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quinta-feira, 3 de junho de 2021

Let It Be, o último LP lançado pelos Beatles

  Capítulo 48 


De minha saga  

O Universo das Canções dos Beatles


Todos os Capítulos têm acesso neste LINK 


O cenário para Let It Be - O Último Disco Lançado 

E segue a história dos Beatles

Estamos em 25 de setembro de 1969! 

E seguem crescendo os números!!!               
Em menos de 6 anos de carreira, lançaram 197 canções, sendo 173 autorais e 24 de outros autores, filmaram três Longas Metragens de sucesso mundial, A Hard Day's Night e HELP!, um filme para a TV de sucesso mediano, reconhecido posteriormente, fizeram 572 shows, sendo 387 no Reino Unido, 94 na Europa Continental, 67 na América, 16 na Austrália e 8 na Ásia, esse número ficou estacionado, e ganharam 4 títulos de Membros do Império Britânico, lançaram 19 compactos, um EP de inéditas, 11 LPs, Please Please Me (LINK)With The Beatles (LINK) A Hard Day's Night (LINK)Beatles For Sale (LINK)HELP! (LINK), Rubber Soul (LINK), Revolver (LINK), Sgt. Pepper's Lonely Hearts CLub Band (LINK), The White Album (LINK), Yellow Submarine (LINK), Abbey Road (LINK), um EP Duplo - Magical Mistery Tour (LINK) - todos chegando ao primeiro lugar, com exceção do primeiro e de mais um (!!!) compactos, e do penúltimo álbum.
Os números seguem espantosos!!!               


... mas tudo estava chegando ao fim....

Ao longo dos Capítulos 36 a 47 de minha saga, mantive o costume de abrir a análise de um álbum dos Beatles atualizando os números incríveis da maior banda de todos os tempo, e sempre o fazia com animação, emoção e um sorriso no rosto. Depois começaria a descrever os fatos que circundavam a vida dos Beatles entre duas datas de lançamento de discos, o anterior, marcado pela data ali do 'Onde estamos hoje?" Hoje, ao começar o Capítulo 48, sigo com emoção, porém o sorriso se foi. Se estivesse falando, ouviriam minha voz embargada. A escrita disfarça esse estado de espírito, mas saibam, uma lágrima escorre de meu rosto, neste momento.

É porque, como disse acima, tudo estava chegando ao fim. Como antecipei ao finalizar o capítulo 47, no dia do lançamento de Abbey Road, a banda já não existia! Havia 6 dias, seu grande líder e criador John Lennon havia anunciado aos companheiros que não fazia mais parte do grupo... mas o mundo nada soube. O que transparecia era que os Beatles ainda eram a maior banda de todos os tempos e acabavam de trazer à luz sua maior obra, e qual seria o próximo passo, o próximo projeto, o próximo disco, mas em verdade cada um já estava seguindo seu próprio caminho.

Para as canções listadas,
há análises sobre elas
a um click em seu nome.

Se o degrau seguinte era um disco, as composições já estavam prontas, não necessitaria mais de sessões de gravação, que já haviam acontecido no começo do ano, que foi intenso em problemas de relacionamento entre os membros da banda. George chegou a abandonar o barco durante aquelas sessões, mas 10 dias depois voltou. As relações comerciais estavam tensas, houve um racha no grupo. John queria Allan Klein como empresário e convenceu George e Ringo, porém Paul não confiava nele, e queria seu sogro John Eastman na posição. Paul inclusive colocou em duas canções de Abbey Road um pouco da situação, You Never Give Me Your Money e Carry That Weight. Enfim, naqueles quase 8 meses entre os lançamentos dos dois discos não haveria mais produtores, nem técnicos de som, nem horas de estúdio invadindo as madrugadas, nem sintetizadores, nem gravador de oito canais, nem pianos, guitarras ou bateria, muito menos sintetizadores, sinos ou bigornas... apenas ressentimentos. 

Em meio a esse clima todo, os Beatles fizeram sua última sessão de fotos, na mansão recém-comprada e reformada de John em Tittenhurst Park. Presentes Yoko, grávida e Linda super grávida. Quase ausentes, os sorrisos. Um outro esparsamente apareceu

Vou desfilar aqui um pouco de bastidores ainda antes do lançamento de Abbey Road, já em setembro, que preferi não abordar no capítulo de Abbey Road, por ser mais adequado ao clima pesado que levou ao objeto deste capítulo, o álbum Let It Be. Começo com uma reunião que houve no Dia 9 que poderia traçar um futuro brilhante para a banda, só que não. Presentes John, Paul, George e um gravador, para mostrar a Ringo, que tratava da saúde, problemas intestinais. Surgiu uma proposta para um próximo disco, com número de composições definidas, 4 de John, 4 de Paul, 4 de George, e 2 de Ringo, se ele tivesse algo. E ainda, que não valeria o acordo Lennon/McCartney, cada um assinaria a sua. Interessante, não? Só que não. Paul disse que talvez ainda não fosse o momento para uma equiparação, mesmo reconhecendo o crescimento de George, e acabaram entrando em discussão sobre mágoas recentes, de George reclamando que John não participou das canções dele no Álbum Branco, de John reclamando que Paul queria empurrar coisas ruins como Maxwell's Silver Hammer e Ob-la-di Ob-la-da, o fato é que deixaram qualquer decisão pra depois. E ela não veio, ou veio, no pior sentido. Dias depois, John montou uma banda de um dia pro outro, a Plastic Ono Band, com Eric Clapton, com quem ensaiaram no avião, a caminho de Toronto para tocar num festival, e em algum momento dessa viagem decidiu. Não queria mais continuar Beatle. Só que Klein convenceu-o a não contar pra ninguém até assinarem um novo contrato com a EMI, que estava pra ser fechado em alguns dias. Esse dia era o dia 20,  e nesse dia, quem não estava era George, os três assinaram, pois era melhor que o anterior em termos de royalty, e valia caso continuassem ou não como banda. E no mesmo dia John contou aos demais sua decisão. Simples assim!  

A vida seguiu. Ringo já começava um projeto solo, homenageando seus pais com a  gravação de um álbum inteiro com grandes sucessos do passado, chamado Sentimental Journey. Paul gravava seu álbum solo, McCartney. John lançou o single Cold Turkey, com uma canção de Yoko no Lado B, e os dois lançaram o LP The Wedding Album. Em outubro, Yoko foi internada, e acabou perdendo mais um bebê. Paul teve sua primeira filha, Mary, e recolheu-se na Escócia, mas teve que lidar com a notícia de que havia morrido, veiculada pela imprensa de Iowa, nos EUA , reagiu com bom humor,  declarando que: "Posso garantir que os rumores de minha morte foram um pouco exagerados." George deu entrevista falando sobre suas canções em Abbey Road, e disse que as que gostou mais no álbum foraBecause e Golden Slumbers. Dias depois no mesmo programa, John às vezes falava como banda, ao mesmo tempo dizia que Paul e George deviam lançar suas próprias canções ao invés de dá-las para outros cantores, coisa que os dois fizeram algumas vezes. E os Beatles fizeram mais um movimento que deu certo: pela primeira vez, lançaram um compacto com canções já lançadas em álbum, as obras-primas, Something e Come Together, nessa ordem, apesar de ser um Duplo Lado A. John concedeu o posto, com prazer, dando valo à obra-prima que George havia composto. Direto para o topo das paradas, mais uma vez.

O final do ano foi dominado por John. Ele devolveu o título de Membro de Império Britânico que ganhara com os seus companheiros em 1965, em protesto contra a Guerra do Vietnam, mas acompanhado da singela carta, onde acrescentava um segundo motivo para a devolução... Além disso, ficou entre os três finalistas para ser considerado Homem da Década, os outros eram os estadistas John Kennedy e Ho Chi Min, e deu entrevista à ATV, rival da BBC, que na mesma hora estava com equipe de filmagem na mesma mansão, no primeiro de cinco dias acompanhando a vida do casal, para um documentário "O Mundo de John e Yoko". Ambos os programas foram veiculados no final de ano.  O casal ainda participaria de outro programa da BBC, o religioso The Question Why. John era o queridinho da TV. Mas o mais espetacular movimento de todos foi o lançamento mundial da campanha  War is Over (If you want it), com outdoors em 10 cidades do mundo. Perguntado sobre quanto gastou de seu bolso, ele disse: "Muito menos que o preço de uma vida naquela guerra!". 
George incrivelmente participou de 9 shows como um simples músico de palco para uns certos Dellaney & Bonnie, em quatro cidades da Inglaterra além de Copenhagen, veja só, até usando um pseudônimo para o efeito. Ringo participou de programas de caridade e esteve na esteia de seu filme The Magic Christian, onde atua como filho do grande comediante Peter Sellers. Ringo também participou da filmagem de um programa em homenagem ao Grande Maestro George Martin, de nome "With a Little Help From My Friends", onde tocou a sua Octopus's Garden. Vários artistas que trabalharam com o maestro estavam presentes, e Ringo fez as honras da casa representando os Beatles. Paul continuava em seu retiro em Mull of Kintire cuidando de sua filhinha Mary. Nunca se viu Paul McCartney tanto tempo fora do ar como nesse final de ano.

Eu passei a falar dos outros, só para dar uma trégua em falar de John. Ele estava frenético! Participou de vários programas de TV, sempre com Yoko, gravaram mensagem para a TV japonesa, foram a Toronto onde encontraram com o Primeiro Ministro Pierre Trudeau, cruzou de volta o Atlântico e participou do lançamento mundial de uma campanha de paz em Kent, onde pretendia ficar 24 horas de vigília na noite de Natal, movimento que seria repetido em outras cidades do mundo simultaneamente, mas ali, não conseguiu. A presença de John causou comoção e tiveram que cancelar o evento. Depois disso finamente descansou: passou um mês na casa do primeiro marido de Yoko numa pequena cidade da Dinamarca, chamada Aalborg, onde causou um rebuliço, sendo obrigado a fazer uma press conference. Nesse período, ele produziu momentos em fita cassete, conhecidos como Denmark I a IV, que incluíam brincadeiras dele com Kyoko, sua enteada, que foram passando de mão em mão e hoje valem dezenas de milhares de de libras esterlinas cada uma. Enquanto na Dinamarca, John quase foi processado em Londres por conta de uma exposição de desenhos seus sobre sua lua de mel, 14 desenhos ao todo, sendo 8 com conteúdo erótico. As citadas peças foram confiscadas pela polícia. Ao final desse período de férias, resolveu raspar a cabeleira a uma polegada. Yoko também, em solidariedade, 

Nesse meio tempo, começou a década de 1970 (ou seria apenas um ano depois) e ela viu logo em seu início as últimas sessões de gravação dos Beatles: reuniram-se Paul, George e Ringo em Abbey Road, sob a batuta de George Martin, em 3 de janeiro para gravarem I Me Mine, de George, que a havia tocado um ano antes nas sessões do Projeto Get Back junto com Ringo, e precisava de gravação para ser incluída no novo álbum. Dia seguinte, foi verdadeiramente a última sessão de gravação da história dos Beatles, quando se dedicaram a finalizar Let It Be, de Paul, enquanto do outro lado do Atlântico, um menino gordinho da cidade praiana de Santos completava seus 12 aninhos sem desconfiar que a banda que ele mais amava estava fazendo sua última reunião. Os detalhes dessas duas sessões eu darei quando destrinchar as respectivas canções, mas deixo aqui uma fala genial de George, no dia 3, ironizando a ausência de John, que já havia oficialmente deixado a banda:
"You all will have read that Dave Dee is no longer with us. 
But Mickey and Tich and I would just like to carry on 
the good work that’s always gone down , in [studio] number two.'
George, aliás, ainda dedicaria um tempo no dia 8 à sua composição, sendo esta a última ocasião em que UM Beatle trabalhava numa canção DOS Beatles. Produziu essa sessão Glyn Johns que estava encarregado de arrumar o material do Projeto Get Back para formar um álbum. Entretanto, os Beatles não aprovaram sua sugestão. Seguiu a vida, com os Beatles já gravando seus trabalhos solo na EMI, enquanto a carreira da banda seguia com um lançamento de um novo compacto, tendo a muito conhecida Let It Be no Lado A e a muito desconhecida You Know My Name Look Up The Number no Lado B, desconhecimento tal que provavelmente fez com que o compacto não chegasse ao topo da parada, ficou só na posição 2 em UK. Já nos EUA, ela não atrapalhou e o single chegou ao topo! Finalmente, no dia 23 de março, o produtor Phil Spector, famoso pela técnica Wall Sound e admirado pelos Beatles foi chamado para dar a cara final do LP Let It Be como o conhecemos e sobre o qual falaremos nos próximos capítulos!

O fogo no parquinho, entretanto, teria mais um episódio notório.  Pronto o LP McCartney, Paul anunciou ao grupo que o lançaria, deu data, 10 de abril. Só que o último LP dos Beatles teria que ser lançado em 24 de abril, juntamente com a estreia do filme Let It Be, e todos acharam que lançar dois álbuns dessa magnitude no período de poucos dias seria ruim para as vendas, naturalmente. O argumento era bom, mas a forma como a coisa se desenvolveu, certamente não. John e George escreveram uma carta a Paul, nestes termos:
Dear Paul, 
We thought a lot about yours and the Beatles LPs – and decided it’s stupid for Apple to put out two big albums within 7 days of each other – so we sent a letter to EMI telling them to hold your release date til June 4th (there’s a big Apple-Capitol convention in Hawaii then). We thought you’d come round when you realized that the Beatles album was coming out on April 24th. We’re sorry it turned out like this – it’s nothing personal. 
Love! 
John & George. Hare Krishna. 
A Mantra a Day Keeps MAYA! Away.

Em outras palavras, dizia que ELES (e a EMI) haviam decidido que o disco DELE deveria ser adiado para maio, em benefício do disco DELES e, sabedores de que o conteúdo era explosivo, mandaram-na com um emissário que, pensavam, iria amenizar o clima: Ringo, o mais legal dos Beatles, amado amigo de todos. Resultado? Paul leu, foi pra cima de Ringo com o dedo em riste, falou cobras e lagartos, e o mandou embora! "Get out!" Outro resultado? Paul lançou o disco dele em 10 de abril, anunciou o fim dos Beatles, e o disco dos Beatles é que foi postergado para maio!! O relacionamento entre Ringo e Paul levou ANOS pra se normalizar.

Eu juro que não queria terminar esta introdução desse jeito, mas assim eram as coisas naqueles dias...


