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quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Mini MBA - Os Speakers


CWC - Oil & Gas Mini MBA
Londres - Abril de 2005

Origem e Introdução (link)

Os Capítulos (links)
4. The Speakers (Este)

NOC's – National Oil Companies – at the crossroads 
by Willy Olsen

Começo com um resumo e uma elegia pouco modesta. O assunto palpitante despertou a atenção de todos. Do grupo, apenas eu, e um colega da Saudi Aramco éramos de empresas estatais, mas todos os outros, de uma forma e outra tem um relacionamento com uma delas. Willy despejou um número de informações sobre o poderio e a influência dessas empresas e depois traçou um perfil de sua atuação. E, para levantar o meu ego, não se cansou de elogiar a Petrobras. Repetidas vezes, citou nominalmente nossa empresa como exemplo e, sempre, como um bom exemplo: o fato de ser uma empresa aberta, com ações negociadas em NY, a transparência com que divulga seus resultados e fatos relevantes, a busca pela internacionalização (ói nóis aí!), a ousadia em aplicar novas tecnologias, o investimento constante em pesquisa e desenvolvimento (elogiando nosso CENPES), enfim, fiquei até mais gordo.
O motif da apresentação era fazer a classe tentar entender uma estatal, qual deve ser seu papel, poderão elas tornar-se mais competitivas ou simplesmente manter-se como um braço avançado do governo de seu país? Estão as NOCs realizando a totalidade de seu potencial em suas alianças com as IOCS?
O conceito de NOC já tem 90 anos de idade (BP foi a primeira, em 1914). No começo, a razão era para garantir suprimento de óleo, os primeiros movimentos para tal foram aquisições de concessões no oriente Médio – França e Itália seguiram o mesmo caminho. Primeira onda de NOCs na América Latina entre as duas grandes guerras. Depois, já na década de 70, as nacionalizações nos países exportadores. Na onda da globalização e liberalização, algumas começaram a se privatizar, a BP, novamente, a primeira delas.
        Metade das 50 maiores companhias em produção de petróleo são estatais. As NOCs têm a chave para o crescimento da indústria de óleo e gás, controlando 60% das reservas de óleo e 75% das reservas de gás. Elas não são iguais entre si e apresentam diferentes forças e fraquezas. Umas são fracas, outras dominantes. Umas têm forte conexão com o governo, sendo difícil distinguir onde termina sua influência e começa a do ministério de energia, outras são mais independentes. Umas têm orçamento independente, outras o têm totalmente controlado pelo governo. Muitas apresentam um foco comercial, ligadas à obtenção de lucros enquanto outras se preocupam em prover bem estar, desenvolver a sociedade, combater a pobreza.  
      Grandes estatais estão em processo de questionamento de sua identidade. Sonatrach, Petronas, NNPC, ONGC, Sinopec estão caminhando para tornarem-se mais comerciais, enquanto PDVSA e KPC se movem para o lado social, têm uma missão mais de cunho nacionalista (“A PDVSA pertence ao povo venezuelano”).
        Uma característica própria das estatais é o orgulho de seus empregados pelos feitos e pela história da companhia, guardiã dos recursos naturais do país. Disto, somos provas vivas.
         Partiu para análises pontuais de várias estatais: Saudi-Aramco: muito poderosa, com mais de 3.000 empregados em pesquisa e desenvolvimento, tem agenda global, é mais forte que o ministério, eficiente, investimento pesado em treinamento; QPC: modelo diferente, pretende ser a maior produtora de LNG, em alianças com IOCs; Sonatrach: sendo reformada, caminhando para o lado comercial, quer parar de ser cabide de empregos, vai perder alguns de seus privilégios e começar a competir com IOCs; NNPC: rumando para o lado comercial (sabemos que está usando Statoil e Petrobras como modelo; PEMEX: controlada pelo governo mas buscando pouco a pouco a independência; Petronas: rumando decisivamente para o lado comercial, não tão transparente e aberta como Petrobras, mas efetiva; Statoil: commercially driven since day one, muita liberdade de atuação, foco na capacidade operacional; Petrobras – tudo aquilo mostrado acima; ONGC: buscando alianças estratégicas com companhias ricas em recursos; Sinopec e CNPC: o mesmo que a colega indiana, porém com muita agressividade, em busca de recursos para suprir déficit de produção e crescimento econômico; SASOL: começa a se comparar a IOCs, rompendo fronteiras do país; Ecopetrol: mais ou menos obrigada a mudar seus rumos, devido à criação de agência controladora.
IOCs trabalham e terão que continuar trabalhando com NOCs, entendendo suas diferenças, de local para local. NOCs discutem no momento que tipo de governança têm nos seus domínios, a separação clara entre Governo e NOC, é importante que fique claro quem faz o quê, quem tem a propriedade dos direitos, quem opera, quem regula, quem é o link com IOCs, quem estabelece políticas, enfim, a IOC tem que saber em que ambiente está vivendo. 
NOCs procuram IOCs em busca de suporte financeiro, transferência de tecnologia (crítico e difícil), habilidades de gerenciamento e recentemente, competência no mercado de gás.
Os desafios mais comumente enfrentados têm sido a luta contra a corrupção, a busca de um desenvolvimento sustentável e a exigência de conteúdo local nos projetos de desenvolvimento.

