quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Ticket To Ride - ou seria com Y?

 Esta canção fecha o Lado A do álbum HELP! 

a história do álbum, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 8 canções sobre Saudade na Casse Tristeza

                                        as demais 7 canções de mesmo Assunto e Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho são links que levam a análises sobre elas.


7. Ticket to Ride (Sadness Miss Song by John Lennon

John lamenta: 'Eu acho que vou ficar triste, e acho que é hoje, sim! A garota que está me deixando louco está indo embora. Ela tem uma passagem para ir embora. Ela tem uma passagem para ir embora. Ela tem uma passagem para ir embora mas não se importa"

Apesar de Paul ser responsável por 40% da canção, deixo a autoria para John, que teve a ideia do título, da melodia do versos e das linhas gerais da letra. Paul, nosso especialista em pontes, deve ter cumprido seu papel, se bem que não há confirmação.

Sua estrutura era a prefreida pelos Beatles: verso-verso-ponte-verso, , com repetição de mais uma ponte e um verso no final, note que sem refrão… recurso que os Beatles usavam muito pouco… eles não precisavam disso pra fazer a canção grudar!!! Algumas pessoas consideram a segunda metade de cada verso

She's got a ticket to ride… She's got a ticket to ride …
She's got a ticket to ride
But she don't care

como refrão, por causa da repetição, só que não, são apenas oito compassos notáveis de um verso!

A primeira vez que alguém, afora John ou Paul, ouviu algo da canção, foi ainda em dezembro de 64, enquanto os Beatles aguardavam  a hora de entrar na segunda parte do Another Beales Christmas Show. Era Dick James, o editor dos Beatles. Ele ficou impressionado com a canção mas especialmente pela frase: She’s got a ticket to ride, que na verdade, era  uma corruptela de Ela disse adeus!!! Outro que a ouviu foi George Martin naquelas férias nos Alpes Suíços, em janeiro de 65, aquela ocasião em que ele quebrou o pé, como já contamos aqui. John e Paul dedicaram-se a completar a canção apenas um dias antes de sua gravação, numa sessão de 3 horas na casa do primeiro em Kenwood.

Há distintas interpretações sobre a inspiração da canção. A básica é esta que está na tradução inicial: John está triste porque sua garota vai embora., simples assim

Vocal isolado de John

I think I'm gonna be sad
I think it's today, yeah
The girl that's driving me mad
Is going away

She's got a ticket to ride
She's got a ticket to ride
She's got a ticket to ride
But she don't care

Uma segunda interrpretação, um pouco mais reveladora, é de que o título seria uma gíria para 'permissão para amar', uma exigência sanitária que a municipalidade de Hamburgo, onde eles tocaram muuuito, antes da fama, requeria de prostitutas, para poderem atuar na profissão mais antiga da história e, portanto, John estaria lamentando estar apaixonado por uma garota do ramo, que não está nem aí pra ele. Só que esta, que foi insinuada por John muitos anos depois, pode ser atribuída ao sarcasmo do gênio compositor, que adorava colocar minhoca na cabeça dos analisadore das letras dos Beatles

Uma interpretação final, e que aprendi pouco antes da pandemia, quando propus um quis no blog, e foi comentado no Facebook, acabou sendo confirmada por Paul que a colocou em seu livro The Lyrics, é que, na verdade, o nome seria Ticket To Ryde, sendo este Ryde com ipsilon, que é uma cidade da Inglaterra, na Isle of Weight onde John e Paul foram uma vez na juventude, para visitar um parente deste último, e eles trocaram o ‘y’ pelo ‘i’ para não gerar necessidade de explicação. Seja o que for, a canção é uma favorita da carreira, por vários motivos musicais.

Pode-se dizer que o arranjo da canção foi diferente do que qualquer outra que eles haviam gravadao até então… afinal… nós agora sabemos disso… 1965 era o ano do começo da revolução que os Beatles promoveriam!!!

 Começando pelo início, que riff de abertura é aquele? Decerto está entre os 10 mais famosos e marcantes da história do rock. Pode fazer a sua lista!!

Day Tripper,

I Feel Fine (só pra ficar em Beatles), ou

Satisfaction/Start Me Up dos Stones, ou

Smoke on the Water do Deep Purple, ou

Heartbreaker do Led Zeppelin, ou

Roundabout do  Yes, ou

Sweet Child of Mine do Guns’n Roses, e deixo você colocar a última.

 

Voltemos a Ticket to Ride!!! São 4 compassos, os dois primeiros com sua Rickenbackr 12 cordas, que sonoridade!! Diz que não!! E os dois últimos com Ringo chamando os demais!! Ouça  e balance com a entrada vigorosa da bateria.

O riff inicial e como ele continua, isolado, se tiver

 

e note que em seguida que a bateria vai no ritmo do riff, soando os tambores nos mesmos tempos, sincopados, de suas últimas três notas, mas essa foi uma ideia maravilhosa de Paul, e que vai até o verso final da canção, quando Ringo desiste da 'sincopagem explícita'.