Os Assuntos de Let It Be 

Foram 11 as canções gravadas. 

Todas Lennon/McCartney, excetuando-se as destacadas

      1. Two of Us
      2. Dig a Pony
      3. Across the Universe
      4. I Me Mine (George Harrison)
      5. Dig It
      6. Let It Be
      7. Maggie Mae (Tradicional)
      8. I´ve Got a Feeling
      9. One After 909
      10. The Long and Winding Road
      11. For You Blue (George Harrison)
      12. Get Back
                             
                            Agora, vamos aos Assuntos!! O álbum segue a tendência, iniciada em Rubber Soul e jamais seria abandonada, de ser predominantemente de Mind Songs 

                            Percebam a tabela abaixo. 



                            Mais detalhes sobre a divisão entre Heart & Mind Songs, aqui, neste LINK

                            Traduzindo...

                            São 2 canções falando ao Coração, as 2 sobre Garotas
                            • 1 sobre Garotas, na Classe Amor
                            • 1 sobre Saudade, na Classe Tristeza

                            São 9 canções que falam à Mente
                            • 4 sobre Si Mesmos, sendo 3 na Classe Mente, e 1 na Classe Sonho
                            • 3 com Histórias, sendo 2 na Primeira Pessoa e 1 Conto
                            • 1 com Discurso, para um Grupo
                            • 1 Nonsense

                            O Álbum Branco segue sendo o ÚNICO dos Beatles a ter canções em TODOS os 7 Assuntos em que este cronista dividiu o mundo da música, a saber, a saber, Girl, Miss, Story, Speech, Self, Acid e Nonsense!!  


                            E atualizemos nosso gráfico Heart x Mind, que introduzimos em Sgt.Pepper's!

                            Após o CAMPEÃO das Mind Songs,  Magical Mistery Tour  

                            Let It Be é o Vice, predominantemente Mind, com seu índice de 82%, somente perdendo para o Campeão.

                            Veja o gráfico:




                            Os próximos índices de Heart Songs serão:
                            • Past Masters #1 tem 11 Heart Songs (100%, 11 em 11 + 4 Covers)
                            • Past Masters #2 tem 5 Heart Songs (38%, 5 em 13)
                            Lembrem-se que os Past Masters #1 e #2
                            são coletâneas de canções fora dos LPs

                            Let It Be é, portanto, no trinômio Grupo / Assunto / Classe, um

                            82% Mind,
                            36% Self,
                            27% Mind Album!

                            Em termos de autoria, adotando o conceito de 'propriedade' do álbum, criado em Yellow Submarine,  Abbey Road é um álbum de Paul McCartney, pois fez 5 das 11 canções. Na verdade, uma delas, é meio a meio (I've Got A Feeling), mas a ideia de juntar duas canções foi dele, então vai pra ele. As canções estão assim divididas!
                            • Paul com 5 canções, sendo uma de Saudade com Tristeza, duas sobre Si Mesmo, uma com um Sonho que teve, e outra sobre sua Mente, uma com História num Conto, uma com História sobre Si Mesmo. 
                            • John com 4 canções, sendo uma tratando de sua Mente, uma com um Discurso para um Grupo, uma com História sobre Si Mesmo e uma Nonsense
                            • George com 2 canções, sendo uma sobre Amor com Garotas e uma sobre sua Mente
                            Na tabela abaixo, as evidências, nas letras, do porquê da classificação acima!




                            1. Two Of Us (Self StorySong by Paul McCartney)

                            Paul conta: 'Nós dois gastando o dinheiro suado, cavalgando pra lugar nenhum, sem destino, em nosso caminho de volta para casa...’ 

                            O 'Nós dois' referia-se inicialmente a ele e Linda, então sua namorada, em seus passeios pelos subúrbios de Londres, em que se perdiam de propósito, costume que Linda tinha em sua infância com seu pai, 'Two of us riding nowhere', o tema inclusive seria abordado de novo mais à frente no ano, no álbum final Abbey Road, em You Never Give Me Your Money. O trecho 'sending postcards, writing letters' também seria entre os enamorados. O contexto, entretanto, fez Paul mudar para ele e John. Há mais momentos Paul/John que Paul/Linda. No momento da gravação, início de 1969, os Beatles estavam no Projeto Get Back, de volta às origens musicais, mas estavam passando por dificuldades de relacionamento, tanto no profissional como no pessoal. Num segundo verso, ele diz: 'Two of us wearing raincoats, standing solo, in the sun' quer dizer que os dois estão se protegendo da chuva sob o sol, ou seja, na defensiva, sós, esperando o pior, mas mais importante, o uso da palavra 'solo', já prevendo um futuro próximo, cada um seguindo seu caminho só, em carreira solo. Há transcrições da letra que dizem que aí, Paul diria 'standng so low', mas eu interpreto 'solo'. Não sei se viajo muito, mas até mesmo o 'on the wall burning matches', lembra os tempos de Hamburgo quando colocaram fogo numa camisinha que grudou numa parede de um hotel barato, para enxergar melhor, eu digo 'viagem minha' porque quem fez isso com ele foi Pete Best, mas tudo bem. E, logo a seguir: 'You and me chasing paper, getting nowhere', ou 'imersos nesses documentos comerciais, não vamos chegar a lugar nenhum'. Na letra, pra mim, John dá quase de 7x1 em Linda! E ainda viria a ponte! 
                             
                            Em todos os versos, John e Paul cantam em perfeita harmonia vocal, um olhando para o outro, tocando violões, mas na ponte, é Paul sozinho quem lembra 'You and I have memories longer than the road that stretches out ahead', ou 'temos lembranças mais profundas que a estrada que temos à frente'. Esta última, então, é claro que é para John, com quem ele convivia há mais de 10 anos, tinha muito mais memórias do que com Linda, que ele havia conhecido há meses. Chego a chorar... que lindo caminho eles percorreram até ali, quando se sentiam prestes a separar-se.... ainda bem que ainda deu tempo para fazer seu melhor disco, aos 40 do segundo tem. 
                             
                            A estrutura é Verso 1 - Verso 2 - Ponte - Verso 3 - Ponte - Verso 3, e vale aqui a velha regra Beatle, de versos diferentes, e em Two Of Us não há qualquer repetição nos três versos principais, repetindo o verso final na conclusão. Não há muita riqueza em rimas. A harmonia vocal, com John e Paul cantando todos os versos juntos, John no principal e Paul harmonizando no agudo, é claramente inspirada em Everly Brothers, que eles admiravam muito, inclusive há momentos em que ele se chamam um ao outro de Phil e Don. Sugiro que procurem na rede alguns vídeos e se espantem com a qualidade vocal da dupla americana. 
                             
                            Two Of Us foi apresentada aos demais logo no primeiro dia de ensaios do Projeto, nos estúdios de filmagens de Twickenham, dia 2 de janeiro, foi 9 vezes ensaiada, com Paul no baixo, John e George nas guitarras, e claro, Ringo na bateria, tentando acomodar a mudança de tempo em 'on our way home'. Interessante é que George começou harmonizando com Paul no vocal, mas ainda naquele dia John assumiu, fazendo o vocal principal, atendendo a sugestão de Paul, que fazia a harmonia aguda. Ali, também, e por vários dias, o ritmo era mais rock, que a versão final, que ficou mais folk. No dia seguinte, apenas uma vez, mas no dia 6, foram 20 as vezes,  porém, mais marcante que esse número foi o áspero dialogo entre Paul e George que acabou levando este último a abandonar a banda dias depois, era o velho e demandante Paul sugerindo mudanças na guitarra de George, esse momento ficou famoso no filme Let It Be, inclusive é por ele que aquela época é lembrada na memória dos fãs, como atestado dos problemas de relacionamento. Felizmente, em 2020 chegou Peter Jackson (Lord Of The Rings) na vida dos Beatles, com seu novo filme, Get Back, que deverá pôr por terra essa impressão, em favor de um clima de maior camaradagem entre eles. 
                             

                            Bem, voltando ao tema, outras 16 vezes a canção foi ensaiada de 8 a 10 de janeiro, até a hora do almoço, após o qual, George não retornou para trabalhar. Apenas 10 dias depois, após impor condições (trazer Billy Preston e abandonar o estúdio de filmagem), ele retornou. No dia 21, o do retorno de George, Two Of Us não foi ensaiada, porém um áudio daquele dia foi utilizado para introduzir a versão final do álbum, era John com suas brincadeiras imitando chamada da BBC, antes de um ensaio de Dig It, canção dele, 'I Dig a Pigmy by Charles Hawtrey and the Deaf-aids...Phase one in which Doris gets her oats.'. Bem, após mais dois ensaios da canção no dia 23, dia seguinte eles mudaram totalmente o arranjo, George ficou em sua guitarra, porém nas notas mais graves, simulando o baixo, e John e Paul assumiram seuss violões, e após mais 21 ensaios, a canção estava quase em sua forma final, veja aqui, neste LINKque já está tudo lá, as perfeitas harmonias A La Phil & Don, os dois Beatles breaks, quando tudo para e Paul volta em seu riff no violão, no meio e no final, George firme no baixo improvisado na guitarra, Ringo firme nas mudanças de tempo, e até mesmo os assobios de John no final. Mesmo assim, mais 16 vezes ela foi aprimorada até a sessão final, dia 29, quando resolveram que tocariam várias canções no terraço da Apple, mas ela não estava entre as cinco que foram tocadas. Fizeram as contas? Two Of Us foi ensaiada 85 vezes! Mas não parou por aí. Após o show do terraço, as canções que não foram tocadas ao vivo receberam esforço adicional para registro final em fita, e no mínimo outras 12 vezes ela foi tocada, já que foi o Take 12 escolhido! UFA!  


                            2. Dig A Pony (Group Speech Song by John Lennon)

                            John provoca: " A-ha-ha-ha-ha, faço um brinde, pois você pode imitar quem você conhecer! Sim, você pode imitar quem você conhecer! Eu disse assim! Tudo o que eu quero é você. Tudo pode acontecer como você quiser!'


                            John celebra a liberdade, dizendo a seus amigos (O Grupo) que eles podem fazer o que quiserem, e no caso do trecho escolhido, podem imitar quem vocês quiserem. Bem, o título significa 'Fazer um brinde' mas, mais especificamente, entornar aquele shot de uma bebida forte, tequila, por exemplo. Eu escolhi esse trecho porque eu não posso deixar de associá-lo a um recado a Mick Jagger, já que ele começa o verso com 'I-ha-ha-ha-hai roll a stoney' e havia essa fama de que os Stones imitavam os Beatles, e tal. Bem, ao longo da letra ele também incentiva a 'apontar o dedo pra o que quer que você veja', ou 'você pode irradiar tudo o que você é' e outros, além do refrão que diz 'Tudo tem que ser exatamente do jeito que você quer que seja!'. Aliás, antes disso ele coloca um 'Tudo o que eu quero é você', o que indicaria que ele se referia a Yoko, aliás, também o verso onde ele fal que pode penetrar o que quiser tem exatamente essa conotação que você pensou. Sexo, mesmo!! Porém eu tenho a firme convicção de que é uma Group Speech Song! Musicalmente, o riff de entrada é sensacional, tem Billy Preston, companheiro das sessões do Projeto Get Back no piano elétrico, backing vocals perfeitos de Paul e George, e o destaque supremo de fazer parte do set list das canções que foram tocadas no telhado, na última apresentação ao vivo dos Beatles! Não é pouco, não! 
                             
                            Apesar de John desprezar a letra, ela tem muitos atrativos, além dos já citados. Primeiro, a estrutura: são 6 versos diferentes (regra Beatle obedecida!), entremeados dois a dois com um refrão (além de um verso instrumental). Depois, a rima entre os 6 versos, com a escolha dos verbos da principal ação de cada um, veja se não: 'celebrate', 'penetrate', 'radiate', 'imitate', 'indicate', 'syndicate', verdadeiro deleite, não? Finalmente, note que os versos pares, que introduzem o refrão, terminam com verbos que rimam com sua frase inicial 'I told you so!', veja, no Verso 2 com 'any place you go!'no Verso 4 com 'everyone you know!'no Verso 6 com 'any boat you row!', arrasou, não? Além, mais uma, da rima rica no refrão, do pronome 'you' com o verbo 'to', sim, porque ele introduz o verbo 'to be'. Adoro essas coisas!

                             
                            E vamos à música! Apesar de John trazer Dig A Pony logo no primeiro dia do Projeto Get Back, ali ele a tocou uma vez, solo, depois chegou Ringo e depois George, mas não houve um ensaio pp dito. Paul viu a canção pela primeira vez no dia 7, até tentou engajar-se mas nem tanto assim, John até ficou chateado. Os dias foram passando, George saiu dos Beatles, e os outros 3 chegaram a tentá-la, mas nada sério. Demorou pra engrenar! No primeiro dia da volta de George, mais algumas tentativas, e aquela fala introdutória de John que acabou abrindo Two Of Us no disco. O dia 22, entretanto foi quando hpuve um número considerável de ensaios da canção, foram 24, e uma delas sobreviveu e foi lançada no Anthology 3, veja neste LINK, quase pronta. Mais um par de vezes nos quatro dias seguinte, o dia 28 viu outros 6 ensaios sérios de Dig A Pony, o suficiente para colocá-la no sel lista do show no terraço, o que foi decidido no dia seguinte, o que a colocaria para a posteridade, apenas 5 canções tiveram a honra de vir ao mundo no último show ao vivo dos Beatles, e o primeiro em 30 meses. Dig A Pony foi tocada apenas uma vez, à perfeição, aquela valsa, aquele riff inicial tocado por John e George nas guitarras e tabém por Paul no baixo, Ringo, no pratos e tom-toms, entram Pau e George cantando 'All I want is...' e vem John no vocal principal 'I-ha-hi-ha-hi dig a pony for you can celebrate anything you want...' e  depois o Verso 2, onde já aparece Paul harmonizando no pronome estendido, e também depois ao longo do primeiro refrão, e o esquema se repete nos outros dois pares de versos e refrões, sempre impressionando a precisão e beleza do riff introdutório que se repete nos ouros refrões e também na conclusão. Magnífico!

