Esta é a 38ª edição de OUÇA e LEIA
onde você ouve uma historinha minha
e lê o que está ouvindo!
Olá, viajantes do Submarino Angolano
Aqui é Homero Ventura direto do Brasil!
A carreira de George Harrison nos Beatles
Capítulo 4 – A Fase Madura
Nos Capítulos passados, desvendamos os mistérios da Fase Romântica e da Fase Indiana de nosso guitarrista predileto!
Vamos agora à Fase Madura que teve canções de 1966 a 1970!
O Taxman diz: "Deixe me dizer a você como isso vai ser: é 1 para você, 19 para mim. Porque eu sou o homem dos impostos, sim, eu sou o homem dos impostos. Se 5% lhe parecer pouco, fique agradecido por eu não pegar tudo"
O desabafo de George coloca voz no Leão Inglês fazendo um Discurso aos contribuintes de alta renda, deixando claro como funciona a coisa. Os Beatles pagavam impostos na mais alta alíquota do IRIF (Imposto de Renda do Inglês Físico), que era nada menos que 95%. A grita era justa, não!? Sim, e tão bem humorada, e musicalmente rica ficou, que deu a George pela primeira e única vez, a distinção de abrir um disco dos Beatles! John declarou, e não foi contestado por George, que o ajudou em algumas linhas, mas jamais saberemos em quais. Os dois devem estar confabulando sobre isso lá em cima. Ai, que saudade deles...O fato é que o humor ferino das letras combina tanto para George como para John. O que se tem certo é que o 1°, o 2° e o 4° versos, bem como a conclusão, devem ser de George, pois estavam de alguma forma no manuscrito original. O 3° verso e a magnífica ponte podem ter o dedo de John. A música termina com uma pérola, que assegura que nem morrendo se escapa dos impostos: "Now my advice for those who die: declare the pennies on your eyes." (lembrando que penny é a menor sub-divisão da libra esterlina). E a conclusão é definitiva "I'm the taxman, and you're working for no one but me". Pois é, ‘você não trabalha pra mais ninguém, além de mim!’. São quatro versos diferentes, sem repetição de letras, mantendo a tradição Beatle, bem como seriam rimas ricas em português, em sua maioria: além do par "die" com "eyes" já mostrado, os versos apresentam "be" com "me", "small" com "all" e "for" com "more" todas rimas com diferentes classificações gramaticais. Já na ponte, as rimas são pobres, pois são quatro substantivos, afinal são quatro 'coisas' que são objeto da sanha impositiva do Taxman, que garante que vai taxar "Street, Seat, Feet, Heat".
A Ponte!!
Nada menos que brilhante!
Musicalmente, George ficou orgulhoso por ter uma música sua burilada durante TRÊS sessões de gravação. Nada sobrou da primeira, mas a base foi gravada na segunda sessão, com George na guitarra base, Paul no baixo, notável, bastante inventivo, e Ringo na bateria, feroz, como se pode reparar logo antes de todos os 'Cause I'm the Taxman'.
Introdução de bateria do refrão
John ficou apenas olhando e ouvindo. E na terceira sessão, vieram os overdubs. George acresceu alguns riffs de sua guitarra (mas não o solo, voltaremos a ele mais adiante!), Ringo acrescentou pandeiro, a partir do 2° verso, variando a percussão entre triplets e trepidação constante, e adicionando também um sempre bem-vindo cowbell (adoro!), a partir do 2° 'Cause I'm the Taxman'. John, agora sim, acrescentou .... nada! Pois é, isso acontecia de vez em quando com nosso adorado John, mormente em canções do George, de vez em quando ele não tocava nada. Entretanto, ele aparece muito bem nos fundamentais vocais de apoio, juntamente com Paul, primeiramente em todos os "Yeah I'm the Taxman", depois intercalando as frases do 3° verso com "Ah-ah, Mr. Wilson." e "Ah-ah, Mr. Heath." em falsetto, e as do 4° verso, com dois "Taxmaaaan"s.
