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domingo, 28 de fevereiro de 2021

Your Mother Should Know - A mais fofa cena do cinema!

 Esta é a 2ª canção do álbum Magical Mystery Tour

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 15 canções com Discurso para um Grupo, 

as demais 14 canções de mesmo Assunto e  Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

5. Your Mother Should Know (Group Speech Song by McCartney)

Paul sugere "Vamos nos levantar e dançar uma canção que foi um sucesso bem antes da sua mãe nascer. Embora ela tenha nascido há tanto, tanto tempo, sua mãe deve conhecer (sua mãe deve...), sua mãe deve conhecer (conhecer...). Cante outra vez!"
Paul sugere às pessoas (O Grupo) que elevem seus corações recordando uma canção da época de suas mães.  A canção está na trilha  do filme Magical Mistery Tour e é cantada no momento mais gracinha e menos psicodélico do filme, numa cena antológica, em que os quatro Beatles descem dançando uma escada em curva enorme e são recebidos por garotas bem trajadas em movimentos coreografados! Vale o vídeo! Até me emocionei ao procurá-lo, para deixá-lo aqui, neste LINK. Resolvi inverter a ordem de meus posts de análise, porque eu tinha que explicar seu título logo. A cena é de sorrir e de chorar, de tão fofinha, de ver como eles eram carismáticos, e talentosos, e amigos, no caso,  como embarcavam (John, George, Ringo) na ideia de um deles (Paul), que fez a música, inventou o filme, e dirigiu a cena, e o fizeram com fervor, com devoção e com classe! Como estavam elegantes os rapazes!! Todos em branco, com fraques e cravos nas lapelas, três vermelhos e um peto, de Paul, o dono da ideia, e também, porque ele estava 'morto', segundo alimentavam os terraplanistas da época. 

 

Vamos voltar ao normal mas .... como? Acostumados que já estão a minhas análises, vocês devem se lembrar do 'Manual Beatle de Composição', onde se diz, como se fosse um mandamento: 'Não repetirás versos, consecutivamente!' Lembrem-se: Em Love Me Do, há versos repetidos, e depois, em Do You Want To Know A Secret, foi a segunda vez, mas aquela foi a ÚLTIMA em que isso aconteceu, e olha que o contador já chega a 83 canções! John, Paul e também George, obedeceram a esse mantra religiosamente! E chega esta singela canção, e Paul vem com 2 PRIMEIROS VERSOS REPETIDOS, seguidinhos, parece que obedecendo fielmente ao “Sing it again!”, depois, um terceiro com mudança de apenas uma linha ("Lift up your hearts and sing me a song" em vez de "Let's all get up and dance to a song"), e finalmente um quarto verso com Da-da-da, entremeados por duas pequenas pontes instrumentais idênticas, sem solo?!!! E todos aceitaram isso? Como?

Resposta, é porque o conjunto da obra suplanta esse pequeno deslize, primeiro porque a mensagem que Paul quis dar foi um alerta contra o conflito geracional, o GRUPO alvo dele eram os mais jovens, para não repudiar a voz da experiência, “Sua mãe deve saber!”, fofo, depois porque o arranjo da canção vem em mais um maravilhoso vaudeville, super-fofo, e finalmente, com a cena do filme, fofa ao cubo, para sempre em nossos corações! Exceção absolutamente perdoada!!

Os primeiros takes foram gravados fora da EMI, então reservada a outras gravações, no Chapell Studios, em dois dias, tendo uma base, com Paul no piano, George na guitarra base e Ringo na bateria, John ficou assistindo, ou pode ser até que não estivesse presente, mas no segundo dia, ele estava e fez com George e Paul os maravilhosos vocais de apoio, tanto da introdução "UUUuuu-UUUuuu" como os  “Your mother should..” e depois “knooow”, dos versos, em resposta ao vocal principal de Paul, também feito naquele dia, e ainda dobrado. Nota triste, aquela foi a última sessão a que o empresário Brian Epstein esteve presente, quatro dias antes de ser encontrado morto em seu apartamento, por overdose de remédios e álcool, em 27 de agosto de 1967. De volta à EMI, entretanto, três semanas depois da segunda sessão, Paul decidiu começar quase tudo do zero, mantendo apenas os vocais gravados no estúdio Chappell, e testemunhados por Epstein, quase uma homenagem! Nova base foi preparada, com Paul fazendo um guia vocal e tocando um harmônio, John num piano jangle (modificado pra dar um som metálico), George num atabaque, e Ringo na bateria. E 10 dias depois, Paul acrescentou sua linha de baixo, John mais  piano, George mais guitarra e Ringo, um pandeiro. Reparem que a aparente monotonia lírica é compensada por mudança no número de compassos e variações nos instrumentos, com Paul variando sua linha de baixo a cada verso, o mesmo fazendo Ringo com sua bateria, e os vocais passeando de um ouvido ao outro a cada verso, se você ouve em estéreo, e isso sem contar com um tambura indiano ao final, provavelmente de George!

A cena em que ouvimos Your Mother Should Know no filme é absolutamente encantadora. E também foi responsável pela maior parte do orçamento, por causa do cenário, aquela magnífica escada em S que teve que ser construída, num enorme galpão alugado, e a contratação e os ensaios de 160 dançarinos e mais 24 cadetes femininas para marchar e entregar um buquet a Paul. Ver um John Lennon sorridente, dançando e curtindo o momento, é simplesmente emocionante, deixo até o LINK aqui de novo pra você curtir esse momento!


The Quiet Beatle - Grandes sucessos solo

Aqui, o último Capítulo da Série- The Quiet Beatle
na George Harrison Week

           Acompanhei alguns sucessos de George Harrison como 'Give Me Love', Número 1 nos Estados Unidos, com aquela slide guitar deliciosa, 'All Those Years Ago', uma homenagem a John Lennon, repare na letra e chore, neste music vídeo AQUI, e compôs When We Was Fab,  homenagem aos Beatles, com um vídeo-clipe genial, veja AQUI, s e 'I've Got My Mind Set On You', um grande desempenho em uma música que não era dele, mas que se tornou grande sucesso em 1987, outro Número 1, e que serviu para dizer que ele estava vivo e bem, após um longo recesso, e também com um ótimo vídeo-clipe, ouça e dance AQUI. O disco em que tenho essa música é uma coletânea Best of Dark Horse Years, e tem outros grandes sucessos como Cheer Down, Love Comes to Everyone, Blow Away, When We Was Fab, Cheer Down, Poor Little Girl, That's The Way It Goes, além da já comentada 'All Those Years Ago'. Um disco 'have to have'!