                            3. Across The Universe (Mind Self Song by John Lennon)

                            John declama 'Piscinas de mágoas, ondas de alegria, atravessam minha mente aberta, possuindo-me e acariciando-me... eu saúdo o Guru ... Nada vai mudar meu mundo'

                            Pronto, gente, pera um pouco que eu vou me recuperar. Vocês estão prestes a ver o papo sobre uma das mais belas letras da história, não dos Beatles, mas da humanidade. Dá vontade de apenas colocar a letra toda aqui e não falar mais nada. Mas não é esse o papel deste analista neste estudo. Usei novamente o verbo declamar, porque se trata de uma poesia em prosa. 
                            'Palavras voam como uma chuva sem fim num copo de papel, elas deslizam enquanto passam, elas seguem seu caminho através do universo ...". 
                            Não, não vou colocar a letra, toda ela é linda, procurem, é fácil achar. Bem vamos à história.. estavam os Beatles se preparando para viajar à Índia, animados que estavam em aprender Meditação Transcendental, e deixaram algumas canções para serem lançadas em compacto enquanto estavam fora. John tinha esta canção, que começou quando ele e Cynthia foram dormir após uma discussão de casal, onde Cynthia falou um monte, John demorou a dormir e aí veio a primeira frase: 'Words are flying out'... Quem diria que uma balada cósmica tão linda teria começado numa DR... Felizmente, a coisa mudou dali em diante e virou uma viagem, através de seu universo pessoal. 
                            "Imagens de luzes falhas dançam à minha frente como milhões de olhos, que me chamam de novo e de novo, através do universo" 
                            ... ih, olha eu de novo ... sorry, não resisti. Enfim, era uma noite fria de fevereiro de 1968, a gravação não ficava boa e Paul teve mais uma daquelas ideias que só Paul mesmo. Saiu fora do estúdio, viu aquele grupo de garotas que sempre estavam lá, carinhosamente chamadas de Apple Scruffs, e perguntou se havia quem soubesse cantar. A brasileira Lizzie Bravo levantou a mão e chamou uma amiga inglesa pra ir junto com ela e AS DUAS PARTICIPARAM DE UMA GRAVAÇÃO DOS BEATLES! Muita  história ela conta desse dia desde então, conhec-a há três anos e ela até contribuiu para meu post sobre esse feito inesquecível. Ela e a amiga fazem vocal de apoio no refrão 'Nothing's gonna change my world', em todas as vezes em que ele foi cantado. Eles foram viajar, escolheram outras duas canções para o compacto e Across The Universe ficou engavetada.  
                            "Sons de risos, sombras de amor tocam meus ouvidos atentos, excitando-me e convidando-me"
                            Não resisto! Felizmente, um produtor frequentador de Abbey Road ouviu a música, encantou-se com ela e propôs e foi aceito que fosse lançada num LP para levantar fundos. Claro que o próprio nome do LP acabou sendo o refrão da canção, um pouco modificado. Como a instituição beneficiada era o 'World WildLife' acresceram sons de pássaros no começo e no final da canção e o disco foi lançado em dezembro de 1969. A versão, entretanto, que o mundo conheceu foi outra, lançada em maio de 1970, no último disco lançado pelos Beatles, Let It Be, mas agora com orquestra e coral que o produtor Phil Spector encasquetou de colocar. Sinceramente, achei que caiu bem a orquestração pra acompanhar uma melodia tão... tão poética... 
                            "Pensamentos vagueiam como um vento sem fim por entre uma caixa de correio, eles vão caindo enquanto fazem seu caminho através do universo" 
                            Estou incorrigível, hoje ... Sim, era uma boa versão, mas os Beatles a abominaram! Tanto que 30 anos depois, lançaram o Let It Be inteirinho como ele gostariam que tivesse sido lançado, cru, básico, NAKED, que foi como eles nomearam o lançamento! Antes, e felizmente, em 1988, o projeto Past Masters, que reuniu canções não lançadas em LP's, reviveu a versão do projeto de caridade, aquela em que UMA BRASILEIRA CANTOU COM OS BEATLES!!!
                            Bravo, Lizzie!! 
                            (ver aqui, neste LINK, como Lizzie corrigiu meu post) 
                             
                            Já deu pra perceber a estrutura da canção, afinal já contei a letra de vários deles. São 6 versos, com letras diferentes, entremeados e finalizados pelo refrão, que é em duas partes, um pré-coro ('Jai Guru...') e um coro (''Nothing is gonna..'). Reproduzi 5 deles já, em meu êxtase e o sexto estará mais à frente para finalizar. Aqui, John refuta aqueles que dizem que poesia sem rima não val. Esta pérola não tem NENHUMA rima, e é pura poesia, da melhor qualidade! 
                             
                            Vamos a mais fatos e dados sobre a gravação! Era 4 de fevereiro de 1968 (sim, não fazia parte do Projeto Get Back), e John a trouxe todo animado, adorava sua composição, mas segundo ele, os demais não a receberam com o entusiasmo que ele achou que merecia. Será? Acho que não! O Take 1 foi apenas ele ao violão, George no Tamboura, ainda no ânimo com os instrumentos indianos, e Ringo nos tom-toms. No Take 2, uma revolução, George passou à cítara, Ringo tocou um Swarmandal, mais um indiano que fora tocado em Strawberry Fields Forever com magnífico efeito, e Paul tocou violão junto com John. Dei tantos detalhes assim porque o take sobreviveu e foi lançado no Anthology 2, veja neste LINK. Note que John tem dificuldade de respiração por causa das longas frases. Já no Take 6, abandonaram os instrumentos indianos como base e o take seguinte foi considerado bom, mas meio assim-assim. John não estava feliz. George Martin tentou ajudar e, no primeiro overdub de vocais de John, tocou a base em velocidade ligeiramente menor que a normal, para facilitar a vida do vocalista. Esqueci de dizer que era um domingo, e era de tarde, duas coisas que não aconteciam normalmente, mas eles tinham pressa para deixar canções prontas para o próximo compacto, como eu já disse. Já de noite, após um intervalo, chegou-se à conclusão de que vocais agudos eram necessários, e então veio Paul com a ideia das meninas, que fizeram muito bem o seu serviço, dividindo o microfone com o grande John Lennon, olha que honra, e foram convidadas a se retirarem. 
                             
                            Pausa para Lizzie talk 
                             
                            Lizzie acabou ficando amiga dos rapazes, há inclusive um episódio interessante em que Paul a convidou para conhecer sua casa, logo ali, e Paul emprestou a ela um gravador de fita. Na volta ao Brasil, anos depois, Lizzie foi backing vocal de várias bandas brasileiras, uma delas a de Zé Rodrix, com quem se casou e tem uma filha. Num encontro mais de 20 anos depois com Paul, sem se apresentar, ele perguntou a ela: "Do I know you?" e ela respondeu "Across The Universe". E ele se lembrou de imediato, com carinho. Incrível, né? Uma heroína Beatle brasileira! Aliás, estas e outras incríveis histórias de sua heroica passagem de três anos em Londres, onde se esbarrou com os 4 Beatles inúmeras vezes, sorverei com fervor, em seu livro, que acabei de adquirir, autografado, com imagens e diagramação em altíssima qualidade, além de um poster brinde de babar.
                             
                            Fim do Lizzie Talk 
                             
                            Depois da saída das meninas, alguns overdubs diferentes foram tentados, como baixo e bateria tocados ao contrário, e alguns murmúrios múltiplos trazidos do banco de efeitos da gravadora, e uma guitarra e um som de harpa, que também foram marcados para serem posteriormente tocados em reverso. John levou um acetato com o resultado, para casa e quatro dias depois, disse: "Não quero nada disso!". Gravaram órgão (Martin), piano (Paul), guitarra (George) e chocalho (idem),  e novos vocais e harmonias de George e Paul. John estava desapontado com ele mesmo, chateado pela banda não ter conseguido um arranjo decente, e, ao final daquele dia decidiu-se que Across The Universe ficaria de fora do próximo compacto que, pela primeira vez, não teria uma original Lennon: seria Lady Madonna, de Paul e The Inner Light, de George, aliás, a primeira vez que nosso guitarrista solo teve essa distinção. Felizmente,  Spike Mulligan lá estava, como convidado de George Martin, simplesmente amou a canção e fez o trato com John para usá-la naquele disco beneficente de que já falei, mas ela somente veria a luz do sol em dezembro de 1969. Antes disso, ela foi tentada no Projeto Get Back, em janeiro. John a trouxe ao grupo no dia 6, ensaiaram algumas vezes, desta vez com John na guitarra base, George em outra, com pedal Wah Wah, Paul no baixo, Ringo de novo nos tom-tom's. Nesses ensaios, Paul harmonizava com John em alguns versos e dobrava no coro.  Eles ouviram a versão com quase um ano de idade, que já estava com os sons de pássaros colocados por conta do projeto de caridade no qual seria incluída. John, entretanto, desta vez estava chateado com o fato de ela ser lenta, o que seria inadequado para o Projeto de volta às origens. O ponto final da possível participação de Across The Universe no Projeto Get Back foi, entretanto, sua possível utilização num EP junto às quatro canções originais do álbum Yellow Submarine. É que o público se mostrou indignado (adjetivo muito atual hoje) por terem-nas lançado junto com canções de trilha sonora do filme, composições clássicas de George Martin. Enfim, decidiram lançar o EP com 5 canções, para dar 'more value for the money' para aquele povo insensível que não sabe reconhecer o valor da boa música. Isto posto, os Beatles nunca mais tocaram em Across The Universe, pois seria utilizada aquela versão já gravada, com as meninas e os pássaros. 
                             
                            Você viu esse Ep? Não? Nem ninguém! Ficou na prateleira! Mas finalmente chegou 12-12-69, quando o mundo conheceu a nova canção dos Beatles, junto a outros astros do momento, veja que lista ótima! E a capa mostra caricaturas de todos, inclusive dos nossos queridos, com o visual da época, como vimos na capa de Abbey Road. E note como o refrão de Across The Universe virou o nome do álbum. A versão tem nossa Lizzie e sua amiga, os pássaros e barulhos de crianças, e foi lançada em Mi Bemol, portanto meio-tom acima do original, que era em Ré. Ouça neste LINK.
                             
                             
                            Finalmente, a versão do álbum! Numa primeira tentativa, o projeto foi dado a Glyns Johns, que felizmente se lembrou de Across The Universe, mas os Beatles recusaram seus mixes. Chamaram então Phil Spector e lhe deram carta branca. Ele então pôde usar sua técnica de Wall of Sound, e para isso chamou 50 músicos e cantores ao Estúdio 1. Ele preparou arranjos de orquestra e coral. Vai contando: 18 violinos, 4 violas, 4 violoncelos, 1 harpa, 3 trompetes, 3 trombones, dois violões, 14 cantores, somou? Deu 49? Errou? Não! Ele chamou também Ringo Starr. A grande sessão foi em 1 de abril de 1970. Ele reservou um gravador de 8 Canais (ou faixa, pistas, tracks, como quiser chamar), colocou a base de 7-2-68 no Canal 1 , o novo vocal de John, do dia seguinte no Canal 2, o piano de Paul e a guitarra e chocalho de George no Canal 3, e colocou a orquestra pra tocar, de forma separada, cordas em geral no canal 4, mas apenas violinos no Canal 5, metais, nova bateria e novos violões no Canal 6, o coral no Canal 7, e mais metais, bateria e coral no Canal 8. Uau! Esta, a filosofia da Parede de Sons! Deliberadamente, Spector sumiu com as vozes femininas, uma pena. Ah, interessante que aqui, ele reduziu a velocidade da gravação, também em meio tom, passando do Ré original para o Ré Bemol. Portanto, NENHUMA das versões de Across The Universe tinha o tom original gravado pelos Beatles, até 2003, quando o Let It Be Naked foi lançado!!! Ele é tão NU que nem tem as meninas!! 
                             
                            Voltando ao que foi lançado no álbum Let It Be, tenho que admitir que ficou linda a tal parede de sons. Ouça e note uma introdução em três compassos, no primeiro somente John no violão, Ringo entrando com o tom-tom nos dois seguintes, e seguem apenas os dois instrumentos, com John já cantando os quatro compassos do Verso 1 'Words are flying out ...' em tempo 4x4 nos primeiros três e alterando para 5x4 no último, após o '...universeao 'anunciar' o Verso 2 'Pools of sorrow, waves of joy...', também em quatro compassos, mas com uma variação de tempo no terceiro, para 2x4. Essa extensão no último compasso do Verso 1 fora introduzida para dar tempo de John respirar, lembre-se como ele se atrapalhou nos ensaios originais, cujo LINK coloquei ali em cima. O som cheio da voz e do violão durante os versos são efeito de 'double-tracking' e 'flanging', parece que há vários John's cantando e tocando violão. E agora vem o 'Jai Guru Deva..." do pré-refrão com a orquestra subindo, e no primeiro 'Oooom', o coral entrando e arrepiando a gente. À essa altura, o único Beatle que se ouve é George com seu chocalho, porque o violão e bateria originais de John e de Ringo são diminuídos em favor de mais violões e também do próprio Ringo, mas vindos da gravação do Wall Of Sound. Na próxima seção, os Versos 3 e 4 têm o mesmo tempo do Verso 1, e se ouve a orquestração direto ao longo deles, e no segundo refrão, perceba a guitarra wah-wah de George, lá da gravação original de 1968. Os Versos 5 e 6 têm os exatos tempos dos Versos 1 e 2, mas com orquestração e coral direto, e depois vem a conclusão fenomenal de 12 compassos, com sucessivas repetições (são 6 vezes) de 'Jai Guru Deva', entrando George com sua guitarra e, finalmente, chega Paul em oito notas ascendentes de seu piano em cada um dos compassos a partir do quarto, que ele gravou lá atrás! Um mix muito bom! Mas tenho no meu coração que faltaram as vozes das meninas, entre elas a heroína brasileira Lizzie Bravo.
                            Across The Universe foi regravada por muitos cantores, incluindo David Bowie, numa gravação que teve a participação do próprio John Lennon, bem recebida pelo autor, e mal recebida pela crítica. A versão que mais gosto, entretanto, me emocionou tanto que mereceu post meu, e muito da emoção foi por conta da participação de seu filho Sean fazendo uma segunda voz para Rufus e Moby, cada um destes dois últimos cantando o lead em uma oitava diferente, aliás, chorei de novo quando revi agora, e deixo aqui pra dividir com vocês, finalizando este capítulo. Neste LINKnão perca, e reserve um lenço...
                            "Um amor incondicional sem limites que  brilha à minha volta como milhões de sóis e me chama para ir pelo universo"

                             Finalizo com a declaração de John: 

                            É a minha melhor letra, ela funciona sem a música!

