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segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

I Me Mine ... É ieu ... só ieu

 Esta canção é a 4ª do LP Let It Be, o último lançado pelos Beatles

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 6 canções sobre o estado da Mente do Autor

                                        as demais 5 canções de mesmo Assunto e Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

 são links que levam a análises sobre elas.

4. I Me Mine (Mind Self Song by George Harrison)

George admite: 'Ao longo do dia é só eu, depois eu e mais eu e ao longo da noite, eu, mim, meu, eu, mim, meu, eu, mim, meu, agora estão com medo de largar, todos estão tramando, tornando-se mais forte o tempo todo' 
 
Ao mesmo tempo em que George faz uma crítica ao egoísmo, falando em todas as formas de primeira pessoa, em todos os pronomes possíveis, como se fosse ele se auto-acusando (e por isso eu coloquei a canção nesta categoria), ele lança mensagem direta a seus companheiros John e Paul (o 'todos' da letra), os autores maiorais da banda, por só pensarem nas composições deles, não abrindo espaço para as dele. Uma imagem emblemática do desprezo pode ser vista no filme Let It Be, pode-se ver neste LINK, uma cena aparentemente singela, de John dançando uma valsa com Yoko, ao som da canção de George, que é, em verdade, uma valsa (mudando para rock no refrão), pode-se perceber a batida, tum-ta-ta, tum-ta-ta. Ocorre que John desprezou a canção desde o início, criticando-a por ser uma valsa, que isso não poderia ser uma canção Beatle. Aparentemente, ninguém se lembrou de esfregar na cara dele que ele já fizera uma valsa, seis anos antes, Baby's In Black? O fato é que John nem participou da gravação. O clima estava tão ruim (era começo de 1969) que George deixou a banda, num lamentável 10 de janeiro, mas voltou uma semana depois. 
 
Aliás, I Me Mine tem uma história muito peculiar. Ela foi gravada em apenas dois dias, porém, tendo quase um ano, mais exatamente, 360 dias de intervalo entre o primeiro e o último dia. Veja: George a trouxe para o Projeto Get Back, no dia 8 de janeiro, nos estúdios de filmagem de Twickenham. Naquele dia, ela foi ensaiada 40 vezes. Cabe até uma parada aqui, para detalhar a ficha técnica da versão final: 
George: Vocal principal e de apoio, violão e guitarra distorcida. 
Paul: baixo, órgão e vocal de apoio. 
Ringo: bateria. 
John: valsa 
Ali ocorreu o episódio da valsa de John e Yoko. Bem, se podemos criticar John por ter desprezado a canção e não ter contribuído com instrumentos, foi indiretamente graças a ele que ela viu a luz do sol de uma gravação. Sim, porque a sua gozação, pegando Yoko para valsar, encantou a todos, até George gostou da brincadeira, e disse, ainda que magoado: "Quando fizermos o show ao vivo, vai ser essa sua participação, nós tocamos e cantamos e você valsa!". O diretor Michael Lindsay-Hogg adorou a ideia e incentivou e filmou, e a cena fez parte do filme Let It Be, veja aqui, neste LINK. Note que àquela altura havia um trecho em guitarra flamenca precedendo o último verso. Dois dias depois da dança, ele deixou os Beatles, magoado com o desprezo de John com aquela canção e de Paul e de John com sua obra em geral, e de saco cheio com as exigências de Paul. Voltou 10 dias depois, sob condições. E chegando ao final do projeto, decidiu que nenhuma das duas canções que ele trouxe seria tocada ao vivo. Com o projeto engavetado, ela ficaria para sempre, na prateleira, se não tivesse 'participado' do filme. O mesmo aconteceria com Across The Universe. O fato de elas estarem no filme fez com que voltassem a ser consideradas para estarem no álbum final, Let It Be.  
 
