suplantar o som da banda. Não pensaram nisso! Felizmente, em Love, de 2006, do Cirque du Soleil, fizeram exatamente o que eu pedi...
Uma nota final: o dia daqueles overdubs esplêndidos, o 20 de agosto de 1969, acabou sendo o último dia em que os 4 Beatles se reuniram em Abbey Road. John Lennon abandonaria o grupo dias depois... Os outros 3 ainda se reuniriam nos primeiros dias de 1970, para finalizar uma canção de George.
Registre-se...
Diga se de passagem q está foi a última música que os Beatles gravaram juntos...
ResponderExcluirO canto dos cisnes
Impressionante, esse louco amor de John por Yoko, a quem conheceu numa exposição de arte, e por quem deixou sua esposa, Cynthia, namoradinha de adolescência, com quem teve um filho, Julian. Era Yoko, mulher feita, casada, com uma filha, que o completava e lhe virava a cabeça. Bem adiante, com 42 anos, em Nova York, ela lhe daria um filho, Sean. Por Yoko John quis gritar pra todo mundo saber na canção: “Eu quero você” (_I want you_). E ela passou a acompanhá-lo sempre, inclusive nos ensaios, no porão da Apple Studios, e nas várias sessões de gravação, no Trident Studios. “Você está me deixando louco” (_it’s driving me mad_) repetia John para sua amada. Bela história de amor, encerrada tragicamente.
ResponderExcluirJohn confirmou que esta musica é sobre Yoko? Sem ela por perto? Porque até hoje eu só vejo comentáios de fâs e jornalistas que seria para ela. Isso nao significa que nada disseram. Significa apenas que nunca li nada. E bem sabemos que fâs e jornalistas imaginam...e costumam viajar na maionese. Outra coisa interessante é que muitas pessoas parecem mesmo acreditar que um compositor se escreve músicas para a mulher que esta com ele no momento. Nada mais errado. Eles escevem sobre vários assuntos e muitos nada tem a ver com mulher alguma. Os Beatles fizeram isso algumas vezes.
ResponderExcluirEu não consigo ver nada de Yoko nessa musica. Se for sobre ela então ele estava era pedindo socorro, queria se livrar dela...e ninguém o socorreu?
Primeiro: por que ele diria para sua esposa que a queria? Claro que sim, do contrário não teria com ela se casado. Muito estranho ele dizer para a esposa. "Eu quero você". Não faz o menor sentido. E ele estava enlouquecendo...Enlouquecendo porque queria a esposa? Mais uma vez, não sentido algum. E de repente, como se falando para outros informa que é ele é pesada. Puxa, então ele devia ter pedido logo o divórcio.
Tenho por mim que ele falva sobre heroina. Aí faz tudo sentido do mundo. É uma música de drogas. E mesmo o estilo dela, o peso dela...tudo a ver.
Já sobre Yoko, prefiro não comentar muito, mas os fatos comprovados eu posso falar. John apenas a conheceu na galeria ( e foi Paul quem insistiu para ele ir, pois era na galeria que ele ajudou a promover) .Mas o caso depois começou muito depois, em 1968. Dois anos depois. Nesse periódo ela ficou na colinha o tempo todo.
Agora um caso que não posso confirmar: Uma vez até se jogou dentro do carro se sentando no colo de John. E Cynthia ao lado. Muita falta de respeito.
Amigo muito bem explicado seu texto , faça um livro , vc é a pessoa que mais pesquisou e pesquisa sobre os Beatles , EXCELENTE!!! Parabéns!!
ResponderExcluirVoltando para dizer da riqueza de detalhes do texto...até que Paul ficou de cara amarrada...Com certeza a desamarrou assim que viu o resultado fantástico. Ele na certa estava apenas preocupado...John teria enlouquecido? Pois não é que estava era muito lúcido num dos seus muitos ataques de genialidade. Ah, Paul aprovou no filnal. Posso jurar. Porque é bom demais.
ResponderExcluirE eu não sabia nada sobre como foi a gravação. Agora sei graças a Homerix. Só tenho a agradecer.