                             

                            4. I Me Mine (Mind Self Song by George Harrison)

                            George admite: 'Ao longo do dia é só eu, depois eu e mais eu e ao longo da noite, eu, mim, meu, eu, mim, meu, eu, mim, meu, agora estão com medo de largar, todos estão tramando, tornando-se mais forte o tempo todo' 
                             
                            Ao mesmo tempo em que George faz uma crítica ao egoísmo, falando em todas as formas de primeira pessoa, em todos os pronomes possíveis, como se fosse ele se auto-acusando (e por isso eu coloquei a canção nesta categoria), ele lança mensagem direta a seus companheiros John e Paul (o 'todos' da letra), os autores maiorais da banda, por só pensarem nas composições deles, não abrindo espaço para as dele. Uma imagem emblemática do desprezo pode ser vista no filme Let It Be, pode-se ver neste LINK, uma cena aparentemente singela, de John dançando uma valsa com Yoko, ao som da canção de George, que é, em verdade, uma valsa (mudando para rock no refrão), pode-se perceber a batida, tum-ta-ta, tum-ta-ta. Ocorre que John desprezou a canção desde o início, criticando-a por ser uma valsa, que isso não poderia ser uma canção Beatle. Aparentemente, ninguém se lembrou de esfregar na cara dele que ele já fizera uma valsa, seis anos antes, Baby's In Black? O fato é que John nem participou da gravação. O clima estava tão ruim (era começo de 1969) que George deixou a banda, num lamentável 10 de janeiro, mas voltou uma semana depois. 
                             
                            Aliás, I Me Mine tem uma história muito peculiar. Ela foi gravada em apenas dois dias, porém, tendo quase um ano, mais exatamente, 360 dias de intervalo entre o primeiro e o último dia. Veja: George a trouxe para o Projeto Get Back, no dia 8 de janeiro, nos estúdios de filmagem de Twickenham. Naquele dia, ela foi ensaiada 40 vezes. Cabe até uma parada aqui, para detalhar a ficha técnica da versão final: 
                            George: Vocal principal e de apoio, violão e guitarra distorcida. 
                            Paul: baixo, órgão e vocal de apoio. 
                            Ringo: bateria. 
                            John: valsa 
                            Ali ocorreu o episódio da valsa de John e Yoko. Bem, se podemos criticar John por ter desprezado a canção e não ter contribuído com instrumentos, foi indiretamente graças a ele que ela viu a luz do sol de uma gravação. Sim, porque a sua gozação, pegando Yoko para valsar, encantou a todos, até George gostou da brincadeira, e disse, ainda que magoado: "Quando fizermos o show ao vivo, vai ser essa sua participação, nós tocamos e cantamos e você valsa!". O diretor Michael Lindsay-Hogg adorou a ideia e incentivou e filmou, e a cena fez parte do filme Let It Be, veja aqui, neste LINK. Note que àquela altura havia um trecho em guitarra flamenca precedendo o último verso. Dois dias depois da dança, ele deixou os Beatles, magoado com o desprezo de John com aquela canção e de Paul e de John com sua obra em geral, e de saco cheio com as exigências de Paul. Voltou 10 dias depois, sob condições. E chegando ao final do projeto, decidiu que nenhuma das duas canções que ele trouxe seria tocada ao vivo. Com o projeto engavetado, ela ficaria para sempre, na prateleira, se não tivesse 'participado' do filme. O mesmo aconteceria com Across The Universe. O fato de elas estarem no filme fez com que voltassem a ser consideradas para estarem no álbum final, Let It Be.  
                             
                            Aí passaram-se mais de 11 meses até o segundo dia. A essa altura, eles já haviam gravado e lançado Abbey Road e John Lennon já havia deixado os Beatles. E no dia 3 de janeiro de 1970, no alvorecer da década de 1970 (ou seria apenas um ano depois?), os três Beatles remanescentes se reuniram para gravá-la de fato, sob a batuta de George MartinEntão foram 16 takes, com George na guitarra base, Paul no baixo, Ringo na bateria, mas depois Paul foi ao órgão, e George acresceu lindas partes de violão e de guitarra distorcida. Os três arrebentaram em suas funções, John não foi necessário. A estrutura da canção tem três versos e duas pontes. Dois dos três versos tem letras diferentes, obedecendo ao critério Beatle. Rimas? Mine-Time-Wine, ok! E aqui eu percebi que eles pronunciam o 'G' no gerúndio dos verbos, ouça em 'playnG it, sayinG it, leavinG it, weavinG it', achei que sumiam, é Beatles ensinando-me a falar corretamente o inglês. As pontes são as mesmas, aquele trecho em rock do "I-me-me-mine", harmonizados por George e Paul, repetido 4 vezes, com linda guitarra de George, Paul parecendo um tecladista profissional, e Ringo se desmembrando na variação de tempo, porque os versos são tocados em ritmo de valsa 6/8 e  ponte é tocada em ritmo de rock, 4/4. Aliás, não só a ponte... a seção valsa é perfeita, também, a partir da introdução magnífica de George na guitarra com Paul no órgão. Note também o violão ascendente de George nos versos, junto com 'I me mine I me mine I me mine'. Charmoso! 
                             
                            Para o lançamento do LP, entretanto, ele ainda levaria um banho de orquestra pelo produtor contratado Phil Spector, e uma das canções 'lavadas' foi I Me Mineas outras duas sendo Across The Universe e Long and Winding Road. Como ela não requereria as vozes do coral, foi deixada para o final da sessão, quando os cantores foram embora, e a sessão se estendeu até a madrugada do dia seguinte. A orquestra acompanha os versos e some nas pontes.

                             
                            Como finalização, deixo a ironia de George logo antes do Take 16. Recentemente uma banda (Dave Dee, Dozy, Beaky, Mick & Tich), de pouquíssimo expressão fora da Commonwealth, teve a saída de um dos seus principais membros (Dave Dee). Claro que aquilo se encaixou direitinho na situação que eles viviam, pois John já havia deixado a banda, então George veio com esse hilário, ao mesmo tempo triste, comentário:
                            "You all will have read that Dave Dee is no longer with us. 
                            But Mickey and Tich and I would just like to carry on 
                            the good work that’s always gone down, in [studio] number two.'

                            George Martin manteve essa fala ao lançar I Me Mine no Anthology 3, sem o fundo de orquestra! Veja aqui, neste LINK, onde podemos notar as excelentes performances de três músicos de uma banda de 4 membros que já não existia mais....

                            Três capas de seu livro autobiográfico, que eu ainda não liiiiii!

                             

                            5. Dig It (Nonsense Song by John Lennon)

                            John joga palavras: "Like a rolling stone, Like a rolling stone, I like a rolling stone, Like the FBI and the CIA And the BBC? BB king And Doris Day, Matt Busby'

                            Nas sessões do Projeto Get Back, notabilizou-se uma Jam Session puxada por John e acompanhada pelos demais (Paul, George, Ringo e Billy Preston), que durou 15 minutos, dos quais o produtor Phil Spector extraiu os 51 segundos que sobreviveram no LP, a chamada 'famous people section', inclusive o obscuro Matt Busby, que a gente tem que ir wikipidiar para descobrir que era "um treinador escocês de futebol e ex-jogador. Consagrou-se como treinador da primeira era de ouro do Manchester United". Nós, beatlemaníacos, gostamos de ouvir as versões mais compridas, daqueles três acordes repetidos à exaustão com John principalmente, mas outros fazendo citações e chamados. A versão que aparece no filme Let It Be tem 4 minutos, e até aparece Heather, a filha de Linda (ainda apenas Eastman) murmurando a canção e um George Martin tocando um chocalho meio sem jeito. Ela é creditada no LP aos quatro Beatles. No final, John apresenta, com voz de criança, a performance do grupo com o título Can You Dig It, que seria de autoria de um certo Georgie Wood, que seria um conhecido da infância de John. Por isso, e pela iniciativa e condução do jam, prefiro contabilizá-la como sendo apenas de John.  
                             
                            Que mais dizer sobre essa 'canção'? Estrutura? Nenhuma! Rimas? Nenhuma! Precisa não, né? Palavras jogadas... Talvez, que a inspiração do nome estava no ar, naquele fim de década de 1960, apesar de se ouvir em conversas desde o século anterior, a gíria 'Can you dig it", que pode ser, 'pega essa', ou 'saca essa', que eu escolhi para a tradução ali em cima. Dois grupos musicais a utilizaram em suas letras recentemente, inclusive os incríveis Monkees (adoravaaaa!), de grande sucesso, tinham uma canção com exatamente essa expressão num álbum recente, e até o verbo foi usado em outra canção do mesmo álbum, Dig A Pony, também de John. Tanto John como Paul usavam em diálogos naqueles tempos. Mas foi John quem começou a 'diggear' qualquer coisa, com a guitarra na mão, a manhã, a noite, a pessoa famosa, a canção esquecida, e outros se juntaram, num ritmo bluesado, três acordes indo e voltando, e fizeram isso quatro vezes no dia 24, uma delas com a guitarra havaiana (slide) no colo, todos entravam no esquema, com seus instrumentos, e com participações vocais, 
                            John e Heather (filha de Linda)
                             e daí, os créditos foram para os quatro Beatles, e poderiam ter incluído Billy Preston que chegou depois, e tal, mas sempre era muito mais John que os demais, imitando locutores de rádio e TV, fazendo sotaques de outras línguas, brincadeiras. Terminando uma delas, John fez uma locução em falsete, anunciando a canção que acabava de ser 'tocada' e a que seguiria. 
                            Foi assim: "That was 'Can You Dig It' by Georgie Wood. And now we'd like to do 'Hark, The Angels Come." Resolvi dar este detalhe, muito já sabem por que, outros saberão em seguida. Dois dias depois, um domingo de trabalho, eles se engajaram numa longa salada de 15 minutos de 'digação' desenfreada. Cerca de quatro minutos dessa performance aparecem no filme Let It Be, já descritos acima, onde até Heather, a filha de Linda cantou. E, quase um ano depois, Phil Spector, o produtor contratado com carta branca para fazer o que quisesse, escolheu 51 segundos, apenas com falas de John, e editou junto aquele trecho de fechamento que ressaltei aqui logo em cima, e colocou entre I Me Mine e Let It Be, que fechava o Lado A do álbum. 
                             
                            Uau, até que consegui dizer algo! Paul gostou da brincadeira e até pensou em lançá-la como Lado B de um compacto, tendo a sua Maxwell's Silver Hammer no Lado A (ela já tinha uma versão gravada à altura), só que não, né, os outros três Beatles não deixaram, leia por que no link fornecido. Concluo mostrando um trecho alternativo, de 4 minutos, para mostrar como era a coisa, neste LINK, atestando que havia momentos de descontração entre eles.

                             

                            6. Let It |Be (Dream Self Song by Paul McCartney)

                            Paul sonha com sua mãe: 'Quando eu me encontro em momentos difíceis, Mãe Maria vem para mim, sábia, e diz: Deixa estar. E nas minhas horas sombrias ela está em pé bem na minha frente, sempre sábia, e diz: Deixa estar' 

                            Isso mesmo, parece que uma constante naqueles tempos, mais precisamente em 1968, Paul, assim como, John, como George, e até como Ringo (como vimos acima) estava preocupado com os rumos da banda, e ele teve uma visão de sua mãe Mary, em sonho, dizendo Let it be.... mas a quem lhe perguntava se Mary não era a mãe de Jesus, ele deixava a critério do avaliador a interpretação. Só não lhe viessem com a esculhambação de dizer que seria Marijuana (maconha), que ele ficava doido. Paul, como John, perdera sua mãe cedo, mas para o câncer de mama, quando ela ainda atuava como enfermeira, e ainda antes dele encontrar John. Aos 14 anos, um Paul arrasado encontrou consolo num violão que seu pai Jim havia comprado recentemente para ele e seu irmão Mike, enfiando a cara no instrumento, e ficando tão bom, que impressionou John no encontro no pátio de uma igreja, menos de 9 meses depois. Foi como uma gestação, sendo a semente, a dor da perda, e sendo o parto, o nascimento da maior dupla de compositores de todos os tempos.  Depois da homenagem, ao mencionar a mãe numa canção, Paul também deu o nome dela à sua primeira filha com Linda, que nasceu em 1969. 
                             
                            Pausa para uma fofoquinha...
                            À parte desta terna inspiração veiculada, com o nome da canção ditado por sua mãe em sonho, há uma outra, paralela, menos emotiva. Paul contou a Mal Evans, o grande (mesmo) companheiro assistente, antes roadie, para todas as horas, que em uma sessão de meditação (que aprendeu com o Maharishi), ele tivera uma visão com o gigante (metro e 96) amigo lhe dizendo "Let it be" em reposta a suas mágoas com o momento da banda. Verdade ou não, é que na primeira vez que ele a tocou em estúdio, ainda longe de ter arranjos e letras finas, ele cantou 'Mother Malcom', ao invés de 'Mary'.... duas vezes. Era setembro de 1968, sessão para Álbum Branco. Bem, visão da mãe ou do amigo, não interessa.
                            Fim da fofoquinha 
                             
                            A composição obedece aos critérios Beatle de fazer música, levado ao extremo: não há repetições de letra entre os 6 (seis) versos cantados (!), e ainda tem o requinte de mudar levemente a letra entre um refrão e outro ('Whisper words of wisdom' e 'There will be an answer'! Isso é Paul McCartney. Os Versos 1 e 2 contam o encontro dele com sua mãe em sonho, os Versos 3 e 4 estendem o benefício do conselho aos que estão magoados, com o coração partido, e aos que estão separados por algum motivo, e os Versos 5 e 6 retomam o contato com a mãe mas de uma forma diferente, contando que ela é uma luz que sempre brilha a seu lado. Muito lindo! Lembrando disso, deixo registrado aqui um momento de emoção de Paul, já mais recente, quando ele anda de carro com um apresentador de Talk Show. Realmente tocante, neste LINK. Interessante que a única rima da canção é no fonema 'ee'' ou 'i' em português, 'be-me-see-agree'. Além dos seis versos cantados, há um verso instrumental na introdução, ao piano, e dois acompanhados com solos de guitarra. 
                             
