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quarta-feira, 14 de julho de 2021

Past Masters Project - The Book 2

 Capítulo 50 

De minha saga  

O Universo das Canções dos Beatles

Todos os Capítulos têm acesso neste LINK 

Atenção, canções com títulos em vermelho 

 são links que levam a análises sobre elas.

Past Masters #2


Atenção, canções com títulos em vermelho 

 são links que levam a análises sobre elas.

Past Masters #2


Neste LINK, encontre a razão de ser deste álbum e de seu irmão #1, a ser descrito em seguida. Foi em 7 de março de 1988 que vieram ao mundo essas coletâneas que completam a coleção oficial dos lançamentos dos Beatles. Grandes méritos desse projeto: 
  • trazer à luz, oficialmente a versão de Love Me Do que saiu no primeiro compacto dos Beatles em 5 de outubro de 1962. Ela foi tocada por Ringo, em contraposição à apresentada no álbum Please Please Me, em que tocou o baterista Andy White, 
  • além de mostrar a versão de Across The Universe de 4 de fevereiro de 1968, em que cantava a brasileira Lizzie Bravo, que fora preterida por Phil Spector ao lançá-la no álbum Let It Be em 1970.
  • organizar, enfim, na forma de álbum um manancial de clássicos que só eram encontrados em compactos ou em lançamentos especiais

Neste segundo volume, foram 15 as canções trazidas à tona no formato de Álbum Oficial. Veja quais foram, seus autores e data originais de lançamento, quando cada uma viu a luz do sol.



A razão do título do post é a seguinte. TODAS as canções são AUTORAIS ou seja, compostas por um dos 4 Beatles, ao contrário do volume Past Masters #1, que continha 4 canções cover, ou  seja, de autoria de outros compositores. Caso estranhem a ausência de canções lançadas em 1967, isso ocorre porque as 5 canções lançadas fora de LPs naquele ano foram oficializadas em 1976 no álbum Magical Mistery Tour, ideia original da Capitol Records, subsidiária da EMI nos estados Unidos. 

Vamos aos assuntos das canções, 13 Lennon/McCartney, e 2 Harrison. 





Traduzindo, 5 canções de Past Masters #1 falam ao Coração, todas falando a Garotas, e uma cada Classe, a saber: Amor, Cupido, DR, Paquera e Sexo

As demais 10 canções refletem as Mentes de seus autores, a saber:
  • São 4 sobre Si mesmos, sendo 3 sobre suas mentes e uma com um Sonho
  • São 3 com Histórias, sendo 2 Contos e Uma Sobre si Mesmo
  • São 2 Discursos, uma para um Grupo outra a uma Pessoa
  • E uma sem sentido

Conclusão! Past Masters #2 é um Álbum
67% Mind
33% Girl
20% Self/Mind

Finalizando, abaixo encontrem um trecho da letra de cada uma das autorais, justificando minha escolha de Classe e Assunto!



As canções de Past Masters #2

1. We Can Work It Out (DtR Girl Song by Paul McCartney)

Paul conta: "Podemos dar um jeito! A vida é muito curta, e não há tempo para implicância e brigas, meu amigo. Sempre pensei que isso é um crime assim pedirei a você novamente. Tente ver do meu ponto de vista!"

* Como saiu a canção em países de língua hispânica. 
 
Paul estava num climão com sua namorada naquela segunda metade de 1965. Jane Asher achava que antes de ser namorada de um Beatle, ela era uma atriz e não podia abandonar as oportunidades da carreira e, sendo assim, embarcou para uma longa temporada teatral em Bristol, no oeste da Inglaterra. Era outubro de 1965 e Paul discutia com ela sobre sua decisão de partir. Os primeiros argumentos foram nesta canção. Não devem ter dado muito certo e ela partiu. Mais adiante, ele levantou o tom em You Won't See Me e I'm Looking Through You, que ele trouxe posteriormente para o 2º álbum do ano, 6º da carreira, o fantástico Rubber Soul. Em termos de composição, Paul teve a ideia, elaborou o título otimista, fez a letra dos primeiros dois versos e sua melodia, enquanto visitava seu pai nas imediações de Liverpool. Neles, Paul está conciliador, ao mesmo tempo, ameaçador, 'tente ver sob meu ponto de vista, pois do seu, pode ser que o amor acabe'. 
 
Voltando a Londres, Paul apresentou seu projeto a John que elevou um pouco o tom da discussão numa ponte, com linda melodia, que acabou em ritmo de valsa e com ótima harmonia vocal entre os dois, "Life is very short, and there's no time for fussing and fighting, my friend. I have always thought that it's a crime, so I will ask you once again", e ajudou no verso final, em que se retoma a argumentação, mas ameaçando que se ela não mudar de opinião, eles podem se separar, veja: "Try to see it my way. Only time will tell if I am right or I am wrong. While you see it your way, there's a chance that we might fall apart before too long". Eles podiam ter caprichado um pouco mais nas rimas, veja aqui neste Verso 3, que repete "way" e lá no Verso 2, repetiram "saying", mas isso é eu sendo chato, porque há outras bastante engenhosas, como o "go on - gone" no Verso 1 e "short - thought" e "friend - again" na ponte. Vá lá! E eu gosto muito do efeito sonoro do duplo F na primeira 'valsa' da ponte, o "Fussing and Fighting". 
 
Começaram a gravação no dia 20 de outubro e dedicaram perto de 11 horas à canção naquele dia e em outra sessão nove dias depois, constituindo-se na canção a que os Beatles dedicaram mais tempo de gravação até então. Aquela seção valsa que mencionei, na ponte, aparece nos últimos 4 compassos da ponte (que tem 12) e foi ideia de George Harrison, nos ensaios antes de ligarem os gravadores. E ela foi a causa da necessidade de um 2º Take, pois Ringo se enganou na segunda ponte e não entrou no tempo 3/4 da valsa. Senão, teria sido mais uma canção de um take só. De qualquer modo, não passou do 2º. E passaram aos overdubs. Olha só a base dessa canção: Paul no baixo, John no violão, Ringo na bateria e George? No pandeiro!!! E não foi assim, "vai lá George, toca o pandeiro!" Ele foi estudado, ensaiado, praticado, pra ficar marcante como ele é! Acertada a base, veio o vocal de Paul, depois dobrado, e depois John na harmonia principal na ponte que ele mesmo criou, com Paul no vocal secundário agudo, e também John naquele instrumento marcante na canção que parece uma sanfona, mas não é: trata-se de um harmônio, tão importante que fiz questão de que fosse a imagem a ilustrar este post. Tudo isso veio no mesmo dia, e eles achavam que tinha acabado. Só que não! Após uma mixagem mono que fizeram para ser usado num programa de TV, onde dublariam várias canções frente às câmeras, ele viram que precisavam melhorar os vocais, o que fizeram por mais duas horas no dia 29. 
 
Aquele programa foi um grande sucesso, com vários artistas de sucesso á época, e uma parte dele está disponível. Deixo aqui neste LINK como curiosidade, sua introdução e primeiras atrações (não achei as partes 2 e 3)! Na apresentação, são listados os artistas, depois vem a orquestra de George Martin tocando sobre palanques, com o maestro ao piano, tocando trechos de clássicos e de sucessos dos Beatles orquestrados. Depois vêm John e Paul fazendo um sketch (quem tiver legendado me avisa, porque é difícil entender), e prestem atenção que vem uma canção Lennon/McCartney que muitos não conhecem, The World Without Love, cantada por Peter & Gordon (o primeiro é irmão de Jane Asher, a namorada com que Paul discute a relação na canção) e depois tem Lulu cantando I Saw Him Standing There (sim, porque ela adapta a letra nos pontos pronominais). E deixo aqui a canção objeto desta análise, neste LINK, com os Beatles dublando a canção, notem John no harmônio, ok, correto, mas George na guitarra, bem fake, porque o que ele toca na gravação, como falei, é o pandeiro! Ao final, uma micagem de John, com a desaprovação sorridente de Paul. 
 
O compacto Duplo Lado A, com Day Tripper, foi lançado em 3 de dezembro, concomitantemente com o álbum Rubber Soul, ambos indo diretamente ao topo das paradas. Foi o primeiro de uma série desses lançamentos dos Beatles, em que não há distinção de importância entre duas canções lançadas. Nos Estados Unidos, as paradas consideravam muitos aspectos, além das próprias vendas físicas, por exemplo, a preferência dos DJs das rádios. Dentre as duas lançadas, somente We Can Work It Out atingiu o topo das paradas, com Day Tripper e seu excepcional riff de guitarra, ficando na 5ª posição. 


2. Day Tripper (Sex Girl Song by John Lennon)

Paul conta: "Tenho uma boa razão pPara pegar o caminho mais fácil. Tenho uma boa razão para pegar o caminho mais fácil, agora. Ela era uma viajante diurna, bilhete só de ida, yeah! Demorei tanto para descobrir e eu descobri"
 
A canção é de John, com pequena participação de Paul. Entretanto é Paul quem começa cantando a canção, na primeira metade do verso, com John assumindo na parte final, que até poderia ser considerado como um refrão ("She was a day tripper, one way ticket, yeah, It took me so long to find out, and I found out,") mas não, é apenas a conclusão da mensagem do verso. O mesmo se repete nos outros dois versos, todos com letras diferentes. Uma ponte 'apenas' instrumental complementa a canção, entre os Versos 2 e 3. A aspas eu explico mais adiante! 
 
Nitidamente se fala de um interesse apenas sexual, que é uma provocadora, que só faz programas de uma noite ("She only plays one night stands"), talvez pagos, ou não. Há uma conotação com drogas (o 'trip' com ''one-way ticket' significaria uma viagem sem volta), também, mas por causa do SHE, optei apô-la na Classe Sexo. E, pra corroborar, a intenção do "She's a big teaser" era "She's a PRICK teaser", ou seja em vez de 'grande provocadora", seria "provocadora de pênis", os mais jovens entenderam o recado.  
 
Entretanto, mais que a letra, o mais impressionante dessa canção é a música. O espetacular riff de entrada, de apenas dois compassos, é criação de John mas execução perfeita de George, ao longo de toda a canção, acompanhando as mudanças de acorde, só interrompendo quando começa a seção 'refrão' dos versos. A entrada é antológica, em 10 compassos, nos dois primeiros apenas a guitarra de George, nos dois seguintes entra o baixo de Paul, e nos dois a seguir junta-se a guitarra rítmica de John, e também seu pandeiro (que vem em overdubs) e a partir do 7º compasso entra a bateria integral de Ringo, num crescendo instrumental sensacional. Paul entra cantando no tom da canção por 4 compassos depois muda nos quatro seguintes, e então entra John no "She was a day tripper" num terceiro acorde, menor. Nessa seção, George muda a batida com tocadas a cada um dos tempos do compasso, e Paul entra numa sequência de subidas e descidas com seu baixo até o final do verso. Note ali o pandeiro nervoso de John anunciando um segundo verso no mesmo esquema. 
 
Terminado o 2º Verso, os próximos 12 compassos se constituem no clímax da canção, que até merece este parágrafo de destaque, uma ponte instrumental e harmonizada vocalmente, estonteante! Ela começa com  três vezes o riff de guitarra num acorde superior ao normal, acompanhado do prato de Ringo, e notas em escadinha da guitarra de George, e nos últimos seis compassos, Paul e John harmonizam um crescente vocal que termina em mais pandeiros e pratos, de John e Ringo, e mais um solo de guitarra de George (que veio em overdubs, claro), tudo fenomenal. Entendeu as aspas que coloquei no 'apenas' lá em cima?  
O último verso vem com letras diferentes, mas com o detalhe do falsete de John no "it took me so-o-long". Finalmente, repete-se a introdução com os riffs de George agora com Paul e John harmonizando em '"Day tripper... day tripper yeah" em fade-out até o final! Eu já disse 'fenomenal'? Si? Então, digo de novo. 
 
Tudo isso foi feito e 8,5 horas do dia 16 de outubro, terceiro dia de gravações para Rubber Soul, mas a metade desse tempo foi gasta em discussões sobre o arranjo, e quando ligaram os gravadores, tudo já estava decidido quanto à estrutura da canção e o que fariam na ponte instrumental. Foram necessários 3 takes até que saiu tudo perfeito, e aí partiram para os overdubs, dos vocais e das guitarras e do pandeiro, conforme descrito acima. Após as mixagens naturais, fizeram as gravações para um programa  de TV, A Música de Lennon/McCartney Foi o PRIMEIRO vídeo-clipe da história (LINK). Note como eles estão assim meio sem graça, cantando de mentirinha. Day Tripper foi tocada ao vivo nas excursões que se seguiram, a última na Inglaterra, em dezembro, a última 'mundial' (Japão e Filipinas), em junho/julho e a última americana, em agosto de 1966. 
 
Day Tripper saiu no dia 3 de dezembro de 1965 num compacto Duplo Lado A, o primeiro de uma série deles dos Beatles, juntamente com We Can Work It Out, direto para os topos das paradas no mundo todo. Como ilustração desta análise, deixo uma cópia do que os argentinos receberam quando compraram o compacto. Descobri isso quando comprei a coletânea 1, em 2000, quando mostraram como saíram os compactos em vários países.

 

Demais não!!?? 


3. Paperback Writer (Tale Story Song by Paul McCartney)

Paul conta: "Prezado senhor ou senhora, vocês podem ler o meu livro? Levei anos para escrevê-lo, vocês não vão dar uma olhada? É baseado num livro escrito por um homem de nome Lear. E como preciso de trabalho eu quero ser um escritor de romances"
 
Aaaahh, como Paul captou, há mais de 50 anos, o drama de milhares de escritores tentando achar seu lugar ao sol... Aaaahh como eu me identifico com esse drama... Quem me conhece sabe por quê. Bem, Paperback é como são designados em inglês aqueles livros de bolso, com letras bem pequenas e que ficam amarrotados ao final. Note que o romance escrito pelo cara que quer ser escritor é sobre um sujeito que trabalha em jornal, tem uma mulher que não o entende e tem um filho que quer ser escritor, está fechado o loop. No terceiro verso, tem mais um motivo pra minha identificação.

 It's a thousand pages, give or take a few. I'll be writing more in a week or two

I can make it longer if you like the style

I can change it 'round, but I want to be a paperback writer

Conheço uma escritora muito querida que adora escrever livros grandes, pena que ela não leva 'a week or two', talvez 'a year or two' seria mais apropriado. Ela mora aqui em casa. Aliás, eu posso até imaginar minha filha escrevendo a carta que Paul elaborou em seu esboço, afinal aquele "Dear Sir or Madam" que inicia a canção é típico de uma carta a um destinatário editor, que ele não sabe se é homem ou mulher.   
 
