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terça-feira, 9 de março de 2021

Magical Mystery Tour - O Disco

Capítulo 44 


De minha saga  

O Universo das Canções dos Beatles


Todos os Capítulos têm acesso neste LINK 


E segue a história dos Beatles

Estamos em 26 de maio de 1966! 

E seguem crescendo os números!!!               
Em menos de 5  anos de carreira, lançaram 127 canções, sendo 103 autorais e 24 de outros atores, filmaram dois Longas Metragens de sucesso mundial, A Hard Day's Night e HELP!, fizeram 571 shows, sendo 386 no Reino Unido, 94 na Europa Continental, 67 na América, 16 na Austrália e 8 na Ásia, ganharam 4 títulos de Membros do Império Britânico, lançaram 13 compactos e um EP de inéditas, e 8 LPs, Please Please Me (LINK)With The Beatles (LINK) A Hard Day's Night (LINK)Beatles For Sale (LINK)HELP! (LINK), Rubber Soul (LINK), Revolver (LINK), e Sgt. Pepper's Lonely Hearts CLub Band (LINK), todos chegando ao primeiro lugar, com exceção do primeiro e do último (!!!) compactos. 
Um espanto!!!               

Começo com um esclarecimento sobre 'a data em que estamos'. Em minha experiência beatlemaníaca, eu guardo algumas datas, e uma dessas datas era 1 de junho de 1967, quando Sgt. Peppers foi lançado! Ao começar a escrita do capítulo sobre Recepção e Legado, deprei-me com o 26 de maio! Surpresaaa! Depois verifiquei: o 1 de junho foi considerado por muito tempo porque estava no site oficial dos Beatles, só que aquela data foi quando o LP chegou a todo o Reino Unido. Há inclusive depoimentos de pessoas que compraram o LP no dia 26, e de que ele entrou nas paradas, ainda em modestas posições, do dia 28! Esclarecido!

E a próxima obra?

Ela já estava em andamento na época do lançamento de Sgt. Pepper's! Você vai se lembrar que Paul McCartney viajou para os Estados Unidos ao final da gravação da última canção daquele disco, que contei neste LINK, e na volta veio com uma ideia. Inspirou-se num sujeito que, três anos antes, pintou um ônibus escolar de 1939 com desenhos psicodélicos, em cores vibrantes, e saiu numa viagem Leste-Oeste, parando nos lugares para distribuir LSD, registrando em filme as efemérides, com a intenção de fazer um longa-metragem. 


Claro que com esse 'aperitivo', a coisa não saiu do papel, mas Paul resolveu reviver essa ideia, no interior da Inglaterra .... e sem o 'aperitivo', claro!! 
Estava concebido o novo projeto Beatle, e no voo de volta, ele compôs a canção título: 
Magical Mistery Tour
E não demoraram a gravá-la! O dia 25 de abril de 1967,  portanto ainda antes do lançamento de Sgt. Pepper's, marcou o início das gravações das canções da trilha sonora do filme, que foram até 20 de outubro, que eram apenas 6, portanto, insuficientes pra um LP. A EMI, obediente ao princípio de não incluir em LPs as canções lançadas em compactos, optou por lançar as 6 canções num EP (Extended Play) Duplo. 

Já a Capitol Records, gravadora dos Beatles nos EUA, numa EXCELENTE IDEIA, finalmente, depois de servir saladas de música Beatle em lançamentos anteriores a Sgt. Pepper's, optou por juntar as 5 canções lançadas em single ao longo do anos, que foi um estrondoso sucesso! A ideia foi copiada em muitos países, mas no Brasil optou-se por obedecer ao formato britânico, um EP Duplo com  (imagem anexa) com as 6 canções mais mais compactos. Eu não me lembro de ter esse material em casa. Falha minha! 

A EMI acabou sucumbindo à ideia da  Capitol apenas em 1976, lançando exatamente a mesma configuração de canções, ou seja, 6 da trilha sonora do filme no Lado A e 5 lançadas em compactos no Lado B, no catálogo original britânico! E é essa a configuração que esta trabalho vai adotar. Assim sendo, foram 20 as sessões de gravação para as 6 canções do filme tomaram, mais 29 destinadas a canções dos singles daquele ano (sendo 8 de Strawbery Fields Forever e 9 de Penny Lane!!), e ainda outras 8 sessões de material que seria lançado apenas em 1969. Um total, portanto, de 49 sessões para 11 canções para o LP. 

Entretanto voltemos à época do lançamento de Sgt Pepper's. Eles trabalhavam normalmente quando receberam um convite para representar o Reino Unido na primeira transmissão ao vivo de TV. Claro que teriam que ser eles, e claro que teria que  ser uma música nova, e claro que, isto posto, todo os olhos se voltaram para John Lennon que disse algo como "Acho que tenho alguma coisinha aqui pra vocês!" e mostrou um rascunho de uma canção que estava trabalhando, e que deixou a todos atabalhoados e estupefatos! Era apenas All You Need Is Love!!! E eles assinaram o contrato num 18 de junho e gravaram em várias sessões e estavam lá no 25 de junho para assombrarem o mundo mais uma vez, mas esses detalhes contarei melhor ao logo deste capítulo quando abordar a canção!


Um movimento pitoresco dos caras que haviam acabado de mudar o mundo, foi que pensaram em em viver todos juntos numa ilha grega! O intuito seria tax evasion, ou seja, pagarem menos impostos, legalmente (remember Taxman!). Eles estavam realmente dispostos a viverem em comunidade, eles, esposas, filhos, e mais os asseclas, Mal, Neil, Brian e outros, e foram todo,s em meados de julho, visitar a ilha, sugerida por um grego alucinado, chamado Alexis Madras, e conhecido como Magic Alex, que conviveu com os Beatles até 1969, influenciando-os em alguns movimentos, a maioria deles que se revelaram um rotundo fracasso. Desistiram por causa de alguns entraves do governo grego, mas acabaram fazendo algum dinheiro na conversão de ida e volta dos 90 mil libras que reservaram para a compra, algo como 12 milhões de reais! O que eu achei mais interessante é que isso foi uma mostra de como todos se davam bem!

Só uma Beatles Woman não foi à Grécia, Maurreen estava prestes a dar a luz a mais um Beatles Baby! E Ringo voltou também mais cedo da expedição por causa disso! Jason Starkey acabou vindo ao mundo em 19 de agosto. Cinco dias depois, John, Cynthia, Paul, Jane, George, Pattie e Ringo foram a Bangor, no País de Gales, numa evolução de uma sugestão da esposa de George, para um seminário de 10 dias com Maharishi Mahesh Yogi, um guru indiano defensor da Meditação Transcendental como solução pra os males do mundo. Brain Epstein iria também juntar-se a eles no dia 28, se não tivesse acontecido um evento terrível! Ele morreu no dia 27!

Brian descobriu os Beatles no Cavern Club, em 9 de novembro de 1962 (conto sobre esse encontro neste LINK), sugeriu mudanças de vestuário e de comportamento, e conseguiu testes em várias gravadora, mas não desistiu até que se fez ouvir por George Martin. O resto é história! Ele esteve à frente de todos os movimentos, de todo o relacionamento com a imprensa, de todas as excursões, e tal até que os Beatles decidiram se dedicar apenas a gravações em estúdio, exatamente um ano antes. Ele ficou meio que perdido, sem ter tanto o que fazer com os Beatles, mas também empresariava outras bandas que estavam bem nas paradas! Entretanto naquela noite, ele tomara barbitúricos demais. Era homossexual, mas num país que reprimia a sexualidade, o fato somente foi revelado após usa morte. Uma lástima, aos 32 anos! Os Beatles interromperam de imediato sua participação no seminário e retornaram a Londres, mas decidiram não ir a velório e enterro, por causa do tumulto, que certamente ocorreria, decerto a família ficaria incomodada.

Muitos dizem se Brian ainda estivesse com eles em 1970, os Beatles teriam seguido juntos por muito tempo!

Vida que segue, seguiram. Juntaram atores, membros da família e equipes de filmagem, enfiaram 43 pessoas num ônibus mega colorido e partiram, sem roteiro, sem direção, pela Inglaterra, durante duas semanas! Quer dizer, teve uma certa organização mas o resultado não foi bem recebido pela crítica nem pelo público, constituindo-se no primeiro fracasso dos Beatles. Teriam perdido o Toque de Midas? Não, a música seguia sendo sensacional. O disco, em qualquer formato, foi um sucesso! E vamos passar a descrevê-lo agora!!

Eram 11 as canções 'paridas':

    1. Magical Mystery Tour
    2. The Fool on the Hill
    3. Flying
    4. Blue Jay Way (by George Harrison)
    5. Your Mother Should Know
    6. I Am the Walrus
    7. Hello, Goodbye
    8. Strawberry Fields Forever
    9. Penny Lane
    10. Baby You’re a Rich Man
    11. All You Need Is Love

                      1. As canções sem notação do autor são da dupla Lennon/McCartney!

                      2. O álbum segue a tendência, que jamais seria abandonada, de ser predominantemente de Mind Songs que, aqui, apenas UMA  Heart Songs, batendo-as inapelavelmente por 9 a 1, o  maior de todos os placares da contenda, batendo Rubber Soul, que teve11 a 3!

                        Percebam a tabela abaixo. 


                        Mais detalhes sobre a divisão entre Heart & Mind Songs, aqui, neste LINK

                        Traduzindo...

                        Apenas UMA fala ao Coração
                        • Ela é sobre Garotas 
                          • Na Classe: DR
                        São 9 canções que falam à Mente
                        • São 4 canções que têm algum tipo de Discurso
                          • 2 para um Grupo, 1 para uma Pessoa e 1 para o Mundo
                        • São 3 canções em que contam Histórias,  
                          • 2 sobre Si mesmo, e 1 sobre Solidão
                        • São 2 canções sobre Drogas 
                          • As 2 com Histórias
                        • Uma canção Instrumental
                        Vocês viram ali em cima que o disco tem 11 canções, 
                        só que uma delas é Instrumental, não tem letra, portanto, 
                        não em Assunto, e daí, o denominador dos índices é 10 e não 11!


                        E atualizemos nosso gráfico Heart x Mind, que introduzimos em Sgt.Pepper's!

                        Declaro Magical Mistery Tour o CAMPEÃO das Mind Songs 

                        e, por conseguinte

                        Declaro Magical Mistery Tour o FOSSO das Heart Songs


                        Magical Mistery Tour tem 1 Heart Song (em 10, então 10%). Veja o gráfico!




                        E posso garantir o que digo, porque já sei o que vem por aí!!
                        • O Álbum Branco tem 9 Heart Songs (30%, 9 em 30)
                        • Yellow Submarine tem 1 Heart Song (25%, 1 em 4)
                        • Abbey Road tem 5 Heart Songs (29%, 5 em 17)
                        • Let It Be tem 2 Heart Songs (20%, 2 em 10 + 1 Cover)
                        • Past Masters #1 tem 11 Heart Songs (100%, 11 em 11 + 4 Covers)
                        • Past Masters #2 tem 5 Heart Songs (38%, 5 em 13)
                        Lembrem-se que os Past Masters #1 e #2
                        são coletâneas de canções fora dos LPs

                        Magical Mistery Tour é, portanto, no trinômio Grupo / Assunto / Classe, um

                        90% Mind,
                        40% Speech, 
                        20% Group/Self/Trip Album!

                        Em termos de autoria, as canções estão assim divididas!
                        • Aqui, Paul ainda mantém a posíção tomada a John em Revolver, agora por uma cabeça, 5 a 4;
                        • Paul mais uma vez é o esteio das Girl Songs: ele é o autor da única do Assunto!
                        • As duas Acid Song são de John;
                        • Paul e John dividem os Discursos: 2 a 2; 
                        • Paul conta duas histórias, uma sobre solidão, outra sobre Si Mesmo e a outra é de George, também sobre si mesmo.
                        • A criatividade de Ringo ainda hibernava...

                        Na tabela abaixo, as evidências, nas letras, do porquê da classificação acima!




                        Demais estágios da análise de Magical Mistery Tour

                        44.3 Depois, as análises de cada uma das 13 canções.

                        1. Magical Mystery Tour(Group Speech Song by McCartney)

                        Paul convoca "Venha! Venha para a viagem misteriosa! Venha! Venha para a viagem  misteriosa! Venha! Isto é um convite! Venha para a viagem magica e misteriosa! Venha fazer uma reserva! Venha para a viagem misteriosa! A viagem mágica e misteriosa está aguardando para te levar embora, aguardando para te levar embora!"

