-

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

A Hard Day's Night - The Album

                                                                                                Capítulo 38

Esta é minha saga  

O Universo das Canções dos Beatles


Todos os Capítulos têm acesso neste LINK 

O ano de 1963 fora estonteante, com dois LPs e 3 compactos de inéditas, todos ascendendo ao N°1 das paradas, e a Beatlemania estava instalada! Houve shows por todo o Reino Unido e até na Alemanha e SuéciaE 1964 começou exatamente como 1963 terminou. O ritmo era frenético e não poupou nem Natal e Ano Novo, houve um show por dia em Londres, de 21 de dezembro a 11 de janeiro, sem folgas! Três dias depois, estavam em Paris para uma temporada de 20 dias, dois shows por dia, às vezes três, que seria apenas mais um passo na história Beatle, se durante um daqueles dias, mais precisamente um 25 de janeiro, eles não recebessem a notícia que iria catapultar sua carreira para sempre.

Uma breve travessia do Oceano é necessária para explicar. A EMI tentou repetir o sucesso dos Beatles na América, mas ele não veio de imediato como se esperava. Sua subsidiária Capitol Records se recusava a acreditar no potencial dos rapazes, então tiveram que recorrer a selos menores para o efeito, Vee Jay e Swan Records. Eles lançaram os mesmos singles capitaneados por Please Please Me, From Me to You e She Loves You, mas eles não 'aconteciam', não chegavam ao Top 100 nacional de jeito nenhum. Quando a Capitol retomou a coisa, fez uma combinação matadora, lançando em dezembro o compacto I Want To Hold Your Hand e I Saw Her Standing There, que começou a tocar nas rádios e a subir nas paradas. Virou o ano e a Vee Jay lançou, em 10 de janeiro, o álbum 'Please Please Me' igualzinho ao original inglês, mas com o nome 'Introducing The Beatles', e 10 dias depois, a Capitol abriu o olho e lançou o LP 'Meet The Beatles', que tinha as canções autorais do álbum 'With The Beatles', mais I Want To Hold Your Hand e I Saw Her Standing There e This Boy, que fora o Lado B da primeira, no Reino Unido.  E finalmente, a coisa aconteceu, e os Beatles souberam, lá em Paris, que eles haviam conquistado a America: I Want To Hold Your Hand estava no topo da parada americana. E eles disseram ao Brian Epstein: 
'Agora pode comprar as passagens e confirmar o show no Ed Sullivan!" 
Chegar ao N°1 era a condição sine qua non para atravessarem o Atlântico! 

Aí, veio a Invasão da América, fechando o aeroporto  de New York em 7 de fevereiro, e veio o primeiro show no dia 9, assistido por metade da população americana e, rapidamente, os Beatles ocupavam os 5 primeiros postos na parada do país, e estavam completas as condições para embarcarem de vez no novo projeto que abraçavam: o primeiro filme, A Hard Day's Night, que foi o embrião para o terceiro LP dos Beatles,  de mesmo nome, objeto do presente capítulo! E que ainda não tinha nome, àquela altura!

Finalmente, vamos às canções do LP! Primeiramente, para manter a tradição destes capítulos, vou começar pela análise das canções Covers de outros artistas, certo? Errado! Não as há! São 13 composições de Lennon/McCartney, não só a primeira vez na carreira dos Beatles, mas a primeira vez na história do Rock, que uma banda faz um lançamento 100% autoral! O fenômeno continuava firme!

O filme foi um sucesso mundial, reverenciado até hoje.

O disco não ficou atrás, e vamos à análise!

Detalhes sobre essas canções mais abaixo...

  1. A Hard Day´s Night
  2. I Should Have Known Better
  3. If I Fell
  4. I´m Happy Just to Dance With You
  5. And I Love Her
  6. Tell Me Why
  7. Can´t Buy Me Love
  8. Any Time at All
  9. I´ll Cry Instead
  10. Things We Said Today
  11. When I Get Home
  12. You Can´t Do That
  13. I´ll Be Back

As 7 primeiras estão no Lado A do LP, e são as que estão na trilha sonora do filme. As demais 6, do Lado B, não aparecem no filme, à época de seu lançamento. Em relançamento na década de 1980, I'll Cry Instead é inserida numa sequência de abertura. 

A canção 7 foi gravada em Paris. As demais foram gravadas em 7 sessões em Abbey Road, sendo 4 delas até o início das filmagens, quando gravaram as canções 2 a 6 e 10, que estavam destinadas à trilha do filme. A canção título, como verão, ainda não existia. Eles voltaram ao estúdio para gravá-la em meados de abril, terminaram as filmagens no final daquele mês, e voltaram ao estúdio para as duas últimas sessões, em junho, para as canções 8, 9, 11, 12, 13.

Um ponto a destacar sobre os compositores. Após uma divisão mais ou menos equitativa entre os dois, nos primeiros dois LPs, "A Hard Day's Night" mostrou um Lennon insanamente criativo, impossível de competir, muito mais preponderante que McCartney. John foi o responsável por 10 das 13 composições!

Ah, sim, antes das canções, eis o nosso já tradicional quadro de Grupos, Assuntos e Classes. Vejam que este álbum inaugura o outro grupo de canções, as Mind Songs. As demais 12 são do Grupo Heart Songs.

Percebam a tabela abaixo. 




Mais detalhes sobre a divisão entre Heart & Mind Song, aqui, neste LINK

Traduzindo
  • São 12 canções que falam ao Coração e uma à Mente
  • São 10 canções no Assunto Garotas e 2 no Assunto Saudadee
  • Das 10 Girl Songs, 4 são de Amor, 4 de Paquera e duas de DR
  • As Miss Songs relatam Desespero e Retorno
A Hard Day's Night é, portanto, um 

89% Heart, 77% Girl, 62% Love & DtR Album!

Na tabela abaixo, as evidências, nas letras, do porquê da classificação acima!




Vamos à análise das canções, todas de autoria dos Beatles!!



LADO A

1. A Hard Day's Night  (Body Self Song by John Lennon)

'Hoje foi um dia difícil, eu tenho trabalhado como um cachorro. Hoje foi um dia difícil Eu deveria estar dormindo como uma pedra mas quando eu chego em casa, eu descubro que você me faz sentir tão bem   
 
Foi a primeira Self Song dos Beatles. Na Classe Body... segundo minha classificação de assuntos das letras dos Beatles. 
 
Imagine as filmagens do primeiro filme dos Beatles, 1964, ainda sem nome, dia cansativo, chega a noite, Ringo senta-se numa daquelas cadeiras de Diretor e fala: “It’s been a hard day ... 's night...”, sendo que o 'night' ele falou quando percebeu que já estava de noite.. Dick Lester, o diretor, soube da frase, olhou pra Paul, e pensou: “That’s the name!” Numa carona pra casa, ele encomendou a John, que compôs a música na mesma noite, no verso de um cartão que seu filho de um ano recebera de um fã, e virou o nome da música, do disco e do filme.  Foi um de vários 'Ringoisms' da história Beatle. Sendo muito simples, ele soltava uma dessas de vez em quando, frases ligeiramente incorretas, aparentemente estranhas, mas com um sentido cômico, isso tem até nome, malapropismo! Fato interessante é que John escreveu a letra, quase finalizada, e a acabou  num táxi a caminho do estúdio, aos olhos de um amigo boquiaberto que o pegara em sua casa, e que depois acompanhou a gravação da canção, em apenas três horas de estúdio, onde John passou a ponte ("When I'm home, everything seems to be right") para Paul cantar, porque não atingia o agudo da canção que ele mesmo compusera! Apesar de a letra ressaltar a importância da mulher de John que o abraça firme quando ele chega em casa, cansado de um dia duro, preferi focar no estado físico do autor, de pleno cansaço. Uma conotação sexual também se entende em "the things that you do will make me feel all right" "You're gonna give me everything". Após um acorde revolucionário, dois versos de 12 compassos com letras diferentes abrem a canção, vem a ponte de 8 compassos (aliás, os Beatles preferiam chamar a ponte de 'middle eight' por causa disso), e repete o Verso 1, e depois o verso 2, mas agora com um sensacional solo nos primeiros 8 compassos, e a letra nos 4 últimos, e vem mais uma ponte e mais o Verso 1 (de novo) com uma conclusão matadora. O acorde inicial, o solo e a conclusão serão explicados a seguir. Antes, mais uma observação: note que, instado a compor a partir de uma frase, a primeira imagem que vem à sua cabeça é machista, como era o mundo naquela década (era?), pois diz que o marido trabalha muito pra trazer dinheiro e comprar coisas pra esposa, e tem certeza de que à noite, quando ele chegar cansado, ela vai dar tudo a ele. Coisas dos anos 1960...

