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sábado, 3 de setembro de 2022

OUÇA e LEIA - O George Harrison dos Beatles - Capítulo 2 - O George Romântico - Parte 1

 Esta é a 32ª edição de OUÇA e LEIA,

onde você ouve uma historinha minha 

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Olá, viajantes do Submarino Angolano

Aqui é Homero Ventura direto do Brasil!

A carreira de George Harrison nos Beatles

Começamos este projeto cobrindo as canções em que George foi apenas o vocalista principal, nos anos de 63 e 64.

Vamos agora ao

Capítulo 2: O George Romântico, que teve canções em 63, 65, 66 e 69. A partir de agora, não se faz mais necessário destacar os compositores das canções, serão todas compostas por George Harrison, um compositor em ascensão dentro dos Beatles.

Fiz em três partes.

Parte 1: With The Beatles e HELP

Início de Don’t Bother Me

A primeira vez em que se ouviu uma composição de George Harrison foi logo no 2º LP, With The Beatles. E veio no modo GGG, Greta Garbo George, "I want to be alone!"

Don’t Bother Me era uma canção de Saudade, na classe Tristeza, uma das poucas que escapavam àquele estilo 'happy-go-lucky', de garotos felizes e apaixonados do início de carreira dos Beatles. Ela foi feita durante uma turnê em Bournemouth, no litoral sul da Inglaterra, em que ele ficou mais na cama, por estar doente, só saía de lá pra tocar, nos 6 shows. 

George compondo na cama do hotel em Bournemouth

Ele passou esse climão para a letra. E mesmo sendo sua primeira canção, já usou o padrão Beatle de composição: fazer mais de um verso com letras diferentes. Aqui foram logo três. No 1º, ele quer ficar só e admite a culpa por seu estado. No 2º Verso, ele não pode crer que está só, que não é justo, e tal, mas quer continuar só. Então, vem a ponte, com melodia diferente, onde declara que não será mais o mesmo, e que aquela garota é a certa pra ele. No Verso 3, ele confirma seu desejo: não quer ver ninguém até que ela volte! Então vem um verso quase todo instrumental, com a guitarra do autor e a finalização repetindo a repulsa final do Verso 2. Depois, mais uma ponte, igual, e a finalização com um "Não me amole!" do título da canção repetido várias vezes em fade out.

Ela foi gravada em 11 de setembro de 1963, com George cantando ao vivo e os 4 Beatles tocando seus instrumentos usuais, só que John introduziu um toque diferente, um trêmulo, constituindo-se na 1ª vez em que um equipamento eletrônico foi usado na carreira dos Beatles! 

Takes 10, 11, 13,  notem os trêmulos

O 9ºTake, foi a base para overdubs. George dobrou seu vocal, com umas poucas falhas, afinal era a 1ª vez em que fazia aquilo, e aí resolveram abrir a sala de instrumentos de percussão da EMI: Paul pegou claves e Ringo, um bongô árabe. 

Infelizmente, Don't Bother Me nunca mais foi tocada pelos Beatles, e nem por George em sua carreira solo, e nem por seus amigos no concerto de despedida, um ano depois de sua morte! Felizmente, ela acabou entrando para a posteridade, pois aparece no filme A Hard Day's Night no ano seguinte ao seu lançamento, mas apenas como música incidental, é a segunda que toca enquanto os Beatles dançam.

Versão Mono, tocada no filme A Hard Day's Night
Início de I Need You

Welcome back, GeorgeDemorou ano e meio para George Harrison apresentar sua veia de compositor novamente. Após dois álbuns ausente, ele aparece com duas selecionadas para o novo produto Beatle! E a primeira é tão boa que foi Lado A do LP HELP e foi tocada no filme de mesmo nome! 

I Need You pode ter sido indiretamente inspirada em sua namorada, Pattie Boyd, mas apenas como um desejo que o rompimento não aconteça, pois não há notícias de que eles estivessem brigados à época, enfim. Fato ou fake, a canção é maravilhosa. A estrutura seguia o padrão daqueles tempos, verso-verso-ponte-verso, sem refrão, versos com letras diferentes, depois repete ponte e o último verso. Ela nasceu nas últimas horas do 1º dia de gravações para o álbum, em 15 de fevereiro de 65, e foi terminada nas primeiras horas do dia seguinte.   

Na introdução, nota-se o efeito de volume na guitarra de George, pela primeira vez usado em gravações Beatle. São quatro acordes, e apareceria de novo ao final de cada frase dos versos, mas isso veio em overdubs, após estabelecida a base.