                            Muitos ensaios e versões estavam reservadas a Let It Be, desde que Paul a apresentou oficialmente ao Projeto Get Back, nos estúdios de Twickenham. Já no dia 3, Paul tocou para Ringo, um verso e um refrão, mas de fato mesmo foi no dia 8, primeiro apenas com ajuda de Ringo e John, e ainda usando vez ou outra o incrível "Mother Malcom" na letra, e no final do dia, com a chegada de George, com John já arriscando uns vocais de apoio, mas a canção ainda estava sem forma, nada que valesse a pena ser contado como ensaio. No dia seguinte, a coisa ficou mais definida, por exemplo, John, que começou com sua guitarra, já havia passado ao baixo nos últimos dos 16 ensaios do dia, já que Paul ficaria ao piano, e eles tinham aquela ideia de não ter acréscimos posteriores no projeto, a canção tinha que ser executada integralmente por eles ao vivo. No dia 10, George saiu da banda, voltou 10 dias depois, já com Billy Preston e seus teclados no barco, para quem Paul apresentou a canção no dia 23 e, dia seguinte  Paul ensaiou Let It Be 14 vezes, mas só com seus companheiros de banda. Foram mais 18 vezes no dia 25, mas tudo parecia ainda desconjuntado até que, na última do dia, ele falou para o produtor: "Grave a próxima que será ótima!" E foi! E foi boa o suficiente pra ser lançada no Anthology 3, veja, neste LINK, que ainda não há a letra dos Versos 5 e 6, ele repete a dos Versos 1 e 2, mas a estrutura já está toda lá, com dois bons solos de George em duas vezes 8 compassos do meio da canção, mas ainda sem o órgão de Billy. E a introdução ainda não é a que conhecemos, mas a mesma sequência de acordes descendentes ao piano do final, a chamada coda, que se ouve no final, e em duas vezes no meio da canção, introduzindo os solos. 
                             
                            Vocês viram que os números de ensaios começaram a aumentar, né... pois bem, no dia seguinte, não se perca, dia 26, foram mais 28 vezes! Era a progressão em busca da 'batida' perfeita, agora com a presença do órgão de Billy Preston, em especial na segunda coda intermediária, trazendo um som de igreja à canção.. Houve mais 12 ensaios no dia seguinte e, nos dois dias em que se decidiu fazer (e se fez) o show no terraço, Let It Be foi levada apenas uma vez, com nada de novo. Depois do show, era o último dia do Projeto, pois Ringo começaria a filmar seu novo filme, com Peter Sellers, então ocorreram os 8, na verdade, 9 takes finais, nem todos indo até o fim, todos já começando com a introdução definitiva ao piano, e os que foram até o final, tinham, finalmente, as letras definitivas dos dois versos finais, ufa! Uma das versões foi para o filme Let It Be. 
                             
                            A razão do 'na verdade' ali de cima, é que os takes foram numerados 20 a 27 (!) por causa da claquete do filme, acho que ficaram com vergonha de mostrar no filme que já haviam atingido a marca centenária de ensaios, sim, pode contar, naquele dia seria o 101º ensaio. Só que após o Take 27, que ficou ótimo, resolveram fazer mais um, com o mesmo número, então virou o Take 27b, o primeiro ganhando a alcunha de 27a, escolhido como o melhor. Ufa! Terminou? Nããão! George ficou meses matutando que seu solo de guitarra do escolhido Take 27a não estava como alguns que ele havia conseguido em outros takes, e chamou Chris Thomas ao estúdio no dia 30 de abril para gravar mais um solo, matador, que materializar-se-ia no compacto quase um ano depois. Agora terminou? Nããão! Já em 1970, no dia 4, ocorreu a última sessão de gravação dos Beatles, com Paul, George e Ringo, e George Martin, que trouxe um arranjo de violoncelos e metais para ser gravado e incluído em Let It Be no compacto a ser lançado. Nesse dia, George fez um novo solo de guitarra, Paul tocou um piano elétrico e um chocalho, e Ringo alguma bateria. Finalmente, terminou? Siiiim, no que tange a participação de Beatles no processo, mas não na manipulação de versões, porque, como já se sabe, Phil Spector foi chamado para produzir o LP, e escolheu o solo de guitarra de George do dia 4 para ser lançado no LP, além de aumentar o som dos metais de George Martin, e colocou eco no chocalho de Paul dos versos finais e ressaltou o chimbau (hi-hat) de Ringo nos versos intermediários. Pra mim, afora a escolha do solo mais recente de George, foram ótimas decisões. O solo de George do 'single' é o que mora em meu coração, é aquele que eu toco em meu 'air guitar'. Spector também acrescentou um terceiro refrão ao final, originalmente com dois, desta forma fazendo a canção invadir em um segundo o quinto minuto de exibição de uma pérola, muito admirada e regravada ao longo dos últimos 51 anos.
                             
                            Por incrível que pareça, a canção teve 'mixed reviews', no lançamento do compacto, em março de 1970, tendo exaltadores, e detratores, um deles o próprio Lennon, que achava que aquilo não era para os Beatles lançarem, oh, come on, John! O compacto atingiu 'apenas' o N°2 na Inglaterra, mas não falhou em alcançar o topo nos EUA, garantindo 3 recordes: (1) tal como Elvis Presley, os Beatles tiveram o seu 7° ano em sequência com pelo menos um hit N°1 na parada americana, carregando junto (2) o produtor da canção George Martin, que igualou-se ao produtor de Elvis, mas o (3) é só deles, pois foi a primeira vez que uma entidade compositora, no caso, Lennon/McCartney, atingiu tal feito, tendo ao menos um N°1 em 7 anos seguidos, 1964, 1965, 1966, 1967, 1968, 1969 e 1970... 
                             
                            Quantos mais não seriam, se os Beatles continuassem juntos e lançando canções como My Sweet Lord, Another Day, Uncle Albert/Admiral Halsey, Imagine, Happy Christmas, It Don't Come Easy, Give Me Love, My Love, Mull of Kintire, Band On The Run, Photograph, Live and Let Die, Mind Games, Whatever Gets You Thru The Night, Steel and Glass, With a Little Luck, Just Like Starting Over, Woman, Ebony and Ivory, Tug of War, e tantas outras? 
                             
                            Esta é a questão que fica ... 
                            e também o conselho de Paul ... 
                            na canção de despedida dos Beatles... 
                            Let it be!

                            7. Maggie Mae (canção tradicional de Liverpool)

                            Arranjos de John, Paul, George e Ringo

                            Origem: Canção folclórica famosa entre os trabalhadores portuários de Liverpoool, desde o começo do Século XIX, conta a história de uma prostituta que engana seus clientes marinheiros. A letra tem variado desde 1830, a primeira vez que se tem notícia da melodia.

                            A canção teve um de seus lançamentos em 1957, por um grupo chamado The Vipers Skiffle Group, por coincidência produzido por um certo George Martin que, àquela altura, nem sonhava que se tornaria parte importante da história da música ao se tornar o assim chamado (e merecido) "5º Beatle". Ela fora tocada por John e Paul junto com os Quarrymen naquele ano e nos dois seguintes, e foi ressuscitada por John e trazida para o Projeto Get Back em 1969. Na verdade, John estava com escassez de composições de sua lavra para apresentar, e via Paul sempre pródigo em composições, e George e até mesmo Ringo arriscou algumas. Então, foi buscar sons do passado. Isso também ocorreu com One After 909 (1958) e Across The Universe (1968). 
                             
                            A ideia foi bem recebida pelos demais, Paul cantou em harmonia com ele, os dois ao violão, George acompanhou na guitarra e Ringo na bateria. Foram três tentativas em 25 de janeiro, ainda tentaram aprimorá-la após o show no terraço da Apple, no último dia do Projeto (dia 31), mas foi infrutífero. Os parcos 39 segundos da terceira tentativa do dia 25 seguiram seu caminho no Projeto e acabou tendo a honra de abrir o Lado B de um LP dos Beatles. Nada demais, apenas uma brincadeira. Sem muito mais para falar sobre ela, apresento a letra que John e Paul se lembraram, um refrão e um fragmento de verso. 
                             
                            Refrão 
                            Oh, dirty Maggie Mae
                            They have taken her away
                            And she'll never walk
                            Down Lime Street anymore
                            Oh, the judge she guilty found her
                            Of robbing the homeward bounder
                            Dirty no good robbin' Maggie Mae

                            Verso  

                            It's the part of Liverpool
                            She returned me to
                            Two pound ten a week
                            That was my pay

                             

                            8. I've Got A Feeling (Mind Self Song by Paul McCartney)

                            Paul sente: 'Eu tenho um sentimento, um sentimento aqui dentro, Oh, sim, oh, sim (está certo). Eu tenho um sentimento, um sentimento que não consigo esconder. Oh, não! Oh, não! Oh, não' e John admite: 'Everybody had a hard year'

                            Na verdade, são duas canções inacabadas, uma de Paul outra de John, que alguém percebeu que tinham os mesmos acordes, e resolveu juntar as duas numa só, com uma terminando a outra! Imagino que a ideia tenha sido de Paul, pois ele é quem tinha as ideias, mas não vi isso escrito em lugar nenhum. A de Paul é mais positiva, e ele tem um desempenho vocal perfeito. A de John chamava-se ‘Ev'rybody had a hard year’, era uma ladainha, com todos os versos começando na mesma palavra (Everybody) e era meio down, coadunando-se com seu próprio estado de espírito, tendo separado de Cynthia, Yoko tendo um aborto, ele lutando contra o vício de heroína, sendo preso por porte de drogas, em crise com os Beatles, enfim... A junção das duas ficou sensacional, e tão boa, que a cantaram, e muito bem, no RoofTop Concert, a última aparição deles ao vivo! Deixo aqui o LINK pra vocês. A estrutura ficou assim: primeiro Paul canta a dele (com John na segunda voz no segundo verso), depois John canta a dele, e finalmente os dois cantam ao mesmo tempo as duas, uma solução brilhante, plástica, um verdadeiro jogral! Até fiz uma figura pra explicar. Acompanhem com o vídeo. 
                             
                             
                             
                            A canção de John é basicamente esta que foi apresentada à direita, enquanto que a de Paul tinha mais dois versos e uma ponte, em que ele literalmente grita, como nos melhores tempos de I'm Down, Long Tall Sally e como ainda faria em Oh, Darling mais adiante naquele ano, um trecho que leva a crer que ele pensava em Linda, 'All these years I've been wandering around, Wondering how come nobody told me  all that I was looking for was somebody who looked like you'... (ou seria John?). Entretanto, com a mistura de duas canções e a outra sendo meio 'down', deixei a canção como um todo como Mind Self Song. Na ponte, é sem rimas, e nos versos, John uniu time com sunshine, e Paul foi mais pródigo, rimou sempre que pôde, inside-hide, leave me-believe me, train-again, e ainda buscou os próprios artelhos, toes, pra rimar com knows, as o mais legal da letra, minha opinião, são as interjeições se coadunando com a frase precedente, sendo sempre 'oh, yeah' se a frase é positiva e 'oh, no' se a frase é negativa, pode conferir!
                             
                            Como era parte do Projeto Get Back, minimalista, de volta às origens, todos tocaram seus instrumentos usuais, mas contaram com o auxílio luxuoso (adoro essa expressão, cunhada por Luiz Melodia) de Billy Preston, no piano elétrico!! John a trouxe no primeiro dia de gravações no estúdio de Twickenham, 2 de janeiro, já com o arranjo pronto, tipo "eu canto a minha parte, ele a dele, e depois cantamos juntos" e até chegou a arriscar a parte de Paul. Quando este e Ringo chegaram, conseguiram ensaiar 20 vezes. Nos próximas cinco sessões, mais 23 vezes, aprimorando vocais e batidas de Ringo. O 6º dia foi o fatídico dia 10, que só foi metade na prática, porque George foi-se embora na hora do almoço, abandonando a banda! Paul chegara antes e começou uma tomada de I've Got A Feeling no piano, e os outros foram chegando e juntando no som. Depois da saída de George, teve mais um ensaio só com os três remanescentes, que acabou em bagunça! No dia da volta de George, foram mais 4 vezes e, no dia seguinte, a enormidade de 29 vezes, já com alguma contribuição de Billy Preston ao final, e a decisão de diminuir aquela ponte, com subida e descida de acordes, de inicialmente 4 vezes no meio e outras 4 vezes no final, para, respectivamente, uma e três vezes. Um desses 29 ensaios foi guardado e lançado no Anthology 3, por causa das respostas divertidas de John às frases de Paul, legal mesmo, veja neste LINK, mas peço sua atenção para o vocal de Paul na ponte, e imagine ele fazendo AQUILO .... VINTE E NOVE VEZES num mesmo dia!! Um herói ... e aquela garganta, abençoada!! Nossa, fiquei até cansado! E ainda teve 9 vezes e mais 17 vezes nos dois dias seguintes, sendo que nas primeiras do dia 27, Paul estava ausente e John fez as partes dele, adaptadas ao seu alcance vocal que não era o mesmo. Ah, como eu queria ouvir esses takes.... enfim. I've Got A Feeling era uma das cinco canções que seriam tocadas na apresentação do dia 30, então cada uma delas foi ensaiada uma vez no dia anterior, mas sem os esforços vocais para poupar as gargantas. No dia do show, eles deram UM SHOW, a canção foi tocada duas vezes, sendo a primeira considerada tão boa que foi escolhida para estar no álbum, além, é claro, do filme Let It Be. 
                             
                            A canção é tão espetacular, minha preferida do Projeto Get Back (*), que vale uma descrição, passo a passo. O riff inicial de guitarra distorcida é de John, que segue, acompanhando a voz de Paul no Verso 1, que entra firme, só, mas na segunda frase já se ouve a bateria de Ringo, note o chimbal, thic thic. No Verso 2, Paul tem a companhia de John harmonizando 'Oh please believe me, I'd hate to miss the train, oh, yeah..'. Na segunda frase, nota-se já a guitarra de George pareando a de John em acordes triplos, distintos do riff inicial, e o piano elétrico de Billy, e os pratos de Ringo e a linha de baixo de Paul. Aí vem a ponte, maravilhosamente gritada de Paul, tão impressionante que a gente nem nota a guitarra de George ao fundo e se pergunta como Paul pode continuar prestando atenção em seu próprio baixo cantando daquele jeito! Estonteante! E aí, volta John com a guitarra chorando em notas descendentes introduzindo o Verso 3, 'I've got a feeling that keeps me on my toes, oh yeah', cantado apenas por Paul, com eventuais entradas de John. Finalmente chega a canção de John, pra acalmar um pouco o coração que Paul deixou acelerado. São dois versos acompanhados do educado chimbal de Ringo, da guitarra de George e do piano de Billy. E vem depois uma ponte instrumental fantástica, com as guitarras de George e John fazendo caminhos inversos, uma subindo no primeiro compasso e descendo no segundo, e a outra descendo e subindo, respectivamente, genial, acompanhadas dos tom-tom's de Ringo. Então, volta o riff inicial de John para introduzir as duas canções, a de Paul e a de John, cantadas simultaneamente por eles, olha, uma coisa linda! A canção termina com a repetição, de três vezes, da ponte instrumental, fenomenal trabalho de equipe, com as guitarras de John e de George subindo/descendo, o que dizer dessa maravilha? 
                             
