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sábado, 17 de abril de 2021

Only a Northern Song, strange song...

 Esta é a  canção do Lado A do LP Yellow Sumarine (e a primeira nova)

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 14 canções com Discurso para um Grupo

                                        as demais 13 canções de mesmo Assunto e Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

2. Only a Northern Song (Group Speech Song by George Harrison)

George revela "Quando você escutar tarde da noite, você pode pensar que a banda não está certa, mas está, ela toca assim mesmo. E realmente não importa os acordes que eu toque, as palavras que eu diga, ou que hora do dia seja, porque é apenas de uma canção do norte"

Mágoa! Este é o sentimento que define esta canção! E ela veio com múltiplas mensagens! Era o começo de 1967, e já estavam correndo os planos para o álbum Sgt. Pepper's. Houve uma espécie de combinação, de que os Beatles fizessem canções sobre suas infâncias, seus tempos em Liverpool. John veio com Strawberry Fields Forever, Paul veio com Penny Lane, Ringo decerto não se sentiu animado em escrever sobre o tema, tendo-se submetido a duas internações em hospital que lhe tiraram 3 anos de sua vida normal, e a de George veio com mágoa! E reclama e dos companheiros compositores da Banda (O Grupo), que não importavam os acordes que tocava, as palavras que dizia, ela era apenas uma Northern Song, uma Canção do Norte, como do Norte era Liverpool, a cidade objeto, ao menos em tese, da canção.  Porém, mais que isso, Northern Songs era o nome da companhia que detinha os direitos sobre as canções dos Beatles desde o começo de 1964. Paul e John, os maiorais da banda, dividiam 30% dos direitos, Ringo e George dividiam 1/10 de 1/3, ou seja, levavam 1,67% cada um, um acordo ferino, imposto por Dick James, o editor, que ficava com os demais 67%(!!!). Mágoa por ter assinado tal contrato, lá em 1964! O efeito era que John e Paul ganhavam mais com as canções que George compunha do que ele mesmo! E, repetindo, mágoa também porque George sofria quando suas canções não eram levadas muito a sério por Paul e John. E o fato aconteceu com essa própria canção, que foi considerada muito down para um álbum up. Cá entre nós, era mesmo! Até George concordou! Posteriormente, chegou a vez dela, contarei. Em tempo, as canções que John e Paul fizeram também não foram lançadas em Sgt. Pepper's, mas mereceram lançamento em compacto! George felizmente apareceu com uma outra e espetacular canção para o álbum, Within You Without You! 

Por mais que Only a Northern Song tenha sido desprezada para o lançamento para o qual foi proposta, ela segue a exigente linha composicional dos Beatles, tem três versos com letras distintas, são preâmbulos para a conclusão do refrão, mais ou menos assim: "Se você ouve esta canção e acha (i) que está estranha, (ii) que a banda está ruim ou (iii) que a harmonia é pesada, você não está errado!". Boas rimas estão presentes, e aqui tem o requinte de ter letras diferentes até nos três refrões, com várias coisas que "...doesn't really matter" e introduzem o título, nas duas primeiras vezes  "As (ou when) it's only a Northern song", e na terceira até nem menciona o título "And it told you there's no one there" ou "ninguém ouve minha canção"... mágoa até o fim. Uma nota sobre estas frases finais dos refrões: elas são em tempo 3/4, enquanto o resto é no tempo 4/4. Palmas para Ringo! 
 
Glockenspiel
John não participou da base da canção, que foi definida, em 13 de fevereiro. George tocou órgão, Paul, o seu tradicional baixo e Ringo, a sua tradicional bateria, com direito a muitas viradas! Foram 9 takes, os últimos 6 infrutíferos, posto que escolheram o Take 3 como o melhor. Mas depois, o Take 6 ressuscitou! A base tinha espaço para instrumentação em dois versos inteiros e um refrão não cantados, mas que não se espere um elaborado solo de guitarra para o espaço. Para casar com a fala sobre os 'acordes estranhos', ele usou acordes estranhos e dissonantes. E também no terceiro verso cantado em que diz que a harmonia é “dark and out of key,”, nota-se o que ele quer dizer com aquilo. Reduções feitas, para liberar espaço na fita, o Take 12 foi adiante para overdubs, que viriam no dia seguinte, com George e seu vocal, ainda não definitivo. E foi só isso. 
 
