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terça-feira, 31 de agosto de 2021

I'll Cry Instead, em 5 angústias

 Esta é a 2 ª canção do Lado B de A Hard Day's Night, o 3º LP dos Beatles

a história do álbum, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 5 canções de Saudade, na Classe Desespero.

                                       as outras 18 canções de mesmo Assunto e Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho são links que levam a análises sobre elas


9. I´ll Cry Instead  (Dispair Miss Song by John Lennon)

John se oferece: "Eu tenho todos os motivos do mundo para estar louco porque eu acabei perder a única garota que eu tinha. Se eu pudesse fazer do meu jeito, eu me trancaria a chave hoje, mas eu não posso, então em vez disso, eu choro. 
Após um encontro com Bob Dylan em janeiro, em que os Beatles se deliciaram com um disco do bardo, John havia se decidido que era hora de começar a falar menos para adolescentes e mais sobre seus sentimentos. Esta canção tem um leque memorável de angústias expostas com relação a seu relacionamento perdido ('"cause I've just lost the only girl I had"), em que ele passa, identifiquei cinco delas:



mas como não pode ("but I can't"), e até conseguir ("until then"), ele apenas chora, que é o título da canção ("I'll cry instead") . Aliás, que nem se pode chamar de refrão, mas é a ÚNICA letra que se repete ao longo de todas as linhas, impressionante a construção lírica do poema! A forma foi o mais-que-comum verso-verso-ponte-verso, depois repetindo a ponte e o Verso 3.
 
Musicalmente, alguns  destaques a serem feitos, são quatro músicos excelentes tocando magistralmente seus instrumentos regulares, com John no violão, Paul no baixo (foi bem variado, note o walking bass nas penúltimas frases de cada verso!), George na firme guitarra e Ringo na bateria (ah, ele tocou pandeiro também, aliás, que aparece até mais que a bateria). John cantou sozinho, sem as tradicionais harmonias que eles faziam tão bem, apenas dobrou seu vocal, em overdub. Tudo isso aconteceu em 1º de junho, a 1ª sessão de gravação após um mês de férias, depois das filmagens do filme (!). Foram seis takes iniciais, quando viram que estava curta demais para uma sequência do filme (ver abaixo), então fizeram mais dois takes, com a repetição das duas partes conforme acima falado.
 
O fato notável é que ela foi feita por encomenda para musicar aquela cena em que os quatro fogem do estúdio pela escada dos fundos e fazem malabarismos num helideck, para a qual acabou sendo aproveitada Can't Buy Me Love, porque foi considerada carregada de emoções demais, havemos de concordar, não é mesmo? Além disso, ficou ainda curta para preencher a cena toda. Ela nunca foi tocada ao vivo, mas felizmente foi ressuscitada num tributo a Lennon, num relançamento do filme em 1981, de fundo a uma série de fotos deles em 1964  passando em ritmo alucinante! Delicie-se neste LINK, que tem até uma repetição do Verso 1.
... eu disse 'felizmente' porque fizeram o tributo

mas foi 'infelizmente' por causa da razão para ele...

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Any Time at All? No, no, just imagine!

Esta canção abre o Lado B de A Hard Day's Night, o 3º LP dos Beatles

a história do álbum, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 19 canções Paquera de Garotas

                                       as outras 18 canções de mesmo Assunto e Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho são links que levam a análises sobre elas

8. Any Time at All  (Flirt Girl Song by John Lennon)

John se oferece: "A qualquer hora! A qualquer hora! A qualquer hora! É só me ligar e estarei com você.  Se você precisar de alguém pra amar, apenas olhe nos meus olhos, estarei aí pra te fazer sentir bem. 
A canção muito provavelmente foi feita no mês de férias que os Beatles tiveram em maio, após as sessões de filmagem de A Hard Day's Night. Tanto John quanto Paul levaram seus violões para seus diferentes locais de descanso, sendo o primeiro mais produtivo, produzindo três composições, uma delas, Any Time At All. E ela mostrou-se bem complexa, com 9 acordes. A estrutura é a repetição do par verso-refrão três vezes sendo que a última, entra uma ponte instrumental no lugar do verso, com acordes diferentes, deveras notável. John se coloca à disposição  da garota para amá-la, é só ligar! Foi praticamente uma repetição do tema de All I've Got To Do, de With The Beatles, de chamar ao telefone, enfim, mas desta vez num rock da melhor qualidade.  
 

Ela veio à vida numa sessão em 2 de junho, primeira após as férias. Foram sete takes iniciais, com todos em seus instrumentos usuais, depois passaram a  duas outras canções, e voltaram à noite para mais quatro takes de Any Time At All, desta vez com já com o excepcional piano de Paul, nos versos e na ponte!  
 
Marcante para mim é o início, com uma batida seca de Ringo, e John entra com o refrão a capella, lá em cima, num Beatle break, sem instrumentos "Any time at..." e a guitarra só entra no "..all". Note que são três as vezes em que a expressão é cantada em cada refrão, mas a segunda vez, quem canta é Paul, voltando John para a terceira. É sabido que Paul tinha mais alcance de vocal que seu companheiro. Os versos entram então, cantados uma oitava abaixo do refrão, e há duas vezes o artifício fundamental do overdub, porque seria impossível cantar direto os trechos, afinal John tinha que respirar
"I'll be there to make you feel right (If you're feeling) sorry and sad" e 
"There is nothing I won't do (If you need a) shoulder to cry on", 
as partes em azul são colocadas a posteriori. 
 