                        A ideia de tudo veio numa viagem de avião, de New York a Londres, na época em que as refeições eram servidas co
                        m requinte. Paul estava com Mal Evans, o roadie gigante que o

                        PAUSA PARA COMPARAÇÃO 

                        Olhe a figura abaixo. 



                        Ela é a imagem do meu post sobre a canção de abertura do álbum imediatamente anterior. Note que, afora as palavras cortadas por uma linha vermelha, ou seja, o nome do álbum, o nome da canção, o nome da efeméride anunciada (era um SHOW em vez de uma VIAGEM), a origem do voo e, claro, o trecho da letra em português, todo o resto é igualzinho, repare: 
                        1. É uma Group Speech Song
                        2. É uma canção de Paul McCartney,
                        3. A IDEIA VEIO numa viagem de avião,
                        4. ERA uma viagem de volta a Londres, e
                        5. MAL EVANS estava com Paul.

                        É uma coincidência notável. Era Paul quem tinha as ideias. Porém, na verdade, a inspiração viera com o que ele soube nos 12 dias em que esteve nos EUA, sobre uma trupe psicodélica que viajara pelo país três anos antes. Paul considerou fazer o mesmo pela Inglaterra, filmar tudo e lançar na TV. E, no voo de volta, pensou nas primeiras linhas e no som da canção de abertura da trilha sonora daquele filme. Era 11 de abril de 1967, portanto ainda antes de lançarem Sgt. Pepper's.

                        Temos que admitir que não é uma riqueza de palavras, e rimas, como já nos acostumamos a ver, afinal é uma convocação para uma viagem, como se fosse o som de um cartaz, e há várias repetições, várias chamadas. Existiam essas Mistery Tours na Inglaterra da infância de Paul, e ele quis reviver essa lembrança. Então, a letra é cheia de atrativos, 'terá tudo o que precisa', 'a satisfação é garantida'. Estruturalmente, é completa: há 3 versos, 4 refrões e uma ponte, além de introdução e conclusão. Nos refrões, eles ainda têm o cuidado de mudar o verbo "is coming" ou "is hoping" ou "is dying to take you away", aumentando as expectativas dos organizadores sobre as benesses que entregarão aos viajantes. A letra evolui muito do desenho inicial de Paul, no avião, durante as sessões de gravação, que começaram apenas duas semanas depois da viagem. John também se lembrava daquele estilo de viagem misteriosa, em que você entra sem saber o destino, e contribuiu no mínimo com as partes que ele canta solo, na metade final do primeiro verso, "And that's an invitation...to make a reservation". Aliás, foi mais um trabalho conjunto, George e Ringo e os roadies Mal Evans e Neil Aspinall deram seus palpites! E com algumas referências a viagens alucinógenas... era a época.... fazer o quê?

                         

                        Agora, musicalmente, Magical Mistery Tour é notável, usa metais incríveis, tem revigorantes mudanças de tempo, repare. A base é Paul ao piano, John no violão, George na guitarra solo e Ringo na bateria, concluída na primeira sessão, onde já decidiram que haveria sons de carros, que ouvimos passeando por nossa mente, da esquerda pra direita e de volta, na 6ª e na 10ª vez em que ouvimos a convocação "Roll up! Roll up for the Mystery Tour"", no 2° e no 3° versos. Também naquele dia, Paul gritou: "Trompetes!!", e estava decidida a instrumentação adicional. A segunda sessão teve o baixo de Paul acrescentado, que se ouve bem na bem na  ponte instrumental, e também percussões diversas, muitas delas incluídas na conclusão da canção, e tocadas por todos os presentes mas note a presença do saudoso cowbell, que não ouvíamos desde Rubber Soul! A criação coletiva continuava. Consta que também discutiam possíveis cenas do filme, que era a ideia central do projeto! Nesse 2° dia, também visitaram catálogos de atores para o filme, e o primeiro que decidiram foi a senhora gorda que faria o papel de tia do Ringo. No 3° dia, foram colocados os vocais, tanto de Paul como as harmonias de John e George nos versos! Tendo trabalhado três dias seguidinhos na canção, levaram 6 dias para contratar os 'metaleiros', e então vieram quatro trompetistas. Desta vez, como Paul estivesse incerto do que queria para a canção, um deles, acabou propondo e escrevendo as pautas para ele e seus companheiros. E ele fez  um belíssimo trabalho! Os trompetes logo dão seu recado na introdução, depois no 1° e 2° refrões, que finalizam com uma metralhadora insana de sons, depois soam românticos na ponte, e sincopados nas batidas de valsa dos dois últimos refrões. Seu nome era Gary (Elgar) Howarth que, não à toa, virou respeitável Maestro, e ainda vive. As mudanças de ritmo aparecem após o 2° refrão, primeiro na ponte, instrumental (com um "Mistery tour" murmurado por John ao fundo) e, em seguida, o ritmo desacelera, no 3° verso ("Aaaaaah, the Magical Mystery Tour"), desta vez com Paul repetindo a fala de John, com um 'r' carregado, e a mais notável mudança é a final, para os dois últimos refrões, em que o compasso muda para 3/4, de valsa, repare, no último, quando o organizador diz que está 'morrendo' para levar seus viajantes embora!

                        Em sendo uma canção de Paul, tivemos a oportunidade de ouvi-la ao vivo e eu, felizardo que sou, ouvi ao vivo mesmo, em São Paulo 2010, e faço questão de transcrever minha emoção, de um relato que fiz sobre o show (LINK). E foi logo na abertura!

                         Pra começar, quando todos esperavam a repetição da abertura de domingo, com uma morna ‘Venus & Mars’, apropriada, sim, para o início de um show (Sitting in the stand of the sports arena Waiting for the show to Begin), mas morna, veio a surpresa. Quando ele deu o sinal, saiu do teclado um som de trompete que 'dizia':

                        Paaa pa ra

                        Paaa pa ra

                        Paaaaaa

                        (e a bateria….)

                        (e Paul convocando….)

                        Roll up, roll up for the Magical Mystery Tour!

                        Step right this way!

                        Aliás, já no primeiro Paaa pa ra, no primeiro acorde, a galera percebeu tratar-se do grande sucesso beatle, e urrou desesperadamente, eu inclusive, de braços levantados ao alto em agradecimento. Parecia que John e George também estavam lá cantando, e nos convidando ...Roll up, roll up for the mistery tour ... e nós imediatamente aceitamos embarcar naquela viagem misteriosa e, principalmente, mágica, que duraria as próximas três horas, e que seria lembrada para sempre. No telão central, imagens coloridas e psicodélicas, como a capa do álbum que a canção abria, no longínquo 1967. A coisa se repetiu, com igual ou menor intensidade mais de 30 vezes: o povo reconhecia no primeiro acorde a música que viria, e entrava em êxtase.

                        Note que a surpresa foi notada pelo G1, que anunciou, quase ao vivo...


                        Deixo aqui pra vocês como foi essa emoção, pois encontrei exatamente o vídeo desse momento descrito acima (só que eu descrevo melhor, confira!!). É o primeiro deste LINK! Ele conta tudo sobre aquele show. Os vídeos estão mais abaixo, é só rolar o cursor.


                        2. The Fool on the Hill (Alone Story Song by McCartney)

                        Paul conta "Dia após dia, sozinho na colina, o homem com o sorriso tolo permanece imóvel, mas ninguém quer saber dele, podem ver que ele é apenas um tolo que nunca dá resposta algumação."

                        O título e as primeiras frases dos dois primeiros versos da linda balada ("alone on the hill", e "head in a cloud") dão ideia de um ermitão solitário, que vive nas nuvens e longe de todos. Em muitas comunidades há pessoas assim, não é tão incomum. A cena do filme, que tem a canção como fundo, confirma essa impressão. Então, justifica-se a minha classificação como História de Solidão, estou tranquilo. Entretanto, o próprio Paul mencionou que essa era uma interpretação correta, mas parcial. Muito do resto da letra veio da lembrança dos gurus, que em sua concentração e meditação, ficam "perfectly still" e que têm muito a dizer sobre a vida, "The man of a thousand voices t
                        alking perfectly loud". Interessante é que Paul mescla as duas interpretações nos dois primeiros versos, em duas rimas ricas ("hill" com "still" e "cloud" com "loud"). Sim, apenas Paul é o responsável pela canção. John, declaradamente, em nada contribuiu. Na segunda parte de cada um daqueles dois primeiros versos (um total de 7 frases cada um), Paul retrata o preconceito com que as pessoas tratam o solitário, seja ele um guru ou não. No primeiro, ele diz que "ninguém quer conhecê-lo, porque é apenas um tolo", e no segundo, "Mas ninguém nunca o ouve, ou o som que ele parece fazer", e as reações do personagem são "ele nunca parece ligar", aqui e "E ele nunca dá uma resposta", lá. Entre os dois versos, tem o refrão, que se repete mais três vezes "But the fool on the hill sees the sun going down and the eyes in his head see the world spinning round". Há ainda mais dois versos, mas que são meios-versos pois iniciados por uma sessão instrumental, e, nas duas metades finais, Paul complementa a história de seu tolo (ou guru), com "And nobody seems to like him" e conclui com o diagnóstico de seu herói sobre 'os outros', "And he never listens to them, he knows that they're the fools", o problema está 'nos outros'. 

                         

                        Musicalmente, muito rica, instrumental e sonoramente. Sua primeira sessão de gravação teve apenas Paul ao piano, para gravar uma demo, em 6 de setembro. Voltaram apenas no dia 25, já todos, para 3 dias seguidos de dedicação, mas a base foi apenas Paul no piano e John ao violão. O piano usado por Paul era multicolorido, ao estilo psicodélico da época. Eu o vi tocar no Maracanã, em 1990, quando quebramos o recorde mundial, de um show pago de um único artista que registrando um público de 184.368 espectadores, imbatível para sempre. O piano emergia do palco tocando, e contou que aquele era o piano usado na gravação da canção. Diversos overdubs foram acrescidos, Paul em seu baixo, claro, George e John em violão e guitarra, Ringo na bateria e chocalho/pandeiro e mini-pratos (finger cymbals), mas, importante, muito mais importante, foi a flauta doce tocada por Paul (!!), que acompanha a melodia dos versos instrumentais, aonde também se ouve a inesquecível participação de duas gaitas graves, primeiramente fazendo acordes suaves nas segundas metades dos versos cantados, e depois em ritmo de marcha nas partes iniciais dos versos instrumentais, tocadas por John e George, note que efeito maravilhoso! Segundo consta, quem deu a ideia das gaitas foram dois músicos da banda Moody Blues, que visitavam o estúdio. Eles teriam também tocado o instrumento, mas não foram creditados! Paul também acrescentou seu vocal, e dobrou em partes dos refrões. Não há participação de John ou George nas harmonias vocais. Foi uma decisão de Paul, pois a canção falava de um ser solitário. O vocal  tinha variações nos versos finais, e acrescentou charmosos "round, round, round, round", simulando a cabeça de nosso herói ("the world spinning round"). Finalmente, quase um mês depois, chegaram três flautistas (flautas transversais) para dar aquela suave sonoridade, ao longo de toda a canção. Separe bem qual é o som dessas flautas, que povoam os versos da canção, enquanto a flauta doce de Paul é aquela dos refrões, mais infantil, que muita criança aprende a tocar 'Brilha Brilha, Estrelinha'.  Na mixagem, acrescentaram-se aqueles sons de gaivotas, ao final. A ideia de Paul era fazer a canção bem longa, com duração de quatro minutos e meio, com repetições dos últimos versos e da parte instrumental, mas George Martin cortou o barato do compositor, na-na-ni-na-não, e a limitou em 3 minutos. 


