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segunda-feira, 3 de maio de 2021

Here Comes the Sun - lá vem ele!

Esta é abre o Lado B do LP Abbey Road

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 15 canções com Discurso, na classe Grupo

                                        as demais 14 canções de mesmo Assunto e Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

7. Here Comes the Sun (Group Speech Song by George Harrison)

George festeja: 'Queridinha, tem sido um inverno longo, frio e só. Queridinha, parece que foram anos desde que esteve aqui. Lá vem o sol, lá vem o sol, E eu digo que está tudo bem
'
George celebra com os compatriotas (O Grupo) o fim de um longo inverno e o retorno dos sorrisos!  Na verdade, ele usa um 'Little Darling' mas  penso que se dirige a todos os saudosos do sol em seu país! De fato, ele começou a escrever a canção (na casa de campo de Eric Clapton) num abril de 1969, que foi o abril mais ensolarado em décadas, antes e depois, e após um fevereiro e março mais frios também em décadas. A inspiração bateu em cheio. A canção tem muuuitas novidades musicais, como a presença de um sintetizador nunca usado antes, variações em tempos e acordes bastante inovadoras. Acresça-se um rico arranjo de cordas de George Martin, uma bateria inspirada de Ringo, backing vocal de Paul (John não participou por estar se recuperando de um acidente de carro). Ah, e que não se esqueça das sempre oportunas palmas, que marcam o ritmo maravilhosamente! A recepção à canção foi magnífica, colocando George Harrison, cuja outra contribuição ao disco foi Something, no mesmo nível de Lennon/McCartney! E, para se ter uma ideia da aceitação, vá ao Spotify e veja qual é a canção mais baixada dos Beatles, mais de 50 anos depois!!
 
Eu coloquei em destaque esse parágrafo inicial porque o mantive ipsis litteris conforme escrito no post sobre as Group Speech Songs onde foi a primeira vez em que falei sobre a extraordinária canção. Vou apenas acrescentar breves palavras abaixo, para manter a estrutura de minhas últimas análises. E, falando em estrutura, vamos à estrutura da canção! 
 
A primeira vez que George canta, ele entra logo com o refrão: "Here comes the sun, djun-ru-djun-ru, here comes the sun and I say it's all right", que é repetido outras três vezes, por entre três versos e uma ponte, que é cinco vezes a frase "Sun, sun, sun, here it comes" com espetacular harmonia vocal com Paul. Os versos têm três letras diferentes (obedecendo ao padrão de qualidade  Beatle). A canção abre com uma introdução instrumental com a melodia dos versos modificada. 
 
A primeira frase do Verso 1 celebra o fim do inverno, no Verso 2, festeja a volta dos sorrisos, e no Verso 3, festeja o céu limpo, sem nuvens. A segunda frase do Verso 1 é a mesma do Verso 2 "Little darling, it seems like years since it's been here", mas no Verso 3, ela muda, com o requinte de uma rima lá com os dois outros versos. "Liitle darling, it's been like years since it's been clear" e, ainda por luxo, é uma rima rica (segundo a definição do nosso português), rimando advérbio com adjetivo, "here" com "clear". A outra rima da canção é na ponte "sun" com "comes", substantivo com verbo. 
 
Quem acompanha minhas análises, já localizou mais ou menos a época da gravação inicial de Here Comes The Sun, começo de julho, não é isso, enquanto John convalescia de seu acidente de carro? Bingo! Foi no dia 7 de julho de 1968, justamente no aniversário de 29 anos do mais velho Beatle, e justamente quem mais sofreria com a composição de George: o baterista Ringo Starr! George anunciou: "Prepare-se para tocar no tempo 7 e meio!" Foi o mesmo que falar árabe para Ringo. Era o tempo que acontecia na ponte da canção. Ringo era bom na prática, mas não peça a ele para descrever o tempo, a batida em que está tocando. Ele sabe fazer, mas não sabe qual é! Ele mesmo declarou isso anos depois! Ao final de 13 takes, com Paul no baixo e George no violão, com o capo lá no alto, no traste 7, ele finalmente captou o tempo correto. Notável é a composição de triplets (ta-ra-ra,ta-ra-ra,ta-ra-ra) de George no violão, marcantes, nas viradas da ponte da canção. Na celebração dos 50 anos de Abbey Road, liberaram o Take 9 dessa batalha, veja aqui neste LINK como George repete frase única a ponte, sem cantar a letra, quatro vezes a mais que o normal, para Ringo poder acertar! Aliás, eu devia ter falado hindi em vez de árabe ali em cima, pois segundo consta, era um tempo comum na música indiana. Curiosidade, o Take 13 foi anotado como "Take 12 and a half", por conta da enorme superstição contra o número 13. 
 
