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domingo, 25 de julho de 2021

As Covers de Please Please Me

Foram 6 as canções covers (*) que os Beatles gravaram em Please Please Me

(*) Canções compotsas por autores de fora da banda

Os números correspondem à sua posição no álbum!


Espantou-se com esta última não ser 'dos' Beatles? Pois é, pouca gente sabe disso!!! Twist and Shout foi composta por Medley e Russel (Você conhece? Nem eu!). Seguramente, eles jamais sonharam que ela alcançaria a fama que tem até hoje, e que estaria ainda viva mais de 60 anos depois de ter sido escrita. E certamente sorriem no túmulo, a cada vez que ouvem a interpretação Beatle de sua canção dançante, muito melhor que na gravação mais popular até então, pelos Isley Brothers (Você conhece? Nem eu!). Falei sobre ela neste LINK, como ela é colocada até hoje nas festas dançantes por todo o país. Pode crer: se for apenas UMA canção Beatle a ser tocada, ela será Twist And Shout. E eu conto também como foi conseguida aquela espetacular desempenho vocal de John, tarde da noite, num take só! Repito aqui:

Foram 9:45 horas de gravação, naquele que pode ser considerado o dia mais produtivo da história do rock. Isto sem contar os intervalos entre as três sessões, em que eles seguiam ensaiando, e tomando leite, para preservar a garganta, afinal era inverno, estavam todos resfriados. Nada comeram naquele dia. Quando chegou 10:00, o estúdio ia fechar, mas ainda faltava uma canção. Foi quando John disse que a garganta estava prestes a explodir. Tinha ‘estoque’ para mais uma e única performance, um esforço final. Era uma chance só! E decidiram gravar Twist and Shout, justamente a mais berrante das canções do LP, e que era levada justamente por John. Às 10:30 da noite do dia 11 de fevereiro de 1963, John gargarejou uma última golfada de leite, e soltou a voz, mais áspera do que nunca, e a banda acompanhou nos woooos e haaaas. Terminado o esforço, silêncio absoluto no estúdio, todos se entreolhavam calados, um misto de espanto e agradecimento. Haviam acabado de testemunhar a mais impressionante interpretação vocal e instrumental da história do rock’n roll até então. E ela é assim, por muitos, considerada até hoje. Digo mais, Twist and Shout somente está hoje aí, firme e forte, por causa da primorosa e imbatível gravação dos Beatles. O que se ouviu naquele momento é exatamente o que se ouve até hoje. Aquela tomada foi a definitiva. Ainda tentaram mais uma, melhorar o imelhorável, mas a voz de John sumiu, apagou, como ele mesmo previra. 
Já que estamos nos covers, seguimos neles, lembrando que todos faziam parte do set list dos shows que faziam em Liverpool e no norte da Inglaterra naquela época.

E aqui, antes de passar à análise, lembre-se que estamos no comecinho de tudo, eles ainda eram uma banda de rock comum, com duas guitarras, baixo e bateria. Não esperem muitas inovações. O primeiro instrumento afora aqueles (e uma gaita de John e um piano eventual de George Martin) viria apenas em 1965, aquela flauta de You've Got To Hide Your Love Away. 

Mas vamos a um pouco mais de detalhes das demais 


3. Anna (Go to Him) (Alexander)


Gravada originalmente por seu autor, o americano Arthur Alexander, poucos meses antes, Anna (Go To Him) era uma balada soul favorita de John, também uma de minhas favoritas!  A letra é um romance lascado, com o autor reclamando de seu amor perdido "You give back your ring to me and I willl set you free, go with him".  Foi a 7ª de 11 canções gravadas naquele 11 de fevereiro, 10 das quais se materializaram no 1º LP. Era a sessão noturna, que começou com Hold Me Tight, que foi deixada para o LP seguinte. Anna veio logo a seguir! Apenas três takes foram necessários, com todos ao vivo, em seus instrumentos tradicionais. John deu show na gravação vocal. George também a cantava ao vivo em shows. Deixo aqui o LINK da versão tocada ao vivo na BBC, muito bem, virtualmente igual à de estúdio, com John preferindo não subir a nota na 2ª sílaba de "...searCHING", mas as harmonias de Paul e George ("Aaaaaaanna") estão lá, bem como o ótimo baixo de Paul surpreendentemente bem definido para uma gravação ao vivo.


