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quarta-feira, 24 de março de 2021

As 4 Alone Story Songs dos Beatles

Capítulo 18


A saga é

O Universo das Canções dos Beatles

Todos os Capítulos têm acesso neste LINK 

Os números abaixo levam a informações interessantes sobre a carreira dos Beatles, para referência, caso necessário!! 

Cada NÚMERO é um LINK para informações adicionais!!!

  • 211 canções lançadas pelos Beatles, em 7,5 anos de carreira
  • 186 de autoria de um dos Beatles
  • 185 canções com letras (uma instrumental)
  • 007 assuntos identificados (Girl, Miss, Speech, Story, Self, Acid, Nonsense)
  • 074 canções sobre garotas - Girl Songs
  • 022 canções sobre saudade - I Miss Her Songs
  • 029 canções com discursos - Speech Songs
  • 028 canções com histórias - Story Songs
    • 004 Classes identificadas de Story Songs (Self, Funny, Tale, Alone)
    • 008 Self Story Songs, onde o compositor fala na primeira pessoa, sobre sua pessoa ou sobre outra pessoa, na pessoa daquela pessoa(!)
    • 007 Funny Story Songs, onde o que mais se destaca é o humor,
    • 009 Tale Story Songs, as populares estorinhas.
    • 004 Alone Story Songs, histórias onde a solidão é a marca.
      • sobre as quais falarei agora
  • 020 canções sobre si mesmos- Self Songs
  • 009 canções sobre drogas - Acid Songs
Graficamente




Vamos lá.... a alguns detalhes das quatro canções! 

Elas estão distribuídas no triênio 1965-1967.


1. Nowhere Man (Rubber Soul - 1965)

John conta 'Ele é um verdadeiro homem de lugar nenhum, sentado em sua terra de ninguém, fazendo seus planos de ninguém ... para ninguém  Se alguém tivesse alguma dúvida se esta era uma canção sobre solidão, bastaria esta tradução da primeira frase para assim concluir. E a coisa continua, pois essa pessoa não tem qualquer ponto de vista, não sabe para onde vai, e aí vem a questão que leva para o estado da mente de John, seu criador

                            'Isn't he a bit like you or me?'

Em verdade, o 'nowhere man' é John sentindo-se só. Ele já pedira socorro, no mesmo ano, em HELP!, e já vinha se achando um perdedor, desde 1964  (I'm A Loser, de Beatles For Sale, se bem que, nesta, era mais uma desilusão amorosa). Aqui, ele confirma essa tendência de auto-comiseração, mesmo com seu alter-ego retrucando. 'Ô cara, me ouve, você não sabe o que está perdendo, o mundo está a seus pés!', tentando trazer ele mesmo de volta ao chão, afinal, ele e seus companheiros estão no topo do mundo, alguém tem dúvida disso? John disse em entrevista que era uma canção sobre ele mesmo, feita após uma noite insone com a preocupação de produzir algo de valor, o que ele só conseguiu com a luz do sol. E, cá entre nós, que imenso valor, hein?!! Que música linda!! Uma harmonia vocal tripla, John-Paul-George cada um numa voz, e depois no refrão, Paul e George vêm no Aaaah-la-la-la, lindo demais! A canção fez parte, três anos depois de seu lançamento, no filme Yellow Submarine. 


2. Eleanor Rigby (Revolver - 1966)

Paul conta 'Eleanor Rigby morreu na igreja e foi enterrada, só, ela e seu nome. Padre McKenzie batendo a poeira das mãos enquanto deixa a tumba', Escolhi este trecho porque fala num verso só sobre os dois personagens, juntos na canção, mas solitários em seus corações, ambos apresentados, um em cada verso, ela colhendo o arroz dos casamentos, ele costurando meias e fazendo um sermão para ninguém ouvir... 
'Aaah, look at all the lonely people!' 
Lindimais!!! Há rumores de que os dois personagens existiram de verdade, talvez um registro num hospital do nome dela e uma tumba de um certo Padre McKenzie, e até mesmo de uma Eleanor Rigby, mas Paul sempre disse que os nomes haviam saído de sua mente, absolutamente fictícios, tanto que originalmente o Father era McCartney, mas ele desistiu porque poderiam pensar que se referia a seu pai, que era um sujeito feliz, então foi à lista telefônica e escolheu McKenzie. Tenha existido ou não uma Miss ou Mrs. Rigby, a coisa pode ter chegado de maneira subliminar a Paul, e tal, o único fato é que hoje existe uma estátua de Eleanor Rigby em Liverpool, muuuito visitada (quer dizer, era, no tempo em que havia turismo no planeta). George (Harrison) teria sugerido o brado do refrão em destaque, e Ringo, a frase sobre as meias e o sermão do padre. Eu uso sempre o futuro do pretérito, porque tudo são suposições, com várias versões, enfim ... George Martin compôs o arranjo de cordas, em ritmo stacato (ao invés do legato, usado no arranjo de Yesterday, dois anos antes), para quatro violinos, duas violas e dois violoncelos (não há nenhum Beatle tocando na faixa) e, muito importante, sugeriu a junção do refrão às perguntas 'All the lonely people, where do they all come from?' e 'All the lonely people, where do they all belong?', que trouxe um efeito sensacional ao vocal.

