Esta é a 6ª canção do Lado A do álbum Rubber Soul,
a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK
É uma de 27 canções inspiradas em Love Girl, dos Beatles,
as demais 3 canções do mesmo Assunto e Classe, aqui, neste LINK
7. Michelle ( Love Girl Song by Paul McCartney)
Paul se desmancha: 'Michelle, minha linda. São palavras que ficam muito bem juntas, muito bem juntas. Te amo, Te amo, Te amo. É o que eu quero dizer'
Paul tinha a linha melódica da canção desde antes dos Beatles, sempre a considerou com uma levada à ‘francesa’, com razão. Chegou a hora de povoar o novo disco de canções para o Natal de 1965, e foi John quem disse: “Paul, pega aquela melodia ‘francesa’ e trabalha nela!” Brilhante lembrança! Por ser uma melodia ‘francesa’, ele achava que tinha que ter uma ‘francesa’ no nome, mas o francês era pífio, e ele recorreu a uma ‘francesa’, entre aspas, pois na verdade era uma professora de francês, que tinha uma particularidade histórica. Seu nome era Jan Vaughan, pois era casada com ninguém menos que Ivan Vaughan, que APENAS, apresentou John Lennon a Paul McCartney em 6 de julho de 1957, amigo comum que era dos dois, não precisava fazer mais nada nessa vida, não é mesmo? Enfim, Paul se lembrou dela e a chamou ao telefone e perguntou sobre a conjunção de um nome e uma palavra, ambos de duas sílabas "which could go together well". Ela demorou poucos segundos e disse: "Easy! Michelle, ma belle". Histórico, não? Depois, ele trabalhou na letra, resolveu manter na letra a pergunta que fizera a ela e, em uma segunda chamada, perguntou: "Please translate this to me: These are words that go together well" e ela: "Sont des mots qui vont très bien ensemble", que Paul percebeu caber per-fei-ta-men-te na métrica! Parfait, non? Depois, ela ensinou direitinho a pronúncia a Paul, e alguns meses depois, Mrs. Vaughan recebeu em sua casa um polpudo cheque, afinal ela era simplesmente a co-autora de uma das mais belas composições originais Lennon/McCartney. Não sei de outra mulher que tenha tido essa distinção. Homem, eu sei que teve, mas voltaremos a falar disso daqui a três anos, digo, aqui na ordem dos discos, quando falarmos de Obladi Oblada, com uma história sensacional!!
Bem, Paul tinha apenas a melodia, o nome e os versos da canção prontos, e chamou seu parceiro para fornecer as pontes, invertendo os papéis, pois normalmente é Paul quem socorre John nas pontes nas canções. John veio com "I love you, I love you, I love you, that's all I want to say, until I find a way, I will say the only words I know that you'll understand"! Note a linha de uma nota só (de "say" até "you’ll") mudando de acorde duas vezes no pequeno trecho, característica das composições de John, é só notar em HELP! “When I was younger so much than ...” e em Girl "She's the kind of girl who puts you down when friends are there, you feel a ...", por exemplo. Nas outras pontes, Paul inovou, trocando "love" por "need" na segunda e depois por "want" na terceira, e provendo os complementos necessários. Brilhante, como sempre!
E agora, vamos à gravação! Que melodia linda!! A base é apenas Paul no violão com Ringo na bateria, tudo o mais é agregado posteriormente, em overdubs. E Paul usa o capo, para ajustar o tom da canção, artefato pouco usado antes de Rubber Soul. O baixo de Paul vem gravado depois e ele usa o capo também no baixo, coisa absolutamente incomum, e aparentemente desnecessária num baixo, não é mesmo? O violão de John e a guitarra solo de George, também vem em overdubs. Aqui nesta canção, George é um mero instrumentista orientado. Explico: o magnífico solo que aparece no quarto verso, quando Paul entoa um comprido "I love yooooou" foi composto pelo outro George, de sobrenome Martin, o Maestro (com M Maiúsculo), que dobrou as notas também ao piano, mas quase não aparece na gravação final. E o mesmo solo se repete no final, inteiro, e mais um pouco, em fade out. Note uma desaceleração nesse final, charmosíssima, ideia de Paul! E Martin marca outro golaço em Michele! Notaram as harmonias "Uuuuuuu" que John e George acrescentam em toda a canção, com exceção dos ápices das pontes? Agora, imaginem a cena: o Maestro chama John e George num canto e diz: “Tenho umas sugestões, John, você poderia cantar "Uuuuuuu" assim, assim, assim e George, você canta "Uuuuuuu" assado, assado, assado, acompanhando Paul no vocal principal, que tal?" E os grandes John e George obedecem e executam perfeitamente as ordens do Maestro! Gênio, não? Agora, ouça de novo e admire as obras de George Martin em Michelle!!
Vocês têm alguma dúvida de que se Michelle fosse lançada em compacto, com qualquer canção no Lado B, ela teria alcançado o topo das paradas em qualquer lugar do mundo? Eu, não! Foi decisão deles não fazê-lo, para concentrarem esforços no Double A Side single Day Tripper com We Can Work It Out, que não sairiam em Rubber Soul, e que chegou realmente ao topo. Acharam que a balada Michelle não representava o momento da banda. Com um pouco de razão. Mas é certo que um segundo single poderia ser lançado! A canção era tão popular nas rádios americanas que a Capitol, por exemplo, colocou na capa de cada LP do mercado americano, o selo da foto. Decerto, contribuiu muito para a venda de 6 milhões de cópias de Rubber Soul! Para completar a festa, Michelle foi a primeira (E ÚNICA!!) canção dos Beatles a ganhar o Grammy de Song Of The Year!
Como outras 11 canções de Rubber Soul, Michelle não foi aos palcos com os Beatles, mas foi salva por Paul, para gáudio nosso, inúmeras vezes, sendo, em minha opinião, a mais notável delas, na Casa Branca, em 2010, quando tocou Michelle, olhando para Michelle, a Obama, sob os olhares encantados de Barack. Veja essa pérola, neste LINK, e note que o solo é tocado em um francesíssimo acordeón!! Falei sobre esse show em um post de meu blog, neste LINK, para quem tiver curiosidade, com direito a discurso de Obama sobre Paul!
Une belle chanson!!!
Excelentemente escrito seu texto, reflete a grandiosidade dessa canção. Novamente acertou em cheio
ResponderExcluirA partir do lançamento e inequívoco sucesso dessa música foram várias as certidões de nascimento nas quais houve o registro desse nome. Apesar disso, lamentavelmente não namorei nenhuma Michelle.
ResponderExcluirTexto perfeito como sempre
ResponderExcluirQue belo trabalho de investigação. Nem narrado, com opinião crítica, rigor histórico, mesmo que aqui é ali alguma fantasia se possa admitir, para,não perder a sequência da História. Uma delicia.
ResponderExcluirMagnifique chanson...Paul le Beatle...
ResponderExcluirMuita bacana! Acho interessante saber dos bastidores de como as coisas são feitas, principalmente das obras primas.
ResponderExcluirBelo texto Homero. Muito interessante conhecer o processo criativo desses gênios da música pop.
ResponderExcluirAbs.
Lages
Que história fantástica... pude revê-la no último final de semana assistindo o McCartney 1, 2, 3.
ResponderExcluirAcho que a melodia e tudo o mais são muito bonitas nessa música.
Pude ver o Paul tocando no Pacaembu em dezembro de 1993.