          Soube que ele foi produtor de alguns filmes de Monty Pithon, grupo do qual ele era fã incondicional, segundo ele, eles tinham o espírito Beatle, colecionador de todos os videos do grupo e grande amigo de Eric Idle (mais um), tendo sido o responsável pelo lançamento do filme 'A Vida de Brian'. E até mesmo soube que ele esteve no Brasil em 1979 para acompanhar uma corrida de Fórmula 1, sua paixão, mas nem liguei pra isso, pode? ... estava em meu recesso beatlemaníaco, ia terminar a faculdade, enfim, no time for the boys... É muito pouco para um admirador como eu. Prometo retomar a compra dos CDs antigos.

Voltando ao quesito amigos, a amizade com Paul voltou no começo da década de 90, quando começaram a burilar o Projeto Anthology. Graças ao projeto, pudemos ouvir os Beatles juntos de novo: Yoko entregou aos 3 sobreviventes uma gravação original de John, da canção 'Free As a Bird', Paul e George fizeram letra adicional e, junto com Ringo, um arranjo sensacional, em que se destacava a guitarra de George em toda sua força. E um vídeo-clipe que eu reputo como um dos melhores da história da música, com dezenas de referências às canções dos Beatles, disponibilizei o LINK no nome da canção, pós me recuperar do choro que  intenso que me acometeu ao ver novamente o clipe.... Repetiram a dose com 'Real Love', mas somente dando uma cara Beatle à canção de John, sem letras adicionais.
Dylan-Lynn-Petty-Orbison-ELE
Antes daquele reencontro com os amigos do passado, George angariou outras amizades (muitas) no mundo da música e fora dele, e montou com alguns especiais amigos os 'Travelling Wilburys' entre 1988 e 1990, e logo foi batizada de 'super-banda'. Não era para menos: juntou George com Tom Petty, um hit maker com sua banda Heartbreakers, Jeff Lynne, do Electric Light Orchestra, Roy Orbison, que já fazia sucesso antes dos Beatles, que chegaram a abrir shows de sua banda (é dele 'Pretty Woman'), e ninguém menos que Bob Dylan, que dispensa apresentações. Infelizmente, Roy faleceu dois meses após o lançamento do primeiro disco, que foi muito bem recebido por crítica e público.E possibilitou a George oferecer ao mundo uma obra-prima, Handle With Care, tão boa que eu ofereço aqui um link. O segundo disco valeu como tributo a Roy Orbison (vejam a marcante aparição dele no video) e foi o último da efêmera (e super) banda. 


O grupo ainda colaborou num disco beneficente Nobody's Child - Romanian Angels, organizado pelas quatro esposas Beatle, com Olivia capitaneando uma inicitiva junto a Yoko, Linda McCartney e Barbara Bach (a ex-Bond Girl e então e até hoje Sra. Starkey) para a gravação de um CD beneficente com renda revertida para as crianças romenas, vítimas da guerra civil. Contribuíram, além dos Traveling Wilburys, com a canção título 'Nobody's Child'(veja este LINK), o próprio George em um dueto magnífico com Paul Simon, e Eric Clapton (claro), e Elton John, e Bee Gees, e Stevie Wonder, e Guns and Roses (poderosos, então), e Ringo, e outros menos votados também colaboraram.
Ringo, aliás, merece um capítulo à parte. Ele e George foram, desde o início, bastante unidos, principalmente pelo segundoplanismo do papel deles na banda, ainda que fundamentais para o sucesso. Ringo também abandonou a banda por alguns dias, quatro meses antes de George. Na carreira solo, George foi parceiro dele em seu maior sucesso solo 'Photogragh'  e desconfia-se ter dado uma ajuda em seu maior sucesso beatle 'Octopuss' Garden'. Os casais sempre se visitavam, aliás, numa dessas visitas, George declarou estar apaixonado por Maurren, mulher de Ringo, mas a amizade ficou apenas abalada .... ah esses astros de rock... e os dois partiram para novos relacionamentos, e vida que segue. Ringo ficou ainda mais próximo da nova família Harrison, tanto que Dhani o chamava de Uncle Ringo.
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Demais capítulos:



sábado, 27 de fevereiro de 2021

Blue Jay Way - a segunda rua

 Esta é a  4ª canção abre o álbum Magical Mystery Tour

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 8 canções com História na primeira pessoa

as demais 7 canções de mesmo Assunto e  Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.


4. Blue Jay Way (Self Story Song by The Beatles)

George lamenta "Há um nevoeiro sobre Los Angeles (L.A),  e meus amigos perderam o rumo. 'Estaremos aqui em breve' eles diziam. Agora eles se perderam em vez disso."

 

George e Pattie chegaram de Londres e se hospedaram em uma mansão cedida pelo dono (que viajava), na Blue Jay Way, uma rua numa colina de Los Angeles. O principal objetivo da viagem era ver um show de seu amigo e professor de cítara Ravi Shankar, no Hollywood Bowl.  George esperava por Derek Taylor, ex-assessor de imprensa dos Beatles, que agora era produtor de vários astros, que viria buscá-lo para uma entrevista no mesmo dia, para promover o show, mas demorava a chegar por causa de um denso nevoeiro que baixara na cidade. Incomodado pelo jetlag (de 8 horas), pegou um teclado Hammond que havia na casa, e compôs a canção, soturna, lenta, monótona até, expressando seu estado de espírito e o da própria cidade enevoada! Gente que procura pelo em ovo acha que, quando ele diz "Please don't be long!" no refrão, na verdade é "Please don't belong!", uma incitação à juventude para se libertarem das amarras da sociedade, afinal, era o Summer of Love, não é mesmo? E ainda atrelado à interpretação do "my friends have lost their way" que iria nesse mesmo sentido. Isso vai por água abaixo quando no refrão e no repetitiiiivo final, várias vezes ele diz "Please don't you be very long!".  Sai pa lá!

