-

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

OUÇA e LEIA sobre o dia em que a música morreu!

Há 15 anos, num 3 de fevereiro, escrevi um texto com este nome:

O DIA EM QUE A MÚSICA MORREU

Hoje, o óbito completa 64 anos!

Em agosto de 2021, coloquei voz... 

O DJ do programa Submarino Angolano colocou sons...

E cá estamos em mais uma edição de

OUÇA e LEIA

Aqui, neste LINK, o áudio do programa

Abaixo, o texto que o originou!
________________________________


Olá, Viajantes do Submarino Angolano

Aqui é Homero Ventura, direto do Brasil

O DIA EM QUE A MÚSICA MORREU...

Muito provavelmente, esta frase lhe cause alguma curiosidade, não mais que isso.

A que dia será que ela se refere?

Talvez, ao traduzi-lo para o inglês, e a coisa virar ‘The Day The Music Died’, você revirará sua memória profunda, se tiver idade suficiente para isso, e lembrar-se-á de uma canção da década de 70.

Se você tiver uma memória acima da média e algum conhecimento musical, lembrar-se-á que o trecho é parte de um grande sucesso de um certo Don McLean, chamado ‘American Pie’, e até um pouco de sua letra

"But something touched me deep inside

The day the music died

e segue Don McLean….

So bye-bye, Miss American Pie

Drove my chevy to the levee, But the levee was dry

And the good old boys were drinking whiskey and rye

Singing, this’ll be the day that I die

this’ll be the day that I die"

Ok, ok, você já está de bem com Alzheimer, aliás, bem distante do alemão. E tem conhecimento musical, tudo bem, maaas, você realmente sabe o que Don McLean quis dizer com aquela ‘alguma coisa que tocou fundo em meu ser’? Sabe? Muito bem!!!! Passou no teste, e seu conhecimento musical, e mais ainda da história do rock’n roll, é muito acima da média, quase PHD!! É certo que saber a qual acontecimento Don McLean concedeu a distinção de ser culpado pelo assassinato, ou pela morte súbita, da música, pode ser tachado de cultura inútil, pode não lhe acrescentar muita coisa. Entretanto, se você não tem a menor ideia do que se trata, acho que agora tem, no mínimo, uma ponta de curiosidade por saber, não tem?

Se me permite, eu conto pra você!!!

O tal dia é 3 de fevereiro de 1959: faz, portanto, mais de 60 anos que a música morreu, segundo o ‘historiador’ Mclean. Nas primeiras horas daquele dia, um pequeno avião, que partira havia poucos minutos de uma cidade do Estado de Iowa, para outra no Estado de Dakota do Norte, mais precisamente, Fargo, espatifou-se no chão, matando o piloto e seus três passageiros: um certo Ritchie Valens, um certo Buddy Holly e um certo Big Bopper. Os dois primeiros, cantores de sucesso na época, o último, um DJ bem famoso que também gravou algumas canções. Qual deles, você acharia ser o culpado? Big Bopper seria obscuro demais, eu mesmo não o conhecia até saber da história do verdadeiro culpado, mas talvez você pudesse apontar o dedo para Ritchie Valens, caso lembrasse que aquele venezuelano era o cantor da eterna ‘La Bamba’.

Trecho de La Bamba, com Richie Valenz

Mas você erraria! A cumplicidade desses dois foi importante, mas o verdadeiro ‘matador’ se chamava Buddy Holly. Foi sua morte que ‘matou’ a música, segundo Don McLean.

Aquele americano nascido em Lubbock, Texas, tinha então meros 22 anos de idade, e havia começado a fazer sucesso pouco mais de um ano antes. Muito prematura sua partida deste plano. Porém, o pouco que deixou foi o suficiente para influenciar muita gente boa pelo mundo do rock. E ele o fazia de forma simples. Sua banda, The Crickets, tinha uma composição minimalista: guitarra, que ele mesmo tocava, um contrabaixo daqueles grandes, enormes, e bateria. As marcas que deixou foram, porém, maximalistas, se é que existe o termo.