Gas in the Energy Mix
by Andy Flower
Antes de Andy, um outro palestrante falou sobre GTL no Qatar, mas foi tão infeliz que não perderei tempo com ele. Ademais, as informações de Andy sobre o mesmo assunto são bem mais interessantes.
Do início da indústria, em que a descoberta de gás era vista como fracasso, pois teria que pensar no que se fazer, até hoje, a importância do gás na matriz energética do planeta cresceu muito. As reservas de gás sobem num ritmo maior, têm um RP bem maior, é energia limpa, mais eficiente que óleo e carvão (poder de transformação em energia); além disso, as reservas estão acessíveis a boa parte dos grandes mercados. Mas, não é sempre! Há ainda muito gás em regiões longínquas dos mercados consumidores. Gás é difícil de transportar, este é o maior desafio!
       O melhor produto da palestra foi um gráfico indicativo do custo de transporte de gás do poço ao posto. 
   O LNG exige grande investimento inicial, planta de liquefação aqui e re-gaseificação lá, só é competitivo para grandes distâncias, pois o custo por km é mínimo, e o transporte tradicional (gasodutos) fica inviável. Acima de tudo isso, navegando em mar de almirante, vem o óleo, magnanimamente competitivo, difícil competir com um meio que não exige investimento inicial, geralmente, e tem custo unitário baixo. Por isso, óleo é uma commodity, com preço globalizado dependendo apenas de qualidade e distâncias e gás tem preço localmente estabelecido, contrato a contrato, fora o mercado americano, muito dinâmico. O óleo é 62% comercializado internacionalmente, enquanto o gás, apenas 25%, face ao acima exposto.
Alguns detalhes do processo de liquefação: remoção de condensados e impurezas (CO2, água, mercúrio, H2S) e redução de temperatura a 161 graus Celsius, sem compressão, produto estocado em tanques isolados termicamente, mas não perfeitos: no transporte, perde 0.15% em volume por dia, que é usado como gás combustível no próprio navio. Na chegada, na planta de re-gaseificação, temperatura volta ao normal.Os navios podem ter aquela cara cheia de esferas (tecnologia francesa Kværner Moss) ou ser do tipo membrana que tem uma cara comum: dos 175 navios em operação, metade é membrana, dos 111 encomendados, 80% são do tipo membrana, pois custam um pouco menos no transporte, principalmente ao passar no Canal de Suez.
A demanda de LNG, de 132 milhões de toneladas em 2004 deve crescer para 220 mton em 2008 e 400 mton em 2020. Maiores exportadores no momento são Indonésia, Malásia, Argélia e Qatar. Maiores consumidores: Japão (40%!!!), Coréia, USA, Europa).
O GTL, ao contrário do LNG (que só resfria e esquenta o gás), modifica a composição química do gás e o transforma em líquidos: Naphtha e Diesel de alto valor. A tecnologia utilizada é alemã e foi inventada nos anos 40’s, e chama-se Fischer Tropsch. O custo da planta é maior, $500/ tonelada por ano, em comparação ao LNG, de $200, em compensação, por não requerer navios especiais, o transporte é mais barato (um navio de LNG de 135.000 m3 custa US$ 210 milhões, enquanto um tanker comum, da ordem de US$ 55 milhões).

Health and Safety
Andrew Andamczyk
Este especialista da Dupont discorreu sobre segurança. Comentou que, ainda hoje, 2 milhões de pessoas morrem anualmente no mundo, em decorrência de acidentes de trabalho ou por doenças relativas ao trabalho. Achei impossível. Estima-se que 4.5% do GDP mundial se esvaem devido ao mau gerenciamento da segurança. Apresentou a pirâmide dos acidentes: 30.000 atos inseguros podem causar 3.000 cuasi-acidentes, levando a 300 ocorrências de ferimentos, 30 acidentes graves, e 1 fatalidade, mais ou menos esta é a proporção. O objetivo das normas de segurança seria atacar a base da pirâmide, caminhando na direção da fatalidade zero. A grande maioria (96%) das causas de acidentes recai no comportamento das pessoas, apenas 4% são causados por más-condições de segurança.
O momento mais interessante foi uma prática de classe em que ficou claro que as pessoas têm uma idéia equivocada sobre responsabilidade. Apresentaram-se situações e perguntava-se quem seria o responsável pela ação corretiva: nós mesmos, nosso chefe ou “o pessoal da segurança”. Invariavelmente, a maioria das respostas era a última opção só que a boa norma manda que na verdade, o “pessoal da segurança” tem apenas que ditar normas e conferir que sejam cumpridas. Muitas vezes em que ficamos, comodamente, esperando alguém agir, na verdade caberia a nós mesmos fazê-lo.
As Crenças e Princípios da boa gestão de segurança: qualquer acidente pode ser prevenido, prevenção é responsabilidade dos gerentes, auditorias gerencias são essenciais, o envolvimento do empregado é essencial, trabalhar com segurança é condição de emprego, treinamento em segurança é essencial.

An Introduction to the International Oil and Gás Business
Paul Steven
Paul é renomado professor da Universidade de Dundee, no Centre for Energy, Petroleum and Mineral Law and Policy. Discorreu sobre a história da indústria de óleo e gás.
Apresentou o conceito de “Feast or Famine”, que caracteriza nossa indústria, mais ou menos a história das vacas gordas e das vacas magras, o vai-e-vem, o seu caráter cíclico. Isto faz com que os preços sejam extremamente voláteis. E os custos também: exemplificou com um gráfico sobre custo de frete de tankers, que ultimamente está nas alturas, entre 50 e 70 mil dólares por dia, acompanhando o preço do produto.
O conceito de integração vertical sagra pela indústria ao longo da sua história, de variadas formas, migrando ciclicamente de um tipo para o outro. Uma companhia com integração vertical operacional (IVO), produz petróleo, vende para suas próprias refinarias, que vende os derivados para sua própria rede de distribuição; uma companhia pode ter integração vertical, mas não operacional, apenas financeira, estando presente em todos os segmentos da indústria, porém, buscando os mercados para comercializar seus produtos, tanto o petróleo cru, como os derivados.
Apresentou os ciclos dos 2 tipos de verticalização, viciosos ou virtuosos;
  • Operacional: i. Pequeno número de transações Arms-Length, causando falta de transparência, poucos contratos de longo prazo e ausência de mercados de papéis, levando a ii. mercados restritos e ineficientes; com iii. altos custos de transações de mercados, que inibe a competição, mascara resultados fiscais, restringe a informação, levando a que iv. todos usem IVO, daí i. 
  • Financeira: i. Grande número de transações Arms-Length, propiciando grande transparência, muitos contratos de longo prazo e crescimento dos mercados de papéis, levando a ii. mercados abrangentes e eficientes; com iii. baixos custos de transações de mercados, que incentiva a entrada de outros atores, reduz possibilidade de fraudes fiscais, liberando informação, levando a que iv. poucos usem integração vertical operacional daí i. 

Apesar de aparentemente se tratarem de ciclos fechados, a indústria migra de uma fase de muita IVO para outra de pouca IVO e, na verdade, há companhias dos 2 tipos sagrando pelos mares do petróleo.
Passou depois a elaborar sobre o caráter global do mercado de óleo: o fato de o óleo poder se transportado facilmente, faz com que os fornecedores mudem de local de venda, dependendo do preço que oferecem, claro que dependendo dos custos necessários para tal mudança. As vantagens principais do óleo: apresenta economias de escala e guarda grande conteúdo de energia, quando comparado a demais combustíveis.
Várias são as razões para o preço elevado de óleo no momento, temor de escassez, demanda inesperada, baixos estoques, desempenho pobre dos países não OPEP. Até psicologicamente, há contribuições: o alto preço da gasolina nos USA, causado por restrições das refinarias, portanto, é o sentido inverso do que se acha. Os traders ficam assustados e acabam puxando o preço para cima. 
Há sinais cíclicos que impelem para o alto (criação de estoque estratégico, acompanhamento da tendência do GDP,  preocupações quanto à produção russa, o fator China), mas, também, há claros sinais de mudança estrutural, como a desvalorização do dólar, as pressões orçamentárias, a política das IOCs de repagar os investidores ao invés de reinvestir, falta de investimento das NOCs (na seu eterno dilema de ser ou não ser agente da causa social de seus países), o retorno das faixas de preços da OPEC.
Segundo Dr. Stevens, tudo isto leva a crer que a elasticidade dos preços de petróleo mudou. Segundo ele, ainda há a ameaça de um novo choque e os próximos 5 a 10 anos serão comandados por preços maiores que 35 Usd/bbl.

