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sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

A Despedida de um Rei

UM ANO SEM ELE

Recordo-me como acompanhei aquele fim

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Era quinta-feira, dia 29, e eu assistia ao Estúdio I, na GloboNews...

Corria uma, como sempre, ótima reportagem direto de Brasília...

Quando, de repente, interrompe Andréa Sadi...

De imediato, pensei: Morreu Pelé....

E Sadi confirmou...

E eu chorei...

Hoje, terça-feira, dia 3, eu assistia ao Estúdio I da GloboNews

Andréa Sadi comandava novamente o show.

Entrava no Mausoléu Memorial de Santos o caixão real.

E eu enxuguei a última lágrima.... 

Nossa, quanta coisa aconteceu em 5 dias...

Na manhã daquele primeiro dia, eu havia mandado minha mensagem de fim de ano e disse que somente ouviriam de mim de novo no dia 4, quando celebraria, como sempre faço, meu próprio aniversário, atualizando meu post retroativo até o dia de minha chegada neste mundo... A NÃO SER... que algum valor mais alto se ‘alevantasse’.... usando o mesmo verbo que Camões usou na 3ª estrofe do Lusíadas.

E o tal valor mais alto se ‘alevantou’...

Morria um ídolo meu .... muito mais que isso, um ícone mundial....

E eu tinha que incomodar os amigos de novo...

Na sexta-feira, disse que não ia escrever nada de novo, e compilei tudo o que escrevi sobre o Rei num único post... eram 10 outros posts ... aqui, neste post... mas mesmo não-escrevendo, acabei fazendo uma ode às qualidades esportivas da entidade que se fora...

... afinal já publiquei bastante sobre ELE, como narrava o locutor Walter Abrahão, sempre que Pelé tocava na bola, nas transmissões da antiga TV Tupi. Era uma reverência fenomenal, o inominável, o que não precisa nomear, bastava ser, bastava estar presente, bastava nos encantar com sua classe (já viram ELE conduzindo a bola?), com sua velocidade (já viram ELE sair atrás e chegar na frente do zagueiro?), com sua habilidade (já viram ELE driblar?), sua com força (já viram ELE chutar?), com sua ambivalência (já viram ELE usar o pé esquerdo, apesar de destro), com sua impulsão (já viram ELE cabecear?), sua delicadeza (já viram ELE matar uma bola no peito?), sua malandragem (já viram ELE fazer falta no zagueiro e o juiz marcar pênalti a favor do time dELE?), sua malícia (já viram ELE tabelando nas pernas dos adversários?) e por que não, com sua felinidade (já viram ELE defender pênalti?), enfim...

E muitos amigos já gostaram do Não-Texto

O principal post meu sobre Pelé, e que abre a tal coletânea de posts, coletava frases que descreviam o Rei melhor do que qualquer texto que eu poderia produzir, este aqui, então resolvi liberá-las em doses, como chamei, homeRopáticas, e fui fazendo, de 5 em 5, na sexta, no sábado e no domingo.

Mas no sábado, morreu o Papa Emérito, fechando o ano de impressionantes perdas de gente famosa, e eu fiz uma breve coleção delas, dizendo: 

Hoje, 2022 nos levou um Papa, há dois dias, um Rei, antes uma Rainha, e também duas Divas, duas Imortais, uma Atleta, um Mestre, um Caipira, uma Galvão, um Cineasta, um Gigante e até um Gordo, e outros menos famosos, e também alguns importantes para cada um de nós...

... não houve ninguém que acertou 100%...  gabarito ao final...

E finalizei com mais uma espécie de desejo para o Ano Novo.

Esperamos que 2023 seja isento de chamadas para o andar de cima dos que nos são caros...

E no domingo, o novo Presidente foi empossado, e não há como não se emocionar com aquela subida da rampa cheia de diversidade... até os mais recalcitrantes devem ter admirado, ao menos.

E na segunda, começou o velório do Rei Pelé, corretissimamente adiado por 3 dias pela família real, para não confundir os corações com a posse presidencial...

Era na Vila Belmiro, local onde o Rei brilhou, e marcou mais que um gol por jogo que lá disputou. Vi alguns desses jogos, quando criança.... 

E vi o último deles, em 2 de outubro de 1974, em que ele não fez gol, mas pegou a bola, no centro do campo, ajoelhou-se e agradeceu aos quatro cantos do planeta, de braços abertos.

Era sua despedida do Santos.

