Esta é a 44ª edição de OUÇA e LEIA
onde você ouve uma historinha minha
e lê o que está ouvindo!
Olá, amigos do Submarino Angolano
Aqui é Homero Ventura, direto do Brasil.
Estamos chegando ao final do Projeto O George
Harrison dos Beatles.
Estamos terminando a 4ª Fase, a do George
Maduro, faltam apenas duas canções, e vamos à primeira delas Here Come The Sun,
do Álbum Abbey Road
George festeja: 'Queridinha, tem sido um inverno longo, frio e só. Queridinha, parece que foram anos desde que esteve aqui. Lá vem o sol, lá vem o sol, E eu digo que está tudo bem'
George celebra, com os compatriotas, o fim de um longo inverno e o retorno dos
sorrisos! Na verdade, ele usa um 'Little
Darling', mas penso que se dirige a todos os saudosos do sol em seu país! De
fato, ele começou a escrever a canção (na casa de campo de Eric Clapton) num
abril de 1969 que foi o abril mais ensolarado em décadas, antes e depois, e
após um fevereiro e março mais frios também em décadas. A inspiração bateu em
cheio. A canção tem muuuitas novidades musicais, como a presença de um
sintetizador, nunca usado antes, variações em tempos e acordes, todas bastante
inovadoras. Acresça-se um rico arranjo de cordas de George Martin, uma bateria
inspirada de Ringo, backing vocal apenas de Paul porque John não participou por
estar se recuperando de um acidente de carro. Ah, e que não se esqueça das
sempre oportunas palmas, que marcam o ritmo maravilhosamente! A recepção à
canção foi magnífica, colocando George Harrison, cuja outra contribuição ao
disco foi Something, no mesmo nível de Lennon/McCartney! E, para se ter uma
ideia da aceitação, vá ao Spotify e veja qual é a canção mais baixada dos
Beatles, mais de 50 anos depois!! Ao menos era, à e´poca que escrevi este
texto.
Ms isto
até aqui foi apenas um resumo. Vamos a mais detalhae, começando com a estrutura
da canção:
A primeira vez que George canta, ele entra logo
com o refrão:
"Here comes the sun, djun-ru-djun-ru, here comes the sun and I say it's all right",
que é repetido outras três vezes, por entre
três versos e uma ponte,
que é cinco vezes a frase
"Sun, sun, sun, here it comes"
com espetacular harmonia vocal de Paul.
Os versos têm três letras diferentes (obedecendo
ao padrão de qualidade Beatle). A canção
abre com uma introdução instrumental com
a melodia dos versos modificada.
A primeira frase do Verso 1 celebra o fim do
inverno,
Little darlin', it's been a long, cold,
lonely winter
no Verso 2, festeja a volta dos sorrisos,
Little darlin', the smile's returning to
their faces
e no Verso 3, festeja o céu limpo, sem nuvens.
Little darlin', it seems like years
since it's been clear
A segunda frase do Verso 1 é a mesma do Verso
2
"Little darling, it seems like
years since it's been here",
mas no Verso 3, ela muda, com o requinte de uma
rima lá com os dois outros versos como já vimos aqui e, ainda por luxo, é uma
rima rica (segundo a definição do nosso português), rimando advérbio com
adjetivo, "here" com "clear". A outra rima da canção é na
ponte "sun" com "comes", substantivo com verbo.
A gravação foi num 7 dejulho, exatamente quando
se comemorava 29 anos do mais velho Beatle, e justamente quem mais sofreria com
a composição de George: o baterista Ringo Starr!
George anunciou: "Prepare-se para tocar
no tempo 7 e meio!"
Foi o mesmo que falar árabe para Ringo.
Era o tempo, o número de compassos que
acontecia na ponte da canção. Ringo era bom na prática, mas não peça a ele para
descrever o tempo, a batida em que está tocando. Ele sabe fazer, mas não sabe
qual é o tempo! Ele mesmo declarou isso anos depois! Você pode contar mentalmente 1-2 1-2 1-2 1 e
quando você vai contar o último 2, portanto o 8º tempo, não dá, porque acabou,
daí 7 tempos ... e meio
Ao final de 13 takes, com Paul no baixo e
George no violão, com o capo lá no alto, no traste 7, ele finalmente captou o
tempo correto. Notável é a composição de triplets de George no violão (ta-ra-ra,ta-ra-ra,ta-ra-ra),
marcantes, nas viradas da ponte da canção.