Gerenciamento Inter-pessoal
Mark voltou a comandar o show e apresentou algumas técnicas de como avaliar seu chefe e seu subordinado, quando é bom centralizar ao invés de delegar, dependendo do perfil de seu funcionário, como requisitar coisas a seu chefe e outras técnicas, que prefiro guardar para mim,  para usar quando necessário. (hehehe)
           
                                   

Mini MBA - Commercial Interface


CWC - Oil & Gas Mini MBA
Londres - Abril de 2005

Origem e Introdução (link)


Os Capítulos (clique nos links)
3. Managing the Commercial Interface (Este)

O professor Rob Maguire (faltam-me dados sobre ele) discorreu sobre a era da terceirização, basicamente, e como devemos lidar com ela. Apesar de os exemplos não serem muito ligados à indústria do petróleo, certamente, alguns eye openners foram apresentados. Começou por dar exemplos de como o mundo corporativo está cada vez mais concentrando em seu expertise e delegando tarefas menores para serem executadas por outrem. Exemplificou com empresas aéreas, nosso relacionamento com os diversos serviços prestados em uma viagem, quando pensamos que estamos lidando com a empresa, mas, na verdade, escondido atrás do uniforme, está um funcionário empregado de uma prestadora de serviços (the vendorisation of business). 

Ressaltou que hoje em dia, com essa febre de terceirização, uma empresa expõe sua marca quando entrega a responsabilidade de pontos importantes de seu produto final a uma empresa prestadora de serviços que não tem os mesmos níveis de exigência de qualidade que os seus; daí, a necessidade de definição clara de especificações e controle (exemplo Perrier, que perdeu boa parte de seu market share devido a uma falta de limpeza de um de seus engarrafadores, que era contratado).

        É claro que também lançou mão de diversas matrizes 2x2, uma delas, em que se plota o custo da compra de um bem ou serviço, contra o a importância que o bem ou serviço tem para os objetivos da organização ou, o risco a que estamos submetendo a corporação ao adquirirmos o mesmo.

Assim, produtos e serviços no quadrante Estratégico merecem total atenção da corporação. Desempenho dos provedores tem que ser acompanhado e controlado de perto sob pena de colocarem em risco os resultados esperados. No quadrante Crítico, a negociação de descontos e preços não é fundamental por ser o custo baixo, entretanto, face ao risco para o negócio, imagem, requerem contratos robustos, com planos de contingência. No quadrante Oportunidade, que, juntamente com o Estratégico, representam cerca de 80% dos dispêndios da empresa, face ao baixo risco, temos a oportunidade de experimentar em grande escala, alavancando a posição da organização no mercado. No quadrante Eficiência reside um grande número de pequenas compras, que tomam nosso tempo, mas, infelizmente não se pode viver sem elas.

Em exercício prático sobre análise de proposta de fornecedores numa concorrência, vimos a importância de se quebrar (fazer um break-down) a especificação para poder-se analisar os pontos fortes e fracos de cada uma. Chegamos à conclusão que, nem sempre, a empresa com menor proposta tem menor qualidade. Mesmo assim, uma investigação sobre as características de cada proposta, pode levar à contratação de um preço total, ainda menor que o mínimo.  

Sábia é a empresa que consegue um equilíbrio correto entre o que mantém fazendo por si e o que entrega para outros fazerem. E quando decide por terceirizar, tem que ser bem clara nas especificações, firme nos controles, sob o risco de termos que acabar pagando mais pelo mesmo serviço que fora contratado. Não se pode deixar os provedores abandonados, admitindo que eles entregarão o que queremos ao final do contrato Os provedores tem que ser submetidos aos mesmos rigores que os empregados da empresa. Uma boa forma de minimizar riscos é atrelar desempenho com recompensa.

Mini MBA - Financial Awareness


CWC - Oil & Gas Mini MBA
Londres - Abril de 2005


Os Capítulos (links)

2. Essential Financial Awareness - Este

Não vou aqui ficar descrevendo as técnicas aprendidas neste módulo. Prefiro me concentrar no modo como foram apresentadas. O professor Chris Dickins é contador por formação, trabalhou na indústria (já foi diretor) e no mundo acadêmico (já foi reitor) e hoje é consultor e professor de finanças ao redor do mundo. Sua técnica didática é toda baseada na necessidade de desmistificar a fama de que Finanças e Contabilidade são ciências herméticas, difíceis de serem entendidas por simples mortais como os engenheiros, os geólogos e técnicos em geral. E nisso, ele foi um mestre!

Ele é ciente que, num mundo competitivo, um profissional, seja de que área for, tem que ter um mínimo entendimento dos aspectos essenciais daquelas duas ciências. Toda empresa, por mais técnica que seja, tem seu desempenho traduzido em números e depois organizado na forma de relatórios financeiros. O principal objetivo deste módulo é fazer com que os alunos desenvolvam alguma capacidade de ler e avaliar estes relatórios, de forma a retornar para suas empresas como um gerente melhor equipado para produzir melhores resultados, sem muitos traumas.

Chris foi perfeito ao apresentar fontes de financiamento e suas aplicações e usos, dando o caminho para se entender a estrutura de um balanço, seu passivo e seu ativo. Insistiu na essencial noção de que uma empresa é uma pessoa jurídica distinta dos provedores de capital, daí explicando definitivamente porque o lucro no final do exercício é um passivo, não um ativo! Passou de forma suave a explicar o segundo relatório financeiro importante: a demonstração de resultados, e a migração entre eles: isto é uma despesa ou um investimento, um lucro ou um exigível. Clarificou o conceito de tangível e intangível, a noção de depreciação e amortização, aproveitando a deixa para introduzir a diferença entre caixa e lucro: caixa é fato, lucro é uma opinião. Segundo ele, um bom contador (ou do mal!) pode produzir o resultado que seu chefe quiser, o que não se pode esconder é o caixa, em suas diversas formas, que é o que realmente diz se a empresa está saudável ou vai quebrar. Apresentou uma notável analogia com uma banheira da água com a demonstração de resultados: o nível d’água é o valor da empresa, balanço entre o lucro (líquido!!!) que vem da torneira e a soma de impostos, juros, depreciação e amortização que saem pelo ralo.

