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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

The Quiet Beatle - O ápice durante os Beatles

Aqui, o terceiro capítulo da Série 'The Quiet Beatle', 
em mais um aniversário de George Harrison

Aqui, mais uma vez, clicando nos nomes das canções 
que estiverem em vermelho, vocêchegará a uma breve análise sobre ela!

A partir de 1967, começou a época de estúdio dos Beatles, que não mais se apresentariam em shows ao vivo (com uma brilhante exceção em janeiro de 1969). E começou com  o maior projeto Beatle, justamente aquele que seria o maior de todos, um verdadeiro marco da música mundial, o álbum Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band. Paradoxalmente, George Harrison teve reduzidíssima participação autoral no projeto, compondo apenas a bela e super indiana 'Within You Without You', e gravando-a sem a participação de nenhum beatlezinho sequer, seja nos instrumentos ou nos vocais. Ele estava meio que cansado de temas mundanos. A letra da canção era uma imersão no self aproveitando para dar uma mensagem ao mundo..... 'Try to realise it's all within yourself no one else can make you change. And to see you're really only very small, and life flows on within you and without you.'
No álbum Magical Mistery Tour, George inventou a estranhíssima 'Blue Jay Way', cheia de tons dissonantes, não contribuindo lá muito para lista de boas criações harrisonianas. Músicos têm inspirações com as coisas mais banais, e nada é garantia de que sairá coisa boa. Estava ele presla rua, aguardando os amigos presos em um congestionamento monstro, numa casa naquela rua devido a um nevoeiro, sentou-se a um teclado e saiu aquela coisa. Não chega a ser a pior dele, mas está lá embaixo na minha lista. Hoje em dia, aprecio-a um pouco mais!
Enfim, veio 1968 e o White Album, quando George trouxe ao mundo 'While My Guitar Gently Weeps', linda por si só, e arrebatadora por trazer a guitarra de Eric Clapton, a convite do grande amigo George, já conhecido como 'deus' do instrumento, e ainda assim um humilde músico contratado (e não creditado) pelos grandes Beatles. George estava inspirado à época, e produziu 'Piggies', sarcástica crítica à sociedade e às pessoas que se acham o máximo 'Everywhere there's lots of piggies living piggy lives. You can see them out for dinner with their piggy wives'. E também deu vazão à sua paixão por doces em 'Savoy Truffle', uma verdadeira ode às guloseimas inglesas 'Cream tangerine and Montelimar, a ginger sling with a pineapple heart, a coffee dessert--yes you know it's good news', e por aí vai ... e tudo temperado por um naipe de metais estonteante. Infelizmente, ele fecha sua ótima participação no Álbum Branco com aquela que eu considero a pior canção da carreira dos Beatles 'Long, Long, Long', apesar de hoje entendê-la um pouco melhor. Teriam feito muito melhor se tivessem aceito uma outra canção da época das gravações, chamada 'Not Guilty', muito superior, mas que foi exaustivamente gravada, e regravada, foram mais de 100 takes, pena que foi considerada de qualidade inferior, injustamente
O ano de 1968 termina com o desenho de longa metragem Yellow Submarine, cuja trilha sonora mistura clássicos beatle com novas canções do grupo, entre elas 'It's All Too Much' e 'It's Only a Northern Song', de George Harrison. Trata-se da maior contribuição percentual da história Harrison-enquanto-Beatle: elas representam 50% do material novo apresentado. Entretanto, elas não eram, eu diria, espetaculares. E elas haviam sido gravadas lá atrás, à época de Sgt. Peppers. Na primeira, ele volta ao culto ao que vem de dentro, dizendo que está impressionado com a beleza externa e, mais importante, interna de uma menina 'When I look into your eyes, your love is there for me. And the more I go inside, the more there is to see'. Já na segunda, mais um claro recado de sua insatisfação com relação aos dois maiorais do pedaço: Northern Songs era a companhia dona dos direitos sobre as canções dos Beatles, e ele não estava lá muito satisfeito com a parte que lhe cabia 'It doesn't really matter what chords I play, what words I say or time of day it is, as it's only a Northern Song!'.
            O ano de 1969 seria o grande ano Beatle de George Harrison, apesar de ter começado com alguns momentos de tensão, durante as gravações de Let It Be (projeto que começara com o nome Get Back), quando ele chegou a abandonar o grupo por uns poucos dias. Desavenças com Paul (registradas em filme) e com John, e a insatisfação com o pouco valor dado ao seu trabalho, haviam chegado a um limite. Mas ele acabou voltando a pedidos, após atendidas umas poucas exigências. Enfim, o episódio até pode ter contribuído para uma reviravolta no estado de coisas. Em maio, finalmente, uma canção sua foi lançada num compacto Beatle, ainda que como Lado B, 'Old Brown Shoe', rock do bom, mas foi um sinal. E ainda houve, como bem lembra meu amingo Renato,  'The Inner Light", Lado B do single Lady Madonna, cuja melodia e lletra belíssimas, e a interpretação dada pelo George associada à musicalidade dos instrumentos indianos que ele incorporou na canção a tornaram um dos pontos altos da sua carreira.