 

Decerto que Blue Jay Way não era uma de minhas preferidas, estava lá embaixo nos Bottom 10%, mas vim me educando, inteirando-me mais e mais sobre ela ao longo das décadas. E hoje, equipara-se a muitas outras, Top 30%, sem dúvida! O estilo é o indiano clássico, no qual George estava inserido à época, porém apenas usaram instrumentos ocidentais. São três versos e um mooonte de refrões, aquele "Please don't be long!", mas, como não podia deixar de ser, cada um tem um detalhe diferente, um tempo a mais ou  a menos, um violoncelo aqui, e ali de outro jeito. Aliás, o violoncelo merece um parágrafo à parte, mais adiante! E de repente chegamos à música, justamente pelo instrumento que entrou só no final!

 

A base foi apenas George no piano, Paul no baixo e Ringo na bateria. John ficou de fora provavelmente se inspirando para fazer algo diferente no vocal. Nos overdubs, George acrescentou o 'Drone sound' (ver abaixo), e Ringo caprichou na bateria, com inúmeras viradas, muito preciso na caixa e pratos, além de um fundamental pandeiro!! A canção saiu povoada de notas e acordes dissonantes, e com aqueles backing vocals tétricos de John e Paul, assustadores, e com alguns vocais tocados em reverso, e com um ritmo de marcha fúnebre. Ouça no fone de ouvido (aliás, como sempre, afinal é uma Beatles Song), aquilo podia ser  trilha sonora de filme de Zumbi!
Falando em dissonantes, dá só uma olhada nos acordes para violão, só até o primeiro verso: C C6 Cmaj7 C5 Cmaj7 C6 Cmaj7 Cadd9 C Cmaj7 C C Cdim C, tudo em volta da Nota Dó (C). Até pra quem entende, é muito acúmulo de diminutas, sétimas e nonas num verso só! Ufa, melhor dar uma pausa neste parágrafo, até cansei de tanto Dó.... Decerto, um recorde na carreira dos Beatles!

 

Note que aquele Dó é tocado ao fundo de toda a canção, um zumbido, como um zangão voando, um drone soundmais ou menos como ele fez em Within You Without You, alguns meses antes em Sgt. Peppers, só que lá, ele usou um tamboura, instrumento indiano, aqui, é tocado por George no teclado Hammond, às vezes aumentado pelo baixo de Paul. Os vocais, o violoncelo e o 'drone' foram submetidos a um uso obsceno do ADT - Authomatic Double Tracking - fazendo, no caso das vozes, com que parecessem verdadeiras almas penadas aterrorizando gente assustada num nevoeiro, que praticamente dá pra se imaginar ao ouvir a canção. Foi a canção de George que mais se utilizou de efeitos de estúdio. Ah, sim, o violoncelo.. 
Não se sabe por que, mas o brilhante violoncelista, que deu show em Blue Jay Way, não foi creditado em lugara nenhum. Mr. Cellus Incognitus aparece logo de cara na introdução, depois em vários trechos, nos versos e nos refrões, em legato, em staccato, em slides, e às vezes acompanhando a melodia, ele é até considerado o instrumento solo da canção, note que a guitarra ficou de fora! E, como ele entrou depois, os Beatles tiveram que retornar às filmagens de Magical Mistery Tour, para uma filmarem um ótima cena, em que simulam tocar um exemplar branco do instrumento, enquanto os outros três brincam com uma bola! 
George pouco tocou canções da época Beatle durante a carreira solo, com uma quase única exceção a do show do Japão, e dentre elas não estava Blue Jay Way. Felizmente, ela é uma canção de filme!!! E nós temos a cena do filme!!! E ela é ótima, divertida!!!! Veja aqui, neste LINK. E, claro, hoje existem os análogos!!! Veja aqui, The Analogues tocando Blue Jay Way, neste LINK.

 

E por que eu falei em 'segunda rua' no titulo desta análise? É porque foi a segunda vez em que nomearam uma canção com um nome de rua. A primeira vez havia sido naquele ano mesmo, quando lançaram Penny Lane em compacto, e da qual falaremos ainda neste capítulo sobre o LP Magical Mistery Tour. E haveria mais uma rua mencionada na carreira dos Beatles, só que não em canção, mas em álbum, e para a posteridade:

ABBEY ROAD! 

The Quiet Beatle - Live in Japan

     Um almoço com um colega beatlemaníaco inspirou-me a ouvir de novo, depois de anos, o CD duplo ‘George Harrison Live in Japan’, de 1992. Começando pelo palco, o Budokan Hall, em Tokyo, em que os Beatles ofereceram algumas de suas mais memoráveis performances ao vivo, o show de 1991 foi marcante por dois outros motivos: foi a primeira vez que George cantou a maior parte de seus sucessos da época beatle, coisa que ele se recusava a fazer e, para coroar a sábia decisão,  chamou para o palco a banda de Eric Clapton. E a banda de Eric Clapton não era boa só porque tinha ‘Deus’ como guitarrista, o que já seria suficiente para garantir o sucesso. Seu tecladista era Chuck Levell, um nome que todo mundo pensa quando precisa contratar um tecladista, o outro guitarrista era Andy Fairweather Low, competentíssimo e merecedor da mesma qualificação, e, last but not least, o percussionista era o careca Ray Cooper, por si só, uma garantia de espetáculo com sua entrega de corpo e alma aos instrumentos que maneja com uma corografia sempre inesquecível.
Depois daquela breve turnê na terra do sol nascente, George ainda tocaria ao vivo mais uma vez no Albert Hall, em apoio ao Natural Law Party, com Mick Campbel e Gary Moore nas guitarras.