E ele chegou em seu caixão, direto de um vestiário para o centro do gramado, como se tivesse chegado para disputar seu último jogo.

E começou a peregrinação...

Dezenas, Centenas, Milhares, Dezenas de Milhares, Centenas de Milhares.... sim, mais de 200 mil pessoas, de todas as classes, credos, preferências, torcidas e lugares do Brasil, e mesmo de fora do Brasil, pacientemente esperavam mais de duas horas em fila sob sol escaldante (ou ao frescor da noite e madrugada) para passar por alguns segundos em frente ao caixão, aonde apenas podiam ver um pouco da face do Rei e fazer sua breve oração, muitos com lágrimas nos olhos...

Em paralelo, em meu particular mundo blogueiro, na segunda, cansei das frases SOBRE o Rei em doses homeRopáticas, mas um amigo me passou algumas frases DO Rei, sobre família e sobre Deus, e propiciou a feitura de mais um post, sobre um certo livrinho que ele tinha, que falava sobre Pelé, que pesava apenas 15 quilos. Mais detalhes aqui. 


E veio terça-feira... e veio o Presidente, prestar sua última homenagem ao Rei, mesmo em meio a profundas decisões que tinha que tomar no seu segundo dia de trabalho. Ele precisava vir.

Ouviu junto com a família, todos emocionados, a encomenda da alma real e foi-se embora.

Em seguida, começaram os processos de  fechamento do caixão, com toda a merecida pompa, a transferência a um carro de Corpo de Bombeiros, e começou o préstito, rumo à casa da mãe real, Dona Celeste, do alto de seus 100 anos de idade.

E os milhares de seres que ficaram a ver navios com o fechamento dos portões foram junto...

E juntavam-se ao longo, os moradores locais, que aplaudiam e gritavam e se emocionavam e desfraldavam enormes bandeiras.

Foram ao Canal 6, estava lá a irmã real, voltaram e entregaram o corpo para a cerimônia final, apenas entre família e poucos amigos...

A minha Cidade de Santos está de parabéns! 

Fizemos uma despedida condigna de um Rei! 

E, segundo o João, parabéns também à Globo, por encerrar  a transmissão do sepultamento do Rei com a música clássica Ode à Alegria, a 9ª do Beethoven. Que foi de arrepiar de emoção, e muito compatível com o que o nosso eterno Rei sempre nos proporcionou: ALEGRIA!

Quase 120 horas de ocorrências emocionais...

Hora agora de virar a página...

... mas antes,  gabarito das celebridades listadas

um Papa: Emérito, Bento XVI 

um Rei: Pelé

uma Rainha: Elizabeth II

duas Divas,: Gal Costa e Elza Soares

duas Imortais: Lygia Fagundes Telles e Nélida Piñon 

uma Atleta: Isabel, do Vôlei 

um Mestre: Sifney Poitier, de Ao Mestre com Carinho 

um Caipira: ROlando Boldrin 

uma Galvão: uma das irmãs Galvão, de Beijinho Doce

um Cineasta,: Arnaldo Jabour, mas aceitei Godard

um Gigante: Erasmo Carlos, conhecido como Gigante Gentil

um Gordo: Jô Soares

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

A Day in The Life

Esta canção  é a última do álbum Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 8 canções com História na primeira pessoa

as demais 7 canções de mesmo Assunto e  Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

13. A Day in The Life (Self Story Song by Lennon /McCartney)

John conta: "Eu li as notícias hoje, caramba, sobre um sortudo que conseguiu a nota. E apesar de as notícias serem tristes, eu tive que rir. Eu vi a foto!"
E assim foi, e também o político se matou dentro do carro (ou o jovem amigo Tara Browne), a cidade inglesa cheia de buracos, e o exército inglês que ganhou uma guerra, algumas notícias de jornal que John leu, e o filme que John viu,  que viraram uma canção sensacional. O refrão "I'd love to turn you on" foi considerado uma ode às drogas (e era!), o que causou o banimento inicial da canção nas rádios, mas logo passou. Paul admitiu que aquela era mesmo uma 'drug song', aliás, disse que Sgt. Pepper's era um 'drug album'. Mesmo assim, prefiro manter a canção nesta categoria, de story song. Na parte em que Paul canta 'Woke up, got out the bed, dragged a comb across my head...', eram também reminiscências da adolescência, como fizera em Penny Lane, porém, também uma história em 1ª Pessoa, afinal depois ele diz: ("I noticed I was late!"). Justificada minha classificação, vamos à história! 
 
