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segunda-feira, 12 de julho de 2021

Let It Be - O último Lado A

Esta é a 14ª canção da coletânea Past Masters #2, 15º Álbum Oficial dos Beatles

a história do álbum, assuntos e canções, aqui neste LINK


É uma de 9 canções sobre si mesmos, na Classe Sonho

                                        as demais 8 canções de mesmo Assunto e Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

14. Let It |Be (Dream Self Song by Paul McCartney)

Paul sonha com sua mãe: 'Quando eu me encontro em momentos difíceis, Mãe Maria vem para mim, sábia, e diz: Deixa estar. E nas minhas horas sombrias ela está em pé bem na minha frente, sempre sábia, e diz: Deixa estar' 

Isso mesmo, parece que uma constante naqueles tempos, mais precisamente em 1968, Paul, assim como, John, como George, e até como Ringo, estava preocupado com os rumos da banda, e ele teve uma visão de sua mãe Mary, em sonho, dizendo Let it be.... mas a quem lhe perguntava se Mary não era a mãe de Jesus, ele deixava a critério do avaliador a interpretação. Só não lhe viessem com a esculhambação de dizer que seria Marijuana (maconha), que ele ficava doido. Paul, como John, perdera sua mãe cedo, mas para o câncer de mama, quando ela ainda atuava como enfermeira, e ainda antes dele encontrar John. Aos 14 anos, um Paul arrasado encontrou consolo num violão que seu pai Jim lhe dera, que era o presente original, mas Paul queria também cantar, e não daria, com trompete. O jovem Paul enfiou a cara no instrumento, e ficou tão bom, que impressionou John no encontro no pátio de uma igreja, menos de 9 meses depois. Foi como uma gestação, sendo a semente, a dor da perda, e sendo o parto, o nascimento da maior dupla de compositores de todos os tempos. Depois da homenagem, ao mencionar a mãe numa canção, Paul também deu o nome dela à sua primeira filha com Linda, que nasceu em 1969. 
 
Pausa para uma fofoquinha...
À parte desta terna inspiração veiculada, com o nome da canção ditado por sua mãe em sonho, há uma outra, paralela, menos emotiva. Paul contou a Mal Evans, o grande (mesmo) companheiro assistente, antes roadie, para todas as horas, que em uma sessão de meditação (que aprendeu com o Maharishi), ele tivera uma visão com o gigante (metro e 96) amigo lhe dizendo "Let it be" em reposta a suas mágoas com o momento da banda. Verdade ou não, é que na primeira vez que ele a tocou em estúdio, ainda longe de ter arranjos e letras finas, ele cantou 'Mother Malcom', ao invés de 'Mary'.... duas vezes. Era setembro de 1968, sessão para Álbum Branco. Bem, visão da mãe ou do amigo, não interessa.
Fim da fofoquinha 
 
A composição obedece aos critérios Beatle de fazer música, levado ao extremo: não há repetições de letra entre os 6 (seis!!) versos cantados, e ainda tem o requinte de mudar levemente a letra entre um refrão e outro ('Whisper words of wisdom' e 'There will be an answer'! Isso é Paul McCartney. Os Versos 1 e 2 contam o encontro dele com sua mãe em sonho, os Versos 3 e 4 estendem o benefício do conselho aos que estão magoados, com o coração partido, e aos que estão separados por algum motivo, e os Versos 5 e 6 retomam o contato com a mãe mas de uma forma diferente, contando que ela é uma luz que sempre brilha a seu lado. Muito lindo! Lembrando disso, deixo registrado aqui um momento de emoção de Paul, já mais recente, quando ele anda de carro com um apresentador de Talk Show. Realmente tocante, neste LINK. Interessante que a única rima da canção é no fonema 'ee'' ou 'i' em português, 'be-me-see-agree'. Além dos seis versos cantados, há um verso instrumental na introdução, ao piano, e dois acompanhados com solos de guitarra. 
 