       
Bem, de volta ao show/CD,  os sucessos da época solo estão ótimos,  mas, claro, minha atenção volta-se naturalmente para as novas interpretações dos velhos clássicos da época queele era simplesmente um Beatle! Começando por Taxman, a melhor sátira ao fisco de todos os tempos em qualquer língua (it’s one for you, nineteen for me, cause I'm the taxman), notei novos trechos de letra. Foi uma nova ponte: If you get a head, I’ll tax your hat, If you get a pet, I’ll tax your cat, If you wipe your feet, I’ll tax the mat, If you’re overweight, I’ll tax your fat. Surpresa na execução de Piggies: numa inesperada rendição ao vivo de uma canção tipicamente de estúdio, com direito até ao “one more time” com orquestra, George apresenta trechos alternativos de letra.
            Pensei que George ia apresentar, na mesma linha, uma letra nova também em While my Guitar Gently Weeps. Esta já conhecida, e que eu acho genial. Ouvi no Anthology 3 em um take que não foi adiante, aparece um complemento genial, veja se você concorda: ‘While I’m sitting here, doing nothing but aging, still my guitar gently weeps. Agora, no quesito música, a presença de Eric, sempre notada nas demais faixas, chega a seu máximo aqui, com mais um show de solo, reeditando a antológica interpretação que ele ofereceu lá nos idos de 1968, convidado que fora pelo amigo George para participar da gravação oficial Beatle, coisa que poucos mortais lograram na história. Nunca uma guitarra chorou tanto como naquela noite em Tokyo, realmente de fazer chorar qualquer admirador do instrumento. Sua categoria recebe, ao final, a mais apropriada qualificação que eu já ouvi sobre ela, de seu anfitrião George: ‘Eric Clapton and his Psycho guitar’.
            Para terminar, apenas uma menção à sensacional introdução da mais bela canção de amor de todos os tempos, nas palavras de Frank Sinatra, ‘Something’. Num ritmo mais lento, ouve-se uma guitarra evoluindo magistral e romanticamente, você quase percebe qual é a canção que vem aí, mas só tem a confirmação quando vem a bateria e ela efetivamente começa: provocou-me lágrimas ao ouvi-la e arrepios, neste momento, ao escrever e me lembrar.

De dar muita saudade...

--- xxx ---

Demais capítulos:



sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

The Quiet Beatle - O início solo e os amigos

Aqui, o quarto capítulo da Série 'The Quiet Beatle',
relembrando os 10 anos sem George Harrison.
All Things Must Pass - George Harrison
Bem, o sonho acabou, nas palavras de John, mas parece que o fim dos Beatles foi um grande recomeço para George. E não demorou muito para ele lançar o primeiro disco solo. E foi logo um álbum triplo, só pra deixar claro como sua criatividade estava reprimida junto aos dois monstros sagrados. E o nome da canção título deixa claro o sentimento de página virada: 'All Things Must Pass', ou seja 'tudo passa', mesmo o maior fenômeno da história da música. O álbum, triplo, foi o primeiro naquela configuração a ser lançado por um artista solo, e alcançou rapidamente o primeiro lugar nas paradas, lá permanecendo por várias semanas. É até hoje o maior sucesso comercial de um ex-Beatle, ironia do destino. No álbum, 18 composições inéditas, sendo uma em parceria com seu amigo Bob Dylan, além de uma canção do próprio Mr. Zimmerman, que preenchiam as duas primeiras bolachas, e uma terceira com jam sessions. Uma das inéditas foi um tremendo sucesso, e é até hoje, a deliciosa 'My Sweet Lord', expressando sua vontade de estar com seu Deus (Lord), fosse ele de que religião fosse . Neste link, a maravilhosa versão da canção no Concert for George, cantada por Billy Preston. Ouvi muuuito aquele compacto!!! Foi bom que o sucesso foi estrondoso, pois aplacou um pouco a dor de cabeça de uma acusação de plágio em que acabou sendo (justamente, ouça aqui) condenado por cópia não intencional, um atenuante que baixou o cheque a ser feito para 5 milhões de dólares, ao autor da outra canção.

Bangladesh era sinônimo de pobreza, devastação e fome em 1971. Refugiados morriam aos milhares. E aquelas notícias chegavam aos ouvidos de George por observadores privilegiados, seus amigos indianos, em especial Ravi Shankar, o virtuoso que o ensinara a tocar cítara. Ravi pediu de George alguma ajuda para arrecadação de fundos. George compôs uma canção com o nome do país, revertendo toda a receita para o efeito. E, no final de 1971, organizou uma reunião de amigos do rock, que aceitaram tocar num grande concerto no Madison Square Garden, em New York, que ficou conhecido como 'Concert for Blangadesh'. Estiveram lá Eric Clapton, Bob Dylan, Ringo, Billy Preston, Leon Russell e Ravi. Não estiveram lá nem Paul, nem John. Paul,  por uma questão de princípios (!!), já que, se haviam rompido, não havia sentido tocarem juntos novamente, tão cedo assim. Com John aconteceu algo pitoresco: George convidou-o, mas impôs a exigência de que Yoko não viesse. E ele até aceitou, mas depois, Yoko saltou nas tamancas japonesas quando soube da combinação. Daí, ficou mais claro quem dava a palavra final. Os shows (foram dois em um só dia) tiveram lotação esgotada. Depois, foi lançado o álbum triplo com o conteúdo do show, e um filme no começo do ano seguinte. O concerto foi o primeiro do tipo super-stars-se-reúnem-para-tocar-em-benefício-de-uma-causa, um costume que seria copiado apenas em 1985, como o Live Aid, e depois o Concerto para Monserrat, o Live 8, o Live Earth,  e tantos outros. We Are The World, por exemplo, não teve show, mas foi beneficente!


Isso se faz com o binômio friends & sensitivity, muito presente no nosso querido George. George tinha grandes amigos, e Eric Clapton era o maior deles. Tanto que admitiu perder sua mulher Pattie para ele. Claro que não foi assim, sem dor. Clapton era absolutamente alucinado por Pattie, e chegou a confessar isso a George. O grande sucesso de Clapton, 'Laila' era uma descarada declaração de amor a ela. A insistência foi difícil de resistir, e como George também aprontava, o casamento acabou. Mas não a amizade entre os dois. Algum tempo depois, George casou-se com Olivia Arias, de origem mexicana, também afeta a causas beneficentes, e que lhe deu seu único filho, Dhani, em 1978, uma cópia xerox sua, pode procurar a foto dele para conferir.
Com os ex-amigos beatles, George manteve uma relação de amor e ódio ao longo dos anos pós-sonho. No começo, uma aproximação com John, quando colaborou em um duelo de farpas musicais entre os dois gigantes, tocando guitarra em 'How Do You Sleep?', onde John acaaaaaba com Paul. Depois, algo aconteceu (pode ter sido o forfait do concerto para Bangladesh) e ele se afastou de John, que morreu sem ter sua amizade, e magoado porque dizia não ter visto uma única vez seu nome citado na autobiografia de George intitulada 'I Me Mine'. Em verdade, foi injustificado, pois seu nome é mencionado perto de 10 vezes.
Parte de minha dívida com George está aí: ainda não li esse livro! Preciso lê-lo, até mesmo para descobrir o real motivo do afastamento de John. O resto da dívida é musical mesmo: simplesmente não tenho nenhum disco solo de Harrison, lançados após os dois álbuns triplos citados. Um longo hiato, de 25 anos, levou até adquirir 'Live in Japan', que havia sido gravado em 1992.