As sessões de Sgt.Pepper's começaram em novembro de 1966, logo após os quase três meses de recesso em que os Beatles tiveram, pós-decisão de não fazerem mais shows, como contei no começo deste capítulo (LINK)! As duas primeiras canções atacadas eram obras-primas, Penny Lane e Strawbery Fields Forever, que levaram quase mês e meio para ficarem completas, e seriam lançadas em single. Portanto, obedecendo à convenção do condomínio Beatle, instalada após HELP!, não seriam lançadas em álbum. A que veio em seguida ou quase concomitantemente, era uma canção antiga de Paul, que foi revivida, When I'm Sixty Four. Portanto, chegávamos a quase dois meses e nada de aparecer uma composição nova ao efeito de ir ao novo álbum. E quando veio, foi outra obra-prima, esta que ora analiso, e que foi tão estupenda que decidiram: Esta vai fechar o álbum! 
 
Começou com uma ideia de John, que leu um jornal, pegou o violão e cantarolou o Verso 1, retratado no caput desta análise. Levou o que tinha a Paul, e os dois fizeram juntos o Verso 2, do cara que "blew his mind out in a car" e termina com "Nobody was really sure if he was from the House of Lords". E John se lembrou do filme que ele filmara recentemente, baseado num livro dele mesmo, How I Won The War, sobre uma guerra, e fez o Verso 3, que conta "The English Army had just won the war" e termina com "But I just had to look, having read the book". Sim, o verso terminaria com o livro de John, mas Paul tira da cartola um elemento importantíssimo da viagem que a canção estava se transformando, e acrescenta uma singela linha ao Verso 3, que muitos consideram um refrão, que dizia "I'd love to turn you on". Ah, como essas sete palavrinhas deram problema! Elas causaram o banimento da canção das rádios, como falei ali em cima, mas mais do que isso, e para o lado da genialidade, introduzem a verdadeira viagem que seria a ponte instrumental, sobre a qual falarei mais embaixo. A seguir, veio um complemento, de Paul, que não se pode chamar de Ponte, pois não leva a lugar nenhum, conta outra história, nada relacionada aos versos, melodia e ritmo diferentes, mas que encaixa perfeitamente. Vou chamá-la de Desvio! Nele, Paul acorda, se penteia, desce, bebe um café, percebe-se atrasado, pega casaco, chapéu, e ônibus, sobe, dá uma tragada, alguém fala e ele viaja num sonho alucinógeno.... sim, era uma "drug song". Aí entra uma linda Ponte, em que John parece que acompanha o sonho de Paul, em um tocante vocal, sem letra, apenas uma, um lamentoso "A-aaa-aaa-aa-a", maravilhoso, e ao seu final, ele mesmo segue para o Verso 4, de sua autoria, aquele do "4 thousand holes in Blackburn Lancashire", contados um a um, e aqui, deu bloqueio no letrista, que não conseguia 'fill in the blank' na frase "...holes it takes to _ _ _ _ the Albert Hall", nada demais, ele externou sua dúvida, e um amigo deles, presente, chamado Terry Dooran, disse, displicentemente: "Fill, ué!". O verso termina na mesma problemática frase, com o desejo de 'ligar' as pessoas, que, por sua vez, leva a uma segunda execução da ponte instrumental, a mesma da primeira, ao cabo da qual vem um estrondoso final em MI, sobre o qual falarei na parte musical, que começa agora!! 
 
Antes de consubstanciar a complexidade da canção, passo pelo tradicional papo sobre as rimas, que são uma em cada verso, todas ricas, se fosse em português (1-"laugh-photograph", 2-"before-Lords", 3-"look-book", 4-"all-Hall"),  mais duas no Desvio ("bad-head", "hat-flat"), além de uma interna, como Paul adora fazer "smoke-spoke". E falando em compassos, a quantidade de tempos (time signature) a canção era uma plêiade: Verso 1 - 20, Verso 2 - 18, Verso 3 - 19, Ponte Instrumental-24, Desvio-23, Ponte 2 - 20, Verso 4 - 19, Ponte Final -24. 
 
