Quero agradecer à Virgínia Abreu De Paula, a beatlemaníaca mais feroz que conheço, por levar-me à minha infância profunda, com uma publicação musical em sua página no Facebook.
Ketelbey foi uma das clássicas que me apresentou meu irmão, que era 13 anos mais velho.. e era mesmo, pois já se foi, há 7 anos... Ele me apresentou também Ravel... e me apresentou o jazz de Dave Brubeck .... e me apresentou O Fino da Bossa ... e me apresentou a Jovem Guarda.... e me apresentou os Beatles ... e o resto é história....
Voltando a Albert Ketelbey, compositor inglês, no texto em que apresentou a primeira peça de sua lembrança, que lhe trouxe seu também saudoso irmão Walmor, Virgínia falou as palavras mágicas 'Mercado Persa', e então um arrepio me correu a espinha, e fui buscar essa referência, e tudo voltou!
É a Banda Sinfônica Campesina Friburguense, que tem uma tradição de 150 anos, tendo sido criada em pleno Império, com uma posição francamente republicana e abolicionista.
Como toda boa banda, toca apenas instrumentos de sopro e percussão, sem qualquer sombra de cordas. Apenas estão lá os sons produzidos por metais (trompas, trompetes, trombones, tubas, flügelhorn), madeiras (flautas, clarinetes, oboés, saxofones, fagotes) e, como direi, peles, dos tímpanos, aqueles maravilhosos tambores. E notem o auxílio luxuoso do triângulo, e do xilofone, da família da percussão.
Imaginem-se num mercado persa na porção vibrante da peça, em meio àquela confusão de mercadores oferecendo suas especiarias, tecidos e tapetes, alguns deles voadores, por que não, andem por aquelas vielas em meio a malabaristas, mendigos, encantadores de serpentes.
Esta versão não conta com o coral impressionante de vozes masculinas que anunciaria a chegada do califa ao mercado, após os primeiros 16 compassos, que aqui é simulado pelos sopros mais graves.
Acalmem-se na porção romântica que vem nos 16 compassos seguintes, imaginando a visita de princesas, a fazerem suas compras, movimento que se alterna magnificamente com o primeiro até o fim.
E aplaudam quando chegar ao final da peça, como se fosse o final de mais um dia de trabalho no esfuziante Mercado Persa!
O fim da vida de George foi atribulado. Teve um câncer na garganta em 1997, que migrou para o pulmão, mas foram ambos debelados. Em 1999, sua casa foi invadida por um lunático, George lutou com ele, mas acabou esfaqueado 10 vezes, uma das estocadas passou a uma polegada de seu coração. Felizmente, sobreviveu para gravar e quase terminar seu último disco, o magnífico Brainwashed. Chega a ser uma benção você poder terminar uma carreira com um disco tão bom, leve, com letras elevadas.
Infelizmente, George não sobreviveu para presenciar o lançamento do disco, que foi terminado por seu filho Dhani, então com 23 anos. Outro projeto que não viu concretizar-se foi a união da música dos Beatles com o conceito do Cirque du Soleil, idéia dele, que era amigo e admirador de Guy Laliberté, o bilionário canadense criador do grupo circense. Felizmente, Olivia tocou adiante o projeto e, com a ajuda de Paul, Ringo e Yoko, nasceu 'Love', um dos mais bem sucedidos espetáculos do melhor circo do mundo, bombando em Las Vegas há mais de 10 anos. George foi acometido no começo de 2001 por um câncer no cérebro (lembra o nome do disco?), que foi combatido por todas as técnicas possíveis, mas que acabou levando-o para outro plano, em novembro do mesmo ano. Morreu na casa de um amigo (mais um de seus muitos) em Los Angeles, cercado pela família e pelos amigos.
Certamente, ele não estava preocupado com a passagem. Estava serenamente aguardando por ela, pois era elevado espiritualmente. Olivia disse: "He left this world as he lived in it, conscious of God, fearless of death, and at peace.'