Pausa para curiosidade inglesa 
A coisa é tão séria que os ingleses até pulam a numeraçao, em ruas e em prédios de apartamentos, pode notar. Quem já leu meu relato sobre nomes de ruas em Londres (ver neste LINK) sabe que, em prédios, eles numeram sequencialmente os apartamentos, ou seja, se o prédio tem 5 andares, com 4 apartamenots por andar, eles começam numerando do andar mais baixo, 1,2,3,4, e no 2º andar tem as unidades 5,6,7,8, e assim por diante, até o 5º andar, onde tem as unidades 18,19, 20 e 21, sim, porque eles pularam do 12 pro 14, quando numeraram o 4º andar. E nas ruas, não tem essa de lado par e lado ímpar, a numeração é peculiar, pois sequencial, de um lado da rua, até o final, depois segue, voltando do outro lado, super estranho, coisa de inglês. E, claro, não existem casas Número 13!

 Fim da pausa para curiosidade inglesa. 

No dia seguinte, overdubs, de George em sua guitarra com Leslie speaker, geringonça que eles usaram bastante, desde Tomorrow Never Knows, e também o seu vocal principal com os "djun-ru-djun-ru" e o backing vocals junto com Paul, em "Little darling" nos versos, e no segundo "here comes the sun" e no "it's all right" a partir do segundo refrão, e também na ponte. Teve também os dois vocalistas dobrando os mesmos vocais para suprir a ausência de John, e, claro, mais Ringo enchendo as falhas ainda presentes na ponte! Uma semana depois, o desafio de George foi orientar os batedores de palmas (Paul, Ringo e o produtor Glyn Johns) a acertarem o que ele queria para quela mesma ponte, iguamente complicado. George também colocou naquele dia um harmônio que não sobreviveu na versão final. O quarto dia de gravação, já em agosto, foi somente para George acertar sua guitarra, inclusive uma porção solo, e nisso ele ficou mais de 9 horas!! E teve mais um dia e mais George na guitarra, mais algumas horas tentando melhorar a porção solo, e mesmo assim, ele desistiu dela, deu claras instruções para não usá-la e encomendou a seu xará George Martin um arranjo instrumental para aquela parte. Aquilo e o resto do arranjo que se ouve na canção toda veio à tona na mesma sessão monstro de 15 de agosto que gravou outras quatro canções, inclusive a outra de George em Abbey Road. Ele começa já no primeiro refrão e não deixa mais a canção, fazendo os acordes em legatto, e acompanhando os triplets de George na ponte com uma nota por triplet. Interessante que o arranjo dispensou violinos. Há apenas 4 violas, 4 violoncelos, contrabaixo, clarinete e 6 flautas.

A coisa não terminou por aí, porque alguns dias depois George ainda gravou aquele sintetizador, à época uma trapizonga com botões e cabos difíceis de operar, que Dr. Moog fez especialmente pra ele. Ouve-se o sintetizador nos "djun-ru-djun-ru" dos Versos 2 e 3, harmonizando neste último, e na ponte com um modo de som diferente para cada uma das quatro vezes em que se repete a frase "Sun, sun, sun, here it comes"! Ô ponte lindamente rica! Ainda teria a cereja do bolo, que é aquele lindo maravilhoso som descendente da introdução instrumental, que é feito por um ribbon controler, uma espécie de potenciômetro, que se escorrega por uma fita sensível para se conseguir o som desejado. Era Beatles inovando! Esse equipamento seria usado por Vangelis em Blade Runner! 

Poxa, pra quem ia escrever umas poucas palavras ...ando incorrigível. Deixo aqui um videozinho bonitinho acompanhado do som original, pra você poder acompanhar os detalhes descritos. Aqui, neste LINK.

3 comentários:

  1. Minha música preferida de George Harrisson...
    Nunca foi tão legal ver o sol 🌄

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  2. É maravilhosa, mas todas dele sempre foram maravilhosas. Nunca esteve abaixo de Lennon/McCartney. Se estivesse os Beatles teriam lançado músicas inferiores. Nunca fizeram isso. Todas são boas demais sem exceção.
    Sabe? Naquele tempo quanto tudo começou ninguém falava isso. Nâo havia isso nos anos sessenta. A gente amava os Beatles e pronto. Ninguém ficava comparando uns com os outros. Que as músicas de John e Paul eram melhores. Nâo foi a menor surpresa para mim ouvir Here Comes the Sun porque era uma música dos Beatles e eles sempre foram maravilhosos. Quando Ringo com músicas dele também trouxe músicas maravilhosas.

    Agradeço por todas as informações sobre gravação. Eu não fazia a menor ideia e muito menos que tinham inovado com o ribbon controler...que eu também desconhecia. E depois veio o link para o vídeo. Que beleza.

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