Inventividade, diversidade, perfeição! E, na ponte, John e Paul estabelecem quatro duelos, abrindo as frases ("If you drive a car, If you try to sit, If you get too cold, If you take a walk"), com George terminando-as com ("I'll tax the street, your seat, the heat, your feet").
Eu já usei o adjetivo 'brilhante'? Não tem problema, uso de novo! Brilhante!!! Puxa, ia me esquecendo de ressaltar o cínico, demente, engraçado contador de Paul, que abre a canção, o "one-two-three-four-one-two", com sons e falas ao fundo, e com direito até a uma tosse!
Finalizando o quesito overdub desta análise,
tem o solo de guitarra,
um dos mais famosos solos de guitarra dos Beatles,
em uma canção de George Harrison,
que era o guitarrista-solo dos Beatles,
numa canção composta pelo guitarrista-solo dos Beatles,
com a enorme distinção de abrir um LP dos Beatles,
única vez que aconteceu na história dos Beatles,
um solo de guitarra que foi executado por ...
Paul McCartney!!!!
Oooooh!!
Pois é!
Paul já fizera o papel de guitarrista-solo em algumas oportunidades, mas sempre em canções compostas por ele mesmo. Ocorre que George realmente não estava inspirado naquele dia, tentou, tentou, tentou, os outros olhando, olha a pressão, por algumas horas ele tentou, constrangido...
até que seu xará George Martin olhou pra Paul,
com aquele olhar de ‘Resolve isso pra nós?’,
e Paul olhou de volta, com um olhar de ‘Pódexá, chefe!’.
Martin chamou George num canto
e anunciou ao estúdio que Paul iria tentar o solo,
George recebeu serenamente, e saiu do estúdio.
Paul pegou a guitarra, e em poucas tentativas concebeu aquela pérola, de difícil execução, selvagem, feroz, com aquele pulo de uma oitava pra cima, inda mais repetido, deixando todos boquiabertos.
O solo de Paul!!
Tão bom ficou que Martin resolveu repeti-lo no final, em fade-out. Em entrevista posterior, George diz que ficou feliz por Paul ter feito aquele solo para ele, mantendo a ideia de um som indiano. Ele se referia àquela descendente entre os dois saltos de oitava.
Um fato que eu vou contar aqui pela primeira vez, mas que se repetirá em todas as outras 13 canções do álbum Revolver: nenhuma canção do álbum foi tocada ao vivo pelos Beatles!!! O primeiro de muitos!! Apenas Let It Be teve canções ao vivo!
Ah mas teve Paperback Writer... Sim..., calma, houve sim uma canção gravada naquelas 32 sessões que viu a luz do palco: era Paperback Writer, mas ela foi lançada em compacto, não no LP.
O começo vocal de Paperback Writer
Felizmente, entretanto, George nos brindou com uma execução de Taxman, ao vivo, em 1991, seu último show, em Tokyo, numa versão estendida, de quatro minutos, quando nos presenteou com um verso adicional, chamando Boris Yeltsin e Mr. Bush, e uma segunda letra para a ponte, como que dizendo que ele podia, sim, produzir humor, além de John, suspeito de tê-lo ajudado na letra. Veja:
“If you get a head, I’ll tax your hat,
If you get a pet, I’ll tax your cat,
If you wipe your feet, I’ll tax the mat,
If you’re overweight, I’ll tax your fat."
Muito bom!
Ah, sim, o famoso solo guitarra, desta vez, ele finalmente..... eeeehhhr ... não, não .... também não tocou.... É que em sua banda naquela ocasião, ele tinha um guitarrista chamado Eric Clapton, que o executou brilhantemente, aliás, duas vezes, um pouco diferente, mas com com o salto de oitava, e bastante estendido!
Um primor!
Taxman do show do Japão, com solo de Eric Clapton
Um aparte sobre nossa série, George Maduro. O LP Revolver tinha outras duas canções de George e já falamos sobre elas, uma no capítulo George Romântico – I Want to Tell You e outra no Capítulo George Indiano – Love You To. E viria ainda outra indiana sobre a qual já falamos – Within You Without You, antes da segunda madura.
Taxman inteirinha, original de Revolver!
No próximo capítulo, segue a fase madura de George
Até lá!
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