Ringo esteve ao lado dele em todos os momentos da doença. Numa ocasião, poucos dias antes do desenlace, Ringo disse que teria que sair para ajudar uma filha que estava com problemas, ao que, prontamente, George ofereceu ajuda, já se levantando da cama, ainda que combalido e debilitado pela pesada quimioterapia, e disse: 'If you need me, I can go with you!'
Já expressei aqui minha adoração por certas músicas que ouvi na minha infância profunda, e até fiz alguns vídeos polêmicos, concretizando minha admiração com a performance de ‘air instruments’ de duas delas que decorei de tanto que as ouvi (Deodato e Brubeck... é so clicar nos nomes para me verem pagando mico).
Uma terceira seria Bolero, de Ravel, mas vou poupá-los dessa técnica ainda pouco admirada. Porém, não poderia deixar de tecer loas à música que sempre ouvi, desde criança, com uma idéia que me veio recentemente, e que foi felizmente abençoada pelo músico aqui de casa.
Bolero, do compositor francês Maurice Ravel, conhecido como Bolero de Ravel, é a maior homenagem à orquestra sinfônica de que se tem notícia no mundo da música clássica.
Já perceberam? Senão, vejamos!!
Os puristas meio que torcem um pouco o nariz para a composição, por se tratar de repetições de dois temas melódicos, à exaustão, sem muita riqueza na variação de melodias. Eles preferem outros mais renomados compositores alemães (Bach, Beethoven), austríacos (Mozart, Strauss) e russos (Tchaikovsky, Prokofiev), ou mesmo compatriotas de Ravel (vide Chopin, que na verdade nasceu na Polônia, mas radicou-se na França, e com esse nome, em que ‘pin’ vira ‘pân’, é francês e pronto).
Sim, ok, mas a riqueza do arranjo, a variedade de instrumentos em destaque, e o ritmo constante, tonitruante, vigoroso, conquistam a grande maioria, principalmente nós, leigos!
E por que eu chamo de homenagem à orquestra?
Peguem qualquer vídeo de uma performance de orquestra de Bolero no YouTube, mas recomendo a última que eu peguei, regida por Gustavo Dudamel em 2010, que é a primeira que aparece quando se googleia a canção, na qual me baseei para esta presente ode. Percebam o destaque que é dado a cada instrumento, a oportunidade de solar, de ser o astro do momento, mais que todos os outros, aquele momento só dele, um papel acima do que normalmente têm, o de coadjuvante para os mais nobres. Muitos compositores famosos compuseram concertos para piano e orquestra, para violino e orquestra, dando oportunidade aos virtuosos de mostrarem seu valor no instrumento ao solarem, mas muito pouco se vê, pouquíssimos compositores, apenas Vivaldi e Mozart, que eu saiba, fizeram um concerto para fagote e orquestra, ou para oboé e orquestra, por exemplo. Então, parece que Ravel resolveu se lembrar desses instrumentos menos favorecidos, dando-lhes um momento de glória. Ah, aqui, o link para essa impressionante execução do Bolero sugerida aqui, e daonde tirei as ilustrações
Notem o início apenas na caixa, com as baquetas levemente trotando na borda do instrumento, e comecem a imaginar uma tropa lá longe, marchando, tururuti tururuti tu tu, tururuti tururutiririririri tu. Coloquem-se olhando para o horizonte, ainda não vendo nada, mas ouvindo o marchar de tropas se aproximando. Imaginem assim que é Moisés chegando ao Egito para entregar a Etiópia ao Faraó Ramsés I.
Aí voltem para a orquestra e deleitem-se com uma flauta transversal e solitária entoando o primeiro tema (A), e depois um clarinete solo repetindo o mesmo tema, e siga notando, além da caixa sempre presente e constante, a marcação -tchan tchan- com violas e violoncelos em pizzicato, que é aquele movimento em que os dedos pinçam as cordas, deixando os arcos em espera para os estrondosos movimentos finais. Então, surge o segundo tema (B), agora com um fagote, um estranhíssimo instrumento de sopro, da linha das madeiras, e logo após repete-se o mesmo tema, agora com um clarinete em tom mais agudo, o clarinete sopranino.