 

Veja que nosso baterista está atento aos mais novos Beatles Breaks, logo após o "...ticket to ri-i-ide!". A bateria tretorna, trovejante!!!

O break… com o retorno da bateria

Repare que no Break final, Ringo não repete os “trovões”, apenas retoma a batida sincopada, genial ideia de Paul.

 

E também note que não há a necessidade de se 'machucar' os pratos, até o final apoteótico, quando eles aparecem. 

 

Não perca o bonde, volte ao início dos vocais de John, no verso inicial, e note a entrada de Paul na harmonia aguda, lá no alto, em

“--day, yeah” que segue em

“the girl that’s driving me mad”,

desligando aí, deixando John sozinho pra voltar no “she don’t care” no final do verso.

Perceba aqui o erro gramatical de John, pois o correto seria “she doesn’t care”, mas  o correto não cabia na métrica, mas isso é permitido: é o que se chama de 'licença poética', dada aos compositores, em prol do bom soar (não confundir com o Boa Noite em francês? Bon Soir!).

Paul volta no segundo verso em “..down, yeah” que segue em “she would never be free” e também naquele mesmo final de verso.

 

Mas Paul não fica por aí, ele está na íntegra da ponte, de 8 compassos

Vocais isolados da ponte

I don't know why she's riding so high

She ought to think twice She ought to do right by me

Before she gets to saying goodbye

She ought to think twice She ought to do right by me

Nlá no alto, mas não tão enfaticamente, numa ponte, aliás, que muda o ritmo de forma magnífica, perceba como a batida da bateria muda.  

A graça da ponte é aumentada ao quadrado por um pandeiro de Ringo gravado posteriormente. O pandeiro aparece ao longo de toda a canção, mas é na ponte que ele brilha intensamente! A mesma ponte é construída duas vezes

Repare que na inauguração, o pandeiro de Ringo entra antes da hora devida

Coloca o início da 1ª ponte

Já na 2ª vez, o pandeiro entra na hora certa

Coloca o início da 2ª ponte

Acabou? Não! Ao final da ponte, para reintroduzir um terceiro verso, há uma guitarra, só que ela não é tocada por George, mas por Paul, sim, ele andava ousado, invadindo a praia do guitarrista solo de plantão.

Coloca esse solo de guitarra que aparece  ao final das pontes

Depois da 2ª ponte, mais um verso, e mais uma guitarra final também de Paul, acompanhando o “My baby don’t care!” repetidas vezes, e Paul ali também faz o falsetto notável, e note-se o prato de Ringo e também batendo palmas, em overdub!

Claro que nas apresentações ao vivo, é George quem toca esses solos de guitarra todos!

Ticket To Ride foi gravada na primeira sessão para o álbum HELP!, em 15 de fevereiro de 1965, que inaugurou uma prática de estúdio que se repetiria dali por diante: acabara a fase romântica de gravarem todos juntos e cantando juntos. A partir de agora, eles gravavam a base até chegarem a uma versão satisfatória, e depois gravavam as vozes, sem tocar os instrumentos, somente ouvindo a base em fones de ouvido!

Foram apenas dois takes, pois o primeiro foi um false start.


 

O take 2 foi óptimo, e tinha, nas 4 faixas do Four-track tape

A bateria de Ringo e o baixo de Paul na faixa 1 tem isolado?

O riff de George e guitarra de John na faixa 2 tem isolado?

O vocal de John o Backing 4e Paul na faixa 3 tem isolado?

Deixaram a faixa 4 para os overdubs, e ali vieram outra guitarra de George, aquele solinho de Paul na quitarra do final das pontes e Pandeiro e o pandeiro fenomenal de Ringox tem isolado?

Ticket To Ride foi a primeira canção do álbum a ser ouvida pelo público, pois foi lançada lançada em single em abril de 65 com Yes It Is no Lado B, direto para o topo das paradas.

 No filme, Ticket To Ride aparece como background de ótimos momentos dos Beatles na neve dos Alpes Austríacos. Esquiando de verdade, em algumas cenas com dublês,  ou fazendo micagens, nos esquis ou nos trenós, em  separado ou todos juntos num só, uma pilha de Beatles, aliás, quando os ‘bandidos’ aproveitam para raptar Ringo, pendurado pelo pé. Ótima cena!!

 Ao contrário da maioria das canções do álbum, Ticket To Ride foi muuuuito tocada ao vivo, porám apenas até dezembro de 1965,

na BBC rádio e TV,

em shows em UK – Black Pool

e na 2ª  excursão nos USA,  em vários estados,

como no Hollywood Bowl de Los Angeles

ou na espetacular performance do Shea Stadium, recorde de público até então

 (você escolhe qual vai colocar)

e ainda teve um vídeo promocional muito bom, um dos precursores dos vídeo-clipes, com Ringo tocando de pé e os demais sentados, numa inversão de papéis notável. 