                        Essa canção, bastante tocada por Paul em carreira solo, tem o luxo de ser ouvida em cena do filme, aliás com o requinte de que Paul, tão senhor que se sentia do projeto, não contou a nenhum companheiro, e na surdina pegou um cinegrafista e partiu com ele para uma pradaria nas proximidades de Nice, na França, onde dirigiu e roteirizou a cena, escolheu os locais, e atuou, como o próprio personagem que criou. Note, aqui neste LINKque se adotou a interpretação de que ele era um tolo, nefelibata ("head in the clouds"), aliás, nuvens aparecem em destaque numa cena! Alternativamente, é impossível não deixar aqui, também, o som e imagem dos espetaculares The Analogues, principalmente para dar destaque aos inusuais instrumentos. Note bem os dois tipos de flauta, a doce, gravada por Paul, e a transversal tocada pelos profissionais, e note a ginástica do único gaiteiro, trocando entre duas enormes gaitas,  que George e John gravaram, e o chocalho/pandeiro e o singelo detalhe dos mini-pratos, que Ringo tocou. Impressionante, neste LINK.

                        3. Flying (Instrumental Song by The Beatles)

                        Os Beatles cantam "La-La-La-Laaaa ... La-La-La-LaAaa ... La-La-La-Laaaa ... La-La-La-LaAaa ... ."

                        A brincadeira do 
                        La-La-La-Laaaa foi só pra manter o formato das minhas outras análises. Sendo instrumental, não tem análise de letra, muito menos Assunto ou Classe para classificá-la. Não se fala em palavras, muito menos rimas. Ficarei apenas na estrutura e na parte musical. Nunca lhe dei muita bola, penitencio-me... A necessidade de um som, sem letras, para ficar com pane de fundo a algumas cenas do filme foi o que juntou os quatro Beatles numa sessão única, em 8 de setembro de 1967, para produzi-la. Ideia de Paul, melodia de Paul, execução dos quatro. A autoria foi creditada aos quatro, adotando-se a ordem alfabética, Harrisson/Lennon/McCartney/Starkey. Aqui se percebe a sapiência da nomeação da maior dupla de compositores do século, Lennon está à frente de McCartney apenas porque L está antes do M. 
                        Trata-se de um blues de 12 compassos repetido três vezes, são os três versos da canção, que não tem pontes ou refrões, apenas os três versos. Esta é uma boa canção para você se acostumar com o significado de um 'compasso', de 4 tempos: ouça a canção e comece a contar de 1 a 4, no ritmo, 1-2-3-4 depois 1-2-3-4 e de novo e mais uma vez, você notará que, ao final de 12 vezes, começará tudo de novo. Na base, está Paul no baixo (coisa que ele não fazia há muito tempo, preferindo deixar sua linha de baixo para ser acrescida posteriormente), John num órgão, George na guitarra, Ringo na bateria, repetindo os compassos três vezes, iguaizinhas. Na segunda vez (2° verso), entra a melodia, num mellotron (propriedade de John), que haviam usado em Strawberry Fields Forever e  seria utilizado no ano seguinte, no Álbum Branco, simulando eletronicamente diferentes instrumentos, em  TCSO Bungallow Bill. Aqui, o mellotron foi ajustado para parecer o som de um trombone. No terceiro verso, entra o vocal dos quatro, em uníssono, mas com maior destaque para a voz de Ringo, propositalmente, para não parecer o tradicional vocal Beatle. Numa segunda sessão, George colocou mais guitarra, em brilhantes riffs, perceba, Paul caprichou mais no baixo, Ringo acresceu chocalho e John desandou a brincar com seu mellotron. Depois dos 3x12 compassos (i. sem melodia, ii. com mellotron, iii.  com os vocais), a canção entra numa sucessão de loops, reversos, com mellotron, o que chegou a fazê-la durar quase 12 minutos, mas George Martin, como sempre, cortou a sessão 'psicodélica' para meros 30 segundos, suficientes para dar o recado na versão do álbum, ficando Flying com pouco mais de 2 minutos no total.
                        Apesar de ser uma canção pouco considerada, inclusive pelos fãs, ela teve um razoável tempo nas rádios, mais até que outras, porque era exibida como som ambiente de entrevistas e depoimentos sobre o álbum. E, claro, foi bem tratada no universo dos The Analogues, em seu moto/mandamento/mantra "Jamais deixará uma canção dos Beatles sem ver a luz do sol de uma apresentação ao vivo replicada nos mínimos detalhes"! Veja neste LINK, em brilhantes dois minutos!

                         

                        44.4 No finala capa, a recepção e o legado4. Blue Jay Way (Self Story Song by The Beatles)
                        George lamenta "Há um nevoeiro sobre Los Angeles (L.A),  e meus amigos perderam o rumo. "Estaremos aqui em breve" eles diziam. Agora eles se perderam em vez disso."
                        George e Pattie chegaram de Londres e se instalaram em uma mansão na Blue Jay Way, uma rua numa colina de Los Angeles. O principal objetivo da viagem era ver um show de seu amigo Ravi Shankar, no Hollywood Ball.  Ele esperava Derek Taylor, ex-assessor de imprensa deles que agora era produtor de vários astros, que viria buscá-lo para uma entrevista no mesmo dia, para promover o show, mas demorava a chegar por causa de um denso nevoeiro que baixara na cidade. Incomodado pelo jetlag (de 8 horas), pegou um teclado Hammond que havia na casa e compôs a canção, soturna, lenta, monótona até, expressando seu estado de espírito. Ela saiu povoada de notas e acordes dissonantes, e com aqueles backing vocals tétricos de John e Paul, assustadores, e com um ritmo de marcha fúnebre. Falando em dissonantes, dá só uma olhada nos acordes para violão, só até o primeiro verso: C C6 Cmaj7 C5 Cmaj7 C6 Cmaj7 Cadd9 C Cmaj7 C C Cdim C, tudo em volta da Nota Dó (C). Até pra quem entende, é muito acúmulo de diminutas, sétimas e nonas num verso só! 
                        Ufa, melhor dar uma pausa neste parágrafo, até cansei.... 
                        Decerto, um recorde na carreira dos Beatles!
                        Note que esse Dó é tocado ao fundo de toda a canção, um zumbido, como um zangão voando, um dronemais ou menos como ele fez em Within You Without You, alguns meses antes em Sgt. Peppers, só que lá, ele usou um tamboura, instrumento indiano, aqui, é tocado por George no Hammond, às vezes aumentado pelo baixo de Paul.
                        Gente que procura pelo em ovo acha que, quando ele diz "Please don't be long!" no refrão, na verdade é "Please don't belong!", uma incitação ao consumo de drogas, atrelado à interpretação do 'my friends have lost their way' que iria nesse mesmo sentido! Isso vai por água abaixo quando no refrão e no repetitiiiivo final, várias vezes ele diz 'Please don't you be very long!'  Decerto que não é uma de minhas preferidas, está lá embaixo nos Bottom 10%, mas venho gostando mais e mais dela ao longo das décadas. O estilo é o indiano clássico, em que George estava inserido na época, porém apenas usaram instrumentos ocidentais. São três versos e um mooonte de refrões, aquele "Please don't be long!", mas, como não podia deixar de ser, cada um tem um detalhe diferente, um tempo a mais ou  a menos, um violoncelo aqui, e ali de outro jeito. Aliás, o violoncelista é incógnito, até hoje, não se deu registro a seu nome. E é uma pena, pois é um trabalho notável, com variações de técnicas importantes em diferentes pontos da canção.
                        George pouco tocou canções da época Beatle durante a reira solo, com uma quase única exceção a do show do Japão (LINK) e dentre elas não estava Blue Jay Way. Felizmente, hoje existem os análogos!!! Veja aqui, The Analogues tocando Blue Jay Way, neste LINK.
                        E por quê eu falei em 'segunda rua' no titulo desta análise? É porque foi a segunda vez em que nomearam uma canção com um nome de rua. A primeira vez havia sido naquele ano mesmo, quando lançaram Penny Lane em compacto. E haveria mais uma rua mencionada na carreira dos Beatles, só que não em canção, mas em álbum, e para a posteridade:

                        ABBEY ROAD! 


                        5. Your Mother Should Know (Group Speech Song by McCartney)

                        Paul sugere "Vamos nos levantar e dançar uma canção que foi um sucesso bem antes da sua mãe nascer. Embora ela tenha nascido há tanto, tanto tempo, sua mãe deve conhecer (sua mãe deve...), sua mãe deve conhecer (conhecer...). Cante outra vez!"
                        Paul sugere às pessoas (O Grupo) que elevem seus corações recordando uma canção da época de suas mães.  A canção está na trilha  do filme Magical Mistery Tour e é cantada no momento mais gracinha e menos psicodélico do filme, numa cena antológica, em que os quatro Beatles descem dançando uma escada em curva enorme e são recebidos por garotas bem trajadas em movimentos coreografados! Vale o vídeo! Até me emocionei ao procurá-lo, para deixá-lo aqui, neste LINK. Resolvi inverter a ordem de meus posts de análise, porque eu tinha que explicar seu título logo. A cena é de sorrir e de chorar, de tão fofinha, de ver como eles eram carismáticos, e talentosos, e amigos, no caso,  como embarcavam (John, George, Ringo) na ideia de um deles (Paul), que fez a música, inventou o filme, e dirigiu a cena, e o fizeram com fervor, com devoção e com classe! Como estavam elegantes os rapazes!! Todos em branco, com fraques e cravos nas lapelas, três vermelhos e um peto, de Paul, o dono da ideia, e também, porque ele estava 'morto', segundo alimentavam os terraplanistas da época. 

                         

                        Vamos voltar ao normal mas .... como? Acostumados que já estão a minhas análises, vocês devem se lembrar do 'Manual Beatle de Composição', onde se diz, como se fosse um mandamento: 'Não repetirás versos, consecutivamente!' Lembrem-se: Em Love Me Do, há versos repetidos, e depois, em Do You Want To Know A Secret, foi a segunda vez, mas aquela foi a ÚLTIMA em que isso aconteceu, e olha que o contador já chega a 83 canções! John, Paul e também George, obedeceram a esse mantra religiosamente! E chega esta singela canção, e Paul vem com 2 PRIMEIROS VERSOS REPETIDOS, seguidinhos, parece que obedecendo fielmente ao “Sing it again!”, depois, um terceiro com mudança de apenas uma linha ("Lift up your hearts and sing me a song" em vez de "Let's all get up and dance to a song"), e finalmente um quarto verso com Da-da-da, entremeados por duas pequenas pontes instrumentais idênticas, sem solo?!!! E todos aceitaram isso? Como?

                        Resposta, é porque o conjunto da obra suplanta esse pequeno deslize, primeiro porque a mensagem que Paul quis dar foi um alerta contra o conflito geracional, o GRUPO alvo dele eram os mais jovens, para não repudiar a voz da experiência, “Sua mãe deve saber!”, fofo, depois porque o arranjo da canção vem em mais um maravilhoso vaudeville, super-fofo, e finalmente, com a cena do filme, fofa ao cubo, para sempre em nossos corações! Exceção absolutamente perdoada!!

                        Os primeiros takes foram gravados fora da EMI, então reservada a outras gravações, no Chapell Studios, em dois dias, tendo uma base, com Paul no piano, George na guitarra base e Ringo na bateria, John ficou assistindo, ou pode ser até que não estivesse presente, mas no segundo dia, ele estava e fez com George e Paul os maravilhosos vocais de apoio, tanto da introdução "UUUuuu-UUUuuu" como os  “Your mother should..” e depois “knooow”, dos versos, em resposta ao vocal principal de Paul, também feito naquele dia, e ainda dobrado. Nota triste, aquela foi a última sessão a que o empresário Brian Epstein esteve presente, quatro dias antes de ser encontrado morto em seu apartamento, por overdose de remédios e álcool, em 27 de agosto de 1967. De volta à EMI, entretanto, três semanas depois da segunda sessão, Paul decidiu começar quase tudo do zero, mantendo apenas os vocais gravados no estúdio Chappell, e testemunhados por Epstein, quase uma homenagem! Nova base foi preparada, com Paul fazendo um guia vocal e tocando um harmônio, John num piano jangle (modificado pra dar um som metálico), George num atabaque, e Ringo na bateria. E 10 dias depois, Paul acrescentou sua linha de baixo, John mais  piano, George mais guitarra e Ringo, um pandeiro. Reparem que a aparente monotonia lírica é compensada por mudança no número de compassos e variações nos instrumentos, com Paul variando sua linha de baixo a cada verso, o mesmo fazendo Ringo com sua bateria, e os vocais passeando de um ouvido ao outro a cada verso, se você ouve em estéreo, e isso sem contar com um tambura indiano ao final, provavelmente de George!

