onde você ouve uma historinha minha
e lê o que está ouvindo
E hoje tem DOIS Textos e DOIS Links!!
Olá,
viajantes do Submarino Angolano
Aqui é Homero Ventura direto do Brasil!
A carreira de George Harrison nos Beatles
Capítulo 3 – A Fase Indiana
Nos Capítulos passados, desvendamos os mistérios
da Fase Romântica, do início da carreira e também no ano final dos Beatles
Vamos agora à Fase Indiana que teve canções em
66, 67 e 68, mas a semente de tudo foi em 1965,
Início de Norwegian Wood
Sim, no álbum Rubber Soul, George viu a
oportunidade de apresentar ao mundo do rock um novo instrumento, na canção de
John, Norwegian Wood. Era uma cítara, um instrumento indiano que deu um tempero
especial àquela introdução. A presença do instrumento indiano era mais um
‘nunca-antes-na-história’ da carreira dos Beatles. George fora apresentado ao
instrumento durante as filmagens de HELP!, depois comprou um exemplar numa loja
de Londres, e começou a dedilhar no estranho artefato. O que ele aprendeu
autodidaticamente não o fazia um virtuose no instrumento, mas se mostrou
suficiente para tocar aquelas linhas, tanto na introdução, como ao longo,
aqueles ‘drone sounds’ (que parecem um zangão zunindo), e na finalização da
canção, e revolucionar a história.
Um pouco de A Hard Day’s
Night com Cítara, Tabla e Shennai
Depois dos Beatles, também os Rolling Stones, e
os Yardbirds, e Donovan, e outros tantos abriram os olhos para aquela
sonoridade, afinal, se os Beatles faziam, era porque era bom, eles já haviam
desenvolvido esse sentimento no mundo da música! Posteriormente, George
imergiria naquele mundo, viajou pra a Índia para imiscuir-se naquela cultura, o
que mudaria também sua vida. Em Revolver, no ano seguinte, uma de suas 3
contribuições seria com instrumentos indianos, e mais um ano depois, seria a
base de sua única composição em Sgt.Peppers, e ainda haveria uma
full-indian-song com a distinção de ser lançada num single dos Beatles, ainda
que em um Lado B, em 1968.
Então, vamos a elas!!
Parte 1 – Granny Smith --- hehe – não este era
o título de trabalho da canção Love You To
Início de Love You To
Ora, ora, seu George Harrison estava com tudo
mesmo. Abre pela primeira vez um álbum dos Beatles (Taxman), depois a gente ouve
Paul (Eleanor Rigby) e John (I'm Only Sleeping, e logo emplaca sua segunda
canção em um Lado A de um LP Beatle, outra primeira vez, e que seria a única! E
ainda por cima, não deixa nenhum dos seus companheiros tocarem nada: "Vocês
fiquem aí ouvindo!". E eu acrescentaria "... e viajando em minha
mensagem!". Como eu disse, os
outros Beatles quase não têm vez, as estrelas são os instrumentos indianos (a cítara,
a tabla e o tambura). B em, em verdade, Ringo toca um pandeiro! E Paul faz um
backing vocal!
Seção instrumental
George fazia imersão na cultura indiana, de
interesses mais planetários, sugerindo que pratique o amor, no sentido amplo,
na mesma linha de John fez em Rubber Soul, na canção The Word. No último verso,
o alerta é pra tomar tenência, porque podem como direi .. te ferrar... disse
com todas as letras em inglês , e complementa com "Eles vão encher você de
pecado! Fique atento.
Colocar
trecho do verso
There's people standing
'round
Who'll screw you in the ground
They'll fill you in with all their sins, you'll
see
I’ll make love you to,
if you want me to
George segue firme na regra Beatle:
tente não repetir letra! E ele vem com três versos diferentes, intercalados com
três refrões diferentes, o que é
absolutamente inédito!!! O apoio vocal de Paul, como sempre é no agudo, mas o
diferente é que consta apenas de uma nota na sílaba final de cada refrão, três
vezes um "me" e uma vez um "see", ao que nem pronuncia as
consoantes "m" e"s", apenas a vogal "e", enquanto
George faz a mesma sílaba, mas em melismas, variando as notas seis vezes.
Vocais Isolados
Como assim, três mais um igual a quatro, não
eram três refrões? Sim, mas o principal deles
("Make love all day long...") é repetido após um verso instrumental.
Make love all day long…
Make love
singing songs.
O grande charme da canção, claro, são os
instrumentos indianos! E a cítara é o grande astro. George a toca na
introdução, mas um outro citarista entra em campo ao longo da canção, afinal
George não era o virtuose no instrumento para tocar daquele jeito. Seu ponto
alto é o riff de 7 notas, e o primeiro antecede à entrada, monumental, dos
outros instrumentos, que enchem o ambiente até o final. O riff introduz cada
verso, e é repetido três vezes em cada refrão.