A virada
no violão!
Na celebração dos 50 anos de Abbey Road,
liberaram o Take 9 dessa batalha, veja aqui como George repete frase única a
ponte, sem cantar a letra, quatro vezes a mais que o normal, para Ringo poder
acertar!
Take 9!
Aliás, eu devia ter falado hindi em vez de
árabe ali em cima, porque segundo consta, era um tempo comum na música indiana,
em que George era especialista. Curiosidade, o Take 13 foi anotado como
"Take 12 and a half", por conta da enorme superstição contra o número
13.
Pausa para curiosidade inglesa
A coisa é tão séria que os ingleses até pulam a numeração, em ruas e em prédios de apartamentos, pode notar. Eu já fiz um relato sobre isso. prédios, eles numeram sequencialmente os apartamentos, ou seja, se o prédio tem 5 andares, com 4 apartamentos por andar, eles começam numerando do andar mais baixo, 1,2,3,4, e no segundo andar tem as unidades 5,6,7,8, e assim por diante, até o quinto andar, onde tem as unidades 18,19, 20 e 21, sim, porque eles pularam do 12 pro 14, quando começaram o quarto andar. E nas ruas, não tem essa de lado par e lado ímpar, a numeração é peculiar, ela é sequencial, de um lado da rua, até o final, depois segue, voltando do outro lado, super estranho, né, coisa de inglês!! E, claro, não existem casas Número 13!
Fim da pausa para curiosidade inglesa.
No dia seguinte, overdubs, de George em sua guitarra com o Leslie speaker, geringonça que eles usaram bastante, desde Tomorrow Never Knows, e também o seu vocal principal com os "djun-ru-djun-ru" e o backing vocals junto com Paul, em "Little darling" nos versos, e no segundo "here comes the sun" e no "it's all right" a partir do segundo refrão, e também na ponte. Teve também os dois dobrando os mesmos vocais para suprir a ausência de John, e, claro, mais Ringo enchendo as falhas ainda presentes na ponte! Uma semana depois, o desafio de George foi orientar os batedores de palmas (Paul, Ringo e o produtor Glyns Johns) a acertarem o que ele queria para quela mesma ponte, igualmente complicado.
Palmas isoladas
durante a ponte
George também colocou naquele dia um harmônio
que não sobreviveu na versão final. O quarto dia de gravação, já em agosto, foi
somente para George acertar sua guitarra, inclusive uma porção solo, e nisso
ele ficou mais de 9 horas!! E teve mais um dia e mais George na guitarra, mais
algumas horas tentando melhorar a porção solo, e mesmo assim, ele desistiu
dela, deu claras instruções para não usá-la e encomendou a seu xará George
Martin um arranjo instrumental para aquela parte. Aquilo e o resto do arranjo
que se ouve na canção toda veio à tona na mesma sessão monstro de 15 de agosto
que gravou outras quatro canções, inclusive a outra de George em Abbey Road. O
arranjo começa já no primeiro refrão e não deixa mais a canção, fazendo os acordes
em legatto, e acompanhando os triplets de George na ponte com uma nota por
triplet. Interessante que o arranjo dispensou violinos. Apenas tem 4 violas, 4
violoncelos, contrabaixo, clarinete e 6 flautas.
Arranjo
de cordas de George Martin
O sintetizador isolado do Dr. Moog
Ô ponte lindamente rica!
Ainda teria a cereja do bolo, que é aquele
lindo maravilhoso som descendente da introdução instrumental, que é feito por
um ribbonl controller, uma espécie de potenciômetro, que se escorrega por uma fita
sensível para se conseguir o som desejado. Era Beatles inovando! Esse
equipamento seria usado por Vangelis em Blade Runner!
O ribbon
controller da introdução
Venha celebrar a volta do Sol com George
Harrison..
Lá vem o sol tchu ru
tchu ru
Lá vem o sol tchu ru
tchu ru
E eu digo: Tá legal!!!