Musicalmente, como disse, são notáveis a abertura e o fechamento da canção. Ao que parece, foi o diretor do filme quem encomendou. O filme precisava disso, e ele foi para o estúdio! O acorde poderoso e estridente que abre a canção (e o LP, e o Filme) mereceu análises profundas nos anos seguintes ... houve até um artigo publicado numa revista científica, intitulado "Mathematics, Physics and 'A Hard Day's Night'", em que o cientista analisa o incrível som segundo Transformadas de Fourier!! E ainda foi contestado por outro matemático que atribuiu outro enfoque, mas também utilizando as tais Transformadas. Mas não é pra menos. Dá só uma olhada nas notações possíveis, identificadas pelos especialistas: G7add9sus4 ou G7sus4 ou G11sus4 ou ainda Dm7sus4, mas também poderia ser um 'simples' Fadd9... ufa! Aquele primeiro ali pode ser explicado como 'Sol com Sétima e Nona, com a Quarta em vez da Terceira', ou seja, G-B-D-F-A-C, tá fácil procê? Ou seja, quase todas as notas da escala! O Mi (E) deve ter ficado chateado por não participar de mais esse momento genial dos Beatles. O efeito magistral foi obtido por duas guitarras, de John e George, o baixo de Paul, o piano de George Martin e ainda Ringo, na caixa e prato.  O fundamental do acorde é o baixo em Ré (D) do Paul. Uau! 
 
O acorde, que mais parece o despencar de 1000 sinos, como definiu um amigo, imaginado por John, já estava quase pronto ao começarem a gravar, e foi tocado sempre, mas depois ainda vieram overdubs, para dar mais corpo. George sempre se admirou como John conseguiu tirar aquele coelho da cartola. Vejam aqui no Take 1, neste LINK, ele já está lá, as harmonias de Paul estão ok, e até fez umas outras que não vingaram, mas notem como ainda há erros em letras, Paul erra no baixo na 2ª ponte, o solo do George está pífio, tanto que depois de algumas tentativas, ele desistiu e deixou-o para os overdubs. Nos acréscimos, também veio o sensacional solo da canção e notem que ele é dobrado por guitarra e piano, cada George cavalgando seu instrumento. E veio com requintes de capacidade máximos: ele teve que ser tocado pelos dois ao vivo, na última trilha que faltava, e saiu perfeito, os dois realizando os triplets sem máculas. E no mesmo take, George Martin tocou as notas de piano que faltavam no acorde supremo.  
 ________________________
Pausa para cowbell count
Outro que arrebentou nos overdubs foi Ringo, também com uma trilha só para fazê-lo, usou bongôs nos versos, mudando rapidamente para cowbell nas pontes (ah como eu gosto de cowbell!!) faz as contas: 2 pontes x 8 compassos por ponte x 4 tempos por compasso = 64 vezes aquele delicioso instrumento de percussão foi tocado em A Hard Day's Night, uma de 11 canções da carreira Beatle em que foi utilizado. 
Fim da pausa  
 ____________________ 
 
Finalmente, um belíssimo arpejo de George Harrison, em loop, que segue até a próxima música do disco, ou até a próxima cena do filme, foi pra isso que foi criado!!! Dick Lester ficou satisfeitíssimo!  

A canção. foi lançada em compacto, com Things We Said Today na Inglaterra, no mesmo dia do lançamento do LP. Nos Estados Unidos, o Lado B era I Should Have Known Better. Ela foi muito tocada ao vivo, desde 11 de julho de 1964 a 30 de agosto de 1965, incluindo os históricos shows no Shea Stadium em New York e no Hollywood Bowl em Los Angeles. Deixo aqui, este LINK. Adoro ver a reação da garotada, meninos E meninas! Principalmente quando Paul canta "fee-ling-you-hol-ding-me-tight-oh-yeah" assim separadinho, diferente da versão do disco. E note como George não titubeia mais no solo. e como John quase tropeça no cabo da guitarra! Demais! 
 
Como ilustração desta análise não poderia deixar de lembrar do jeito que a canção foi conhecida nos países de língua hispânica.... Anochecer de Un Día Agitado, e tendo no Lado B, Sally La Lunga.... se não sabem, foi como o clássico de Little Richards Long Tall Sally saiu naqueles países. É muito legal!!

 


2. I Should Have Known Better (Love Girl Song by John Lennon)

John declara: "Eu deveria ter imaginado, com uma garota feito você, que eu adoraria tudo que você faz. E eu adoro, hey, hey, hey, E eu adoro.
Pois que John declara seu amor à garota, mas depois acha que ela lhe pode dar mais pedindo que ela seja dele, ai, ai ai, enfim.  No filme, ela aparece na cena do trem (LINK) e depois também no estúdio. Ponto altíssimo da canção é a gaita de John, que retomou após Love Me Do e Please Please Me, e depois voltaria em I'm A Loser. Ela abre todos os versos, e fecha a canção na ponte final. Falando em ponte ("And when I tell you that I love you"), ali aparece, pela primeira vez a guitarra Rickenbacker de 12 cordas de George, que voltaria no verso instrumental adiante, e em praticamente todas as canções daquele LP a partir de então. Interessante que a gaita das duas primeiras canções mencionadas foi especificamente mencionada como a razão pela qual a Capitol Records americana não levava fé na música dos Beatles, e demorou tanto a render-se, seu dirigente achava muito blues demais. Um ano depois, como tudo mudou! No ano seguinte, ao escolher a canção que seria o Lado B de A Hard Day's Night, foi justamente a canção com a proeminente gaita a escolhida. 
 
A estrutura é na base de versos e ponte. São dois versos com letra diferente, sendo que o 2º é uma 'ponte' para a ponte principal, depois o Verso 2 é repetido, e vem um verso instrumental com a guitarra de George aparentemente simplória, repetindo a melodia, mas terminando com um acorde dissonante sensacional, depois mais uma vez a ponte, e a conclusão, também acompanhada pela gaita! A letra, sim, é simplesinha, bonitinha, com rimas bem fraquinhas e clichêzinhas mas é uma gracinha, falando em rima pobrezinha... Ela fazia parte do Super Lado A do LP, todas no filme, e foi gravada logo no 1º de 4 dias de gravações para o efeito, 25 de fevereiro de 1964, mas na 2ª sessão, da tarde. Ali foram três takes, com John na gaita, e os demais em seus instrumentos usuais. Nada sobrou desse dia. No dia seguinte, foram outros 19 Takes, sendo os primeiros cinco ainda com John na gaita e os demais com John no violão. Este Take 9 foi o considerado bom, apesar de tentarem melhorar até o Take 22, gastando as 3 horas de sessão ao seu aprimoramento. Ponto de destaque, além do solo, George faz na ponte só os acordes, marcante. 
 
Tocaram-na pouco ao vivo, uma das vezes dublando num programa de TV, veja neste LINK. Claramente aparece uma gaita por trás enquanto John canta, mas ele finge que a toca, quando dá. Tem um interessante atraso no acompanhamento, também, quem tem ouvido, perceberá, alguns acordes demoram a entrar, e tal, eles só corrigiram isso na remasterização, décadas depois, mas dá pra ver o trabalho de George na guitarra. 
 
Como dito, a canção foi lançada em compacto como Lado B de A Hard Day's Night, mas apenas nos EUA, pois no Reino Unido, foi Things We Said Today. Para nós aqui da terra, a canção chegou a nossos ouvidos numa versão de Renato Barros (dos Blue Caps) com uma letra que hoje seria considerada digna de pedófilos ("Aaaaah, deixa essa boneca e vem brincar de amor!"). Aqui, neste LINK.