           Além da melodia e da letra serem belíssimas, a interpretação dada pelo George associada à musicalidade dos instrumentos indianos que ele incorporou na canção, tornaram "The Inner Light" um dos pontos altos da carreira dos Beatles.


           E aí veio o disco Abbey Road, último gravado pelos Beatles, para mim, o melhor deles, grandes momentos de todos (até de Ringo, veja só!), e dois desses grandes momentos foram propiciados por George. 'Here Comes the Sun' traz uma canção linda, riff inicial num violão marcante, refrão inesquecível (HCTS-It's all right) acompanhado de guitarra com viradas geniais, e letra que exalta o quanto os britânicos festejam a vota do sol naquela terra de clima miserável (como eles chamam) 'the smiles returning to the faces'.
O outro big moment de George no disco Abbey Road merece alguns parágrafos especiais e até uma digressão,  afinal é o biggest moment de George, quiçá dos Beatles. Trata-se de 'alguma coisa' especial, ou 'Something' special. Tão especial que mereceu um lançamento em Lado A de compacto beatle, deixando a ótima 'Come Together' no Lado B, e John não reclamou nem um instante, ainda soube recentemente que ele inclusive sugeriu que ela fosse o Lado A (Yoko contou para Olívia, as duas já viúvas). Foi a primeira e última ocorrência deste tipo na história. Trata-se de uma das mais regravadas canções beatle (perdendo apenas para 'Yesterday'), inclusive pelo Rei Elvis e o grande Frank Sinatra. Este último elegeu 'Something' como a mais bela canção de amor de todos os tempos! E olha que o 'old blue eyes' entendia do assunto. E, cá entre nós, ela merece a alcunha. 'Something in the way she moves attracts me like no other lover, something in the way she wooes me...' Eu me arrepio ao escrever este trecho da letra.

Pausa para digressão anglo-linguística!
E reparou no último verbo, 'woo'? Tenho quase certeza que você não conhecia, mas nem precisa dicionário, precisa? '... alguma coisa no jeito que ela me uuuuuuseia'. Esta é uma beleza do idioma inglês: a facilidade com eles substantivam um som, e depois verbalizam, ou seja, colocam ação no substantivo resultante, é uma grandeza. Então, 'She made a woo sound to me!' se transforma rapidamente em 'She gave me a woo!' para logo depois virar 'She wooed me!'. Mágico!
Fim da digressão anglo-linguística!

A melodia de 'Something' é linda, suave, triste, a gente se arrepia já na introdução, de bateria e guitarra, o solo de guitarra de George no meio da canção é o mais lindo da história do rock, e na hora de refrão, a bateria de Ringo é inesquecível. Enfim, uma grande bola dentro de George. A melhor de todas, em minha opinião!

Os Beatles romperam em abril de 1970, mas bem antes daquela data já haviam parado de tocar juntos. Muitas vezes eram visitas ao estúdio, a sós, para dar acabamento em alguma canção. E foi de George, a última visita Beatle a Abbey Road, para gravar uma guitarra na canção 'I Me Mine', que faria parte do último disco Beatle a ser lançado, Let It Be. Nesta canção ele admite um momento egoísta: 'All thru' the day I me mine, I me mine, I me mine'. A outra canção era um bluesinho simpático, 'For You Blue', que dizia   'Because you're sweet and lovely, I love you!'