Depois, passeou pela determinação do WACC, a relação entre Debt e Equity, alavancagem financeira. E, pena, espanou a tradicional pergunta: como se determina o Cost of Equity? Disse que, no MBA de verdade, dedicam dois meses só para isso.... vou ter que aguardar o meu!

Depois, os tradicionais exercícios de elaboração de balanço: “Abra-se uma empresa com 100 de capital, compre-se um edifício por 80, pegue 60 emprestados num banco e coloque no caixa....”. Depois para a demonstração de resultados e caixa: “Compre matéria prima para produzir, produza seu produto por 10 e o venda por 20 com 2 meses para receber” e assim por diante.  Faz muito tempo que não fazia um exercício teórico, posso estar sendo parcial e afetado pelo momento mas, sinceramente, não me lembro de ter sido assim tão claro. 

Passou por valor do dinheiro no tempo, taxa interna de retorno, tudo aquilo que sabemos de cor. Aplicações à indústria de petróleo, suas particularidades, sem novidades para mim, mesmo assim, proveitoso.

Isto tudo, sem contar seu excelente bom humor, foram dois dias perfeitos.



quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Mini MBA - Estratégia e Mudança


CWC - Oil & Gas Mini MBA
Londres - Abril de 2005


Os Capítulos (links)

1. Estratégia do Negócio e Gerenciamento da Mudança (Este)
2. Essential Financial Awareness
3. Managing the Commercial Interface
4. The Speakers


1. Estratégia do negócio e Gerenciamento da Mudança

Eisenhower box urgent important matrixDescobri no curso que a vida dos grandes gurus de gerenciamento e estratégia se baseia em produzir uma matriz de posicionamento 2x2 (ou 3x3). Acho que fomos apresentados a duas dezenas delas. A primeira apresentada foi a de um tal S. Covey, que posiciona a atividade de gerenciar tempo e prioridades segundo dois eixos, Importância x Urgência. Se o seu tempo é dedicado a coisas pouco urgentes e pouco importantes, trata-se de tempo perdido. Do outro lado da diagonal se encontra o tempo destinado a administração de crises, em que se tem que entregar um projeto no prazo e com resultados. No quadrante urgente, mas não importante estão as atividades pouco produtivas, representadas por emails, reuniões e conversas telefônicas. É função do gerente dedicar mais de seu tempo ao quadrante diagonalmente oposto a este último, o das atividades importantes, mas não urgentes, quando o gerente se preocupa em planejar e preparar-se para o futuro: o quadrante é nomeado Qualidade. A mensagem foi clara: o dia a dia atribulado do gerente faz com que ele fique mais dedicado a apagar incêndios do que a pensar em como vai ser o futuro.


Mark volta e meia pegava um cérebro de borracha ou mostrava um slide de Einstein para lembrar que a função do gerente é pensar. E para não ficar pensando em nada, é necessário que se saiba o que se quer, aonde se quer chegar. E, de preferência, com criatividade, pois é insano pensar que fazendo sempre as mesmas coisas sempre do mesmo modo, se conseguirá resultados diferentes.  Insistiu que um gerente tem que saber a hora de se afastar, para poder ter uma visão melhor do que está ocorrendo: ele usou muito, a simbologia do helicóptero, e sua visão ampla sobre uma área no chão. Em algum momento do curso, um colega nigeriano usou uma expressão que diz a mesma coisa: He is too close to the trees to see the forest! Nunca havia ouvido e vou guardar para sempre. Mark relembrou a diferença entre os semicérebros esquerdo e direito, enfatizando que uma pessoa mais desenvolvida de um lado não é melhor nem pior que outra com o lado oposto mais desenvolvido; um sujeito extremamente lógico, que procura as razões e se baseia apenas em fatos não é necessariamente de menos ou mais valor que um outro intuitivo, que tem uma visão espacial e se guia por imagens, assim por diante. Importante é, até mesmo, buscar um equilíbrio. E as corporações podem e devem se aproveitar de uma combinação destas características.

Ainda na linha de pensar/idéia/criatividade, aconselhou-nos a evitar bloqueios mentais (mental blocks), dando variados exemplos de idéias e pré-concepções que um dia foram respeitadas máximas, porém que a prática, a vida real, acabou por provar que eram imbecis. Acabou por fornecer uma divertida lista de “31 modos de se acabar com uma idéia”, invariavelmente passando pela negatividade e descrédito e a última delas, brilhante, diz: “Vamos montar um comitê” e comenta: comitês (posso traduzir por grupo de trabalho?) são cul-de-sac em que idéias são enroladas até que pacificamente ficam estranguladas e morrem. Em outro momento, apresenta algumas estratégias para desenvolver o pensamento criativo, tipo: pergunte “Por quê?” e “E se ...”, mude seu ponto de vista, veja de longe, faça o inesperado, seja insatisfeito, coisas assim.

Agora, falando sobre corporações, um notável diagnóstico cultural foi bolado por Charles Handy, mais um daqueles gurus. As corporações podem ser divididas em 4 grupos, nos eixos Formalização x Centralização: i. Club (símbolo: Zeus): corporações centradas no comandante (exemplo, empresas familiares), ágeis, com muita iniciativa, sem muito papel, onde se contrata pessoas com determinados perfis, sem muita variação; ii. Role (símbolo: Apolo): geralmente grandes corporações, previsíveis, com procedimentos claros e responsabilidades bem definidas, com muitos gerentes; iii. Task (símbolo: Palas Athena): empresas focadas na solução de problemas (arquitetura, jornalismo), no trabalho em equipe, comandadas por líderes, voltada para o cliente, flexíveis, detestam rotina; iv. Person (símbolo: Dionísio): grupos de indivíduos, sem organização, acadêmicos, estrelas, difíceis de gerenciar (faculdades, centros de pesquisa). 

Mais interessante que a teoria foi a prática, que demonstrou o poder da estatística. Fizemos um questionário em que se procurava definir a companhia em que trabalhamos, segundo o que a companhia é e, depois, segundo nossas preferências pessoais. Tínhamos que rankear, em cada pergunta, 4 afirmações sobre, por exemplo, o que é um bom chefe, o que é um bom subordinado, o que controla ou influencia as pessoas, como a organização trata o indivíduo, assim por diante, segundo as duas visões. Depois, contagem dos pontos, colocação dos pontos num grid, Tipo de Companhia x Visão da Companhia e Visão Individual. Depois, contagem, dentro do universo da sala de aula, dos tipos a que chegamos. Éramos uma turma de 2 Zeus, 9 Apolos, 4 Athena e 2 Dionísio. Foi, então, mostrado um filme em que o próprio Handy explica os diversos tipos de cultura e exemplifica num grid, com os resultados totalmente proporcionais aos que nossa turma obteve. 