                        A cena em que ouvimos Your Mother Should Know no filme é absolutamente encantadora. E também foi responsável pela maior parte do orçamento, por causa do cenário, aquela magnífica escada em S que teve que ser construída, num enorme galpão alugado, e a contratação e os ensaios de 160 dançarinos e mais 24 cadetes femininas para marchar e entregar um buquet a Paul. Ver um John Lennon sorridente, dançando e curtindo o momento, é simplesmente emocionante, deixo até o LINK aqui de novo pra você curtir esse momento! 


                        6. I Am The Walrus (Trip Acid Song by John Lennon)

                        John conclama, alucinado: "Espertos, trouxas, fumantes inveterados, vocês não acham que o Coringa vai rir de vocês? Veja como eles sorriem como porcos num chiqueiro, veja como eles zoam. Eu estou chorando. Sardinhas de semolina escalando a Torre Eiffel. Um pinguim elementar cantando Hare Krishna. Cara, você devia ter visto eles chutando o Edgar Allan Poe"

                        Gente, o fã que pegou com avidez o EP Magical Mistery Tour, sabendo que tinha apenas 6 canções, botou na vitrolinha , e foi ouvindo a agulha passear pelo vinil, e ouvia o alto-falante despejando a voz de Paul em três canções e a de George e até mesmo uma canção instrumental, coisa que nunca ocorrera na carreira os Beatles, ficou se perguntando, cadê John? Bem, ele não perdeu por esperar.

                         

                         canção era uma obra-prima, de John Lennon!!

                         

                        John coloca no papel tudo o que sua mente vê, em seu estado alterado. Ele admitiu em sua famosa entrevista para a Playboy de 1980 que as principais linhas vieram em acid trips em dois fins-de-semana subsequentes, e o resto veio surgindo na mesma linha. A 'Morsa' veio de um poema de Lewis Carroll, The walrus and the carpenter, mas ele não entendeu bem e acabou pegando para a letra o bandido do poema, o mocinho era o carpinteiro, mas depois gostou, pois ficou beeeem mais sonoro, na métrica perfeita. A letra é pontuada por inúmeras imagens estranhas, a freira pornográfica, a massa podre saindo do olho do cachorro morto, o "sentado num floco de milho esperando a van chegar", e policiais em fila voando como "Lucy in the sky" (alguém tinha dúvida de que a canção de Sgt. Pepper's era outra viagem?),  e acabou sobrando até pro pobre escritor Edgar Allan Poe, e tudo culminando no refrão espetacular "I am the eggman, they are the eggmen, I am the walrus, googoogjoob!". Não busque rimas, elas são irrelevantes nessas viagens, em que imagens chegam aleatoriamente à mente do compositor. E era tanta coisa que chegava, que John teve que fazer a mais complexa canção dos Beatles, em termos de estrutura! Vejam que são 6, SEIS, MEIA-DÚZIA, de Versos, uma Ponte e 4 Refrões sei que devem já estar acostumados com a nomenclatura de minha análises mas vou facilitar as coisas, colocando as frases dos elementos estruturais pra vocês:
                        Verso 1: I am he as you are he as you are me

                          Verso 2: Sitting on a cornflake waiting for the van to come

                            Refrão: I am the eggman. They are the eggmen

                        Verso3: Mr. City, policemen sitting pretty little policemen in a row

                          Verso 4: Yellow matter custard dripping from a dead dog's eye

                            Refrão: I am the eggman. They are the eggmen.

                        Ponte: Sitting in an English garden waiting for the sun

                          Refrão: I am the eggman. They are the eggmen

                        Verso 5: Expert, texpert, choking smokers,

                          Verso 6: Semolina Pilchard Climbing up the Eiffel tower

                            Refrão: I am the eggman. They are the eggmen 

                          

                        Além dessa quantidade de versos, com letras todas diferentes, a melodia, a silabação, a métrica é distinta, apenas os Versos 2, 4 e 6 são similares entre si. E acresça-se que cada refrão, em que pese terem todos as mesmas palavras, eles tê variações no números de complementos, os onomatopaicos Goo goo g' joob's!!
                         
                        Musicalmente, é outro poço de novidades. Rock vigoroso com arranjo orquestral potente, um coral de vozes para os Hoo Hoo Hoo Hi Hi H Ha Ha Ha e os OOmpa OOmpa..., e note o longo final com a orquestra subindo, subindo, as notas da escala, concomitando com as linhas de baixo descendo, descendo, e vozes de uma transmissão de rádio de uma peça de Shakespare, loucura, loucura, loucura!!! Genial loucura!!

                         

                        Mas vamos a mais um pouco de detalhes! E antes, um pequeno retrospecto se faz necessário. Lembrem-se, já mencionado aqui, do passamento inesperado de Brian Epstein, em 27 de agosto. Os Beatles interromperam o seminário de que participavam no País de Gales e retornaram a Londres. No dia 1 de setembro, todos ainda abalados, reuniram-se para falar sobre o futuro da banda, onde John declarou que era o fim, mas Paul se esmerou em que continuassem o projeto Magical Mistery Tour, inclusive porque Brian o havia aprovado, o que acabou sendo acordado por todos. E, apenas 4 dias depois entraram nos estúdios para gravar uma canção de John, que a cantou para George Martin, em tom monotônico, acompanhado de seu violão, com uns versos cheios de linhas inteiras com uma nota só (vários MI), máximo duas (alternando com RÉs sustenidos), e a letra falando sobre homens-ovo e morsas e sardinhas e Edgar Allan Poe, ao que  o Maestro perguntou, atônito:  "O que você espera que eu faça com ISSO?", vou até colocar a fala em inglês, muito legal: "Well, John, to be honest, I have only one question: What the hell do you expect me to do with that?".   À primeira vista, estranha, logo, logo, Martin viu que tinha nas mãos uma pérola. Mas aquele dia estava realmente difícil de se concentrar, as mentes em Brian, John começou a base num piano elétrico, Ringo na bateria, George na guitarra base, Paul no baixo. Logo se viu que John não acertava, e Martin chegou a sugerir passar para Paul, mas acabou seguindo com ele, e Ringo estava com dificuldade de concentração, e Paul abandonou o baixo e ficou tocando um pandeiro em frente a Ringo para trazer foco ao parceiro. Zoada aquela sessão, mas a base acabou saindo, com Paul no pandeiro! Dia seguinte chegou o baixo de Paul, mais bateria de Ringo e o magnífico vocal de John, sem backing vocals de ninguém, estava bom demais, mas John fez um daqueles pedidos estranhos, disse que queria que sua voz parecesse vir da Lua! Geoff Emmerick deu um jeito eletrônico de satisfazer o astro, distorcendo sua voz! E depois, veio o desejo vanguardista de colocar as ondas do rádio na canção, e foi um rebuliço no estúdio, primeiro para encontrar um rádio, e depois para ligá-lo ao som do estúdio, foi uma loucura, mas o resultado ficou sensacional, com aquela peça de Shakespeare no meio de um rock do bom. E note, que ela veio por acaso, e feita já na sessão de mixagem, aleatoriamente, deixaram tudo pronto, rodaram o dial, e onde ele parou, ficou, e deram REC... e era a peça Rei Lear. A notável sessão instrumental foi, claro, orquestrada pelo Maestro George Martin, e materializada, por 16 músicos contratados, sendo 8 violinos, 4 violoncelos, 1 clarinete baixíssimo e 3 trompas! Nenhum Beatle esteve presente nessa sessão, porque era de tarde, mas chegaram em seu horário normal, às 7 da noite para testemunhar o que final, e gostaram muuuito do que (ou)viram,  a presença de um grupo vocal (8 homens e 8 mulheres) colocando aqueles gritos nos refrões ("Oooooh!") e risadas no 5° verso ("Hoo Hoo Hoo Hi Hi H Ha Ha Ha"), e falas no estonteante final ("Everybody’s got one, everybody’s got one…"), sugeridos por John e orquestrados por Martin, que se juntam aos insanos cordas e metais da orquestra, e a grunhidos de porcos quando são citados, isso sem contar a voz distorcida do genial compositor e vocalista, num clima jamais visto! É inacreditável o resultado que conseguiram, entrou para a história!!! 

                         

                        Bom, gente, melhor para de falar, melhor deixar vocês ouvirem, e prestarem atenção aos detalhes, em três videos:

                          1. A cena do filme Magical Mistery Tour, com os quatro dublando eles mesmos (lip sync), primeiro em trajes psicodélicos, depois vestidas de animais, John, claro, sendo a Morsa!! Pena que é só um trecho! Não achei o completo! Aqui, neste LINK;
                          2. Não poderia deixar de colocar um SURPREENDENTE cover que George Martin tirou da cartola em seu projeto In My Life, de Beatles tocados por outras gentes, convidando Jim Carey para cantar I Am The Walrus. Com certeza, Lennon deve ter esboçado um sorriso onde quer que estivesse! Vejam aqui, neste LINK;
                          3. Finalmente, não temos Beatles mas temos The Beatle Analogues, tocando IGUALZINHO ao arranjo original, com orquestra e coral, aqui, neste LINK

                        7. Hello, Goodbye (DtR Girl Song by Paul McCartney)

                        Paul discute: "Você diz sim, eu digo não! Você diz pare mas eu digo vá, vá, vá! Oh não! Você diz tchau, e eu digo alô! Alô, alô, eu não sei por que você diz tchau, e eu digo alôAlô, alô, eu não sei por que você diz tchau, e eu digo alô!"

                        Momento contextualização: estamos em 1967, o ano da revolução da música, Sgt. Pepper's, Verão do Amor, Contracultura, Swinging LondonFlower Power, um claro chamado a canções com letras de maior conteúdo, os próprios Beatles são puxadores do fenômeno, lançam compactos com obras-primas como Penny Lane, Strawberry Fields Forever, e o hino All You Need Is Love. E agora eu pergunto: qual foi a canção de maior sucesso deles em compactos naquele ano? E eu respondo: Hello, Goodbye!!

                        Isto é Paul McCartney, senhoras e senhores!! 

                        O compacto lançado em novembro, tendo I Am The Walrus como Lado B (!!!) ficou oito semanas no topo da parada britânica! A razão do (!!!) é porque é claro que I Am The Walrus é muuuito superior a Hello Goodbye, e só pelo valor, os lados deveriam ser trocados. John, aliás, não ficou nem um pouco contente, aliás, porque ele já não concordava com canções leves lançadas pelos Beatles e dá pra ver que fez o clipe de lançamento meio de má vontade, apesar de ter feito umas brincadeiras. Eu entendo perfeitamente a decisão da EMI. A canção de John seria lançada nas semanas seguintes no EP com a trilha sonora de Magical Mistery Tour, portanto, o destaque tinha que ser para Hello, Goodbye. 

                         

                        Vejam parte das dezenas de capas dos compactos, pelo mundo todo!! Sucesso em todo lugar!