 

 

 









3. If I Fell  (Flirt Girl Song by Paul McCartney)

John propõe: "Se eu der meu coração para você, preciso ter certeza desde o início que você irá me amar mais do que ela!"
Nesta que é a primeira balada de John, ele flerta com uma garota, mesmo estando compromissado com outra, ai, ai, ai. Era John escapando do açucarado boy meets girl, com estilo. Se notarem a letra como um todo, verificarão que foi uma situação de triângulo amoroso, que acabou por se efetivar na vida dele, quatro anos depois, quando deixou Cynthia por Yoko. A canção foi feita mais provavelmente em Paris, durante a temporada em que souberam que haviam estourado nos Estados Unidos, ou durante aqueles 10 dias em que os Beatles bagunçaram aquele país, em fevereiro de 1964. Paul contribuiu com partes da letra e com as magníficas harmonias vocais, reverenciadas como das melhores da história deles, afinal os dois trocam a primeira voz da canção várias vezes, com Paul fazendo a parte mais aguda, como sempre. Um verdadeiro primor! Ela seria uma de 7 canções que fariam a trilha sonora de A Hard Day's Night, o 1º filme dos Beatles que, aliás, àquela altura, não tinha nem nome! 
 
A complexidade da canção começa com uma introdução de 8 compassos, única porção cantada apenas por John ao violão e George na guitarra, com uma melodia que não se repete mais, e que começa num tom menor com a proposta título ("If I fell in love with you") em que John se aproxima do alvo amoroso dizendo que quer algo mais que segurar em sua mão. Depois, entra o resto da banda, já no tom da canção, e John e Paul cantam juntos até o final. Num 1º verso, o flertante exige que, para dar-lhe seu coração, ela tem que garantir que vai amá-lo mais que a sua atual. O 2º verso é mais o que eu chamo de uma ponte preparatória para a ponte principal, pois que começa na melodia do verso, em que ele pede que a nova pretendente não se esconda ("don't run and hide"), e que não fira seu orgulho como a outra ("don't hurt my pride like her"), com a última palavra já num acorde que introduz a ponte, aumentando a tensão, dizendo que ele não vai aguentar a dor ("I couldn't stand the pain") e que ficará triste se aquilo tudo for em vão ("would be sad if our new love was in vain"). A tensão diminui com o retorno a um verso, um 3º, com letra diferente (incrível!), ele diz que espera que ela veja que adoraria amá-la ("I hope you see that I would love to love you") e embarca numa 2º ponte, em que já está com o novo amor conquistado e se lembra da outra que foi abandonada ("she will cry when she learns we are two"), e repete-se a ponte principal e depois o 3º Verso e então termina a canção com a mesma frase inicial, "If I fell in love with you", nada menos que genial!
Faço questão que vejam, ouçam, sintam, emocionem-se com este vídeo tutorial (LINK), um de muitos de um certo italiano Frudua, que canta muuuito, quando poderão se certificar da genialidade da dupla vocal. Depois de ouvir atentamente, agora imaginem que aquilo tudo foi conseguido ao vivo, em 15 takes, numa única sessão vespertina, de 27 de fevereiro de 1964, com todos em seus instrumentos (ver abaixo) e com John e Paul dividindo um mesmo microfone!! Houve overdubs, certo, mas apenas para dobrarem os próprios vocais. Cada peça vocal de cada um já esta 'signed, sealed, delivered, ao vivo mesmo. Uma coisa verdadeiramente impressionante, sempre lembrando que o mais velho ali tinha 23 anos de idade. 
No filme, a canção é levada numa cena de ensaio para um programa de TV, e a edição é notável, porque John começa cantando para Ringo, enquanto ele arruma seu instrumento, a tempo de tocar a primeira aparição da bateria na canção. Genial! Aqui, neste LINK! A gente fica tão embasbacado ao falar das harmonias que se esquece dos instrumentos. John faz o ritmo no violão, a bateria de Ringo é suave, o baixo de Paul é, efetivamente, padrão, nada demais, mas a guitarra de George, novamente a Rickenbacker 12-cordas, aparece um pouco mais, na introdução (aliás, que introdução é aquela?!), ao longo dos versos, menos um pouco na ponte, e é importante na finalização. Pra quem ouve com fones de ouvido, ela se percebe no fone direito!  Na introdução, percebe-se a evolução do pensamento do compositor. 
 
A canção foi tocada ao vivo até novembro de 1964, quando começaram a promover as canções do 4º LP. Em shows, o ritmo era mais rápido, John toca guitarra, Ringo é mais vibrante na bateria e temos aquela imagem inesquecível de John e Paul dividindo um microfone, isso é o máximo para um Beatlemaníaco ver! Concordam comigo? Vejam neste LINK! 
 
Concluindo, bem se sente a evolução do compositor: pois passaram-se apenas três meses desde I Want To Hold Your Hand, e ele já admite que "And I found that love was more than just holding hands". Mas viria anda mais, muito mais!!!

 

4. I´m Happy Just to Dance With You (Flirt Girl Song by John Lennon)

George canta: "Apenas dançar com você é tudo que eu preciso. Antes que essa dança termine, acredito que também me apaixonarei por você, estou tão feliz quando você dança comigo!"

Sim, era George cantando John, que teve a ideia da canção e Paul ajudou nas letras e arranjos! Foi a solitária aparição de George no LP como lead singer, menos que as duas de cada um dos LPs anteriores. Apesar de ele lá ter inaugurado sua carreira de compositor, meio ano antes, com Don't Bother Me em 'With The Beatles', ele estava demorando muito a entregar a canção que dissera ter, então John tomou a atitude de fazer uma pra ele, afinal ela tinha que aparecer no filme! George admite que na época, ele precisava de meses pra finalizar uma canção. Aquela foi a segunda e última vez que George cantou uma original Lennon/McCartney, sendo a outra a deliciosa Do You Want To Know a Secret, do primeiro LP 'Please Please Me'. A letra é simples com tema adolescente, mas apresenta pontos incomuns, e instrumentação distinta. Ela começa com o final do refrão ("Before this dance is through..."), e termina com um refrão com letra alterada ("I've discovered I'm in love with you."), duas características incomuns. Paul e John presentes nos O-O-O-O's. Paul apresenta uma sequência de baixo bastante variada, e ousada até, proporcionando uma contramelodia muito interessante, enquanto John inova no ritmo em sua guitarra, e Ringo provê batidas sincopadas nos refrões, e a cada compasso dos versos, tum tum em um bongô árabe, em overdubs, dando uma cara bem diferente! No filme, a cena começa divertida, com bailarinos ao som instrumental e John fazendo estripulias a caminho do palco, onde George sobe um tablado, a única vez em que tocam nessa configuração, John e Paul, abaixo e Ringo tocando de frente para eles. Cena muito boa! Veja aqui, neste LINK 
 
É a primeira canção deste álbum que usa o refrão como peça estrutural, são só versos e refrões. E, como dito, começa com o refrão, mas apenas os 4 últimos compassos dele, e foi ideia de George Martin fazer assim. Outra que seria assim seria Can't Buy Me Love. Nos dois primeiros versos, de 8 compassos, George incorpora o perfeito pé-de-valsa, diz que não quer saber de beijos ou de pegar na mão (1º), ou ainda de abraços apertados (2º) e termina ambos dizendo que ele só quer dançar, e, no refrão, reforça a ideia, que é só o que ele precisa para quem sabe, conquistá-la. O Verso 3 mostra firmeza no dançarino que diz pra moça nem ver a cara quem vier tirá-la de seus braços, postura 'Tô nem aí!'. 
 
Foi num domingo, 1º de março que  I'm Happy Just to Dance With You veio ao mundo. E tinha que ser porque na segunda-feira começariam as filmagens. E foi muito rápido: foram 3 takes para acertar a instrumentação, George cantou apenas no 4º take, e sobre ele vieram os overdubs, ele mesmo dobrando seu vocal, e Paul e John harmonizando, e também o bongô de Ringo, nos versos. 
 