George confessa: “Eu não conseguia coordenar direito... algumas vezes fazíamos assim: John se ajoelhava em frente a mim e acionava o controle de volume da guitarra!!"

Na distribuição dos instrumentos, uma configuração diferente: Paul, sim, no baixo, simples, nada demais, George faz o ritmo no violão, John surpreendentemente está na bateria, simples mas mostrando versatilidade, mas e Ringo? Ele está no violão.... mas calma, o violão está no seu colo, com as cordas para baixo, sendo batucado! Foram 5 takes até acertarem a base! De madrugada, vieram os overdubs, além do pedal de volume, já citado, Ringo também grava o cowbell, nas duas vezes em que a ponte aparece, entre os versos.

"Oh, yes, you told me you don’t want my lovin’ anymore That's when it hurt me, and feeling like this, I just can't go anymore"

Eu gosto tanto do som do cowbell, que tenho a estranha mania de quantas vezes ele é ouvido, e aqui foram 74 vezes (2 x 37). E vieram a guitarra de George e as harmonias vocais de Paul no final dos versos, e de John e Paul nos versos e na ponte, elas conferem o tom dramático da letra que fala em abandono.  

No filme, eles tocaram I Need You ao ar livre, em meio a tanques, mas era fake, afinal ia ficar estranho ver John sentado à bateria e Ringo batucando num violão, então eles assumem seus tradicionais instrumentos. Ao vivo, mesmo, aliás, I Need You NUNCA foi tocada, nem em rádios, nem em shows! Felizmente, ela foi lembrada no Concert for George, de 2001, na voz de seu grande amigo Tom Petty, companheiro dos Travelling Wilburys.

I Need You do Concert For George, com Tom Petty, em 2001

Início de You Like Me Too Much

George Harrison estava num ano muito produtivo. Após um 63 e um 64 que viram apenas uma canção do astro, em 65 ele produziu 4 (quatro) canções dignas de nota, que passaram pelo crivo do ‘compositores-chefe’, os imbatíveis Lennon/McCartney. Uma delas, inclusive, mereceu aparecer no filme HELP!, duas viriam no segundo álbum do ano, e esta que ora vos descrevo. Ela esteve, inclusive, entre as finalistas para aparecer no filme, mas escorregou pra o Lado B.  

Era uma DR.

George reclama que a garota o deixou de manhã, mas tinha certeza que ela voltaria de noite "'Cause you like me too much and I like you!". Ao final, a promessa/confissão "There’ll be no next time, I admit that I was wrong"  foi suficiente. Se foi realmente baseado em um episódio da vida real dele com a  namorada Pattie Boyd, não há a certeza, mas é provável, afinal ele e os amigos davam muuuitos motivos, com a sequência de traições durante as excursões do quarteto, e elas sabiam disso. O fato é que George e Pattie acabaram se casando em janeiro do ano seguinte, portanto, o amor venceu, e deixei a canção classificada como Love Song. George inova na conjunção entre elementos da estrutura, fazendo com que a ponte seja um complemento à última frase do verso anterior, ao mesmo tempo que introduz o verso seguinte. Explicando melhor:

o Verso 2 termina com "and I like you...",

e   vem a ponte e complementa a frase com "I really do... ",

ela segue, e finaliza com "...if you leave me",

mas aí vem o verso 3 para terminar a frase "I will follow you... "

Genial! Seus geniais companheiros letristas nunca haviam feito isso! Um primor!! Parabéns, George!!   

E ela veio ao mundo em 17 de fevereiro de 1965, a 2ª sessão de gravação para o álbum HELP. Foram 8 takes no total. Pra mim, o destaque absoluto vai para o piano, desde a introdução fenomenal que é tocada por Paul e depois por Paul e George Martin sentados lado a lado,  em overdubs sensacionais, e ainda John assume o piano ao longo dos versos, com som incrementado por eco.   

Nem pensar, claro em cantar You Like Me Too Much ao vivo, né. Impossível Paul e John estarem ao piano E em suas guitarras ao mesmo tempo! E nem pensar também que americanos e brasileiros pudessem ouvi-la como foi lançado no oficial britânico, ela não fez parte do álbum HELP lançado nos EUA nem no Brasil, com o detalhe que os gringos a ouviram antes mesmo dos ingleses, num álbum chamado Beatles VI . No Brasil, foi relegado a mais um daqueles EPs com 4 canções.

            You Like Me Too Much - versão completa

 Na próxima semana, Mais George Romântico

Até lá!