Notável é o piano que aparece nos versos, com uma nota comprida a cada acorde, e que também faz a ponte, antes do refrão final, uma notável sessão instrumental, primeiro em composição com a guitarra de George, e se destacando mais ao final da sessão com notas crescentes introduzindo mais um refrão. Esse belo piano foi ideia de Paul, já a caminho de ser considerado o melhor pianista entre os 4 Beatles! 
 
Depois daquela sessão de 2 de junho, nunca mais os Beatles tocaram Any Time At All, em nenhuma ocasião, no time at all, uma verdadeira lástima. Não encontrarão nada nesse sentido, nadinha mesmo, nem em sonho, aliás, podemos apenas imaginar a batida firme de Ringo, qual porta batendo, John mandando bem alto a capella Any time at all, já as guitarras entrando (djan djan djaaan) e logo segue Paul ainda mais alto em outro Any time at all, depois volta John com Any time at all, what you've gotta do is call and I'll be there.... 
 
Não, não adiantará chamar.... eles não virão jamais.... 
You can just imagine! 

Enfim, deixo aqui a canção, pra ajudar vocês a sonharem, neste LINK

domingo, 29 de agosto de 2021

A Trilha Sonora do filme A Hard Day's Night

Capítulo 38 


De minha saga  

O Universo das Canções dos Beatles

Todos os Capítulos da Saga têm acesso neste LINK 


38.1 O Cenário e Assuntos de A Hard Day's Night neste LINK

38.2 As 7 Canções da Trilha Sonora, 

São 7 canções que compõem o Lado A do álbum de mesmo nome


TODAS de autoria Lennon/McCartney

Vamos a elas!

Suas análises disponíveis a um clique sobre seus nomes!!!


BÔNUS!!! 

Abaixo, duas cenas do filme com canções dos Beatles orquestradas por George Martin

I - Cena da Discoteca, com Don't Bother Me e I Wanna Be Your Man

II - Cena de Ringo Starr com This Boy


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38.3 O Lado B de A Hard Day's Night, neste LINK

38.4 Lançamento e Recepção neste LINK 

 

Na 3ª viagem angolana, uma Misery repaginada

Ontem embarquei de novo no Submarino Angolano

Nesta semana, por problemas logísticos, não consegui produzir algo novo, e o que o DJ Paulo Seixas fez? 

Pegou o Songfacts de Misery, que eu produzira para a rádio do lado d'cá do Atlântico e deu uma incrementada nela, colocando takes da canção e também a versão da BBC que eu menciono no áudio!

OUÇA O ÁUDIO, AGORA DE 9 MINUTOS, NESTE LINK

Outras atrações de hoje foram:

Teve Quarrymen com That'll Be The Day,

Teve  Beatles na Decca - Three Cool Cats,

Teve All Thing Must Pass 50 anos,

Teve homenagem a Charlie Watts,

Teve nova mixagem de Let It Be

TUDO ISSO E O CÉU TAMBÉM AQUI NESTE PODCAST, 

É DO CLICAR NESTE LINK


Aqui, os links dos primeiros áudios que cruzaram o Atlântico

Minha apresentação neste LINK.

A gênese da capa do LP Abbey Road, neste LINK.

As 8 condições SineQuaNon dos Beatles, neste LINK


E JÁ SABEEEEM!!!

No próximo sábado, já sabem ás 13 Horas, conectem-se em

Rádio LAC Luanda, aqui, em http://radios.sapo.ao/lac


sábado, 28 de agosto de 2021

Can´t Buy Me Love

 Esta é a 6ª canção de A Hard Day's Night, o 3º LP dos Beatles

a história do álbum, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 19 canções de Paquera de Garotas

                                        as outras 18 canções de mesmo Assunto e Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho são links que levam a análises sobre elas

7. Can´t Buy Me Love  (Flirt Girl Song by Paul McCartney)

Paul esclarece: "Vou te dar tudo que eu tenho pra dar se você disser que me ama também. Eu posso não ter muito pra dar,  mas o que eu tenho, eu darei a você. 
A paquera evolvendo amor e dinheiro passeia pelo blues animado que Paul criou, sozinho, com quase nenhuma ajuda de John. São 3 versos com letras diferentes, entremeados por uma ponte "Can´t buy me love, everybody tells me so". O Verso 1 tem as promessas de comprar um anel ou qualquer coisa pra garota se sentir bem, e o Verso 2 tem o trecho descrito no caput desta análise. No Verso 3, ele já aparece cansado das coisas materiais e pede que ela deseje coisas que o dinheiro não pode comprar. Os três versos terminam da mesma forma, com o rapaz dizendo que não liga pra dinheiro.  
 
Ela foi escrita enquanto estavam na maratona parisiense de dois shows por noite, em janeiro de 1964, mas tinham um piano na enorme suíte que ocupavam no luxuoso Hotel George V, que usavam para compor as canções que precisavam para seu 1º filme, A Hard Day's Night, àquela altura ainda longe de ter um nome. E gravaram lá mesmo, no Pathé Marconi Studios da EMI, única vez na carreira que gravaram fora da Inglaterra, no dia 29, numa sessão em que também vieram à luz as únicas canções cantadas em alemão pelos Beatles (neste LINK). E foi tudo muito rápido, com os quatro tocando seus instrumentos habituais, em quatro takes. Depois, apenas George teve tempo de voltar ao estúdio fazer um overdub de seu solo de guitarra, e dá pra se notar o solo original em partes da gravação final.  Essa sessão foi em 25 de fevereiro... entre as duas sessões, eles cruzaram o oceano para conquistar a América. Aliás, esse solo inaugurava uma prática que seria adotada dali em diante: a composição do solo de guitarra. Até então, George chegava e tocava o que lhe dava na telha! Outro que teria que voltar ao estúdio para fazer um overdub seria Ringo, mas a agenda não deixaria espaço: ele tinha inúmeras cenas solo no filme, ganhou destaque logo que perceberam seu lado histriônico. Então, como os pratos necessitassem de mais agudos, quem resolveu foi mesmo o engenheiro Norman Smith, apenas no hi-hat (chimbal) não creditado!
 