Em termos de arco melódico, acabou! Novidades, só no Grand Finale!
Agora, em seqüência, repetem-se até o fim os dois temas, cada um duas vezes seguidinhas, sempre Tema A - Tema A - Tema B - Tema B. Monótono? Nem um pouco, pelo contrário! Em termos de emoção, de ritmo, de volume, nada se repete, a coisa só aumenta, o coração parece que vai junto, num crescendo incontrolável. Segue a caixa em seu tururuti tururuti tu tu, tururuti tururutiririririri tu, mas cada vez mais intenso, note-se que as baquetas vão se afastando da borda e se aproximando do centro da caixa, pois quanto mais ao centro, mais vibra a pele da caixa, maior é o volume que emana. Notem também a solitária harpa (aliás, já desde a primeira seqüência), aquele instrumento cheio de cordas em que se passa 90% do tempo afinando-as e 10% do tempo tocando-as desafinado, que se junta aos violinos, violas e violoncelos em pizzicato, -tchan tchan-, deixando mais firme e notável a marcação.
O oboé, um clarinete metido a besta, com um bico de pato e som similar ao fagote, começa solando o Tema A da segunda seqüência, e depois entra um metal, o trompete, auxiliado pela flauta, depois o Tema B é solado por um sax tenor, e depois, um sax soprano, que nem parece um sax, pois não tem aquelas curvas todas, terminando a segunda seqüência de temas.
A câmera começa então a dar atenção aos tímpanos, aqueles tambores lá no fundo e no alto da orquestra, que começam a mostrar seu valor, Tum-Tum, aquele solitário instrumentista que passa a vida esperando a hora de tocar o seu Tum Tum, prestando uma atenção danada à pauta, para não errar e receber a bronca do Maestro. Aqui, até que eles são bem usados, a final a partir da terceira seqûencia já se nota o Tum-Tum, até o final. Continue notando que as baquetas seguem seu ritmo, tururuti tururuti tu tu, tururuti tururutiririririri tu, cada vez mais forte e rumo ao centro da caixa. E notem que a marcação -tchan tchan- já tem agora o reforço dos contrabaixos, aquele enorme instrumento de corda, o elefante das orquestras, com seu metro e oitenta de altura, cujo maior desafio é carregá-lo pelos metrôs e outros rumos da vida do resignado baixista.
Agora, desvencilhem-se da orquestra um segundo, fechem os olhos e imaginem que já se enxerga no horizonte o pó levantado pelas tropas em marcha, cada vez mais perto, como, por exemplo, Otaviano chegando a Roma após conquistar o Egito de Cleópatra, que encantara o romano Marco Antônio.
A terceira seqüência começa já juntando mais instrumentos, primeiro com uma trompa no tom principal, mas com dois flautins tocando em tons diferentes, fazendo uma combinação estranha e harmonicamente sonora, depois vêm vários sopros de madeira, clarinetes e oboés em profusão, com fagote e outros fazendo marcação, ih, rimou. Alguns metais também auxiliam na marcação, mas somente se os ouve, não aparecem na filmagem.
O segundo tema vem então com um magnífico e sensível solo de trombone de vara, (como é que o cara sabe qual nota que vai sair daquilo só mexendo aquela vara??!!), com direito a espetacular glissando, até recebido com um sorriso pelo Maestro, e então a segunda seqüência fecha com um monte de flautas, sopros de madeira e metais (trombones, trompetes, saxofones, whatever). Notem que alguns violinos já deixam o pizzicato e passam a replicar a caixa, com os arcos serroteando sobre as cordas. Notem também que o piano também contribui, porém quase não se o define ao ouvido, tamanha a força dos demais.
Viajem mais um pouco e notem as tropas já visíveis a olho nu!!! Seria Alexandre da Macedônia após a conquista do Egito?
