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quinta-feira, 25 de março de 2021

Don´t Pass Me By, finalmente, Ringo!!

Esta canção é a  canção do Lado B do 1° LP  do Álbum Branco

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 5 canções com Saudade nível Desespero

                                        as demais 4 canções de mesmo Assunto e Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

14. Don´t Pass Me By  (Dispair Miss Song by Ringo Starr)

Ringo implora "Não me deixe de lado, não me faça chorar, não me deixe triste, porque você sabe, querida, que eu amo apenas você. Você jamais saberá o quanto me dói, como eu odeio vê-la partir. Não me deixe de lado, não me faça chorar" 
Olha aí nosso Ringão, tão adorado, finalmente com sua primeira produção. Eu não considero o crédito dado a ele em What Goes On como sério! De qualquer maneira, é a primeira só dele. Ele tentou algumas vezes apresentar algo aos maiorais, algumas composições de três acordes, que era o máximo que conseguia, mas logo eles notavam que seriam acusados de plágio! Don't Pass Me By passou nos testes, só que demorou muito para se materializar. Apenas  Paul e Ringo tocam na gravação final, além de um violino sensacional ao longo de toda a canção!!! Mas, vamos à história! 
Ringo vinha trabalhando nessa canção desde 1962, no ritmo country, chegou a apresentar um esboço aos bambambans da banda, logo no começo dos Beatles, mas não havia meio de ele completá-la, então ela foi ficando. A imprensa às vezes pressionava, principalmente depois que George lançou a sua, Don't Bother Me, já no segundo álbum da banda, e ele mencionava sua existência. Afora ela, Ringo tentava, com sua limitada habilidade, de três acordes no violão e três ao piano, apresentar alguma coisa e era logo rechaçado. Don't Pass Me By não fugiu da regra: só três acordes, C-F-G, ou seja DO-FA-SOL, com no máximo uma preparação em F7 e G7 no refrão! A letra foi variando ao longo do tempo, e eu até acho que ela foi mais interessante ao longo do caminho, veja ao lado um rascunho anterior, bem mais apropriado ao estilo irônico do Funny Beatle (C.O.D. é acrônimo para Cash On Deliveryuma forma de pagamento de encomendas). Até que, finalmente, chegou o momento, em 1968, quando os Beatles lançariam 30 canções num álbum, uma salada bem temporada de ritmos, assuntos e estilos, decerto ia ficar inexplicável Ringo ficar de fora. John e Paul finalmente deram seu apoio, e ela nasceu. E olha que a demora valeu porque parece que Ringo aprendeu a lição dos maiorais: mesmo que seus versos não sejam assim brilhantes, ele cuidou para que fossem diferentes entre si. São três versos distintos e mais um refrão.  No Verso 1, Ringo está em crise, extrapolando a ausência da amada achando que ela já não o ama. No Verso 2, ele entra em desespero, não vê as horas passarem, ele está convencido que ela o abandonou. E vem o refrão com o apelo, descrito no caput. O Verso 3 é redentor, ela aparece, diz que estava no trânsito, ele pede desculpas por ter sido tão injusto e desconfiar dela. Inseguro, o nosso Ringo! As rimas são razoáveis, afora as vezes em que rimou "myself" com ... "myself" e "footsteps" com ... "footsteps". E, para rimar com "unfair", ele se lembrou de "hair" e criou "You were in a car crash, and you lost your hair", que parece estranho, mas lembre-se que mesmo aqui a gente fala que está tão nervoso a ponto de arrancar os cabelos. É na mesma linha, mas soou estranho!

Don't Pass Me By não passou pela sessão de Demos de Esher, casa de George, mas foi logo a segunda a entrar em estúdio, cinco dias depois. E foi meio chocante para o pessoal do estúdio que uma canção de Ringo entrasse tão cedo assim no mapa do novo álbum. John abrira os trabalhos, com Revolution 1,  como já era tradição nos últimos anos. John abriu com I Am The Walrus em Magical Mistery Tour, com A Day In The Life em Sgt. Pepper's, com Tomorrow Never Knows em Revolver e com Run For Your Life em Rubber Soul. Aliás, é interessante como Paul aceitava essa tradição, uma questão de respeito para o grande John Lennon, o criador daquilo tudo! Bem, esperava-se, na sequência, uma canção do outro grande compositor da banda, Paul McCartney, ou mesmo de George Harrison, mas quem aparece é Ringo Starr. Ninguém entendeu nada! E Ringo achou aquilo uma distinção muito especial, e foi mesmo, e ele estava radiante!! A estupefação era tanta que no seu primeiro dia de gravação, a canção não foi registrada com seu nome, mas por "Ringo's Tune"! Uma celebração! Bem, aliás, eu desvio tanto do assunto que para retornar eu tenho que usar este recurso.... aliás .... Bem, a base da canção foi gravada por Ringo aos 3 acordes do piano, e Paul na bateria!!! O piano de Ringo, aliás (ólheuaquitraveis!) recebeu outra distinção, a de passar por um Leslie Speaker, a trapizonga que levou a voz de John às alturas em Tomorrow Never Knows e também a bateria de Ringo na canção. Foram necessários apenas três takes para se chegar a uma base aceitável para overdubs, Ringo parecia um veterano!!! 

