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domingo, 12 de fevereiro de 2023

OUÇA e LEIA - O George Psicodélico - Canção 1

  Esta é a 46ª edição de OUÇA e LEIA

onde você ouve uma historinha minha 

e lê o que está ouvindo!

Primeiro, o LINK, do áudio

Abaixo, o texto correspondente!
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Olá, amigos do Submarino Angolano

Seguindo com nosso projeto O George Harrison dos Beatles

Em nosso Projeto O George Harrison das Beatles, num belo momento, eu acabava de descrever as 4 canções dele no Álbum Branco, final de 1968, e tal, e o próximo alvo seriam as duas canções dele em Yellow Submarine, que foram lançadas em janeiro de 69, porém gravadas bem antes. E elas são, sem dúvida, componentes da mesma Fase Madura, mas resolvi fazer um desvio em minha classificação, pois mais que maduras, elas são PSICODÉLICAS! Não há no cancioneiro beatle canções mais psicodélicas que Only a Northern Song e It’s All Too Much.

Não que não houvesse pinceladas de psicodelismo em outras canções dele e dos outros Beatles, mas essa duas são o ápice, refletiram a época cultural daqueles anos, além de representarem metade das canções inéditas da trilha sonora do filme Yellow Submarine, por si só um píncaro da Psicodelia. 

Então, fiz um desvio, descrevi as duas canções que faltavam do George Maduro, e agora chegou a hora. Vamos à primeira canção do George Psicodélico.

Only a Northern Song (Group Speech Song by George Harrison)

George revela "Quando você escutar tarde da noite, você pode pensar que a banda não está certa, mas está, ela toca assim mesmo. E realmente não importa os acordes que eu toque, as palavras que eu diga, ou que hora do dia seja, porque é apenas de uma canção do norte"

Mágoa! Este é o sentimento que define esta canção! E ela veio com múltiplas mensagens! Era o começo de 1967, e já estavam correndo os planos para o álbum Sgt. Pepper's. Houve uma espécie de combinação, de que os Beatles fizessem canções sobre sua infância, seus tempos em Liverpool.

John veio com Strawberry Fields Forever, 


Paul veio com Penny Lane, 


Ringo decerto não se sentiu animado em escrever sobre o tema, tendo-se submetido a duas internações em hospital que lhe tiraram 3 anos de sua vida normal, e a de George veio com mágoa!

Ele reclama dos companheiros compositores da Banda, que não importavam os acordes que tocava, as palavras que dizia, ela era apenas uma Northern Song, uma Canção do Norte, como do Norte era Liverpool, a cidade objeto, ao menos em tese, da canção.  Porém, mais que isso, Northern Songs era o nome da companhia que detinha os direitos sobre as canções dos Beatles desde o começo de 1964. Paul e John, os maiorais da banda, dividiam 30% dos direitos, Ringo e George dividiam 1/10 de 1/3, ou seja, levavam 1,67% cada um, um acordo ferino, imposto por Dick James, o editor, que ficava com os demais 67%(!!!). 

Mágoa por ter assinado tal contrato, lá em 1964! 

O efeito era que John e Paul ganhavam mais com as canções que George compunha do que ele mesmo! E, repetindo, mágoa também porque George sofria quando suas canções não eram levadas muito a sério por Paul e John. E o fato aconteceu com essa própria canção, que foi considerada muito down para um álbum up. 

Cá entre nós, era mesmo! Até George concordou!  

Posteriormente, chegou a vez dela, contarei. Em tempo, as canções que John e Paul fizeram também não foram lançadas em Sgt. Pepper's, mas mereceram lançamento em compacto! George felizmente apareceu com uma outra e espetacular canção para o álbum, Within You Without You! 

Por mais que Only a Northern Song tenha sido desprezada para o lançamento para o qual foi proposta, ela segue a exigente linha composicional dos Beatles, tem três versos com letras distintas, são preâmbulos para a conclusão do refrão, mais ou menos assim:

"Se você ouve esta canção e acha que está estranha,

If you're listening to this song
You may think the chords are going wrong
 

Ou (ii) que as palavras não combinam

When you listen late at night

You may think the verse are not quite right 

Ou (iii) que a harmonia é pesada,

If you think the harmony
Is a little off and out of key, you're correct

você não está errado!".

Boas rimas estão presentes, gosto particularmente da rimas seguidinhas do refrão (play – say – day), e aqui tem o requinte de ter letras diferentes nos refrões, com várias coisas que realmente não têm a menor importância,e introduzem o título, nas duas primeiras vezes


It doesn't really matter what chords I play

What words I say or time of day it is

As it's only a Northern song

e na terceira até nem menciona o título


And it told you there's no one there"

 

ou "ninguém ouve minha canção"... mágoa até o fim.

Uma nota sobre estas frases finais dos refrões: elas são em tempo 3/4, enquanto o resto é no tempo 4/4. Palmas para Ringo! 

John não participou da base da canção, que foi definida, em 13 de fevereiro. George tocou órgão, Paul, o seu tradicional baixo, e Ringo, a sua tradicional bateria, com direito a muitas viradas!


Viradas de Ringo

Foram 9 takes, os últimos 6 infrutíferos, posto que escolheram o Take 3 como o melhor. Mas depois, o Take 6 ressuscitou! A base tinha espaço para instrumentação em dois versos inteiros e um refrão não cantados, mas que não se espere um elaborado solo de guitarra para o espaço. Para casar com a fala sobre os 'acordes estranhos', ele usou acordes estranhos e dissonantes.


