Esta é a 7ª canção do 1° LP do Álbum Branco
a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK
É uma de 15 canções com discursos para grupos
as demais 14 canções de mesmo Assunto e Classe, neste LINK
Atenção, canções com títulos em vermelho
são links que levam a análises sobre elas.
7. While My Guitar Gently Weeps (Group Speech Song by George Harrison)
George expõe: ''Eu olho vocês todos, vejo o amor que aí dorme, enquanto minha guitarra suavemente chora"
A desilusão com as pessoas e a contemplação do estado das coisas são o cerne da canção. A decepção é direcionada a pessoas em geral mas, no particular, certamente a seus próprios companheiros John e Paul, que ele sentia terem voltado da Índia meio que afastados de seu guitarrista, estavam assim-assim com a experiência que tiveram, achando que foi meio perda de tempo, e George os critica por não terem captado o âmago das mensagens, e aproveitado para crescerem como pessoas. A contemplação está nos versos (são dois), e a desilusão está nas pontes (são duas). Nos versos, George observa ("I look") e nota ("I see" e "I notice"), e conclui com um conselho, para si e para os outros ("With every mistake we must surely be learning"). Nas pontes, George lamenta ("I don't know why..." e "I don't know how..."), acusando as ´pessoas' de terem se pervertido e desviado do caminho, e conclui "no one allerted you" e "they bought and sold you". O Verso 1 é repetido em parte na conclusão, quando George olha para todos e vê o amor hibernando, enquanto sua guitarra suavemente chora. É lindo demais! Aquela criação mostrava como George crescera como compositor, abrindo caminho para outras duas obras-primas, Something e Here Comes The Sun, que viriam no ano seguinte. E ele acabou trazendo Eric Clapton para fazer um dos solos de guitarra mais cultuados da história. Mas agora, vamos aos detalhes!
A canção, embora não tenha sido criada durante o retiro na Índia, foi apresentada por George em sua casa, em Esher, no final de maio, juntamente com outras que ele, John e Paul trouxeram de lá. Na demo, que tinha letra levemente diferente, ele a tocou em seu violão, Paul acrescentou um órgão nas pontes e um elogio ao final: "Cool!!", ele disse. Apenas no final de julho aconteceram os primeiros dois Takes, na EMI, apenas com George e Paul presentes, com este último num harmônio. Era opinião de todos que aquela versão apenas acústica estava linda o suficiente, e profissionalmente executada, para ver a luz do sol na edição final, aliás, como acústicas ficaram Blackbird (Paul) e Julia (John), no mesmo álbum. Bem, naquele dia, os outros dois Beatles chegaram e começaram a ensaiar uma versão banda, e o fizeram até a madrugada do dia seguinte. Só em meados de agosto, George decidiu que a versão final teria a presença de todos. Felizmente, um take acústico daquele dia alcançou o estrelato merecido quase meio sécu depois, quando inclusive ganhou um vídeo-clipe maravilhoso, que apresentarei ao final desta análise. Então, em agosto, numa longa sessão, 14 takes aconteceram, com George na guitarra, Paul no baixo, John no órgão e Ringo na Bateria, um em cada faixa da fita, reduzida ao final no Take 15, abrindo duas faixas para acréscimos futuros. E quase outro mês se passou. O 3 de setembro de 1968 viu a primeira sessão de um gravador de 8 faixas nos estúdios de Abbey Road, mas foi por pressão dos Beatles, que exigiram que fosse interrompida a fase de testes, e botaram pra rodar o equipamento. Sendo assim, as duas faixas livres do Take 15 viraram 6, no Take, que foi renumerado para 16, entretanto, aconteceu aquilo que se diz: "Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza!". Naquele dia, foi apenas George, usando duas faixas para seu vocal e outra para a guitarra da sessão solo, mas tentando fazer sua guitarra chorar, como na letra, ele quis repetir aquela técnica de gravação reversa, novidade que lançaram em I'm Only Sleeping, e ficou nisso até de madrugada. O dia 5 viu a volta de Ringo, depois do entrevero de Back In The USSR, com sua bateria recheada de flores, e preencheram as faixas com um monte de coisas, tanto que a bateria ficou inaudível! George levou a fita pra casa, ouviu, reouviu e disse: "PARA TUDO!" (ai que vontade de colocar o acento