                         

                        Agora, vamos ao valor de Hello, Goodbye! Ela é povoada de momentos de Discussão de Relacionamento (DR) entre casais. Paul era o maioral dessa classe de letras, veja ali em cima no LINK que eu ofereci. Das 16 canções até então, ele foi responsável por 8, sendo a melhor para mim, We Can Work It Out ("Life is very short and there's no time for fussing and fighting, my friend!"). Hello, Goodbye, superou-a, mesmo sendo mais simples! Ela tem muito valor. Note a forma lúdica como ele expõe a mais singela forma de discussão de relacionamento entre homem e mulher, veja se não. Depois do "You say yes, I say no", que pode se originar em qualquer discussãozinha, sobre qualquer assunto corriqueiro, Paul expõe pontos mais fortes, e escolhe muito bem quem fala o quê, se é ele ou a sua companheira. Os diálogos retratam os tipos distintos de raciocínios e comportamentos, entre homens e mulheres, como tão bem explorado no livro "Homens são de Marte, Mulheres são de Vênus", que eu recomendo a qualquer casal, pode ler e vai parecer que o autor estava ouvindo tudo, escondido em algum canto de sua casa. Voltemos à letra! Veja "I say high, you say low", homens querem ir mais alto, mulheres são mais prudentes, mais conservadoras, pensam mais no futuro, e preferem não ir tão alto; e, quase na mesma linha, tem o "You say stop, but I say go, go, go", e eu não posso deixar de associar ao comportamento no trânsito, por exemplo, afinal, quantas vezes você, amigo, quis fazer uma ultrapassagem, ou passar um sinal amarelo, e sua companheira ao lado o segurou? Elas têm mais bom senso, tanto que os prêmios de seguro são mais baratos para elas! Porém, deixei o mais profundo para o final. Paul diz: "You say why and I say I don't know". Aaaahh! Mulheres querem discutir, querem falar, querem saber por quê, homens preferem o silêncio, as respostas curtas, não pensam nas razões por que fazem o que fazem, apenas fazem. A própria contraposição do título, "I don't know why you say goodbye, I say hello" mulheres saem mais fácil de relacionamentos, querem logo dizer adeus, homens preferem ficar e dizer Alô. Bem, esta última posso estar equivocado... 
                        A estrutura lembra aquele casa/separa/ casa/separa/ casa/separa/ casa/separa/  do Jô Soares, não pude deixar de lembrar, porque ela é bem simples, é verso/refrão/ verso/refrão/ verso/refrão/ verso/refrão. O Verso 2 é diferente do Verso 1, em letra, o Verso 3 é grande parte instrumental e o Verso 4 repete o Verso 1. Os versos têm igual número de compassos, e os refrões, também. Em melodia e arranjos, entretanto, verão mais embaixo que é bem diferente, a riqueza é fenomenal. 

                        Pausa para uma historinha sobre a inspiração da canção

                        Algum dia de agosto, Jane tinha ido embora, Paul ligou para o amigo Allistair Taylor (assistente de Brian Epstein) pra jogar conversa fora e tomar whisky com Coca Cola (também adoro!), papo vai, papo vem, Taylor perguntou sobre as composições de Paul, e este o chamou: "É simples, vamos compor?" Chamou o amigo para dividir um harmônio lado a lado e instruiu: "O que quer que eu cante aqui do meu lado, você canta o oposto do seu!"  Black - White, High-Low, Yes-No, Hello-Goodbye, e assim foi. Ficaram na brincadeira uns 5 minutos, e só.... Três meses depois, Paul foi à casa de Taylor, entregou-lhe o compacto, em primeira mão, dizendo: "A primeira Taylor-McCartney da história". Claro que ele não era sério mas reconheceu que a canção começou naquela brincadeira! 

                        Vamos à música! A base foi Paul ao piano, John num órgão, Ringo na bateria e George num pandeiro. Interessante notar que a sessão havaiana (sempre chamei assim, mas eles chamam de Maori Finale) que ouvimos ao final, sempre esteve lá. Eu sempre achei que fora pensada depois! Os primeiros overdubs vieram mais de duas semanas depois, e primeiro foi a ótima guitarra distorcida de George, e depois o vocal principal de Paule os de apoio de John e George , Ringo num chocalho, o com Paul mandando ver em um atabaque, e John com mais piano no Maori Finale. No dia seguinte, a canção recebeu o auxílio luxuoso de duas violas, veja bem, viola de orquestra, aquele violino maiorzinho, cuja corda mais grave (DO) é uma quinta abaixo da do violino (SOL), e uma oitava mais aguda que a do violoncelo. Somente seis dias depois, finalmente chegou o baixo de Paul, numa sessão de horas de dedicação!  

                         

                        Destaque deve ser dado às variações de arranjo que enriquecem a canção, que é simples em estrutura, conforme já mencionado. A começar pelos vocais, note como a voz de Paul abre o Verso 1, junto com o primeiro acorde do piano, e segue só ele no Refrão 1 (onde se destaca a guitarra distorcida de George) e no Verso 2. As vozes de John e George entram só no Refrão 2, entoando o título da canção 2x4 vezes, que no Verso 1 era papel da guitarra de George. O Verso 3 começa instrumental com um show de viradas de Ringo, e na metade, vem Paul reverberando lá no alto "Why why why why why why do you say goodbye goodbye bye bye bye bye bye, oh no?", com George chorando sua guitarra ali no meio. O Refrão 3, em vez de John e George, vem este último em sua guitarra fazendo aquelas mesmas 2x4 vezes a melodia com o título. As novidades não param e, no Verso 4, em que pese ser idêntico ao Verso 1, em letra, tem o órgão de John em destaque e, mais incrível, John e George no vocal de apoio, cantando uma segunda letra em resposta a Paul: "I say yes, but I may mean no… I can stay till it’s time to go", e o Refrão 4 é igual ao 3, mas repetido, até o final "Helooo", que logo se vê que é falso, pois entra a apoteose havaiana, ou Maori, como queiram, numa batida firme de Ringo, parecendo um galope de cavalo. Se há UMA coisa que John gostou nesta canção foi esse final, longuíssimo, de 34 compassos! Genial! E note que nem falei das violas! Que charme elas trouxeram à canção! E note como variam, de sessão a sessão: no Verso 1, harmonizam com a voz de Paul, no Verso 2 elas fazem como que uma resposta ao vocal de Paul e depois entram numa descendente fenomenal. O Verso 3 é todo delas, elas são o instrumento solo, até entrar a voz de Paul. Finalmente, as violas sobem e descem um breve pódio de notas, no final do Verso 4, notável.

                        Hello, Goodbye mereceu um clipe de divulgação, que já foi visto 120 milhões de vezes. Os meninos vestiram os trajes da Banda dos Corações Solitários do Sargento Pimenta,  e dublaram suas vozes e instrumentos na gravação em playback. Quer dizer, John fingiu que tocava um violão, já que na gravação, ele toca um órgão. Eles não eram muito bons nisso, hehe, mas fizeram direitinho e até algumas micagens com as pernas, e no final havaiano, 6 dançarinas aprecem rebolando para eles. Interessante que, como não filmaram as violas tocando, não exibiram o clipe na Inglaterra, para evitas sanções do sindicato dos músicos! Vejam aqui, neste LINK.

                        Então, 1967 foi mais um ano em que The Beatles
                        terminaram no topo do mundo! 

                        8. Strawberry Fields Forever (Trip Acid Song by John Lennon)

                        John convida: Deixe-me te levar comigo porque eu estou indo para os campos de morango, nada é real e não há nada com o que se preocupar. Campos de morango para sempre!  Viver é fácil com os olhos fechados, entendendo errado tudo o que você vê. Está ficando difícil ser alguém, mas tudo vai dar certo! Isso não me importa muito...'

                        John convida a todos para viajarem com ele para Strawberry Fields. O local realmente existiu (sem o S, era singular), era um orfanato que John e seus amigos iam espiar quando crianças em Liverpool. Mas esseS campoS da canção não são reais, são locais na mente dele, onde tudoé imaginário. É uma viagem para dentro dele, a canção é uma auto-análise. John considera que esta canção suplantou In My Life no posto de sua melhor na época dos Beatles, como um conjunto letra-música (depois ele consideraria Across The Universe como sua melhor letra). Eu a classifiquei como uma viagem alucinógena por causa do convite ("Let me take you down") e do baixo teor de realidade do destino dos locais para onde ele ia nos levar ("nothing is real"), que é para onde levam os alucinógenos, mas em verdade, é uma viagem para dentro de si mesmo. Desde criança, ele fazia essas 'viagens', muito antes de adentrar ao mundo das drogas. O menino vivia numa viagem alucinante, mesmo sem agentes externos. Deixo aqui uma declaração dele mesmo, abrindo seu coração, antes de eu embarcar em detalhes da composição.

                          “There was something wrong with me, I thought, because I seemed to see things other people didn't see. I thought I was crazy or an egomaniac for claiming to see things other people didn't see. I always was so psychic or intuitive or poetic or whatever you want to call it, that I was always seeing things in a hallucinatory way. Surrealism had a great effect on me, because then I realized that the imagery in my mind wasn't insanity; that if it was insane, I belong in an exclusive club that sees the world in those terms. Surrealism to me is reality. Psychic vision to me is reality. Even as a child. When I looked at myself in the mirror or when I was 12, 13, I used to literally trance out into alpha. I didn't know what it was called then. I found out years later there is a name for those conditions. But I would find myself seeing hallucinatory images of my face changing and becoming cosmic and complete. It caused me to always be a rebel. This thing gave me a chip on the shoulder; but, on the other hand, I wanted to be loved and accepted. Part of me would like to be accepted by all facets of society and not be this loudmouthed lunatic musician. But I cannot be what I am not."

                        Ele começou a escrevê-la num set de filmagens em Almería na Espanha. Aliás, existe um filme espanhol inspirado nisso, onde um professor da cidade ensina inglês pra crianças com letras dos Beatles, e fica doido quando sabe que Lennon está lá filmando, e faz o possível para encontrá-lo. Muito legal! E o nome do filme é justamente o primeiro verso ali de cima 'Vivir es fácil con los ojos cerrados', sim, a primeira frase do primeiro verso, "Living is easy with eyes closed"). Segundo John, isso inspirou a decisão de colocar as letras das canções, o que eles fizeram no álbum. Álbum, aliás que não teve Strawberry Fields Forever.

                        A estrutura é simples: após uma introdução (antológica), vêm 3 refrões e 3 versos, alternadamente. Bem, quer dizer, simples uma ova, porque, depois vêm a conclusão, e depois outra conclusão, numa efeméride de inovação. É o refrão que inicia a fala, com o convite à viagem ("Let me take you down, 'cause I'm going to Strawberry Fields, nothing is real, and nothing to get hung about"), que ele repete outras três vezes. No Verso 1, ele incita as pessoas a deixar a abrirem os olhos para o mundo, "Living is easy with eyes closed, misunderstanding all you see". Depois do segundo refrão, o Verso 2 o mostra inseguro sobre o que vê "No one I think is in my tree, I mean it must be high or low". Após mais um refrão, a dúvida dele é patente no Verso 3, vou até colocar em português, pra sentir o desespero de não saber o que está acontecendo: "Sempre, não, algumas vezes, penso, mas você sabe, eu sei quando é um sonho, eu acho, bem, nem sei, bem, é, mas está tudo errado, por isso eu acho que discordo". Chega a dar pena!!

                        Strawberry Fields Forever foi a primeira canção a ser gravada na nova fase dos Beatles, que haviam decidido não tocar mais ao vivo. E eles chegaram com tudo!! Foram várias indas e vindas até se atingir a versão final, foram quase 55 horas de estúdio, quase 30 takes, desde novembro de 1966 até seu lançamento em fevereiro de 1967, em um compacto Duplo Lado A com Penny Lane, de Paul, ambas as canções com reminiscências de suas infâncias. É apaixonante acompanhar a evolução da canção, desde o voz e violão, sem refrão, e letra incompleta, até aquela efeméride de técnicas e ousadia da versão final. 

                        Quando John mostrou o demo, já com o refrão, mas ainda no meio, para George Martin, o Maestro quase passou mal, de tão impactado que ficou com a beleza da canção!  Paul também ficou impressionado e entregou uma introdução histórica à canção. O que você pensa ser um conjunto de flautas ali, na verdade, é um mellotron, um teclado que 'sampleia' (sorry!), ou simula outros instrumentos, que era uma baita novidade na época, e todos os Beatles tinham um em casa, sob influência de John.  E a 'flauta' mellotrônica acompanha todos os versos da canção, que são quatro. Tape loops, instrumentos reversos, em alguns takes, sinos, tímpanos, atabaques, em outros, e um arranjo de trompetes e violoncelos de George Martin, e um som de um trem passando, em outros, olha, eu não vou detalhar em que sessão cada instrumento entrou e tocado por quem, senão isso aqui vai ficar muito grande, mas deixo aqui o detalhe da grande sacada que tornou Strawberry Fields Forever única, e que envolveu a mente criativa e exigente de John e a técnica dos maiorais do estúdio, George Martin e Geoff Emmerick, o engenheiro produtor.

