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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

The Fool On The Hill - Flautas e Gaitas e Mini-pratos

Esta canção abre o álbum Magical Mystery Tour

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 4 canções com Discurso para um Grupo, 

as demais 3 canções de mesmo Assunto e  Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

2. The Fool on the Hill (Alone Story Song by McCartney)

Paul conta "Dia após dia, sozinho na colina, o homem com o sorriso tolo permanece imóvel, mas ninguém quer saber dele, podem ver que ele é apenas um tolo que nunca dá resposta algumação."

O título e as primeiras frases dos dois primeiros versos da linda balada ("alone on the hill", e "head in a cloud") dão ideia de um ermitão solitário, que vive nas nuvens e longe de todos. Em muitas comunidades há pessoas assim, não é tão incomum. A cena do filme, que tem a canção como fundo, confirma essa impressão. Então, justifica-se a minha classificação como História de Solidão, estou tranquilo. Entretanto, o próprio Paul mencionou que essa era uma interpretação correta, mas parcial. Muito do resto da letra veio da lembrança dos gurus, que em sua concentração e meditação, ficam "perfectly still" e que têm muito a dizer sobre a vida, "The man of a thousand voices t
alking perfectly loud". Interessante é que Paul mescla as duas interpretações nos dois primeiros versos, em duas rimas ricas ("hill" com "still" e "cloud" com "loud"). Sim, apenas Paul é o responsável pela canção. John, declaradamente, em nada contribuiu. Na segunda parte de cada um daqueles dois primeiros versos (um total de 7 frases cada um), Paul retrata o preconceito com que as pessoas tratam o solitário, seja ele um guru ou não. No primeiro, ele diz que "ninguém quer conhecê-lo, porque é apenas um tolo", e no segundo, "Mas ninguém nunca o ouve, ou o som que ele parece fazer", e as reações do personagem são "ele nunca parece ligar", aqui e "E ele nunca dá uma resposta", lá. Entre os dois versos, tem o refrão, que se repete mais três vezes "But the fool on the hill sees the sun going down and the eyes in his head see the world spinning round". Há ainda mais dois versos, mas que são meios-versos pois iniciados por uma sessão instrumental, e, nas duas metades finais, Paul complementa a história de seu tolo (ou guru), com "And nobody seems to like him" e conclui com o diagnóstico de seu herói sobre 'os outros', "And he never listens to them, he knows that they're the fools", o problema está 'nos outros'. 

 

Musicalmente, muito rica, instrumental e sonoramente. Sua primeira sessão de gravação teve apenas Paul ao piano, para gravar uma demo, em 6 de setembro. Voltaram apenas no dia 25, já todos, para 3 dias seguidos de dedicação, mas a base foi apenas Paul no piano e John ao violão. O piano usado por Paul era multicolorido, ao estilo psicodélico da época. Eu o vi tocar no Maracanã, em 1990, quando quebramos o recorde mundial, de um show pago de um único artista que registrando um público de 184.368 espectadores, imbatível para sempre. O piano emergia do palco tocando, e contou que aquele era o piano usado na gravação da canção. Diversos overdubs foram acrescidos, Paul em seu baixo, claro, George e John em violão e guitarra, Ringo na bateria e chocalho/pandeiro e mini-pratos (finger cymbals), mas, importante, muito mais importante, foi a flauta doce tocada por Paul (!!), que acompanha a melodia dos versos instrumentais, aonde também se ouve a inesquecível participação de duas gaitas graves, primeiramente fazendo acordes suaves nas segundas metades dos versos cantados, e depois em ritmo de marcha nas partes iniciais dos versos instrumentais, tocadas por John e George, note que efeito maravilhoso! Segundo consta, quem deu a ideia das gaitas foram dois músicos da banda Moody Blues, que visitavam o estúdio. Eles teriam também tocado o instrumento, mas não foram creditados! Paul também acrescentou seu vocal, e dobrou em partes dos refrões. Não há participação de John ou George nas harmonias vocais. Foi uma decisão de Paul, pois a canção falava de um ser solitário. O vocal  tinha variações nos versos finais, e acrescentou charmosos "round, round, round, round", simulando a cabeça de nosso herói ("the world spinning round"). Finalmente, quase um mês depois, chegaram três flautistas (flautas transversais) para dar aquela suave sonoridade, ao longo de toda a canção. Separe bem qual é o som dessas flautas, que povoam os versos da canção, enquanto a flauta doce de Paul é aquela dos refrões, mais infantil, que muita criança aprende a tocar 'Brilha Brilha, Estrelinha'.  Na mixagem, acrescentaram-se aqueles sons de gaivotas, ao final. A ideia de Paul era fazer a canção bem longa, com duração de quatro minutos e meio, com repetições dos últimos versos e da parte instrumental, mas George Martin cortou o barato do compositor, na-na-ni-na-não, e a limitou em 3 minutos. 