Motivo do próximo capítulo

 

Flying - canção assinada pelos 4 Beatles

Esta é a   canção abre o álbum Magical Mystery Tour

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É a única canção instrumental da carreira dos Beatles

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

3. Flying (Instrumental Song by The Beatles)

Os Beatles cantam "La-La-La-Laaaa ... La-La-La-LaAaa ... La-La-La-Laaaa ... La-La-La-LaAaa ... ."

A brincadeira do 
La-La-La-Laaaa foi só pra manter o formato das minhas outras análises. Sendo instrumental, não tem análise de letra, muito menos Assunto ou Classe para classificá-la. Não se fala em palavras, muito menos rimas. Ficarei apenas na estrutura e na parte musical. Nunca lhe dei muita bola, penitencio-me... A necessidade de um som, sem letras, para ficar com pane de fundo a algumas cenas do filme foi o que juntou os quatro Beatles numa sessão única, em 8 de setembro de 1967, para produzi-la. Ideia de Paul, melodia de Paul, execução dos quatro. A autoria foi creditada aos quatro, adotando-se a ordem alfabética, Harrisson/Lennon/McCartney/Starkey. Aqui se percebe a sapiência da nomeação da maior dupla de compositores do século, Lennon está à frente de McCartney apenas porque L está antes do M. 
Trata-se de um blues de 12 compassos repetido três vezes, são os três versos da canção, que não tem pontes ou refrões, apenas os três versos. Esta é uma boa canção para você se acostumar com o significado de um 'compasso', de 4 tempos: ouça a canção e comece a contar de 1 a 4, no ritmo, 1-2-3-4 depois 1-2-3-4 e de novo e mais uma vez, você notará que, ao final de 12 vezes, começará tudo de novo. Na base, está Paul no baixo (coisa que ele não fazia há muito tempo, preferindo deixar sua linha de baixo para ser acrescida posteriormente), John num órgão, George na guitarra, Ringo na bateria, repetindo os compassos três vezes, iguaizinhas. Na segunda vez (2° verso), entra a melodia, num mellotron (propriedade de John), que haviam usado em Strawberry Fields Forever e  seria utilizado no ano seguinte, no Álbum Branco, simulando eletronicamente diferentes instrumentos, em  TCSO Bungallow Bill. Aqui, o mellotron foi ajustado para parecer o som de um trombone. No terceiro verso, entra o vocal dos quatro, em uníssono, mas com maior destaque para a voz de Ringo, propositalmente, para não parecer o tradicional vocal Beatle. Numa segunda sessão, George colocou mais guitarra, em brilhantes riffs, perceba, Paul caprichou mais no baixo, Ringo acresceu chocalho e John desandou a brincar com seu mellotron. Depois dos 3x12 compassos (i. sem melodia, ii. com mellotron, iii.  com os vocais), a canção entra numa sucessão de loops, reversos, com mellotron, o que chegou a fazê-la durar quase 12 minutos, mas George Martin, como sempre, cortou a sessão 'psicodélica' para meros 30 segundos, suficientes para dar o recado na versão do álbum, ficando Flying com pouco mais de 2 minutos no total.
Apesar de ser uma canção pouco considerada, inclusive pelos fãs, ela teve um razoável tempo nas rádios, mais até que outras, porque era exibida como som ambiente de entrevistas e depoimentos sobre o álbum. E, claro, foi bem tratada no universo dos The Analogues, em seu moto/mandamento/mantra "Jamais deixará uma canção dos Beatles sem ver a luz do sol de uma apresentação ao vivo replicada nos mínimos detalhes"! Veja neste LINK, em brilhantes dois minutos!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

The Fool On The Hill - Flautas e Gaitas e Mini-pratos

Esta canção abre o álbum Magical Mystery Tour

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 4 canções com Discurso para um Grupo, 

as demais 3 canções de mesmo Assunto e  Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

2. The Fool on the Hill (Alone Story Song by McCartney)

Paul conta "Dia após dia, sozinho na colina, o homem com o sorriso tolo permanece imóvel, mas ninguém quer saber dele, podem ver que ele é apenas um tolo que nunca dá resposta algumação."

O título e as primeiras frases dos dois primeiros versos da linda balada ("alone on the hill", e "head in a cloud") dão ideia de um ermitão solitário, que vive nas nuvens e longe de todos. Em muitas comunidades há pessoas assim, não é tão incomum. A cena do filme, que tem a canção como fundo, confirma essa impressão. Então, justifica-se a minha classificação como História de Solidão, estou tranquilo. Entretanto, o próprio Paul mencionou que essa era uma interpretação correta, mas parcial. Muito do resto da letra veio da lembrança dos gurus, que em sua concentração e meditação, ficam "perfectly still" e que têm muito a dizer sobre a vida, "The man of a thousand voices t
alking perfectly loud". Interessante é que Paul mescla as duas interpretações nos dois primeiros versos, em duas rimas ricas ("hill" com "still" e "cloud" com "loud"). Sim, apenas Paul é o responsável pela canção. John, declaradamente, em nada contribuiu. Na segunda parte de cada um daqueles dois primeiros versos (um total de 7 frases cada um), Paul retrata o preconceito com que as pessoas tratam o solitário, seja ele um guru ou não. No primeiro, ele diz que "ninguém quer conhecê-lo, porque é apenas um tolo", e no segundo, "Mas ninguém nunca o ouve, ou o som que ele parece fazer", e as reações do personagem são "ele nunca parece ligar", aqui e "E ele nunca dá uma resposta", lá. Entre os dois versos, tem o refrão, que se repete mais três vezes "But the fool on the hill sees the sun going down and the eyes in his head see the world spinning round". Há ainda mais dois versos, mas que são meios-versos pois iniciados por uma sessão instrumental, e, nas duas metades finais, Paul complementa a história de seu tolo (ou guru), com "And nobody seems to like him" e conclui com o diagnóstico de seu herói sobre 'os outros', "And he never listens to them, he knows that they're the fools", o problema está 'nos outros'. 