Foram necessárias 6 sessões de gravação para A Day In The Life, a primeira delas em 19 de janeiro de 1967, dia que ficou marcado na memória de George Martin e Geoff Emmerick, produtores. Era John no violão, Paul no Piano, Ringo num atabaque e George no chocalho, lembre-se bem deste último. Mas o mais importante da sessão foi que John cantou na base, e como cantou John naquele dia!! Chego a me arrepiar... Posso imaginar os quatro Beatles no chão do estúdio, enquanto Martin e Emmerick se entreolhavam na sala de controle (o aquário), perguntando-se: "O que é aquilo?". Em entrevistas posteriores, ambos afirmaram que John havia se superado naquele vocal, que causava "arrepios na espinha", ou "os pelos em minha nuca se eriçavam", o estúdio parecia voar alto na sua voz, devidamente assessorada por um eco fantástico. E aquele foi apenas o Take 1, e houve o Take 2 e o 3 e o 4, em que John, cada um ia superando o anterior! Bem, aqueles eram os 4 versos, todos cantados por John. Note ao ouvir (com fones de ouvidos, claro) que, do início do Verso 1 ao final do Verso 3, John vai passeando por sua mente, da direita para a esquerda!  Eles trabalharam também o Desvio, criado por Paul, só que Ringo passou à caixa da bateria, e Paul nada cantou, estava muito ocupado no piano. Note neste ponto, que a seção dos versos era em Sol Maior (G) num determinado ritmo, e quando Paul começa o desvio, ele vem em Mi Maior (E) e num ritmo mais acelerado! Haja modulação!  E ela veio com outra ideia de Paul.
 
Ele apresentou a ideia de uma sessão instrumental entre o Verso 3 de John e o seu Desvio, e que pensou que teria a duração de 24 compassos, mas ninguém ainda sabia como. Para deixarem o espaço certo de fita, Paul ficou tocando no piano uma nota só, e colocou Mal Evans, o faz-tudo dos Beatles, para contar a cada 4 tecladas (o compasso era 4x4), e Mal foi ta-ta-ta-1-ta-ta-ta-2-ta-ta-ta-3-ta-ta-ta-4-....-ta-ta-ta-13-ta-ta-ta-14-....-ta-ta-ta-23-ta-ta-ta-24, ao fim do qual programou um despertador pra tocar! Esse despertador sobreviveria na versão final, afinal, Paul entra cantando "Woke up, got out the bed". Terminada a sessão, de madrugada, três trilhas estavam ocupadas com a voz de John para posterior seleção dos melhores momentos... 
 
...o que foi feito logo no dia seguinte, abrindo a sessão, que teve também Paul fazendo sua linha de baixo, e teve Ringo, em sua bateria, e teve John dobrando seus vocais naquela espécie de refrão das 7 palavrinhas fatídicas, e teve Paul gravando seu vocal no Desvio (e todo mundo se espantou com a coincidência do despertador com o "Woke up"), que só não foi aproveitado porque ele errou a letra e soltou um "shit", e teve George tentando uma guitarra no final do Verso 1. Você ouve a guitarra na gravação final? Nem eu...   
 
A Sessão 3 teve o vocal final de Paul no Desvio, e também a respiração rápida de John, e o sensacional e enorme melisma da segunda Ponte, modulando de volta de E para G, com John entoando como que um mantra,  Aaaaaaa, passeando por sua mente em sonho (lembre-se que Paul havia "entered into a dream", da esquerda para a direita (ouça com fones de ouvido), cujo efeito seria ainda aumentado por orquestra, posteriormente. Paul melhorou sua linha de baixo, e Ringo foi convencido por Paul a inserir viradas de bateria usando os tom-tom's, o que acabou se constituindo em seu melhor desempenho até então, superando Rain e Tomorrow Never Knows. Foi a última sessão em que Beatles tocaram algo, exceto Paul, que tocaria.... uma baqueta de Maestro!! Para tanto, darei destaque ao próximo parágrafo 
Entre os momentos John (terminando o Verso 3) e Paul (começando o Desvio), há um revolucionário crescendo de orquestra, ideia de John, que explicou o desafio a George Martin, ou de Paul, que estava imerso em movimentos de vanguarda, e teria conversado com John, entenda-se como quiser. O desejo era que parecesse o fim do mundo! John queria uma orquestra sinfônica, de 90 músicos,  Martin reclamou do custo e Ringo veio com a ideia salvadora: "Contratem metade dos músicos e façam-nos tocar duas vezes!". George Martin escreveu uma pauta para cada instrumento com a seguinte regra: a nota mais grave possível no começo da pauta, e a nota mais aguda possível no mesmo instrumento lá no final do compasso 24, e praticamente uma linha reta de notas entre as duas, com a sugestão de ritmo pianíssimo no começo e fortíssimo no final.  Uma semana depois, 41 músicos invadiram o Estúdio 1, a maior das 3 salas, todos eles em trajes de gala, sugestão de Paul, que queria uma efeméride, os técnicos também a rigor, os Beatles e amigos (Mick, Keith e Brian dos Rolling Stones, Graham Nash, Donovan) em trajes psicodélicos. John trouxe enfeites de festa a fantasia, narizes de palhaço, chapéus, perucas, gravatas, para que todos usassem. O gigante Mal passeou pelos músicos para que escolhessem seus aparatos, e eles até que usaram, não sei se por se sentirem pressionados pelo tamanho do provedor das alegorias! E aqueles músicos  eram, apenas, os melhores da cena londrina! Depois, Paul e George Martin aproximaram cada um dos músicos explicando a pauta.