                            Acho que não preciso dizer mais nada, né? 
                             
                            Ah, sim, falta ... a explicação do (*)... 
                            é que do disco mesmo, a que eu gosto mais 
                            é Across The Universe, mas eu considero 
                            que ela não é 'do' Projeto.... a original, 
                            a que foi gravada com a participação 
                            de uma brasileira cantando,
                            fora gravada em 1968.


                            9. One After 909 (Self Story Song by John Lennon)

                            John conta: "Peguei minha mochila, corri pra estação, o cara me disse que eu peguei o número errado...'

                            Canção feita por John em 1957, tentada para lançamento em 1963, como Lado B de From Me To You, mas só materializada no Projeto Get Back, seis anos depois. O título quer dizer '910' (um depois do 909), que seria o trem que ele deveria pegar. Ou o trem depois do trem das 9:09 horas, ou seja, por volta das 9:15. Rock raiz da melhor espécie, que felizmente sobreviveu, ganhando o auxílio luxuoso de Billy Preston no teclado, e ainda teve a honra de ser tocada ao vivo na última aparição dos Beatles ao vivo, no antológico Rooftop Concert, em 30 de janeiro de 1969 (LINK), que foi o último momento do projeto. John disse que na verdade foi uma brincadeira com o Número 9, que era especial, porque nasceu num dia 9, morava no número 9 de uma rua, tanto que fez aquela doideira do Revolution 9,  enfim... mas infelizmente não viu a luz do sol do dia 9 de dezembro de 1980... 
                             
                            Ainda em seus 17 anos, John já demonstrava a maturidade que que desfilou em toda sua carreira de letrista. A canção tinha dois versos diferentes, e uma ponte, com rimas que seriam ricas em português: line-nine, ice-twice, me-knees, home-wrong, deslizando um pouco com station-location. No Verso 1, a menina avisa que vai embora de trem, e ele apela que ela tenha compaixão, no Verso 2, ele pede de joelhos mas ainda achava que ela estava brincando dizendo que ia embora, mas ela foi, e na ponte, ele pega sua mochila e corre atrás dela, mas o maquinista diz que ele pegou o número errado! Simples, mas já competente!    
                             
                            A canção esteve nos planos dos Beatles bem cedinho, chegaram a gravá-la num gravador caseiro em 1960, depois com a chegada de Ringo em 1962, ela foi ensaiada como possível contendora para aparecer no primeiro compacto, mas foi preterida, e depois, para o terceiro compacto em 1963, chegou a ter alguns takes em Abbey Road, mas foi numa sessão complicada, não se acertaram de jeito nenhum, e ela de novo foi preterida, e foi para a prateleira (ouça neste LINK, e conclua depois que ficou muito melhor em 1969)! Com o advento do Projeto Get Bck, de volta às origens, em janeiro de 1969, rapidamente John se lembrou dela, Paul gostava, e One After 909 entrou no ritmo de ensaios, logo no segundo dia, o glorioso 3 de janeiro, com 3 ensaios (3x3=9), todos em seus instrumentos regulares, tendo diferente apenas o pedal de wah wah na guitarra de George. Próximos 3 ensaios no dia 6 (6+3=9), e mais 4 no dia 7 (7+4=11-1-1=9), teve mais 1 ensaio no dia 8 (8+1=9) e 4 no dia 9 foram 4 (9+4x0=9), viram que, afora duas apelações de minha parte, o 9 continuou presente na vida de John e sua One After 909. No dia 9+1, George deixou a banda por 9+1 dias, e, na volta, trouxe Billy Preston e seu piano elétrico, que seria muito importante nas gravações, especialmente desta rocker de John. Voltaram a pensar nela apenas no dia 28, quando foi ensaiada algumas vezescom a guitarra de George já sem o efeito do pedal, mantendo o som raiz, e já com intenções de tocá-la ao vivo, em local que seria decidido no dia seguinte! No dia 20+9,  o Dia D-1, foram mais 3 (divisor de 9) vezes, e apenas a última com Billy Preston, impressionante como ele se ajustou rapidamente à canção. 
                             
                            No Dia D, 30 de janeiro, no terraço do edifício, One After 909 abriu os trabalhos, em apenas um trecho, para aquecer instrumentos e foi tocada apenas UMA vez inteira, ótima, tão boa que foi a versão utilizada no LP Let It Be. Todos desempenharam como nunca haviam feito nos ensaios, quando um ou outro errava em alguma parte. John não errou nenhuma letra; George fez ótimos riffs, tanto na introdução como ao longo dela, e produziu um solo de guitarra impecável, tanto que deu um sorrisinho para John ao terminá-lo; Ringo fez paradas e retomadas perfeitas em todos os finais de verso; Billy Preston preencheu perfeitamente os espaços entre as linhas iniciais dos versos, e liderou os instrumentos impecavelmente ao longo de toda a execução, e Paul em seu baixo de rock, seguro, e provendo limpo e agudo vocal de apoio a John na totalidade dos versos e no 'run to the station' da ponte, yeeeeaahh. Todos se olharam mutuamente orgulhosos ao final e John puxou uma citação irlandês 'Danny Boy, the old savannah callling' acompanhado timidamente por Paul, que até foi mantido na versão do LP. Acompanhe o show aqui, neste LINK. Não preciso dizer mais nada! 
                             
                            Aliás, digo! Tem mais uma ocorrência do Number Nine neste lançamento:  
                             
                            A canção é a 3ª do Lado B do LP Let It Be. 
                            Como o Lado A tem 6 canções, então, 
                            6+3=9
                            CQD


                            10. The Long and Winding Road (Sadness Miss Song by Paul McCartney)

                            Paul suplica: 'Na noite selvagem e tempestuosa que a chuva lavou deixou uma piscina de lágrimas chorando pelo dia. Por que me deixar aqui sozinho? Mostre-me o caminho' 

                            Linda balada, que teve múltiplas versões, só com banda ou orquestrada. Incrivelmente, o plano de Paul era dá-la para Tom Jones lançar, mas ele não pôde aceitar. Ela foi o 20° e último compacto dos Beatles a atingir o N°1 nas paradas americanas, em junho de 1970, já após o fim da banda! 
                             
                            Com estas breves linhas, eu resumi a história dessa canção no alvorecer de minha saga, quando listei as canções tristes, de saudades, que os Beatles embarcaram em sua carreira, como eu disse acima, em oito oportunidades. Chegada a hora de dar um pouca mais de detalhes dessa obra como parte do LP Let It Be, uma boa coisa neste caso, é começar pelo começo, porque a primeira vez que o mundo externo ao mundo particular de Paul McCartney ouviu os primeiros acordes desse monumento foi muito especial. Numa sexta-feira de setembro de 1968, os Beatles terminavam um belo dia de gravações, quando depuraram Piggies de George Harrison, o assistente de Paul, Alistair Taylor, começou a dar boa noite a todos e procurou seu 'chefe' para o efeito, saiu perambulando pelos diversos locais dos estúdios, e quando adentrou ao enorme Estúdio 1, viu uma luz ao fundo, iluminando apenas o piano de cauda, começou a ouvir uns sons, e uma voz que identificou como a de Paul, foi chegando, e ficando encantado, e quando parou já próximo, emocionado por haver testemunhado um momento histórico, disse: 'Paul, que linda canção!' e mencionou que a esposa dele iria adorar. Em seguida, Paul perguntou ao único técnico que sobrou se tinha alguma fita sobrando, pediu pra rodar e fez  primeiro registro da canção, ainda com somente um verso 'The long and winding road that leads to your door will never disappear, I've seen that road before. It always leads me here, lead me to your door', e meia ponte 'many times I've been alone, and many times i've cried', lá nos acordes e tom já definitivos. Dia seguinte, à tarde, Paul foi ao escritório, lá estava Taylor e recebeu do 'chefe' um disco de acetato, ouvindo: 'Leve pra Leslie!' (a esposa dele), aí tirou do bolso um rolo de fita, pegou uma tesoura, desenrolou a fita e a picou, em mil pedacinhos, ao final falou: 'Esse acetato que te dei é a única mostra desta canção na face da Terra'. Paul sabia do valor daquilo. Só que... você, amigo, ouviu aquele som alguma vez? Nem eu, nem ninguém, nunca mais ninguém achou aquela preciosidade, Taylor já morreu, ninguém sabe, ninguém viu, ou melhor, ouviu... Ah, como eu queria ter vivido aquilo, ter incorporado em alguns daqueles técnicos que testemunharam tantos momentos incríveis de criação, naquele assoalho de tacos onde já me ajoelhei e beijei, em 2005. Ao menos se aquele menino, de 6 a 12 anos de idade do outro lado do Atlântico tivesse a capacidade de dupla visão, poderia fazer algumas visitas... Mas chega de reminiscências. 
                             
                            Paul não desenvolveu mais a canção àquela época, então ela não foi considerada para o Álbum Branco, mas chegou a hora dela no Projeto Get Back, em janeiro de 1969, ainda que não se encaixasse no perfil do que se esperava para ele, mais próximo de rock e folk, tanto que a maioria das vezes em que ele a tocou, o fez sozinho ao piano, com eventuais participações de um ou outro companheiro, e a primeira vez que todos participaram, foi já próximo do final, no dia 26, com John no baixo, porque ele estava ao piano, George na guitarra, Ringo na bateria, e Billy Preston no órgão, já agregado ao grupo após o retorno de George de seu exílio voluntário de 10 dias. Àquela altura, os outros versos e a metade final da chorosa ponte ('Anyway you'll never know the many ways I've tried) já estavam prontos, o Verso 2 já traduzido no caput, e o Verso 3, que vem após a ponte e é repetido no final, após uma ponte instrumental, sendo uma corruptela do Verso 1, inclusive colocando o título da canção em outra posição (na linha 2 ao invés de abrir o verso), coisa que só grande letrista consegue, e que termina com mais um apelo 'You left me standing here a long long time ago. Don't keep me waiting here! Lead me to your door'). 
                             
                            Poxa, brincando, brincando, acabei reproduzindo quase a totalidade da linda e rica letra, com muitas rimas idem way-day-away, tears-here, door-before. Bem, foram 16 ensaios nesse primeiro dia de fato, e o destaque foi a luta de John para acertar o baixo, como se sabe, que não é seu instrumento de origem. Paul o orientava na busca do baixo perfeito. O take final do dia ficou quase perfeito, ouça neste LINK, note o trabalho sutil da banda, especialmente o chimbal de Ringo, de levinho, acompanhando toda a canção, as entradas de George na guitarra distorcida preenchendo eventualmente um que outro espaço entre letras, e de vez em quando o órgão de Billy. Olha, se o John errou algo, e consta que errou uma ou outra nota, não percebi. A versão foi usada tanto na tentativa inicial de fazer LP Get Back ainda em 1969 por Glyn Johns, como quando Phil Spector pegou a missão em 1970. Nos dias 27 e 28 de janeiro, outras sete vezes foi ensaiada a canção, porém nenhuma melhor que a versão do dia 26. No último dia do Projeto, dia 31, retornaram ao estúdio para filmar 3 canções para aparecerem no filme Let It Be, sendo nossa linda balada tentada 19 vezes, em meio a falhas de todos pelo meio do caminho, inclusive nesta última, quando quem falhou foi o próprio autor, cantando letras levemente diferentes. Só que já estavam cansados, ainda teriam que filmar a canção Let It Be, e aceitaram a versão. Só quem viu o filme, percebeu, e também após 2003, quando finalmente saiu em disco, no Let It Be Naked. Hoje, o vídeo está disponível, e eu mostro aqui, neste LINK. Note a delicadeza de Paul ao piano, sempre olhando para a câmera, os dois guitarristas sentados, John prestando uma atenção enorme ao baixo que estava tocando, Yoko ali ao lado, quietinha, Billy no teclado, especialmente na ponte instrumental, mas perceba um concentrado Ringo, sentindo a canção e quase que permanentemente acionando o chimbal com o pé.
                             
                            O banho de orquestra de Phil Spector veio no dia 1º de abril de 1970, desta vez ele criou sua Wall of Sound colocando a versão lá de 26 de janeiro de 1969 nos Canais 1 a 5, todas as cordas (27 músicos, incluindo uma harpa) no Canal 6, os metais (8 músicos) e uma nova bateria de Ringo (único Beatle presente) no Canal 7 e o Coral (14 cantores) no Canal 8 do gravador de 8 faixas. Paul foi o único Beatle que não gostou da orquestração, preferia a versão básica, como ficou Let It Be. Porém, junto-me aos outros 3 Beatles e, decerto, à grande maioria dos ouvintes: a orquestra e coral ficaram excelentes, encaixaram perfeitamente! Ouça aqui, no terceiro LINK deste post, verdadeira overdose de 'longuenduaindinroud' pra vocês, metais e cordas entrando firme logo no segundo compasso, em quatro chamadas (pa-pa pa-pa), depois levemente acompanhando o vocal do primeiro verso, com o coral entrando após 'that road before'. No Verso 2, o arranjo já aparece mais, e tem aquelas quatro notas descendentes famosas dos metais depois que a chuva lava o caminho. Pra mim, o mais arrepiante acontece na ponte que vem em seguida, com aquelas quatro espirais crescentes sucessivas das cordas nos quatro primeiros compassos, e tudo subindo uma oitava nos quatro últimos, o coral acompanhando no agudo ao longo dos sete primeiros compassos e entrando em transe épico no oitavo. No Verso 3, o arranjo muda um pouquinho e depois repete-se a ponte, e agora, sem a voz de Paul, percebe-se melhor a grandeza do arranjo. Na repetição do Verso 3, tudo cresce, e arrepie-se com a harpa ao final, ao longo do yeah yeah yeah yeah de Paul. 
                             
                            Paul rejeitou tanto a versão que impediu o lançamento do single com ela! Felizmente, não impediu o lançamento nos Estados Unidos, ladeada com For You Blue, de George, no Lado B, onde ficou duas semanas no topo da parada, constituindo-se na 20ª ocorrência do binômio Beatles Single / Topo da Parada Americana, um recorde! Foi lançada em várias coletâneas, das mais conhecidas, como o Blue Album a outras menos conhecidas, como o Reel Album, que eu nem conhecia, coletando as principais canções dos filmes dos Beatles. Achei tão interessante a ideia que montei a imagem abaixo para ilustrar este post, o track list da coletânea, que vendeu mais de 500 mil cópias... tudo gerava dinheiro para os Beatles!

