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domingo, 13 de março de 2022

OUÇA e LEIA - The Ballad of John and Yoko

Esta é a 10ª edição de OUÇA e LEIA

Clique neste LINK para ouvir

E siga lendo o texto abaixo!


Um ato de camaradagem

O ano de 1969 viria com uma novidade na carreira dos Beatles.

Um projeto deles fora para a prateleira!!

Pois é! O próximo álbum planejado da banda teria o nome Get Back, teve 20 sessões de gravação, de uma maneira toda heterodoxa em relação ao Beatles way of recording dos últimos anos, começando pelo local das gravações, por ocorrerem num estúdio de filmagens e no porão da Apple em Saville Row, tudo sendo filmado e mais ainda por não terem a produção de George Martin, mas NÃO TEVE lançamento porque o material foi considerado de qualidade inferior, PODE?

Era o fim dos Beatles? NÃÃÃO!

Já no fim de fevereiro, os Beatles se reuniam em Abbey Road, na velha casa, para começarem as gravações daquele que seria seu último álbum, e de volta com George Martin.

E ….. como aconteceu desde Rubber Soul, era mais uma vez uma canção de John que inaugurava os trabalhos do próximo LP.

Trecho de I Want You (She's So Heavy)

Vamos voltar no tempo rapidinho para conferir?

  • Revolution abriu os trabalhos para o Álbum Branco - Início da Canção

  • I Am The Walrus abriu Magical Mistery Tour - Início da Canção

  • A Day In The Life abriu Sgt. Pepper's - Início da Canção

  • Tomorrow Never Knows abriu Revolver - Início da Canção

  • Run For Your Life abriu Rubber Soul - Início da Canção


Todas de John!

Mas Paul sempre deu o seu melhor!


Bem, aquela era a primeira de 42 sessões de gravação de Abbey Road que, entretanto, somente se intensificariam a partir de meados de abril, porque em março, dois fatos aconteceram, com 8 dias de diferença entre um e outro, que mudaram as vidas dos dois Beatles mais famosos!

1º verso de My Love da carreira solo de Paul,

No dia 12, Paul McCartney se casou com Linda Eastman,

que já tinha uma filha (Heather),

e que lhe deu 3 filhos (Mary, Stella e James)

e que ficaria a seu lado até o fim da vida DELA,

29 anos depois, quando ELA morreu, de câncer


1º verso de Oh Yoko da carreira solo de John

No dia 20, John Lennon se casou com Yoko Ono,

que já tinha uma filha (Kyoko),

e que lhe deu outro filho (Sean),

e que ficaria a seu lado até o fim da vida DELE,

11 anos depois, quando ELE morreu, assassinado.


Paul seguia ativo em trabalhos além dos Beatles. Compôs Goodbye e tocou baixo para Mary Hopkins cantá-la em seu novo compacto, e foi um elogiado produtor do LP da jovem cantora, que lançara ao estrelato no ano anterior

1º verso Goodbye com Mary Hopkins

Mas Paul estava pronto para dar mais uma mostra de camaradagem a seu amigo John, que voltou de sua lua de mel com Yoko, querendo contar tudo!

E vamos agora à análise da canção que ele compôs para mostrar ao mundo sua felicidade!


The Ballad of John And Yoko

1º verso da canção

John contou onde se casou, onde esteve e o que fez em sua lua-de-mel, ao longo de 5 versos acompanhados de um refrão, mais uma ponte, para reflexão. O refrão que vem após cada verso é onde ele se preocupa no que vão pensar dele, e é onde reside o motivo pelo qual a canção foi banida de algumas rádios americanas tradicionais, numa decisão estapafúrdia, já que a menção a Cristo é apenas uma interjeição. Talvez se ele tivesse colocado "God", os conservadores nem haveriam percebido:

God you know it ain't easy, you know how hard it can be

The way things are going, they're going to crucify me 

No Verso 1, John conta que queriam casar durante a travessia do Canal da Mancha, para França ou Holanda, mas o capitão disse "You've got to go back", primeiro porque Yoko não era inglesa e eles não teriam o visto para a travessia, depois porque ele não ia casar ninguém em sua balsa.

No Verso 2, foram de avião (fretado) para Paris, onde ficaram "honeymooning down by the Seine", tudo bem que navegaram pelo Rio Sena, mas ainda não era lua-de-mel, pois não estavam casados. Nesse meio tempo, receberam a ligação de Peter Brown, seu agente, dizendo que "You can get married in Gibraltar near Spain". Interessante que esse "near" foi ideia de Paul, em vez de "in", para evitar problemas internacionais, porque Espanha e Inglaterra disputavam a 'propriedade' da localidade de Gibraltar, daquele rochedo enoooorme, ali à entrada do Mar Mediterrâneo, até hoje um território britânico.

E a métrica coube per-fei-ta-men-te!

O Verso 3 começa com uma incorreção logística "Drove from Paris to the Amsterdam Hilton", não, eles não foram de carro da França para Holanda, porque de lá, eles voaram pra Gibraltar em 20 de março, ficaram lá apenas os minutos necessários para a cerimônia de casamento, e voaram para Amsterdam. E o resto do verso é contar sobre o famoso "bed-in", uma semana de pijamas na suíte presidencial do Hotel Hilton, chamando a imprensa para dentro do quarto e falando sobre paz.

Esse climão levou a reflexão, e John criou a ponte,

A ponte, a partir do pianíssimo de Paul

uma nova melodia, pra contar sobre as intenções do casal de doar roupas para os mais necessitados, porque afinal, quando morrerem, não levarão nada mais que a alma, como lhe ensinou Yoko

Last night the wife said oh, boy when you're dead, 

you don't take nothing with you, but your soul, THINK!".