 

Musicalmente, muito rica, instrumental e sonoramente. Sua primeira sessão de gravação teve apenas Paul ao piano, para gravar uma demo, em 6 de setembro. Voltaram apenas no dia 25, já todos, para 3 dias seguidos de dedicação, mas a base foi apenas Paul no piano e John ao violão. O piano usado por Paul era multicolorido, ao estilo psicodélico da época. Eu o vi tocar no Maracanã, em 1990, quando quebramos o recorde mundial, de um show pago de um único artista que registrando um público de 184.368 espectadores, imbatível para sempre. O piano emergia do palco tocando, e contou que aquele era o piano usado na gravação da canção. Diversos overdubs foram acrescidos, Paul em seu baixo, claro, George e John em violão e guitarra, Ringo na bateria e chocalho/pandeiro e mini-pratos (finger cymbals), mas, importante, muito mais importante, foi a flauta doce tocada por Paul (!!), que acompanha a melodia dos versos instrumentais, aonde também se ouve a inesquecível participação de duas gaitas graves, primeiramente fazendo acordes suaves nas segundas metades dos versos cantados, e depois em ritmo de marcha nas partes iniciais dos versos instrumentais, tocadas por John e George, note que efeito maravilhoso! Segundo consta, quem deu a ideia das gaitas foram dois músicos da banda Moody Blues, que visitavam o estúdio. Eles teriam também tocado o instrumento, mas não foram creditados! Paul também acrescentou seu vocal, e dobrou em partes dos refrões. Não há participação de John ou George nas harmonias vocais. Foi uma decisão de Paul, pois a canção falava de um ser solitário. O vocal  tinha variações nos versos finais, e acrescentou charmosos "round, round, round, round", simulando a cabeça de nosso herói ("the world spinning round"). Finalmente, quase um mês depois, chegaram três flautistas (flautas transversais) para dar aquela suave sonoridade, ao longo de toda a canção. Separe bem qual é o som dessas flautas, que povoam os versos da canção, enquanto a flauta doce de Paul é aquela dos refrões, mais infantil, que muita criança aprende a tocar 'Brilha Brilha, Estrelinha'.  Na mixagem, acrescentaram-se aqueles sons de gaivotas, ao final. A ideia de Paul era fazer a canção bem longa, com duração de quatro minutos e meio, com repetições dos últimos versos e da parte instrumental, mas George Martin cortou o barato do compositor, na-na-ni-na-não, e a limitou em 3 minutos. 


Essa canção, bastante tocada por Paul em carreira solo, tem o luxo de ser ouvida em cena do filme, aliás com o requinte de que Paul, tão senhor que se sentia do projeto, não contou a nenhum companheiro, e na surdina pegou um cinegrafista e partiu com ele para uma pradaria nas proximidades de Nice, na França, onde dirigiu e roteirizou a cena, escolheu os locais, e atuou, como o próprio personagem que criou. Note, aqui neste LINK, que se adotou a interpretação de que ele era um tolo, nefelibata ("head in the clouds"), aliás, nuvens aparecem em destaque numa cena! Alternativamente, é impossível não deixar aqui, também, o som e imagem dos espetaculares The Analogues, principalmente para dar destaque aos inusuais instrumentos. Note bem os dois tipos de flauta, a doce, gravada por Paul, e a transversal tocada pelos profissionais, e note a ginástica do único gaiteiro, trocando entre duas enormes gaitas,  que George e John gravaram, e o chocalho/pandeiro e o singelo detalhe dos mini-pratos, que Ringo tocou. Impressionante, neste LINK.

The Quiet Beatle - O ápice durante os Beatles

Aqui, o terceiro capítulo da Série 'The Quiet Beatle', 
em mais um aniversário de George Harrison

Aqui, mais uma vez, clicando nos nomes das canções 
que estiverem em vermelho, vocêchegará a uma breve análise sobre ela!