A canção teve um lançamento em Lado A de compacto nos EUA, com I'll Cry Instead no Lado B, que chegou a beliscar a parada americana mas somente lá nas 90 melhores. Foi a 'canção de George' nos shows da excursão de outono (do Norte) e somente deixou de ser levada em novembro de 1964. Não há um vídeo propriamente ao vivo deles tocado a canção, mas encontrei este aqui com um áudio ao vivo, neste LINK, e ótimas imagens, onde se pode ver a febre que era. Aquele era o auge da Beatlemania, eles já haviam conquistado a América e feito um filme de sucesso mundial. Demais!!

 

5. And I Love Her  (Love Girl Song by Paul McCartney)

Paul declara: "Eu dou a ela todo o meu amor. É tudo o que eu faço. E se você visse o meu amor, você a amaria também. Eu a amo"
Escalada para o filme A Hard Day's Night, And I Love Her é a primeira canção de Paul no álbum com a trilha sonora, após quatro de John (uma delas cantada por George), e também a primeira balada da carreira do Cute Beatle (ele detestaaava a alcunha!), iniciando uma sequência de canções românticas que seguiria com I'll Follow The SunYesterdayMichelleHere There And Everywhere nos álbuns seguintes, o que o alçaria ao título de maior baladeiro dos Beatles, mas era um jogo que naquele momento estava empatado, afinal John fizera o primeiro gol com If I Fell, outra linda balada duas canções antes, no mesmo LP. 
 
Paul havia feito apenas três versos para a canção, nos dois primeiros apresentando seu novo amor e, colocando inveja nos amigos, chega a ter uma conotação sexual "She gives me everything", porém "tenderly". No 3º, brilhante, verdadeira poesia, inverteu a ordem natural das frases, colocando o objeto na frente do sujeito, "Bright are the stars that shine" e "Dark is the sky", e ainda usou rimas ricas, como as definimos em português, rimando com "mine" e "die". Destaque para a colocação do nome da canção terminando os Versos 2 e 3. O 1º termina com a declaração "I love her". O "her" em questão muito bem poderia ser Jane Asher, com quem começara um relacionamento que duraria quatro anos, inclusive ele já morava no sótão na casa dos pais dela, em 57, Wimpole Street. "She was  almost seventeen ... you know what I mean...". Aliás, ela tinha mesmo 17 quando Paul fez a canção... ou quase. Foi naquele sótão que ele fez a canção, em um dos quatro dias de fevereiro que ficou em casa, entre as duas missões de conquista do mundo, na França e nos EUA. Paul garante que não era para ninguém em específico. A canção receberia também uma ponte, entre os Versos 2 e 3, que veio já no estúdio, em meio às gravações, que resumo a seguir. Jane teria outra canção inspirada nela, no Lado B do álbum, Things We Said Today. Ela foi motivo de inveja mundial, enquanto durou seu relacionamento com Paul.
 

Foram três sessões necessárias para finalizar a canção, sendo 3 três takes no dia 15, mais 17 takes no dia 16 mais dois takes no dia 17 de fevereiro de 1964, e tudo acabou com quatro diferenças em relação aos primeiros takes, (i) George deixou de lado sua guitarra Rickenbacker 12 cordas e, no violão fez o brilhante riff de introdução, que Paul elogia até hoje, e ele volta na conclusão (ii) John aceitou o desafio do editor Dick James de tornar a canção menos repetitiva, chamou Paul para tomar um chá e elaboraram a ponte, de oito compassos ("A love like ours should never die as long as I have you near me") e, finalmente, (iv) Ringo deixou a bateria e ficou só nos bongôs. Note que, na ponte, aqui sim justificando a alcunha de "middle eight", por ter 8 compassos, trazida por John, há uma mudança da terceira pessoa ("her") para a segunda pessoa ("you"), dirigindo-se à própria garota. Houve também a decisão de subir meio tom a partir do solo de George e que seguiu na repetição da ponte e do verso final, e a inclusão posterior (overdubs) de clavas, ajudando na levada latina da canção. John ficou o tempo todo no cha-kun-dun no violão. George também foi fundamental no delicado arpejo nas cordas agudas de seu violão, a partir do segundo verso! 
 
Na cena do filme (neste LINK), Paul está num tablado, John sentado ao fundo, George leva seu perfeito violão com uma perna sobre o tablado e Ringo firme em seu atabaque, quase escondido pela bateria sem uso! Paul e George têm ótimos closes! Nosso (muitos amigos torcem o nariz para o título, mas pra mim, é) Rei Roberto Carlos teve a oportunidade de gravar a canção no mesmo Estúdio 2, veja neste LINK.

 

6. Tell Me Why  (Return Miss Song by John Lennon)
John clama: "Olha, eu te implorei de joelhos! Se apenas você ouvisse as minhas súplicas. Se existe algo que eu possa fazer, pois eu não suporto, estou tão apaixonado por você! Me diga por que você chorou e por que mentiu pra mim! 
Apesar de parecer uma DR, preferi classificar a saudade e o desejo de retorno depois de uma briga como a tônica da canção, penúltima do Lado A do LP A Hard Day's Night. A canção é 100% de John, o que leva a concluir-se que o 'you' poderia se referir a Cynthia, com quem era casado! Musicalmente, considero a bateria introdutória de Ringo como o ponto alto da canção, com viradas precedendo dois acordes de guitarra e ao piano de George Martin, quatro vezes. E Ringo repete as viradas mais seis vezes, a chamar refrões, e versos, e a ponte, e ainda mais duas vezes no final. Um show do nosso baterista! 
 
O refrão, de duas vezes seis compassos, abre a canção, como em It Won't BLonge chama todos os versos, de  duas vezes 4 compassos e também a ponte, de oito compassos. Capta essa coisa de compassos? é simples, prepare os dedinhos e vá contando, cada 4 tempos perfazem um compasso. É um ótimo exercício de ritmo! As harmonias vocais perfeitas de Paul e George (ambos nos graves com John nos agudos, algo bem incomum!) dialogam em triplo nos versos, respondendo nas frases pares às chamadas de John nas frases ímpares, expliquei-me? Melhor desenhar:
 


Note, assim, rapidamente, duas coisas importantes, denotando a qualidade deles como letristas


Que segue válida a política de não repetirem letras, como descobri ao descrever 
Do You Want To Know A Secret, que foi a 2ª e última canção a repetir versos. Tell Me Why tem os dois versos (1-4 e 5-8) com letras diferentes. No Verso 1, é John reclamando por que ela o tratá-lo tão mal, mesmo ele tendo-lhe dado tudo o que tinha, e no Verso 2, pergunta-lhe o que ele precisa fazer para ela voltar, diz que não pode continuar assim chorando o tempo todo. Pobre John! 
Que TODAS (as quatro) rimas seriam RICAS, em português! Mesmo que em inglês não se use esse conceito, eu gosto de aplicá-lo.

1-3: verbo com adjetivo; 
2-4: adjetivo com verbo; 
5-7: verbo com preposição; 
6-8: verbo com substantivo.

Ah, os três entram também entram em falsete ("If there's anythin' I can do") na ponte, cuja tradução está no caput desta análise! Impecáveis! Essa maravilha toda foi realizada em hora e meia de estúdio, no que seria a hora do almoço do dia 27 de fevereiro de 1964, em apenas oito tentativas, com todos em seus instrumentos, e com os três cantores soltando a voz ao vivo, incluindo as fantásticas harmonias e duelos. Em overdubs, apenas os vocais dobrados, tanto de John no principal como de Paul e George nos auxiliares.
No filme, Tell Me Why abre a sequência final de trechos de três canções tocadas ao vivo no programa de TV, juntamente com If I Fell (que já aparecera na íntegra em ensaio) e I Should Have Known Better (que já aparecera na íntegra na cena do trem). Deixo o vídeo aqui, neste LINKpara que deliciem-se:

(i)   com o sorriso de Ringo, 

(ii)  com a gaita de John, 
(iii) com as harmonias vocais dos três, e, claro,  
(iv) com a dancinha das perninhas de George!
Bem, para finalizar, vocês gostaram de ver Tell Me Why tocada ao vivo? Pois contentem-se, porque foi a PRIMEIRA e ÚLTIMA vez. Nunca a tocaram nas turnês, nem nos programas de TV, nem John, muito menos Paul em suas carreiras solo lembraram-se dela!   
Gente insensível!