no 'pára'..) E jogou tudo no lixo, e decidiu começar tudo do zero! Tanto que aquele dia 5 nem foi considerado como um dia de gravação, e o Take válido era ainda o 16. No dia 6, entretanto, ele pegou carona para o estúdio com um amigo dele, chamado Eric Clapton, que morava no mesmo bairro, e no meio do trajeto, conversando sobre a dificuldade de fazer sua guitarra chorar, ele o chamou para tocar sua guitarra na canção, ao que ele respondeu: "QUEM, EU? TOCAR COM OS BEATLES?". Não que ele não fosse já famoso, estava dissolvendo a banda CREAM e já era considerado GOD, mas Beatles, como se diz hoje, era OUTRO PATAMAR. Então, ele entregou George no estúdio, e somente se apresentou no meio da sessão. Nesse meio tempo, os quatro Beatles já estavam firmes, com George no Violão, John na guitarra, Paul no órgão e Ringo na bateria. Segundo George, o clima, entretanto, estava ruim, com seus amigos se esforçando pouco, mas quando Eric chegou, o ambiente mudou, todos ficaram animados, inclusive Paul assumiu o piano e criou ali mesmo aquela introdução maravilhosa que ouvimos até hoje, lembrando o que John fizera com Ob-la-di Ob-la-da. E Ringo arrebentou no hit-hat (chimbal), e depois no pandeiro. Então, naquele dia, foram 28 takes, não se sabe quantos com a presença do convidado ilustre. Eric Clapton fez ali o mais cultuado solo de guitarra de uma canção dos Beatles, sua guitarra realmente chorava, com o preciso uso da alavanca. Além da sessão solo, a guitarra 'conversa' com a voz de George nos versos, introduz as pontes, e no final, acompanha os lamentos do cantor com mais lágrimas de sua guitarra, e nós é que lamentamos o fade-out, sempre pensamos que poderiam continuar indefinidamente. No dia seguinte, ainda teve uma sessão final, com George dobrando seus vocais, e Paul acrescentando uma lead guitar nas pontes, Ringo mais pandeiro e John, surpreendentemente no baixo!
Antes do final, acrescento aqui uma outra razão para George ter chamado Eric. Veja as palavras de George sobre o amigo e veja quem entra, do nada, na revelação:
"I admired him as a guitar player and I had no confidence in myself as a guitar player, having spent so many years with Paul McCartney. He ruined me as a guitar player. I rated Eric as a guitar player and he treated me like a human...I had been through this sitar thing. I had played sitar for three years, and I had just listened to classical Indian music and practiced sitar, except for when we played dates, studio dates, and then I'd get the guitar out and just play, you know, learn a part and play for the record. But I had really lost a lot of interest in the guitar.”
Pobre George!
Não se sabe por que Eric Clapton não foi creditado no álbum. Isso causou um constrangimento considerável, porque os fãs escreviam para o guitarrista solo dos Beatles, não entendendo como ele soava tão bem, tão blues., aonde ele havia desenvolvido essa técnica, e tal, ai, ai, ai... O que não impediu que fizessem juntos um show histórico no Japão, quase 25 anos depois, quando Eric conseguiu se superar e sua guitarra ganhou a alcunha 'Psycho Guitar' de seu amigo, ao final da apresentação, ouça o porquê neste LINK, uma pena que não há vídeo de qualidade! A força da canção sobrevive até hoje: um music video maravilhoso, de 2016, tem uma versão voz e violão incrementada com um arranjo de cordas de George Martin, que acompanha uma bailarina que brinca com a letra da música, que sai do papel, as notas saem da pauta, e ganham vida num personagem que dança com ela e passa por portas e janelas desenhadas no mundo real, que já foi visto por quase 60 milhões de pessoas. Lindo, lindo, lindo! Deixo aqui o LINK, para seu deleite! E note nele uma letra diferente no último verso, genial. Se você achou que "I look at the world and I notice it's turning", ou seja, estou contemplando tão profundamente que percebo o mundo girar, era o cúmulo da contemplação, dá só uma olhada na linha final desta versão:
As I'm sitting here doing nothing but aging,
still my guitar gently weeps...
É ou não é o ápice da contemplação, do dolce-far-niente?
'não estou fazendo nada... apenas envelhecendo'
Bem, não é tão nada assim, porque além de ele fazer AQUILO TUDO, afinal,
sua guitarra ainda choraaaaaava...
LINDAMENTE!!!