Passou-se a comentar sobre algumas histórias corporativas de sucesso, débâcle e reação, como a Intel (do processador Pentium) e seu approach de procurar o cliente final que era o usuário do computador, pulando um elo da supply chain, o cliente intermediário, que era o fabricante do computador, que, no final, ficou pressionado pelo usuário a comprar o processador da Intel; da Dell computadores, com sua prática de estoque zero, “você encomenda que eu monto o comutador para você”; da Nokia, que roubou o lugar da Motorola com um design menos fashion, mas, mais confiável; da Gap, que não respeitou seus clientes tradicionais mudando a linha de produtos e, em outro movimento falho, acabou vendo-se competindo consigo mesma em suas sub-lojas Old Navy, teoricamente para atingir mais populares; da inglesa Dyson, que acabou com a super tradicional Hoover, do ramo dos aspiradores de pó com uma simples idéia, acabar com o saco descartável e hoje tem 50% do mercado americano; da IBM, gigante dos computadores, que se viu em maus lençóis por demorar em entender a onda micro, foi ao fundo do poço e retornou com ações de um CEO que basicamente quebrou uma série de paradigmas e enfrentou a cultura corporativa.

Falando em sucesso e fracasso, um interessante gráfico procura mostrar o valor de uma corporação com o passar do tempo. 

A fase AB, de crescimento acelerado, geralmente é seguida por uma fase BC de estabilização. E, pior, muitas vezes de acomodação, quando se desliga da busca por resultados melhores, repousa nos louros do sucesso e, às vezes, não percebe uma ameaça que acaba por derrubar seu valor (fase CD). Dependendo da velocidade de reação e da qualidade da mudança, a empresa pode estancar o sangramento, DE e, quem sabe, voltar a crescer, EF. O segredo está em quando o comando da corporação percebe que está na hora de mudar, de dar uma guinada. 

Muitas companhias passaram por este ciclo completo, por exemplo a IBM. Só que a fase BC foi muito longa, o sucesso era enorme, a arrogância fazia com que ninguém pensasse que isto poderia acabar um dia. Veio a onda dos micro-computadores, o valor da IBM despencou. Resolveram trocar o comando, somente em D, quando chamaram o CEO da Nabisco, Lou Gerstner, aparentemente sem nada a ver com o negócio de computadores. Lou percebeu que tinha em mãos um excelente quadro de profissionais muito bem pagos e acomodados. Notou logo que o problema era cultural, a estratégia era voltada 100% para tecnologia e 0% para clientes e competidores. Os gerentes que fizeram resistência à mudança (didn’t take the bus) foram dispensados. Mudou o foco para o mercado, fez algumas aquisições de software (Lotus) e network companies (Tivoli). Acabou com a cultura de procedimentos por procedimentos.  Hoje, a IBM é novamente grande, o ponto F, ou perto dele. Outras companhias percebem a hora da mudança antes da débâcle, portanto poupando a fase de dor. E, finalmente, outras nunca conseguem sair do buraco.

Logo após, Mark fez uma “atividade de campo”, sem explicar o porquê. Pediu para sairmos para uma sala ao lado e nos dividirmos aleatoriamente em pares. Pediu que olhássemos um para o outro (so embarassing), depois que virássemos de costas e trocássemos 6 coisas em nossas aparências, depois que virássemos de frente e descobríssemos o que mudou no outro! Depois do diagnóstico, pediu que virássemos novamente e trocássemos mais 8 coisas. No começo foi estressante, pois procuramos alterar coisas que fossem difíceis para o outro perceber, tipo desabotoar 1 botão, mudar a carteira de bolso, etc. Já na segunda vez, até pela falta de opções, coisas mais radicais foram tentadas, como, por exemplo, tirar o cinto e colocar no pescoço. Segundo o professor, a coisa toda foi para mostrar como as pessoas reagem a mudanças, coisa que acontece na vida profissional de muita gente. No primeiro movimento, uma insegurança por não se saber a razão, a pergunta mais comum era “Por quê?”, caracterizando a falta de comunicação que muitas vezes ocorre, corporativamente. No segundo movimento, veio o espanto pela nova mudança e a exclamação generalizada foi “O que, mais uma?!!! Agora não dá mais para mudar!” mas logo embarcou-se na mudança com criatividade.

Quando se decide que é hora de mudar, há que se obedecer a uma série de pré-requisitos: um corpo gerencial unificado, com uma visão comum, tem que saber aonde deseja chegar, tem que ser aberto a analisar as preocupações dos contrários a mudança, aproveitar o que se tem de melhor e puxá-los para o time, aplicar cronogramas realistas, ser sempre aberto nas comunicações para evitar desconfiança, tem que ter os sistemas e recursos disponíveis para mudança, elaborar um programa de prêmios que possa ser cumprido em caso de sucesso, medir continuamente o progresso da mudança. Para graficar este processo, mais uma daquelas matrizes 2x2, em que se plota Interesse com Poder, para se caracterizar as pessoas envolvidas na mudança e o que fazer com elas, ignorar, tentar mudar suas idéias, caso tenham pouco poder e não estão nem aí, dar mais poder a quem está interessado, mas não tem poder, e, até mandar embora, quando é um caso sem volta, caso dos que estão sem interesse, mas têm poder.

Na linha de mudanças, Mark começou, então, abrir sua caixa de ferramentas estratégicas, cada uma elaborada por um dos gurus da estratégia. Qualquer mudança só pode ser bem sucedida se bem a empresa e o mundo que ela atinge. Passou a mostrar várias ferramentas de diagnóstico, começando pela tradicional SWOT (forças, fraqueza, ameaças, oportunidades), fez-nos plotar o risco/benefício para o negócio de uma determinada ameaça/oportunidade contra a habilidade da empresa para derrotá-la/ aproveitá-la. Interessante que, quando pediu que mapeássemos forças e fraquezas, tive dificuldades com as últimas, só consegui listar as forças. Mark disse que isto é muito comum e que o outro lado aparece quando se coloca esta tarefa para uma discussão em grupo. Recomendou depois que se mapeássemos as influências externas ao nosso negócio, usando a técnica PEST: Políticas / Econômicas / Sociais / Tecnológicas.