Paul subiu no púlpito, repetiu as instruções gerais de tocarem seus violinos, violas, contrabaixos e sopros, do mais grave ao mais agudo, improvisando livremente no movimento, em 24 compassos e os regeu! Fizeram 4 takes, e todos foram somados,  um por cima do outro, então graças à simples ideia de Ringo, o desejado efeito de 90 músicos, foi quase dobrado: o som resultante era de 164 instrumentos! Após a segunda entrada de John, o crescendo é repetido.
Como Grand Finale, Paul veio com uma ótima ideia de fazer um mantra em Mi Maior com as vozes dos amigos presentes na sessão. Todos toparam, fizeram quatro takes, porque os três primeiros terminaram em risadas. A ideia foi posta de lado! E veio a ideia dos pianos:  numa quinta sessão de gravação, dois pianos de cauda foram trazidos ao estúdio e ocupados por John e Mal Evans (Geoge Harrrison não apareceu), Paul e Ringo dividiram um terceiro piano, vertical, e também George Martin num harmônio. Todos ficaram em pé, para aumentar a pressão na tecla,  e tocaram, em uníssono, um acorde Mi Maior. Foram quatro vezes. A última durou 59 segundos, mas a terceira, que durou 53 segundos, foi escolhida. O movimento é considerado um dos melhores acordes finais de música da história, sempre eles... Um bom lembrete de um leitor: assim que desvanece o som do “grand finale” tocado em pianos, e antes que entre o trecho de ruídos de vozes e instrumentos, os Beatles acrescentaram apitos ultrassônicos somente audíveis por cães. Na época, ouvia-se o uivar dos cães da vizinhança, e ninguém imaginava por quê!!! Era um novo público alvo dos gênios!! E, para completar, John insere ali, depois daquilo tudo, uns sons ininteligíveis, na verdade eram sons captados da audiência daquela sessão orquestral, e tocados em reverso, aos quais os fãs insistiram em atribuir mensagens ocultas. Como cereja do bolo, John... ou seria Paul .... ah, sei lá  ... só sei que não foi George ... ausente de tudo .... bem ... os Beatles tiveram uma ideia final, deixando a última trilha do disco tocando continuamente num loop infinito, o que obrigava o ouvinte da bolacha (sim, só funciona em vinil...) a ir lá parar aquela trapizonga de tocar. Eu me lembro perfeitamente disso!! E eu tinha 9 aninhos.
 
Finalmente, a última sessão teve Paul adicionando um piano! Ah, sim, naquilo tudo, a participação de George Harrison, alheio, com a mente na cultura indiana, foi tocar .... um chocalho!  
 
A canção é a última do disco! Impossível seria ter qualquer coisa após aquele final retumbante e apoteótico! 
 
Ao vivo? Claro que recorreremos aos extraordinários The Analogues. Veja que espetáculo! Claro que não contrataram 164 instrumentistas, nem mesmo 41, mas resolveram a situação. Começam tocando os versos, muuuito bem, com o pianista fazendo a voz de John, muuuito parecida, o baterista imitando Ringo no detalhe, e chegando na hora, os 10 instrumentistas clássicos no palco são ajudados por outras dezenas num telão! O efeito é ótimo! Eu chorei aqui, e ri desenfreadamante! São geniais! Note o detalhe do 'Paul', quando entra o acorde final, pede silêncio, nada de aplausos, para reproduzir os 53 segundos, mas não teve jeito, aos 40 segundos, irrompem-se aplausos. E eles merecem. Viajem com ele, aqui, neste LINK!

ESTAVA TERMINADO 

O ÁLBUM MAIS IMPORTANTE 

DA HISTÓRIA DA MÚSICA!