4. Chains (Goffin/King)

Composta por Goffin e King, e este King, na verdade é mulher, e é, sim, a diva Carole King, quem diria... de grandes sucessos nas décadas seguintes, deixo aqui como registro apenas dois, It's Too Late e You've Got a Friend, precisa mais não, né! Quem a gravou originalmente foi o grupo vocal The Cookies, que teve breve sucesso, mas terminou por virar backing vocals de Ray Charles. Ela é cantada por George em Please Please Me. Não é de minhas favoritas, mas tem uma harmonia vocal espetacular de John e Paul, as usual, cantando junto com George nos versos e deixando-o solo apenas nas pontes "I'm gonna tell you pretty baby...". Foi a 9ª de 11 canções gravadas naquele 11 de fevereiro, 10 das quais se materializaram no 1º LP. Apenas quatro takes foram gravados, sendo escolhido o primeiro deles como o melhor, com todos ao vivo, em seus instrumentos tradicionais, mas também com a sensacional gaita de John na introdução, que ele abandona abruptamente para começar a harmonia vocal, e passar à sua guitarra. Aliás, foi esta a primeira vez em se ouviu em disco a maraca registrada dos Beatles: a harmonia vocal tripla! E eles a fizeram ao vivo, sem overdubs. Os Beatles eram sensacionais! Deixo aqui o LINK da versão tocada ao vivo na BBC, aqui, sem a gaitinha.


5. Boys (Dixon/Farrel)


Ali, naquela primeira sessão de gravação da história dos Beatles, já se instalava o costume de reservar uma oportunidade para Ringo brilhar. E foi em Boys, sempre tocada nos shows da banda naquele começo de carreira, para gáudio das fãs, uma interpretação vigorosa do nosso querido baterista cantor, coisa raríssima naqueles dias, mais um daqueles nunca-antes-na-história-das-bandas-de-rock. E Ringo herdara essa atribuição do baterista que ele deslocou: era Pete Beat quem cantava Boys. Interessante que era uma canção sobre meninos cantada por The Shireless, um grupo vocal feminino americano (do qual Dione Warwick fez parte algumas vezes), Lado B de um compacto de 1960. E parece que era um número de Ringo em sua antiga banda, Rory Storm and The Hurricanes, da qual John e Paul o sequestraram para os Beatles. Foi a 8ª de 11 canções gravadas naquele 11 de fevereiro, 10 das quais se materializaram no 1º LP. Eles estavam tão afinados, que apenas UM TAKE foi necessário, decidiram que não precisavam tentar melhora nem uma coisinha sequer! O "paptchua papatchua" de Paul, John e George é sensacional! Isso era Beatles, rapaz! E foi a única canção em que isso aconteceu... bem, sim, já cantei em prosa e verso que Twist And Shout foi conseguida no 1º take, só que eles ainda tentaram uma 2ª vez, sem sucesso. Aqui, vou deixar uma performance ao vivo, com vídeo, para se encantarem com Ringo, neste LINK. É um trecho do documentário Eight Days a Week (The Touring Years) e as cenas do show foram no Hollywood Bowl.


10. Baby It's You (David/Williams/Bacharach)

A canção (sim, o Bacharah, um dos 3 compositores é aquele mesmo Burt, conhecido das baladas de 1970, coisa pouca, tipo assim Raindrops Keep Falling On My Head) foi um sucesso na voz de The Shireless (de novo, um grupo de meninas!), mas ganhou mais corpo na voz dos Beatles, mais especificamente na de John com direito a charmosísssimos "cheat-cheat", e magnificamente contracantada por Paul e George, em deliciosos "Scha-la-la-la-la-la-la's" e "uuuu's" e "aaaa'sAlém dos instrumentos tradicionais, George Martin adicionou uma pianola, posteriormente, de leve, por sobre o solo de George na guitarra! Foi a penúltima canção gravada na histórica sessão, e foram apenas 3 takes!! A experiência de tocá-la ao vivo já há um ano foi fundamental para essa rápida conclusão. Pra manter a norma, deixo aqui a versão tocada ao vivo na BBC, neste LINK. Note que o solo é feito ao vivo por George, e com extrema competência e com direito a três notas extras em relação à gravação de estúdio. Ele estava confiante! Os rapazes eram de extrema categoria!


12. A Taste Of Honey (Scott/Marlow)

A Taste of Honey é uma preferida de Paul, que nos leva a um clima de faroeste, uma valsa, que era um tema instrumental, feita por Scott e Marlow para um musical da Broadway baseado numa peça inglesa, que depois virou filme, tudo do mesmo nome, e que depois ganhou uma letra, nesta versão sendo regravada mais de 250 vezes, portanto com muito sucesso. Ao contrário das outras Covers do LP, A Taste of Honey não foi gravada na sessão noturna daquele 11 de fevereiro histórico, mas abriu a sessão da tarde, após o almoço, que os Beatles optaram por não ter, para ensaiar ainda mais! Muito responsáveis os Beatles!! Foram 5 takes com todos tocando seus instrumentos tradicionais, e Paul cantando seu vocal principal e John e George seus ótimos backing vocals. Após, isso passaram a outra canção, mas George Martin chamou Paul para dobrar o vocal, para dar mais corpo, cantando por sobre o vocal nas pontes da canção ("I wiiiil return yes I will return..."). Martin orientou que ele fizesse uma ponte em cada take, portanto, o Take 7 foi o considerado final! Foi a primeira vez que foi usada essa técnica, de muuuitas que os vocalistas usaram em inúúúmeras canções da carreira, e a única no LP Please Please Me. Paul gostava tanto dessa canção que escolheu cantá-la na Noite Que Mudou a América, no Ed Sullivan Show de 9 de fevereiro de 1964, mas o LINK que mostro aqui é da performance ao vivo na BBC, sem imagens. Note-se a mudança de de ritmo do verso (valsa) para a ponte (r4x4), mostrando a versatilidade de Ringo. E, claro, as harmonias vocais, na introdução com o título da canção, os tchu-ru-ru-ru nos versos, e as respostas "You'll come back..." no final. Excepcionais garotos!