Verso Nº 4 na íntegra

De volta aos versos, o 4º conta de uma viagem rápida a Viena e, pra explicar o "eating chocolate cake in a bag", há que se saber que eles foram lá para uma première de um filme que ele e Yoko fizeram, e convocaram a imprensa para uma conferência, e apareceram envoltos em um enorme saco branco (o tal bag), o que levou a imprensa a dizer "She's gone to his had, they look just like two gurus in drag", afinal, era Yoko fazendo a cabeça de John.

O 5º Verso fala das sementes de carvalho que mandaram para 50 líderes mundiais, "Fifty acorns tied in a sack", como mensagem de paz, e termina com a viagem de volta (em 1º de abril), e John conta de sua surpresa, pois pensava que iam crucificá-lo, no entanto, a imprensa disse: "We wish you success. It's good to have the both of you back!"

Genial!!

É a história completa contada na canção!

Essa maravilha toda se materializou em canção num único espetacular dia de gravação, o histórico 14 de abril de 1969. John estava muito animado e não quis esperar a volta de George, de férias, nem o fim das filmagens do filme de Ringo, e apareceu com Yoko na casa de Paul dizendo: 'Você toca baixo e bateria! Vamos lá!!" Paul deu uns palpites na letra, combinaram arranjos e partiram pra EMI ali pertinho. Naquele meio tempo, John dera uma missão a Peter Brown: "Ligue para Geoff e diga a ele que quero que ele volte a trabalhar comigo!". Pra quem não sabe, Emmerick havia deixado de trabalhar com os Beatles por causa do climão pesado das gravações do Álbum Branco no ano anterior! George Martin produziu a faixa!

A base, só com dois componentes, foi John no violão e vocal, e Paul na bateria. Usaram um equipamento de 8 canais recém-instalado. Foram gravados 11 takes, apenas 4 deles indo ate o final, os outros interrompidos por vários motivos, dentre eles uma corda arrebentada de John. Vários deles empacaram no mesmo ponto da canção, a entrada do Verso 4 após a ponte, num erro de bateria de Paul, no famoso Beatle break (que Ringo teria tirado de letra, mas Paul teve que suar), mas a interrupção mais famosa foi quando Paul acelerou a batida na bateria (ele não tinha o senso de ritmo de Ringo), John estranhou e aconteceu um diálogo histórico,

John (no violão) diz - Ficou um pouco rápido, Ringo!

Paul na bateria responde: Ok George!

Diálogo original:It got a bit faster, Ringo!"; Paul (na bateria)- "OK, George!".

Esse encontro e camaradagem entre os dois foi a mostra que se amavam, reviveram a antiga dupla, meio balançada por contingências comerciais.

Take 10 foi eleito como o melhor e partiram para os overdubs: John espetacular na guitarra solo (George aprovou com louvor!) em seguidas entradas em resposta ao próprio vocal, e no riff da conclusão, Paul no baixo, naquela batida firme de rock, ton ton tororon ton desde a introdução, e também Paul no piano (em breves entradas entre versos, em penteadas descendentes na ponte, e insano no verso final). Teve também Paul no chocalho, e John batendo na caixa do violão, mas principalmente o backing vocal de Paul, ele entra nas duas linhas finais da ponte e aqui e ali no Verso 4, harmonizando no agudo nos finais de frase ("bag - said - head - drag"), lindo, e depois no final do Refrão 4 ("the way things are going, thei're going crucify me") e final e maravilhosamente harmonizando a totalidade do Verso 5 e do Refrão 5 (com exceção de "Christ", que John faz sozinho, com vigor), e com direito a uma repetição da frase final....

Vocal e backing vocal dos versos 4 e 5

Ah, como eu queria mais!! Pareciam os dois parceiros do começo da carreira. Momento mágico!!! Mas já estava acabando... 

O compacto, lançado em junho de 69, com Old Brown Shoe, de George, no Lado B, atingiu o topo da parada inglesa, mas não passou do 8º lugar na parada americana, devido ao boicote nas rádios, o que não impediu que os Beatles conseguissem mais um Disco de Ouro, por mais 1 milhão de cópias vendidas!

John ficou tão agradecido com a contribuição de Paul que lhe deu os créditos de compositor de Give Peace A Chance, mesmo os dois já estando liberados do acordo de parceria, no final daquele ano.

No Brasil, não tenho ideia de como foi recebido, mas sei, sim, de uma divertidíssima versão feita pelos Titãs, 15 anos depois, com alguma lembrança da letra original e também umas viagens legais, que foi lançada no primeiro LP deles, junto com Marvin e Sonífera Ilha.

Divirta-se aqui,

A Balada de John e Yoko - dos Titãs


Venha curtir com a gente esse momento de camaradagem explícita em

The Ballad of John and Yoko

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Demais edições do OUÇA e LEIA

  1. A Origem dos Beatles neste LINK
  2. Homenagem a Buddy Holly neste LINK
  3. 1º Capítulo do Projeto Medley neste LINK.
  4. 2º Capítulo do Projeto Medley neste LINK. 
  5. 3º Capítulo do Projeto Medley neste  LINK. 
  6. 4º  Capítulo do Projeto Medley neste  LINK. 
  7. 5º  Capítulo do Projeto Medley neste  LINK. 
  8. O Projeto Medley neste LINK.
  9. O 6º Compacto, neste LINK 

ENJOY!!

2 comentários:

  1. "I am the Walrus" não seria de Paul?
    Já li ele comentando que para criar a linha melódica dessa música ele se inspurou no som da Sirene de uma Ambulância.

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  2. Informações espirituosas entretemeadas com a pertinência da letra e os detalhes da estrutura da composição proporcionam um instigante, criativo e conciso acervo da história da mitologia de John&Yoko. Parabéns. Laury

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