A cítara segue ativa ao longo de toda a canção
em improvisos. A percussão é fornecida por uma tabla, que foi microfonada bem
de pertinho por Geoff Emmerick, o produtor de campo que assumiu a batuta em
Revolver, enquanto George Martin ficava na salinha do aquário, supervisionando
tudo lá de cima! Os instrumentistas indianos ficaram estupefatos com o
resultado, nunca visto!! O som que se ouve ao longo de toda a canção, numa
mesma nota, zumbida (som de besouro) sem parar, grave, é produzida por um
tambura.
Entretanto, há a presença de um instrumento
ocidental: é George, com sua guitarra alterada pelo pedal de volume (Tone
Bender), que Paul havia usado no baixo em Think For Yourself, de Rubber Soul.
Você percebe o som quatro vezes em cada refrão, sempre na mesma nota.
A canção foi muito bem recebida pela crítica e pelos doutos da contracultura da época, e considerada revolucionária. Era a quarta em quatro canções instigantes do instigante Revolver! Nem precisa dizer que nunca foi tocada ao vivo, mas ela volta, linda, no filme Yellow Submarine, introduzindo o avatar de George Harrison, cabelos ao vento!
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A carreira de George Harrison nos Beatles
O George
Indiano – Parte 2
Início de Within You Without You
Within You Without You foi a única participação
autoral de George em Sgt. Pepper’s!
Desta vez, não há nadinha dos demais Beatles, apenas músicos indianos, que
provocaram uma sessão inusitada em Abbey Road, com tapetes no chão para os
músicos, luz baixa, motivos indianos nas paredes e muito incenso! John esteve
lá só para assistir. Voltando ao cerne indiano, além da cítara e tambura, que
George tocou, havia um tocador de tabla, outro de swarmandal, uma espécie de
harpa indiana e, fundamental para o efeito, dois dilrubas, um mix de violino e
violoncelo indiano, tocado com arco, que acompanha a voz de George ao longo de
toda a canção.
Som do dilruba acompanhando
a voz de George...
Foi difícil o ensaio até se chegar à segurança
de que poderiam começar a gravação. Os instrumentistas não eram profissionais,
não existia esse negócio de viver da música indiana, antes de George Harrison.
Os músicos eram padeiros, motoristas, faxineiros, que trabalhavam de dia e
tocavam de noite!
Agora, o magnífico verso instrumental
Verso Instrumental
magnífico
George é considerado um herói nacional da
música indiana, jamais antes havia se dado tamanho destaque à cultura indiana
como naquele Verão do Amor de 67. Ah, sim, George Martin compôs arranjo de
violinos e violoncelos ocidentais, que entram no segundo verso, seguem na
sessão instrumental, e em breves entradas até o final.
Orquestra de George Martin!
Foi grande a dificuldade de colocar músicos
ocidentais tocando música oriental, indo muito além das 12 notas tradicionais.
Foi fundamental para o sucesso a orientação do George Beatle ao George Maestro,
perfeito link entre as duas culturas.
Aliás, esta foi a última sessão de gravação de Sgt. Peppers's, e foi sem
a presença de nenhum outro Beatle. E o dia seguiu cansativo, com George
adicionando toques de cítara na sessão instrumental, e muito importante, o seu
vocal solo, cuja voz cansada de um dia atarefado encaixou perfeitamente no
clima da séria canção, cheia de mensagens para o mundo.
São 3 versos e dois refrões, todos diferentes
entre si, nas letras, com o requinte de que a melodia do Verso 1 nunca mais é repetida,
pois os Versos 2 e 3 vêm com alteração na melodia, afinal, George é um Beatle.
Uma breve passagem pela origem da canção: foi num retiro na casa do amigo Klaus
Voorman (baixista alemão que fez a ilustração da capa de Revolver) em que os
dois casais amigos passaram longas horas conversando sobre a filosofia que
George aprendera naquele período indiano, após as quais George se sentou a um
harmônio, e quatro palavras vieram à mente, acompanhadas de quatro notas:
"We were talking...", que era realmente o que eles vinham
fazendo, mas ficou nisso! De volta à casa, começou a escrever o resto, mas o
título veio num telefonema de sua cunhada, que lera em um livro de um autor
indiano: "Life goes on within you and without you", a vida contiua, dentro de você e sem você. Sempre
achei intrigante o título, porque Within não é antônimo de Without, que seria
With, sendo Out o verdadeiro antônimo da palavra. E foi isso que fez Jenny, a
cunhada, ligar para George.
No Verso 1, ele diz "falávamos das pessoas que se
escondem em ilusões, que é melhor que descubram a verdade, antes que seja
tarde, antes de morrerem".
Vocal 1º Verso acompanhado
de tambura
We were talking About the space between us all…
And the people who hide themselves behind a wall of
illusion
Never glimpse the truth
Then it's far too late
When they pass away
No segundo verso, com melodia igual mas que se
altera no final, indo lá no alto, entra o amor "que todos deveríamos
compartilhar", finalizando com a principal mensagem da canção "com
nosso amor, podemos salvar o mundo!".
O final 2º Verso...
(With our love)
With our love we could save the world
If they only knew
Vem o primeiro refrão, onde ele chama as
pessoas a "perceberem que tudo está ao seu alcance, sem a ajuda de
ninguém", finalizando com o título da canção "veja que você é
realmente muito pequeno, e a vida flui dentro de você e sem você".