A partir de 1967, começou a época de estúdio dos Beatles, que não mais se apresentariam em shows ao vivo (com uma brilhante exceção em janeiro de 1969). E começou com  o maior projeto Beatle, justamente aquele que seria o maior de todos, um verdadeiro marco da música mundial, o álbum Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band. Paradoxalmente, George Harrison teve reduzidíssima participação autoral no projeto, compondo apenas a bela e super indiana 'Within You Without You', e gravando-a sem a participação de nenhum beatlezinho sequer, seja nos instrumentos ou nos vocais. Ele estava meio que cansado de temas mundanos. A letra da canção era uma imersão no self aproveitando para dar uma mensagem ao mundo..... 'Try to realise it's all within yourself no one else can make you change. And to see you're really only very small, and life flows on within you and without you.'
No álbum Magical Mistery Tour, George inventou a estranhíssima 'Blue Jay Way', cheia de tons dissonantes, não contribuindo lá muito para lista de boas criações harrisonianas. Músicos têm inspirações com as coisas mais banais, e nada é garantia de que sairá coisa boa. Estava ele presla rua, aguardando os amigos presos em um congestionamento monstro, numa casa naquela rua devido a um nevoeiro, sentou-se a um teclado e saiu aquela coisa. Não chega a ser a pior dele, mas está lá embaixo na minha lista. Hoje em dia, aprecio-a um pouco mais!
Enfim, veio 1968 e o White Album, quando George trouxe ao mundo 'While My Guitar Gently Weeps', linda por si só, e arrebatadora por trazer a guitarra de Eric Clapton, a convite do grande amigo George, já conhecido como 'deus' do instrumento, e ainda assim um humilde músico contratado (e não creditado) pelos grandes Beatles. George estava inspirado à época, e produziu 'Piggies', sarcástica crítica à sociedade e às pessoas que se acham o máximo 'Everywhere there's lots of piggies living piggy lives. You can see them out for dinner with their piggy wives'. E também deu vazão à sua paixão por doces em 'Savoy Truffle', uma verdadeira ode às guloseimas inglesas 'Cream tangerine and Montelimar, a ginger sling with a pineapple heart, a coffee dessert--yes you know it's good news', e por aí vai ... e tudo temperado por um naipe de metais estonteante. Infelizmente, ele fecha sua ótima participação no Álbum Branco com aquela que eu considero a pior canção da carreira dos Beatles 'Long, Long, Long', apesar de hoje entendê-la um pouco melhor. Teriam feito muito melhor se tivessem aceito uma outra canção da época das gravações, chamada 'Not Guilty', muito superior, mas que foi exaustivamente gravada, e regravada, foram mais de 100 takes, pena que foi considerada de qualidade inferior, injustamente
O ano de 1968 termina com o desenho de longa metragem Yellow Submarine, cuja trilha sonora mistura clássicos beatle com novas canções do grupo, entre elas 'It's All Too Much' e 'It's Only a Northern Song', de George Harrison. Trata-se da maior contribuição percentual da história Harrison-enquanto-Beatle: elas representam 50% do material novo apresentado. Entretanto, elas não eram, eu diria, espetaculares. E elas haviam sido gravadas lá atrás, à época de Sgt. Peppers. Na primeira, ele volta ao culto ao que vem de dentro, dizendo que está impressionado com a beleza externa e, mais importante, interna de uma menina 'When I look into your eyes, your love is there for me. And the more I go inside, the more there is to see'. Já na segunda, mais um claro recado de sua insatisfação com relação aos dois maiorais do pedaço: Northern Songs era a companhia dona dos direitos sobre as canções dos Beatles, e ele não estava lá muito satisfeito com a parte que lhe cabia 'It doesn't really matter what chords I play, what words I say or time of day it is, as it's only a Northern Song!'.
            O ano de 1969 seria o grande ano Beatle de George Harrison, apesar de ter começado com alguns momentos de tensão, durante as gravações de Let It Be (projeto que começara com o nome Get Back), quando ele chegou a abandonar o grupo por uns poucos dias. Desavenças com Paul (registradas em filme) e com John, e a insatisfação com o pouco valor dado ao seu trabalho, haviam chegado a um limite. Mas ele acabou voltando a pedidos, após atendidas umas poucas exigências. Enfim, o episódio até pode ter contribuído para uma reviravolta no estado de coisas. Em maio, finalmente, uma canção sua foi lançada num compacto Beatle, ainda que como Lado B, 'Old Brown Shoe', rock do bom, mas foi um sinal. E ainda houve, como bem lembra meu amingo Renato,  'The Inner Light", Lado B do single Lady Madonna, cuja melodia e lletra belíssimas, e a interpretação dada pelo George associada à musicalidade dos instrumentos indianos que ele incorporou na canção a tornaram um dos pontos altos da sua carreira.

           Além da melodia e da letra serem belíssimas, a interpretação dada pelo George associada à musicalidade dos instrumentos indianos que ele incorporou na canção, tornaram "The Inner Light" um dos pontos altos da carreira dos Beatles.


           E aí veio o disco Abbey Road, último gravado pelos Beatles, para mim, o melhor deles, grandes momentos de todos (até de Ringo, veja só!), e dois desses grandes momentos foram propiciados por George. 'Here Comes the Sun' traz uma canção linda, riff inicial num violão marcante, refrão inesquecível (HCTS-It's all right) acompanhado de guitarra com viradas geniais, e letra que exalta o quanto os britânicos festejam a vota do sol naquela terra de clima miserável (como eles chamam) 'the smiles returning to the faces'.
O outro big moment de George no disco Abbey Road merece alguns parágrafos especiais e até uma digressão,  afinal é o biggest moment de George, quiçá dos Beatles. Trata-se de 'alguma coisa' especial, ou 'Something' special. Tão especial que mereceu um lançamento em Lado A de compacto beatle, deixando a ótima 'Come Together' no Lado B, e John não reclamou nem um instante, ainda soube recentemente que ele inclusive sugeriu que ela fosse o Lado A (Yoko contou para Olívia, as duas já viúvas). Foi a primeira e última ocorrência deste tipo na história. Trata-se de uma das mais regravadas canções beatle (perdendo apenas para 'Yesterday'), inclusive pelo Rei Elvis e o grande Frank Sinatra. Este último elegeu 'Something' como a mais bela canção de amor de todos os tempos! E olha que o 'old blue eyes' entendia do assunto. E, cá entre nós, ela merece a alcunha. 'Something in the way she moves attracts me like no other lover, something in the way she wooes me...' Eu me arrepio ao escrever este trecho da letra.

Pausa para digressão anglo-linguística!
E reparou no último verbo, 'woo'? Tenho quase certeza que você não conhecia, mas nem precisa dicionário, precisa? '... alguma coisa no jeito que ela me uuuuuuseia'. Esta é uma beleza do idioma inglês: a facilidade com eles substantivam um som, e depois verbalizam, ou seja, colocam ação no substantivo resultante, é uma grandeza. Então, 'She made a woo sound to me!' se transforma rapidamente em 'She gave me a woo!' para logo depois virar 'She wooed me!'. Mágico!
Fim da digressão anglo-linguística!

A melodia de 'Something' é linda, suave, triste, a gente se arrepia já na introdução, de bateria e guitarra, o solo de guitarra de George no meio da canção é o mais lindo da história do rock, e na hora de refrão, a bateria de Ringo é inesquecível. Enfim, uma grande bola dentro de George. A melhor de todas, em minha opinião!

Os Beatles romperam em abril de 1970, mas bem antes daquela data já haviam parado de tocar juntos. Muitas vezes eram visitas ao estúdio, a sós, para dar acabamento em alguma canção. E foi de George, a última visita Beatle a Abbey Road, para gravar uma guitarra na canção 'I Me Mine', que faria parte do último disco Beatle a ser lançado, Let It Be. Nesta canção ele admite um momento egoísta: 'All thru' the day I me mine, I me mine, I me mine'. A outra canção era um bluesinho simpático, 'For You Blue', que dizia   'Because you're sweet and lovely, I love you!'

Aquela última visita de um último beatle aos famosos estúdios da Abbey Road foi no dia 4 de janeiro de 1970! E enquanto George dava seus últimos acordes beatle, eu, jovem beatlemaníaco, aqui do outro lado do Atlântico, e  do outro lado do Equador, naquele exato momento, celebrava meus 12 aninhos...