Para um rápido diagnóstico sobre a lucratividade potencial de sua indústria, Mark apresentou-nos mais um Guru, Michael Porter que recomenda avalie-se suas 5 forças: uma interna, i. em que avalia a rivalidade entre os competidores existentes (diferenciação de produtos, diversidade entre eles) e 4 externas, em que tenta se mapear ii. a ameaça da entrada de novos competidores (quais são as barreiras para impedir que entrem), e iii. a ameaça do aparecimento de produtos substitutos que venham a roubar seu mercado (identificando tipos) e em que se tenta avaliar iv. o poder de barganha de seus clientes e v. de seus fornecedores (concentração, volume, informação). 

Ainda sobre lucratividade, mais uma interessante matriz 2x2, proposta pela BCG (não a vacina, mas o Boston Consulting Group), em que se procura identificar como é o valor de seu portfolio, plotando a Taxa de Crescimento de seu Mercado com seu próprio market share dentro dele. A análise desta matriz permite decidir o que fazer, que decisões tomar quanto a seu negócio, dependendo da posição em que se está: Star x Dog, Problem Child x Cash Cow (antes, quando eu ouvia alguém falar Cash Cow, pensava que estava pronunciando mal). Eu ia traduzir, mas desisti nesta última!

Bem, outras ferramentas foram apresentadas, de passagem, COPS Framework, Porter’s Generic Value Chain, a Roda Estratégica,  Andy Grove’s Top Down – Bottom Up mattrix, enfim, zilhões de técnicas que não vou descrever aqui até porque não entendi muitas deles, no exíguo tempo em que foram apresentadas. Apresentou também o Diagrama dos 7 S’s de McKinsey (não interprete mal, ainda mais porque se dividem entre 3 Hard S’s e 4 Soft S’s).

O que interessa é que uma empresa viva, atenta e que se preocupa com seu futuro tem que, a cada momento, saber onde se está, onde se quer chegar e o que se tem que fazer para chegar lá. Marcou-me uma pergunta do professor: se você está dentro de um carro e não sabe para onde vai, e agora? (so what?).

Mini MBA - Introdução


CWC - Oil & Gas Mini MBA
Londres - Abril de 2005

Resultado de imagem para mark thomas consultingO curso foi ministrado pela CWC Associates em Londres, de 4 a 11 de abril de 2005. O comando do curso e o ministério de 60% das aulas ficaram a cargo de Mark Thomas, consultor de negócios, autor de 4 livros, que já atuou em mais de 30 países. Ele ficou 100% do tempo conosco. Sua empresa chama-se Perfomance Dynamics Management, mas isso não vem  ao caso, é apenas mais uma! Importante é que o Programme Director (nome oficial da posição) faça a diferença. E ele fez! Mark foi um fator crítico de sucesso do curso. A turma era de 16 pessoas, das mais várias partes do mundo, todas em funções gerenciais. O objetivo do curso era fornecer, em DUAS semanas, um Sumário Executivo do que é ministrado em um MBA real, durante DOIS anos. Foi isso que me atraiu. Vivo envolvido pela pecha de que não tenho Mestrado, muito menos Doutorado, nem menos um MBA, pois sempre estive envolvido em muito trabalho, nunca tive coragem de pedir um curso de longo prazo como esses. Inda mais na Área Internacional, aonde teoricamente já se chegaria com essa bagagem. Quem mandou ser um dos agraciados com a oportunidade logo após terminar o Curso de Engenharia de Petróleo?

Então, esta era uma forma de ver do que se trata.

Mark disse que ele ficaria satisfeito se, ao final do curso, cada um de nós saísse com uma visão elaborada sobre os desafios presentes e futuros de nossa indústria, com uma base para que nos tornássemos “a business person”, e com noções mais claras de como liderar pessoas. Acho que ele conseguiu. Com uns poucos acidentes de percurso.

Para ambientar a turma, Mark usou uma técnica interessante, que já contei eum um dos capítulos do Projeto Caminhar em Londres, neste link.

Logo na abertura, Mark nos informou que não haveria leitura noturna, como acontece com programas do gênero. Não posso dizer que fiquei triste, porque isso possibilitou que todas as noites e a fim de semana incluso no período fosse dedicados a caminhar por Londres, e conheci muitos aspectos da cidade que foram novidade para mim.

Registrei tudo, e agora coloquei organizado, com imagens, em 20 posts deste blog, que podem ser acessados deste link!!!
https://blogdohomerix.blogspot.com/2019/10/caminhar-em-londres-o-projeto.html

Capítulos do Mini MBA (clicar nos links)


1. Estratégia do Negócio e Gerenciamento da Mudança
2. Essential Financial Awareness
3. Managing the Commercial Interface
4. The Speakers





Caminhar em Londres - o projeto

O que um elogio faz...
Ao compartilhar minha experiência de sair de Londres 
e chegar em Lagos, uma amiga no Facebook disse: 
"Viajei contigo! Adoro o seu jeito de escrever, amigo! 
Adoro! Todos os pequenos detalhes muito bem redigidos, 
de forma harmoniosa e cadência impecável." 
PRONTO! Foi a senha para eu organizar aquele diário em posts.
No total foram 17 posts de relatos e 3 de introdução!



Foi em Abril de 2005



Minha empresa me designou para um curso chamado Mini-MBA, ministrado por uma instituição chamada CWC. Duas semanas, em Londres. Parecia bom.

E foi, ótimo! Não somente pelo curso em si, mas pela notícia que tivemos ao final do primeiro dia: 
No Homework, No Case Studies, No Reading. 

Nem na primeira nem em nenhuma noite.

Naquele momento, decidi que tiraria as noites para fazer o que há de melhor para se fazer em Londres: caminhar!

E olha que andei à beça. Claro que minhas andanças vez por outra tinham o rock and roll como pano de fundo. Como não poderia deixar de ser. Mas captei outros pontos de interesse. E claro que não foi apenas caminhando: usar o sistema de transporte público de Londres é um prazer inenarrável.

E fiz diários sobre as caminhadas diariamente, na verdade, noturnamente, que enviava para minha família saber de minhas andanças.

São esses diários que disponibilizarei, em doses home(r)opáticas para vocês, como fiz no Projeto 'Um Pouco de AWoL' (link), com as experiências de 4 anos vivendo numa cidade americana!

Batizei este projeto de 
CeL - Caminhar em Londres.

Qual é a diferença dos dois projetos? Em Houston, eu vivi; em Londres, eu andei. Então, não espere nada sobre o ensino ou o trabalho, como no primeiro, por exemplo.

Mesmo assim, espero que lhes seja de interesse!