O ponto alto da canção, entretanto, é o vocal vigoroso de Paul, apenas ele canta, apesar de John aparecer cantando junto ao vivo (ver neste LINK), embora eu particularmente ache muito interessantes os backing vocals de John e George que se ouvem em versão alternativa que saiu no Anthology 1, nas partes "ooooh satisfied" ou "ooooh just can't buy," e equivalentes (ouça, neste LINK, e note que gravaram num tom acima do original). A ideia de começar pelo nome da canção (e também terminá-la) com um trecho da ponte, foi de George Martin, para causar impacto, o que claramente foi conseguido. Notáveis também são os já tradicionais Beatles Breaks, momentos em que os instrumentos param, deixando apenas a voz do cantor, prática que usaram em algumas canções, e notavelmente logo na primeira, Love Me Do. Aqui, eles ocorrem, brilhantemente, nos trechos em que Paul canta "much for money". Eu gostava mais do final da versão de Anthology, com apenas baixo e bateria.  A canção era uma favorita de shows nas turnês de 1964 pelo mundo afora...
 
No filme, a cena em que a canção aparece é an-to-ló-gi-ca, quando os quatro, em meio à fuga dos fãs, fazem malabarismos acrobáticos mil, lembrando muito cenas do cinema mudo, tipo Comedy Capers. Deixo a cena aqui (um pouco modificada, com tempo variado), neste LINK, para lembrança e exaltação.
 
Antes de ser a sétima canção do álbum, a canção foi lançada em compacto, com You Can't Do That no Lado B, em 20 de março de 1964, quatro dias depois do lançamento nos Estados Unidos, onde Can't Buy Me Love foi imediatamente para o topo da parada, comandando um trenzinho de cinco canções dos Beatles nas posições 2 a 5 (as outras eram Twist And Shout, She Loves You, I Want To Hold Your Hand e Please Please Me), fato único na história da música. E juntando-se a outras nove, até a posição 100, feito também inédito.  
 
A América estava definitivamente conquistada.

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Tell Me Why and You Cry and You Lie

 Esta é a 6ª canção de A Hard Day's Night, o 3º LP dos Beatles

a história do álbum, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 6 canções de Saudade, pedindo pela Volta

                                        as outras 5 canções de mesmo Assunto e Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho são links que levam a análises sobre elas


6. Tell Me Why  (Return Miss Song by John Lennon)

John clama: "Olha, eu te implorei de joelhos! Se apenas você ouvisse as minhas súplicas. Se existe algo que eu possa fazer, pois eu não suporto, estou tão apaixonado por você! Me diga por que você chorou e por que mentiu pra mim! 
Apesar de parecer uma DR, preferi classificar a saudade e o desejo de retorno depois de uma briga como a tônica da canção, penúltima do Lado A do LP A Hard Day's Night. A canção é 100% de John, o que leva a concluir-se que o 'you' poderia se referir a Cynthia, com quem era casado! Musicalmente, considero a bateria introdutória de Ringo como o ponto alto da canção, com viradas precedendo dois acordes de guitarra e ao piano de George Martin, quatro vezes. E Ringo repete as viradas mais seis vezes, a chamar refrões, e versos, e a ponte, e ainda mais duas vezes no final. Um show do nosso baterista! 
 
O refrão, de duas vezes seis compassos, abre a canção, como em It Won't BLonge chama todos os versos, de  duas vezes 4 compassos e também a ponte, de oito compassos. Capta essa coisa de compassos? é simples, prepare os dedinhos e vá contando, cada 4 tempos perfazem um compasso. É um ótimo exercício de ritmo! As harmonias vocais perfeitas de Paul e George (ambos nos graves com John nos agudos, algo bem incomum!) dialogam em triplo nos versos, respondendo nas frases pares às chamadas de John nas frases ímpares, expliquei-me? Melhor desenhar:
 


Note, assim, rapidamente, duas coisas importantes, denotando a qualidade deles como letristas


Que segue válida a política de não repetirem letras, como descobri ao descrever 
Do You Want To Know A Secret, que foi a 2ª e última canção a repetir versos. Tell Me Why tem os dois versos (1-4 e 5-8) com letras diferentes. No Verso 1, é John reclamando por que ela o tratá-lo tão mal, mesmo ele tendo-lhe dado tudo o que tinha, e no Verso 2, pergunta-lhe o que ele precisa fazer para ela voltar, diz que não pode continuar assim chorando o tempo todo. Pobre John! 
Que TODAS (as quatro) rimas seriam RICAS, em português! Mesmo que em inglês não se use esse conceito, eu gosto de aplicá-lo.

1-3: verbo com adjetivo; 
2-4: adjetivo com verbo; 
5-7: verbo com preposição; 
6-8: verbo com substantivo.