Muitos ensaios e versões estavam reservadas a Let It Be, desde que Paul a apresentou oficialmente ao Projeto Get Back, nos estúdios de Twickenham. Já no dia 3, Paul tocou para Ringo, um verso e um refrão, mas de fato mesmo foi no dia 8, primeiro apenas com ajuda de Ringo e John, e ainda usando vez ou outra o incrível "Mother Malcom" na letra, e no final do dia, com a chegada de George, com John já arriscando uns vocais de apoio, mas a canção ainda estava sem forma, nada que valesse a pena ser contado como ensaio. No dia seguinte, a coisa ficou mais definida, por exemplo, John, que começou com sua guitarra, já havia passado ao baixo nos últimos dos 16 ensaios do dia, já que Paul ficaria ao piano, e eles tinham aquela ideia de não ter acréscimos posteriores no projeto, a canção tinha que ser executada integralmente por eles ao vivo. No dia 10, George saiu da banda, voltou 10 dias depois, já com Billy Preston e seus teclados no barco, para quem Paul apresentou a canção no dia 23 e, dia seguinte  Paul ensaiou Let It Be 14 vezes, mas só com seus companheiros de banda. Foram mais 18 vezes no dia 25, mas tudo parecia ainda desconjuntado até que, na última do dia, ele falou para o produtor: "Grave a próxima que será ótima!" E foi! E foi boa o suficiente pra ser lançada no Anthology 3, veja, neste LINK, que ainda não há a letra dos Versos 5 e 6, ele repete a dos Versos 1 e 2, mas a estrutura já está toda lá, com dois bons solos de George em duas vezes 8 compassos do meio da canção, mas ainda sem o órgão de Billy. E a introdução ainda não é a que conhecemos, mas a mesma sequência de acordes descendentes ao piano do final, a chamada coda, que se ouve também em duas vezes no meio da canção, introduzindo os solos. 
 
Vocês viram que os números de ensaios começaram a aumentar, né... pois bem, no dia seguinte, não se perca, dia 26, foram mais 28 vezes! Era a progressão em busca da 'batida' perfeita, agora com a presença do órgão de Billy Preston, em especial na segunda coda intermediária, trazendo um som de igreja à canção.. Houve mais 12 ensaios no dia seguinte e, nos dois dias em que se decidiu fazer (e se fez) o show no terraço, Let It Be foi levada apenas uma vez, com nada de novo. Depois do show, era o último dia do Projeto, pois Ringo começaria a filmar seu novo filme, com Peter Sellers, então ocorreram os 8, na verdade, 9 takes finais, nem todos indo até o fim, todos já começando com a introdução definitiva ao piano, e os que foram até o final, tinham, finalmente, as letras definitivas dos dois versos finais, ufa! Uma das versões foi para o filme Let It Be. 
 
A razão do 'na verdade' ali de cima, é que os takes foram numerados 20 a 27 (!) por causa da claquete do filme, acho que ficaram com vergonha de mostrar no filme que já haviam atingido a marca centenária de ensaios, sim, pode contar, naquele dia seria o 101º ensaio. Só que após o Take 27, que ficou ótimo, resolveram fazer mais um, com o mesmo número, então virou o Take 27b, o primeiro ganhando a alcunha de 27a, escolhido como o melhor. Ufa! Terminou? Nããão! George ficou meses matutando que seu solo de guitarra do escolhido Take 27a não estava como alguns que ele havia conseguido em outros takes, e chamou Chris Thomas ao estúdio no dia 30 de abril para gravar mais um solo, matador, que materializar-se-ia no compacto quase um ano depois. 
 
Agora terminou? Nããão! Já em 1970, no dia 4, ocorreu a última sessão de gravação dos Beatles, com Paul, George e Ringo, e George Martin, que trouxe um arranjo de violoncelos e metais para ser gravado e incluído em Let It Be no compacto a ser lançado. Nesse dia, George fez um novo solo de guitarra, Paul tocou um piano elétrico e um chocalho, e Ringo alguma bateria. Finalmente, terminou? Siiiim, no que tange a participação de Beatles no processo, mas não na manipulação de versões, porque, como já se sabe, Phil Spector foi chamado para produzir o LP, e escolheu o solo de guitarra de George do dia 4 para ser lançado no LP, além de aumentar o som dos metais de George Martin, e colocou eco no chocalho de Paul dos versos finais e ressaltou o chimbau (hi-hat) de Ringo nos versos intermediários. Pra mim, afora a escolha do solo mais recente de George, foram ótimas decisões. O solo de George do 'single' é o que mora em meu coração, é aquele que eu toco em meu 'air guitar'. Spector também acrescentou um terceiro refrão ao final, originalmente com dois, desta forma fazendo a canção invadir em um segundo o quinto minuto de exibição de uma pérola, muito admirada e regravada ao longo dos últimos 51 anos.
 