  

 

7. Can´t Buy Me Love  (Flirt Girl Song by Paul McCartney)

Paul esclarece: "Vou te dar tudo que eu tenho pra dar se você disser que me ama também. Eu posso não ter muito pra dar,  mas o que eu tenho, eu darei a você. 
A paquera evolvendo amor e dinheiro passeia pelo blues animado que Paul criou, sozinho, com quase nenhuma ajuda de John. São 3 versos com letras diferentes, entremeados por uma ponte "Can´t buy me love, everybody tells me so". O Verso 1 tem as promessas de comprar um anel ou qualquer coisa pra garota se sentir bem, e o Verso 2 tem o trecho descrito no caput desta análise. No Verso 3, ele já aparece cansado das coisas materiais e pede que ela deseje coisas que o dinheiro não pode comprar. Os três versos terminam da mesma forma, com o rapaz dizendo que não liga pra dinheiro.  
 
Ela foi escrita enquanto estavam na maratona parisiense de dois shows por noite, em janeiro de 1964, mas tinham um piano na enorme suíte que ocupavam no luxuoso Hotel George V, que usavam para compor as canções que precisavam para seu 1º filme, A Hard Day's Night, àquela altura ainda longe de ter um nome. E gravaram lá mesmo, no Pathé Marconi Studios da EMI, única vez na carreira que gravaram fora da Inglaterra, no dia 29, numa sessão em que também vieram à luz as únicas canções cantadas em alemão pelos Beatles (neste LINK). E foi tudo muito rápido, com os quatro tocando seus instrumentos habituais, em quatro takes. Depois, apenas George teve tempo de voltar ao estúdio fazer um overdub de seu solo de guitarra, e dá pra se notar o solo original em partes da gravação final.  Essa sessão foi em 25 de fevereiro... entre as duas sessões, eles cruzaram o oceano para conquistar a América. Aliás, esse solo inaugurava uma prática que seria adotada dali em diante: a composição do solo de guitarra. Até então, George chegava e tocava o que lhe dava na telha! Outro que teria que voltar ao estúdio para fazer um overdub seria Ringo, mas a agenda não deixaria espaço: ele tinha inúmeras cenas solo no filme, ganhou destaque logo que perceberam seu lado histriônico. Então, como os pratos necessitassem de mais agudos, quem resolveu foi mesmo o engenheiro Norman Smith, apenas no hi-hat (chimbal) não creditado!
 
O ponto alto da canção, entretanto, é o vocal vigoroso de Paul, apenas ele canta, apesar de John aparecer cantando junto ao vivo (ver neste LINK), embora eu particularmente ache muito interessantes os backing vocals de John e George que se ouvem em versão alternativa que saiu no Anthology 1, nas partes "ooooh satisfied" ou "ooooh just can't buy," e equivalentes (ouça, neste LINK, e note que gravaram num tom acima do original). A ideia de começar pelo nome da canção (e também terminá-la) com um trecho da ponte, foi de George Martin, para causar impacto, o que claramente foi conseguido. Notáveis também são os já tradicionais Beatles Breaks, momentos em que os instrumentos param, deixando apenas a voz do cantor, prática que usaram em algumas canções, e notavelmente logo na primeira, Love Me Do. Aqui, eles ocorrem, brilhantemente, nos trechos em que Paul canta "much for money". Eu gostava mais do final da versão de Anthology, com apenas baixo e bateria.  A canção era uma favorita de shows nas turnês de 1964 pelo mundo afora...
 
No filme, a cena em que a canção aparece é an-to-ló-gi-ca, quando os quatro, em meio à fuga dos fãs, fazem malabarismos acrobáticos mil, lembrando muito cenas do cinema mudo, tipo Comedy Capers. Deixo a cena aqui (um pouco modificada, com tempo variado), neste LINK, para lembrança e exaltação.
 
Antes de ser a sétima canção do álbum, a canção foi lançada em compacto, com You Can't Do That no Lado B, em 20 de março de 1964, quatro dias depois do lançamento nos Estados Unidos, onde Can't Buy Me Love foi imediatamente para o topo da parada, comandando um trenzinho de cinco canções dos Beatles nas posições 2 a 5 (as outras eram Twist And ShoutShe Loves YouI Want To Hold Your Hand e Please Please Me), fato único na história da música. E juntando-se a outras nove, até a posição 100, feito também inédito. 
 
A América estava definitivamente conquistada.

_________________________________________________________________________

LADO B

Espero ser mais conciso nas canções da Lado B. Ao menos não haverá descrições de suas cenas no filme nas últimas 6 canções, pois não fizeram parte da trilha sonora. Após o término das filmagens em meados de abril, fizeram alguns shows até o fim do mês, e saíram para merecidas férias de 30 dias inteiros, celebrando o sucesso mundial que tinham, já milionários. Felizmente, John levou seu violão para o Tahiti,  para aonde foi com a esposa Cynthia, e o novo casal George e Pattie Boyd, que ele conheceu nas filmagens. A outra metade dos Beatles, ou seja, Paul (com Jane Asher) e Ringo (com a esposa Maurreen) foram passear de barco nas Ilhas Virgens. Paul também levou o violão!

Afora You Can't Do That, que fora feita antes das filmagens, e lançada com Can't Buy Me Love, e I'll Cry Insead, feita para o filme e rejeitada, as demais quatro canções foram feitas nas férias de maio, e gravadas nos dois primeiros dias de junho. Foram três de John e uma de Paul, e o esquema era aquele: "Hey ladshave this song for you!", e os outros três, que absolutamente não a conheciam, tinham que aprender e sair tocando, direto, melhorando-a on the job.


8. Any Time at All  (Flirt Girl Song by John Lennon)

John se oferece: "A qualquer hora! A qualquer hora! A qualquer hora! É só me ligar e estarei com você.  Se você precisar de alguém pra amar, apenas olhe nos meus olhos, estarei aí pra te fazer sentir bem. 
A canção muito provavelmente foi feita no mês de férias que os Beatles tiveram em maio, após as sessões de filmagem de A Hard Day's Night. Tanto John quanto Paul levaram seus violões para seus diferentes locais de descanso, sendo o primeiro mais produtivo, produzindo três composições, uma delas, Any Time At All. E ela mostrou-se bem complexa, com 9 acordes. A estrutura é a repetição do par verso-refrão três vezes sendo que a última, entra uma ponte instrumental no lugar do verso, com acordes diferentes, deveras notável. John se coloca à disposição  da garota para amá-la, é só ligar! Foi praticamente uma repetição do tema de All I've Got To Do, de With The Beatles, de chamar ao telefone, enfim, mas desta vez num rock da melhor qualidade.  
 
Ela veio à vida numa sessão em 2 de junho, primeira após as férias. Foram sete takes iniciais, com todos em seus instrumentos usuais, depois passaram a  duas outras canções, e voltaram à noite para mais quatro takes de Any Time At All, desta vez com já com o excepcional piano de Paul, nos versos e na ponte!  
 
Marcante para mim é o início, com uma batida seca de Ringo, e John entra com o refrão a capella, lá em cima, num Beatle break, sem instrumentos "Any time at..." e a guitarra só entra no "..all". Note que são três as vezes em que a expressão é cantada em cada refrão, mas a segunda vez, quem canta é Paul, voltando John para a terceira. É sabido que Paul tinha mais alcance de vocal que seu companheiro. Os versos entram então, cantados uma oitava abaixo do refrão, e há duas vezes o artifício fundamental do overdub, porque seria impossível cantar direto os trechos, afinal John tinha que respirar
"I'll be there to make you feel right (If you're feeling) sorry and sad" e 
"There is nothing I won't do (If you need a) shoulder to cry on", 
as partes em azul são colocadas a posteriori. 
 