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- Neste LINK - 1º Capítulo do Projeto Medley
- Neste LINK - 2º Capítulo do Projeto Medley
- Neste LINK - 3º Capítulo do Projeto Medley
- Neste LINK - 4º Capítulo do Projeto Medley
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- Neste LINK - O Projeto Medley
- Neste LINK - O 6º Compacto.
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- Neste LINK - O George Harrison dos Beatles - O George Maduro Parte 4
- Neste LINK - O George Harrison dos Beatles - O George Maduro Parte 5
- Neste LINK - O George Harrison dos Beatles - O George Maduro Parte 6
Mais um show do Homerix, que sabe tudo de música. E o George pra mim era um craque, que fez Something e já podia ter se aposentado. Mas o que eu acho mais engraçado é que escuto um monte de gente que diz que o Ringo era fraco. Perdoai, Senhor…
ResponderExcluirAcabei comentando imaginando que o pensamento do Ringo ser fraco era seu. Percebi depois que eram comentários e que você não concorda .
ExcluirQueira desculpar
Forte abraço
Roberto Bazolli
Esta música é uma das Top Ten da banda, pra mim . É , talvez, uma das músicas que mais ouço . É vibrante , inspiradora e agora, com as explicações técnicas do amigo Homero, dá pra escutar mais 1000 vezes lembrando-se de cada peculiaridade. Obrigado por mais esta pérola.
ResponderExcluirSaúde e Paz
Roberto Bazolli
Here comes the sun!!! Atire a primeira pedra quem tiver notícias de alguma introdução mais bela. Oito compassos anestesiantes.Ilusão polirrítmica estonteante. Música antidepressiva de primeira grandeza. Remédio sem nenhum efeito colateral.Esta canção deveria ser tocada em todos os funerais para aliviar as dores de todos. Homero o nosso comandante desta Caravela mágica hoje finalmente ao ouvir o seu áudio de 20 minutos teve a sua cura plena.God bless you...Thank you boy...You've got a fan !!! Dylmar Gomes Até sábado 🤝
ResponderExcluirQuerido amigo que escreveu que o Ringo é fraco. Sem nenhuma intenção de desqualificar sua opinião , talvez uma descrição bacana para o Ringo, que pouco compôs, seja a seguinte: Um ator coadjuvante que, sem ele , os atores principais não brilhariam . Às vezes eu fico pensando, quando vejo uma orquestra , sobre aquele camarada que toca um prato ou um bumbo. Aquilo faz parte integrante da sinfonia e da brilho à mesma.
ResponderExcluirForte abraço
Roberto Bazolli
Homero até parece um cirurgião, dissecando a música e expondo as suas "entranhas" e nos tornando familiares com nuances que de outra forma me passariam desapercebidas. Começo a procurar ouvir os Beatles de outra forma graças à suas análises.
ResponderExcluirLages
Eu aqui aprendendo. Muita coisa que eu não sabia. Ex: o sufoco para Ringo entender como deveria tocar. Muito bom. Só que os links não estão funcionando. Vem escrito pausas isoladas...em vermelho. Mas não nos leva lá nas palmas isoladas. Claro que podemos ouvir tudo no link do áudio.
ResponderExcluirPara mim George sempre esteve equiparado a Lennon/McCartney, Desde o início. Sempre achei tudo dele espetacular. Incluindo "Don't Bother Me."
Uma fascinante viagem ao mundo da Top One dos Beatles nas plataformas digitais. Homerix nos remete à fazenda de Eric Clapton, local que emergiu a fonte de inspiração de George. Aliás, pelo fenômeno que se tornou Here Comes The Sun ao longo de cinco décadas, poderia-se sugerir a Clapton que batize sua fazenda com o nome dessa canção. A explicação do Homerix sobre o processo criativo e as métricas que nem Ringo entendia, constitui o ápice descritivo deste episódio. Fascinante também o detalhamento do instrumental utilizado, entre palmas, sintetizadores e orquestração. Até um introito sobre as crenças inglesas se imiscuiu no roteiro das explicações sobre a música.
ResponderExcluirGostei deveras desse episódio que ouvi duas vezes, parodiando Virgínia, para capturar as sutilidades descritivas que porventura não tinham sido registradas. Ao que parece o esmero de Homerix esteve à altura da grandeza dessa canção porque a abordagem é sobre uma pérola rara do eterno inesquecível George. Parabéns Homerix. Laury