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

O Espírito de Natal e um Novo Ano sem medo

  Amigos e amigas, está no Dicionário Aurélio:


espiriteira                            
[De espírito + -eira.]
S. f. Bras.
 1.        Vaso onde se deita (!!!)  espírito de vinho (!!!) ou álcool para arder 
                 
.... e eu ainda penso que sei português...

Meus votos são para que acalmem os espíritos
após anos de espíritos exaltados!

Se celebrar o Natal,
ou qualquer outro evento,
em volta de sua família,
recupere o espírito esportivo,
deite espírito de vinho no vaso,
ou um vaso de vinho ao espírito,
tente exaltar os bons espíritos,
os presentes, ou os ausentes em corpo,
e procure expiar os espíritos de porco!

E para o ano que começa,
faço minhas as palavras
de um certo cantor narigudo,
com óculos de aro redondo,
sábio, sarcástico e espirituoso,
que pedia uma chance à paz,
e que deseja, ainda hoje, em espírito...
(ou será que já está entre nós, de novo)...


Lennon by Lennon

"And so, Happy Christmas
          and Happy New Year,

I hope it´s a good one,
          without any fear! "



Este é o refrão da canção Happy XMas (War Is Over)
John Lennon & Yoko Ono

Lançada no Natal de 1971, portanto há 52 anos, ela misturava uma mensagem positiva de festas com uma crítica social, e um brado contra a Guerra do Vietnam, ainda em efervescência insana à época. 

Porém, sua mensagem é ainda intensamente válida, 
num mundo em que 
a desigualdade grassa,
os preconceitos se exaltam,
a intolerância é premente.

Nos versos, John deseja tudo de bom, 
   para o rico e para o pobre, 
      para o forte e para o fraco, 
         para o velho e para o jovem, 
            para o branco e para o negro, 
               para o amarelo e para o vermelho.

E, na ponte, em seu final, 
   e a partir do 2º verso, no coro infantil
      ele diz que a guerra pode terminar, 
"Waaar iiis ooover ..."
         se a gente quiser, 
"... iiif youuu waaant it...."
             AGORA... 
"Waaar iiis ooover ... NOOOW!"

Hoje, há duas guerras terríveis, sim, na acepção da palavra, 
   localizadas, mas que requerem nossos olhos abertos,
      porém houve, recente, uma guerra mundial, 
           contra um inimigo invisível, mas que foi mapeado, 
              e se obteve a arma efetiva contra ele, 
            mas ele é insidioso, sorrateiro,
         e se recria de formas diferentes, 
      e requer a continuidade dos cuidados profiláticos 
   e uma possível ressuscitação do isolamento social, 
contra o que ainda resistem os insanos negacionistas.

Sim, eu quero que essa guerra termine, 
mas todos têm que querer também.

O refrão deseja um Novo Ano, 
sem nenhum medo, 
e eu espero realmente 
que se abram as mentes de todos, 
para que o perigo seja afastado. 

A gravação foi produzida por Phil Spector, as vozes infantis que se ouvem são do Coral do Harlem, que vemos felizes e emocionadas ao cantar "War is over" no vídeo que escolhi para ilustrar este post, que é (quase) perfeito pois mistura imagens da linda campanha de John e Yoko, que espalharam cartazes pelo mundo, em várias línguas, com os dizeres pacifistas, num investimento saído totalmente do bolso do casal, sobre o qual, quando perguntado se não foi muito o que gastaram nessa campanha mundial, John respondeu:

Tudo o que gastamos 
não vale UMA vida 
perdida na guerra...

AH, COMO É ATUAL!
INFELIZMENTE!

Ah, sim, o vídeo está neste LINK

UM FELIZ 2024 A TODOS


É o que deseja 
a Família Ventura

P.S. 
O 'quase' da qualificação do vídeo é porque mostra imagens de Sean, filho de John e Yoko, que são lindas, mas ele ainda não existia na época do vídeo! 

P.S. 2

Descobri há pouco tempo que a melodia é muito parecida com uma canção folclórica do Reino Unido. É de domínio púbico, mas quero crer que John não percebeu. 

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

INACRE - Um Caso de Amor

 Instituição de Apoio a Criança Especial (inacre.org.br)

No sábado realizaremos uma missão daquela campanha convocada pela Neusa!

A nossa caravana irá ao INACRE na Grande Madureira 
Será nossa (minha e de Neusa) 3ª vez.... 
Descrevi a primeira, de 2021, aqui neste post. 
Quem sabe eu renove o post, 
mas deixo aqui a descrição das emoções da primeira vez... 