                             


                             


                            11. For You Blue (Love Girl Song by George Harrison)

                            George se declara 'Porque você é bonita e adorável, garota, eu te amo, é verdade, Eu te amo mais do que amei a qualquer outra garota' 
                             
                            Pense num canção gostosinha de se ouvir, um belo romance, uma declaração de amor entre duas pessoas felizes, um se declarando ao outro, todos contentes em participar desse momento, 'eu estou feliz porque te amo' , 'você é feliz porque é amada'. Esta é For You Blue, a segunda e última canção de George a constar oficialmente do Projeto Get Back. O 'You' do título e letra, decerto refere-se a Pattie, agora Harrison, antes conhecida pelo sobrenome de batismo Boyd, modelo a quem namorou desde 1964, no auge da Beatlemania, e com quem se casou em fins de 1966. Outras canções George trouxe ao projeto, além de I Me Mineque acabou no álbum: as lindas All Things Must Pass e Isn't It a Pity, uma mais religiosa, Hear Me Lord, e mesmo Something, mas ele logo chegou à conclusão que não eram apropriadas ao Projeto, não apropriado a canções lentas e intimistas. Pode ser que ele tenha chegado a essa conclusão por conta da má vontade de John com canções daquele naipe. As três primeiras veriam a luz do sol em seu grande LP de estreia da carreira solo, que levou o nome da primeira, e Something, sabe-se, ele lançaria ainda como Beatle, em Abbey Road, para espanto de todo mundo.  
                             
                            For You Blue é o que se chama, em inglês, um 12-Bar-Blue, ou um Blues de 12 compassos, e é uma boa canção pra se aprender a contar os tempos. Cada um dos 6 versos (e não mais há nada além de versos, sem pontes ou refrões), sendo 4 cantados e dois instrumentais, têm 12 compassos cada um. Vou colocar logo aqui o LINK com a versão final, pra vocês acompanharem. Comece contando 1-2-3-4, 1-2-3-4, 1-2-3-4, com cada número representando um tempo, uma batida, e logo você vai se encaixar na canção e se encantar com o mundo dos tempos e compassos, é bem básico e simples, mas delicioso. Você notará que vai contar 12 vezes 1-2-3-4, e aí termina um verso e começa outro, com letra diferente ou com a guitarra deslizando seu solo. Tá com dificuldade pra contar o tempo?  
                             
                            Because you're sweet and lovely girl I love you,
                            Because you're sweet and lovely girl It's true,
                            I love you more than ever girl I do.  
                             
                            Bem, decerto, você, ao ouvir a canção fica imediatamente com vontade de acompanhar com palmas, naturalmente você vai bater a primeira na sílaba 'cau' da primeira palavra 'because', da primeira linha do primeiro verso. Este é o Tempo 1. Depois, você vai ter vontade de bater de novo quando termina o 'sweet', esse é o Tempo 3, e você segue, sempre batendo palmas nos Tempos 1 e 3, 1 e 3, 1 e 3, até o final da canção, pois ela não tem variações no tempo. Tente, vai ser uma descoberta, mesmo você não sendo músico. Eu não sou músico, mas sou curioso! 
                             
                            Então, este 1º verso é a declaração de amor. No Verso 2, ele conta a frequência com que ele quer tê-la a seu lado, ao menos toda manhã, ou sempre que ele se sente triste, na verdade, a todo momento ele a quer. É muito amor!  
                            I want you in the morning girl I love you,
                            I want you at the moment I feel blue,
                            I'm living ev'ry moment girl for you. 
                            Aqui é um bom momento para ressaltar um ponto, pra quem não é familiarizado com o inglês. Você viu que eu disse 'triste' mas você não vê em inglês a palavra 'sad' ou 'unhappy', você vê 'blue'! É que a cor azul é considerada uma cor 'triste', e daí aquele ritmo criado pelos negros americanos, quase sempre com temas tristes, ficou conhecido como 'Blues'. Bem, passada a digressão idiomática, apresento o Verso 3, que vem depois de dois versos instrumentais. Nele, George conta como foi amor à primeira vista, ela só precisou olhar pra ele. Aliás, combina com as primeiras palavras que ele dirigiu a Miss Boyd, quando a conheceu durante as filmagens de A Hard Day's Night: "Quer casar comigo? Se não quiser casar comigo, quer sair pra jantar?"  
                             
                            I've loved you from the moment that I saw you,
                            You looked at me that's all you had to do,
                            I feel it now I hope you feel it too.  
                             
                            Depois, repete-se o 1º verso e tudo acaba bem! Note que são 3 versos, com 9 linhas, todas terminadas com o mesmo fonema 'u', ou 'oo', em inglês, 'you-true-do-blue-too'. Fosse em português, cada verso só teria rimas ricas. Era George, adotando a regra Beatle de Composição, compondo versos com letras diferentes e rimas interessantes.  George trouxe a canção no dia 6 de janeiro aos estúdios Twickenham, mas trabalhou sozinho nela ao violão até o dia seguinte. No dia 9, finalmente Paul entrou no piano e John na guitarra, pela manhã, mas no final do dia tentaram a configuração padrão dos Beatles. Tudo entrou em recesso quando George deixou a banda no dia 10, e somente no dia 21, ela voltou, mas rapidinho, agora como a único nova canção de George, com ele desistindo das outras 4 que enumerei ali em cima. O dia 25 foi o real 1º dia a vera de For You Blue, George conduziu seus amigos a 16 ensaios da canção até começarem a gravar em fita e a contar os takes, com ele ao violão, Paul de volta ao piano, Ringo só na base da escovinha na caixa e John todo animado com seu novo brinquedo, uma guitarra de colo havaiana (Lap Steel Guitar) que acabara de adquirir. Paul estava tão especial ao piano que logo o Take 1 foi escolhido para ser lançado no Anthology 3, e é ele que abre a canção, num piano blues sensacional, ao invés do ótimo riff de violão que acabaria por prevalecer. Veja aqui, neste LINK, e note que há apenas um verso instrumental. Logo no take seguinte, entretanto, George apresentou sua proposta de introdução com o violão e, para compensar a perda do piano de Paul, propôs que se colocasse um segundo verso instrumental lá no meio só para Paul mostrar suas habilidades nas teclas. O Take 6 , já com Ringo abandonado as escovas e ficando com as baquetas, foi utilizado no filme Let It Be. As versões estavam praticamente todas ótimas, mas eles seguiram aprimorando, estavam todos felizes, o Take 7 foi o preferido de George, e parte do Take 9 também foi usada no filme, para ilustrar a chegada dos Beatles ao prédio da Apple. O Take 12 ficou melhor em algumas partes que o take escolhido por George, mas ele bateu pé! Findo o Projeto Get Back a canção ficou na prateleira até retornar nas duas tentativas de montagem do álbum. Em 8 de janeiro de 1970, George achou melhor regravar seu vocal, e é nessa sessão que ele inclui as falas, durante os solos instrumentais, uma delas como incentivo a John ('Go, Johnny go!') e outra, já no solo de piano, lembrando Elmore James, grande guitarrista do Blues americano. Uma última modificação foi introduzida por Phil Spector, a pedido de John, recuperando uma fala dele ainda nas primeiras sessões de 1969, antes da saída de George, em que ele fala sobre agentes do FBI usarem maconha, e ela abre a canção. Good old John...  
                             
                            Falando em John, não há dúvida que ele é o músico de maior destaque em For You Blue. Sua 'guitarra deslizante de colo' é a primeira lembrança que vem à mente quando se lembra da canção. Ela entra logo após a sensacional introdução de George ao violão (que tem cinco compassos... e meio), ouve-se o dedal de metal deslizando pelas cordas deitadas em seu colo na busca pela nota adequada de cada acorde, até quase o final do verso, quando ele toca as quatro notas de baixo introdutórias para o verso seguinte (tum-tum-tum-tum). Ao longo do verso, ouve-se a caixa e o prato de Ringo, as notas abafadas do piano de Paul, o violão de George marcando no ritmo certo. O Verso 2 vem igual, apenas com a charmosa parada de Ringo nos dois últimos compassos, dando o destaque aos baixos de John, que segue brilhando no verso instrumental comandado por ele, e 'ouvindo' as falas de George (que na verdade vieram depois, como falei). E veio o segundo verso instrumental, desta vez com destaque para o solo sutil de piano a la Honky Tonk de Paul, que também 'ouve' uma fala de George, ouça o pianista desferindo um firme stacatto para introduzir o 3º verso cantado e, a seguir, o último verso repete a letra do primeiro, onde Paul faz mais dois stacattos no piano, o último deles preparando a conclusão tradicional do Blues. Uma palavra? Delicioso! 
                             
                            A canção teve a honra de estar no último compacto dos Beatles, um Lado B para The Long and Winding Road, que fez grande sucesso nos Estados Unidos, ocupando o topo das paradas, aliás, foi a 20ª vez que isso aconteceu, um recorde. Interessante que os conterrâneos dos Beatles que quiseram ter a posse dessa preciosidade tiveram que importá-la, porque o compositor da faixa do Lado A não permitiu seu lançamento no Reino Unido: havia detestado a versão orquestral de sua canção.  
                             
                            Para finalizar, um bônus! For You Blue nunca foi tocada ao vivo pelos Beatles, e George a tocou uma vez em 1974, numa excursão pelos EUA. Felizmente, mas pelo pior motivo, ela foi tocada por dois Beatles no Concert for George, que ocorreu no Albert Hall em 2002. O motivo foi sua morte um ano antes. Deixo aqui os três links: LINK1LINK2LINK3!! 
                             
                            Faço questão que preste atenção em várias coisas.... Paul cantando e no violão ... Ringo na bateria, Dhani o filho de George, a cara dele, logo ali atrás ao violão, Billy Preston em um dos teclados, e note o guitarrista ao fundo fazendo os slides, porém de pé, diferente de Lennon, que sentava. Pena que está apenas em trechos.... pra dar água na boca .... e fazê-los ter vontade de acessar o concerto inteiro, seguramente, o mais perfeito DVD musical que tenho!! 
                             


                            12. Get Back (Tale Story Song by Paul McCartney)

                            Paul conta 'Jojo era um homem que pensava que era um solitário, mas descobriu que isso não duraria. Jojo deixou sua casa em Tucson, Arizona por um pedaço de terreno da Califórnia. Volte Volte Volte, para o lugar de onde veio'. 

                            Olha, essa canção tem história! Então, comecemos pelo começo: o nome! 'Get Back' era o nome de um projeto, de volta às origens, quando os Beatles tocavam em night clubs, sem muitos recursos, só na raça, e na categoria, que eles mostraram em incontáveis excursões pelo mundo a partir de 1963, até que se cansaram em agosto de 1966. Para isso, deixaram a Abbey Road, deixaram George Martin lá, e se internaram, primeiro em um estúdio de filmagem, depois nos estúdios da Apple, em Saville Row, em janeiro de 1969, apenas com seus instrumentos, e com umas câmeras, para filmar os ensaios, após os quais, o plano era voltar aos palcos! Então, haveria uma canção com esse nome, e Paul a fez. Os versos contavam sobre um certo(a) 'Jojo', que 'left his home in Tucson, Arizona' e uma (um) certa (o) 'Loretta', que 'thought she was a woman, but she was another man', e o refrão dizia para os dois: 'Get back to where you once belong!', e então vieram as especulações sobre que seria o 'You' da letra, e três são as hipóteses: 
                            Os próprios Beatles! Voltem para suas origens e encantem as audiências com seu ótimo som.  
                            Joseph (Jojo) Melville See Jr! Ele era o primeiro marido de Linda, com quem Paul se casaria em breve, e que estava atazanando a vida dos enamorados, e que vivia justamente em Tucson/Arizona. 
                            Yoko! John havia trazido Yoko para o estúdio, ainda em 1968, o que causou desconforto para os demais. John percebeu, durante algum ensaio, que, quando Paul cantava 'Volte pro seu lugar', ele olhava pra Yoko. John ficou bem chateado. 
                            Paul nega as duas últimas, e ficamos então com a primeira. O fato é que o clima era tenso, em geral, e em uma triste hora das sessões de gravação, George deixou os Beatles. Enquanto esteve fora, encontrou o tecladista Billy Preston e o incentivou a entrar para o Projeto. Quando George voltou, já encontrou Billy lá, e ele foi fundamental para amainar o clima de tensão, que ficou suportável até o final do projeto, no final daquele mês, no muito celebrado Rooftop Concert, quando todos subiram ao terraço do edifício para fazer aquela que seria a última aparição ao vivo dos Beatles, episódio que já contei, neste LINK. Nenhuma das cinco versões ao vivo de Get Back foi lançada oficialmente, apesar de três delas estarem perfeitas. Em todas está presente Billy Preston tocando seu brilhante piano elétrico, inclusive com um solo que ele nunca havia tocado nos ensaios, incentivado por Paul. Há várias falas notáveis que foram proferidas ao final da última versão de Get Back. 

                            Ao perceber que a polícia está invadindo o recinto, Paul diz:  
                            "You been out too long, Loretta! You've been playing on the roofs again! That's no good! You know your mommy doesn't like that! Oh, she's getting angry... she'll have you arrested! Get back!".
                            E John, claro, tinha que fechar com chave de ouro. 
                            Lembrando-se de que eles fizeram aquele show como 'teste de palco', disse:  
                            "I'd like to say thank you on behalf of the group and ourselves, and I hope we've passed the audition."