Alguns Paperback Writer facts: 
  • A canção foi a última da carreira Beatle a ser tocada em shows pagos. A qualificação é necessária porque houve aquele show lá na cobertura do edifício da Apple, em 30 de janeiro de 1969, que ninguém pagou. Nenhuma outra canção lançada posteriormente a Paperback Writer foi tocada para um público pagante; 
  • A canção foi promovida por filmes promocionais, que são considerados pioneiros do vídeo-clipe; 
  • A ideia veio de um artigo de jornal que Paul leu, na casa de John, que ajudou em partes da letra;
  • Coincidiu com a sugestão de uma tia dele (Aunt Lil) que o desafiou a escrever algo que não fosse uma canção de amor, então foi aí a origem do gatilho para Paul se tornar o maior Storyteller da banda, o que geraria outras 15 pérolas do cancioneiro Beatle;  
  • É considerada a melhor linha de baixo de Paul até então, aliás, nota-se que ele está bem ocupado com seus dedos, com floreios mil. Associa-se uma inovação na gravação de um engenheiro de som que atrelou um loudspeaker, pela primeira vez, ao amplificador dedicado ao baixo;
  • Note que, o verso todo é acompanhado por acorde único; 
  • Note o duelo vocal em contraponto, ressaltado por George Martin como a primeira vez que isso ocorria... sempre os Beatles pioneiros;
  • Foi lançada como Lado A de um compacto que tinha a maravilhosa Rain, de John, no Lado B. Foi Número 1 nos EUA, sendo apenas desbancada por Frank Sinatra com a linda Strangers in the Night;
  • Acho que chega de Paperback Writer facts? 
Não, uma canção dessas requer um pouco mais de detalhes!! Tudo até aqui foi o que escrevi enquanto listava as canções que contavam historinhas, 9 ao todo na carreira dos Beatles, sendo 7 de autoria de Paul, na primeira parte de minha Saga, quando eu nem sonhava em entrar em tantos detalhes como tenho feito em minhas análises. Por exemplo, se eu traduzi o Verso 1 no caput, descrevi o Verso 2 em seguida e transcrevi o Verso 3 logo depois, não tem por que deixar o Verso 4 enciumado, é ou não é? Recapitulando, no 1º ele se apresenta, no 2º ele dá a sinopse do livro, no 3º ele diz que pode escrever mais, e finalmente no 4º ele até cede os direitos do livro em troca de uma oportunidade, veja:  
If you really like it, you can have the right,
You can make a million for you overnight
If you must return it, you can send here
But I need a break, 
and I want to be a paperback writer. 

Apesar de a concepção da letra ser de Paul, a sessão de trabalho na casa de John começou sem a música, então dá-se a entender que John teve maior contribuição nesse quesito, além de uma que outra ajuda no primeiro. Isso combina com a ideia de John de fazer canções com um acorde só, e pouca variação. Ele havia feito Tomorrow Never Knows assim, e mesmo George havia oferecido nesse mesmo tema, Love You To, pois era uma coisa que acontecia na música indiana que inspirara-o em sua obra. 
 
A gravação ocorreu ao longo de duas sessões, em 13 e 14 de abril de 1966, tendo no 1º dia se acertado a base e alguns overdubs, e o 2º com os restantes necessários a transformá-la no sucesso que foi. A base tinha Paul na guitarra solo distorcida, John na guitarra rítmica, George no baixo e Ringo na bateria. Nos overdubs, Paul e George voltaram a seus instrumentos habituais, com o primeiro inovando em sua linha de baixo de maneira incrível, mas George não mexendo nos riffs de Paul tão característicos da canção. Ringo acrescentou um pandeiro, mas não precisou mudar nada de sua bateria, que estava perfeita. O mais notável acréscimo entretanto, foi o vocal. Claro, o vocal principal de Paul, firme como sempre, mas as harmonias espetaculares de John e George foram objeto de, não um, mas três overdubs, baseado no desejo original de Paul, mas exaustivamente ensaiados com o maestro George Martin, causando aquela coisa maravilhosa a capella que se ouve na introdução da canção, cheia de falsetes e categoria, e também entre os versos 2 e 3, e também na conclusão, além dos falsetes durante os versos cantados por Paul. Muito trabalho, mas que valeu muito a pena! Deixo aqui o vídeo promocional, em que eles dublam, nem sempre perfeitamente, neste LINK. 
 
A razão de eu acrescer um 'Não volto mais' ao título desta análise foi porque esse foi o título da versão que Renato Barros fez para a canção Beatle e gravou com seus Blue Caps. Aqui, o maior versionista dos Beatles no Brasil ligou de novo o seu Blue Cap Translator e produziu mais uma letra que não tem nada a ver com a original, inclusive é uma canção de amor, coisa que o autor Paul justamente evitou de fazer. Mas em seu valor, ouça no LINK. Renato em entrevistas admitiu que era impossível reproduzir vocais e desempenhos da gravação dos Beatles.


4. Rain (Self Mind Song by John Lennon)

John conta 'Chuva, eu não ligo. Brilhe, o tempo está bom. Você pode me ouvir que quando chove ou brilha o sol é só um estado da mente. Pode me ouvir, pode me ouvir?
 
Chuva ou sol é só um estado da mente. Não importa, o que vale é seu estado mental. Inspirada por uma chuva torrencial na Austrália, onde estiveram em turnê, que fez John pensar, Rain é considerada o melhor Lado B dos Beatles. Veja bem, apesar de terem inaugurado a era dos Double A Sides no ano anterior com We Can Work It Out Day Tripper, o lançamento de Rain junto com Paperback Writer no Lado A não é considerado um deles. Rain é Labo B mesmo, e ela merece a alcunha de melhor de todos. Tem ótimos desempenhos do baixo de Paul e da bateria de Ringo, tem a inovação técnica desenvolvida intramuros Abbey Road, de sigla ATOC, que faz com que a voz de John fosse ouvida mais alto, e foi também a primeira vez em que se ouvem trechos tocados em reverso na história da música, que ficou marcante na canção. Além de harmonias vocais sensacionais! Além disso, seu vídeo promocional era uma coisa inédita, a ponto de George dizer, anos depois: 'Nós inventamos a MTV!'.  Nota-se no vídeo um Paul com uma cicatriz no lábio, proveniente de um acidente de moto uns meses antes, que foi o gerador do boato 'Paul is Dead' que se desenvolveu ao longo dos anos seguintes, com evidências 'claríssimas' de que ele era um sósia, especialmente nas capas de Sgt. Peppers e Abbey Road. Ai ai ai... 
 
Bem, o que está escrito até este ponto foi o que eu encontrei no capítulo de minha saga que listava as Self Mind Songs. Não me arrependo de classificá-la assim, embora analisando melhor, poderia muito bem tê-la colocado no grupo das Speech Songs, na Classe Pessoa ou Grupo, porque lá no meio ele se dirige a alguém, como no Verso 3: "I can show you that when it starts to rain, everything's the same, I can show you, I can show you." e no Verso 4: "Can you hear me that when it rains and shines, it's just a state of mind, can you hear me, can you hear me?", explicando o que ressaltei no começo. Não adianta reclamar se chove, 'Aproveite cada momento! Está tudo em sua mente!', aliás, esse trecho bem poderia ter sido escrito por George, nosso místico Beatle. 
 
Falando em Versos, é uma boa hora pra comentar a estrutura da letra. O 1º e o 2º Versos abrem a canção e são críticas ao comportamento dos que acham a chuva uma coisa ruim, aliás, eu mesmo me questiono por que a gente diz: "Nossa, como o tempo está feio!" Feio, por quê? É muito relativo! No 1º Verso, John até diz que tem gente que preferia estar morta a testemunhar um dia chuvoso, um exagero, mas que teve ótimo efeito na letra, veja: "If the rain comes they run and hide their heads, they might as well be dead. If the rain comes, if the rain comes." E no 2º, ele diz que quando o sol brilha, eles correm pra fora pra sorver suas limonadas à sombra, hehehe: "When the sun shines they slip into the shade, and sip their lemonade. When the sun shines, when the sun shines.". Todos esses versos são entremeados pelo magnífico refrão que resume o estado de mente do autor, duas vezes, a primeira após o Verso 2, a outra entre os Versos 3 e 4: 
 
"Raaaain, I don't mind! Shiiiiine, the weather's fine!" 
 
Essa pérola de letra foi feita por John, mas Paul reclama um 30% de participação, o que lhe pode ser atribuído, pois houve uma sessão de trabalho dos dois sobre ela, na casa de John, em Weybridge. Ela ganhou vida em duas sessões de estúdio, a 1ª no dia 14 de abril de 1966, um dia trabalhoso, onde após 5 horas dedicadas ao Lado A do compacto, passaram ao Lado B por outras 5 horas, onde foi feita a base, com John e George em suas guitarras (base e solo, porém sem seção solo), Paul no baixo e Ringo em sua bateria. Paul melhoraria sua linha de baixo em posterior overdub, mas Ringo não precisou: ele estava possuído e entregou, naquela noite/madrugada aquele que ele mesmo considera seu melhor desempenho da carreira como baterista! Note logo no começo, no destaque da introdução que ele abre solo, na caixa, e logo depois que entram os demais, ele dá uma virada ainda na caixa (a la atração de circo) para introduzir o 1º Verso. Ao longo dele, ele dá mais quatro viradas, estava inspirado o rapaz. E ele parece que gostou da ideia e segue virando nos demais versos, variando a quantidade, a duração, e as batidas, sempre inovando, às vezes abrindo as viradas no chimbal (hit-hat). Legal que nos refrões, é Ringo quem os abre com batidas nos dois pratos na primeira nota ("Rain") e depois fica quieto, deixando o show para o baixo de Paul, mas logo fica com saudade e retoma com outra espetacular virada para introduzir, ou a 2ª parte do refrão ("Shine"), ou o verso que vem depois. Um espetáculo, de verdade. 
 
O tal 'show' no baixo de Paul veio na sessão seguinte, dois dias depois, que durou 11 horas (!) integralmente dedicadas a overdubs à canção. Tanto durou a sessão pois foi objeto de muita experimentação. Uma delas foi o uso de um alto-falante na saída do amplificador do baixo, fazendo o instrumento soar como nunca antes. E Paul se inspirou, floreando suas linhas de baixo de três modos diferentes nos três primeiros versos, e variando inclusive nos refrões: no primeiro, bate 16 notas Sol, uma em cada tempo, mas no segundo, faz 8 tercinas descendentes (meu filho explicou que são queálteras de 3, uau!), Sol-Re-Sol, ou seja, colocando 24 notas no mesmo espaço que as 16 do 1º refrão. Genial! Rogo especialmente que, ao ouvirem, USEM FONES DE OUVIDO. Os alto-falantes de equipamentos multimídia raramente têm energia mecânica suficiente para reproduzirem essas nuances maravilhosas. Sem fones de ouvido, não ouviam o baixo! Outros Beatles também deram show naquela sessão. Ringo (novamente), agora num pandeiro muito bem colocado, e os outros 3 nos vocais! O vocal principal, claro, é de John, dobrado artificialmente nos versos, e harmonizado com ele mesmo nos refrões. Paul e George se juntam a John, em harmonia tripla, nas respostas ao vocal principal de John durante os versos 2 ( “when the sun shines down.”, depois "sun shines"), 3 (“when the rain comes down” , depois "show you") e 4 (“when it rains and shines” e "can you hear me"). 
 
Finalmente, o tal vocal reverso. Era prática comum entregar aos compositores (se eles assim o requisitassem) uma cópia do som que gravaram num dia para que ouvissem em casa e buscassem oportunidades de melhoria. Os quatro Beatles tinham um equipamento apropriado em casa. Assim foi feito na madrugada daquele dia 14. Ao chegar em casa, meio chapado, ao montar a fita no gravador, ele o fez ao contrário. Muitos não saberão do que se trata essa operação, só os mais velhos, ou os curiosos deste tempo facilitado pela tecnologia digital. A fita vinha num carretel, toda enroladinha, e com seu final soltinho, aí você colocava o carretel no equipamento e, manualmente, acoplava aquela ponta solta num local apropriado para que fosse sensível ao cabeçote de reprodução ou gravação. Sugiro até que vejam no YouTube. Só que existe uma forma certa de se encaixar o carretel, assim ou assado, do outro lado. O fato é que John a colocou assado, e ao dar play, a fita começou ao rodar ao contrário. E John fez uma viagem. E achava que era produto da maconha que estava em sua mente. Ficou extasiado! E na sessão seguinte, disse: "Quero isso na minha canção!". Havia acabado de acontecer uma 'serendipity', tenho até um post em que explico o termo (LINK). Eles passaram aquele dia brincando com a novidade de tocar em reverso tudo, todos os instrumentos e vocais, mas o que sobrou na canção foi aquilo que se houve após o Verso 4, que é o trecho “when the rain comes they run and hide their heads.” tocado ao reverso. Ainda vem um "Rain" em falsete triplo, e mais um reverso de “when the sun shines,”. A técnica seria usada muitas vezes pelos Beatles e, claro, por muitos outros artistas que beberam da mesma fonte. 
 
O compacto Paperback Wtriter / Rain foi lançado em 30 de maio na Inglaterra e 10 dias depois nos EUA. Foi Nº 1 apenas em UK. A canção Rain não passou da posição 23 na Billboard, acho que os americanos não entenderam a mensagem e a soberba técnica utilizada, enfim. Nos países de língua hispânica, foi lançado como na imagem, não me canso de divulgar. É muito engraçado! 
 

'Lluvia' nunca foi tocada ao vivo pelos Beatles, mas felizmente houve filmes promocionais. Escolhi este (LINK) porque eles estão dublando razoavelmente bem, dá pra notar um pouco da febre de Ringo na bateria e finaliza com um sorridente Lennon dublando o vocal reverso no final!


5. Lady Madonna (Tale Story Song by Paul McCartney)

Paul conta: 'Lady Madonna, crianças aos seus pés, imagino como você consegue resolver as coisas. Quem fornece o dinheiro quando você paga o aluguel? Você pensou que dinheiro caía do céu?  
 