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Nossa missão neste ano no Programa Natal das Crianças da Seara de Amor e de Luz será entregar presentes na instituição INACRE, no sábado, e visitar famílias necessitadas de Seropédica no domingo

Explicando...

Começando nos meados do ano, uma equipe de voluntárias trabalhadoras da Seara se reúne quase que diariamente para organizar doações em sacolas de presentes de Natal, com roupas, sapatos, brinquedos, e artefatos de higiene, obtidas diretamente, ou adquiridas com os recursos provindos de campanhas de arrecadação (obrigado, amigos!!!), em sacolas destinadas à distribuição em comunidades carentes, ou em instituições de caridade, ou simplesmente para distribuição aleatória em estradas, do Rio de Janeiro e até Minas Gerais. O Natal nas Estradas teve sua última edição em 2019 (eu contei sobre ela aqui, neste LINK), e se encontra em interrupção transitória, diretamente relacionada aos cuidados profiláticos com a pandemia, mas as outras modalidades continuaram firmes, ainda que não com entrega pessoal dos membros da Seara, mas sempre se viabilizou alguma forma de entrega das doações.

Este ano, o Natal das Estradas ainda não voltou à normalidade, mas os trabalhos em comunidades e instituições, sim, com a entrega presencial das sacolas, as chamadas caravanas. 

Uma das entidades beneficiadas é a Instituição de Apoio à Criança Especial, no bairro Turiaçu no Rio de Janeiro, como consta em seu endereço, mas pode chamar de Madureira, que foram as placas que fomos seguindo pelo caminho neste ensolarado sábado! 

No site que eu provi ali em cima, encontrei uma série de 10 objetivos da casa, dos quais transcrevo aqui o primeiro, apenas para dar o pano de fundo de sua atuação.

Convergir ações sociais voltadas às crianças e adolescentes portadores de neoplasias malignas, qualidade de assistência de saúde gratuita, condições de abrigo, alimentação, transporte e encaminhamento para tratamento hospitalar, visando condições de qualidade de vida, apoio e a recuperação de saúde moral, física e psíquica, promovendo ampla integrações entre os associados.

Nossa primeira visita foi em dezembro de 2021.

Trata-se de uma iniciativa que Ana Cristina concebeu e viabilizou, e ela comanda a instituição há já 16 anos, junto com seu marido Anderson. Nesse meio tempo, quis o destino que ela concebesse Bruna, uma criança portadora de uma 'neoplasia maligna', como está definido no objetivo da casa, que foi tratada com todo amor e carinho, mas ficou neste plano apenas por dois anos, em curta missão. Seus pais viram ali confirmadas as razões por que tiveram aquela iniciativa abençoada, e que conduzem até hoje com maestria.

Saindo da fria palavra, o que encontramos ao chegar ali: cuidado, carinho, mas acima de tudo, AMOR, que é o que se vê em cada parede pintada com esmero, em cores alegres criando um ambiente 'pra cima', cada sala organizada com asseio, com tudo no lugar, cada metro quadrado destinado a oferecer às crianças cada um dos objetivos listados. Ao fundo, um galpão amplo, plenamente refrigerado com o que de melhor a tecnologia pode oferecer, uma mesa com água, refrigerante, café, leite e lanches e uma comunidade ali reunida de cerca de 30 ou 40 crianças, de todas as idades, uma delas já com 20 anos, mas ainda criança, cada uma vestida com uma camiseta da instituição com seu nome gravado em letra de mãozinha dada, dando-lhe a identidade necessária, cada uma acompanhada por sua mãezinha, ou avozinha, dispensando a ela todo o carinho e cuidado de uma missão abençoada, cada uma com sua história de abnegação a contar, não conheci nenhuma mas posso imaginar, até porque não vi ali nenhum paizinho ou avozinho.... bem.... sei que poderiam estar no trabalho .... mas era sábado... inferimos que, em sua maioria, os pais não assumiram a responsabilidade de dividir com a mãe a missão que lhes foi conferida... o que são esses homens ... mas isso é conjetura minha. Enfim....

Após as palavras de agradecimento de Ana Cristina e Anderson e de nossa saudação, passamos à distribuição nominal das sacolas. Ao contrário do Natal nas Estradas, quando se vai a esmo visitando as comunidades vicinais, e as sacolas de presentes são organizadas apenas por menino/menina/idade, ou nas comunidades carentes, tipo Acari, Gramacho, Ramos, onde as sacolas são divididas por famílias previamente cadastradas (algumas com 5 filhos, por exemplo), ali no INACRE sabe-se exatamente a criança que vai receber o seu presente. 