                            Bem, até aqui reproduzi parte do texto em que apresentei pela primeira vez a canção, quando falei sobre todas as canções de mesmo Assunto e Classe, Tale Story Songs. Falta contar mais uns detalhes sobre estrutura e gravação. A primeira é simples, verso-refrão, mas incrementada musicalmente por vários solos, de guitarra e órgão, e por uma retomada ao final, que ficou famosa. A gravação é notabilizada pelos muitos dias e vezes em que foi ensaiada, em diversas configurações, com e sem John, com e sem George, com e sem Billy, mas sempre com Paul e com Ringo, que inclusive chegou a cantar o refrão, em uma da sessões. Cabe ressaltar que aquelas sessões de janeiro de 1969 nada tinham a ver com o que eles vinham fazendo em Abbey Road, com gravações de instrumentos em separado, um canal reservado para cada instrumento, a busca por uma base, reduções de fita para liberar mais canais para acréscimo de overdubs, dos mais variados instrumentos e efeitos. Ali, era raiz, todos cantando juntos, então, quando um errava algo, não poderia ser consertado depois, só com ele voltando ao estúdio para regravar sua parte, não, todos tinham que começar do zero tudo de novo, essa é a parte romântica da configuração. Outra coisa notável é que ela foi feita no estúdio, Paul chegou sozinho e começou a burilar a ideia original do 'Get back to where you once belong', e os acordes e versos foram surgindo. Ela chegou a ter um terceiro verso, além dos dois conhecidos (com Jojo e com Loretta), sugestão de John, em que faziam uma crítica social ao momento que a Inglaterra vivia, em que a ala direita do Parlamento discutia o bloqueio à desenfreada chegada de imigrantes da Comunidade Britânica, então os Paquistaneses 'Don't dig no Pakistani taking all the people's jobs!' eram citados, enfim, ver aqui, nestes LINK1 e LINK2 como brincaram com o tema, mandando várias etnias e personagens voltarem para o local de onde vieram. No segundo, inclusive, parece se ver ali a semente para outra canção do disco, Dig It. Porém, a coisa poderia descambar para que se interpretasse que eles eram preconceituosos, e decidiram abortar a ideia, vendo-se já ali a influência do 'politicamente correto' atuando, e tolhendo a criatividade dos artistas mais famosos da história.
                             
                            A primeira vez de Get Back foi no dia 7, nos estúdios Twickenham, um sem-número de vezes, ainda sem John, e dois dias depois, já com ele, com mais quatro tentativas, onde vieram aqueles jams 'racistas'. Dia seguinte, levaram a canção a sério e a ensaiaram 22 vezes pela manhã, George fazendo os solos de guitarra, mas na hora do almoço ocorreu aquele fato que chocou a todos, o guitarrista foi embora, e voltaria 10 dias depois. No dia 13, sem George, John assumiu a guitarra solo e ensaiaram mais 15 vezes, entremeadas com discussões sobre o futuro, John mencionando que talvez devessem seguir solo, e Paul ainda acreditando no conjunto. Apenas 10 dias depois, já com George de volta, nos estúdios da Apple e com a chegada de Billy Preston, duas condições estabelecidas para a volta do guitarrista, a canção pegou jeito, já com Ringo naquela batida tipo galope de cavalo, pó-có-tó-pó-có-tó-pó-có-tó. Pela primeira vez, George Martin apareceu para ver como estavam as coisas e produziu a sessão. Notável também a presença de um jovem operador de fita Alan Parsons, que faria notável carreira como produtor do Pink Floyd e outros. Ali, também desistiram do papo sobre paquistaneses e, no lugar do verso cantado, entrou o teclado de Billy. John consolidou seus solos, e George ficou na guitarra base, em 43 ensaios da canção, e dia seguinte mais 21 vezes, vai contando. Naquele dia foi introduzida a retomada da canção após um final falso de alguns segundos. Mais 4 dias, mais 32 vezes de Get Back, uau, já passou de 100! Aí parou-se de contar, mas não de ensaiar. nos dois dias seguintes foram dedicados ao ensaio de todas as canções do projeto, e Get Back got back mais um punhado de vezes, dia 29 sendo o dia final de estúdio do Projeto Get Back, quando se decidiu que no dia seguinte iriam subir ao teto do prédio e tocar ao vivo, o famoso "Rooftop Concert". 
                             
                            E veio finalmente o grande dia, que contei neste LINK, mas que aqui ressalto apenas as vezes em que Get Back foi levada no último show da vida dos Beatles. Foram cinco, as vezes em que ela foi iniciada, sendo três completas. A primeira incompleta foi a primeira do dia, com John começando com seu solo de guitarra e os outros foram se juntando, serviu para testar os instrumentos, mas logo a segunda foi ótima, bem como a terceira, já a quarta foi um 'false start', pois John contou errado. A quinta fechou o show, já com os policiais em cena, e com as ótimas falas de Paul e John já mencionadas. Houve outras falas dos dois ao logo de todo o show, muitas delas very Brittish, mencionando ídolos do cricket e programas da BBC.
                             
                            São duas as versões oficiais lançadas na época, uma do compacto, em 11 de abril de 1969, outra do álbum em 8 de maio de 1970, com as seguintes diferenças entre si: (1) a do 'single' é o melhor take do dia 27 de janeiro, emendado com a retomada (coda) gravada em 28 de janeiro reduzida a menos de 40 segundos e fading out; (2) a do álbum é com aquele mesmo take do dia 27, sem a coda, mas com a inclusão de falas do show no terraço, ainda antes da canção, com uma piadinha de John, 'Sweet Loretta fart she thught she was a cleaner..." mas principalmente com a excepcional finalização de John, agradecendo a todos, em nome do grupo e dizendo que esperava que ele tivessem passado no teste. Ótima decisão de Phil Spector, o produtor chamado de última hora, já com a banda acabando, e com carta branca para fazer o que quisesse. Mas não seriam ótimas todas as decisões dele em Let It Be. 
                             
                            A canção é creditada a "The Beatles with Billy Preston", sendo ele o único músico creditado na carreira dos Beatles que não fossem os próprios. O que solidifica a injustiça de terem esquecido de creditar Eric Clapton, que fizera uma guitarra solo matadora em While My Guitar Gently Wheeps, alguns meses antes. 
                             
                            Finalizo com aquela tristeza habitual do fim de festa, lembrando a frase com que o compacto, tendo Don't Let Me Down no Lado B, 'The Beatles as Nature Intended', eles estiveram ótimos no show do terraço, estavam prontos pra voltar à estrada, mas nada disso aconteceu! 

                            E.. ah, sim ... foi direto para o N°1 das paradas inglesas, e um mês depois, para igual posição na parada americana, sendo a 17ª vez que isso ocorreu, igualando Elvis Presley. Só que os Beatles tiveram ainda outros N°1 após, então sabe-se quem são os campeões da história nesse quesito..  Ah, um número importante: o single Get Back / Don't Let Me Down vendeu 2 Milhões de cópias só nos Estados Unidos.. 
                             
                            Deixo aqui um vídeo que me faz chorar TODAS as vezes que eu vejo, e também rir muito, e eu vi mais de 30 vezes já, umas por minha conta, e também toda vez que um amigo me mandava via WhatsApp, perguntando se eu já havia visto, neste LINKÉ grande a expectativa para ver o novo filme Get Back, de Peter Jackson, como ele explica no início. Será um de duas únicas vezes em que sairei de casa para ir ao cinema... a outra será no novo filme de 007.

                             

                            Lançamento, Recepção, Legado de Let It Be

                            E acabou a história dos Beatles.... será?

                            Decerto, esse disco foi o que mais levou tempo entre sua primeira sessão de gravação e seu lançamento, acompanhe. Paul teve a ideia de retorno às origens, instrumentos básicos, nada de overdubs, bom e velho rock'n roll, logo após o lançamento do Álbum Branco, em novembro de 1968, teve que esperar George retornar de férias nos EUA, e colocou todo mundo pra trabalhar em 2 de janeiro de 1969, com prazo para terminar, 31 de janeiro, pois Ringo iria entrar em filmagem de The Magic Christian, com Peter Sellers. John alugou um estúdio de filmagem Twickenham, um espaço enorme, cavernoso. Todos os dias de semana eles chegavam pra ensaiar o que tivessem de composição própria, ou o que viesse à cabeça. E tudo era filmado. Minto! Houve um hiato de 10 dias, porque George abandonou a banda... mas voltou e trouxe junto Billy Preston, e vetou aquele cavernoso estúdio. 
                             
                            Os últimos 10 dias do Projeto Get Back foram no porão de casa, os Estúdios da Apple em Saville Row, Nº3. No total, foram 21 dias de gravação, que geraram mais de 120 horas de música e um pouco menos de filmagem. Tocaram mais de 200 canções, de 80 autores diferentes, os mais privilegiados sendo Bob Dylan e Chuck Berry, além deles mesmos, claro. No penúltimo dia do Projeto, os Beatles subiram ao terraço do estúdio e tocaram ao vivo cinco das canções ensaiadas. Duas tentativas de montagem do álbum, ainda chamado Get Back, foram feitas, uma de fevereiro a maio de 1969, pelo produtor Glyn Johns, mas foi rejeitada pelos Beatles. O LP não saiu mas, sim, um compacto de grande sucesso, juntando Get Back, de Paul e Don't Let Me Down, de John, produzido por George Martin. E então começaram as gravações de Abbey Road, e terminaram e o LP foi lançado. Dias antes do lançamento, entretanto, John deixou os Beatles, mas ainda mantinha decisões sobre os destinos do grupo. 
                             
                            Depois que mais uma tentativa de Glyn Johns em janeiro de 1970 foi rejeitada, principalmente por John, que ficou doido com a pedida do produtor de receber créditos de produtor do disco, John chamou o americano Phil Spector, que pegou o material para trabalhar. Nesse meio tempo, George Martin finalizou a produção da canção Let It Be e, em março de 1970, lançaram-na em compacto, tendo do Lado B, uma canção esquisita, já produzida por ele, You Know My Name Look Up The Number, que não atrapalhou o caminho para o topo das paradas em UK e US. Spector trouxe sua técnica de Wall of Sound, mexeu em seis canções, incluindo orquestra e coral em três delas, inclusive Across The Universe, que fora lançada ainda em 1968 num álbum de caridade, escolheu outras três que foram tocadas ao vivo no terraço da Apple em 30 de janeiro, manteve três exatamente como gravadas no estúdio da Apple, e finalmente o LP, agora chamado Let It Be, foi lançado em 8 de maio de 1970, ou seja, mais de 16 meses após o início das gravações. No mesmo dia, um terceiro single originado das sessões do Projeto Get Back foi lançado, mas apenas nos Estados Unidos, tendo The Long And Winding Road, de Paul, no Lado A e For You Blue, de George, no Lado B. O lançamento no Reino Unido foi vetado pelo autor da principal canção, Paul McCartney, inconformado com o arranjo que Phil Spector dedicou a ela. Já eu achei ótimo! 

                            O disco Let It Be, em sua primeira fornada, veio com um riquíssimo livreto de 168 páginas, com o nome Get Back, tendo fotos e falas da época das gravações, papel luxuoso, mas nos Estados Unidos, mais pragmáticos, foi lançado apenas o LP. Lá, com o anúncio do fim dos Beatles um mês antes, houve a maior pré-venda da história da música, com 3,7 milhões de cópias. Se for contar em vendas por minuto gravado, a cifra vai à estratosfera, pois o disco tinha meros 34 minutos de gravação. Estima-se que as vendas totais tenham chegado a 5 milhões de cópias. Na capa, fotos individuais dos rapazes, da época das gravações, e com um detalhe: finalmente aparecia um sorriso Beatle numa capa: George Harrison sorria! Inclusive na contracapa, em outro momento, menos esfuziante. (após a imagem, segue o post!)


                            A recepção ao último álbum dos Beatles foi assim-assim. Até traduzo uma das críticas, para se ter uma ideia: "Se a nova trilha sonora dos Beatles for esta última, ela permanecerá como um epitáfio barato numa lápide de papelão, um final triste e esfarrapado para uma fusão musical que desenhou a face do pop.". Exagerado. Ou ainda "Uma última vontade e testamento, desde a embalagem negra fúnebre até a própria música, que resume muito do que os Beatles como artistas têm sido – incomparavelmente brilhantes no seu melhor, descuidado e autoindulgentes no mínimo". Tá bem, vá... Eu prefiro esta outra dos escritores do All Music Guide, anos depois destaca "alguns bons momentos de hard rock raiz em I've Got A Feeliing e Dig a Pony" (e eu acrescentaria One After 909), e elogia Let It Be, Get Back e a harmonia vocal de John e Paul em Two Of Us (eu acrescentaria The Long And Winding Road e Across The Universe). Portanto, eu somado aos especialistas do ótimo livrão que classificou todas as músicas do mundo, adoramos quase todo o álbum, esquecendo das bobagens Digt It e Maggie Mae, momentos menores, realmente. Com crítica ou sem, as vendas, já disse, foram excelentes, e a obra ganhou Grammy e foi responsável pelo único Oscar da carreira Beatle, no ano de 1971, por trilha sonora em musical. Só podia, né? 
                             
                            Quem vem acompanhando os últimos capítulos dedicados aos álbuns se acostumou a ver a estrutura abaixo inaugurando o texto sobre o cenário para mais um álbum. Agora, como não haveria um outro álbum, coloco aqui a atualização, após os últimos lançamentos da carreira da maior banda de todos os tempos.


                            E os números acabaram incríveis!!!               
                            Em 7 anos e meio de carreira, The Beatles lançaram 211 canções, sendo 186 autorais e 25 de outros autores, filmaram três Longas Metragens de sucesso mundial, A Hard Day's Night, HELP!, Yellow Submarine e Let It Be, um filme para a TV de sucesso mediano, Magical Mistery Tour reconhecido posteriormente, fizeram 537 shows, sendo 388 no Reino Unido, 94 na Europa Continental, 67 na América, 16 na Austrália e 8 na Ásia, e ganharam 4 títulos de Membros do Império Britânico, vários Grammy's, um Oscar, lançaram 22 compactos (apenas dois não chegando ao topo das paradas), um EP de inéditas, 12 LPs, Please Please Me (LINK)With The Beatles (LINK) A Hard Day's Night (LINK)Beatles For Sale (LINK)HELP! (LINK), Rubber Soul (LINK), Revolver (LINK), Sgt. Pepper's Lonely Hearts CLub Band (LINK), The White Album (LINK), Yellow Submarine (LINK), Abbey Road (LINK), Let It Be (LINK), um EP Duplo - Magical Mistery Tour (LINK) - apenas um não sendo 1º lugar.

                             

                             

                             

                             

                            Um comentário:

                            1. A gravação de 12 obras-primas do LP _Let It Be_, marcou o fim dos Beatles, com menos de 6 anos de carreira. Membros do Império Britânico, (honraria devolvida por John, tempos depois, em protesto contra a guerra do Vietnã) e foi o coroamento de uma vida rica em gravações, shows e viagens da mais famosa banda que já existiu. O envolvimento de John com Yoko determinou sua ruptura com o grupo; Paul estava na Escócia, feliz com o nascimento de sua primeira filha, Mary. Enfim, o milionário quarteto se dissolveu, deixando magnífico legado para nós.

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