Essa canção, bastante tocada por Paul em carreira solo, tem o luxo de ser ouvida em cena do filme, aliás com o requinte de que Paul, tão senhor que se sentia do projeto, não contou a nenhum companheiro, e na surdina pegou um cinegrafista e partiu com ele para uma pradaria nas proximidades de Nice, na França, onde dirigiu e roteirizou a cena, escolheu os locais, e atuou, como o próprio personagem que criou. Note, aqui neste LINK, que se adotou a interpretação de que ele era um tolo, nefelibata ("head in the clouds"), aliás, nuvens aparecem em destaque numa cena! Alternativamente, é impossível não deixar aqui, também, o som e imagem dos espetaculares The Analogues, principalmente para dar destaque aos inusuais instrumentos. Note bem os dois tipos de flauta, a doce, gravada por Paul, e a transversal tocada pelos profissionais, e note a ginástica do único gaiteiro, trocando entre duas enormes gaitas,  que George e John gravaram, e o chocalho/pandeiro e o singelo detalhe dos mini-pratos, que Ringo tocou. Impressionante, neste LINK.

3 comentários:

  1. Talvez essa música mostrasse como Paul se sentia na época.. solitário no seu caminho e buscando uma afirmação pessoal ou digamos um sentido para sua vida.

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  2. Lembrando de uma tarde em casa de tios ouvindo MMTcom as primas. Assim que terminou "Fool in the Hill" uma das primas disse: " E além de tudo o mais ainda cantam músicas bonitas desse jeito." Como assim, além de tudo o mais? Quis saber outra prima. Pois se eram uma banda! E ela disse..."São muito mais que conjunto musical. Eles são...filósofos, alguma coisa assim". E eu completei. " Eles nos oferecem mais que música. Eles nos oferecem um bem estar interior."
    Um bem estar que não vem apenas da música. Vem de uma emergia que emenam. Porque bem estar pela música é comum. Acontece sempre. Era algo vindo deles.

    Paul escreveu sozinho a música. Mas John a considerava também dele. É o que falo sempre. Todas as músicas eram dos Beatles. Uma pena que John, depois da separação, mal orientado, inventou de ficar falando, !eu escrevi essa, Paul escreveu aquela. Mas não era assim que se sentia antes. Isso ficou provado na música Glass Onion. Letra de John. Ele diz que ' I told you about the fool on the hill .." Ele não diz que Paul falou sobre o tolo na colina. Ele se coloca como aquele que falou sobre o tolo na colina. I told you. Porque Lennon/McCartney era real. O que era de um era também do outro. E eu vou mais longe porque digo ser também de Ringo e George. Beatles para mim sempre foram uma unidade. E tão forte que quando Jonn saiu de verdade preferiram seguir solo. Impossível um substituto.

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  3. Sobre a gravação em Nice. É bem provável que você esteja certo. Que ele tenha feito tudo em segredo, na surdina. Quero dizer apenas a versão da história que eu conhecia é outra. Todos dirigiram parte do filme. John usou um sonho dele...da mulher com a pratada de macarrão. Portanto todos eram livres de fazerem suas partes como bem entendessem. Ele achou bom filmar na França. Era influência da nouvelle vague francesa " uma camara na mão e uma ideia na cabeça." Então concluo que se não contou se seria lá era porque não havia necessidade. Pois se eram livres para liberar suas fantasias! Não foi "escondido".
    Teve outra filmangem lá em Nice que todos devem conhecer. Ele andando com o paletó nas costas ( se bem me lembro ) numa sequencia que lembra do filme Plein Soleil com Alain Delon. Posso jurar que ele viu o filme e quiz fazer algo parecido.

    Mas a que combina com o filme é esta do link. Quando vi o filme me identifiquei totalmente porque faço isso quando estou viajando de ônibus. Meu pai também fazia. FEcho os olhos e sonho, embora sem dormir. Vejo as imagens. Me sinto em outro lugar, geralmente assim andando nas serras. Costumo achar que o ônibus está entrando no cidade desconhecida. Paisagens novas. Meu pai sentia isso também. Sentia que estava sentado na frente do ônibus que entrava em outras estradas.

    Acho que nem preciso dizer, mas talvez sim. É sempre importante agradecer porque mais uma vez saí mais rica em conhecimentos Beatles apos ler seu texto.

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