Notável é o piano que aparece nos versos, com uma nota comprida a cada acorde, e que também faz a ponte, antes do refrão final, uma notável sessão instrumental, primeiro em composição com a guitarra de George, e se destacando mais ao final da sessão com notas crescentes introduzindo mais um refrão. Esse belo piano foi ideia de Paul, já a caminho de ser considerado o melhor pianista entre os 4 Beatles! 
 
Depois daquela sessão de 2 de junho, nunca mais os Beatles tocaram Any Time At All, em nenhuma ocasião, no time at all, uma verdadeira lástima. Não encontrarão nada nesse sentido, nadinha mesmo, nem em sonho, aliás, podemos apenas imaginar a batida firme de Ringo, qual porta batendo, John mandando bem alto a capella Any time at all, já as guitarras entrando (djan djan djaaan) e logo segue Paul ainda mais alto em outro Any time at all, depois volta John com Any time at all, what you've gotta do is call and I'll be there.... 
 
Não, não adiantará chamar.... eles não virão jamais.... 
You can just imagine! 

Enfim, deixo aqui a canção, pra ajudar vocês a sonharem, neste LINK 

 

9. I´ll Cry Instead  (Dispair Miss Song by John Lennon)

John se oferece: "Eu tenho todos os motivos do mundo para estar louco porque eu acabei perder a única garota que eu tinha. Se eu pudesse fazer do meu jeito, eu me trancaria a chave hoje, mas eu não posso, então em vez disso, eu choro. 
Após um encontro com Bob Dylan em janeiro, em que os Beatles se deliciaram com um disco do bardo, John havia se decidido que era hora de começar a falar menos para adolescentes e mais sobre seus sentimentos. Esta canção tem um leque memorável de angústias expostas com relação a seu relacionamento perdido ('"cause I've just lost the only girl I had"), em que ele passa, identifiquei cinco delas:


mas como não pode ("but I can't"), e até conseguir ("until then"), ele apenas chora, que é o título da canção ("I'll cry instead") . Aliás, que nem se pode chamar de refrão, mas é a ÚNICA letra que se repete ao longo de todas as linhas, impressionante a construção lírica do poema! A forma foi o mais-que-comum verso-verso-ponte-verso, depois repetindo a ponte e o Verso 3.
 
Musicalmente, alguns  destaques a serem feitos, são quatro músicos excelentes tocando magistralmente seus instrumentos regulares, com John no violão, Paul no baixo (foi bem variado, note o walking bass nas penúltimas frases de cada verso!), George na firme guitarra e Ringo na bateria (ah, ele tocou pandeiro também, aliás, que aparece até mais que a bateria). John cantou sozinho, sem as tradicionais harmonias que eles faziam tão bem, apenas dobrou seu vocal, em overdub. Tudo isso aconteceu em 1º de junho, a 1ª sessão de gravação após um mês de férias, depois das filmagens do filme (!). Foram seis takes iniciais, quando viram que estava curta demais para uma sequência do filme (ver abaixo), então fizeram mais dois takes, com a repetição das duas partes conforme acima falado.
 
O fato notável é que ela foi feita por encomenda para musicar aquela cena em que os quatro fogem do estúdio pela escada dos fundos e fazem malabarismos num helideck, para a qual acabou sendo aproveitada Can't Buy Me Love, porque foi considerada carregada de emoções demais, havemos de concordar, não é mesmo? Além disso, ficou ainda curta para preencher a cena toda. Ela nunca foi tocada ao vivo, mas felizmente foi ressuscitada num tributo a Lennon, num relançamento do filme em 1981, de fundo a uma série de fotos deles em 1964  passando em ritmo alucinante! Delicie-se neste LINK, que tem até uma repetição do Verso 1.
... eu disse 'felizmente' porque fizeram o tributo

mas foi 'infelizmente' por causa da razão para ele...

 

10. Things We Said Today  (Love Girl Song by Paul McCartney)

Paul declara: "Você diz que será minha, garota, até o fim dos tempos. Nos dias de hoje uma garota tão gentil parece tão difícil de se achar. Algum dia quando estivermos sonhando, profundamente apaixonados, sem muito a dizer, então nos lembraremos de coisas que dissemos hoje   
 
Essa foi a única canção de Paul no Lado B do disco. Ela foi feita durante as merecidas férias do grupo em maio de 1964, descansando do intenso período de filmagens do filme A Hard Day's Night. A letra versava sobre sua relação com uma menina que pouco tem tempo de ver porque ambos têm carreiras atribuladas. ("Someday when I'm lonely, wishing you weren't so far away").  Esse era o caso de sua namorada Jane Asher, atriz concorrida, que viajava muito, assim como ele. And I Love Her, escrita pouco mais de um mês antes, também era inspirada ela.  
 
O tradicional da época em termos de estrutura estava em Things We Said Today: dois versos, uma ponte e mais um verso, sem refrão, todos os versos com letras diferentes, repetindo-se depois a ponte e o verso final. O tom geral da canção é de otimismo e felicidade pelo novo amor, "tão difícil de encontrar, assim tão carinhosa!". Acho notável a ponte ("Me, I'm just the lucky kind. Love to hear you say that love is luck.."), tanto pelo aumento de tensão que traz à canção, com Ringo batendo mais forte, e em especial, com três ocorrências na letra: 

  • A rima interna dupla, pois ele rima "Love TO HEAR YOU SAY that love is luck" com  "Love IS HERE TO STAY and that's enough" dupla porque rima "Hear" com "Here" e "Say" com "Stay" ; 

  • E essa letra da frase final da ponte É PARTE do início do verso seguinte, perceba: a ponte termina com "... and that's enough..." e segue com "...to make you mine, girl, be the only one" do verso final; 

  • Além das rimas finais de todas as linhas, que seriam ricas, em português:   "kind" com "blind" e "luck" com "enough".

Things We Said Today foi apresentada aos demais companheiros numa sessão do dia 2 de junho e estava PRONTA apenas TRÊS TAKES DEPOIS, o que mostra a capacidade dos instrumentistas. Ela é marcada pelo triplet grave do violão de John, aquele ta-ra-ran do início, e que é repetido no meio e no final da canção, magnífico! John também toca um piano que encorpa a ponte , mas quase não se o ouve no mix final. A ponte também é enriquecida pelo pandeiro de Ringo! Apenas se ouve a voz de Paul na canção toda, dobrada e em segunda voz nas metades finais dos versos.  
 
A canção foi bastante tocada  ao vivo, sendo duas vezes na BBC e muitas nas excursões de 1964, inclusive no Hollywood Bowl, neste LINK Nessas ocasiões, era George quem fazia as segundas vozes de Paul.  Notem como George se aproxima do microfone quando Paul vai cantar a 2ª parte de cada verso, em "Someday when we're dreaming" ou "Someday when I'm lonely". Ela foi a escolhida para fazer o Lado B de A Hard Day's Night em compacto lançado simultaneamente com o LP na Inglaterra. Nos Estados Unidos, tudo foi diferente, como era naqueles tempos de Capitol rebelde, fazendo uma salada com o catálogo dos Beatles.. . O LP com a trilha sonora do filme tinha no Lado B, instrumentais da orquestra de George Martin. A canção foi lançada em outro LP, Something New, uma mistureba danada e que até repetia canções, um engodo. Enfim, eram os tempos de rebeldia. A partir de Revolver, eles acabaram cedendo e adotando o mesmo catálogo da Inglaterra.

 

 11. When I Get Home  (Love Girl Song by John Lennon)

John declara: "Who-hoaa,Who-hoaa, Eu tenho um monte de coisas para falar com ela quando eu chegar em casa. Vamos, eu estou saindo porque eu vou ver minha garota hoje. Eu tenho um monte de coisas que eu tenho que dizer a ela" 
 
Apesar de estar junto com Cynthia em férias no Tahiti após as filmagens de A Hard Day's Night, John descreve as saudades de casa, como se estivesse nas suas longas ausências em excursões (e filmagens, no caso daquele ano), talvez em homenagem à esposa, que ficava com o pequeno Julian o tempo todo! Lembrando um pouco a própria canção-título, mostra-se um trabalhador sonhando em voltar para os braços da amada. John mostra todo seu apuro literário ao usar pela primeira vez na história do rock a palavra "trivialities", que foi buscar para fazer rima rica com "please". 
 