Hora de ressaltar os acordes dissonantes

E também no terceiro verso cantado em que diz que a harmonia é “dark and out of key,”, nota-se o que ele quer dizer com aquilo, afinal, desafinou de propósito.


Hora de ressaltar a harmonia desafinada


Reduções feitas, para liberar espaço na fita, o Take 12 foi adiante para overdubs, que viriam no dia seguinte, com George e seu vocal, ainda não definitivo. E foi só isso.  


O Take 3 

Nesse ponto, decidiu-se que a canção não iria decolar e iria para a prateleira. E ela só retornou à baila dois meses depois, quando se descobriu que seria ótima para o novo filme. Num glorioso 20 de abril, ela ganhou uma cara extremamente psicodélica com os incríveis overdubs. Primeiro, Paul regravou seu baixo, depois pegou um trompete e saiu tocando, aleatoriamente, sem planejamento nenhum, fazendo questão de pontuar com notas discordantes, especialmente no refrão instrumental final. O mesmo fez John (agora, sim, ele estava) com um piano e um glockenspiel, na verdade, o nosso conhecido xilofone. 

Som do tropete e do glockenspiel

Acresceram também estranhos sons disponíveis em fita, vozes estranhas e cacofonia explícita,  e George gravou (e dobrou) um novo e definitivo vocal. E até harmonizou, sem querer, no Refrão 2, ao cantar o final de "... or if my hair is BROWN" em segunda voz.

Ficou ótimo!  

A loucura se estabeleceu e o verso instrumental final, que vai caminhando para o fade-out, tem vozes de John e de George, que também toca um piano, no clima, passando os dedos sobre as teclas ao léu.   

Os estranhos sons 

Isso tudo além de pandeiros e percussões variadas, de todos os quatro Beatles, identificando-se até mesmo um tímpano de orquestra, seguro que de Ringo, lembrando de Every Little Thing de três anos antes. 

Os tímpanos de Every Little Thing

A coisa é tão intensa e esquisita que não tem nenhuma guitarra nesta canção do guitarrista solo dos Beatles. E, após um extensivo trabalho dos engenheiros para casar os tempos entre diferentes takes (incluindo um anterior ao escolhido no Day 1, o já falado Take 6), estava pronta a canção para ser incluída no filme!

Em que pese sua atribulada história, ela tem um bom destaque no filme YellowSubmarine, acompanhando cenas com as imagens dos 4 Beatles eles mesmos, alteradas como se fossem criadas por Andy Wahrol, e não com as caras da animação. Claro que nenhum Beatle a tocou ao vivo, e nem mesmo em carreira solo, e isso nem seria possível.

Venham comigo nesta viagem psicodélica.... afinal...

It’s Only a Northern Song.


Na próxima edição, mais uma canção de George Psicodélico

Demais edições do OUÇA e LEIA

  1. Neste LINK - A Origem dos Beatles 
  2. Neste LINK - Homenagem a Buddy Holly
  3. Neste LINK - 1º Capítulo do Projeto Medley
  4. Neste LINK - 2º Capítulo do Projeto Medley 
  5. Neste LINK - 3º Capítulo do Projeto Medley 
  6. Neste LINK - 4º Capítulo do Projeto Medley
  7. Neste LINK - 5º Capítulo do Projeto Medley 
  8. Neste LINK - O Projeto Medley
  9. Neste LINK - O 6º Compacto. 
  10. Neste LINK - The Ballad Of John And Yoko  
  11. Neste LINK - Happiness Is A Warm Gun  
  12. Neste LINK - While My Guitar Gently Weeps  
  13. Neste LINK - You Know My Name (Look Up The Number)  
  14. Neste LINK - A 1ª Década Sem The Beatles - Going Solo 
  15. Neste LINK - A 2ª Década Sem The Beatles - Década de Luto
  16. Neste LINK - A 3ª Década Sem The Beatles - Antológica 
  17. Neste LINK - A 4ª Década Sem The Beatles - NakedLove090909 
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  19. Neste LINK A 6ª Década Sem The Beatles - The Get Back Decade
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  26. Neste LINK Análise de Eight Days A Week
  27. Neste LINK Análise Temática de Being For The Benefit of Mr. Kite 
  28. Neste LINK Análise Temática de Honey Pie
  29. Neste LINK Análise Temática de Yer Blues 
  30. Neste LINK Análise de Birthday
  31. Neste LINK Análise temática de Yellow Submarine
  32. Neste LINK O George Harrison dos Beatles - As Covers
  33. Neste LINK O George Harrison dos Beatles - O George Romântico Parte 1
  34. Neste LINK O George Harrison dos Beatles - O George Romântico Parte 2
  35. Neste LINK O George Harrison dos Beatles - O George Romântico Parte 3
  36. Neste LINK O George Harrison dos Beatles - O George Romântico Parte 4
  37. Neste LINK O George Harrison dos Beatles - O George Indiano Partes 1 e 2
  38. Neste LINK O George Harrison dos Beatles - O George Maduro Parte 1
  39. Neste LINK O George Harrison dos Beatles - O George Maduro Parte 2
  40. Neste LINK O George Harrison dos Beatles - O George Maduro Parte 3
  41. Neste LINK O George Harrison dos Beatles - O George Maduro Parte 4
  42. Neste LINK O George Harrison dos Beatles - O George Maduro Parte 5
  43. Neste LINK O George Harrison dos Beatles - O George Maduro Parte 6
  44. Neste LINK O George Harrison dos Beatles - O George Maduro Parte 7
  45. Neste LINK O George Harrison dos Beatles - O George Maduro Parte 8

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