Esta canção finaliza o 1° LP do Álbum Branco
a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK
É uma de 8 canções com Saudade nível Tristeza
as demais 7 canções de mesmo Assunto e Classe, neste LINK
Atenção, canções com títulos em vermelho
são links que levam a análises sobre elas.
17. Julia (Dream Self Song by John Lennon)
John lamenta: "Metade do que digo não faz sentido algum, mas eu digo só para que você ouça, Julia. Julia, Julia, filha do oceano, me chama, então eu canto uma canção de amor, Julia!'"Mulher do mundo, Julia Lennon teve seu filho John e deixou com sua irmã Mimi, para criar, quando ele tinha 5 anos de idade! Aos 15 anos, John voltou a conviver com Julia, e tinha nela, não só uma mãe, mas uma amiga, com seu espírito jovial. Amante do Rock and Roll, que começava a despontar nos USA, ela ensinou a John os primeiros acordes musicais em um banjo. Extrovertida, andava com o filho para todos os lados e os amigos dele a adoravam, inclusive Paul.
Ela fazia coisas do tipo andar com óculos sem lentes, parar um transeunte e, no meio da explicação, começar a coçar os olhos através do aro... John a adorava! Tudo ia muito bem, até que o destino deu um duro golpe no rapaz: em Julho de 1958, quando atravessava a rua da casa de sua irmã, Menlove Avenue, para pegar um ônibus, Julia foi atropelada por um policial bêbado, de folga, sendo lançada a metros de distância, e morrendo instantaneamente, aos 44 anos de idade. John nunca se conformou e, 10 anos depois, fez esta primeira homenagem a ela, durante seu retiro espiritual na Índia, que materializou-se no Álbum Branco, com John tocando um lindo dedilhado no violão, que aprendeu lá, com o companheiro Donovan, e também usou em Dear Prudence, do mesmo álbum. Nenhum outro Beatle toca na canção. John faria outras duas canções no tema, e que foram lançadas em sua carreira solo, Mother (ma-ra-vi-lho-sa!!) e My Mummy's Dead (uau!).
Julia foi a primeira canção que John escreveu no retiro da Índia, no ashram do Maharishi em Rishikesh. À época, ele começava um relacionamento com Yoko Ono, e imediatamente viu nela uma figura matriarcal. E juntou na letra a expressão "Ocean child", que é o significado do nome da artista. Ela escrevia cartas a ele com imagens que o levaram a viajar na imaginação e escrever coisas como "seashell eyes" e "windy smile". Outra influência foi Kahlil Gibran, cujos poemas o inspiraram a escrever as lindas frases da introdução em nota única "Half of what I say is meaningless.." e de sua repetição melódica (Intro 2) em "When I cannot sing my heart, I can only speak my mind" lá no meio da canção. Após a Intro 1, que termina em "Juuuliia", o primeiro verso começa com uma sobreposição deste último "a" de "Julia" com o primeiro "Ju" de "Julia, Julia, ocean child, calls me". Essa mesma sobreposição ocorre também entre Verso 1 e Verso 2, e na segunda vez que a melodia da introdução é cantada, emendando com o penúltimo verso. Isso causou a necessidade de 3 linhas de vocal de John. Entre o Verso 2 ("Julia, seashell eyes, windy smile, calls me") e o Verso 3 ("Julia, Julia, morning Moon, touch me"), há uma breve ponte "Her hair of floating sky is shimmering, glimmering, in the Sun", depois vindo a citada Intro 2, e depois os versos finais, 4 ("Julia, sleeping sand, silent cloud, touch me") e 5(murmurado)! O resultado lírico é de chorar. A ocorrência de poucas ou quase nenhuma rima não impede a emoção do relato, brilhantemente desempenhado por um John emocionado. Fiz questão de colocar a letra toda, maravilhosa, que é completada com esta linda conclusão, de cada um dos 5 versos:
"So I sing a song of love, Julia"