Aí, então, pára tudo que vêm agora os reis da orquestra! Ironia do destino (ou do compositor), os reis não solam! Chegaram os violinos à melodia! E por que eu os chamo de reis? Note que o Spala (ou Concert Master, em inglês), aquele representante da orquestra perante o seu Maestro, aquele que é o primeiro instrumentista a ser cumprimentado pelo Maestro ao final do concerto, é um violinista! Bem, vamos lá! A quarta seqüência começa com um monte de violinos, e aí eu choro, com aquela dança hipnotizante dos aros pra cima e pra baixo, as cordas são os instrumentos com mais coreografia, com movimento, note que os demais, afora o trombone de vara, claro, são acionados com leves movimentos nos dedos. Na repetição do tema, entram os sopros de madeira e as flautas mas, quando muda para o Tema B, vêm simplesmente todos os instrumentos juntos, numa verdadeira apoteose, que se repete ao terminar a seqüência, com ainda mais intensidade.
As tropas? Quase chegando!!!! Talvez Aladdim, na pele do Príncipe Ali Ababwa à frente do séquito fantástico criado pelo gênio da lâmpada para impressionar a Princesa Yasmin.
Lembrem-se de notar que o baterista já está quase no centro da caixa, seus braços já sobem para dar mais potência à batida, e já recebe ajuda externa, com uma segunda caixa já sonando vigorosa. Aqui, um aparte se faz necessário: que controle mental tem esse baterista, para manter aquele ritmo constante ao longo de toda a viagem, de toda a marcha, de toda a performance, é um verdadeiro metrônomo humano, inda mais tendo que aumentar de intensidade em doses homeopáticas e sem falhas, para atingir o ápice no momento devido!!! Um mestre das baquetas ... e da concentração!!
A quinta e final seqüência vem pela metade. Agora é apenas Tema A - Tema B, com este último modificado para o Grand Finale, antes do qual há uma breve desaceleração no ritmo das baquetas para imediatamente retornar, introduzindo majestosamente a mudança, em que sobe um ou dois tons, para dar ainda mais peso! Que Finale, meu Deus do céu, metais lá no alto, címbalos a 1000, que coisa estrondosa, arrepiante, e nesse momento eu já estou acrescentando gritos ao choro compulsivo, e imaginando então a tropa de Napoleão passando inteira sob o Arco do Triunfo com um enorme Obelisco, chegando vitoriosa da conquista do Egito após contemplar 40 séculos do alto das pirâmides (ô povo pra ser conquistado!).
Notem a sensibilidade do diretor de imagens ao selecionar qual o último instrumento que aparece, antes de centrar foco no Maestro ... adivinhem ... claro, a caixa, fundamental, marcante desde o início da peça.... tururuti tururuti tu tu, tururuti tururutiririririri tu!
Fim de 17:31 minutos de êxtase absoluto!!! Essa é a duração original da peça, podendo variar de 14 minutos, onde parece que os instrumentistas vão tirar o pai da forca, a 20 minutos, quando se torna excessivamente arrastado.
A peça tem apenas 90 anos de vida, e já está em domínio público, desde 2016. Foi um estrondoso sucesso ao ser lançada, para surpresa do autor, que achava que ela não era mais que um ótimo exercício de orquestração. Uma execução do Bolero começa a cada 10 minutos no mundo. Como a obra dura 17 minutos, pode-se dizer que a obra é interpretada a todo momento em alguma parte. Todos os maiores maestros já tocaram o Bolero, e lá pela década de 1960, muitos balés foram criados ao ritmo de Bolero, o mais renomado coreógrafo foi Maurice Béjart, e Bolero teve até uma cena de 9 minutos no cinema, no filme ‘Retratos da Vida’, de Claude Lelouch, em que o argentino Jorge Dunn executa o ballet no Trocadero de Paris, tendo ao fundo a Torre Eiffel, com vários outros bailarinos de apoio, e com um final estupefaciente! Pra completar, Bolero tem até Medalha de Ouro em Jogos Olímpicos, em 1984, na patinação artística no gelo, com todas notas máximas!