Ah, os três entram também entram em falsete ("If there's anythin' I can do") na ponte, cuja tradução está no caput desta análise! Impecáveis! Essa maravilha toda foi realizada em hora e meia de estúdio, no que seria a hora do almoço do dia 27 de fevereiro de 1964, em apenas oito tentativas, com todos em seus instrumentos, e com os três cantores soltando a voz ao vivo, incluindo as fantásticas harmonias e duelos. Em overdubs, apenas os vocais dobrados, tanto de John no principal como de Paul e George nos auxiliares.
No filme, Tell Me Why abre a sequência final de trechos de três canções tocadas ao vivo no programa de TV, juntamente com If I Fell (que já aparecera na íntegra em ensaio) e I Should Have Known Better (que já aparecera na íntegra na cena do trem). Deixo o vídeo aqui, neste LINKpara que deliciem-se:

(i)   com o sorriso de Ringo, 

(ii)  com a gaita de John, 
(iii) com as harmonias vocais dos três, e, claro,  
(iv) com a dancinha das perninhas de George!
Bem, para finalizar, vocês gostaram de ver Tell Me Why tocada ao vivo? Pois contentem-se, porque foi a PRIMEIRA e ÚLTIMA vez. Nunca a tocaram nas turnês, nem nos programas de TV, nem John, muito menos Paul em suas carreiras solo lembraram-se dela!   
Gente insensível!

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

And I Love Her ou You

Esta é a 5ª canção de A Hard Day's Night, o 3º LP dos Beatles

a história do álbum, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 27 canções de Amor por Garotas

                                        as outras 26 canções de mesmo Assunto e Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho são links que levam a análises sobre elas


 5. And I Love Her  (Love Girl Song by Paul McCartney)

Paul declara: "Eu dou a ela todo o meu amor. É tudo o que eu faço. E se você visse o meu amor, você a amaria também. Eu a amo"
Escalada para o filme A Hard Day's Night, And I Love Her é a primeira canção de Paul no álbum com a trilha sonora, após quatro de John (uma delas cantada por George), e também a primeira balada da carreira do Cute Beatle (ele detestaaava a alcunha!), iniciando uma sequência de canções românticas que seguiria com I'll Follow The SunYesterdayMichelleHere There And Everywhere nos álbuns seguintes, o que o alçaria ao título de maior baladeiro dos Beatles, mas era um jogo que naquele momento estava empatado, afinal John fizera o primeiro gol com If I Fell, outra linda balada duas canções antes, no mesmo LP. 
 
Paul havia feito apenas três versos para a canção, nos dois primeiros apresentando seu novo amor e, colocando inveja nos amigos, chega a ter uma conotação sexual "She gives me everything", porém "tenderly". No 3º, brilhante, verdadeira poesia, inverteu a ordem natural das frases, colocando o objeto na frente do sujeito, "Bright are the stars that shine" e "Dark is the sky", e ainda usou rimas ricas, como as definimos em português, rimando com "mine" e "die". Destaque para a colocação do nome da canção terminando os Versos 2 e 3. O 1º termina com a declaração "I love her". O "her" em questão muito bem poderia ser Jane Asher, com quem começara um relacionamento que duraria quatro anos, inclusive ele já morava no sótão na casa dos pais dela, em 57, Wimpole Street. "She was  almost seventeen ... you know what I mean...". Aliás, ela tinha mesmo 17 quando Paul fez a canção... ou quase. Foi naquele sótão que ele fez a canção, em um dos quatro dias de fevereiro que ficou em casa, entre as duas missões de conquista do mundo, na França e nos EUA. Paul garante que não era para ninguém em específico. A canção receberia também uma ponte, entre os Versos 2 e 3, que veio já no estúdio, em meio às gravações, que resumo a seguir. Jane teria outra canção inspirada nela, no Lado B do álbum, Things We Said Today. Ela foi motivo de inveja mundial, enquanto durou seu relacionamento com Paul.
 
Foram três sessões necessárias para finalizar a canção, sendo 3 três takes no dia 15, mais 17 takes no dia 16 mais dois takes no dia 17 de fevereiro de 1964, e tudo acabou com quatro diferenças em relação aos primeiros takes, (i) George deixou de lado sua guitarra Rickenbacker 12 cordas e, no violão fez o brilhante riff de introdução, que Paul elogia até hoje, e ele volta na conclusão (ii) John aceitou o desafio do editor Dick James de tornar a canção menos repetitiva, chamou Paul para tomar um chá e elaboraram a ponte, de oito compassos ("A love like ours should never die as long as I have you near me") e, finalmente, (iv) Ringo deixou a bateria e ficou só nos bongôs. Note que, na ponte, aqui sim justificando a alcunha de "middle eight", por ter 8 compassos, trazida por John, há uma mudança da terceira pessoa ("her") para a segunda pessoa ("you"), dirigindo-se à própria garota. Houve também a decisão de subir meio tom a partir do solo de George e que seguiu na repetição da ponte e do verso final, e a inclusão posterior (overdubs) de clavas, ajudando na levada latina da canção. John ficou o tempo todo no cha-kun-dun no violão. George também foi fundamental no delicado arpejo nas cordas agudas de seu violão, a partir do segundo verso! 
 
Na cena do filme (neste LINK), Paul está num tablado, John sentado ao fundo, George leva seu perfeito violão com uma perna sobre o tablado e Ringo firme em seu atabaque, quase escondido pela bateria sem uso! Paul e George têm ótimos closes! Nosso (muitos amigos torcem o nariz para o título, mas pra mim, é) Rei Roberto Carlos teve a oportunidade de gravar a canção no mesmo Estúdio 2, veja neste LINK.

terça-feira, 24 de agosto de 2021

I'm Happy Just to Dance With You

Esta é a 4ª canção de A Hard Day's Night, o 3º LP dos Beatles

a história do álbum, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 19 canções Paquera de Garotas

                                        as outras 18 canções de mesmo Assunto e Classe, neste INKL

Atenção, canções com títulos em vermelho são links que levam a análises sobre elas

4. I´m Happy Just to Dance With You (Flirt Girl Song by John Lennon)

George canta: "Apenas dançar com você é tudo que eu preciso. Antes que essa dança termine, acredito que também me apaixonarei por você, estou tão feliz quando você dança comigo!"