Por incrível que pareça, Let It Be teve 'mixed reviews', no lançamento do compacto, em março de 1970, tendo exaltadores, e detratores, um deles o próprio Lennon, que achava que aquilo não era para os Beatles lançarem, oh, come on, John! O compacto, que tinha a nonsense You Know My Name Look Up The Number no Lado B, atingiu 'apenas' o N°2 na Inglaterra, mas não falhou em alcançar o topo nos EUA, garantindo 3 recordes: (1) tal como Elvis Presley, os Beatles tiveram o seu 7° ano em sequência com pelo menos um hit N°1 na parada americana, carregando junto (2) o produtor da canção George Martin, que igualou-se ao produtor de Elvis, mas o (3) é só deles, pois foi a primeira vez que uma entidade compositora, no caso, Lennon/McCartney, atingiu tal feito, tendo ao menos um N°1 em 7 anos seguidos, 1964, 1965, 1966, 1967, 1968, 1969 e 1970... 
 
Quantos mais não seriam, se os Beatles continuassem juntos e lançando canções como My Sweet Lord, Another Day, Uncle Albert/Admiral Halsey, Imagine, Happy Christmas, It Don't Come Easy, Give Me Love, My Love, Mull of Kintire, Band On The Run, Photograph, Live and Let Die, Mind Games, Whatever Gets You Thru The Night, Steel and Glass, With a Little Luck, Just Like Starting Over, Woman, Ebony and Ivory, Tug of War, e tantas outras? 
 
Esta é a questão que fica ... 
e também o conselho de Paul ... 
na canção de despedida dos Beatles... 
Let it be!

4 comentários:

  1. Vamos lá. Ler seus textos trazem tantas lembranças...e tantas historias que não se com certeza se verdadeiras...e tanta vontade de especular...rs rs rs. Tudo isso além das informações novas e essencias sobre as gravações. Nossa, como gravavam takes, hein? Olha, Paul ficou como o perfeccionista....mas penso que todos eram .Vi aqui o George querendo fazer, e fazendo, mais um solo de guitarra. Eles queriam que tudo ficasse perfeito. E ficava.

    Especulando. Paul teve o sonho com sua mãe. Ele sempre contou que foi o sonho. Então teve aquele outro dia que, durante a meditação ( não em sonho) não é que surge Mal Evans dizendo a mesma coisa que a nmãe tinha dito? Perfeitamente possível. Estava com Let it Be na cabeça... E em assin sendo ambas hstórias estariam corretas. Nas meditações tudo pode acontecer. Ontem não é que Gilberto Gil me apareceu me dando presente?
    Eu vejo a letra de Let it Be como sendo uma revelação do que estavam passando, Para mim está claro na letra. Times o trouble. Realmente estavam vivendo um tempo problemático. Although they may be parted there is still a chance they will see. Quem? Ringo, George e John. Estavam todos separados nos seus mundos particulares...mas havia chance que acordassem, que enxergassem. Evidentemente John não gostou porque a carapuça assentou. E a seu lado aquela senhora dava força aos pensamentos negativos de John. Isso não é especulação. John confirmou que ela dava força para a separação. E todos já vimos declarações delas diminuindo a importancia de Paul que seria apenas um Saliere enquanto John seria um Mozart.
    Tenho por mim que John se ressentiu exatamente porque, além de falar ao mundo que estavam com problemas, falou tudo de forma simplesemente linda numa música estilo spirituals que John sempre gostou.
    E aqui vem algo que só fiquei sabendo muito recentemente. Pausa para fofoca. Um dos motivos de Paul não ter gostado do Let it Be de Phil Spector foi ter incluído conversinhas de John entre uma música e outra. Eu sempre gostei das conversinha. Era tão... Beatle, tão inovador...Nunca acontecido antes. Só que algumas daquelas conversinhas eram pura ofensas a Paul. Antes de começar Let it Be podemos ouvir John dizendo qualquer coisa. Infelizmente não sei de cor...mas é alguma coisa sobre os anjos que vão cantar. Aquilo queria dizer que, depois de ouvirem uma música com letras profundas de autoria dele, ouviram xaropada de Paul sendo religioso. Tem uma pior onde John ataca Linda usando outro nome. Era um nome que John deu a Linda. Claro que Paul, ao ouvir o disco, ficou machucado. Por que John insistiu em machucá-lo? E por que Phil Spector inventou de colocar as ofensas de John a ele no disco? Talvez porque John não disse a Phil que eram ofensas, E ninguém ouvindo o disco entenderia assim. Eu mesmo adorava aquilo sem saber que era algo maldoso.
    Tudo isso teria sido evitado se Paul não tivesse ficado internado na fazenda. Se tivesse se levantado para estar lá no estudio com Phil numa boa e trabalhando com o mesmo amor de antes. Depois de pronto não tinha como mudar. Tenho mais coisinhas a dizer.