Vale muito a pena ver uma dessas ao vivo, notando-se a animação de Paul nos agudos aqui já mencionados, quando a cara dele ele invade o close em John e Paul arrebenta,  lááá no alto!

Em verdade, os Beatles, todos eles, em declarações isoladas, disseram ter ficado muito orgulhosos com o arranjo de Ticket To Ride, sendo que John até declarou que foi a primeira canção de Hevy Metal da história!!!! Bem, cá entre nós, em face do que o Heavy Metal se tornou, Ticket to Ride era bem pouco heavy!!!

Quem sabe aqui, o comecinho de Helter Skelter

A própria Helter Skelter, 3 anos depois, esta sim, iria ser considerada a precursora do heavy metal… acho que John ficou com ci+umes de Paul e acabou forçando a barra, puxando a primazia pra ele…

No Brasil, houve uma versão bem fraquinha, de nome Gente Demais, de um certo Antony Middleton, levada pelos The Youngsters, a letra era, cá entre nós, ridícula,

Havia gente demais. Havia gente dema-a-a-ais. Havia gente demais. P'rá namorar.

mas vale a menção… afinal os tais Youngsters tiveram uma carreira relativamente longa, com muitos LP’s e com relativo sucesso, acompanharam Roberto Carlos em várias canções, enfim foram pioneiros da Jovem Guarda!!

Pra finalizar, um comentário sobre como nuestros hermanos de Argentina apresentavam as canções dos Beatles… eles apresentavam seus títulos raduzidos para o espanhol, nas capas dos LPs. Então, apareceiam pérolas como

Déjalo Ser… em Let It Be..

La Noche deun Día Agitado… em A Hard Day’s Night

Podemos Soluciornarlo … para We Can Work It Out

Mas o mais hilário de todos vem em Ticket To Ride

Boleto Para Pasear!!!

 

Bem, venha então viajar com a gente pelos alpes suícos e reclamar da garota que

 got a ticket to r-i-i-ide but she don’t care!


 

 

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5 Comentários:

Às 12 de dezembro de 2020 às 18:25 , Blogger Fernando Nagle disse...

Sobre as introduções, ainda prefiro a introdução de Day Tripper, especialmente se ouvida com headphones, o de se percebe os diferentes instrumentos entrando em diferentes canais do stereo.
Também é fantástica a intro/riff de And Your Bird Can Sing.

 
Às 13 de dezembro de 2020 às 04:03 , Blogger Auro Lucio disse...

Você entrou em alguns detalhes que me escapavam. Leitura super agradável.
1- desde sempre eu me admiro com a entrada precisa do vocal de Paul no "today, yeah". O tom é muito alto e ele faz isso cirurgicamente, tanto no disco como ao vivo.
2 - a "escorregada" de George no solinuo ao vivo... Paul sempre foi mais liso na guitarra.
3- há décadas ouço "she don't care" como algo estranho... Não tinha me dado conta da licença poética. Obrigado!
4- essa bateria do Ringo, com pitacos do Paul, é antológica!

 
Às 14 de outubro de 2021 às 21:45 , Blogger caca monte disse...

Valeu, Homero!

 
Às 24 de dezembro de 2021 às 12:19 , Blogger Unknown disse...

Música e análise maravilhosos

 
Às 12 de abril de 2022 às 11:20 , Blogger depaula disse...

"Note como George erra a primeira guitarra de Paul". Eu não entendi essa frase. Guitarra de Paul? A guitarra baixo? Não deve ser.
Sobre o significado...pode ser tudo isso aí misturado. Sim, é correto que as prostitutas de Hamburgo tinham de ter a tal permissão. Com certeza ouviram a expressão quando viviam por lá. Afinal moravam na zona boémia. Podemos até dizer, com o devido exagero, que os Beatles saíram da Casa Paroquial para a Zona, pois John e Paul se conheceram ai na igreja de Saint Peter's.
Mas também acredito ser verdade o que John disse. Isto é, que ele e Paul certa vez foram até a cidade de Ryde.
Não podemos nos esquecer a grande influência que eles tiveram da Geração Beat. E uma das características desse grupo literário americano é exatamente usar palavras e expressões com mais de um sentido.
Quanto ao she da história pode não ser ninguém em especial. Existe também essa licença entre compositores...falar sobre ninguém. Criar personagens inexistentes.
Amei todo o comentário sobre a música em si. Me deu vontade de ouvir de novo, mais uma vez, agora prestando mais atenção aos instrumentos citados. Sinceramente, não creio que já tenha ouvido o pandeiro...Obrigada pela dica do pandeiro.
Não apenas Paul tocava instrumentos de outros. De vez em quando os outros também tocavam o baixo de Paul. Isso era comum entre eles: eram uma equipe. Por isso mesmo eram tão perfeitos. Se fundiam num só.

 

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