A construção de Paul foi uma mescla de três: 1. a vontade de falar sobre a vida de uma mulher, mãe de muitos filhos, talvez solteira, talvez prostituta, quem representou por Madonna, remetendo a sua origem católica. 2. um rock no piano que ele e Jane ouviram num bar na Escócia, o que o incitou a compor no estilo boogie-woogie, e, finalmente, 3. Uma canção de Fats Domino, grande astro do Rock, chamada Blue Monday, em que se conta a dura vida de um trabalhador ao longo dos dias da semana. E então, temos três considerações, uma para cada inspiração. 1. a canção foi bem recebida por retratar a vida de uma mulher forte, conforme os Beatles vinham começando a fazer (Norwegian WoodGirlMichelleLovely Rita); 2. a imprensa especializada deu ótimas vindas ao good old rock & roll de volta, após um ano excessivamente psicodélico; 3. Paul 'imitou' Fats Domino, descrevendo a vida dura de uma mulher, ao longo dos dias da semana! Vejam se não, nesta transcrição de duas pontes da canção: 
Friday night arrives without a suitcase
Sunday morning creeping like a nun
Monday's child has learned to tie his bootlace 

                                       ....e na estrofe seguinte.... 

Tuesday afternoon is neverending
Wednesday morning papers didn't come
Thursday night your stockings needed mending 

Sabem por que faltou o sábado? Sabem não ? .... Nem eu! Aliás, nem Paul, ele até foi perguntado sobre isso. Já eu desconfio, sim, do porquê.  Primeiro, porque as pontes tinham 3 linhas, 3+3=6, portanto 6 dias da semana; segundo, porque, no sétimo dia, a Madonna descansou! Perceberam a conotação católica? Tudo tem sua explicação, no que se refere a Beatles! Bem, pensando bem, nem tudo...

A canção foi lançada em compacto, tendo como Labo B, uma linda canção de George Harrison, The Inner Light, ele ainda com a inspiração indiana. E falando em Índia, logo após o lançamento, os quatro Beatles embarcaram, com esposas e namorada para a Índia, no Projeto Meditação Transcendental, já muito falado aqui e inspirador de muitas canções deles naquele ano. O compacto chegou ao #1 no Reino Unido, mas ficou 'longe' nos EUA, #2 e #4, nas duas principais paradas, um verdadeiro 'fracasso', hehe. Notáveis as guitarras distorcidas de John e George, os quatro saxofones. Segundo consta, um saxofonista ficou doido porque Paul não lhes entregou a pauta escrita,  só lhes deu vagas noções, apenas cantando a melodia pra eles replicarem, ô gente preguiçosa... mas sabemos que era melhor ele esperar sentado, pois Paul nunca soube escrever música em pauta... note também na segunda estrofe um som dos metais meio diferentes, pa-pa-pa-paaa, papapapapaaa.... é porque eram Paul, John e George imitando metais com a boca!! Ótimos também os handclaps!!! 

Vamos agora a um pouco mais de detalhes sobre tudo isso que já escrevi. A começar pela estrutura, aparentemente simples, só com versos pontes, mas veja quantos versos e quantas pontes aparecem em pouco mais de dois minutos de canção. Um verdadeiro espanto! Se dermos a letra 'a' ao verso e 'b' à pontes, olha só o que temos: aaabaabaaba, ou seja, um total de 11(onze) peças estruturais, sendo 8 versos e 3 pontes (sem contar uma breve conclusão. Mas, calma que não é tudo com letra, há três versos e uma ponte instrumentais. E é bem verdade que os versos são curtinhos, de duas linhas cada um, e as pontes, de três linhas cada uma, como já mostramos. Dos 5 versos com letra, apenas um é repetido, o 1º, ao final. Vale transcrevê-los (a numeração refere-se a versos cantados): 

Verso 1: 

Lady Madonna, children at your feet  

Wonder how you manage to make ends meet.

Verso 2:

Who finds the money when you pay the rent?

Did you think that money was Heaven sent?  

Verso 3: 

Lady Madonna, baby at your breast

Wonders how you manage to feed the rest 

Verso 4: 

Lady Madonna, lying on the bed.

Listen to the music playing in your head  

Nos Versos 1 e 3, está refletida a imagem que inspirou Paul a escrever a canção. Ele viu em uma revista numa viagem, uma mãe malaia, com um filho em seu peito (children at your breast), amamentando e outras 3 pequenas a seus pés (children at your feet), e a música a cabeça dela (Verso 4) e o aluguel a pagar (Verso 2) vieram da sua imaginação de compositor, transferindo o cenário da Malásia para a classe operária de Liverpool, que foi de onde tirou a imagem da Madonna.

Toda essa profusão estrutural ganhou vida em três sessões de gravação nos dias 3 e 6 de fevereiro de 1968, duas delas no 1º dia e uma no último. A base da gravação foi apenas Paul no piano muitas vezes sincopado, e Ringo na bateria, mais especificamente, apenas a caixa e com escovas, em vez das baquetas. Acertaram em apenas 3 takes. A 2ª sessão do dia teve overdubs sobre o Take 3, constituído do baixo de Paul, das guitarras de John e George, o vocal principal de Paul e as harmonizações de John e George no fechamento das 3 pontes ("See how they run") e também de Ringo, agora usando as baquetas de sua bateria. E teve também uma brincadeira que virou coisa séria: as citadas imitações de saxofone com a boca, de John, George e Paul, foram consideradas ótimas e oficializadas na canção. Mais que isso,  três dias depois, Paul decidiu que saxofones de verdade seriam necessários. E veio então a segunda sessão, com instrumentistas sendo chamados de última hora a preço de ouro, porque ele teve a ideia naquele dia, daí, a falta de pauta para os músicos, que tiveram que se virar com o solfejo de Paul para produzirem seus sons.

Ao vivo? Beatles? Nunca. Felizmente seu autor a reviveu muuuitas vezes, desde 1975... tocou inclusive em 2010 no Morumbi, onde eu estive, mas infelizmente não achei vídeo! Uma delas em 2009, New York que deixo aqui, neste LINK. Houve até um vídeo promocional, mas ficou troncho, porque usaram filmagens dos Beatles gravando Hey Bulldog no estúdio, ou seja nenhum casamento entre movimentos, de boca ou de instrumentos, e o que se via nas imagens. Os Beatles já estavam na Índia quando o compacto com Lady Madonna e The Inner Light foi lançado, em 13 de março de 1968, indo direto ao tipo da parada inglesa, mas sem o mesmo impacto do outro lado do Atlântico, onde atingiu 'apenas' o 4º lugar. 


6. The Inner Light (Self Mind Song by George Harrison)

George declama 'Sem sair de casa, eu posso conhecer o mundo inteiro. Sem olhar pela minha janela, eu posso conhecer os caminhos que levam ao paraíso 
 
Eu usei o verbo 'declamar' porque trata-se de um poema chinês musicado. A letra foi deliberada e assumidamente adaptada do livro Tao Te Ching, escrito por Lao Tsu, antes de Cristo! Na verdade, ele canta 'você', mas no original era 'eu', no primeiro refrão, mas muda para o original no segundo...

Without going out of my door

I can know all things of earth

With out looking out of my window

I could know the ways of heaven

 

Sua imaginação pode levá-lo aonde você quiser. O que se pode atingir no seu 'eu interior', ver sem olhar, chegar sem viajar. Invocativo da Meditação Transcendental a que haviam sido recentemente apresentados. A canção foi, inclusive, gravada na Índia, em Bombaim (hoje, Mumbai), sendo a única canção Beatle gravada fora da Europa. Foi em 12 de janeiro de 1968, enquanto George gravava a trilha sonora do filme Wonderwall. Veja, então, uma lista inusitada: à esquerda instrumentistas indianos, à direita, seus instrumentos indianos. Apenas eles tocaram e foram ouvidos neste clássico dos Beatles!
    • Ashish Khan - sarod
    • Mahapurush Misra - tabla, pakhavaj
    • Chandra Shakher - surbahar
    • Shiv Kumar Sharmar - santur
    • S.R. Kenkare - shehnai
    • Vinayak Vohra - tar sahnai
    • Rijram Desad - dholak, harmonium
    • Indril Bhattacharya - sitar
Desses, apenas a cítara, a tabla (indianos) haviam sido usados nas outras canções 'indianas' de George (Love You To e Within You Withput You). Nelas, conhecemos o tamboura e o swarmandhal. Na volta para Londres, em 6 e 8 de fevereiro, três Beatles estavam disponíveis para acrescentar vocais. Neste LINK, você pode ouvir este trecho, envolto em belos instrumentos indianos.  
Arrive without travelling (George dobrado)
See all without looking (George)
Do all without doing (George, John e Paul)
Foi a primeira vez que George teve a distinção de um compacto! Ela foi o Lado B de Lady Madonna. Em minha opinião, The Inner Light é a mais linda das 3 canções 'indianas' que George compôs na época Beatle. Tanto que foi a escolhida, do gênero, para constar na homenagem que lhe fizeram, um ano após sua morte, em Concert for George, com a presença de Anoushka Shankar, filha de Ravi, o mentor do compositor em assuntos indianos.  Deixo aqui este LINK para que ouçam o começo dessa histórica apresentação, para que sintam o clima daquele extraordinário show no Albert Hall. O enorme retrato de George abençoando, a viúva Olívia ali sentada ao lado do padrinho Ravi Shankar, recepcionando Jeff Lynne, grande amigo de George, que fará o vocal. É pra se ter uma ideia da grandiosidade de uma citara bem tocada, além daquela encantadora flautinha encantadora de naja, um Shehnai. Sensacional. É só um trecho, mas segue outro, de quase um minuto, onde se vê e ouve um pouco da percussão. Dá pra se ter uma rápida visão do filho de George, Dhani, de branco, tocando o harmônio, e fazendo um backing vocal. Se não seguiu, eis aqui o LINK.
 
Como última informação, The Inner Light é um episódio de Jornada nas Estrelas - Nova Geração, nomeado e inspirado na canção de George. Nele, o Capitão Picard está imerso em descobertas de sua mente! Bastante apropriado! Ademais, o que os tripulantes da Enterprise fazem no futuro é 'arrive without travelling', não é? Santo teletransporte!!!

Beam me up, Georgie!!! 


7. Hey Jude (Cupid Girl Song by Paul McCartney)

Paul aconselha: 'Hey Jude, não me decepcione! Você a encontrou, vá lá e conquiste-a! Lembre-se de deixá-la entrar em seu coração, aí você vai começar' a tornar tudo melhor'   
 
Hey Jude é uma canção de Lennon/McCartney, composta por Paul em 1968;
  • A inspiração veio por causa da separação de John Lennon pra ficar com Yoko Ono. Cynthia e Julian se sentiam abandonados. Tiozão Paul dirigia seu carro a caminho da casa deles, pensando em Jules, como ele chamava o ‘sobrinho’. E veio a melodia e a primeira frase, "Hey Jules, don’t make It bad! Take a sad song and make it better"
  • Depois, a letra desvia pra um conselho amoroso, e ele começa a usar de várias maneiras o pronome "HER", "Remember to let HER into your skin" ou "Remember to let HER into you heart" até o conselho definitivo no Verso 3 "You have found HER, now go and get HER, mas o 'Don’t carry the world upon your shoulders" aplica-se também. John achava que era direcionado a ele. Enfim, sei que a inspiração veio de Julian, tanto que coloquei a imagem do post com ele, e 'tio' Paul, mas trata-se de uma Cupid Song, e tenho dito! (esta assertividade é dirigida a uma comentarista minha, ela saberá por quê...)
  • Paul mudou depois para Jude, porque gostava de um personagem de um musical famoso de então (Oklahoma), mas teve problemas com a escolha porque significa ‘judeu’ em alemão, chegou a ser ameaçado;
  • Ele estava supre animado com a canção, sabia que tinha uma pérola nas mãos, e chegou a apresentá-la em bares de Londres. Imagina a reação das pessoas;
  • A letra de Hey Jude apresenta um jogo de rimas internas que poucas vezes se vê em música pop, note nos 3 versos da canção, 5 rimas do FINAL de uma linha com o MEIO da linha seguinte (linhas, aqui separadas por uma vírgula);
1. Hey Jude, don't make it BAD, take a SAD song and make it better 
             Remember to let her into your HEART, than you can START to make it better
2. Hey Jude, don't be AFRAID, you were MADE to go out and get her
            The minute you let her under your SKIN, than you BEGIN to male it better  
3. Hey Jude, don't let me DOWN, you have FOUND her go now and get her
  • Entre os Versos 2 e 3, tem a primeira ponte, que começa com "And anytime you feel the pain, Hey, Jude, refrain, don't carry the world upon your shoulders.." e entre os Versos 3 e 4, uma outra ponte (letra riquíssima!) que começa em "So let it out and let it in, Hey, Jude, begin, you're waiting for someone to perform with...". E após essa ponte, e antes da seção NaNaNa, tem um Verso 4, que na verdade, é uma mistura das frases 1 e 2 do Verso 1com as frases 3 e 4 do Verso 2. Ufa!!!
  • O manuscrito com a letra foi objeto de vários leilões, sendo a última vez em maio deste ano arrematado por 910 mil dólares;
  • Ao mostrar a canção pra John e Yoko, Paul disse que iria melhorar o ‘The movement you need is on your shoulder!’. Mas John disse que era a melhor frase da canção, então ela ficou. Essa foi a única contribuição de John na composição;
  • Hey Jude começou a ser gravada em Abbey Road em 29 de julho, quando a base era Paul no vocal e piano, John no violão, George na guitarra e Ringo na bateria. Foram 6 takes. No dia 30, após  take 7, houve a intercorrência entre Paul e George sobre a participação da guitarra na canção. George oferecia um riff na guitarra a cada frase, fazendo seu papel de guitarrista solo da banda, mas Paul preferiu a versão só com piano, prerrogativa do compositor, George ficou chateado, e foi pra sala de controle, com seu xará. Outros 16 takes foram tentados, agora sem George; E mais dois foram montados para preparar transferência para outro estúdio;
  • Era o Trident Studios, que tinha um equipamento de gravação em 8 canais. Esta e outras 4 canções do Álbum Branco foram gravadas lá, após o que a EMI adquiriu o equipamento. No diz 31 de julho foram gravados mais 4 takes, já com George de volta, mas sem os movimentos que ele propusera. Começaram tudo do zero. nada do que foi gravado em Abbey Road foi aproveitado. O Projeto Anthology 3 ressuscitou o take 2, ainda sem os Na-Na-Nas iniciais, que ficam só no piano  mas timidamente nos finais. (LINK)
  • Curiosidade 1: Você sabe por que não há bateria de Ringo nos dois primeiros versos? Porque Ringo foi ao banheiro! Isso mesmo! Paul não percebeu que Ringo não estava e começou o Take 1, para notá-lo voltando na ponta dos pés, sentar-se na banqueta e entrar mais que corretamente quando começa a 1ª ponte! Paul achou que aquilo ficou ótimo e foi aquele que ele escolheu como base para os overdubs.
  • Curiosidade 2: Apure bem os ouvidos e preste atenção na 2ª vez em que Paul canta: "Remember to let her under your skin ... then you begin to make it better", exatamente no minuto 2:57, logo antes de começar a seção dos NaNaNa's, que Paul solta baixinho um "f#cking hell". É que ele reclamou do microfone para o engenheiro de som. Percebido o erro e informado aos rapazes, é claro que John exigiu que aquilo fosse mantido, por mais tênue que fosse! Esse John!!! 
  • Quase um mês depois, já abrindo agosto, vieram os overdubs, do vocal de Paul (quando somente aí ele colocou a letra correta "you have found her" em vez de "she has found you"), o baixo de Paul, mais piano de Paul, as harmonias de John e George, com os murmúrios nos três Beatles no Verso 2, e nas duas pontes, e John harmonizando lindamente na letra dos Versos 3 e 4, o pandeiro de Ringo dando um show à parte a partir do Verso 2, John e Paul berrando aqueles crescentes "Better, Better, Better....." para o grito primal de Paul "WoooooW", e os 4 Beatles cantando os NaNaNa's e, Paul gritando e animando a plateia na mesma seção final.
  • Mais à noite, chegou a orquestra, de 36 músicos para acompanhar a parte final, dos NaNaNa's. Algumas coisas interessantes sobre essa sessão noturna: (i) Com o estúdio longo e estreito, George Martin preferiu colocar as tubas à frente, para não ficarem muito longínquas, e para não abalar as estruturas dos instrumentistas à frente; (ii) naquela apoteose final, todos os instrumentistas da orquestra que não tocavam nada se levantaram e acompanharam com canto e palmas, como todo amante da música faz, MENOS 1, que se levantou e disse e eu vou deixar em inglês: "I'm not going to clap my hands and sing Paul McCartney's bloody song"... inveja pura...; (iii) como faltaram faixas livres, mesmo no equipamento de 8 canais, a orquestra teve que ser gravada no final de duas outras e, portanto, as guitarras de John e George naquele final sumiram.... pena!!!
  • A canção ficou com 7:11 minutos, coisa inédita no rock. George Martin, meio sem jeito, argumentou que as rádios não tocariam, John disse que como era dos Beatles eles tocariam. Eles tocaram .... e como!!
  • Hey Jude não saiu em LP. Era o Lado A de um Compacto Double A Side, um de vários na carreira Beatle (vou escrever sobre isso), cujo Lado B era Revolution, mas John não brigou pelo Lado A, reconhecendo a grandeza da composição do parceiro;
  • O compacto foi o primeiro lançamento da Apple Records em agosto de 1968, ficou meses no topo das paradas pelo mundo todo e foi o mais vendido de todos os tempos até então; veja várias capas pelo mundo. 
  • O maestro George Martin não queria lançar uma canção de mais de 7 minutos em compacto, pois disse que não ia tocar nas rádios. John disse que, sendo Beatles, eles iam tocar. O maestro perdeu a aposta! 
  • Hey Jude ficou inéditas nove (9) semanas no topo das paradas americanas, como nenhuma outra canção havia ficado até então:
  • Tanto Hey Jude como Revolution tiveram vídeos promocionais, dirigidos por Michael Lindsay Hogg, que passaram na TV Britânica, inicialmente, e depois viajou pelo mundo! Falei sobre o primeiro neste LINK!!
  • Hey Jude f
  • oi cantada no maior flashmob registrado, por 13.000 pessoas em Trafalgar Square, em abril de 2009; 
  • Na carreira solo, a partir de 1990 (que vi, extasiado, no Maracanã), Paul a tocou em virtualmente todos os seus shows, e a gravou ao vivo inúmeras vezes.
  • O Brasil está gravado na memória de Paul por conta de uma performance de Hey Jude, em 2011, no Rio de Janeiro, quando dezenas de milhares de pessoas levantaram um cartaz com as letras NA hora de entoar o canto final, de 3 minutos!!! Falei sobre esse dia histórico neste LINKEu não era uma delas pois estava na arquibancada.
  • Finalizando com informação de suma importância: foram 216 as vezes em que a sílaba NA foi cantada na gravação original. 
UFA!
Se alguém souber de mais algo que mereça registro aqui
É só me dizer que eu registro!