Hoje, terminaremos nosso Projeto O George Harrison dos Beatles, com a
segunda canção de O George Psicodélico
It´s All Too Much
George se desmancha "Quando eu
olho nos seus olhos, seu amor está lá para mim, e quanto mais eu entro, há
mais para ver. É demais para eu aguentar o amor que brilha ao seu
redor. Todo lugar é o que você faz. É demais para nós
aguentarmos!"
Aqui, existem algumas interpretações
possíveis para o objeto da declaração. George andava meio místico, então
poderia ser mais uma conversa com Deus, mas a primeira frase fala
"When I look
into your eyes, your love is there for me",
Então, eu não vejo Deus como aquele
ancião de longas barbas, hoje eu sei que é um ser incorpóreo, sem forma,
portanto sem olhos, então, descarto essa interpretação.
Depois, as imagens que entrega na
letra, como no refrão
"It's all too
much for me to see The love that's shining all around here The more I
am, the less I know And what I do is all too much"
levam a crer em uma viagem alucinógena,
tendo LSD como indutor, e George até falou nisso em entrevista posterior.
Só que lá no final, ele diz:
"With your
long blonde hair and your eyes are blue",
então, pronto, ele está pensando mesmo
em Pattie Boyd, sua esposa, ah, o amor!
A letra combina com a gravação, com muitos contornos psicodélicos,
lembrem-se, apesar de o álbum ser lançado em janeiro de 69, era trilha
sonora de um filme lançado em julho de 68, e a canção foi composta no começo de
67, o ano mais psicodélico dos Beatles. Ela tem três versos com letra diferente
e o refrão mencionado tocado quatro vezes. Havia um outro verso e mais um
refrão que foram cortados, porque a canção estava em 8 minutos de duração,
ainda um tempo considerado excessivo para uma canção. Em outras palavras, “Too
Much”, que era o nome inicial da canção. Como curiosidade, eis o refrão
cortado:
“It's all too much for me to take / it's waiting there for everybody /
the more you give the more you get / the more it is and it's too much”
... portanto, diferente do refrão repetido 4 vezes na canção, acho que se
George desconfiasse que seria cortado, teria adotado a letra alternativa em uma das vezes, pois a mensagem é
ótima,
Isso é demais só para mim, tá tudo aí
pra todo mundo
“o mais que dês, tão mais terás” o
dividir só vai somar.
Este último quarto foi tradução livre,
mas os outros três até que estão legais!!!
Enfim, como a decisão de cortar veio só
nos 'finalmentes' do processo, um trecho intermediário inteiro
foi cortado, incluindo este outro verso, também interessante:
"Nice to have
the time to take this opportunity.
Time for me
to look at you and you to look at me!"
... com ótima rima, com palavra rara e
longa.
Infelizmente, a mensagem foi abortada!
Felizmente, no filme Yellow Submarine,
está na íntegra!
A gravação ocorreu fora da EMI, no De Lane Lea Music Recording Studios,
novidade absoluta para eles. Na primeira sessão, em 25 de maio, eles ensaiaram
muito (era a primeira vez que os seus companheiros ouviram a canção de George)
e gravaram 4 takes, com George em um órgão, John numa guitarra extremamente
distorcida, Paul no baixo e Ringo na bateria!
Havia uma enorme introdução de 22 compassos, com George repetindo os
acordes do refrão no órgão cinco vezes, cantando nas duas últimas o título da
canção, e com destaque para a bateria de Ringo, ainda precedida por
um grito ininteligível de John e acorde longo de sua guitarra estendido em
distorção máxima,
A introdução de IATM
e com o feedback permitido no registro, que só terminava com a entrada
de um acorde no órgão que zumbiria ao logo de toda a canção (como um drone,
como um zanção) como que abrindo as cortinas para um espetáculo psicodélico,
além de um Grand Finale, ou eu deveria chamar de Long Finale, instrumental e
gritos variados.