Abraço

Homerix

Próximas atrações:

Intro 1:  A terra do rock

terça-feira, 29 de outubro de 2019

Walt Disney, um Deus do Entretenimento




Olá! Caso se interesse pelo livro,
deixo aqui o Link Amazon 


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Lembro-me quando via aquele senhor de bigodinho apresentando seus programas, quando chegavam aqui no Brasil na TV Excelsior. 

Acompanhei, pela TV os clássicos dos anos 30, 40 e 50, os Mickeys e Patetas, Branca de Neve, Pinnochio, Bambi, Dumbo, Peter Pan. Via no cinema o que chegava de novo, Mary Poppins, Ilha do Tesouro, Vinte Mil Léguas Submarinas. E lia muitos gibis do Tio Patinhas e seus sobrinhos. Depois cresci, virei pai e vi tudo de novo, e acompanhei a virada da computação gráfica, e levei os filhos aos parques de Orlando e agora, ainda acompanho no crescimento do conglomerado, que só cresce, cresce, cresce...

No livro, descobri como ele se envolvia em tudo, e como ele foi pioneiro em vários breakthroughs da história do entretenimento, como colocou som no desenho, colocou música no desenho com som, colocou cor no desenho com som e música, e como criou o primeiro longa-metragem do cinema, desempenhando ele próprio  para seus animadores como queria que atuassem cada um dos Sete Anões da Branca de Neve, e mais tarde como abraçou a TV, desconsiderando-a como ameaça ao cinema, e como investiu na cor para a TV, e como imaginou um parque de diversões como nenhum outro, gigante, cheio de atrações temáticas, e como se tornou a pessoa mais famosa do mundo, os mais de 30 Oscars que ganhou, mas também os problemas que teve com os sindicatos, e o combate ao comunismo, e finalmente, como deixou a semente para o maior de todos os parques que seria inaugurado na Flórida, alguns anos depois de sua morte, de câncer no pulmão, fumante inveterado que sempre foi, aos 65 anos de idade....

Enfim, uma leitura animada e valiosa!

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

CeL - This is Africa

Capítulo 17

This is Africa
Este é um mais um Capítulo do Projeto 

Capítulos anteriores:

Intro 1:  A terra do rock
Capítulo 1: CeL - Hyde Park
Capítulo 2: CeL - Abbey Road
Capítulo 3: Cel - Na Academia, a visão
Capítulo 4: CeL - O Curso

Capítulo 5: CeL - Albert Hall, Regent, Oxford, Picadilly
Capítulo 6: CeL - Logradouros Project
Capítulo 7: CeL - Animals sem o porco
Capítulo 8: Cel - Beatles Walk
Capítulo 9: CeL - Tate Modern

Capítulo 10: CeL - London Eye
Capítulo 11: CeL - The Famous Square Mile
Capítulo 12: CeL - Mais Beatles Walk
Capítulo 13: CeL - East End - A Brodway Londrina
Capítulo 14: CeL - Farewell Dinner Turma Mini MBA
Capítulo 15: CeL - Australian Pink Floyd
Capítulo 16: CeL - Do Vinho ara a Água
Capítulo 17: CeL - This is Africa


A chegada no Aeroporto Internacional de Lagos foi tranqüila.  O agente lá estava para me receber e abrir os caminhos na imigração. As malas demoraram 20 minutos para chegar (e chegaram!), esperava bem mais, pela experiência dos colegas. Entrei no carro que me levaria ao hotel. Um carro cheio de luzes seguia à frente do meu carro para abrir os caminhos. De vez em quando, o motorista da frente chamava o meu com a mão para ficar mais próximo, não deixando muito espaço entre os carros. Uma certa hora, meu motorista deu uma diminuída, fiquei assustado, pois o carro da frente se afastou, entretanto era apenas uma lombada que ele sabia existir (calma!). Pelas ruas, pobres, sem calçada, muitos nigerianos caminhavam, outros subiam em vãs em péssimo estado apinhadas de gente, deve ser o único meio transporte do povo. Muitos estavam em roupa de festa, aquelas todas coloridas, afinal era sábado. Sinais de trânsito eram ignorados, sempre que possível. Cerca de 25 minutos de viagem, de repente, o comboio entra em uma rua de terra, cheia de buracos, pensei: é o fim. Nada disso, apenas era a rua do Hotel Sofitel. Claro que eu esperava que, ao menos, o hotel ficasse numa rua de asfalto. O prédio, novo, é de 3 andares. A recepção, nada de balcão, apenas uma mesa, dois atendentes. A diária, 300 dólares! O quarto, muito bom. Nem passaram 3 minutos, o telefone tocou, era Samir dando boas-vindas e convidando para jantar em sua casa, dizendo que mandaria a “carruagem” me pegar às 8:00. 

Soneca, banho, 8 em ponto, chegaram, Mr. Venturrrrá. No caminho de 10 minutos, já escuro, notei que iluminação de rua é coisa raríssima. Destacava-se a iluminação exterior de algumas casas. Chamaram-me a atenção 3 “barbearias” em plena atividade noturna, na verdade, uma parede de rua, descoberta,  com uma luz fluorescente, uma cadeira, um barbeiro e um cliente. Diferente! A casa de Samir, bem grande, foi conseguida devido à fusão da Total com a Elf, 2 companhias francesas, daí, dois Gerentes Gerais viraram um, sobrou uma casa. Segundo Samir, era uma oportunidade imperdível, pois, conseguir uma casa em Lagos que já esteja operacional, funcionando, pronta para morar, com gerador gerando, seguranças ‘segurando’, cozinheiro cozinhando, poço de água ‘aguando’, ar condicionado ‘condicionando’, enfim, tem um valor inestimável! Levaria meses para conseguir algo assim. 

Samir tem 2 filhas do primeiro casamento, 20 e 18 anos, que estão no Rio. 
Sua esposa Eliane, advogada da Petrobras em licença, tem 3 filhos do primeiro casamento, um com 12 e dois com 9 anos (menino e menina) que estão aqui com eles, estudando em escola americana. Eliane deu sorte de não ser nigeriana do interior do país: há certas tribos em que, até pouco tempo atrás, quando nasciam gêmeos, um deles era morto, pois “É coisa do demônio!”. Para compensar, faziam uma estatueta parecida com a criança morta pois, de vez em quando, o irmão que fora poupado sentia saudades (!). 