Aí passaram-se mais de 11 meses até o segundo dia. A essa altura, eles já haviam gravado e lançado Abbey Road e John Lennon já havia deixado os Beatles. E no dia 3 de janeiro de 1970, no alvorecer da década de 1970 (ou seria apenas um ano depois?), os três Beatles remanescentes se reuniram para gravá-la de fato, sob a batuta de George MartinEntão foram 16 takes, com George na guitarra base, Paul no baixo, Ringo na bateria, mas depois Paul foi ao órgão, e George acresceu lindas partes de violão e de guitarra distorcida. Os três arrebentaram em suas funções, John não foi necessário. A estrutura da canção tem três versos e duas pontes. Dois dos três versos tem letras diferentes, obedecendo ao critério Beatle. Rimas? Mine-Time-Wine, ok! E aqui eu percebi que eles pronunciam o 'G' no gerúndio dos verbos, ouça em 'playnG it, sayinG it, leavinG it, weavinG it', achei que sumiam, é Beatles ensinando-me a falar corretamente o inglês. As pontes são as mesmas, aquele trecho em rock do "I-me-me-mine", harmonizados por George e Paul, repetido 4 vezes, com linda guitarra de George, Paul parecendo um tecladista profissional, e Ringo se desmembrando na variação de tempo, porque os versos são tocados em ritmo de valsa 6/8 e  ponte é tocada em ritmo de rock, 4/4. Aliás, não só a ponte... a seção valsa é perfeita, também, a partir da introdução magnífica de George na guitarra com Paul no órgão. Note também o violão ascendente de George nos versos, junto com 'I me mine I me mine I me mine'. Charmoso! 
 
Para o lançamento do LP, entretanto, ele ainda levaria um banho de orquestra pelo produtor contratado Phil Spector, e uma das canções 'lavadas' foi I Me Mineas outras duas sendo Across The Universe e Long and Winding Road. Como ela não requereria as vozes do coral, foi deixada para o final da sessão, quando os cantores foram embora, e a sessão se estendeu até a madrugada do dia seguinte. A orquestra acompanha os versos e some nas pontes.

 
Como finalização, deixo a ironia de George logo antes do Take 16. Recentemente uma banda (Dave Dee, Dozy, Beaky, Mick & Tich), de pouquíssimo expressão fora da Commonwealth, teve a saída de um dos seus principais membros (Dave Dee). Claro que aquilo se encaixou direitinho na situação que eles viviam, pois John já havia deixado a banda, então George veio com esse hilário, ao mesmo tempo triste, comentário:
"You all will have read that Dave Dee is no longer with us. 
But Mickey and Tich and I would just like to carry on 
the good work that’s always gone down, in [studio] number two.'

George Martin manteve essa fala ao lançar I Me Mine no Anthology 3, sem o fundo de orquestra! Veja aqui, neste LINK, onde podemos notar as excelentes performances de três músicos de uma banda de 4 membros que já não existia mais....

Três capas de seu livro autobiográfico, que eu ainda não liiiiii!


6 comentários:

  1. Resenha maravilhosa. Parabéns nobre amigo Homerix. ABS. Queiroga

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  2. Fico impressionado com a riqueza de detalhes de sua narrativa e me remete ais meus 17 anos idade q tinha em 1970 e não sabia q rolava todas estas situações com os Beathes.
    O amigo é muito fera.
    Queiroga

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  3. Que voz maravilhosa tem o George Harrison, também quando fala! Uau! A gravação de _I Me Mine_ (algo como: “Eu, apenas Eu, só dá Eu”) marcou o afastamento definitivo de John, completamente envolvido por Yoko. A participação dele foi dançando com ela, enquanto os outros três gravavam a canção. George até sugeriu que essa fosse a colaboração de John, quando a banda se apresentasse, em show ao vivo. E a cena fez parte do filme _Let it be_, apesar do desprezo de John. Na gravação do LP, houve o _upgrade_ de uma orquestra, incluindo _I Me Mine_, _Across the Universe_ e _ Long and Winding Road_.

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  4. Será que Paul McCartney sabe de tudo que vc fala dos FabFour, mande a ele, derrepente vc Seja reconhecido por ele e Ringo.

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. John até queria sair dos Beatles mas quem bateu o martelo para o final da banda foi Mr. Paul McCartney

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