Não guardei bem os nomes das crianças a quem eu entreguei a sacola (mostro todas elas lá embaixo, em imagem tirada do site), mas me lembro bem de meus olhos mareados e de meu nariz fungando por debaixo da máscara... não pude deixar de me lembrar do nosso querido Carlinhos, que ficou neste plano durante 55 anos, com todo carinho e cuidado provido por meus sogros e minha esposa. Tive a honra de ter convivido com ele por 30 anos...  A diferença é que no caso de meu cunhado, havia todas as condições de bem atender a seu querido. Quantas daquelas 30 ou 40 crianças não estariam sem um tratamento, sem uma fisioterapia, sem um suporte psicológico, sem um carinho profissional, ou ainda sem um dispositivo de alimentação parenteral, caríssimo, se não fosse a atenção e a mobilização de pessoas como Ana Cristina, seu marido e associados, naquela casa que vive de doações de pessoas físicas ou jurídicas, sem qualquer ajuda governamental? 

Ao final, uma outra instituição distribuía seus presentes, e eu pensando naquilo tudo, com os braços abaixados, quando senti uma mãozinha segurar a minha e me puxar ... era Samuel, de quem antes presenciáramos o final de uma troca de fralda enquanto visitávamos a casa (super bem arrumada, pintada, revestida, cheirando bem), ele me pegou para passear... me levou para fora do salão... emitindo aqueles sons que só ele e quem dele cuida entende... pelo corredor externo, até a entrada, onde havia um pula-pula... parecia que ele queria entrar, mas nos disseram que quando ele entra lá, ele quer logo sair... esse nome eu vou levar para sempre...

Enfim, deixo aqui algumas imagens do que foi mais essa experiência de servir ao próximo, que muito nos emocionou!

Obrigado à Seara de Amor e de Luz pela oportunidade!







Os Seareiros da Caravana, com Ana Cristina na direita da foto!








quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

John Lennon Week - 43 Anos sem ele


John Lennon levou quatro tiros pelas costas em 8 de dezembro de 1980

Então, estamos nesta semana de lamentações, e resolvi juntar o que escrevi sobre o criador da maior banda de todos os tempos! Decerto que foram muitas dezenas de posts, mas somente colocarei aqueles em que ele era o tema principal!

E vou colocar numa ordem muito particular: o meu critério! 



Os nomes dos capítulos encerram links para acesso aos textos.


1. Um Dia para Não Esquecer

Apesar de começar com o terrível dia de seu assassinato, o post discorre um resumo de sua vida, como verão, bastante atribulada.

 2. Rock, Parceria e Poesia

Tento aqui, destrinchar os segredos da maior parceria de todos os tempos, mundialmente conhecida como Lennon/McCartney

 3. Teoria da Conspiração

É uma resenha de filme, do mesmo nome, mas tem muito a ver com o assassinato de John. Aliás, o texto é mais Lennon que Cinema.

 4. É tudo o que se precisa!!!

É minha exaltação ao AMOR, que Lennon inspirou em muitas canções, ao longo de sua carreira, em especial cuja tradução é o nome do post

 5. Nowhere Boy

Filme sobre a adolescência de John Lennon, seu encontro com Paul e a perda da mãe. Título perfeito, lembrando de Nowhere Man, que é como ele se considerava...

 6. Across the Universe - A mais linda letra de Lennon

É a opinião do autor, e a minha também. No post, a história da canção, com uma supreendente participação brasileira no enredo

 7. Espíritos de Natal

Usei algumas palavras de John além de uma caricatura que ele mesmo fez, para fazer a minha saudação de Natal e de Ano Novo. 

 8. Beatles - Começo do Começo e do Fim

Uma interessante coincidência de datas, separadas por apenas 5 anos, marcou a carreira dos Beatles

 9. Here Today - Beatles Trivia

Sim, a canção é de Paul mas é em homenagem a John,  é uma canção linda e eu conto um dos muitos episódios em que a ouvi e chorei

 10. Sean entrevista Elton, Julian, Paul! Antológico!

Aqui, minha análise do programa ANTOLÓGICO da BBC, onde Sean Lennon entrevistou seu padrinho, seu irmão e seu 'tio'!! Ao final, ofereço links para as mesmas. 

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Pois, é, admito que escrevi muito mais sobre Paul que sobre John, 

mas fiz com muita paixão!