... sem sequer desconfiar 

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

The Quiet Beatle - Do começo à Beatlemania

Aqui, o segundo capítulo da Série 'The Quiet Beatle', 
nesta semana de aniversário do saudoso George Harrison: 

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Um amigo demonstrou admiração por George Harrison e me pediu mais informações sobre a carreira solo dele.
Adiantei que era assunto para um longo papo. E para autoflagelações de minha parte.
Tratava-se de uma dívida histórica que eu tinha com George, e que este projeto resgata, em parte!
Já escrevera sobre a carreira solo de Paul, sobre a vida de John, sobre a magia (e mitos) da parceria entre John e Paul, até escrevi sobre um show de George, mas a verdade é que não dediquei tanto tempo a ele como aos demais. E esqueci também de Ringo ... mas Ringo era o baterista ... querido, carismático, importantíssimo para o grupo, como músico e como figura humana. Mas já me redimi com ele também!
Não sei da carreira solo de George do mesmo nível que a dos outros. De Paul, eu tenho somente TODOS os discos. De John, tenho a coletânea LENNON, que Yoko produziu em 1990, aos 10 anos de sua morte, com 4 CDs maravilhosos coletando tudo o que tinha de bom. E tenho uns outros 3 discos. E de George, bem, de George, antes de dizer o que tenho dele, começo a pagar parte da minha dívida, escrevendo um pouco sobre a carreira do Beatle.
Ele era conhecido como 'The Quiet Beatle' já que eram mais os outros que falavam. Mesmo assim, tinha ótimas tiradas, como a piadinha sobre a gravata de George Martin logo na primeira reunião entre eles. Era o mais novinho dos quatro, nove meses mais novo que Paul, e quase 3 anos mais novo que Ringo (sim, Ringo é o mais velho Beatle, sabia?). Foi trazido ao grupo por Paul, que estudava na mesma escola que ele. Tão novinho que foi expulso da Alemanha, que proibia menores de idade de tocarem em casas noturnas, que os Beatles usaram para ganhar cancha e experiência, e que experiência! Tímido, era alvo das brincadeiras dos demais, então demorou a encontrar seu caminho. Seguramente, era o mais boa gente dos quatro, disputando o posto pau a pau com o pobre (!!) baterista.
ATENÇÃO: os títulos das canções remetem a análises minha sobre elas!
Ele sempre foi mais reservado e voltado para seu interior, daí ter mergulhado de cabeça na cultura indiana. Trouxe a cítara para o rock. E ela abriu, ainda que simplesinha, mas magnífica, a canção de Lennon 'Norwegian Wood' no álbum Rubber Soul. A esta altura ele já havia tido seu primeiro grande sucesso como Beatle, com 'I Need You' no album Help, de 1965. 
Antes de continuar, vou deixar aqui O Caldeirão do George, com suas participações nesta fase. Segue depois da figura!


            Antes disso, a contribuição autoral era tímida: apenas uma canção no segundo álbum With The Beatles, chamada 'Don't Bother Me', que é melhor nem bother you com ela, bem fraquinha. Como cantor, ele estava sempre presente, cantando covers de outros artistas (ChainsRoll Over BeethovenDevil in Her Heart)
 e alguns clássicos de Lennon/McCartney: no primeiro disco Please Please Me, levou  'Do You Want To Know A Secret', e no terceiro, 'I'm Happy Just To Dance With You' que ele até cantou no primeiro filme beatle 'A Hard Day's Night'. Desta maneira, as fãs que pediam a voz de George ficavam felizes.
Finalmente, no quarto ano beatle, ele compôs e cantou 'You don't realize how much I need you', no quinto álbum, Help, juntamente com ‘You Like Me Too Much’, também muito boazinha. Depois, vieram 'Think For Yourself', 'If I Needed Someone', em Rubber Soul, esta última tocada ao vivo em várias apresentações. 
O ano de 1966 assistiu à maior contribuição Harrison para um disco beatle até então, de três canções, em Revolver, a fantástica 'Taxman', que inclusive abria um álbum o que era uma grande distinção, a somente ótima 'I Want To Tell You', e a totalmente indiana 'Love You To'. 
  1. Na primeira, uma fenomenal ironia com relação ao Brittish Lion, que cobrava uma alíquota de 95% sobre a faixa de rendimentos obscenos, aonde os Beatles se encontravam: ' ... It's one four you nineteen for you ... should five percent appear too small, be thankfull I don't take it all'.  
  2. Na segunda, ele dava o recado 'I want to tell you, my head is filled with things to say' de que sua criatividade estava querendo produzir mais, mas ficava intimidada pela proximidade de dois monstros sagrados, que tinham uma produção estupenda, a pressão era grande. Pelo menos eu interpreto assim! 
  3. E na terceira, mostra um lado meio amargo 'There’s people standing round, who’ll screw you in the ground, they’ll fill you in with their sins', que pode ou não ser também um recado a seus todo-poderosos pares.
O disco Revolver e o ano de 1966 marcam o fim de uma era: a Beatlemania, em sua essência. Não que o mundo tenha deixado de ser beatlemaníaco em 1966, mas é que em agosto, os Beatles decidiram não mais se apresentarem ao vivo. Estavam cansados da correria, da loucura, da histeria, do 'cantar-sem-ouvir-nada-só-gritos'. No vôo de volta do show no Candlestick Park - San Francisco, em 26 de Agosto de 1966, eles decidiram que dedicar-se-iam apenas a trabalhos em estúdio. 

E foi George quem disse: 
'Não agüento mais!!'  

No próximo capítulo, o florescer do terceiro beatle!!

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Demais capítulos:

1. http://blogdohomerix.blogspot.com/2011/12/quiet-beatle-10-anos-sem-ele.html

3. http://blogdohomerix.blogspot.com/2011/12/quiet-beatle-o-apice-durante-os-beatles.html

4. http://blogdohomerix.blogspot.com/2011/12/quiet-beatle-o-inicio-solo-e-os-amigos.html

5. http://blogdohomerix.blogspot.com/2011/12/quiet-beatle-live-in-japan.html 

6. http://blogdohomerix.blogspot.com/2011/12/quiet-beatle-grandes-sucessos-solo.html