Sim, era George cantando John, que teve a ideia da canção e Paul ajudou nas letras e arranjos! Foi a solitária aparição de George no LP como lead singer, menos que as duas de cada um dos LPs anteriores. Apesar de ele lá ter inaugurado sua carreira de compositor, meio ano antes, com Don't Bother Me em 'With The Beatles', ele estava demorando muito a entregar a canção que dissera ter, então John tomou a atitude de fazer uma pra ele, afinal ela tinha que aparecer no filme! George admite que na época, ele precisava de meses pra finalizar uma canção. Aquela foi a segunda e última vez que George cantou uma original Lennon/McCartney, sendo a outra a deliciosa Do You Want To Know a Secret, do primeiro LP 'Please Please Me'. A letra é simples com tema adolescente, mas apresenta pontos incomuns, e instrumentação distinta. Ela começa com o final do refrão ("Before this dance is through..."), e termina com um refrão com letra alterada ("I've discovered I'm in love with you."), duas características incomuns. Paul e John presentes nos O-O-O-O's. Paul apresenta uma sequência de baixo bastante variada, e ousada até, proporcionando uma contramelodia muito interessante, enquanto John inova no ritmo em sua guitarra, e Ringo provê batidas sincopadas nos refrões, e a cada compasso dos versos, tum tum em um bongô árabe, em overdubs, dando uma cara bem diferente! No filme, a cena começa divertida, com bailarinos ao som instrumental e John fazendo estripulias a caminho do palco, onde George sobe um tablado, a única vez em que tocam nessa configuração, John e Paul, abaixo e Ringo tocando de frente para eles. Cena muito boa! Veja aqui, neste LINK 
 
É a primeira canção deste álbum que usa o refrão como peça estrutural, são só versos e refrões. E, como dito, começa com o refrão, mas apenas os 4 últimos compassos dele, e foi ideia de George Martin fazer assim. Outra que seria assim seria Can't Buy Me Love. Nos dois primeiros versos, de 8 compassos, George incorpora o perfeito pé-de-valsa, diz que não quer saber de beijos ou de pegar na mão (1º), ou ainda de abraços apertados (2º) e termina ambos dizendo que ele só quer dançar, e, no refrão, reforça a ideia, que é só o que ele precisa para quem sabe, conquistá-la. O Verso 3 mostra firmeza no dançarino que diz pra moça nem ver a cara quem vier tirá-la de seus braços, postura 'Tô nem aí!'. 
 
Foi num domingo, 1º de março que  I'm Happy Just to Dance With You veio ao mundo. E tinha que ser porque na segunda-feira começariam as filmagens. E foi muito rápido: foram 3 takes para acertar a instrumentação, George cantou apenas no 4º take, e sobre ele vieram os overdubs, ele mesmo dobrando seu vocal, e Paul e John harmonizando, e também o bongô de Ringo, nos versos. 
 
A canção teve um lançamento em Lado A de compacto nos EUA, com I'll Cry Instead no Lado B, que chegou a beliscar a parada americana mas somente lá nas 90 melhores. Foi a 'canção de George' nos shows da excursão de outono (do Norte) e somente deixou de ser levada em novembro de 1964. Não há um vídeo propriamente ao vivo deles tocado a canção, mas encontrei este aqui com um áudio ao vivo, neste LINK, e ótimas imagens, onde se pode ver a febre que era. Aquele era o auge da Beatlemania, eles já haviam conquistado a América e feito um filme de sucesso mundial. Demais!!

 

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

O 1º Nº 1, a gente não se esquece!

Foi nesta data, há 55 anos, que Ringo Starr viu uma canção cantada por ele no 1º lugar em compactos nas paradas britânicas.

Era um Duplo Lado A, mas era cantada por ele a canção que estava no Lado A 'da frente'.

Era Yellow Submarine.

O outro Lado A era a incrível Eleanor Rigby!!

Ambas composições Lennon/McCartney.

O compacto ficou quatro semanas no topo, entre as 13 em que permaneceu na parada.

Por incrível que pareça, o compacto chegou a 'apenas' a 2ª posição nos EUA, pois foi a época da divulgação da controversa entrevista de John falando sobre Cristo.

Ringo alcançaria outros compactos que atingiriam Nº 1, em sua carreira solo na década de 1970, até na parada americana, mas aquela foi a 1ª vez. Chegaram ao topo duas composições dele Photograph e It Don’t Come Easy,  e uma cover sensacional  You’re Sixteen.

Vejam a seguir minhas análises sobre as duas canções!