8. Revolution (Group Speech Song by John Lennon)

John avisa: "Você me pede uma contribuição. Bem, você sabe, nós todos estamos fazendo o que podemos, mas se você quer dinheiro para pessoas com ódio na cabeça, bem, tudo que posso lhe dizer é que, irmão, terá que esperar
 
A versão original dessa canção era em ritmo mais lento, mais blues. Nessa versão, que foi considerada lenta para lançar como single, havia três importantes mudanças: (i) Na letra, quando John diz que se o caso é destruição, podem considerar ele fora ("You can count me out"), ele complementa com um 'Ou não!'  (IN!!!), o que acende uma chama de esperança de poderem contar com ele; e (ii) 2. No vocal, Paul e George entoam um delicioso "oh schoo-bee-doo-wa oh schoo-bee-doo-wa" e (iii) nos acompanhamentos, não tem o piano elétrico nem as 'handclaps', mas tem uma magnífica sessão de metais. Além disso, John havia concebido a canção com uma longa série adicional, de mais de 8 minutos, de sons aparentemente sem nenhuma relação com o tema, mas que ele considerava parte da Revolução! Imediatamente, viram que não caberia, mas concordaram que se tornasse outra faixa do mesmo disco, que se chamou Revolution 9!!! Aliás, seria interessante se conhecêssemos as outras, Revolution 2, Revolution 3 ... até Revolution 8, para tentar entender como seu raciocínio foi evoluindo até chegar àquela salada vanguardista de sons de Revolution 9. Brincadeira, eu sei que não foi assim! 
 
Os Beatles, mais John que os demais, queriam abrir a boca sobre política desde sempre, mas eram refreados por seu empresário Brian Epstein, que não queria confusão.... mesmo assim não conseguiu evitar os transtornos com a declaração do astro sobre a popularidade de Jesus Cristo. John queria muito, por exemplo, falar contra qualquer guerra, especificamente, contra a Guerra do Vietnã, mas nunca pôde, ou quando falou, o fez disfarçadamente! Depois que Brian morreu, a coisa ficou liberada! E Revolution foi a primeira canção a tratar de política, era uma mensagem contra o 'establishment', mas mesmo assim com muitas ressalvas. Em resumo, "Se é pra fazer com violência não contem comigo". Então, a canção é uma Discurso de John a um Grupo que o chama para a revolução. Ele fez a canção na estrutura verso-ponte-refrão-'treis veis', com uma espetacular seção instrumental, ali entre a 2ª e a 3ª vez. Todos os pares verso-ponte têm igual configuração: 
Linha 1: uma proposta deles
Linha 2: Well, you know
Linha 3: um consideração de John
Linha 4: outra proposta deles
Linha 5: Well, you know
Linha 6: uma outra consideração de John
Linha 7: um alerta de John 

Linha 8: uma ação resposta por John 
 
Todas as propostas do Grupo e as considerações de John rimam com "Revolution" (Evolution / Institution / Constituion / Solution / Contribution / Destruction). Os Versos 2 e 3 tinham um complemento delicioso após as considerações de John, os famosos "oh schoo-bee-doo-wa oh schoo-bee-doo-wa" que não sobreviveram na versão mais pesada. Elas aparecem nos refrões também. As Linhas 7 e 8 de cada raciocínio constituem uma ponte como que introdutória para o Refrão "Don't you know it's gonna be (em falsete) All right". Aqui, é John lembrando-se de um mantra do Maharishi, que aprendeu em seu recente retiro na Índia!  
 
Revolution (ainda sem o 1 qualificador) foi a primeira canção a ser gravada na maratona para o Álbum Branco, aliás, já contei em outra resenha mas não custa  repetir, criou-se o hábito de ser sempre uma canção de John a abrir os trabalhos de um álbum, desde 1965. Então, I Am The Walrus abriu Magical Mistery Tour, A Day In The Life abriu Sgt. Pepper's, Tomorrow Never Knows abriu Revolver e Run For Your Life em Rubber Soul. Antes daquele 30 de maio inaugural, a canção foi apresentada aos demais dois dias antes, e foi materializada num dos já famosos Esher tapes, na casa de George. John ao violão e seus vocais dobrados, Paul e George em já ótimas harmonizações, Ringo no pandeiro e todos nas palmas. Ouçam que legal, aqui, neste LINK. Notem que o Verso 3, aquele do Chairman Mao, ainda não existia. No Dia D, ou melhor, 30 de maio, os Beatles fizeram 18 takes da canção, não sem tensão. Paul estava meio acabrunhado, provavelmente com aquela rotina de sempre ser uma canção de John a abrir as gravações, e John também não estava bem, chegou a ser ríspido com Geoff Emmerick, por conta de um som sujo que ela queria extrair do seu violão, e pressionou o técnico para fazê-lo. George não estava, Paul ficou ao piano e Ringo na bateria. Aquele foi o primeiro (de muitos) dia em que John trouxe Yoko, apresentava-a para todos, e tal, e ela chegou chegando, trouxe uns sons eletrônicos gravados em fita, pegou do banco de instrumentos uma tábua de lavar roupa, e a 'tocou', e muito do que ela fez, ficou na versão final que foi para o Álbum Branco. O último take do dia foi estendido em mais de 5 minutos do qual algo se aproveitou para Revolution 9, felizmente os primeiros quase 5 minutos estavam ótimos para overdubs, que vieram, naquele mesmo dia (já era madrugada) à noite.   

Isso tudo vale como história da canção. Ela evoluiu com vários overdubs para atingir o que vemos no Álbum Branco, mas a versão que estudamos aqui, a do compacto, não foi aquela, como dissemos. John chamou todos de volta em 9 de julho, para fazer uma pegada mais forte. Ensaiaram muito naquele dia com John tentando a guitarra solo, e as guitarras ainda soavam limpamente, sem a distorção incrível que conhecemos. No dia seguinte, ela chegou, por insistência de John mas então ele passou para a guitarra rítmica ficando George com a solo, e teve Paul no baixo e Ringo na bateria e John cantando, em 10 takes. Depois vieram overdubs, de Ringo em sua caixa,  de palmas de todos, de John dobrando seu lead vocal em algumas palavras ou mesmo sílabas, e especialmente nos vários "well, you know"(6). E gravou também aquele maravilhoso berro no começo (no vídeo, é Paul quem dubla, mas na verdade, é de John). E é John também quem faz os falsetes dos refrões. Não há outra voz além da de John na canção. Dia seguinte, veio aquele ótimo piano elétrico da seção instrumental e da conclusão, e não foi nenhum Beatles quem o tocou, mas um jovem músico Nicky Hopkins, que já havia trabalhado com George, tão bom o solo que resolvi colocar a foto do rapaz. Deu um show! Mais tardem finalmente veio Paul em seu baixo. No dia 13, quando se pensava que tido havia terminado, John pressionou os técnicos de novo pra fazer sua guitarra, e Geoff Emmerick arriscou estourarem as membranas todas, e colocou um amplificador na saída do outro, e então  finalmente John sorriu. Guitarra distorcida já existia, mas nunca como em Revolution. E isso, mais uma vez, foi utilizado por várias banda dali em diante. 
 
Ao vivo? Revolution, não. mas tem um video-clipe, mas na versão mais rápida e áspera do compacto. Aqui, neste LINK.


9. Get Back (Tale Story Song by Paul McCartney)

Paul conta 'Jojo era um homem que pensava que era um solitário, mas descobriu que isso não duraria. Jojo deixou sua casa em Tucson, Arizona por um pedaço de terreno da Califórnia. Volte Volte Volte, para o lugar de onde veio'. 

Olha, essa canção tem história! Então, comecemos pelo começo: o nome! 'Get Back' era o nome de um projeto, de volta às origens, quando os Beatles tocavam em night clubs, sem muitos recursos, só na raça, e na categoria, que eles mostraram em incontáveis excursões pelo mundo a partir de 1963, até que se cansaram em agosto de 1966. Para isso, deixaram a Abbey Road, deixaram George Martin lá, e se internaram, primeiro em um estúdio de filmagem, depois nos estúdios da Apple, em Saville Row, em janeiro de 1969, apenas com seus instrumentos, e com umas câmeras, para filmar os ensaios, após os quais, o plano era voltar aos palcos! Então, haveria uma canção com esse nome, e Paul a fez. Os versos contavam sobre um certo(a) 'Jojo', que 'left his home in Tucson, Arizona' e uma (um) certa (o) 'Loretta', que 'thought she was a woman, but she was another man', e o refrão dizia para os dois: 'Get back to where you once belong!', e então vieram as especulações sobre que seria o 'You' da letra, e três são as hipóteses: 
Os próprios Beatles! Voltem para suas origens e encantem as audiências com seu ótimo som.  
Joseph (Jojo) Melville See Jr! Ele era o primeiro marido de Linda, com quem Paul se casaria em breve, e que estava atazanando a vida dos enamorados, e que vivia justamente em Tucson/Arizona. 
Yoko! John havia trazido Yoko para o estúdio, ainda em 1968, o que causou desconforto para os demais. John percebeu, durante algum ensaio, que, quando Paul cantava 'Volte pro seu lugar', ele olhava pra Yoko. John ficou bem chateado. 
Paul nega as duas últimas, e ficamos então com a primeira. O fato é que o clima era tenso, em geral, e em uma triste hora das sessões de gravação, George deixou os Beatles. Enquanto esteve fora, encontrou o tecladista Billy Preston e o incentivou a entrar para o Projeto. Quando George voltou, já encontrou Billy lá, e ele foi fundamental para amainar o clima de tensão, que ficou suportável até o final do projeto, no final daquele mês, no muito celebrado Rooftop Concert, quando todos subiram ao terraço do edifício para fazer aquela que seria a última aparição ao vivo dos Beatles, episódio que já contei, neste LINK. Nenhuma das cinco versões ao vivo de Get Back foi lançada oficialmente, apesar de três delas estarem perfeitas. Em todas está presente Billy Preston tocando seu brilhante piano elétrico, inclusive com um solo que ele nunca havia tocado nos ensaios, incentivado por Paul. Há várias falas notáveis que foram proferidas ao final da última versão de Get Back. 

Ao perceber que a polícia está invadindo o recinto, Paul diz:  
"You been out too long, Loretta! You've been playing on the roofs again! That's no good! You know your mommy doesn't like that! Oh, she's getting angry... she'll have you arrested! Get back!".
E John, claro, tinha que fechar com chave de ouro. 
Lembrando-se de que eles fizeram aquele show como 'teste de palco', disse:  
"I'd like to say thank you on behalf of the group and ourselves, and I hope we've passed the audition."