A coisa começa lindamente com o refrão gritado em harmonia tripla (John Paul George) "Whou-hoaa, Whou-hoaa I got a whole lot of things to tell her" até chegar ao nome da canção, cantado apenas por John, e então entra Ringo com uma virada vigorosa na bateria. Segue John cantando o 1º Verso, "Come on, I'm on my way...", pedindo licença pra ir falar muita coisa pro seu amor, como diz a letra do caput ali de cima, e vem outro refrão, e outro verso "Come on, if you please...", diz que não tem tempo a perder (as tais trivialidades), que precisa ir pra casa, depois mais refrão, e vem a ponte ("When I'm getting home tonight, I'm gonna hold her tight. I'm gonna love her till the cows come home...") alterando a melodia, apenas com John de novo, adoro esse trecho, tanto que coloquei no título desta análise, e terminarei com com uma alegoria usando a expressão. Finalmente, o Verso 3 com mais um "Come on..." final, com John pedindo passagem, e dizendo que não tem nada que ficar parado ali, e tudo termina com um refrão final estendido.  
 
Toda essa estrutura, bem complexa, foi apresentada aos demais, num 2 de junho de 1964, e finalizada numa sessão única, a última reservada para completar o álbum! Foram necessários 11 takes, com todos em seus instrumentos usuais, duas guitarras, baixo e bateria, depois voltaram, John para dobrar seu vocal, Paul e George para fazerem suas harmonizações nos refrães, e Paul acrescentou também um piano. Ringo acentuou muito bem com seu prato todos os momento de clímax dos refrães, mas sente-se a falta de mais uma virada de bateria introduzindo o 3º verso, e compreende-se: ele estava ali no sacrifício, cheio de dor em sua garganta: iria internar-se no dia seguinte para extração das amídalas, o que causou sua substituição por um certo Stevie Nichol nos primeiros 10 dias da primeira grande excursão internacional, à Dinamarca, Holanda, Hong Kong e à primeira cidade da Austrália. Ele ficou um pouco magoado por irem sem ele... Ringo voltaria ao grupo nas demais cidades da Austrália e Nova Zelândia! A canção nunca foi tocada ao vivo e é subavaliada pelos críticos, mas não por mim, e decerto a grande maioria dos fãs, que a amarão até as vacas voltarem para casa, no fim dos tempos! 
 
Na falta de imagens deles ao vivo, pensei em colocar imagem de Cynthia, a inspiradora da canção, mas fui buscar algo coadunado com a expressão que aprendi.... e encontrei várias ... é uma expressão comum da língua inglesa, que aproveita o fato de as vacas ficarem o dia todo pastando e voltarem len-ta-men-te de volta pro estábulo no final do dia. A do lado é a capa de um livro infantil. Ah, sim, claro, ia me esquecendo de colocar o LINK... na falta de nada ao vivo, ou um áudio diferente, coloco o original.


  12. You Can't Do That  (DtR Girl Song by John Lennon)

John ameaça: "Eu tenho algo a dizer que talvez lhe cause dor: se eu pegar você falando com aquele garoto de novo, eu vou te decepcionar, e te deixar imediatamente, porque eu já te disse antes, oh, você não pode fazer isso"
Canção típica de DR entre casais, mas com ameaças! Ela foi feita em Miami, em meio ao estrondoso sucesso da invasão da América. intenção é que  fosse  incluída no filme A Hard Day's Night, mas foi deixada de lado com a chegada da canção título! Retrato da possessividade de John em relação à sua amada, ciúme explícito, não querendo nem que ela converse com outros rapazes, apesar de ele não fazer a parte dele, com inúúúmeras puladas de cerca. Ele podia, né! Ai ai ai! 
 
Bem, esse ciúme, essa possessividade toda, foi magnificamente traduzido na fórmula que eles preferiam na época, verso-verso-ponte-verso, sem refrão, e com letras diferentes. No Verso 1, vem o primeiro aviso e ameaça de deixá-la se falar de novo com aquele garoto, mas parece que a garota não levou muito a sério, porque, no Verso 2, ele diz de novo que a viu conversando com o cara, reclama que é pecado, e ameaça deixá-la de novo, mas segue com ela, e na ponte, ele argumenta que todos estão invejosos por ele estar com ela e reclama que todos vão rir se ela continuar fazendo isso, mas a menina é insistente e no verso final nosso herói segue reclamando e ameaçando.... mas continua com ela, hehehe. Depois do verso final, ainda levam um verso instrumental, repetem a ponte e repetem ainda o verso final. Aliás, foi nesta canção que eu entendi expressão que usamos aqui 'verde de inveja', vem de lá. Ouça John cantando:
Ev'rybody's gree-een,'cause I'm the one who won your love!
 
  
COWBELL
Esplêndida também musicalmente, a começar pelo riff matador de dois compassos (conte duas vezes, até 4) na guitarra que abre solitário e arrebatador a canção, para entrarem apenas depois os outros instrumentos. Foi a primeira vez em que os Beatles fizeram desse jeito, e repetiram a fórmula em Day TripperTicket To RideI Feel Fine e coincidentemente todas de John, mas houve outras. Ouvem-se os ecos do riff ao longo de toda a canção e ele volta, triunfal, ao final! Siga encantado com os duelos vocais, com Paul e George enfatizando em harmonia dupla as ameaças de John, a partir do segundo verso. E também no "GREEEEEEN" da ponte. E ouça o solo de guitarra de John (raríssimo!), o bongô de Ringo, mas principalmente o 'cowbell' tocado por Paul em overdub, ao longo de toda a canção, quase religiosamente quatro vezes por compasso, com breves interrupções, cheguei a contar, foram 260 vezes que Paul bateu com sapiência aquele sonoríssimo instrumento de percussão que eu adoro. 
 
You Can't Do That veio à luz em 25 de fevereiro de 1964, na 1ª sessão de gravação após a triunfal viagem aos Estados Unidos. Foram nove takes, com John cantando sempre e com todos em seus instrumentos, sendo cinco deles incompletos. O Take 6 foi perfeito, mas só tinha John no vocal, e podemos ouvi-lo porque foi lançado oficialmente no projeto Anthology, ouça neste LINK. Interessante que apenas no Take 9 houve a decisão de colocar harmonias vocais então Paul e George entraram magnificamente, sem ensaio e saiu aquela coisa maravilhosa e definitiva que ouvimos até hoje!
 
Ela foi tocada ao vivo na BBC, quase um mês antes de ser lançada como Lado B do compacto liderado por Can't Buy Me Love, Número 1 imediato nas paradas, e seguiu sendo tocada nos shows das excursões pós-filmagens, deixo aqui uma mostra, neste LINK! Um sucesso!!!

 

13. I'll Be Back  (DtR Girl Song by John Lennon)

John implora: "Você sabe, se você partir o meu coração, eu vou embora, mas eu voltarei porque eu já lhe disse adeus antes, mas eu voltei"

Canção de DR de casal, com submissão do sujeito totalmente apaixonado! John segue em sua insegurança sentimental que é uma constante em toda a sua carreira, é só lembrar que Don't Let Me Down lá do final, quando já mudou de esposa, mas o coração segue inseguro. A canção foi feita nas férias de John e George e respectivas companheiras no Tahiti. Na volta, logo no primeiro dia de gravação para o Lado B do LP A Hard Day's Night, 1ª de junho de 1964, dedicaram três horas em uma sessão noturna e 16 takes para terminá-la, e com muitas variações ao longo do caminho, pra se ter uma idéia, os dois primeiros foram levados no ritmo de valsa (tempo 6x8, pa-pa-pum-pa-pa-pum), que felizmente sobreviveu ao tempo e apareceu no Projeto Anthology, note, neste LINK, como é meio forçado, tanto que John reclama que é difícil de cantar. A partir do 3º take, estabeleceu-se o tempo norma, de 4x4, sinta a diferença, neste LINK, ainda com guitarras, e ainda sem a introdução, e ainda eram apenas John e Paul cantando juntos, sem a participação de George na harmonia, que foi para aonde a canção evoluiu ate o Take 16, que foi considerado o melhor. Depois vieram overdubs de John dobrando seu vocal e tocando mais um violão por sobre o seu! 
 