Jack Fallon - violino
Ainda no mesmo dia, Paul gravou algumas linhas de baixo, e tocou mais bateria, Ringo tocou mais piano e gravou seu vocal, e Paul tocou um guizo (sleigh bell) o tempo todo da canção! No dia seguinte, um outro vocal de Ringo foi considerado melhor, e ainda foi dobrado. Em um outro take vocal, Ringo conclui a canção com uma fala, com alguns trechos da letra, mas termina com um "This is some friendly!", sem sentido, mas considerado genial por John, que estava presente, afinal era mais um "Ringoism", mais um malapropismo de Ringo (remember Tomorrow Never Knows)! John e Paul chegaram a sugerir que esse fosse o nome da canção!! Acabado o segundo dia, a canção ficou em compasso de espera, até que, quase um mês depois, chegou 'a cereja do bolo': um fiddler (violinista tocando estilo country ou grass muda de profissão) foi chamado para criar livremente sobre a canção, e ele o fez lindamente! Ele aparece no final dos versos e forte nos refrões. Que toque de classe aquele Jack Fallon deu à primeira incursão de Ringo no mundo dos compositores. Foi tão marcante que escolhi seu semblante para ilustrar esta análise! Thank you, Mr. Fallon! Ah, aquele pianinho intrigante no começo não é Ringo, mas Paul!

Aliás, aquele violino (ou fiddle, pelo estilo da música) causará uma atrocidade de minha parte: Ringo, com sua All Star Band normalmente toca Don't Pass Me By, e normalmente eu abriria com um vídeo para vocês, fá-lo-ei, mas antes, vou abrir com nossos indefectíveis (no sentido de sem defeito) The Analogues, pois como é a norma da banda, eles colocaram uma violinista sensacional para tocar igualzinho à gravação original! Veja, aqui, neste LINK. Pena que a pouca sensibilidade do cinegrafista nos faz perder uma parte de seus graciosos movimentos! Damn you!

E, agora, claro, super Ringo Starr, neste LINKcantando sua primeira composição, com um arranjo legal, com gaita e bandolim, com refrões extras e uma frase a mais depois deles...  

Don't make me blue!!!

7 comentários:

  1. Adoro essa música. Ótimo post como sempre, mestre Homerix!

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  2. Muito bom ! Adorei o vídeo do Analogues com a marabilhosa violinista

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  3. Lembrei de minha amiga Miriam. Durante muito tempo sempre que uma turma estava em alguma festinha e um deles se despedia ela cantava " how I hate to see you go"... Amava a música. E eu também. Mas eu amo todas.
    Quero dizer algo que poderá chocar. Mas para mim Ringo conseguiu uma proesa O único beatle que conseguiu reproduzir sua música na carreria solo melhor que a original com The Beatles. Eu realmente adoro a versão do All Stars. Mais completa.

    Agora outra que muitos não concordam Não vejo John como , o criador daquilo tudo. A menos que eu não tenha entendido o que seria aquilo tudo. Se está se referindo aos Beatles, claro que ele não foi o criador. Ele criou o Quarryman. Mas era uma banda skiffle. Nem instrumentos verdadeiros eram usados. Acho que tinham uma bateria. Assim que Paul entrou tudo mudou. Passou a ser banda de rock com direito a canções românticas. Entrou até Besame Mucho..ideia de Paul. E há provas de como ele trabalhou. Volta e meia encontramos cartas dele que foram publicadas nos jornais buscando um baterista. Era ele quem saía buscando pianistas. Foi ele quem levou o George Harrison. Claro que tinha de ouvir a aprovação ou não de John, mas foi aquele que começou a inovar a banda. Não sozinho. Ela sempre ouvia o que John tinha a dizer. Mas levava as novidades que eram aceitas...Portanto a formação dos Beatles, que finalmente ficou tudo pronto com a entrada de Ringo, foi um trabalho de equipe. Posso apostar que Paul nunca tivesse entrado...os Beatles até poderiam ter acontecido, mas completamente diferente da banda que amamos. John foi importante sim. Juntamente com Paul. E creio que George também andou contribuindo.
    Olha, o resultado final é suposição minha: e ainda nem falei que resultado é esse. teria sido uma banda de pouca repercussão sem beatlemania. Sem Paul e sem George visto que entrou pelas maõs de Paul...Nem pensar.
    Mas tem como base fatos reais. Quando lemos a hstória dá para ver que realmente formaram uma equipe. O criador daquilo tudo, sé é que esteja se referindo à banda, teria de estar no plural. Os criadores!

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  4. Excelente abordagem do trabalho do Ringo! Sua explanação valoriza esse grande artista que muitas vezes foi criticado e desmerecido.
    A banda FAB4 só foi formidável pelo encontro desses 4 gênios!
    Senão não teriam sido os Beatles. Quero dizer que só decolou pela união dos 4 talentos.
    Obrigada Homero, mais uma vez, pelo presente que vc nos deu!
    Abraço, Denise.

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