6. Yellow Submarine   Tale Story Song by Paul McCartney)

Paul conta na voz de Ringo: 'Na cidade onde eu nasci viveu um homem que viajava pelo mar. E ele contou sobre sua vida na Terra dos Submarinos!' 
Olhaí o Paul fazendo uma canção especialmente para Ringo brilhar! Ele se deitou um dia e veio uma imagem colorida e depois um submarino, e uma canção alegre, para crianças, e a fez sem muita variação vocal, para propiciar um desempenho bom ao amigo, que não tinha lá um alcance muito brilhante. John contribuiu na letra, mas a melodia e o refrão 'We all live in a Yellow Submarine são de Paul. Um amigo deles, Donovan, sugeriu o 'Sky of blue and sea of green' super poético. Esse cara é o mesmo quem ensinou a John, anos depois, o dedilhado de violão que acabou usando em Julia e Dear Prudence, portanto, ele pode se considerar já importante no cenário Beatle! Não se pode dizer que a letra seja um primor, pois só tem uma rima, e nem rica é, "green" com "submarine", dois substantivos (mesmo a cor, normalmente um adjetivo, está ali na classe substantivo). Mas está firme a política de não repetição: são 5 (cinco!) versos diferentes, sendo o terceiro pela metade, introduzindo a 'banda' e o quarto com um diálogo marinho (ver lá embaixo)! Uma curiosidade é que Ringo alterou um trecho da letra ao cantar. Estava escrito "Everyone of us has all he needs", mas ele cantou "has all we need", e assim ficou, mesmo errado!
A gravação teve dois dias distintos, no primeiro se dedicaram à canção itself, com John no violão, Paul no baixo, Ringo na bateria e George na pandeireta, hehehe, não tinha guitarra na gravação. Depois, Ringo acrescentou seu lead vocal, e teve o luxuoso auxílio do maior trio harmônico da história da música, aliás foi o único ser humano que teve esse luxo, em algumas oportunidades na carreira enquanto Beatle. A harmonia dos três aparece no refrão!

John, assim como todos, estava inserido no clima da canção e acrescentou um tempero fenomenal  ainda naquele primeiro dia de gravação. Foi por sobre o vocal de Ringo, já gravado, ele incorporou um demente e foi espelhando, ecoando o final de cada linha no verso final.  Geoff Emmerick o produtor ali do chão de fábrica, alterou o som de sua voz, para que parecesse saído de um megafone do alto de uma escotilha!  Algo assim: 

E deixo, em homenagem aos 90 minutos que dediquei a esta canção, um Áudio para explicar melhor este momento final. Neste LINK. 
Ainda assim, seria uma canção quase normal, mas no segundo dia de gravação, a coisa saiu fora de controle  ... que bom! Após uma parada de quase uma semana, por conta de uma doença de George Martin, mente vazia, oficina do diabo, os Beatles decidiram chamar amigos para participarem da gravação final. Vieram Marianne Faithful, Mick Jaegger e Brian Jones (dos Rolling Stones), Pattie Harrison, esposa do George, eles produzem aquele papo de fundo no segundo verso. Mal Evans (o eterno roadie) estava lá como sempre e alguns desconhecidos, dentre eles o próprio motorista dos rapazes. John e Paul assumem os papéis de Capitão e piloto do submarino "Full speed ahead Mr. Boatswain, full speed ahead, Full speed ahead it is, Sgt. Cut the cable, drop the cable, Aye, aye, Sir, aye, aye. Captain, captain". Vários efeitos sonoros foram criados, ondas do mar, apitos, sinos, latas, correntes, e até bolhas insufladas por John num balde d'água. Sons de motores, gritos de comando, e até uma banda de circo foi simulada, após o "and the band begins to play", não, não era uma banda de metais contratada, mas um som vindo do banco de sons da EMI. Todos que estavam no estúdio entraram no singalong do refrão, e Mal Evans, o gigante gentil  (1,97 m), conduziu a todos portando um tambor daqueles da frente de banda marcial, até porque é  uma marcha mesmo, puxando uma fila indiana pelo estúdio e todos cantando 'We all live in a yellow yubmarine, a yellow yubmarine, yellow yubmarine!'. Uma festa, saudada por John em entrevista posterior: "We virtually made the track come alive in the studio." Pena que não há registro em vídeo da efeméride.   
A canção foi lançada em compacto Lado A (a única vez que Ringo estrelou um compacto), tendo Eleanor Rigby no Lado B, na verdade, um duplo Lado A. Foi o primeiro compacto em que os Beatles lançaram músicas que já estavam em um LP, Revolver, lançado no mesmo dia. O single chegou ao primeiro lugar no Reino Unido, mas 'apenas' ao Número 2 nos EUA, porque coincidiu com a repercussão da fala de John sobre Jesus Cristo e consequente banimento das rádios em alguns estados do sul.  
Paul conseguiu seu intento de criar uma canção infantil, porque ela é, de longe, a canção mais lembrada e cantada por crianças, até hoje, em todo o mundo, e responsável, em parte, pela penetração de Beatles na juventude, porque eles vão crescendo e depois conhecendo outras canções, se os pais forem preocupados o suficiente com o gosto musical dos filhos. Mas o que Paul não esperava, certamente não estava em seus planos, não a fez com essa intenção, que a canção tivesse tanta repercussão em movimentos de contracultura, a atmosfera colorida, o convite a viajar até o sol, muito daquilo até foi considerado um convite às drogas. A coisa chegou a um ponto de a canção ser usada em  manifestações anti-Guerra do Vietnam na época, e segue sendo até hoje, contra governos fascistas. Tão marcante foi o legado da canção que dois anos depois, ela foi tema do quarto filme dos Beatles, na verdade, uma animação psicodélica da maior qualidade com grande receptividade de crítica e público. E, atrelado ao filme, um LP inteiro, na verdade, um lado dele com canções dos Beatles que aparecem no filme (menos Nowhere Man), três delas inéditas e o Lado B, com as canções clássicas lindas da trilha, criadas pelo Maestro/Criador/Gênio George Martin. Os brasileiros não poderiam ficar sem sua versão, com letra nada-a-ver, mas ficou bonitinho! E perdoe o 'mal geito' dos erros gramaticais das legendas!! Foram Os VIPs, veja aqui neste LINK.