                        John queria misturar as coisas, que estavam gravadas em tempos diferentes, deixando a missão para o Maestro resolver, numa época em que edição de fita era feita na base da tesoura. Sinta a complexidade do problema! O demo, com voz e violão de John, estava em Dó Maior num tempo de 83 bpm (beats por minuto). Take 1 também estava em Dó Maior, mas nem tanto, porque John queria sua voz mais aguda, então Martin acelerou um tiquinho o tape, para 95 bpm. No Take 4, o tom já estava em Si Bemol Maior e em 90 bpm. No Take 7, estava mais pra La Maior. John gostou dessa, mas espera que tem mais. Uma semana depois, John decidiu que queria começar tudo do zero novamente, e o Take 26 (vê só) estava de volta ao Dó Maior, mas num tempo de 111 bpm, rapidinho e agudo, bem parecido com a versão final, só que não. John ha via gostado (lembra?) do Take 7, e pediu uma Missão Impossível: "Quero o primeiro minuto do Take 7 e o resto do Take 26!" quando Martin ia reclamar, John disse: "You can do it!!". O Rei falou, faça-se sua vontade! John não queria saber se o tom de um estava em La (ou quase) e do outro estava em Dó (ou quase), e com tempos diferentes (90 contra 111 bpm). Depois de muito coçarem as cabeças, Martin e Emmerick, viram que a solução era acelerar um e desacelerar outro. Reduziram o tempo do Take 26 para 99 bpm, o que levou o tom para algo próximo de Si, e aumentaram o tempo so Take 7 em apenas um ponto, para 91 bpm, o suficiente para levá-lo para um La mais próximo do Si do Take 26. E pra juntar os dois tapes, usaram a técnica do Cortar e Colar, muito antes do Cut and Paste que fazemos hoje, eletronicamente. Lá, eles cortaram, efetivamente, com tesoura, e colaram, efetivamente, com durex! Isso mesmo!! E ao mostrarem o resultado a John, estava tão perfeito que ele não percebeu, e perguntou: "Já passou?", ao que Martin e Emmerick responderam com um sorriso, e John disse três palavras: "Brilliant! Just brilliant!!". Portanto amigos, é im-pos-sí-vel tocar Strawberry Fields Forever ao vivo, e-xa-ta-men-te como na gravação, o que ouvimos hoje é algo parecido, mas nunca igual!

                        Outros destaques: encante-se com o swarmandal, instrumento indiano tocado por George ao terminar a segunda e a terceira vezes em que o refrão é cantado, e eu recomendo fortemente que o façam com um fone de ouvido, notando como o som começa agudo no ouvido direito e percorre sua mente lindamente até terminar grave no esquerdo, sem brincadeira, faça isso e viaje, aliás, deixo aqui o LINK com o trecho mencionado, repetido 4 vezes, pra você fixar bem; note a bateria ressonante de Ringo a partir do meio do segundo refrão e até o final; e preste atenção ao fade out, cheio de tape loops, e o fade in (retorno) quando ninguém espera, e ali pelo meio, John falando 'cranberry pie´' e o povo entendendo 'I buried Paul', contribuindo para a conspiração de que Paul era agora um sósia do original. 

                        O resultado ficou 'astonishing', às vezes é preciso usar o inglês, sorry. E então, parece que o povo se assustou com a proposta da canção e a resposta das vendas surpreendeu, e pela primeira vez em quatro anos, um single dos Beatles não chega ao topo das paradas, nem em UK nem nos EUA!! Já comentei o mistério no post sobre Penny Lane. Sendo um duplo Lado A, as vendas têm que ser divididas por 2, então um intruso que tinha menos vendas, ficou no topo. Foi o maior arrependimento de George Martin, pois tivessem lançado cada uma das canções B-ladeadas por uma canção menor de Sgt. Peppers, tipo When I'm Sixty Four e Good Morning Good Morning, decerto ambos atingiriam o merecido topo. 

                        Bem, se o povo não entendeu muito bem a mudança do som dos Beatles, os críticos receberam muuuito bem. É considerada um marco da cena psicodélica, influência séria para outras bandas que surgiriam, especialmente Pink Foyd, por exemplo. E seus colegas de profissão ficaram boquiabertos. Conta-se que Brian Wilson, dos Beach Boys, ouviu a canção em seu carro, parou e falou ao seu interlocutor passageiro: 'They did it again!', bastante sério, e depois até interrompeu seu projeto de disco. Os Beatles eram imbatíveis! E seu filme promocional não fica atrás e é considerado precursor dos vídeo-clipes, a amostra mais antiga de vídeos que formataram o mercado da música na TV, registrado oficialmente nos MOMA's pelo mundo. Aqui, neste LINK


                        9. Penny Lane (Self Story Song by Paul McCartney)

                        Paul se lembra: "E o banqueiro nunca usa uma capa na chuva. Muito estranho! Penny Lane está nos meus ouvidos e nos meus olhos, lá sob o céu azul do subúrbio, eu sento, e enquanto isso, em Penny lane há um bombeiro com uma ampulheta"

                        A química entre a maior parceria da história estava em alta no final de 1966. Os Beatles estavam em estúdio desde o segundo semestre daquele ano, após desistirem das excursões. Eles produziam aquele que seria  o maior disco da história do rock, Sgt. Pepper's. E eles já viam que o LP não sairia até meados do ano seguinte. Era preciso manter a chama acesa. A EMI precisava lançar um compacto e encomendou, claro, as canções a John e Paul, sua fenomenal dupla autoral. Cada um apresentou a sua. AS DUAS falavam de Liverpool!!!


                         AS DUAS remetiam a lembranças da infância de cada um.  John veio com Strawberry Fields Forever, Paul veio com Penny Lane! John e Paul usavam o hub de ônibus para pegar ônibus para qualquer lugar da cidade. Enquanto Paul aguardava John, ele anotava as coisas que via, a linda enfermeira vendendo flores que sonhava ser atriz, o bombeiro, o barbeiro que guardava as fotos de seus cortes, e seu cliente banqueiro que não se importava com a chuva, memórias de infância e adolescência. Um que outro personagem foi criado para dar uma cena para o local, mas os locais realmente existem, ou existiam, "around the shelter in the middle of a roundabout ... ou talvez não exatamente em Penny Lane, por exemplo, o quartel dos bombeiros (fire estation) era um pouco mais distante, mas foi 'trazido' para Penny Lane para compor o cenário, do "fireman with an hourglass .... He likes to keep his fire engine clean, it's a clean machine". Permitido, não? E se permitiam também uma piadinha de duplo sentido, no "A four of fish and finger pies", do segundo refrão, que estava ali inocentemente para rimar uma das vezes com "Penny lane is in my ears and in my eyes", e até lembra uma porção de peixe frito custando 4 'pence', mas em verdade queriam usar a expressão "finger pie", que era uma gíria sexual, que garotas não diziam! A melodia era de Paul, bem os primeiros versos, mas John ajudou numa memória aqui, outra ali, mas especificamente no terceiro verso, sobre o bombeiro e seu limpo carro. Falando em 'versos', a estrutura da canção era verso-verso-refrão 3 vezes, sendo o 4° verso, instrumental. Os cinco versos letrados têm letras todas diferentes, e até mesmo nos refrões há uma variação, pois o 1° refrão diz a famosa referência ao suburbano céu azul "There beneath the blue suburban skies", o 2° refrão vem com aquela frase de duplo sentido. A criatividade dos Beatles sempre colocada à prova. As rimas, ótimas, se fosse em português, seriam todas ricas nos versos "go-hello", "rain-strange", "clean-machine", "play-away ". Nos refrões, as pobres "skies-eyes-pies". Absolutamente perdoadas!

                        Vamos à parte musical. A base foi Paul nisso, John naquilo, George naquilo outro e Ringo na  bateria? NADA DISSO! Pela primeira vez, os Beatles fugiriam do tradicional esquema de base mais overdubs. Isso porque Paul, o autor, queria que Penny Lane soasse como Pet Sounds dos Beach Boys, que ele andava ouvindo muito. Geoff Emmerick entendeu o recado e passou a gravar um instrumento por vez, um em cada faixa da fita (eram quatro, lembrem-se), conferindo uma pureza nunca vista, sem vazamentos. Então, no glorioso 29 de dezembro de 1966, o que se viu foi 3 Beatles olhando Paul tocar 3 pianos, um de cada tipo (normal, elétrico e honky-tonky) e também um harmônio, e tudo com uma noção de tempo impressionante, que até dispensou um auxílio de Ringo, que seria normal, no chimbal (hit-hat), Paul era fenomenal. Dia seguinte, redução das 4 faixas para uma de outra fita, onde se gravaram o vocal principal de Paul e a harmonização de John, que se ouve nas segundas frases dos refrões. E foram pra casa e só voltaram no ano seguinte, no mesmo dia em meu aniversário, o décimo 4 de janeiro de minha vida, quando John gravou mais um piano, e George, uma guitarra, e Paul fez outro lead vocal,  que ele não gostou e gravou outro no dia seguinte! E só no dia 6, a normalidade voltou, e Paul tocou seu baixo, John sua guitarra base, George sua guitarra solo, e Ringo sua bateria! E ainda não satisfeitos com o número de pianos da canção, John e George Martin gravaram mais dois, não perca a conta, já são 6 os pianos de Penny Lane! No fim de semana que se seguiu, todos descansaram menos George Martin, que, instruído por ordens claras de Paul, fez variados arranjos orquestrais. No dia 9, vieram 4 flautistas e dois trompetistas gravaram suas partes, e o dia seguinte apenas viu Ringo gravar sinos, na parte dos bombeiros. Mais dois dias e vieram outros instrumentistas com seus trompetes (2), oboés (2), 1 corne inglês (um oboé mais grave) e um contrabaixo, que tocava apenas uma nota, e ficou horas fazendo isso, com o maior prazer!

                        Porém, a cereja do bolo, o 'pièce de résistance', o toque magistral, veio uma semana depois, quando adentrou ao estúdio David Mason, um trompetista especificamente contratado sob sugestão de Paul, trazendo seu conjunto de trompetes. Paul o ouvira tocar num musical na BBC (TV), e pensou: "Quero aquilo em Penny Lane!". George Martin disse: "Seu desejo é uma ordem, amado mestre!", quer dizer, não foi bem assim, mas quase! Tudo o que um Beatle queria era providenciado. Paul solfejou a melodia, Martin escreveu a pauta e Mason entrou para a história! Dentre os 9 trompetes que Mason trouxe, Paul e Martin escolheram o Piccolo, afinado em Si Bemol, justamente o mais agudo, e o competentíssimo instrumentista deu o seu show, sua arte é ouvida ao longo da canção mas, em especial, na sessão solo, que termina com aquele inacreditável agudo! Recebeu o equivalente a 4.000 reais por aquela noite, e até o fim da vida, em que pese ter tocado nas melhores orquestras, ele foi celebrado por seu desempenho naquele longínquo e frio 17 de janeiro de 1967. 

                        A música ganhou um vídeo promocional, assim como a companheira do outro Lado A do compacto, onde causou espécie o fato de os Beatles parecerem mais velhos, todos de bigode! Vejam aqui, neste LINK. A repercussão do compacto foi enorme pela crítica, porém não o suficiente para atingirem o primeiro lugar nas paradas, coisa que não acontecia desde 1962. Contribuiu para isso o protocolo para compactos com Duplo Lado A, onde o tatal de vendas tinha que ser dividido por 2 porque eram duas músicas,  então o real Número 2 passou a Número 1. George Martin admite que lançá-las juntas foi um erro: se cada uma delas fosse lançada em separado, cada uma tendo no Lado B uma canção menor de Sgt. Pepper's, as duas atingiriam o Número 1, com certeza. Voltando aos vídeos, deixo aqui, com vocês, claro, não podia deixar de verem Penny Lane, tocada ao vivo, por The Analogues, com direito a sino, flautas, trompetes e especialmente o piccolo, tocados à perfeição!! 


                        10. Baby, You're a Rich Man (Person Group Song by John Lennon)

                        John diz 'Qual é a sensação de ser uma das pessoas bonitas? Quanto tempo você ficou lá? Tempo o bastante para saber. O que você viu quando você estava lá? Nada que não seja evidente'

                        Antes de adentrar à análise de letra e música, uma constatação. Esta canção está emoldurada, cercada, acabrunhada entre nada menos que quatro (4) obras-primas, um índice de 80% de genialidade em um só lado de LP, no caso, o Lado B de Magical Mistery Tour, um verdadeiro ensanduichamento, veja se não

                        Hello Goodbye

                        Strawberry Fields Forever 

                        Penny Lane

                        Baby You're a Rich Man

                        All You Need Is Love

                         É mais ou menos assim a proporcionalidade!! Mas ela tem o seu valor! Vejamos!!