Essa música é MT Boa e o eric e mito
ResponderExcluirHomerix,as suas resenhas são sensacionais! Essa então, nem se fala. Meus Parabéns!
ResponderExcluirMuito bom Homerix,parabéns.
ResponderExcluirTem um cover do álbum todo, feito pela cantora Morgan James (YouTube), você conhece?
Obra prima dos Beatles , composição de George Harrison...
ResponderExcluirUma pena George ter ido tão cedo. Após anos eclipsado por Paul e John, amadureceu e desabrochou como compositor. Se continuasse na estrada muito deveria contribuir musicalmente.
ResponderExcluirExcelente texto para uma obra prima. George crescia muito como compositor e essa musica é simplesmente fantástica. Bom, falar do Clapton é chover no molhado.
ResponderExcluirParabéns
Repetidamente excelente material meu caro Homero. E esta música é fantástica e a guitarreada... Salve George!
ResponderExcluirNaquele tempo todos eles estavam falando bobagens. Sem exceção. Essa declaração aí de George que Paul o arruinou é muito infeliz. Eu não estava lá para ver o que Paul fez para arruinar George, mas sinceramente...pelo resultado das gravações vemos que George nunca deixaou de ser um guitarrista da melhor qualidade. Portanto, se Paul tentou arruiná-lo, falhou drásticamente. E nunca deve ter tentado fazer nada disso.
ResponderExcluirUma vez eu vi uma coisa assim: o problema de George teria sido a grande quantidade de guitarristas sensacionais que surgiu nos anos 60. Além dos dois já citados temos nada menos que Jeff Beck, Jimmy Page e Jimi Hendrix! E mais alguns outros de peso. Daí que fizeram uma lista dos melhores e George teria ficado lá no oitavo lugar ou algo assim. Fizeram também uma lista de melhores baixistas e Paul ficou no primeiro lugar. Para piorar eram muitos que falavam alto na beleza do baixo de Paul em diversas musicas sem mencionar a guitarra de George. Também não mencionavam John nem Ringo. Mas eles não ligavam. George teria ficado aborrecido como se Paul estivesse fazendo de propósito tomando seu lugar como instrumentista. Mas Paul fazia isso porque era sua função como baixista genial. E não para prejudicar os companheiros da banda. Afinal estavam todos na mesma banda. Claro que não sei o que se passava na cabeça de Paul. Mas é meio difícil de crer que ele pensava " vou brilhar no baixo para que não escutem a guitarra de George" Nem tem o menor cabimento.
Isso porém pode ser, e muito provavelmente é, apenas especulação. Alguém tentando entender os motivos de George para falar algo tem sem sentido. O estilo dele nada tinha a ver com o estilo dos guitarristas das outras bandas. Nem por isso inferior. Era o estilo dele amado por todos nós. Vontade de por ele no colo agora e dizer como é grande meu amor por ele.
Eu gosto muito de dar atenção aos fatos porque o disse que me disse varia demais! Por isso fiz questão de dizer que o que acabei de postar deve ser especulação, algo que pode até ser esquecido, pois não sabemos se de fato aconteceu assim. E há muitos fâs que dão foco principalmente no negativo. Portanto eu não sei com certeza se Paul realmente não deu atenção ao que aprendeu na India. Sei com certeza apenas que John realmente jogou tudo fora. Mas qual é o fato que temos? Paul ainda pratica meditação. Paul participou do show beneficente para a Davyd Lynch Foundation que tem como objetivo levar a meditação para pessoas em área de risco. Na época ele deu uma entreivsta muito boa que está disponível no you tube. Você deve conhece-la. Paul conversando com David Lynch falando sobre aqueles dias na India com a cara melhor do muundo. Isso é fato.
Mas claro que pode ser que logo que voltaram, e diante de tantos problemas que passaram a enfrentar, Paul não tenha demonstrado tanto interesse. O fato é: ele incorporou sim a meditação em sua vida.
Outro fato é que Paul realmente criou aquela introdução maravilhosa. Quanta maravilha os Beatles produziram juntos.
Também ouvi dizer que George resolveu convidar Clapton para a gravação para haver pausa nas brigas. rs rs rs. Sempre que havia alguém de fora todos se comportavam muito bem e tudo fluia lindamente. Só os quatro tudo desandava.
Enfim, a música é mesmo maravilhosa. Mas isso é pleonasmo. Sé é dos Beatles é sempre maravilhoso.
Teus comentários são sempre os melhores!!!
Excluir