O mundo da música sofreu, mas muita gente boa usou algumas lições do astro que fora embora tão inesperadamente. The Beatles, mais especificamente, John Lennon e Paul McCartney, reconhecem ter-se inspirado aquele estilo simples, ao mesmo tempo arrojado de Buddy Holly. Simples, pelo número de acordes das canções, três, no máximo quatro acordes eram suficientes para dar o recado; arrojado, pelas variações de ritmo no meio da canção, pela bateria às vezes difícil de ser copiada, pelas harmonias vocais, pelos arranjos em piano e violino (que ele também tocava bem!), pelas letras bem elaboradas, e, finalmente, pelo ‘soluço’ vocal, figura que Buddy usava para ressaltar o centro de sua idéia. O ‘hiccup’ era sua marca registrada, assim como os óculos de aro grosso tipo ‘nerd’, inseparáveis, míope em alto grau que era. O que eles achavam o máximo é que ele compunha as próprias canções que cantava e ainda por cima tocava a guitarra enquanto cantava, coisa rara naqueles tempos.

Para se ter uma ideia da influência de Holly, o nome da mais famosa banda de todos os tempos nasceu de uma homenagem à banda dele, The Crickets, ou ‘Os Grilos’. John pensou nisso quando sugeriu The Beetles, ou ‘Os Besouros’, com duplo ‘e’, para logo depois trocar o segundo ‘e’ por ‘a’, num jogo vocal, um duplo sentido com o termo ‘beat’, que significa batida, ritmo.

Speech de John Lennon sobre o nome dos Beatles

Buddy Holly, entretanto, já estava presente na história Beatle, antes mesmo do termo nascer:

Trecho de ‘In Spite Of All The Danger’ com os Beatles em 1958

na primeira vez em que John, Paul, George Harrison entraram em algo parecido com um estúdio, para gravar algo parecido com um disco, o fizeram com ‘That’ll Be The Day’, um dos maiores sucessos de Holly. Era um acetato de baixa qualidade, cujo Lado B tinha uma composição de Paul e George, chamada ‘In Spite Of All The Danger’, a única McCartney/Harrison da história, que, entretanto, nunca viu a luz de uma gravação oficial.

Felizmente, eles registraram sua admiração por Buddy Holly em disco de verdade, com um cover de ‘Words of Love’, uma balada em que puderam mostrar toda a magnífica harmonia vocal com 3 vozes, que eles faziam tão bem, no disco ‘Beatles For Sale', de 1964.

Trecho de ‘Words of Love’

Antes deles, no mesmo ano, os Rolling Stones também prestaram sua homenagem a Buddy, e se deram muito bem: gravaram a ótima ‘Not Fade Away’ em compacto, o que veio a se constituir em enorme sucesso da banda, então iniciando, afinal foi o primeiro disco deles a atingir o número 3 da parada britânica. Ela foi cantada (e dançada) por Mick Jagger e seus jurássicos companheiros de ruga’n roll até há bem pouco tempo.

‘Not Fade Away’ com Rolling Stones!

O culto a Buddy Holly rendeu produções em Holywood. Primeiro, com um filme sobre sua história, The Buddy Holly Story, que recebeu alguns Oscars musicais, e uma indicação a melhor ator para Gary Busey, que encarnou o astro de forma magistral, parecia estar possuído pelo seu espírito.

Peggy Sue (na íntegra)

Depois, o grande Coppola dirigiu Kathleen Turner e Nicolas Cage em ‘Peggy Sue Got Married’, que rendeu a ela outra indicação ao Oscar. ‘Peggy Sue’ fora um grande sucesso de Buddy,

e teve até continuação com outra canção ‘Peggy Sue Got Married’, e a história dela foi inspiração para o filme

Peggy Sue Got Married (na íntegra)

Mais importante ainda, rendeu um super musical, Buddy – The Buddy Holly Story, que ficou em cartaz por longos 13 anos, direto, no West End (a Broadway de Londres), além de uns outros tantos na Broadway (o West End de New York) e em outras cidades americanas, sempre com lotações esgotadas. Quando eu o assisti, em Londres, lá no balcão super superior, o lugar mais baratinho disponível, achei interessante um cartaz que dizia, aos espectadores do setor, algo como:

“Fineza vibrar com comedimento, pois tememos que a estrutura do balcão onde você se encontra não aguente o ritmo dos movimentos que certamente você vai querer realizar. Pular, por favor, jamais!”