Nesse ponto, decidiu-se que a canção não iria decolar e iria para a prateleira. E ela só retornou à baila dois meses depois, quando se descobriu que seria ótima para o novo filme. Num glorioso 20 de abril, ela ganhou uma cara extremamente psicodélica com os incríveis overdubs. Primeiro, Paul regravou seu baixo, depois pegou um trompete e saiu tocando, aleatoriamente, sem planejamento nenhum, fazendo questão de pontuar com notas discordantes, especialmente no refrão instrumental final. O mesmo fez John (agora, sim) com um piano e um glockenspiel, na verdade, o nosso conhecido xilofone. Acresceram também estranhos sons disponíveis em fita, vozes estranhas e cacofonia explícita,  e George gravou (e dobrou) um novo e definitivo vocal. E até harmonizou, sem querer, no Refrão 2, ao cantar o final de "... or if my hair is BROWN" em segunda voz. Ficou ótimo! A loucura se estabeleceu e o verso instrumental final, que vai caminhando para o fade-out, tem vozes de John e de George, que também toca um piano, no clima, passando os dedos sobre as teclas ao léu.   Isso tudo além de pandeiros e percussões variadas, de todos os quatro Beatles, identificando-se até mesmo um tímpano de orquestra, seguro que de Ringo, lembrando de Every Little Thing de três anos antes. A coisa é tão intensa e esquisita que não tem nenhuma guitarra nesta canção do guitarrista solo dos Beatles. E, após um extensivo trabalho dos engenheiros para casar os tempos entre diferentes takes (incluindo um anterior ao escolhido no Day 1, o já falado Take 6), estava pronta a canção para ser incluída no filme!
 
Em que pese sua atribulada história, ela tem um bom destaque no filme, acompanhando cenas com as imagens dos 4 Beatles eles mesmos, alteradas como se fossem criadas por Andy Wahrol, e não com as caras da animação. Claro que nenhum Beatle a tocou ao vivo, e nem mesmo The Analogues... mas deixo aqui, a versão com letras diferentes, que saiu em Anthology 2, neste LINK, ainda sem os efeitos todos!! 

3 comentários:

  1. Eu particularmente gosto muito dessa musica. O George mostra toda sua capacidade, não apenas nesta mais em muiiitas outras canções.
    Tem seu estilo próprio e inconfundível.
    Aliás é fácil ouvir as canções Beatles e adivinhar qual o compositor.
    Lembrando que George só foi admitido na banda porque era melhor instrumentista que john e Paul
    Homero, mais uma bela análise

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  2. Eu tbm gosto dessa música. Lembro dela sempre.

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  3. O arranjo psicodélico e a idea de Paul de sair tocando aleatoriamente ( que fiquei sabendo agora graças a você) deu certinho com a letra da música. Perfeição total. Podemos pensar que o som não está certo....mas está. They are just playing like that. Genial. Amo a música.

    Homero, você acha mesmo que John e Paul eram os maiorais da banda? Jura? Para mim os maiorais eram John, Paul, Ringo e George.

    Primeira vez que li que a musica agride Paul and John. Triste isso. Ah, George... Eu sempre soube que era uma agressão compreensível a firma Northern Songs. Nâo a seus comapaheiros que assinaram aquele acordo sem entender bulhufas do assunto. Foi ruim para todos eles, não apenas para George. E claro que quem compunha mais deveria ganhar mais. Gerorge compúnha pouquissimo em 64. Ele mesmo disse que só passou a ficar inspirado a partir de 66. Existe um filme onde vemos Paul e John discutndo com Dick James sobre isso, querendo fazer alterações. Finalmente tinham entendido que não era um bom acordo. Mas não adiantou muito. Dick ainda vendeu tudo sem que eles soubessem.

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