                        O VOCÊ em questão era um representante dos 'beautiful people' do movimento hippie, John canta algumas perguntas em falsete, como "How does it feel to be one of the beautiful people?" ou "And have you travelled very far?", e as responde em sua voz normal, como "Far as the eye can see". São dois versos assim, depois mais um terceiro, todos de autoria de John, para uma canção que ele chamaria One Of The Beautiful People, que era como os hippies eram chamados, ou se autoproclamavam.  Nos refrões, que vêm após os Versos 2 e 3, é Paul quem canta "Baby, you're a rich man.... rich man ... rich man too" que, na verdade era uma outra canção que Paul tinha na cabeça, e os dois resolveram juntar em uma só. Em verdade, o intuito dela era para compor a trilha da animação Yellow Submarine, que já estava nos planos, mas que somente sairia mais de um ano depois. Só que precisavam de um Lado B para All You Need Is Love, e ela, que fora gravada ainda antes do lançamento de Sgt. Pepper's, foi então lançada bem antes do filme.

                        Com a junção das duas, a riqueza do "rich man", na verdade, seria a de bens imateriais, dos bons pensamentos de paz e amor. Bonito, né? Rumores, entretanto, garantem que o "rich man" era o pobre Brian Epstein, pobre no sentido de sentimentos íntimos, posto que não se sabia, mas ele já estava em um processo de declínio, que o levaria a exagerar em soníferos e morrer pouco tempo depois. Na verdade, se ele era remediado, antes de conhecer os Beatles, agora, realmente ele era um homem rico, como seu empresário, tendo direito a 25% de tudo que os Beatles faturavam, mas arcando com todas as despesas. E, se você perceber bem, o gozador John modifica a letra das duas últimas vezes do refrão, repare que o danado, em vez de cantar "...rich man too", ele canta "...rich fag jew", esclarecendo que "fag" é gíria para 'homossexual' e "jew" é judeu, dois qualificativos que se aplicavam ao pobre menino rico... Esse John.... 

                        Antes de seguir, um parêntesis sobre o que foi Brian Epstein para os Beatles, 

                        na palavra dos próprios Beatles.

                         John - "Sem Brian, os Beatles não iriam a lugar algum."

                        George - "Nos éramos cegos sem direção até Brian aparecer."

                        Paul - "Brian era um de nós. Os Beatles devem muito a ele."

                        Ringo - "Acima de tudo, Brian era nosso verdadeiro amigo. 

                        Ele se preocupava com o nosso bem-estar e fazia tudo por nós." 

                        Ao ouvir a canção, note um instrumento diferente ao longo da canção não é uma daquelas flautas de encantar serpente, na verdade é John tocando um clavioline, um teclado monofônico (só toca uma nota por vez), um precursor do sintetizador, que dominaria a música nos anos seguintes... Beatles sempre inovadores... Outras curiosidades: 
                        • a canção foi a primeira a ser gravada e finalizada fora da EMI, nos Olympic Studios, que era usado pelos Rolling Stones;
                        • aliás, Mick Jagger estava presente e é possível que tenha participado dos backing vocals em algum refrão;
                        • a canção foi gravada em apenas uma sessão, de apenas 6 horas, um recorde nos últimos tempos;
                        • a base foi com John no piano, Paul no baixo, George na guitarra, Ringo na bateria;
                        • Ringo acrescentou chocalho e pandeiro e Paul, mais um piano;
                        • todos (Mick Jaegger também?) acrescentaram palmas;
                        • há um vibrafone tocado por Eddie Kramer, então um mero engenheiro de som, mas que seria produtor do Kiss na década seguinte;
                        • Geoff Emmerick recebeuu o trabalho pronto na EMI para dar uma repaginada final, mas não precisou mudar uma vírgula no trabalho de Keith Grant, o produtor dos Olympic Studios;
                        • Keith Grant aliás, ficou impressionado com o vocal de John, dizendo:
                        "Não imaginava que alguém pudesse cantar tão bem!"


                        A canção foi bem recebida pela crítica como magnífica mostra do ambiente psicodélico e de contracutura, e chegou a entrar nas paradas  americanas. Para finalizar, não temos nem John nem Paul cantando, mas temos The Analogues, com direito a clavioline, e uma emocionante participação de violinistas e trompetistas. Sempre me espanto e me emociono com eles. Se fechar os olhos, a gente imagina os Beatles! Aqui, neste LINK

                         

                        11. All You Need Is Love (World Group Song by John Lennon)

                        John diz "É fácil (tamtan tantaram tantaram) Tudo o que se requer é amor (tam tantarararam) Tudo o que se requer é amor (tam tantarararam) Tudo o que se requer é amor, amor, Amor é o que se requer!"
                        Em junho de 1967, iria ocorrer o primeiro evento transmitido ao vivo, pela TV, internacionalmente,  e alguns países foram convidados a dar sua contribuição. Adivinha quem a Inglaterra escolheu como artista representante? Os Beatles, lógico!!! E fizeram a encomenda, e John apareceu com essa música, se bem que há controvérsias: tem gente que diz que ela já existia na cabeça de John e só foi considerada apropriadíssima para o evento. O vídeo que se vê hoje  é colorizado artificialmente, já que TV colorida ainda estava para ser inventada naquele ano. Estavam presentes na transmissão membros dos Rolling Stones, do The Who, Eric Clapton, Marianne Faithfull, outros astros menos cotados, todos no sing-along do refrão, todos, incluindo os Beatles, em trajes coloridos e psicodélicos (a orquestra estava a rigor), balões e cartazes entulhavam o cenário, uma pequena bagunça organizada para passar uma grande mensagem.
                         
                        Resumo da letra?
                         
                        Você precisa fazer o que precisa ser feito. 

                        Você precisa salvar o que precisa ser salvo. 

                        Você precisa cantar o que precisa ser cantado.

                        Você precisa construir o que precisa ser construído.

                        Você pode ver o que você quiser. 

                        Você pode conhecer o que você quiser. 

                        É só aprender a jogar!

                        É só aprender a ser você mesmo!!

                               É FÁCIL!!!

                        All you need is

                        LOVE LOVE LOVE

                        is all you need

                        O problema é apresentado em três versos de três linhas cada, e a solução vem no refrão, repetido à exaustão na canção. Aliás, não! Ele deveria continuar a ser repetido, e pregado, e pendurado, e martelado e esfregado na cara das pessoas. Tudo seria diferente do que vemos hoje em dia. Se esse conselho simples fosse obedecido, decerto já seríamos um planeta de regeneração, e não este mundo de provas e expiação em que vivemos!

                          Pausa para reflexão:

                        Será que precisa desenhar a profundidade dessas simples palavras?] 
                        Se cada pessoa amasse ao próximo, a cada um deles, não haveria crimes,  como os físicos, como assaltos, roubos, agressões, assassinatos e todos os tipos de 'cínios' e 'cídios', até mesmo o 'sui', que seria falta de amor a si próprio.  
                        Se cada pessoa amasse ao próximo, não haveria crimes dolosos, os de colarinho branco, como, corrupção, falcatruas, estelionatos, desfalques, desvios, negociatas, fraudes, traficâncias, velhacarias, burlas, trapaças. Todas essas atitudes tiram dinheiro de aonde esse dinheiro deveria ir, tipo saúde, educação, segurança, portanto profunda falta de amor ao próximo!!!
                        Em resumo, não haveria mal-feitos em geral, contra pessoas ou patrimônio, porque tais atos iriam prejudicar de alguma maneira, a um próximo, a quem, por definição, caso fosse seguido o lema, se ama!  
                        Cada um agiria, cresceria, viveria sua vida até o ponto de começar a prejudicar a ação, o crescimento, a vida de outrem. Seria uma atitude incongruente!
                        Fim da reflexão!

                        Claro que a coisa não foi toda ao vivo... não podiam arriscar alguma coisa dar errado na frente de 300 milhões de telespectadores. Foi feita uma pré-gravação, com muito ensaio, com uma orquestra de 13 músicos, e depois muitos dublaram direitinho, detalhes mais abaixo.

                        Claro que a coisa virou um compacto, que foi imediatamente para o primeiro lugar das paradas no mundo todo. E é considerada mundialmente como um Hino de Paz, desde então e para sempre!! Depois, a canção entrou no LP Magical Mistery Tour. E John foi alçado de uma vez por todas ao papel do Herói Humanitário, por uma prática que começara com The Word (1965) de Rubber Soul, e depois continuou na carreira solo, com Give Peace a Chance (1970) e Imagine (1971), o que não foi suficiente para evitar seu assassinato (1980). Ou mesmo, possa ter sido exatamente por causa disso...

                        Agora vamos a mais detalhes da efeméride. E começo com uma pequena ducha de água fria, afinal, a coisa não foi aquele conto de fadas o tempo todo. Quando Brian Epstein foi aproximado pela BBC com a honraria de colocar a maior banda da mundo para representar o país num evento mundial, ele não teve dúvidas em aceitar, e foi correndo contar para os rapazes. A recepção, entretanto, foi um mix de frieza com raiva, John teria dito algo como: "Qual a parte do 'Não queremos mais tocar ao vivo' você não captou direito?". Isso era perto de dois meses antes do evento, e eles não se mexeram, deixando Brian super tenso. Quando faltavam menos de três semanas alguém lembrou: "Ah, é, temos aquela transmissão ao vivo pra fazer!" e John disse: "Deixa comigo!". Claro que eu estou colocando palavras na boca das pessoas, mas as falas foram algo parecido. Em verdade, Paul também fez uma canção, dizem que era Your Mother Should Know, mas fosse qual tenha sido, quando ouviu a canção de John, disse: "Vai a sua, parceiro!"

                        Claro que, com o adiantado da 'hora', os estúdios da EMI já estavam reservados, e lá se foram eles o dia 11 (!!o evento era no dia 25!!) para o Olympic Studios, no qual haviam feito uma ótima e produtiva e única sessão de gravação de Baby You're a Rich Man. Era, portanto, o...

                        Dia D-14: A sessão teve uma base estranha, com John num cravo, Paul num contrabaixo daqueles de orquestra, George num violino, só que os dois últimos não eram experts nos instrumentos, e Ringo na bateria. Desde o começo, a Marselhesa era parte integrante, abrindo a canção com as notas, apenas a melodia, da primeira frase do hino francês 

                        "Allons enfant de la patrie, le jour de gloire est arri... LOVE LOVE LOVE!"

                        John comandava e ia fazendo um take após o outro, até o 33, mas acabaram por escolher o take 10 como o melhor!

                        Dia D-6: De volta à EMI, John acrescentou um banjo, George Martin, um piano, mais bateria de Ringo, George, um solo de guitarra de 4 compassos, e os vocais, de John (lead) e Paul/George (backing)

                        Dia D-2: George Martin havia escrito um arranjo orquestraI, então 13 músicos adentraram ao famoso Estúdio 1 da Abbey Road para exaustivos ensaios, e lá se foram mais 12 takes, e o contador chegou a 43. Até aquele dia, o combinado era que todos dublariam gravações pre-existentes ao vivo mas John, corajosamente, disse que ia cantar ao vivo, e Paul veio atrás e disse que faria seu baixo também ao vivo, e os dois convenceram George a fazer sua guitarra ao vivo. George Martin ficou preocupado...

                        Dia D-1: Chega a BBC ao estúdio pra fazer um ensaio de câmeras. George Martin teve que fazer em brevíssimo tempo um novo arranjo instrumental, atendendo a pedido de John, e a orquestra gravou mais 4 takes, vai contando, já estamos no Take 47! 

                        Dia D: Mas ainda não a Hora H! Eram duas da tarde e George Martin avisa que vai colocar a última base em playback, os Beales vão fingir que tocam, mas as vozes e a orquestra serão ao vivo! John estava nervoso, pois sua prática era ler a letra enquanto gravava a voz, ali não podia, pois ficaria na frente da câmera, e se o papel ficasse ao lado, a voz saía do microfone, além de ficar feio, né. Ainda naquela agitação toda, cheio de gente chegando, George Martin ainda teve que fazer mais um arranjo, o do final, em que tanta coisa entra, o In The Mood, o Greensleeves, o She Loves You, o Yesterday! E então, a orquestra gravou mais 9 takes, e quando ela estava no meio do Take 57, alguém gritou "NOW". Chegara a 

                        Hora H: Já estavam no ar,  a orquestra terminou o que estavam fazendo e todos entraram ao vivo para o mundo, e veio a caixa de Ringo e os trompetes

                         Ta ta ra ta ta ta taaaa tara Tara Tara Ta Tata LOVE LOVE LOVE,

                        e vem John, perfeito (ou quase) e Paul e George no "Love Love Love",  Ringo na bateria, e a orquestra, e no último refrão, Paul convoca "All together now ... Everybody" e os Beatles e todos os convidados, artistas em trajes coloridos e psicodélicos sentados no chão e outros figurantes carregando placas com o título do hino em várias línguas, vieram juntos nas palmas e no brado

                        All you need is love .... All you need is love  ... All you need is love love ...