O 1º refrão
Try to realise it's all within yourself
No one else can make you change
And to see you're really only very small
And life flows on within you and without you
O Verso 3, com melodia igual ao 2, ele alerta
as "pessoas que ganham o mundo e perdem suas almas, elas não sabem, elas
não podem ver", talvez num recado aos próprios companheiros), e conclui
inquirindo "Você é uma delas?".
No refrão final, ele conclama todos a buscarem a paz na mente, que tudo
está ao nosso alcance.
When you've seen beyond yourself then you may find
Peace of mind is waiting there
And the time will come when you see we're all one
And life flows on within you and without you
George estava verdadeiramente elevado,
espiritualmente.
Bem, os Beatles não tocavam mais nada ao vivo
e, se tocassem, jamais tocariam Within You Without You, evidentemente!
A canção toda .... viaje!
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The Inner Light é a
mais linda das canções indianas que George compôs na época dos Beatles
George declama 'Sem sair de casa, eu posso
conhecer o mundo inteiro. Sem olhar pela minha janela, eu posso conhecer
os caminhos que levam ao paraíso"
Eu usei o verbo 'declamar' porque trata-se de um poema chinês
musicado. A letra foi deliberada e assumidamente adaptada do livro Tao Te
Ching, escrito por Lao Tsu, antes de Cristo! Na verdade, ele canta 'você',
mas no original era 'eu', no primeiro refrão, mas muda para o original no
segundo...
Vocal do 1º Verso...
Without going out of my door
I can know all things on earth
Without looking out of my window
I could know the ways of heaven
The farther one travels
The less one knows
The
less one really knows
Sua
imaginação pode levá-lo aonde você quiser. O que se pode atingir no seu 'eu
interior', ver sem olhar, chegar sem viajar. Indicativo da Meditação
Transcendental a que haviam sido recentemente apresentados.
Mais instrumental
A canção
foi, inclusive, gravada na Índia, em Bombaim (hoje, Mumbai), sendo a única
canção Beatle gravada fora da Europa. Foi em 12 de janeiro de 68, enquanto
George gravava a trilha sonora do filme Wonderwall.
Trechos da gravação em Mumbai, com instruções de George
Ouça,
então, esta lista dos inusitados instrumentos indianos que tocaram. Apenas eles
tocaram e foram ouvidos neste clássico dos Beatles!
o sarod
o tabla,
o pakhavaj
o surbahar
o santur
o shehnai
o tar
sahnai
o dholak,
harmonium
o e sitar
Esta última, a nossa conhecida cítara. Desses, apenas a cítara, a
tabla (indianos) haviam sido usados nas outras canções 'indianas' de George (Love
You To e Within
You Withput You). Nelas, conhecemos também o tamboura e o swarmandhal. Na
volta para Londres, em 6 e 8 de fevereiro, três Beatles estavam disponíveis
para acrescentar vocais.
Arrive without travelling (George dobrado)
See all without looking (George)
Do all without doing (e aí é George, John e Paul)
Foi a
primeira vez que George teve a distinção de um compacto! Ela foi o Lado B
de Lady Madonna. Em minha opinião, The Inner Light é a mais linda das 3 canções
'indianas' que George compôs na época dos Beatles. Tanto que foi a escolhida,
do gênero, para constar na homenagem que lhe fizeram, um ano após sua morte, no
Concert for George, com a presença de Anoushka Shankar, filha de Ravi, o mentor do compositor em assuntos indianos,
Dá pra sentir o clima daquele extraordinário show do Albert Hall. O enorme
retrato de George abençoando, a viúva Olívia ali sentada ao lado do padrinho
Ravi Shankar, recepcionando Jeff Lynne, grande amigo de George, que faria o
vocal. É pra se ter uma ideia da grandiosidade de uma cítara bem tocada, além daquela
encantadora flautinha encantadora de naja, um Shehnai. Sensacional! Quem
conseguir ver, dá pra se ter uma rápida visão do filho de George, Dhani, de
branco, tocando o harmônio, e fazendo um backing vocal.
The Inner Light do Concert for George
Como última
informação, The Inner Light também é o nome de um episódio de Jornada nas
Estrelas - Nova Geração,
Trilha sonora do episódio.
... nomeado
e inspirado na canção de George. Nele, o Capitão Picard está imerso em
descobertas de sua mente! Bastante apropriado! Ademais, o que os tripulantes da
Enterprise fazem no futuro é 'arrive
without travelling', não é? Santo
teletransporte!!!
Beam me up, Georgie!!!
A canção inteira... The
Inner Light
No próximo capítulo, o George Maduro!
Até lá!
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Foi muito bom conhecer a influência da música indiana na composição artística de George Harrison, nos Beatles; nos Roling Stones, Yardbirds, Donovsn e em outros.
ResponderExcluirGeorge se transformou profundamente com a viagem à Índia, e passou a tocar os instrumentos daquele paîs, com destaque em Revólver e Sgt. Pepper.
Vera Mussi