14. Twist And Shout (Scott/Marlow)

Excepcionais garotos! Excepcional John Lennon, como já falei na introdução. Um take só, no final do dia, para entrar para a história, assim como o vídeo deste LINK, que deixo pra vocês!

A canção era quase obrigatória nas performances da banda. Ela foi tocada no Ed Sullivan Show, em fevereiro de 1964, na mais espetacular invasão dos Estados Unidos de todos os tempos, uma invasão do bem, quando os Beatles simplesmente tomaram de assalto a principal cidade do país, parando o aeroporto e depois as ruas de New York. E também em outro momento marcante, em novembro de 1963, numa noite de gala no Prince of Whales Theatre, quando, na presença da mãe e da irmã da rainha Elizabeth II, John Lennon fez um famoso e antológico apelo, antes da canção final:

For the next number,

I would like to ask for your help.

Will those in the cheaper seats clap your hands?

The rest of you just rattle your jewelry!


E exibiu seu sorriso sarcástico, olhou para o resto da banda, e mandou:

Tchan tchan tchan tchan tchan - tchan tchan tchan

'ousheikirolbeeibenau'

woooos

6 comentários:

  1. Nâo sei se se cada canção vai receber um texto em separado...Se posso comentar aqui...
    Estes covers foram muito bem aceitos por mim porque chegaram quando eles chegaram. Eu ainda não sabia com certeza se tinham capacidade de completar albuns apenas com músicas compostas por eles...Estava conhecendo os meninos... já achando que as deles eram ainda melhores, mas todas essas entraram bem dentro de mim. Ficaram todos com cara deles, principalmente Twist and Shout. Gosto de pensar que eles estavam nos ensinando a despertar a Kundalini com aqueles ahh desde a base da coluna até o alto...:)
    Anna...obrigada pelo link! Eles escolheram muitas canções assim gostosas de outros autores, não apenas rock. Canções que eu gostaria mesmo com outros...Mas não conheço o orginal. A deles é ótima.

    Chains, mais uma vez obrigada pelo link. Quer dizer que o King aqui é minha querida Carole King. Aquela do disco Tapestry que marcou época. Grande compositora que inspirou Neil Sedaka. A Carol de Oh Carol é ela. Eu fico lembrando da falecida prima Maria que adorava a Chains com os Beatles e saía dançando pela sala.

    Baby, it's you é minha favorita das primeiras covers. Amo as canções de DAvid/Bacharah. So informo aqui que ele começou a fazer grande sucesso nos anos 60 e não nos anos 70 como foi dito Isso eu tenho certeza porque comprava seus discos todos. O musical Promises Promises com trilha sonora dele estreou em 1969 ( e tive o privilégio de ver em Londres em 1970).
    Rain Drops keep falling on my Head, to filme Butch Cassidy and Sundance Kid também é de 1969. "Walk on By" grande sucesso na voz de Dionne Warwick é de 1963! This Guy is love with you...1968.

    BAcharah disse uma coisa certa vez, mas não lembro ao certo. Uma coisa mais ou menos assim: que se sentia feliz com a aprovação do publico às suas composições, com o sucesso recebido ...e se sentia um privilegiado porque Os Beatles tinham gravado uma delas. Não seria pouca coisa. "Os Beatles gravaram minha música!" Se sentia orgulhoso disso.

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  2. Ah os links...Sáo preciosos. Obrigada. Taste of Honey...amo. Fez grande sucesso com Herb Alpert. O som lembrando far west é só mesmo na gravação dele. Na dos Beatles soa diferente...e prefiro com os Beatles. ñao estou conseguindo me lembrar como soava na versão original. Deve ser a que saiu no filme que vi duas vezes porque adorei aquele filme com a Rita Tushingham. Uma atriz super simpática de Liverpool. Acho que o filme era de Tony Richardson. Vou checar.

    Chequei. Sim, Tony Richardson. Mas, que surpresa, a música não entrou no filme. Natural então que não a tenha escutado. Entrou na peça da Broadway de 1960. Acabei de ouvir a original. Jazzistica. Bem diferente da versão de Herb Alpert e também da versão dos Beatles. Barbra Streisand também a gravou.

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    1. Gostei do "despertar a Kundalini..."
      São poucas pessoas q tem esse conhecimento sobre nossos chacras
      Parabéns 👏

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Chains é meu cover favorito dos Beatles
    Sempre escuto essa
    Maravilhosa interpretação de George & Cia (Beatles)

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  5. Gostei e gosto desses covers. Além serem muito bem interpretados, são um upgrade das canções originais. E nos nos mostram quem eram os Beatles antes de serem os famosos Beatles

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