Bem, até aqui reproduzi parte do texto em que apresentei pela primeira vez a canção, quando falei sobre todas as canções de mesmo Assunto e Classe, Tale Story Songs. Falta contar mais uns detalhes sobre estrutura e gravação. A primeira é simples, verso-refrão, mas incrementada musicalmente por vários solos, de guitarra e órgão, e por uma retomada ao final, que ficou famosa. A gravação é notabilizada pelos muitos dias e vezes em que foi ensaiada, em diversas configurações, com e sem John, com e sem George, com e sem Billy, mas sempre com Paul e com Ringo, que inclusive chegou a cantar o refrão, em uma da sessões. Cabe ressaltar que aquelas sessões de janeiro de 1969 nada tinham a ver com o que eles vinham fazendo em Abbey Road, com gravações de instrumentos em separado, um canal reservado para cada instrumento, a busca por uma base, reduções de fita para liberar mais canais para acréscimo de overdubs, dos mais variados instrumentos e efeitos. Ali, era raiz, todos cantando juntos, então, quando um errava algo, não poderia ser consertado depois, só com ele voltando ao estúdio para regravar sua parte, não, todos tinham que começar do zero tudo de novo, essa é a parte romântica da configuração. Outra coisa notável é que ela foi feita no estúdio, Paul chegou sozinho e começou a burilar a ideia original do 'Get back to where you once belong', e os acordes e versos foram surgindo. Ela chegou a ter um terceiro verso, além dos dois conhecidos (com Jojo e com Loretta), sugestão de John, em que faziam uma crítica social ao momento que a Inglaterra vivia, em que a ala direita do Parlamento discutia o bloqueio à desenfreada chegada de imigrantes da Comunidade Britânica, então os Paquistaneses 'Don't dig no Pakistani taking all the people's jobs!' eram citados, enfim, ver aqui, nestes LINK1 e LINK2 como brincaram com o tema, mandando várias etnias e personagens voltarem para o local de onde vieram. No segundo, inclusive, parece se ver ali a semente para outra canção do disco, Dig It. Porém, a coisa poderia descambar para que se interpretasse que eles eram preconceituosos, e decidiram abortar a ideia, vendo-se já ali a influência do 'politicamente correto' atuando, e tolhendo a criatividade dos artistas mais famosos da história.
 
A primeira vez de Get Back foi no dia 7, nos estúdios Twickenham, um sem-número de vezes, ainda sem John, e dois dias depois, já com ele, com mais quatro tentativas, onde vieram aqueles jams 'racistas'. Dia seguinte, levaram a canção a sério e a ensaiaram 22 vezes pela manhã, George fazendo os solos de guitarra, mas na hora do almoço ocorreu aquele fato que chocou a todos, o guitarrista foi embora, e voltaria 10 dias depois. No dia 13, sem George, John assumiu a guitarra solo e ensaiaram mais 15 vezes, entremeadas com discussões sobre o futuro, John mencionando que talvez devessem seguir solo, e Paul ainda acreditando no conjunto. Apenas 10 dias depois, já com George de volta, nos estúdios da Apple e com a chegada de Billy Preston, duas condições estabelecidas para a volta do guitarrista, a canção pegou jeito, já com Ringo naquela batida tipo galope de cavalo, pó-có-tó-pó-có-tó-pó-có-tó. Pela primeira vez, George Martin apareceu para ver como estavam as coisas e produziu a sessão. Notável também a presença de um jovem operador de fita Alan Parsons, que faria notável carreira como produtor do Pink Floyd e outros. Ali, também desistiram do papo sobre paquistaneses e, no lugar do verso cantado, entrou o teclado de Billy. John consolidou seus solos, e George ficou na guitarra base, em 43 ensaios da canção, e dia seguinte mais 21 vezes, vai contando. Naquele dia foi introduzida a retomada da canção após um final falso de alguns segundos. Mais 4 dias, mais 32 vezes de Get Back, uau, já passou de 100! Aí parou-se de contar, mas não de ensaiar. nos dois dias seguintes foram dedicados ao ensaio de todas as canções do projeto, e Get Back got back mais um punhado de vezes, dia 29 sendo o dia final de estúdio do Projeto Get Back, quando se decidiu que no dia seguinte iriam subir ao teto do prédio e tocar ao vivo, o famoso "Rooftop Concert". 
 
E veio finalmente o grande dia, que contei neste LINK, mas que aqui ressalto apenas as vezes em que Get Back foi levada no último show da vida dos Beatles. Foram cinco, as vezes em que ela foi iniciada, sendo três completas. A primeira incompleta foi a primeira do dia, com John começando com seu solo de guitarra e os outros foram se juntando, serviu para testar os instrumentos, mas logo a segunda foi ótima, bem como a terceira, já a quarta foi um 'false start', pois John contou errado. A quinta fechou o show, já com os policiais em cena, e com as ótimas falas de Paul e John já mencionadas. Houve outras falas dos dois ao logo de todo o show, muitas delas very Brittish, mencionando ídolos do cricket e programas da BBC.
 
São duas as versões oficiais lançadas na época, uma do compacto, em 11 de abril de 1969, outra do álbum em 8 de maio de 1970, com as seguintes diferenças entre si: (1) a do 'single' é o melhor take do dia 27 de janeiro, emendado com a retomada (coda) gravada em 28 de janeiro reduzida a menos de 40 segundos e fading out; (2) a do álbum é com aquele mesmo take do dia 27, sem a coda, mas com a inclusão de falas do show no terraço, ainda antes da canção, com uma piadinha de John, 'Sweet Loretta fart she thught she was a cleaner..." mas principalmente com a excepcional finalização de John, agradecendo a todos, em nome do grupo e dizendo que esperava que ele tivessem passado no teste. Ótima decisão de Phil Spector, o produtor chamado de última hora, já com a banda acabando, e com carta branca para fazer o que quisesse. Mas não seriam ótimas todas as decisões dele em Let It Be. 
 
A canção é creditada a "The Beatles with Billy Preston", sendo ele o único músico creditado na carreira dos Beatles que não fossem os próprios. O que solidifica a injustiça de terem esquecido de creditar Eric Clapton, que fizera uma guitarra solo matadora em While My Guitar Gently Wheeps, alguns meses antes. 
 
Finalizo com aquela tristeza habitual do fim de festa, lembrando a frase com que o compacto, tendo Don't Let Me Down no Lado B, 'The Beatles as Nature Intended', eles estiveram ótimos no show do terraço, estavam prontos pra voltar à estrada, mas nada disso aconteceu! 

E.. ah, sim ... foi direto para o N°1 das paradas inglesas, e um mês depois, para igual posição na parada americana, sendo a 17ª vez que isso ocorreu, igualando Elvis Presley. Só que os Beatles tiveram ainda outros N°1 após, então sabe-se quem são os campeões da história nesse quesito..  Ah, um número importante: o single Get Back / Don't Let Me Down vendeu 2 Milhões de cópias só nos Estados Unidos.. 


10. Don't Let Me Down (Love Girl Song by John Lennon)

John se declara, e pede "Nunca ninguém me fez o que ela me faz, sim, ela faz, sim ela me faz bem. Não me decepcione!" 


Janeiro de 1969, começo do Projeto Get Back, de volta às origens, os quatro Beatles reuniam-se num estúdio de filmagem para ensaiar novas e velhas canções, com o intuito de montar um novo trabalho, de disco e de show. A ideia era gravar tudo ao vivo, numa política de Zero Overdubs. Romântico mesmo. John vivia um momento paradoxal em sua vida: ao mesmo tempo que imerso em drogas, quando heroína (ingerida, não injetada) 
estava em seu cardápio, ele estava encantado com seu novo amor. A droga não o deixava inspirado a compor. A única canção que trouxe para o projeto foi justamente uma declaração de amor a Yoko Ono, na verdade, um apelo para que ela não o deixe sozinho em meio à sua péssima condição.  
 
A canção abre com o refrão, com duas linhas, cada uma com duas vezes o título da canção, num apelo sentido. Depois, dois versos e uma ponte. Nos versos, em que há um sobe e desce de notas, ambos têm uma profusão de uso do verbo "to do", tanto no seu significado básico de "fazer", como no modo auxiliar, representando outras ações, o fato é que há um total de 10 vezes que o verbo aparece, entre "she do, she does, she done", mostrando como ela faz bem a ele, e também com um segundo sentido sexual, "ninguém faz como ela' e tal, ele mesmo admitiu. Segundo John, naquele tempo, quando ele não estava se drogando ou gravando, estava na cama  (preferi não usar mais um gerúndio com o verbo apropriado, porém, chulo) com Yoko. Na ponte, onde ele deixa Cynthia muito triste ("I'm in love for the first time", isso não se faz, John!) é onde encontramos o melhor desempenho vocal de John em "It's a love that lasts forever, it's a love that has no past". Foi logo no dia 2 de janeiro, o 1º dia das Get Back Sessions, que John trouxe sua canção, e ela foi ensaiada 15 vezes, cada um em seus instrumentos usuais, aliás, como foram todas as canções do projeto. Notável dizer que foi em meio a esses primeiros ensaios que Paul veio com uma sugestão fundamental, dizendo a John que começasse a canção com o refrão! Simples, né? E assim foi feito até o final do projeto e a gravação final, e olha, não foram poucas as vezes, vai contando: Dia 3, 10 vezes; Dia 5, 28 vezes; Dia 7, 12 vezes; Dia 8, 2 vezes; Dia 9, 1 vez; Sia 10, 2 vezes. Não perca a conta, até agora, um total de 70 vezes, e eu paro aqui por um instante porque nesse dia 10 ocorreu uma baixa no time: George abandonou a banda! Desavenças, mágoas, desinteligências... e esse dia também foi o último em que usaram os estúdios de Twickenham. Uma das condições para a volta de George, 10 dias depois, foi que se mudassem para o estúdio da Apple, no porão de Saville Row, nº3. Outra coisa que aconteceu foi a chegada de Billy Preston para os teclados, demanda de George também. Isso pôs fim à intenção de chamar Nicky Hopkins para o efeito, o que foi considerado devido a seu excepcional desempenho na canção Revolution. Bem, vamos voltar a marcha da contagem. Dias 21: 2 vezes; Dia 22, 18 vezes (já com Billy); Dia 24, 1 vez; Dia 27, 5 vezes; Dia 28, 4 vezes; Dia 29, 1 vez; Dia 39, 2 vezes, e finito! Sub-total: 33 vezes, Total; 103 vezes!! 
 
Detalhes: uma das versões do dia 28 foi a escolhida para o Lado B do compacto, tendo no Lado A, Get Back. As duas versões do Dia 30 foram tocadas ao vivo no teto do edifício da gravadora, e a segunda delas foi para o filme Let It Be, e a mostro aqui neste LINK pra vocês! Preparem-se para se arrepiar! A contagem centenária de ensaios mostrou seu valor: eles foram perfeitos! A não ser por John ter se enganado na letra do começo do 2º Verso ao vivo, mas foi editado no vídeo. A breve introdução na guitarra de George leva ao 1º Refrão, triplamente harmonizado por John, Paul e George, tendo ao fundo o ótimo Billy Preston em seu piano elétrico. O 1º Verso, vem acompanhado de uma bateria estilo Bossa Nova de Ringo, e magníficos acordes descendentes de George, e Paul harmonizando lindamente agudo com John na segunda linha "...body loved me like me ...", e Ringo comanda uma parada geral para mais um refrão. Na ponte, o baixo de Paul acompanha com pares  de notas o magnífico vocal solo de John, e mais uma parada e mais um refrão e mais um verso e nem precisa ficar descrevendo, apenas sintam, até o final, que vem com mais um show de Billy Preston e falsetes de John. Show!!! A imagem que deixo é congelada do vídeo, no exato momento em que John diz: "down".


 

 
Deixo aqui um vídeo que me faz chorar TODAS as vezes que eu vejo, e também rir muito, e eu vi mais de 30 vezes já, umas por minha conta, e também toda vez que um amigo me mandava via WhatsApp, perguntando se eu já havia visto, neste LINKÉ grande a expectativa para ver o novo filme Get Back, de Peter Jackson, como ele explica no início. Será um de duas únicas vezes em que sairei de casa para ir ao cinema... a outra será no novo filme de 007.

 

11. The Ballad of John And Yoko (Self Story Song by John Lennon)

John conta: "'Ele me disse que poderíamos nos casar em Gibraltar, perto da Espanha. Cristo, não vai ser fácil! Do jeito que está, vão me crucificar!" 
 
Imagine a situação: John volta da lua-de-mel com Yoko, por Paris, Amsterdam e Viena, com direito ao primeiro bed-in (ele e Yoko deitados na cama durante uma semana, recebendo a imprensa), e já tem essa história pra contar numa canção, mas George está de férias e Ringo está filmando seu segundo filme como ator solo (The Magic Christian)! Somente Paul está em Londres. John não tem dúvida, passa na casa de Paul e diz: ‘Bora pra Abbey Road!’ E assim, foi, Paul tocou baixo e bateria e piano, John tocou guitarras base e solo e percussão. Ficou famoso o seguinte diálogo: John (no violão) - "It got a o a bit faster, Ringo!"; Paul (na bateria)- "OK, George!". Esse encontro e camaradagem entre os dois foi a última oportunidade em que reviveram a antiga dupla, meio balançada por contingências comerciais. Foi lançada em compacto, tendo no Lado B Old Brown Shoe, de George. No lançamento, algumas rádios americanas se recusaram a tocá-la por causa das referências a Cristo e crucificação. Foi o último compacto Beatle a atingir o topo das paradas no Reino Unido. Muito marcante pra mim é a harmonia vocal de Paul nos últimos versos e refrão, que descreve quando o casal volta a Londres. Inesquecível! Tanto que resolvi colocar o trecho aqui pra vocês, neste LINK. NÃO DEIXE DE OUVIR! Mas este até aqui foi o resumo que fiz no capítulo sobre as Story Self Songs, na 1ª parte de minha Saga. Vamos a um pouco mais de detalhes! 
 