Demais edições do OUÇA e LEIA

  1. Neste LINK - A Origem dos Beatles 
  2. Neste LINK - Homenagem a Buddy Holly
  3. Neste LINK - 1º Capítulo do Projeto Medley
  4. Neste LINK - 2º Capítulo do Projeto Medley 
  5. Neste LINK - 3º Capítulo do Projeto Medley 
  6. Neste LINK - 4º Capítulo do Projeto Medley
  7. Neste LINK - 5º Capítulo do Projeto Medley 
  8. Neste LINK - O Projeto Medley
  9. Neste LINK - O 6º Compacto. 
  10. Neste LINK - The Ballad Of John And Yoko  
  11. Neste LINK - Happiness Is A Warm Gun  
  12. Neste LINK - While My Guitar Gently Weeps  
  13. Neste LINK - You Know My Name (Look Up The Number)  
  14. Neste LINK - A 1ª Década Sem The Beatles - Going Solo 
  15. Neste LINK - A 2ª Década Sem The Beatles - Década de Luto
  16. Neste LINK - A 3ª Década Sem The Beatles - Antológica 
  17. Neste LINK - A 4ª Década Sem The Beatles - NakedLove090909 
  18. Neste LINK - A 5ª Década Sem The Beatles - Cinquentenária 
  19. Neste LINK A 6ª Década Sem The Beatles - The Get Back Decade
  20. Neste LINK Os Números nas Canções dos Beatles 
  21. Neste LINK Os Nomes de Gente nas Canções dos Beatles
  22. Neste LINK Os Nomes Próprios nas Canções dos Beatles
  23. Neste LINK Os Animais nas Canções dos Beatles
  24. Neste LINK - A Parceria Lennon / McCartney 
  25. Neste LINK - Os Beatles de Ringo Starr 
  26. Neste LINK Análise de Eight Days A Week
  27. Neste LINK Análise Temática de Being For The Benefit of Mr. Kite 
  28. Neste LINK Análise Temática de Honey Pie
  29. Neste LINK Análise Temática de Yer Blues 
  30. Neste LINK Análise de Birthday
  31. Neste LINK Análise temática de Yellow Submarine
  32. Neste LINK O George Harrison dos Beatles - As Covers

3 comentários:

  1. Todas ótimas. Só tenho a agradecer pelos detahes que eu ignorava. John na bateria...Ringo usando o violão para tambor...rs rs rs.
    Mas tem algo que não está correto...a menos que se refira a radios americanas e inglesas. Aqui no Brasil cancei de ouvir ( mentira, nuna fiquei cansada de ouvir ) I need You pelas emissoras de rádio,. Foi muito apreciada por aqui sendo inclusive gravada em português pelos Golden Boys.
    George não costumava fazer músicas inspiradas em sua vida intima. Não creio que essas músicas tenham sido sobre Patty Boyd. Ele nunca falou nada a respeito. Essa começa surgiu lá fora porque são muitos que acham assim. Que compositores só escrevem sobre fatos verdadeiros e se for sobre alguma mulher...tem de ser as namoradas ou esposas. Nada mais longe da verdade. I need You não leva jeito de ser. You like me too much...pode até ser, mas pode não ser. Exatamente como você falou. Concordo com você. Só que você acha provavel ter sido. Eu acho que provavelmente não foi. rs rs rs. Mas nenhum de nós tem certeza.
    Help foi o último disco deles ainda no formato tradicional. Tinha essa bobagem do Lado B ser pior que o lado A. A ficha caiu porque de repente disseram que gostariam que todas as faixas fossem boas. Não mais "fillings". Que todas pudessem ser bons singles. E então...surge Rubber Soul. A partir daí os Beatles se tornaram uma banda principalmente de albuns. Até nome mudou...de LP para albuns. Viraram albums mesmo, com capa para ser namorada, com presentes dentro...e todas as faixas meio que conectadas...Curiosamente foi quando aqui no Brasil seus discos passaram a ser lançados que nem os ingleses. Não se podia mais mexer nas faixas, mudar a ordem, lançar quatro apenas em compactos duplos...Aquilo seria sacrilégio.

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  2. Segui a tua sugestão e acompanhei o texto junto com a sua fala na Submarino Angolano. Ficou demais! O texto ficou muito mais claro para mim que tenho pouco conhecimento musical: termos como ponte, overdubs soaram-me mais familiares. Adorei o "formato"!
    Vais repetir a dose? Espero que sim.

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  3. Que cansei é esse com c? Não sei como editar.

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