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  2. Agora podemos ver os videos...e o que vemos? Carinha de John muito boa fazendo uuuu. Simm, ele gostava da música, mas estava vivendo times of trouble,e assim como Paul não apreciava a presença de Yoko, posso quase jurar que John não apreciava a influencia de Linda. Então se vingava dizendo bobagens que nem sentia! Mas só de ver Paul aborrecido já valia a pena. rs rs rs. Eu costumo dizer que foi o tempo que ficaram feios. Sempre bom lembrar que o que fizeram quando lindos vale muito mais do que quando estavam confusos e cheiros magoas. Não estou me referindo às músicas. Porque a música não sofreu nada nesse tempo. Tudo continuou lindo. E quando juntavam então...Pra que coisa mais deliciosa do que ver John e Paul cantando I got a feeling?
    Experiência pessoal: estive por um tempo acompanhando on line umas práticas do Curso em Milagre. Pois um dia, a facilitadora falou sobre a luz que brilha em nós. Eu lembrei na hora de Let it Be. There is still a light that shines on me... Dei de meter a música no meio da conversa. Pediram a letra. Eu mandei um video com tradução. Todos ouviram e se emocionaram. Concluíram que ali estava exatamente o que diz o curso. A letra foi dissecada deixando muitos emocionados. Muito tempo depois recebi uma mensagem pelo messenger de uma pessoa que estava lá. Um homem. Ele me agradecia dizendo que aquela aula foi a melhor do curso. Segundo ele, graças a mim por ter me lembrado da música. Mas foi graças a Paul que a escreveu. Graças a Mother Mary, graças a Mal, graças aos Beatles, graças a Deus...E fiquei pensando se por acaso Paul conhecia o Curso em Milagres...pois a mensagem é a mesma da música.

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  3. E finalmente...É comum Let it Be chegar para mim quando estou com problemas. Outro dia ouvi daqui o som vindo da rua. E eu estava quase chorando de tanta dor por problemas pessoais. Let it Be virou para mim uma oração. Mas não a entendo como 'deixa estar par ver como é que fica", como muitos a entendem. É confiar e também fazer minha parte. Sem se torturar. Com fé. There will be an answer. Let it be. Adoro quando ele disse em algumas versões que there will be no sorrow.
    Paul tem aparecido com outras músicas dando conselhos. Isto é, a música de Paul. Outro dia ouvi na mente a Too Much Rain. E nem pensei na letra. Mas à noite, quando inventei ouvi-la apenas porque tinha surgido do nada, vi que a letra servia para mim também. E desde entao eu faço juras de que aquelas coisas tristes não mais acontecerão. I make a vow they won't happen again. Paul agora é meu conselheiro. rs rs rs.
    E não apenas ele. George veio em sonho...essa história é longa para contar aqui agora.
    E não é que as mais novas de Ringo também falam o que preciso ouvir? Ah, esses Beatles. Quando digo que sempre foram muito mais que músicas não acreditam. Mas foram sim. São.

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