Em que pese ter sido a primeira canção a ser escrita, Julia foi a última a ser gravada! Por incrível que pareça, ela só entrou no jogo porque duas canções, uma do próprio John (What's The New, Mary Jane?) e outra de George (Not Guilty) não chegaram a bom termo em suas gravações, e o álbum precisava de sua 30ª canção, então Paul incentivou John a oficializar a linda canção, ele não queria por ser muito lenta!! Além disso, Paul o convenceu a ir sozinho, sem mais ninguém, nem ele mesmo, que havia arriscado uma harmonização na demo que eles gravaram no fim de maio na casa de George em Esher, já com a letra definitiva. E foi assim, num domingo (!!), 13 de outubro, que a EMI estava a postos às 7 da noite para receber John e seu violão. Paul (que morava perto) esteve lá pra dar apoio e ficou um tempo indeterminado na sala de controle, o suficiente para ser decisivo. A canção era difícil. John ficou ensaiando mais de 4 horas (!!) até se sentir seguro para começar a gravar takes oficiais, que começaram perto de meia-noite. No meio do caminho, ele teve dificuldades, pensou em tocar de pé, e chegou a propor desistir do dedilhado e fazer o chakundum, imagina o desastre, perder aquele movimento tão delicado, que Paul disse que apenas John, entre eles, conseguia fazer. Então, começaram os takes, interessante que todo o ensaio fora feito em C (DÓ maior), mas os takes oficiais foram tocados em D (RÉ maior) com a colocação do CAPO no 2°traste do violão. Em meio a elogios de Paul lá da sala de controle, John fez um Take 2 quase perfeito, mas errou um pequeno trecho, chegou a sugerir que apenas se repetisse o trecho e depois a edição juntaria as partes boas, mas Paul o incentivou a tentar mais uma vez, e o Take 3 veio perfeito. Em faixa livre da fita desse take, John fez 3 linhas de vocal, por causa das três sobreposições de sílabas de "Julia", acima explicados. Por sobre seu violão original, John dobrou um segundo violão, a partir do Verso 1, o que mostra sua tremenda capacidade e, claro, o efeito das 5 horas tocando a mesma música! O efeito foi estrondoso! Outro efeito ótimo foi a dobra de seu vocal, em partes selecionadas. Um primor! O vocal de John, normalmente áspero, e aqui tão doce, rivaliza com os melhores de Paul, e Julia disputa com galhardia o título de melhor balada dos Beatles. E quase ia ficando de fora!!
Mais uma vez, recorro a The Analogues para ter uma ideia de como seria Julia ao vivo, só que, e-xa-ta-men-te, é im-pos-sí-vel, por causa das sobreposições no vocal de John. Mas The Analogues têm dois cantores que simulam John Lennon, então o efeito é muito bom. Neste LINK, tem o show todo deles tocando o Álbum Branco todo, então se quiserem ir direto vão até o 46:50, e apreciem!
Simplesmente genial nobre Homerix.
ResponderExcluirO amigo é 10.
Simplesmente genial nobre Homerix.
ResponderExcluirO amigo é 10.
Belíssima balada, e belíssima postagem! Não sabia que John tinha ensaiado mais de 4 horas
ResponderExcluirFantástico! Sempre aprendo muito com seus blogs! Parabéns!
ResponderExcluirUma linda canção onde expressa toda sua dor pela perda
ResponderExcluirFantástico
Uauuu que linda e comovente história. Obrigada por compartilhar seus conhecimentos da arte.
ResponderExcluirAbraço e ótimos escritos
Apesar de singela (mesmo dedilhada), não sabia que era tão complexa...
ResponderExcluirNão sei se é a melhor balada dos Beatles mas q é genial isso n tenho dúvidas
ResponderExcluirUma belíssima canção assim como Mother, que é um grito primal vindo do fundo da alma do John, como um lamento pela perda de Júlia
ResponderExcluirBelo post Homero
Sem dúvida uma canção belíssima,choro qdo escuto. Já sabia dos detalhes, mais você Homerix colocou amor e sentimento junto com o depoimento. Não tem quem resista.É 10 10 10 10....
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