John contou onde casou com Yoko, contou onde esteve e o que fez em sua lua-de-mel ao longo de 5 versos acompanhados de refrão, mais uma ponte usada como uma parada para reflexão. O refrão que vem após cada verso é onde ele se preocupa no que vão pensar dele, e é onde reside o motivo pelo qual a canção foi banida de algumas rádios americanas tradicionais, numa decisão estapafúrdia, já que a menção a Cristo é apenas uma interjeição. Talvez se ele tivesse colocado "God", os conservadores nem haveriam percebido:  

Christ you know it ain't easy, you know how hard it can be

The way things are going they're going to crucify me 
 
No Verso 1, John conta que intencionavam cruzar o Canal da Mancha, para França ou Holanda, e casar durante a travessia, mas o capitão disse "You've got to go back", primeiro porque Yoko não era inglesa e eles não teriam o Visa para a travessia, depois porque ele não ia casar ninguém. No Verso 2, viajaram de avião fretado para Paris, onde ficaram "honeymooning down by the Seine", tudo bem que navegaram pelo Rio Sena, mas ainda não era lua-se-mel, pois não estavam casados. Nesse meio tempo, receberam a ligação de Peter Brown, seu agente, dizendo que "You can get married in Gibraltar near Spain". Interessante que esse "near" foi ideia de Paul, em vez de "in", para evitar problemas internacionais, porque Espanha e Inglaterra disputavam a 'propriedade' da localidade de Gibraltar, ali à entrada do Mar Mediterrâneo, até hoje um território britânico. E a métrica coube perfeitamente! O Verso 3 começa com uma incorreção logística "Drove from Paris to the Amsterdam Hilton", não, eles não foram de carro entre os dois países, porque na verdade, nesse meio tempo, eles voaram pra Gibraltar em 20 de março, ficaram lá apenas os minutos necessários para a cerimônia, e voaram para Amsterdam. E o resto do verso é contar sobre o famoso "bed-in", uma semana de pijamas na suíte presidencial do Hotel Hilton, chamando a imprensa para dentro do quarto e falando sobre paz. Esse climão levou à reflexão, e levou John a criar uma ponte, uma nova melodia, pra contar sobre as intenções do casal de doar roupas para os mais necessitados, porque afinal, quando morrerem, não levarão nada mais que a alma, como disse Yoko "oh, boy when you're dead, you don't take nothing with you, but your soul, think!". De volta aos versos, o 4º conta de uma viagem rápida a Viena e, pra explicar o "eating chocolate cake in a bag", há que se saber que eles foram lá para uma première de um filme que ele e Yoko fizeram, e convocaram a imprensa para uma conferência, e apareceram envoltos em um enorme saco (bag) branco, o que levou a imprensa a dizer "She's gone to his had, they look just like two gurus in drag", afinal, era Yoko fazendo a cabeça de John. O 5º Verso conta que mandaram um saco com duas sementes de carvalho para 50 líderes mundiais, "Fifty acorns tied in a sack", como mensagem de paz, e termina com a viagem de volta (em 1º de abril), e John conta de sua surpresa, pois pensava que iam crucificá-lo, no entanto, a imprensa disse: "We wish you success. It's good to have the both of you back!" Genial!! É a história contada na canção! Fiz um diagrama da pitoresca viagem do casal mais falado da história da música. 
 
Essa maravilha toda se materializou em canção num único maravilhoso dia de gravação, o histórico 14 de abril de 1969. John estava muito animado e não quis esperar a volta de George nem o fim das filmagens do filme de Ringo e apareceu com Yoko na casa de Paul dizendo: 'Você toca baixo e bateria! Vamos lá!!" . Os dois finalizaram detalhes da letra, combinaram arranjos e partiram pra EMI ali pertinho. Naquele meio tempo, John dera uma missão a Peter Brown: "Ligue para Geoff Emmerick e diga a ele que quero que ele volte a trabalhar comigo!". Pra quem não sabe, Emmerick havia deixado de trabalhar com os Beatles por causa do climão das gravações do Álbum Branco no ano anterior! George Martin produziu a faixa! A base, só com dois componentes, foi John no violão e vocal, e Paul na bateria. Usaram um equipamento de 8 canais recém-instalado. Foram gravados 11 takes, apenas 4 deles (1, 7, 10 e 11) indo ate o final, os outros interrompendo antes por vários motivos, uma corda arrebentada de John (como sempre!), vários deles no mesmo ponto da canção, a entrada do Verso 4 após a ponte, num erro de bateria de Paul, no famoso Beatle break (que Ringo teria tirado de letra, mas Paul teve que suar), e tal, mas o mais famoso foi quando Paul acelerou a batida na bateria (ele não tinha o senso de ritmo de Ringo), John estranhou e aconteceu aquele diálogo histórico, que mencionei ali em cima. O Take 10 foi eleito como o melhor e partiram para os overdubs: John espetacular na guitarra solo (George teria aprovado com louvor!) em seguidas entradas em resposta ao próprio vocal, e no riff da conclusão, Paul no baixo, naquela batida firme de rock, desde a introdução, e também Paul no piano e também Paul no chocalho, e John batendo na caixa do violão, mas principalmente o backing vocal de Paul ressaltado no LINK ali de cima, ele entra nas duas linhas finais da ponte e aqui e ali no Verso 4, harmonizando no agudo nos finais de frase ("bag - said - head - drag"), lindo, e depois no final do Refrão 4 ("the way things are going, thei'll gonna crucify me") e final e maravilhosamente harmonizando a totalidade do Verso 5 e do Refrão 5 (com exceção de "Christ", que John faz sozinho, com vigor), e com direito a uma repetição da frase final.... Ah, como eu queria mais!! Pareciam os dois parceiros do começo da carreira. Momento mágico!!! Mas já estava acabando... 

Como disse, o compacto, lançado em junho de 1969, com Old Brown Shoe, de George, no Lado B, atingiu o topo da parada inglesa, mas não passou do 8º lugar na parada americana, devido ao boicote nas rádios, o que não impediu que os Beatles conseguissem mais um Disco de Ouro, por mais de 1 milhão de copias vendidas! No Brasil, não tenho ideia de como foi recebido, mas sei, sim, de uma divertidíssima versão feita pelos Titãs, com alguma semelhança com a letra original e também umas viagens legais, que foi lançada no primeiro LP deles, junto com Marvin e Sonífera Ilha, divirta-se aqui, neste LINK. 


12. Old Brown Shoe (Flirt Girl Song by George Harrison)

George flerta: "'Pareço ser imperfeito, meu amor é algo que você não pode rejeitar. Mudarei mais rápido do que o tempo se você e eu ficarmos juntos, quem sabe, baby, você pode me confortar " 
 
George estava particularmente feliz com a canção que apresentou aos colegas naquele 27 de janeiro de 1969, no estúdio da Apple, para potencial inclusão no Get Back Project. Ele já estava 'de bem' com todo mundo após aqueles 10 dias de ausência (11 a 20 de janeiro) devido a desentendimentos pretéritos. Billy Preston já estava no grupo provendo teclados para as apresentações ao vivo que eles planejavam fazer, e foi a ele que George apresentou a canção, já que a havia composto  ao piano, mesmo não sendo seu instrumento de preferência, ele admite que piano não era o seu forte. Nos Beatles, era Paul quem tinha o melhor piano, seguido de John, depois George, e lá atrás nosso querido Ringo com seus 3 acordes (ele até fez música se auto-gozando nesse aspecto). Enfim, naquele 16º dia do projeto, foi Ringo quem mais batalhou para chegar ao desejado ritmo de sua bateria, quando ensaiaram um não registrado número de vezes aquele rock quase ska que George trouxera. John estava no baixo e Paul na guitarra. No 2º dia, aí sim contaram, e foram oito os ensaios, mas com John de volta á guitarra, Paul de volta ao baixo, o próprio George na guitarra e Billy no órgão. Ringo ainda tentou uma variação na bateria para aquele galopezinho gostoso de Get Back, mas retornou ao ritmo original e dele não mais largou. Houve mais um ensaio da canção no dia 29 mas, infelizmente, ela havia chegado muito tarde ao projeto. Eles precisavam focar esforços nas canções que desempenhariam ao vivo no dia seguinte no terraço da Apple, e Old Brown Shoe não estava no estágio ideal para o efeito. 
 
Coisas do destino, Old Brown Shoe acabaria vindo à luz bem antes (11 meses!) da maioria das canções do Projeto Get Back, lançada em junho de 1969 como Lado B de The Ballad Of John And Yoko, que foi o último compacto Beatle a alcançar o topo da parada inglesa.
 
Passado quase um mês, George fez uma demo já em Abbey Road, gravando ele mesmo voz, piano e duas guitarras em diferentes canais do equipamento de gravação. Ficou ótimo, tão bom que trouxe o som pra vocês, neste LINK! Claro que uma bateria e backing vocal agregariam muito, mas note que ele mandou muito bem fazendo o papel do baixo nas cordas mais graves de sua guitarra, já seu solo nas notas mais agudas no verso instrumental melhoraria bastante nas gravações posteriores. Aliás, já que falei em 'verso instrumental', vou dar uma parada no ritmo das gravações e comentar sobre a estrutura e letra da canção. 
 
George trouxe uma letra bem elaborada, com três versos e duas pontes, tudo com letras diferentes, não decepcionando o 'Manual Beatles de Composição'. Ele já havia se afastado da influência indiana na música, sendo a última The Inner Light, quase um ano antes, e tendo já gravado quatro canções mais 'ocidentais' no Álbum Branco, mas aqui, ele volta com alguma influência oriental na letra, o que se observa pelo número de dualidades que agregou, povoando os três versos com seis opostos, vai contando: "right / wrong, up / down, short / long, smile / frown, love / hate, early / late", e conseguindo rimar. muito bem. E além  de dar indicações de que está se livrando do mundo material ("I'm stepping out from the old brown shoe") ou saindo das amarras do mundo ocidental (escaping from the zoo") nas duas pontes. 
 
Nos Versos 1 e 2, George tenta convencer a garota de que ela é o ideal pra ele, que pode levá-lo ao oposto do estágio em que ele se encontra, uma verdadeira mudança de 180 graus, e ele conclui com "Baby, I'm in love with you. I'm so glad you came here. It won't be the same now, I'm telling you". Depois, entram as duas pontes, com melodias diferentes (e uma estonteante sequência de baixo), em que George faz suas promessas e termina ambas com a proposta "Who knows, baby, you may comfort me". Entre as duas pontes há o tal 'verso instrumental' onde George arrebenta com sua guitarra, e vem o 3º Verso, com os últimos dois opostos para conquistá-la, terminando do mesmo jeito, mas desta vez sem a alegoria de libertação, do velho sapato (shoe ou do zoológico (zoo) dos Versos 1 e 2, ele agora se coloca na frente da fila (queue) - note as rimas entre versos - para conquistar o doce beijo da garota. 
 
Bem, de volta às gravações, a próxima sessão veio só em abril, no dia 16, em que George chegou mais cedo, gravou mais uma demo, e quando os demais três Beatles chegaram, já estava aquecido, e conduziu 4 takes, sendo os três finais bem sucedidos, indo até o final, com Paul no piano, John na guitarra base, Ringo na bateria e George no vocal e na guitarra solo, cada um em um canal do equipamento de 8 canais. Entenderam, né, Billy Preston não estava e quem assumiu o piano? Só podia ser Paul. Notem a slide guitar de George durante a 1ª metade do verso instrumental, em destaque, e depois um ótimo solo nos últimos oito compassos! Também Ringo dá show ali! Falando nele, notem a mudança de ritmo da bateria, do ska dos versos para o rock padrão nas pontes. 
 
Ao Take 4, George adicionou guitarra junto com Paul no baixo, especialmente aquelas maravilhosa montanha russo subindo e descendo nas pontes, ponto marcante da gravação.  interessante que com isso, é apenas Paul que se ouve na introdução da canção, que que tinha o piano da base, mais o baixo acrescentado! John e Paul acrescentaram backing vocals, junto com George ao microfone repetidas vezes nas duas pontes, especialmente no trecho "Who knows baby, you may comfort me...,", até chegar à perfeição que ouvimos no final.  Notem também um "Hey" após as pontes, que é gritado por Paul. Tudo aparentemente terminado, entretanto, George achou que podia melhorar, e voltou dois dias depois para acrescentar mais guitarra, desta vez 'inchada' por ADT (dobra automática) e por um Leslie Speaker, figurinha carimbada desde que descobriram o efeito que ele dá aos sons, de qualquer som, vide Tomorrow Never Knows três anos antes, usado na voz de John e na bateria de Ringo. Falando em John, um coisa mais aconteceu naquele dia: a guitarra de John foi apagada por um órgão Hammond tocado por George, na mesma faixa, e se ouve-o bem nas pontes e no verso final e conclusão. George era o dono da canção, podia fazer o que quisesse, e fez. Então, a única participação de John em Old Brown Shoe foi seu backing vocal! Como compensação, na extensa conclusão, aquele "Doo-Da Doo-DaDa" em falsete foi puxado por ele e harmonizado por Paul. Em que pese o climão daqueles tempos, Old Brown Shoe foi gravada com muita vontade por todos. A foto que escolhi para ilustrar é da época, George cabeludo e barbudo, Paul de cara limpa, aquele visual com que tirariam a foto da capa de Abbey Road mês e meio depois.
  
 

Claro que os Beatles nunca a tocaram ao vivo, mas felizmente seu autor George se lembrou dela no último de seus poucos shows ao vivo na carreira solo, no Japão. Deixo aqui o LINK do áudio. Não restaram imagens do evento.                      

