Esta é a 39ª edição de OUÇA e LEIA
onde você ouve uma historinha minha
e lê o que está ouvindo!
Um aparte sobre nossa série, George maduro. O LP Revolver tinha outras duas canções de George e já falamos sobre elas, uma no capítulo George Romântico – I Want to Tell Yoy e outra no Capítulo George Indiano – Love You To. E viria ainda outra indiana sobre a qual já falamos – Within You Without You, antes da segunda madura
A segunda classificada como madura viria só no final do ano seguinte!
E seria trilha sonora de filme.
Vamos a ela!
Início de Blue Jay Way
George lamenta "Há um nevoeiro sobre Los Angeles (L.A), e meus amigos perderam o rumo. 'Estaremos aqui em breve' eles diziam. Agora eles se perderam em vez disso."
George e Pattie chegaram de Londres e se hospedaram em uma mansão cedida pelo dono (que viajava), na Blue Jay Way, uma rua numa colina de Los Angeles. O principal objetivo da viagem era ver um show de seu amigo e professor de cítara Ravi Shankar, no Hollywood Bowl. George esperava por Derek Taylor, ex-assessor de imprensa dos Beatles, que agora era produtor de vários astros, que viria buscá-lo para uma entrevista no mesmo dia, para promover o show, mas demorava a chegar por causa de um denso nevoeiro que baixara na cidade. Incomodado pelo jetlag (de 8 horas), George pegou um teclado Hammond que havia na casa, e compôs a canção, soturna, lenta, monótona até, expressando seu estado de espírito e o da própria cidade enevoada! Gente que não tem o que fazer, gente que procura pelo em ovo acha que, quando ele diz "Please don't be long!" no refrão, na verdade é "Please don't belong!", uma incitação à juventude para se libertarem das amarras da sociedade, afinal, era o Summer of Love, não é mesmo? E ainda atrelado à interpretação do "and my friends have lost their way" que iria nesse mesmo sentido. Isso vai por água abaixo quando no refrão e no repetitiiiivo final, várias vezes ele diz "Please don't you be very long!" colocando um ‘very’ entre um ‘be’ e um ‘long’, acabando com quaisquer segundas intençõs! Ahhh Sai pra lá!A casa onde George compôs!
Decerto que Blue Jay Way não era uma de minhas preferidas, estava lá embaixo nos Bottom 10%, mas vim me educando, inteirando-me mais e mais sobre ela ao longo das décadas. E hoje, equipara-se a muitas outras, Top 30%, sem dúvida! O estilo é o indiano clássico, no qual George estava inserido à época, porém apenas usaram instrumentos ocidentais. São três versos e um mooonte de refrões, aquele "Please don't be long!", mas, como não podia deixar de ser, cada um tem um detalhe diferente, um tempo a mais ou a menos, um violoncelo aqui, e ali de outro jeito. Aliás, o violoncelo merece um parágrafo à parte, mais adiante!
E de repente chegamos à música, justamente pelo instrumento que entrou só no final!
Instrumental
A base foi apenas George no piano, Paul no baixo e Ringo na bateria. John ficou de fora, provavelmente se inspirando para fazer algo diferente no vocal. Nos overdubs, George acrescentou o 'Drone sound', som de besouro, que falarei mais adiante, e Ringo caprichou na bateria, com inúmeras viradas, muito preciso na caixa e pratos, além de um fundamental pandeiro!!
A canção saiu povoada de notas e acordes dissonantes, e com aqueles backing vocals tétricos de John e Paul, assustadores, e com alguns vocais tocados em reverso, e com um ritmo de marcha fúnebre. Ouça no fone de ouvido (aliás, como sempre, afinal é uma Beatles Song), aquilo podia ser trilha sonora de filme de Zumbi!
Falando em dissonantes, dá só uma olhada nos acordes para violão, só até o primeiro verso: C C6 Cmaj7 C5 Cmaj7 C6 Cmaj7 Cadd9 C Cmaj7 C C Cdim C, tudo em volta da Nota Dó (C). Até pra quem entende, é muito acúmulo de diminutas, sétimas e nonas num verso só! Ufa, melhor dar uma pausa neste parágrafo, até cansei de tanto Dó.... Decerto, um recorde na carreira dos Beatles!
Note que aquele Dó é tocado ao fundo de toda a canção, um zumbido, como um zangão voando, um drone sound, mais ou menos como ele fez em Within You Without You, alguns meses antes em Sgt. Peppers, só que lá, ele usou um tamboura, instrumento indiano, aqui, é tocado por George no teclado Hammond, às vezes aumentado pelo baixo de Paul. Os vocais, o violoncelo e o 'drone' foram submetidos a um uso obsceno do ADT - Authomatic Double Tracking - fazendo, no caso das vozes, com que parecessem verdadeiras almas penadas aterrorizando gente assustada num nevoeiro, que praticamente dá pra se imaginar ao ouvir a canção. Foi a canção de George que mais se utilizou de efeitos de estúdio até então. Ah, sim, o violoncelo..
Instrumental com destaque para o violoncelo!
Não se sabe por quê, mas o brilhante violoncelista, que deu show em Blue Jay Way, não foi creditado em lugar nenhum a nenhum violoncelista. Mr. Cellus Incognitus aparece logo de cara na introdução, depois em vários trechos, nos versos e nos refrões, em legato, em staccato, em slides, e às vezes acompanhando a melodia, ele é até considerado o instrumento solo da canção, note que a guitarra ficou de fora! E, como ele entrou depois, os Beatles tiveram que retornar às filmagens de Magical Mistery Tour, para uma filmarem de uma ótima cena, em que simulam tocar um exemplar branco do instrumento, enquanto os outros três brincam com uma bola!
George pouco tocou canções da época Beatle durante a carreira solo, com uma quase única exceção a do show do Japão, e dentre elas não estava Blue Jay Way. Felizmente, ela é uma canção de filme!!! E nós temos a cena do filme!!! E ela é ótima, divertida!!!!
Quando escrevi sobre a canção em meu blog, eu intitulei o post como A Segunda Rua. Sabem por quê¿ Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três... É porque foi a segunda vez em que nomearam uma canção com um nome de rua. A primeira vez havia sido naquele ano mesmo, quando lançaram Penny Lane em compacto, e da qual falaremos ainda neste capítulo sobre o LP Magical Mistery Tour. E haveria mais uma rua mencionada na carreira dos Beatles, só que não em canção, mas em álbum, e para a posteridade:
ABBEY ROAD!
No próximo capítulo, mais George Maduro! No primeiro LP do Álbum Branco.
Até lá!
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