                        Love is all you need .

                        Deu tudo certo, depois corrigiram dois errinhos de John e dois do Ringo, e estava pronta mais uma obra-prima dos Beatles, mais um Hino de John Lennon.

                        Vejam aqui, neste LINK, como foi.

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                        E vamos ao lançamento disso tudo!

                        O álbum Magical Mistery Tour foi o primeiro produto do projeto a ser lançado! Foi em 26 de novembro,  nos Estados Unidos, pela Capitol Records. Ele continha em seu Lado A, as seis canções feitas para filme homônimo, o 3° dos Beatles, e no Lado B, as cinco canções que foram lançadas em compactos naquele ano. Note ao lado, as canções da trilha no topo e as dos singles abaixo, com direito a 4 Obras-Primas! A imagem central tem os quatro Beatles em suas vestimentas animalescas que usaram na cena da canção I Am The Walrus, com a singela diferença que o Leão Marinho vestia branco no filme, e preto na foto da capa, o que deixou margem a especulações sobre a morte de Paul, a lenda urbana na época.

                        A EMI optara por lançar apenas a trilha no formato EP Duplo, duas bolachinhas de 7 polegadas, com 3 canções em cada uma. Eis a divisão das canções: 
                        (LINKs disponíveis nos títulos remetem às análises das canções)
                        Lado Um

                        Lado Dois

                        Lado Três

                        Lado Quatro

                        Posteriormente, em 1976, a EMI sucumbiu ao formato da Capitol Records, e oficializou a configuração americana, tornando-o o 9° LP oficial dos Beatles no catálogo Britânico. 

                        Pelo já visto, tudo começou com a ideia de Paul para um filme para a TV, depois os Beatles fizeram 6 canções para a trilha sonora, e ficaram duas semanas filmando tudo o que saiu da cabeça deles, sonhos foram roteirizados de improviso, Ringo era novamente o personagem central, desta vez acompanhado de sua 'tia'. Cada Beatle ia dirigindo sua parte, em que personificavam um mágico em doidas cenas que eram imaginadas ao longo do caminho. Tudo feito com muita psicodelia, muito nonsense, muito clima da época, muita cor e, quando filme foi ao ar, com a seleção de 52 minutos de um total de 10 horas de filmagem, em 26 de dezembro, veio em branco e preto, porque a BBC1 não tinha a capacitação para transmitir em cores, e o fizeram num horário inadequado, para uma iniciativa dos Beatles, que haviam acabado de conquistar o mundo, mais uma vez, com Sgt. Pepper's, meio ano antes. Os críticos de cinema acabaram com o filme, tanto que uma segunda exibição foi cancelada. Em seguida, correram para exibir uma versão em cores, na BBC2, logo em janeiro de 1968, mas o estrago estava feito. Tanto que Paul até pediu desculpas. Hoje, ele deve sorrir porque o filme deu a volta por cima décadas depois, e é considerado um marco da década do amor e das flores e das drogas e da contracultura. Dizem até que foi precursor do Monty Pithon...

                        Todo o desastre filmográfico foi largamente compensado por um enorme sucesso fonográfico. O LP fora lançado em 27 de novembro nos EUA, com 11 canções, vendeu 2 Milhões de cópias até o final do ano, sendo o mais bem sucedido lançamento da história da Capitol Records. Estava firme no topo de todas as paradas nos países que adotaram o formato, e alguns críticos o consideravam ainda melhor que Sgt. Pepper's, afinal não é toda hora em que um LP só apresenta 5 Obras-Primas. Do outro lado do Atlântico, o EP Duplo apenas com as 6 canções da trilha, lançado em 8 de dezembro, percorria similar sucesso em UK e nos outros países, incluindo o Brasil, que adotou o formato oficial. Interessante que o EP Magical Mistery Tour, liderou a parada inglesa  dos EPs,  mas topou no N°2, na parada dos compactos, porque o N°1 era Hello, Goodbye / I Am The Walrus, deles mesmos, lançado no mesmo dia!! Ambos os formatos, o EP e o LP, vinham com um livreto de 24 páginas de fotos coloridas com cenas de um filme que apenas o Reino Unido viu! Face à péssima repercussão, as redes americanas nem se interessaram em adquirir os direitos, o que só foi feito quase 10 anos depois, com recepção bem melhor que a inicial.

                        Com percalços ou não, mesmo tendo perdido o toque de Midas,  os Beatles ainda surfavam na crista da onda! 

                        Viria em 1968 uma grande novidade!

                        Um álbum duplo! 

                        Com 30 canções! 

                        Produtividade, teu nome é 

                        The Beatles

                        8 comentários:

                        1. Ai....que maravilha foi, não é? Eu estava em Brasília, mas juro que foi exatamente como você disse. O show começando com Magical Mystery Tour nos fez urrar e embarcar com ele numa viagem mágica e misteriosa de 3 horas...Inesquecível. Que privilégio para quem estava lá. Sim, eu tenho certeza que todos estavam lá. Foi um show dos Beatles!

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                        2. Sobre All you Need is Love. Se John, apenas John, foi elevado a categoria de herói pela música então acho que nada entenderam. Eu realmente penso que é complicado entender os Beatles. Vai ver que nem eles se entenderam. Mick Jagger sacou na hora: " Um mostro de quatro cabeças." Porque era realmente assim. Eu nunca tinha visto nada parecido antes e nunca vi nada parecido depois. Só eles formavam uma unidade. Mas muitos fãs não querem que seja assim e retiram deles o que há de melhor. Querem separá-los mesmo quando estavam junsto.

                          Compor a música é apenas o início da mágica. Depois vem os acertos. E em seguida a execução. E todo o processo de gravação. Portanto elevar à categoria de heroi ( algo que nenhum deles poderia ser) eliminando a participação essencial dos outros é jogar por terra o trabalho dos Beatles.
                          No caso de All we Need is love basta ver o vídeo...Vemos John ao lado de Paul cantando. Só aí já vemos a importancia de Paul na música também porque ele até comandava. E tem toda aquela festa. Foi organizada por quem? Quem teve a ideia dos cartazes com a frase em vários idiomas? E o a turma de amigos? Sei que Paul telefonou para Graham Nash. E isso faz parte do todo. Organizar a mensagem para que chegasse perfeita para todos nós. Então All you need is love não é apenas de John. É dos Beatles...também com ajuda de Martin. Enfim os Beatles ali poderiam ter chegado à categoria de ídolos ( não de heróis) acima do que já eram. Algo começado com The Word. E não simplesmente John. Posso apostar que John tivesse começado sua carreira sozinho sem os Beatles e composto essa música ela não teria nem a metade do valor que alcançou...devido aos demais companheiros.

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                        3. Agora a parte filosófica. Tenho de resumir algo ocorrido comigo em fevereiro de 1964. A história é longa e tenho até um texto sobre ela chamado "Encontro das Bruxas" que saiu no livro "Éramos felizes e sabíamos". Um livro de textos variados recordando nossa juventude.

                          Foi assim: eu estava bem down naquele fim de tarde. Então escrevi ao Universo. Perguntei qual o sentido da vida. Por que nascemos? Eu não estava aceitando de forma alguma a vida. Queria ter motivo para viver.
                          Por volta das oito horas da noite chegou uma turma em casa da Juventude Estudantil Católica pedindo permissão para passar tres dias no clube Pentáurea que meu pai presidia. Ele não só permitiu como perguntou se eu gostaria de passar os três dias com a turma de vinte garotas de 13 a 18 anos. Eu tinha 15 anos. Eu não conhecia as meninas nem fazia parte da JEC mas gostei de ideia. E fui.
                          Na primeira noite ali no clube foi feita uma divisão para estudo do evangelho. Eu fiquei num grupo liderado por uma garota de 16 anos de nome Solange. Pois ela se empolgou de repente...Ficou em pé dizendo algo assim. " Gente, vocês já tem consciencia do papel de cada uma no mundo? É preciso saber que houve um tempo, bem antes dos tempos bíblicos, que éramos todos unidos. Havia a unidade entre todos. E então...´pumba: caimos. Veio a queda. Nessa queda tudo se separou dando origem à dualidade. O bem e o mal. Nós nascemos com a missão de restaurar a unidade quebrada."
                          Eu de boca aberta ouvindo a resposta à pergunta feita na noite interior por alguem que nem sabia que eu tinha feito a pergunta. Perguntei...'E como fazer isso?" Ela respondeu. " Pelo amor. Amor! Botanto em prática o que Jesus nos disse e como está no Evangelho. Tudo que nós precisamos é de Amor."

                          Eu fiquei numa felicidade incrível...Achando que haveria lições sobre como aprender a amar. Porque com certeza não seria da forma que entendíamos. Mas estava otimista e agradecida ao universo.
                          Naquela noite fui batizada com cinzano na tampa da garrafa e com o nome de Espinafre. Foi assim que me tornei uma jecista.
                          A alegria durou pouco porque em março veio a revolução e a JEC nunca mais foi a mesma. Muitos foram presos e alguns até desaparecem. Alguns foram torturados...Eu quase fui levada para o DOPS para depor, levando meus país ao desespero. Fui salva pór um coronel que tinha filhos na JEC também. Ele conseguiu converncer aos superiores que adolescentes menores de 18 anos não deveriam ser convocados para depor. Que alívio. Mas...era impossível não sofrer pelos de 18 que que foram presos. Os meninos da Jec masculina.
                          Mas aqui não é espaço para isso. Apenas contei a história porque foi a primeira vez que ouvi alguém dizendo que precisamos apenas de Amor para resolver todos os problemas. E restaurar a unidade quebrada. Quando ouvi All you Need is Love pela primeira vez eu retornei no pensamento até aquela noite lá no clube...Revi a Solange em pé dizendo isso no maior entusiasmo. Ela já sabia. Brinco que John a ouviu porque ela falou alto demais. E neesse caso de querer cantar sobre isso, a ideia original, realmente veio para ele. E os meninos juntos fizeram aquela maravilha arrepiante.
                          Eu ainda não aprendi a Amar da forma certa. Pois ainda vivemos na dualidade! A maioria ainda não sabe. Vivo buscando resposta para isso. De vez em quando aparece uma dica: eliminar todos os preconceitos me foi dito numa noite de Natal quando eu taomava meu banho. Mas tem mais coisa.

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                          1. Q história !!!
                            O mundo é uma dualidade e só o amor salva !!
                            Realmente
                            Gosto dos seus comentários 👏

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                        4. Finalizando: Paul McCatney também buscou a mesma resposta que eu pouco tempo depois. Aquele caso que você conhece acontecido quando conheceram Bob Dylan. Paul perguntou qual seria o sentido da vida. A resposta que veio foi: São sete níveis. Penso que é um complemento à resposta que obtive.

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                        5. Meu primo tinha amigos europeus e o pai de um deles estava vindo de Londres para São Paulo em maio de 1967. Ele pediu e recebeu o Sgt Peppers aqui em SP ainda em maio de 1967, quando eu vi o disco e demorei para descobrir que era um disco dos Beatles. E confesso que não gostei numa primeira vista. E, no livro Many Years from Now, Paul conta sobre o compacto de Magical Mistery Tour. Em Londres só lançaram o compacto duplo, igualzinho ao que lançaram aqui. O LP com a capa amarela e mais musicas foi lançado por iniciativa da gravadora americana, só lá nos EUA.

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                        6. Rapaz!!! Isso aqui é massa!!
                          Vc foi brilhante nos detalhes e a depaula não deixou por menos. Foi sim, uma viagem mágica, lá e aqui

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                        7. Tantas informações que o conteúdo já dá um livro.

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