 2. Eleanor Rigby   Alone Story Song by Paul McCartney)

Paul conta "Eleanor Rigby morreu na igreja e foi enterrada, só, ela e seu nome. Padre McKenzie batendo a poeira das mãos enquanto deixa a tumba. Todos os solitários, de onde vem, aonde eles pertencem!"  

Escolhi este trecho, dos versos 5 e 6, porque conclui a história dos dois personagens, juntos na canção, mas solitários em seus corações, apresentados anteriormente, em um par de versos cada um. Entre a apresentação e a conclusão, vem o brado, na ponte:
'Aaah, look at all the lonely people!' 
Lindimais!!! Paul sempre foi um bom menino e diz que perambulava pelas ruas de Liverpool abordando as pessoas solitárias e ouvindo o que elas tinham a dizer, sobre suas vidas, sobre suas experiências de guerra, enfim, achava que fazia uma boa ação e gostava disso. Eleanor Rigby é a transfiguração de seus bons atos em uma canção, alertando o mundo para que não se esqueçam das pessoas solitárias. Ademais, é a primeira canção de Paul em que ele fala sobre outras pessoas, que não ele e seu par romântico.
Há rumores de que os dois personagens existiram de verdade, talvez um registro num hospital do nome dela, ou uma tumba de um certo Padre McKenzie, e até mesmo de uma Eleanor Rigby, mas Paul sempre disse que os nomes haviam saído de sua mente, absolutamente fictícios, tanto que, originalmente, o Father era McCartney, mas ele desistiu porque poderiam pensar que se referia a seu pai, que era um sujeito feliz, não combinava, então pegou a lista telefônica (lembram?), foi à página do Mc e escolheu McKenzie, simples assim! Eleanor seria um nome que ele gostou desde que conheceu uma atriz homônima, no filme HELP!, aliás, com quem havia tido um caso (ah, pobre Jane Asher), e Rigby seria o nome de uma loja que existia em frente a um teatro onde Jane atuava. Os dois juntos combinavam na métrica, pronto, decidido! Tenha existido ou não uma Miss ou Mrs. Rigby, a coisa pode ter chegado de maneira subliminar a Paul, e tal, o único fato é que hoje existe uma estátua de Eleanor Rigby em Liverpool, muuuito visitada (quer dizer, era, no tempo em que havia turismo no planeta). O interessante é que pode ter sido uma das poucas canções em que houve participação dos quatro Beatles em sua composição. Após a ideia original de Paul e algumas sugestões de John, todos estiveram num jantar na casa deste último e se reuniram para trocar ideias sobre a canção, quando George (Harrison) teria sugerido o brado da ponte em destaque ali em cima, e Ringo, a frase sobre as meias e o sermão do padre. E estava presente também um amigo de John, que teria dado uns palpites. Eu uso sempre o futuro do pretérito nessas descrições, porque tudo são, rumores, hipóteses, com várias versões, enfim ... O fato é que a letra é pungente e brilhante. 
Após usar a ponte da canção como introdução sobre pessoas solitárias, um 1° verso apresenta Eleanor Rigby, solitária, e termina com uma conclusão de quatro sílabas poéticas "lives in a dream", que rima ricamente com "been", e um 2° verso complementa sua solidão, sempre olhando pela janela, maquiada, e conclui com mais quatro sílabas "who is it for", rimando ricamente com "door". A estrutura Declaração + Conclusão com quatro sílabas + Rima rica se repete mais quatro vezes até o final! Veja o 3° verso, que apresenta Father Mckenzie, escrevendo um sermão que ninguém vai ouvir, e concluindo "no one comes near", rimando ricamente com "hear", e o 4° verso complementa sua solidão, cozendo meias de noite, e concluindo com "what does he care?", que rima ricamente com "there". Depois, vem o refrão com questões no estilo Globo Repórter: "Todos os solitários, de onde vêm, aonde pertencem?". Não perca a conta, caminhando para o final: um 5° verso conta o destino de Eleanor, morta, ela e seu nome, e conclui “nobody came!”, que rima ricamente com “name”, e um 6° verso, final, para Father Mckenzie, limpando suas mãos após encomendar a alma da pobre mulher, concluindo com “no one was saved!”, que rima ricamente com “grave”. Quer poesia mais genial que essa? E ainda embalado por um arranjo de cordas im-pe-cá-vel!