 

3. She's Leaving Home (Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band - 1967)

Paul conta 'Ela desce a escada para a cozinha contendo o choro com o lenço no nariz, silenciosamente girando a chave da porta dos fundos, com os pés fora, ela está livre!'. Escolhi este trecho por causa do efeito sonoro que Paul consegue propiciar, rimando não finais de versos, mas sons, vejam: 

 She goes downstairs to the kitchen clutching her hankerchief

Eu ressaltei em preto o meu ponto, o som em destaque, o 'tch', inclusive o terceiro, não tem o 't', mas o som é como se tivesse.  Eu acho lindo isso, uma poesia nos detalhes. Isso me ressaltou desde criança, com meus 9 anos de idade, quando ouvi, e fui procurar na letra, afinal era o primeiro disco da história a ter um encarte com letras. Ele havia usado o efeito def rimas internas em You Won't See Me, dois anos antes, já ressaltei aqui em um capítulo anterior, enfim... mas o que interessa  é a linda balada, com a história tocante, de pais, na verdade, a mãe, que percebe que a filha foi embora, e leu numa carta de despedida as razões para aquela decisão, que ela não pôde explicar pessoalmente. Se alguém tem dúvida se esta é uma canção sobre solidão, ressalto uma frase que aparece duas vezes nos versos:

                   She's leaving home after living alone for so many years. 

O jogo de vocais é de chorar (e eu choro mesmo). Paul vem nos versos e, quando entra o refrão, ele começa 'Sheeeee' e John entra com um lamento dos pais, e Paul volta 'is leaviiing', e mais um lamento dos pais, e Paul conclui 'hoooome' e os pais (John) concluem com mais um lamento. Difícil ver algo mais tocante que isso na história da música. O refrão se repete duas vezes e em cada uma os lamentos são diferentes, o que mostra a riqueza da letra! E foi de John a idéia de fazer assim, parabéns, John! 
Já a idéia do acompanhamento de orquestra foi do autor Paul, nenhum Beatle toca na canção! Quando Paul tem uma idéia e quer ver pronta, ele atropela qualquer um: ele encomendou o arranjo de cordas a George Martin, como era o padrão, só que ele estava com outros compromissos, e pediu uns dias. Paul não teve dúvidas e pediu outro maestro à EMI para o arranjo, um certo Mike Leander. Martin ficou magoadíssimo, mas produziu e dirigiu os músicos na gravação. Eles eram quatro violinos, duas violas, dois violoncelos E uma harpa. E por que eu coloquei um E maiúsculo? Porque a harpa abre a canção de uma forma lírica, sensacional E por ser UMA harpista, a PRIMEIRA mulher a aparecer numa canção Beatle! Bem, depois são só cordas e aros, e aqui eu tenho que destacar o máximo do drama e suspense, note, quando a mãe chora: Sempre choro...

 She breaks down and cries to her husband Daddy, our baby is gone

... e entram os violinos, intrigantes, majestosos ....

Why would she treat us so thoughtlessly? How could she do this to me?

Tão lindo que resolvi fazer um áudio clipe pra vocês, neste LINK. 
Para finalizar, completo com o início da coisa toda. A inspiração veio de uma matéria de capa do Daily Mirror, sobre uma garota de 17 anos que saíra de casa para fugir com o namorado, e os pais diziam não entender por quê, afinal 'We gave her everything money could buy!' ou algo assim, mas foi desse jeito que materializou na letra. Todo o resto saiu da cabeça de Paul (e John nos lamentos), inclusive a profissão do namorado, que não era vendedor de carros (motor trade), mas sim, um croupier. Só que, depois se soube que o rapaz havia, sim, trabalhado no mercado de automóveis, mas Paul NÃO SABIA DISSO!!! Eram ou não eram mágicos os Beatles? 


 4. Fool On The Hill (Magical Mistery Tour - 1967)

Paul conta 'Dia após dia, sozinho na colina, o homem com o sorriso tolo fica lá, parado. Mas ninguém quer saber dele, podem ver que é apenas um tolo'. O trecho estabelece de cara o status solitário do personagem... quantas vezes ao longo da vida a gente não encontra pelas ruas uma figura assim? As pessoas invisíveis, que ninguém enxerga ou dá valor, fazem parte do drama urbano, desde sempre. Só que o de Paul estava na colina. Ele procurava falar ao mundo, só que ninguém ouvia.

Head in a cloud, the man of a thousand voices talking perfectly loud

But nobody ever hears him or the sound he appears to make

Paul disse que a inspiração foi dupla: primeiro, um encontro que teve com um sujeito distinto bem vestido que lhe disse algo e foi embora como chegou, e outra, numa entrevista chegou a dizer que retratava gurus como o Maharishi, que tinham coisas a dizer, mas não eram levados a sério. A gravação é fortemente marcada pela presença flautas, são três delas ao longo de toda a canção, John e George também tocam gaita, e Ringo outras percussões além da bateria. O piano de Paul, multicolorido, que foi utilizado no filme Magical Mistery Tour foi preservado e ele usava para tocá-la nos shows solo que fez no final da década de 1980, inclusive o do Maracanã, aonde eu estive, ajudando a Paul bater mais um recorde mundial.

 

Outras Classes de Songs

As 9 Tale Story Songs dos Beatles - Neste LINK 

As 8 Self Story Songs dos Beatles - Neste LINK 

As 7 Funny Story Songs dos Beatles - Neste LINK 



3 comentários:

  1. Adorei a história da canção _Eleanor Rigby_! Incrível imaginar a Eleanor catando o arroz dos casamentos, e o Padre McKenzie, fazendo sermão pra ninguém na igreja! Que canção maravilhosa!

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  2. Todas lindas. She's Leaving Home", obra prima!

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