O notável de I'll Be Back é sua  complexa estrutura, de 10 componentes, um recorde, senão vejamos: verso-verso-ponte1-verso-verso-ponte2-verso-verso-ponte1-verso! E nenhum deles é refrão!  É bem verdade que os versos são curtinhos, de três fases cada "You know - If you break my heart I go - But I'll be back again" e depois "Cause I - Told you once before good by - But I came back again" e por aí vai, e também a Ponte 1 é curta, com duas frases (uma repetida),  e vem com o requinte de que, quando é repetida, ela vem com letra diferentes entre as duas ocorrências, e um requinte adicional de rimar uma com a outra, vejam: "I love you so, I'm the one who wants you" e "I wanna go but I'd hate to leave you". A 2ª Ponte, novidade absoluta na carreira, e que divide a canção no meio, um terceiro requinte, já é maiorzinha, tem quatro frases, começando em "I thought that you would realize" e indo até "I've got a big surprise". Em termos de tempo, os curtos versos duram apenas seis compassos, e nas pontes John faz questão de inovar, suprimindo dois tempos do que seria o normal, então, as Pontes 1 tem 6 compassos E MEIO, e a Ponte 2 tem nove compassos E MEIO! Esse John!
 
Outra coisa é o tom da canção, que os especialistas não têm certeza se é La Maior ou La Menor, porque a abertura de George ao violão fica lá e cá, depois o verso começa cá e lá. Aliás, com tanta melodia, por conta da estrutura com um verso e duas pontes, a quantidade de acordes de I'll Ba Back colocou-a no pódio Beatle até então: foram 12 os acordes utilizados

Versos: A Am C G F E7 A 

Ponte 1: F#m Bm E7 D E D E 

Ponte 2: Bm C#m F#m B7 Bm E7 D E D E 

Notáveis são as variações de tempo e as inclusões pontuais de triplets no violão de George, que podem ser notados  em pontos selecionados  ao longo da canção, melhor identificados com fones de ouvido (no esquerdo, ok?). Os versos são em harmonia dupla com Paul, mas nota-se uma nota alta de George ao longo! As pontes (todas as TRÊS!) são levadas apenas por John! E a canção termina com um Fade-out, também inédito para um final de LP, alternando também lá e cá....e segue a dúvida dos especialistas...

Finalmente, deixo aqui, neste LINK, como ela ficou depois de tantos melhoramentos!!


UFA! 

Comentar 13 Lennon/McCartney Songs não foi fácil! É muita riqueza, muita inovação, muita qualidade, que a gente sente a necessidade de descrever. Qualificando um pouco mais, foram10 primordialmente de John e as outras 3 de paul, constituindo-se no maior momento de primazia de um compositor sobre o outro, respondendo por 76% das canções. Quem abriu os trabalhos, entretanto, foi Paul, com sua Can't Buy Me Love, com o luxuoso detalhe de ter sido gravada em Paris, numa única ocasião em que uma canção original Beatle foi gravada fora da Inglaterra, num 29 de janeiro de 1964. Depois, partiram para conquistar a América, voltaram aos estúdios para 4 sessões, a 25, 26 e 27 de fevereiro e 1º de março, e partiram para as filmagens de seu 1º filme, A Hard Day's Night, em meio das quais voltaram ao estúdio apenas no dia 16 de abril para justamente gravar a canção título, depois partiram para um mês inteiro de férias, e retornaram para mais duas sessões a 1 e 2 de junho.

Todas foram montadas nos dois lados de um vinil, na ordem apresentada acima, que foi colocado numa capa antológica! O fotógrafo Robert Freeman, em sua 2ª capa Beatle, deu a ideia de apresentar 4 fileiras de fotos dos quatro membros da banda, como se fosse um rolo de filme, afinal, tudo foi inspirado pelo filme que estavam fazendo! O fundo das fotos era azul, e o título acima delas todas. No Brasil, felizmente optaram por lançar as mesmas canções, porém a capa tinha um fundo vermelho, e o nome foi abrasileirado, apresentando Os Reis do Iê Iê Iê, que seria também o nome do filme! Foi o primeiro álbum que eu comprei, ou  melhor, pedi na loja, para que meu irmão, 13 anos mais velho, me presenteasse, no meu aniversário de sete anos, em 1965. Eu já conhecia, porque ele havia comprado o LP Beatles Again, seis meses antes! Comecei cedo a paixão!

No Reino Unido, o LP foi para o topo da parada onde ficou 21 semanas. Nos EUA, preferiram lançar diferente... Pegaram as sete canções da trilha, mais I'll Cry Instead e acrescentaram mais quatro instrumentais de George Martin. Talvez por isso tenha ficado 'apenas' 12 semanas, mesmo assim, sendo o maior sucesso do ano, no mercado mais importante do mundo! O álbum oficial é regularmente colocado nas listas dos melhores álbuns de todos os tempos, em inúmeras enquetes.

 

10 comentários:

  1. Ufa!
    Nada mais justo que este ufa! próximo do final. Que fôlego! Ficou muito bom. Como disse de outra vez, há tanta coisa ai que jamais descobriria sem um guia experiente para mostrar o caminho.
    É para ler várias vezes, ouvindo as canções, vendo os vídeos e, a cada vez ter a atenção voltada para um detalhe novo. Parabéns

    ResponderExcluir
  2. Meu amigo, o passeio pelas canções e sua estórias, nos possibilitam compreender a genialidade dos quatro.
    São detalhes que passam desapercebidos pelos ouvidos dos mortais e fanáticos beatlemaníacos, como nos.
    Nos perdemos na viagem curtindo o som e não percebemos a riqueza que os envolve.
    Vc insere em nossa viagem o ingrediente mágico que possibilita a compreensão do todo.
    Obrigado

    ResponderExcluir
  3. Noooossa Homerix, existe algum termo mais apropriado do que superação? Dizer que você se superou nesta postagem me parece pouco, insuficiente. Sobrou gás para comentar o próximo LP dos Beatles ou antes irá tirar licença prêmio? Obrigado por tantas informações que você traz à tona, vou acabar especialista em Beatles e não apenas um grande fã.

    ResponderExcluir
  4. Caro Homero, parabéns pelo excelente, bem escrito, criativo, cativante, divertido, colorido, emocionante, onomatopeico texto. Proponho uma sugestão de melhoria: o plural correto de LP, na língua portuguesa, é LPs, não LP's. Na língua inglesa o apóstrofo significa não plural, mas posse.

    ResponderExcluir
  5. Nossa quanta informação, quanta coisa aprendo com você Homerix. Nessa escola a qual você é professor estou quase me formando. Não tem jeito, você tira de letra. Tudo que você fala é de grande sabedoria. Ninguém faria isso se não amasse esses 4 maravilhosos garotos de Liverpool. Tiro meu chapéu para você sempre dúvida nenhuma

    ResponderExcluir
  6. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  7. Olá, Homerix!!!
    Estou trabalhando o assunto meio ambiente e quero incluir Beatles. Além do forte envolvimento do Paul com o tema e das músicas Mother nature’s son e Child Of Nature, o que mais pode se destacar deles nessa questão?
    Abraço

    ResponderExcluir
  8. Extraordinário. Vi logo uma novidade assim que o comprei no Rio de Janeiro em janeiro de 1965. Todas as músicas de Lennon/McCartney. Sem covers. E estava até melhor que os outros. O que provou algo fantástico. Eles eram ainda melhores compositores que seus ídolos. Melhor dizer: suas musicas me emocionavam mais que as dos outros compositores com algumas exceções. O album mostrou que podiam viver e muito bem compoondo suas próprias canções. Eu voltei do Rio de ônbus...abraçada com o disco.

    ResponderExcluir
  9. Excelente Homerix, que tal um canal no YouTube? Estarei inscrito.

    ResponderExcluir