As palmas que se ouvem ao longo dos refrões, com os 4 Beatles
esquentando as mãos, bem como as harmonizações de John, Paul e George nos
refrões, e "Too Much-a" e variações finais, vieram na segunda sessão, 5 dias depois,
bem como a extensiva percussão adicional, com Ringo no chimbal,
Paul no cowbell, John no bloco sonoro (woodblock).
Na terceira e última sessão, no dia
seguinte, vieram os metais, com uma clarinetista e 4 trompetistas, um deles, em
certo David Mason, que fizera história em Penny Lane além de mais
acréscimo de sons e tons múltiplos no extenso final.
Parte de Metais
Se você se admirou dos 22 compassos de
duração da introdução, preste atenção e conte 1-2-3-4 e vá contando quantas
vezes você conta 1-2-3-4. Contou? Eu contei: 79 vezes!! Um recorde até então,
que não seria batido nem por Hey Jude, com seus 72 compassos!
Deixo aqui pra vocês a versão completa,
de 8 minutos.
Bem, se tiverem a curiosidade, passem ali na Seção de Marcadores (assuntos), ali à direita da tela, e notem.
Esta postagem que estão a ler é a 300ª sobre Cinema deste blog que os acompanha já há 12 anos e pico.
Veja bem, isso não quer dizer que eu tenha feito 299 resenhas de filme, não, bem longe disso... É que funciona assim o tal Marcador: quando eu menciono algum filme e ele é importante ao enredo do post, eu coloco Cinema como um dos Assuntos Referidos no post. Por exemplo, o primeiro que verão, ao selecionarem o Marcador Cinema, é o relato de minha pneumonia, lá de 2012, em que eu mencionei alguns filmes que me ajudadram a passar o tempo. Eu o republiquei por conta de uma referência de um amigo sobre a doença. Aliás, está muito divertido, se quiserem, é só chegar lá para ler.
Mas, enfim, vou celebrar esse marco tricentenário com uma resenha dupla, falando brevemente sobre dois filmes que vi, multi-indicados ao Oscar de 2023.
O primeiro é Tár, que vi na semana passada, mas não escrevi imediatamente sobre ele porque saí de lá meio assim-assim, mas reconhecendo ser um excelente filme. Cate Blanchett arrasa como a Maestro (assim mesmo!) e merece cada centimetro da indicação, se indicações forem medidas em centímetros. Encenar Maestros requer muito treino, para não transparecer falsidade, e os especialistas aprovaram seus movimentos com louvor. E toca piano, mesmo não sendo pianista! E como comanda a Filarmônica de Berlim, desenvolve-se em perfeito alemão em muitos trechos. Dizem que deve ganhar seu 2º Oscar como Melhor Atriz, mas não consigo opinar sem ver as demais candidatas. Ela já levou o Globo de Ouro deste ano de Melhor Atriz em Drama!
Sobre o assim-assim, defini melhor esse sentimento quando soube que um Bonequinho d'O Globo aplaudiu sentado e um outro estava dormindo. Olha, difícil eu concordar tanto com essa famosa seção do maior jornal do Rio. É uma combinação de sentimentos pois, se por um lado a gente vê o cuidado na direção das cenas, a fotografia, o enredo, mostrando o poder que um grande maestro tem sobre seus comandados, às vezes beirando o estrelismo, a ditadura, fazendo a gente pensar tratar-se de um personagem real, por outro lado, o filme é parado.... bem parado .... e longo... muito longo.... 40 minutos a menos não iriam fazer falta... Os outros Oscars a que concorre são Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original, Melhor Fotografia, Melhor Montagem. Peço que atentem para os longos créditos iniciais que mais parecem finais, com uma canção oriental estranha ao fundo. Entenderão a razão!