 

13. Across The Universe (Mind Self Song by John Lennon)

John declama 'Poças de mágoas, ondas de alegria, vagueiam por minha mente aberta, possuindo-me e acariciando-me... eu saúdo o Guru ... Nada vai mudar meu mundo' 
Pools of Sorrow 
Waves of Joy 
Are Drifting 
Through my open mind 
Possessing and Caressing Me

Pronto, gente, 'péra' um pouco que eu vou me recuperar. Vocês estão prestes a ver o papo sobre uma das mais belas letras da história, não dos Beatles, mas da humanidade. Dá vontade de apenas colocar a letra toda aqui e não falar mais nada. Mas não é esse o papel deste analista neste estudo. Usei novamente o verbo declamar, porque se trata de uma poesia em prosa. 
'Palavras voam como uma chuva sem fim num copo de papel, elas deslizam selvagemente enquanto  fluem através do universo ...". 
Words are flying out 
Like endless rain into a paper cup 
They slitter wildly 
As they slip away 
Across the universe 
 
Não, não vou colocar a letra, toda ela é linda, procurem, é fácil achar. Bem vamos à história.. estavam os Beatles se preparando para viajar à Índia, animados que estavam em aprender Meditação Transcendental, e deixaram algumas canções para serem lançadas em compacto enquanto estavam fora. John tinha esta canção, que começou quando ele e Cynthia foram dormir após uma discussão de casal, onde Cynthia falou um monte, John demorou a dormir e aí veio a primeira frase: 'Words are flying out'... Quem diria que uma balada cósmica tão linda teria começado numa DR... Felizmente, a coisa mudou dali em diante e virou uma viagem, através de seu universo pessoal. 
"Imagens de luzes falhas dançam à minha frente como milhões de olhos, que me chamam de novo e de novo, através do universo" 
Images of broken light 
Which dance before me 
Lile a million eyes 
They call me on and on 
Across the universe 
 
... ih, olha eu de novo ... sorry, não resisti. Enfim, era uma noite fria de fevereiro de 1968, a gravação não ficava boa e Paul teve mais uma daquelas ideias que só Paul mesmo. Saiu no corredor do estúdio, viu um grupo de garotas que o porteiro tinha botado pra dentro, por causa do frio, e perguntou se havia quem soubesse cantar. A brasileira Lizzie Bravo levantou a mão e chamou uma amiga inglesa pra ir junto com ela e AS DUAS PARTICIPARAM DE UMA GRAVAÇÃO DOS BEATLES! Muita  história ela conta desse dia desde então, conheci-a há três anos, e ela até contribuiu para meu post sobre esse feito inesquecível. Ela e a amiga fazem vocal de apoio no refrão 'Nothing's gonna change my world', em todas as vezes em que ele foi cantado. Eles foram viajar, escolheram outras duas canções para o compacto e Across The Universe ficou engavetada.  
"Sons de risos, sombras de amor tocam meus ouvidos atentos, instigando-me e convidando-me"
Sounds of laughter
Shades of love
Are ringing
Through my open ears
Inciting and inviting me.
 
Não resisto! Felizmente, um produtor frequentador de Abbey Road ouviu a música, encantou-se com ela e propôs e foi aceito que fosse lançada num LP para levantar fundos. Claro que o próprio nome do LP acabou sendo o refrão da canção, um pouco modificado. Como a instituição beneficiada era o 'World Wildlife Fund' acresceram sons de pássaros no começo e no final da canção e o disco foi lançado em dezembro de 1969. A versão, entretanto, que o mundo conheceu foi outra, lançada em maio de 1970, no último disco lançado pelos Beatles, Let It Be, mas agora com orquestra e coral que o produtor Phil Spector encasquetou de colocar. Sinceramente, achei que caiu bem a orquestração pra acompanhar uma melodia tão... tão poética... 
"Pensamentos vagueiam como um vento sem fim por entre uma caixa de correio, eles vão caindo enquanto fazem seu caminho através do universo" 
Thoughts meander
Like a restless wind inside a letter box 
They tumble blindly as they make their way 
Across the universe 
 
Estou incorrigível, hoje ... Sim, era uma boa versão, mas os Beatles a abominaram! Tanto que 30 anos depois, lançaram o Let It Be inteirinho como ele gostariam que tivesse sido lançado, cru, básico, NAKED, que foi como eles nomearam o lançamento! Antes, e felizmente, em 1988, este Projeto Past Masters, que reuniu canções não lançadas em LP's, reviveu a versão do projeto de caridade, aquela em que UMA BRASILEIRA CANTOU COM OS BEATLES!!!
Bravo, Lizzie!! 
(ver aqui, neste LINK, como Lizzie corrigiu meu post) 
 
Já deu pra perceber a estrutura da canção, afinal já contei a letra de vários deles. São 6 versos, com letras diferentes, entremeados e finalizados pelo refrão, que é em duas partes, um pré-coro ('Jai Guru Deva Om..') e um coro (''Nothing is gonna..'). Reproduzi 5 deles já, em meu êxtase e o sexto estará mais à frente para finalizar. Aqui, John refuta aqueles que dizem que poesia sem rima não val. Esta pérola não tem NENHUMA rima, e é pura poesia, da melhor qualidade! 
 
Vamos a mais fatos e dados sobre a gravação! Era 4 de fevereiro de 1968 (sim, não fazia parte do Projeto Get Back), e John a trouxe todo animado, adorava sua composição, mas segundo ele, os demais não a receberam com o entusiasmo que ele achou que merecia. Será? Acho que não! O Take 1 foi apenas ele ao violão, George no Tamboura, ainda no ânimo com os instrumentos indianos, e Ringo nos tom-toms. No Take 2, uma revolução, George passou à cítara, Ringo tocou um Swarmandal, mais um indiano que fora tocado em Strawberry Fields Forever com magnífico efeito, e Paul tocou violão junto com John. Dei tantos detalhes assim porque o take sobreviveu e foi lançado no Anthology 2, veja neste LINK. Note que John tem dificuldade de respiração por causa das longas frases. Já no Take 6, abandonaram os instrumentos indianos como base e o take seguinte foi considerado bom, mas meio assim-assim. John não estava feliz. George Martin tentou ajudar e, no primeiro overdub de vocais de John, tocou a base em velocidade ligeiramente menor que a normal, para facilitar a vida do vocalista. Esqueci de dizer que era um domingo, e era de tarde, duas coisas que não aconteciam normalmente, mas eles tinham pressa para deixar canções prontas para o próximo compacto, como eu já disse. Já de noite, após um intervalo, chegou-se à conclusão de que vocais agudos eram necessários, e então veio Paul com a ideia das meninas, que fizeram muito bem o seu serviço, dividindo o microfone com o grande John Lennon, olha que honra, e foram convidadas a se retirarem. 
 
Pausa para Lizzie talk 
 
Lizzie acabou ficando conhecida dos rapazes, há inclusive um episódio interessante em que Paul empresta a ela um gravador de fita. Na volta ao Brasil, anos depois, Lizzie foi backing vocal de várias bandas brasileiras, e tem uma filha com Zé Rodrix. Num encontro mais de 20 anos depois com Paul, em Indianapolis, sem se apresentar, ele perguntou a ela: "Why do I remember you?" e ela respondeu "Because I sang with you on the same microphone". E ele se lembrou de imediato, com carinho. Incrível, né? Uma heroína Beatle brasileira! Aliás, estas e outras incríveis histórias de sua heroica passagem de dois anos em Londres, onde se esbarrou com os 4 Beatles inúmeras vezes, sorverei com fervor, em seu livro, que acabei de adquirir, autografado, com imagens e diagramação em altíssima qualidade, além de um poster brinde de babar.
 
Fim do Lizzie Talk 
 

Depois da saída das meninas, alguns overdubs diferentes foram tentados, como baixo e bateria tocados ao contrário, e alguns murmúrios múltiplos trazidos do banco de efeitos da gravadora, e uma guitarra e um som de harpa, que também foram marcados para serem posteriormente tocados em reverso. John levou um acetato com o resultado, para casa e quatro dias depois, disse: "Não quero nada disso!". Gravaram órgão (Martin), piano (Paul), guitarra (George) e chocalho (idem),  e novos vocais e harmonias de George e Paul. John estava desapontado com ele mesmo, chateado pela banda não ter conseguido um arranjo decente, e, ao final daquele dia decidiu-se que Across The Universe ficaria de fora do próximo compacto que, pela primeira vez, não teria uma original Lennon: seria Lady Madonna, de Paul e The Inner Light, de George, aliás, a primeira vez que nosso guitarrista solo teve essa distinção. Felizmente,  Spike Mulligan lá estava, como convidado de George Martin, simplesmente amou a canção e fez o trato com John para usá-la naquele disco beneficente de que já falei, mas ela somente veria a luz do sol em dezembro de 1969. Antes disso, ela foi tentada no Projeto Get Back, em janeiro. John a trouxe ao grupo no dia 6, ensaiaram algumas vezes, desta vez com John na guitarra base, George em outra, com pedal Wah Wah, Paul no baixo, Ringo de novo nos tom-tom's. Nesses ensaios, Paul harmonizava com John em alguns versos e dobrava no coro.  Eles ouviram a versão com quase um ano de idade, que já estava com os sons de pássaros colocados por conta do projeto de caridade no qual seria incluída. 
John, entretanto, desta vez estava chateado com o fato de ela ser lenta, o que seria inadequado para o Projeto de volta às origens. O ponto final da possível participação de Across The Universe no Projeto Get Back foi, entretanto, sua possível utilização num EP junto às quatro canções originais do álbum Yellow Submarine. É que o público se mostrou indignado (adjetivo muito atual) por terem-nas lançado junto com canções de trilha sonora do filme, composições clássicas de George Martin. Enfim, decidiram lançar o EP com 5 canções, para dar 'more value for the money' para aquele povo insensível que não sabe reconhecer o valor da boa música. Isto posto, os Beatles nunca mais encostaram em Across The Universe, pois seria utilizada aquela versão já gravada, com as meninas e os pássaros. Você viu esse EP com as 4 canções de Yellow Submarine? Não? Nem ninguém! Ficou na prateleira! 

Mas finalmente chegou 12-12-69, quando o mundo conheceu a nova canção dos Beatles, junto a outros astros do momento, veja que lista ótima! E a capa mostra caricaturas de todos, inclusive dos nossos queridos, com o visual da época, como vimos na capa de Abbey Road. E note como o refrão de Across The Universe virou o nome do álbum. A versão tem nossa Lizzie e sua amiga, os pássaros e barulhos de crianças, e foi lançada em Mi Bemol, portanto meio-tom acima do original, que era em Ré. Ouça neste LINK. 
 
Finalmente, a versão do álbum! Numa primeira tentativa, o projeto foi dado a Glyns Johns, que felizmente se lembrou de Across The Universe, mas os Beatles recusaram seus mixes. Chamaram então Phil Spector e lhe deram carta branca. Ele então pôde usar sua técnica de Wall of Sound, e para isso chamou 50 músicos e cantores ao Estúdio 1. Ele preparou arranjos de orquestra e coral. Vai contando: 18 violinos, 4 violas, 4 violoncelos, 1 harpa, 3 trompetes, 3 trombones, dois violões, 14 cantores, somou? Deu 49? Errou? Não! Ele chamou também Ringo Starr. A grande sessão foi em 1 de abril de 1970. Ele reservou um gravador de 8 Canais (ou faixa, pistas, tracks, como quiser chamar), colocou a base de 7-2-68 no Canal 1 , o novo vocal de John, do dia seguinte no Canal 2, o piano de Paul e a guitarra e chocalho de George no Canal 3, e colocou a orquestra pra tocar, de forma separada, cordas em geral no canal 4, mas apenas violinos no Canal 5, metais, nova bateria e novos violões no Canal 6, o coral no Canal 7, e mais metais, bateria e coral no Canal 8. Uau! Esta, a filosofia da Parede de Sons! Deliberadamente, Spector sumiu com as vozes femininas, uma pena. Ah, interessante que aqui, ele reduziu a velocidade da gravação, também em meio tom, passando do Ré original para o Ré Bemol. Portanto, NENHUMA das versões de Across The Universe tinha o tom original gravado pelos Beatles, até 2003, quando o Let It Be Naked foi lançado!!! Ele é tão NU que nem tem as meninas!! 
 
Voltando ao que foi lançado no álbum Let It Be, tenho que admitir que ficou linda a tal parede de sons. Ouça e note uma introdução em três compassos, no primeiro somente John no violão, Ringo entrando com o tom-tom nos dois seguintes, e seguem apenas os dois instrumentos, com John já cantando os quatro compassos do Verso 1 'Words are flying out ...' em tempo 4/4 nos primeiros três e alterando para 5/4 no último, após o '...universeao 'anunciar' o Verso 2 'Pools of sorrow, waves of joy...', também em quatro compassos, mas com uma variação de tempo no terceiro, para 2/4. Essa extensão no último compasso do Verso 1 fora introduzida para dar tempo de John respirar, lembre-se como ele se atrapalhou nos ensaios originais, cujo LINK coloquei ali em cima. O som cheio da voz e do violão durante os versos são efeito de 'double-tracking' e 'flanging', parece que há vários John's cantando e tocando violão. E agora vem o 'Jai Guru Deva..." do pré-refrão com a orquestra subindo, e no primeiro 'Oooom', o coral entrando e arrepiando a gente. À essa altura, o único Beatle que se ouve é George com seu chocalho, porque o violão e bateria originais de John e de Ringo são diminuídos em favor de mais violões e também do próprio Ringo, mas vindos da gravação do Wall Of Sound. Na próxima seção, os Versos 3 e 4 têm o mesmo tempo do Verso 1, e se ouve a orquestração direto ao longo deles, e no segundo refrão, perceba a guitarra wah-wah de George, lá da gravação original de 1968. Os Versos 5 e 6 têm os exatos tempos dos Versos 1 e 2, mas com orquestração e coral direto, e depois vem a conclusão fenomenal de 12 compassos, com sucessivas repetições (são 6 vezes) de 'Jai Guru Deva', entrando George com sua guitarra e, finalmente, chega Paul em oito notas ascendentes de seu piano em cada um dos compassos a partir do quarto, que ele gravou lá atrás! Um mix muito bom! Mas tenho no meu coração que faltaram as vozes das meninas, entre elas a heroína brasileira Lizzie Bravo.
Across The Universe foi regravada por muitos cantores, incluindo David Bowie, numa gravação que teve a participação do próprio John Lennon, bem recebida pelo autor, e mal recebida pela crítica. A versão que mais gosto, entretanto, me emocionou tanto que mereceu post meu, e muito da emoção foi por conta da participação de seu filho Sean fazendo uma segunda voz para Rufus e Moby, cada um destes dois últimos cantando o lead em uma oitava diferente, aliás, chorei de novo quando revi agora, e deixo aqui pra dividir com vocês, finalizando este capítulo. Neste LINKnão perca, e reserve um lenço...
"Um amor incondicional sem limites que  brilha à minha volta como milhões de sóis e me chama para ir pelo universo"

 Finalizo com a declaração de John: 

É a minha melhor letra, ela funciona sem a música!