Aquela última visita de um último beatle aos famosos estúdios da Abbey Road foi no dia 4 de janeiro de 1970! E enquanto George dava seus últimos acordes beatle, eu, jovem beatlemaníaco, aqui do outro lado do Atlântico, e  do outro lado do Equador, naquele exato momento, celebrava meus 12 aninhos...

... sem sequer desconfiar 

2 comentários:

  1. Homero

    Sua análise sobre o trabalho do George enquanto beatle está sensacional.

    Porém ficou faltando a citação de uma das músicas compostas pelo George que para mim é um dos pontos altos da sua carreira, que é "The Inner Light", lado B do single Lady Madonna.

    Além da melodia e da letra serem belíssimas, a interpretação dada pelo George associada à musicalidade dos instrumentos indianos que ele incorporou na canção, tornaram "The Inner Light" um dos pontos altos da carreira dos Beatles.

    Como os Beatles nunca interpretaram esta música ao vivo, uma boa oportunidade de conhecê-la, é apreciar a versão conduzida pelo Jeff Lynne, grande amigo do George e seu companheiro de Traveling Wilburys, e que se encontra no DVD "Concert for George" (homenagem pretada pelos seus amigos 1 ano após o seu falecimento).

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  2. Me fascina a forma carinhosa com que você segue descrevendo a história deles e dando informações bem valiosas. Portanto eu informar diferente é apenas uma contribuição quando se trata de algo que naturalmente esteja incorreto. Eu também me engano muito ao escrever portanto não vejo nada de mal em alguns deslizes. Um deles é: o local onde George se encontrava ao compor Blue Jay Way. Não era o aeroporto. É o nome da rua onde está localizada uma casa nas colinas de Hollywood. George tinha alugado aquela casa por alguns dias Pertencia ao empressário da cantora Peggy Lee. Ele estava ali esperando pelos amigos sendo um deles Derek Taylor. Mas o nevoeiro atrapallhou a ida deles, se perderam no caminho. Então, enquanto esperava por eles escreveu a música. Que eu simplesmente adoro Para mim é maravilhosa. Assim como Long Long Long. Isso aqui nada tem a ver com algum equivoco. Apenas gosto diferente. Long Long Long me enleva tanto aque fico quase flutuando quando a ouço. Feita para Deus. Eta George...

    Quanto a to woo...é um verbo da lingua inglesa. George o usou da forma natural, correta. Something in the way she woos me seria alguma coisa na forma como ela me seduz. To woo pode ser traduzido como seduzir. Nâo há outro sentido.

    Existe um canal no youtube, acho que se chama Back to the sixties, não tenho certeza. O cara lá parece ser um detetive. Ele descobre coisas. Ao que parece o tal registro do problema de George com Paul no Let it Be não é confiável. Foi editado. Ele achou toda a conversa deles. Por mais incrível que pareça quem foi assim um pouco desaforado foi George. Mas Paul não ligou muito não.Apenas sugeriu deixar para trabalharem a musica mais tarde. E mudarem para outra. Agora...a música não era I got a feeling como vemos no Let it be. Era two of Us. Foi editado para fazer parecer que houve algo desagradável. Eu nunca vi nada desagradável a não ser que eu não entendia o que Paul queria que George fizesse porque para mim estava ótimo. Mas não estava....Neste vídeo vemos que era ensaio de Two of Us e não estava muito legal não. Daí a insistência de Paul. Ele queria que George tocasse ainda sem arranjos, da forma mais simples possivel. E depois poderia colocar os arranjos. "Sem complicar agora e deixando para complicar depois." rs rs rs. Enfim, George aceita chamando Paul de Pauline. Viu? Mas posso jurar que Paul não ligou. Não foi nada sério aquilo ali.
    Parece que o motivo da ruptura não teve a ver com Paul não. Sei lá...nunca há como ter certeza.

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