Desde sempre, ficara claro que um arranjo de cordas seria o acompanhamento único da canção, os outros Beatles nem chegaram a gravar uma base, como aconteceu com Yesterday, no ano anterior. George Martin compôs o arranjo de cordas, em ritmo staccato (ao invés do legato, usado no arranjo daquela canção), para dois quartetos de corda, portanto, quatro violinos, duas violas e dois violoncelos. Os instrumentistas ficaram tensos, porque Geoff Emmerick, o jovem produtor que assumira a cadeira, encasquetou com a ideia de posicionar microfones bem próximos aos instrumentos, eles não gostaram nada disso, estavam acostumados aos microfones elevados, captando o som ambiente, e a cada take eles se afastavam dos microfones, até que George Martin desceu da salinha e acabou com a brincadeira. É difícil implementar mudanças!! Resistências eclodem! 
E vamos ao arranjo! O movimento staccato está presente do começo ao fim, é aquele em que os arcos encostam breve, mas firme e repetidamente nas cordas (no legato, o arco passeia suavemente em notas contínuas pelas cordas). A canção abre com a ponte,  de dois violinos, as duas violas e os dois violoncelos em staccato, enquanto os outros dois violinos em legato em nota única ao longo do canto, e ao final de cada frase, aqueles violinos entram em movimento de serra, atacando-as na metade do tempo. Essa ponte se repete ao final do verso 4.  Note o clima como cresce em cada verso: no verso 1, apenas todos em staccato normal; no verso 2, os violinos serram as cordas em dupla velocidade; no primeiro refrão, violinos voltam ao tempo normal, em staccato, enquanto as violas choram em legato melódico descendente ao fundo; no verso 3 os violoncelos deixam o staccato e entram em legato crescente, e no 4, entram violas; então, volta o refrão com o mesmo acompanhamento do primeiro, mas na segunda 'pergunta', os violinos gemem; e, nos versos 5 e 6, após a segunda ponte, parece que estamos num filme de suspense, no momento em que se vai descobrir o culpado, aahh, cansei de descrever um a um, sintam apenas, os instrumentos em serra, e a profusão de violinos e violas, mas perceba como os violoncelos acompanham a melodia cantada por Paul, em “wiping the dirt form his hands as he walks from the grave”. Coisa arrepiante!
O vocal solitário é de Paul, sendo que no refrão (aquele trecho A La Globo Repórter), o vocal é dobrado artificialmente, com o auxílio luxuoso de um ADT (Artificial Double Tracking), equipamento que fora recentemente criado na EMI, sob encomenda de John, cansado que estava de dobrar seus vocais, cantando por cima de sua própria voz. Note como o som da voz de Paul fica mais denso! John, aliás, junto a George, faz o vocal de apoio, apenas nas duas vezes em que a ponte é cantada, na introdução e após o verso 4. Eles não voltam no final. Há rumores de que foi George Martin quem sugeriu a Paul que voltasse, dias depois para apor sua voz, juntando o refrão às perguntas 'All the lonely people, where do they all come from?' e 'All the lonely people, where do they all belong?', onde então se ouvem ‘dois Pauls’ cantando, o que trouxe um efeito sensacional ao vocal de finalização da canção.

Claro que a canção nunca foi tocada ao vivo pelos Beatles, que aliás nunca a tocaram nem em estúdio. Felizmente, com a chegada daqueles teclados que mimetizam instrumentos de cordas, Paul começou a tocá-la, com todo o direito de compositor que  era, a partir de 1990. Ela foi lançada em compacto, como duplo Lado A com Yellow Submarinee. E falando em Yellow Submarine, a canção dez parte do filme! Veja aqui, o clip, neste LINK, preste atenção nos arranjo orquestral! 

A 2ª Viagem Angolana - Como tudo começou!

Pois que então, minha voz viajou de novo

Na 2ª viagem no Submarino, apresentei meus argumentos para celebrar o aniversário dos Beatles numa certa data, tentando dirimir as controvérsias! 

Ouça aqui, 

neste LINK

já com a espetacular trilha sonora colocada pelo Imediato Paulo Seixas!! 

Mais abaixo trago o detalhamento das canções, mas antes ouçam-nas, entremeadas à minha fala. 

Na primeira viagem, a 14 de agosto, Paulo Seixas, o Imediato, me apresentou a seu público, muito gentilmente. Minha voz chegou se apresentando, neste LINK

O primeiro 'áudio de trabalho' foi sobre a gênese da foto da Capa do LP Abbey Road, lá de 1969. Ouçam-no aqui, neste LINK.


Agora sim, vamos ao Set List das" canções que Paulo escolheu para ilustrar meus 8 SinsQuaNon's.

SineQuaNon1: Puttin' On The Style é uma gravação de microfone ambiente feita no famoso e exato dia em que John e Paul se conheceram. O som é muito mau, mas o valor histórico é imenso.

SineQuaNon2: Ensaios com a presença de Stuart na casa de Paul.

SineQuaNon3: In Spite of All The Danger, segundo Paul, a 1ª canção dos Beatles

SineQuaNon4: My Bonnie, com Tony Sheridan e os Beatles

SineQua Non 5: Besame Mucho, que eles cantaram na Decca Records

SineQuaNon6: Searching, também da fita da Decca (Epstein procurava uma gravadora! Genial, meu amigo Imediato!)

SineQuaNon7: A uaprimeira versão de Love Me Do, com a fraca bateria de Pete Best

SineQuaNon8: Boys, cantada por Ringo, em Please Please me


Paulo Seixas foi ou não foi perfeito em suas escolhas?


O programa todo foi bem legal! Veja aqui a publicação de anúncio do podcast!


21/08/2021 | As covers de Help! | O Submarino Angolano | LAC - 95-5 FM | Angola

Na edição de hoje, tocamos as duas únicas covers das 14 músicas que compõem Help!, de 1965, o quinto álbum dos Beatles. "Act Naturally", um original de 1963 que teve interpretação do norte-americano Buck Owens ao estilo country, que Ringo Starr reinterpretou com mestria. "Dizzy Miss Lizzy", é um original de Larry Williams, gravado em 1958, que deixa John Lennon à vontade para exercitar a sua veia de rocker.

Homero Ventura, o contramestre Homerix, explica-nos porque considera que os Beatles nasceram em 22 de agosto de 1962.

Podemos ainda ouvir "My Sweet Lord" em duas versões lançadas na edição comemorativa dos 50 anos do LP All Things Must Pass, que saiu este ano.

"Act Naturally" - Buck Owens - 1963

"Act Naturally" - The Beatles - 1965

"Dizzy Miss Lizzy" - Larry Williams - 1958

"Dizzy Miss Lizzy" - The Beatles - 1965

Eis o programa na íntegra!

Uma hora de muita informação Beatle!

https://m.mixcloud.com/tokeluanda/21082021-as-covers-de-help-o-submarino-angolano-lac-95-5-fm-angola/