14. Let It |Be (Dream Self Song by Paul McCartney)

Paul sonha com sua mãe: 'Quando eu me encontro em momentos difíceis, Mãe Maria vem para mim, sábia, e diz: Deixa estar. E nas minhas horas sombrias ela está em pé bem na minha frente, sempre sábia, e diz: Deixa estar' 

Isso mesmo, parece que uma constante naqueles tempos, mais precisamente em 1968, Paul, assim como, John, como George, e até como Ringo, estava preocupado com os rumos da banda, e ele teve uma visão de sua mãe Mary, em sonho, dizendo Let it be.... mas a quem lhe perguntava se Mary não era a mãe de Jesus, ele deixava a critério do avaliador a interpretação. Só não lhe viessem com a esculhambação de dizer que seria Marijuana (maconha), que ele ficava doido. Paul, como John, perdera sua mãe cedo, mas para o câncer de mama, quando ela ainda atuava como enfermeira, e ainda antes dele encontrar John. Aos 14 anos, um Paul arrasado encontrou consolo num violão que seu pai Jim lhe dera, que era o presente original, mas Paul queria também cantar, e não daria, com trompete. O jovem Paul enfiou a cara no instrumento, e ficou tão bom, que impressionou John no encontro no pátio de uma igreja, menos de 9 meses depois. Foi como uma gestação, sendo a semente, a dor da perda, e sendo o parto, o nascimento da maior dupla de compositores de todos os tempos. Depois da homenagem, ao mencionar a mãe numa canção, Paul também deu o nome dela à sua primeira filha com Linda, que nasceu em 1969. 
 
Pausa para uma fofoquinha...
À parte desta terna inspiração veiculada, com o nome da canção ditado por sua mãe em sonho, há uma outra, paralela, menos emotiva. Paul contou a Mal Evans, o grande (mesmo) companheiro assistente, antes roadie, para todas as horas, que em uma sessão de meditação (que aprendeu com o Maharishi), ele tivera uma visão com o gigante (metro e 96) amigo lhe dizendo "Let it be" em reposta a suas mágoas com o momento da banda. Verdade ou não, é que na primeira vez que ele a tocou em estúdio, ainda longe de ter arranjos e letras finas, ele cantou 'Mother Malcom', ao invés de 'Mary'.... duas vezes. Era setembro de 1968, sessão para Álbum Branco. Bem, visão da mãe ou do amigo, não interessa.
Fim da fofoquinha 
 
A composição obedece aos critérios Beatle de fazer música, levado ao extremo: não há repetições de letra entre os 6 (seis!!) versos cantados, e ainda tem o requinte de mudar levemente a letra entre um refrão e outro ('Whisper words of wisdom' e 'There will be an answer'! Isso é Paul McCartney. Os Versos 1 e 2 contam o encontro dele com sua mãe em sonho, os Versos 3 e 4 estendem o benefício do conselho aos que estão magoados, com o coração partido, e aos que estão separados por algum motivo, e os Versos 5 e 6 retomam o contato com a mãe mas de uma forma diferente, contando que ela é uma luz que sempre brilha a seu lado. Muito lindo! Lembrando disso, deixo registrado aqui um momento de emoção de Paul, já mais recente, quando ele anda de carro com um apresentador de Talk Show. Realmente tocante, neste LINK. Interessante que a única rima da canção é no fonema 'ee'' ou 'i' em português, 'be-me-see-agree'. Além dos seis versos cantados, há um verso instrumental na introdução, ao piano, e dois acompanhados com solos de guitarra. 
 
Muitos ensaios e versões estavam reservadas a Let It Be, desde que Paul a apresentou oficialmente ao Projeto Get Back, nos estúdios de Twickenham. Já no dia 3, Paul tocou para Ringo, um verso e um refrão, mas de fato mesmo foi no dia 8, primeiro apenas com ajuda de Ringo e John, e ainda usando vez ou outra o incrível "Mother Malcom" na letra, e no final do dia, com a chegada de George, com John já arriscando uns vocais de apoio, mas a canção ainda estava sem forma, nada que valesse a pena ser contado como ensaio. No dia seguinte, a coisa ficou mais definida, por exemplo, John, que começou com sua guitarra, já havia passado ao baixo nos últimos dos 16 ensaios do dia, já que Paul ficaria ao piano, e eles tinham aquela ideia de não ter acréscimos posteriores no projeto, a canção tinha que ser executada integralmente por eles ao vivo. No dia 10, George saiu da banda, voltou 10 dias depois, já com Billy Preston e seus teclados no barco, para quem Paul apresentou a canção no dia 23 e, dia seguinte  Paul ensaiou Let It Be 14 vezes, mas só com seus companheiros de banda. Foram mais 18 vezes no dia 25, mas tudo parecia ainda desconjuntado até que, na última do dia, ele falou para o produtor: "Grave a próxima que será ótima!" E foi! E foi boa o suficiente pra ser lançada no Anthology 3, veja, neste LINK, que ainda não há a letra dos Versos 5 e 6, ele repete a dos Versos 1 e 2, mas a estrutura já está toda lá, com dois bons solos de George em duas vezes 8 compassos do meio da canção, mas ainda sem o órgão de Billy. E a introdução ainda não é a que conhecemos, mas a mesma sequência de acordes descendentes ao piano do final, a chamada coda, que se ouve também em duas vezes no meio da canção, introduzindo os solos. 
 
Vocês viram que os números de ensaios começaram a aumentar, né... pois bem, no dia seguinte, não se perca, dia 26, foram mais 28 vezes! Era a progressão em busca da 'batida' perfeita, agora com a presença do órgão de Billy Preston, em especial na segunda coda intermediária, trazendo um som de igreja à canção.. Houve mais 12 ensaios no dia seguinte e, nos dois dias em que se decidiu fazer (e se fez) o show no terraço, Let It Be foi levada apenas uma vez, com nada de novo. Depois do show, era o último dia do Projeto, pois Ringo começaria a filmar seu novo filme, com Peter Sellers, então ocorreram os 8, na verdade, 9 takes finais, nem todos indo até o fim, todos já começando com a introdução definitiva ao piano, e os que foram até o final, tinham, finalmente, as letras definitivas dos dois versos finais, ufa! Uma das versões foi para o filme Let It Be. 
 
A razão do 'na verdade' ali de cima, é que os takes foram numerados 20 a 27 (!) por causa da claquete do filme, acho que ficaram com vergonha de mostrar no filme que já haviam atingido a marca centenária de ensaios, sim, pode contar, naquele dia seria o 101º ensaio. Só que após o Take 27, que ficou ótimo, resolveram fazer mais um, com o mesmo número, então virou o Take 27b, o primeiro ganhando a alcunha de 27a, escolhido como o melhor. Ufa! Terminou? Nããão! George ficou meses matutando que seu solo de guitarra do escolhido Take 27a não estava como alguns que ele havia conseguido em outros takes, e chamou Chris Thomas ao estúdio no dia 30 de abril para gravar mais um solo, matador, que materializar-se-ia no compacto quase um ano depois. 
 
Agora terminou? Nããão! Já em 1970, no dia 4, ocorreu a última sessão de gravação dos Beatles, com Paul, George e Ringo, e George Martin, que trouxe um arranjo de violoncelos e metais para ser gravado e incluído em Let It Be no compacto a ser lançado. Nesse dia, George fez um novo solo de guitarra, Paul tocou um piano elétrico e um chocalho, e Ringo alguma bateria. Finalmente, terminou? Siiiim, no que tange a participação de Beatles no processo, mas não na manipulação de versões, porque, como já se sabe, Phil Spector foi chamado para produzir o LP, e escolheu o solo de guitarra de George do dia 4 para ser lançado no LP, além de aumentar o som dos metais de George Martin, e colocou eco no chocalho de Paul dos versos finais e ressaltou o chimbau (hi-hat) de Ringo nos versos intermediários. Pra mim, afora a escolha do solo mais recente de George, foram ótimas decisões. O solo de George do 'single' é o que mora em meu coração, é aquele que eu toco em meu 'air guitar'. Spector também acrescentou um terceiro refrão ao final, originalmente com dois, desta forma fazendo a canção invadir em um segundo o quinto minuto de exibição de uma pérola, muito admirada e regravada ao longo dos últimos 51 anos.
 
Por incrível que pareça, Let It Be teve 'mixed reviews', no lançamento do compacto, em março de 1970, tendo exaltadores, e detratores, um deles o próprio Lennon, que achava que aquilo não era para os Beatles lançarem, oh, come on, John! O compacto, que tinha a nonsense You Know My Name Look Up The Number no Lado B, atingiu 'apenas' o N°2 na Inglaterra, mas não falhou em alcançar o topo nos EUA, garantindo 3 recordes: (1) tal como Elvis Presley, os Beatles tiveram o seu 7° ano em sequência com pelo menos um hit N°1 na parada americana, carregando junto (2) o produtor da canção George Martin, que igualou-se ao produtor de Elvis, mas o (3) é só deles, pois foi a primeira vez que uma entidade compositora, no caso, Lennon/McCartney, atingiu tal feito, tendo ao menos um N°1 em 7 anos seguidos, 1964, 1965, 1966, 1967, 1968, 1969 e 1970... 
 
Quantos mais não seriam, se os Beatles continuassem juntos e lançando canções como My Sweet Lord, Another Day, Uncle Albert/Admiral Halsey, Imagine, Happy Christmas, It Don't Come Easy, Give Me Love, My Love, Mull of Kintire, Band On The Run, Photograph, Live and Let Die, Mind Games, Whatever Gets You Thru The Night, Steel and Glass, With a Little Luck, Just Like Starting Over, Woman, Ebony and Ivory, Tug of War, e tantas outras? 
 
Esta é a questão que fica ... 
e também o conselho de Paul ... 
na canção de despedida dos Beatles... 
Let it be!

15. You Know My Name (Nonsense Song by John Lennon) 

        (Look Up The Number)

John brinca: 'Você sabe o meu nome, procure o número. Você sabe o meu nome, procure o número Você você sabe você sabe meu nome. Você você sabe você sabe meu nome. Boa noite e bem-vindo ao Slaggers, apresentando Denis O'Bell, Venha Ringo, vamos ouvir o Denis! Boa noite! Você sabe o meu nome, melhor olhar o número'.
 
Essa verdadeira brincadeira começou com John admirando uma lista telefônica na casa de Paul, e seu anúncio "You know the name, look up the number", falou da ideia pra canção pra Paul, que perguntou 'Ok, o que mais?" e John respondeu: 'Só isso... quero que seja um mantra'.... e só nisso ficou, então variaram nos ritmos. Veja ao lado que era um pouquinho diferente. E John, sempre irônico, investiu nos textos e nos murmúrios, lembrou-se de um conhecido da época do filme A Hard Day's Night, e colocou o nome com uma letra trocada (o certo era O'Dell). As 3 primeiras sessões foram em 1967, com os 4 Beatles, e mais o saxofone de Brian Jones, dos Rolling Stones, mas ficou esquecida. John e Paul voltaram a ela apenas em 1969, e o técnico de som registrou que eles estavam muito felizes trabalhando nela, e dividindo um microfone só, como não faziam há anos, e aquela foi também a última vez.... triste! Ela foi lançada em 1970, em compacto como Lado B de Let It Be, direto para Nº 1 das paradas americanas (não da inglesa, onde topou no 2º posto), decerto ter sido o lançamento mais desequilibrado da história, uma linda balada no Lado A, e uma comédia musical no Lado B. Paul chegou a declarar que ela era a melhor canção que os Beatles haviam gravado (!!), mas eu reputo como um exagero sem sentido, aliás, que foi o Assunto que escolhi para descrevê-la, nesta minha saga. 
 
Vamos ver se consigo trazer um pouco mais de luz a essa estranha obra dos Beatles que, decerto, está entre as mais desconhecidas do grande público. Mesmo fãs terão dificuldade de ter alguma recordação dela. A primeira das 3 sessões em que atacaram aquela ideia em 1967, foi em 17 de maio, logo após finalizarem-se as sessões do estupendo Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band. Foi uma sessão de experimentação, com John usando guitarra ou piano, Paul, no baixo ou guitarra, e George e Ringo em seus instrumentos usuais, tendo a verão alternativa escolhida para seguir adiante, o que ocorreu em 7 de junho, com pouco progresso, basicamente overdubs de atabaque e palmas sobre o Take 9, que tinha John ao piano, mas ainda fizeram mais 5 takes, ainda experimentando. Dia seguinte, houve a mudança de ritmo da canção para o que se poderia identificar como Parte 2, um ska bem gostoso, em 12 takes (recomeçando a numeração), agora com Paul ao Piano, John e George em guitarras e Ringo na bateria. Na Parte 3, em ritmo de jazz, no mesmo dia, com a presença de alguns convidados tendo acesso a equipamentos de percussão, e a apitos e gaitas. Seguiu-se uma Parte 4, com 5 takes, com Paul ao piano, e uma Parte 5, com John no baixo, Ringo na bateria e George num vibrafone que, mesmo sendo novidade, foi considerado bom com apenas 1 take. Foi aí que o guitarrista Brian Jones contribuiu com um saxofone, que foi o instrumento que trouxe para a sessão. E Paul, claro, também fez sua linha de baixo ao longo de todas as partes! 
 
Uma mixagem de 6 minutos das 5 partes que emergiram daquelas primeiras sessões foi montada para futura revisita da banda que, entretanto, passou a se dedicar a um compromisso maior: a participação na 1ª transmissão ao vivo via satélite para o mundo todo, para o qual John fez, sob encomenda, nada menos que All You Need Is Love. E depois veio a morte de Brian Epstein, e o novo projeto Magical Mistery Tour, e a 'nossa' canção foi ficando no esquecimento. E veio a temporada na Índia, e o Álbum Branco e o novo filme, Yellow Submarine, e ela na prateleira, até que John se lembrou dela e chamou Paul ao estúdio, para finalizá-la, no dia 30 de abril de 1969, ou seja, a alguns dias de completar dois anos das sessões iniciais. Foram momentos de diversão, com John e Paul dialogando num mesmo microfone, com sorrisos nos rostos. Tosses, murmúrios, gemidos, cuspes, pigarros, imitações, vozes diferentes, foi uma plêiade de sons vocais que eles introduziram, felizmente tudo registrado. Na versão que foi ao disco, eles eliminaram a Parte 2 em ska, mas ela completa, ou quase, está aqui neste LINK, liberado no Projeto Anthology.

                                                       DIVIRTAM-SE!!

Houve um projeto de lançar YKMNLUTB como Lado A de um compacto da Plastic Ono Band a nova banda que John havia montado como veículo de suas canções e de Yoko, tendo no Lado B, a ótima What's The New Mary Jane, que havia 'sobrado' do Álbum Branco. Só que, as duas sendo Lennon/McCartney, não poderiam ser lançadas por outra banda que não os Beatles. E a canção continuou na prateleira, já com um formato reduzido, para viabilizar transmissões em rádios. Finalmente, chegou sua hora em abril de 1970, como Lado B de Let It Be, conforme já falado.

Nonsense? Sim, mas fez todo sentido!!! 

 

Com isto, termino a descrição de todos os álbuns dos Beatles.

A partir de Rubber Soul, todas as canções tiveram um post pra chamar de seu.

Agora, farei um ajuste fino, produzindo um post para cada uma das canções dos cinco primeiros álbuns

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