E ontem, fui assistir aos Banshees de Inisherin, explicando logo o título, que felizmente não foi reinventado para a eibição no Brasil: Banshees são figuras lendárias na Irlanda, entidades premonitórias de desgraças, e Inisherim é uma ilha fictícia na costa irlandesa, entenderão de onde surge durante o filme. A ação se passa em 1923, exatamente 100 anos atrás, quando o continente do país estava imerso em uma Guerra Civil. Você sai do cinema feliz por ter visto úm ótimo filme, merecedor de 5 indicações ao Oscar (Filme, Diretor, Roteiro Original, Montagem e Trilha Sonoa), com notáveis atuações, 4 delas aclamadas com outras 4 indicações da Academia (Ator - Atriz Coadjuvante - E DUAS de Ator Coadjuvante!!), mas não sabe se acabou de ver uma comédia ou um drama.... É uma comédia dramática ... ou um drama engraçado. O Globo de Ouro o classificou para concorrer na classe Comédia ou Musical, mas sinceramente, acho que está mais para drama, afinal você não sai da sala com um sorriso no rosto, apesar de ter rido em muitas ocasiões.
Colin Farrell, que levou o Globo de Ouro 2023 de Melhor Ator em sua categoria, é o simplório Pádraic Súilleabháin (tive que copiar-colar), que vive com sua irmã (outro nome esquisito) numa casa isolada da ilha, tratando de suas poucas vacas que lhe dão o sustento, na companhia de um cavalo e uma jumentinha fofa, que tem uma amizade com o personagem de Brendan Gleeson, um violinista mais velho que também tem um cachorrinho fofo, só que não, a tal amizade já começa abalada, e o filme gira todo em cima disso, com nosso herói inconformado com a situação, que leva a contornos surpreendentes!! Merece todo meu aplauso, mas, ó, não use este filme pra treinar seu ouvido em inglês! Sem legenda, você entenderá no máximo 5% dos diálogos. Ô sotaque terrível.
Fiquei feliz em subir minha lista a 8 FIlmes indicados ao Oscar de Melhor Filme em 2023! .
Em um grupo de beatlemaníacos ferrenhos, um deles, carlos, publicou um áudio de Roy Orbison, pronto... gatilho para mais uma ótima reportagem de Virgínia de Paula, sobre The Traveling Wilburys, banda que George Harrison criou nos anos 1990, que tinha, além do astro, também Bob Dylan, Tom Petty e Jeff Lynne, que transcrevo aqui, ipsis litteris.
Duvido que 10% de minha 'turma' tenha ouvido falar dessa banda sensacional.
Obrigado, Virgínia!!
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Roy Orbison ! Muito bom também!
Soube de uma história bacaninha, mas não sei ser verdadeira. Eu li em algum lugar. Que foi Jeff Lyne quem sugeriu a George que fizesse uma gravação com amigos. Que criasse uma banda. Porque George, na verdade, não tinha achado graça nesse negócio de carreira solo. Ele sentia falta de tocar com amigos. (isso foi depois confirmado por Tom Petty). Ele sabia que não seria com os antigos Beatles, mas que se reunisse com outros amigos. George gostou da ideia, mas só aceitaria se Bob Dylan concordasse. Pronto, pensou Jeff. Não vai dar certo. Bob Dylan é muito complicado, jamais aceitaria tal aventura. Mas sendo pedido de George...quem sabe? Fiquei sabendo também que era comum amigos pedirem a George que ligasse para Bob Dylan …
E lá foram os três para Woodstock. George estava quase satisfeito, mas ainda faltava outro músico e ele tinha sonhado com Roy Orbison, de quem gostava tanto na adolescência. Mas nem tentou. Achava que ele não aceitaria. Pois bem. Ao chegaram no estúdio, quem estava lá? Por acaso...Roy Orbison. A lua estava boa mesmo.
Porque Roy aceitou! Eles nem sabiam o que gravariam. Até então tinham pensando em gravar apenas um single. Havia uma caixa num canto do chão escrito Handle with Care. Pois foi a inspiração para a música...que ficou fantástica. E se divertiram tanto que o jeito foi gravar um álbum. Magnífico, por sinal.