Logo depois, eu senti na pele o motivo do anúncio. 

O teatro vinha abaixo. Um sucesso fenomenal.

Contabilizando os royalties daqueles grandes sucessos, estava ninguém menos que Sir Paul McCartney, ele mesmo, que de tanto gostar de Buddy Holly, comprara os direitos sobre suas composições, em 1976. Gostou tanto daquela decisão que sugeriu ao amigo Michael Jackson que fizesse algo do gênero. Michael, ainda lúcido à época, aceitou o conselho do amigo e comprou os direitos sobre as canções de um certo grupo inglês, razoavelmente conhecido ... The Beatles!

Entenderam, amigos, a inspiração de Don McLean?

Um abraço direto do Brasil aos ouvintes da LAC, Luanda Antena Comercial, e até para a semana!

Entra American Pie, de Don McLean... na íntegra


5 comentários:

  1. Uma coisa triste: esse acidente era sempre lembrado pelos garotos brasileiros da banda Mamonas Assassinas. Costumavam cantar La Bamba quando entravam nos aviõeszinhos. E bem sabemos o que aconteceu com eles.
    Talvez os jovens não se lembrem...Mas os Mamonas fizeram tremendo sucesso principalmente entre a criançada! Tocaram aqui na minha cidade e foi um alvoroço. Acho que nunca uma banda brasileira fez tanto sucesso quanto eles, sinceramente. Então a morte deles num acidente como o que matou Buddy Holly foi uma comoção parecida, guardando as devidas proporções. Eu me lembro do estado de choque da minha mãe já com mais de oitenta anos...Assim que me levantei ela veio me falar do acidente. Eu perguntei quantos tinham morrido. E ela falou..."Todos!" E caiu no choro. Eu sinto um impacto até hoje quando me lembro. A Lita, que cozinhava para nós, ficou de fato enlutada. Eu não suportei e resolvi fazer compras na casa de um amigo. Veja bem a reação. Se perdi algo ...os meninos, a música engraçada e irreverente deles, eu tinha de comprar algo novo...Roupas. Um primo estava vendendo roupas americanas que tinha trazido de Nova York. Eu bati para lá. Na volta entrei na casa de uma tia...E pronto. Estava o mesmo drama. Todos vendo as notícias na TV e lamentando. Eu entrei de novo no descompasso.
    Vi que um deles, antes de entrar no avião, disse que estava preocupado porque tinha tido um sonho sobre acidente...Mesmo assim entrou. Não seguiu o conselho do sonho. E então foi dito que sempre cantavam La Bamba...Puxa vida, parece que atraíam a coisa.

    Eu só conheci Buddy Holly muito depois. E foi mesmo pelos Beatles com Words of Love. Não sei se já tinha ouvido falar nele. Fazia muito sucesso lá, mas teria feito sucesso aqui no Brasil? Eu não me recordo. O cantor de La Bamba fez mais. Mas eu só recordo dela na voz de Trini Lopez já em 1964.

    Então foi como se a música tivesse morrido naquele dia. Eu conhecia a música American Pie. Tenho um CD do compositor que era muito bom...e não sei por qual razão parou de aparecer. Tem uma sobre Van Gogh que é maravilhosa.
    Como comentei antes...A música morreu ali. E renasceu com os Beatles.

    ResponderExcluir
  2. Homerix é um dos top five melhores historiadores musicais e nem cito os outros quatro por desconhecimento de suas obras.kkkkk. confesso que no final dos anos 50 eu em plena adolescência e ainda vibrando com a Copa de 58 na Suécia vivia para o futebol, namoradas,filmes do Elvis Presley e suas músicas e danças além da surgente bossa nova no Brasil.Portanto posso dizer que adorei cada item da estória e sim vi o filme Peggy Sue e suas continuações assim como American Pie e suas continuações que dá boa ideia do que o autor de Peggy Sue quis dizer. Os comentários da Virgínia sobre os queridos Mamonas Assassinas e também trágico fim me fizeram relembrar a irreverente banda que deixou saudades em pessoas de todas as idades.Parabens e abraços por tudo que o blog nos proporciona.Gerson Braune

    ResponderExcluir
  3. Excelente trabalho Homero, assim com o da Paula, lembrando os mamonas

    ResponderExcluir