O jantar, muito bom, foi preparado pelo cozinheiro do Benin. No papo, muitas histórias sobre as peripécias de se viver na Nigéria: 

  • o sempre surpreendente (para pior) relacionamento com os provedores de serviço, exemplo, ar condicionado quebrado, eles sempre vem em grupo (meia dúzia), olham daqui, dali, dão umas batidinhas no aparelho, na parede, confabulam entre si no dialeto local e nem sempre resolvem; perguntado sobre o motivo de virem em bando, a resposta é “Help to think, Madám!”; 

  • as dificuldades de se acostumar com o inglês nigeriano, não se incomodam com tempo de verbo, por exemplo, “I go airport” pode significar que vou, que fui, que estou indo, que irei, enfim, isso acontece principalmente com o povão que lida com serviços (o da galera formada é mais correto, um pouco!); 

  • o tempo que demorou para Eliane se impor, mesmo com os empregados, pois mulher e nada é a mesma coisa por aqui: só dão valor para o Master, ou Ogá (senhor, em Iorubá, a língua local). A esta altura, 4 anos por aqui, ela já aprendeu a lidar com todos eles, já respeitam a Madám; 

  • a dificuldade de se acostumar com os modos, exemplo, receberam um nigeriano para um jantar, conversavam, uma bela hora o senhor convidado pediu para Madám deixar o recinto pois precisava conversar a sós com Samir (!), depois, péssimos modos à mesa, derrubando 2 taças de vinho e completando com o palito de ouro que tirou do bolso e usou sem tentar cobrir a boca . 


Samir contou da segurança, da porta de ferro que isola o segundo andar da casa quando se recolhem, do Panic Button em vários locais da casa, a ser acionado quando Samir sentir-se ameaçado, provocando a chegada quase imediata de seguranças israelenses altamente especializados para proteger estrangeiros, enfim, a vida é em estado de alerta constante.

Resultado de imagem para nigeria traffic jam
É proibido um branco sair dirigindo pela cidade, muito inseguro, sempre se vai com motorista local. O trânsito é sempre terrível, ninguém obedece preferência em cruzamentos e por vezes ocorre o entroncamento, um carro impedindo o outro de cruzar, todo mundo pára, e ficam 5 minutos gritando uns com os outros até que aparecem 3 ou 4 negões para desentalar, movendo um carro que bloqueia outro no muque, coisa comum! É considerado o pior trânsito do mundo.



Sobre a história da malária, ele diz que a mensagem de boas vindas ao viajante é toda verdadeira, o tom duro é para deixar o viajante alerta. Na verdade, basta ter cuidado de não estar parado na rua (se for obrigado, melhor andar rápido) ao amanhecer e ao anoitecer, ficar sempre em ambiente refrigerado, enfim, não dar sopa para o azar. Samir já teve, as crianças também, Eliane, não. Segundo ela, dizem que quem foi picada de cobra como ela, tem uma certa imunidade, não comprovada, contou detalhes sobre seu envenenamento quando era criança, em um sítio, assustador, pois parece que o soro antiofídico tem uma chance de 30% de causar choque anafilático (!) daí eles não ficam aplicando a torto e a direito, ficam monitorando o sangue para saber a quantidade de veneno que a víbora injetou na mordida, no caso dela, tinha sido a bolsa toda, demoraram demais a aplicar, chegou a ficar em coma, e correu risco de amputar o pé, caramba! Samir diz que os sintomas da malária são evidentes, um cansaço absoluto que derruba. Um remédio dose cavalar e 24 horas depois, se está pronto pra outra. Eliane diz que o triste é ver a criança doente, caidinha e impressionante ver como a melhora é rápida. Enfim, aguardemos! Comentaram também que o custo de vida aqui é igual ou superior a Londres. Sempre que vão ao Brasil, voltam com todos os direitos de bagagem completos com víveres tupiniquins: feitas as contas, parece que dá para economizar uns trocados consideráveis. Na volta para o hotel, comecei a escrever este o segundo semanário, e o fiz até 4 da manhã.


Acordei às 10 no domingo e fui testar o fitness room do hotel. Pequeno e simples, porém bem equipadinho, duas esteiras, uma bicicleta, um step, alguns pesos e um Gladiator, aquele aparelho que tem múltiplas funcionalidades de musculação. Fiquei somente no step, por 55 minutos, enquanto assistia, pela BBC, a Maratona de Londres (bom ver imagens da cidade, agora com um conhecimento bem maior dela). Destaque absoluto da maratona, a corredora inglesa Paula Radcliffe, uma loira que fracassou miseravelmente na Olimpíada de Atenas, lembro-me como ela desistiu no meio do caminho. Desta vez, não teve pra ninguém, terminou em 2:17 horas, cerca de 5 minutos à frente da segunda colocada, uma romena que ganhara no ano passado. Interessante que vê-la correndo, lembrou-me muito o finlandês voador Emil Zatopek que, nos anos 50, venceu 2 maratonas olímpicas, além de várias provas de 10.000 e 5.000 metros, coisa dificílima em uma mesma competição. Zatopek corria com uma expressão de sofrimento que parecia que ia desabar nos metros seguintes. O mesmo, porém não tão intensivo, se vê na expressão de Radcliffe, que corre meio torta, mexendo a cabeça constantemente. Ao longo da corrida, iam mostrando alguns destaques de sua carreira: vencedora da mesma maratona em 2002 e 2003 e detentora da melhor marca mundial feminina em maratonas, 2:15 e qualquer coisa. Não se pode chamar de recorde mundial (a FIA não deixa), pois os percursos de cada maratona são diferentes uns dos outros. Na maratona masculina, ganhou o queniano de plantão, nenhuma novidade. O tempo foi de 2:08, ou seja, a diferença entre homem e mulher está em menos de 10 minutos: nunca foi assim, agora, Paula Radcliffe veio mudar aquele estado de coisas. Magnífica! 

Ao meio dia, pontualmente conforme combinado no dia anterior, Samir estava lá embaixo para me levar ao tradicional programa brasileiro: churrasco com outros expatriados! O local é o condomínio de Júlio e Terê, onde também moram Nicoletti e Ilei, todos chegaram na mesma época e escolheram o local em conjunto. Não conseguem picanha e outros cortes por aqui, não se pode importar carne, então tem apenas filet mignon, frango e costela de porco, muito bom! Cerveja gelada, caipirinha, dia ensolarado, banho de piscina, papo ótimo, passamos algumas horas bastante agradáveis. Samir disse que estão todos se mudando para um prédio de apartamentos novo, para que todos os expatriados fiquem numa mesma locação. Pena que vão perder aquele local, ponto de referência nos domingos. 

Era isto, não sei se terei tempo para continuar meus diários de bordo, portanto ficarão livres de minhas mensagens. Usarei as próximas noites para fazer um resumo do curso de Londres e também o relatório desta minha estada profissional em Lagos.



Kabôôô....