Se foi exatamente assim que aconteceu, eu não sei. Mas gosto da história. Sei que resolveram lançar outro album, numero 3. Ideia de George. E o número 2? Não teria. Era apenas para que perguntassem pelo número 2. Humor Beatle.
Gravaram tambem mais uma música que saiu num album beneficente e não foi incluída nos albums. Runaway. Porque George adorava aquela música de Del Shannon. A música de Del, como ele dizia. Fiquei emocionada porque eu era alucinada com essa música também. Lembro de um dia que ela foi anunciada no radio bem na hora que chegou visita. E minha mãe mandou eu apagar o rádio. Eu saí em prantos da sala. Chorando copiosamente. Mas logo lembrei que tinha o rádio da minha irmã no quarto de dormir. Corri para lá e ainda deu para pegar a musica quase toda. Dancei o tempo todo dando pulos. Era assim que eu gostava de Runaway. Apaixonadamente. Ouvi-la de novo com Nelson Willbury me emocionou pra caramba. E saber que George gostava dela tanto quanto eu...
O grande problema foi aquela brincadeira sem graça de 'Will Bury' que deu origem ao nome da banda. Vamos enterrar...O pessoal começou a morrer! Roy Orbison foi o primeiro. Não participou do segundo album. Então convidaram ... Del Shannon! Pois ele morreu! Pouco depois, George também se foi.
Nessa história descobri outro ponto em comum com George. Nem acreditei ao ler sobre o tanto que gostava do seriado de TV A Familia Do Re Mi. Eu gostava demais daquilo, gente. Achava um encanto. Pois George também. E se inspirou no show da TV para inventar que eles teriam outros nomes e seriam todos irmãos da família Willbury.
Handle with care. A primeira que gravaram...O que mais me encanta é ver George tão feliz. Dá para sentir. Gente, posso jurar que ele estava no sétimo céu. Feliz, feliz, feliz. Sentia falta de estar com amigos fazendo música.
Juro que é o último. Quem mandou Carlos postar sobre Roy Orbinson? Memórias chegando. Mas eu não podia me despedir sem essa quando todos tiveram vontade de "Twist and Shout"... Pensaram em quem?
Não, calma, nem tanto, mas a saga de Renata esteve presente na vida de pelo menos 10 leitores de Renata que declararam a inspiração na saga que minha filha criou e segue criando...
O primeiro foi este aqui...
Aí, ela fez um Story no Instagram com aquela carinha dela cheia de felicidade, e outras 8 pessoas apareceram agradecendo muito, todas com ótimas notas, sendo mais duas com 900, a mínima foi 720, e na média deu 850! Todos declararam terem usado a Saga A Arma Escarlate como 'repertório' da redação! Interessante esse termo. Acho que o examinando tem que declarar de onde tirou a informação.
Cabe explicação!
O tema da Redação neste ano foi:
“Desafios para a valorização de comunidades
e povos tradicionais no Brasil".....
Pronto....
É que o livro dela, O Dono do Tempo, o 3º da Saga A Arma Escarlate, escrito muuuito antes desta celeuma atual, tratava dos povos originários da Amazônia, pois o herói Hugo Escarlate tem que se embrenhar floresta adentro e vai encontrando moradores e lendas incríveis dos povos da região, que Renata descreveu muito bem....
Ela conta encontrou muitos moradores de Amazo, nas e Paráque agradeceram a ela por fazerem-nos saber muito mais que que sabiam sobre o lugar onde vivem.
Essas ótimas notas, como falaram no agradecimento, podem ter sido decisivas para a conquista do lugar desejado no exame.
Renata está realizada.
Conta-me que vieram dos 4 cantos do Brasil
Minas Gerais (2), São Paulo (2), Curitiba, Brasília, Rio Grande do Sul, Ceará, Amapá.
Sim, próximo passo é a organização do ENEM usar citações dos livros de Renata nas próximas edições!