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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Good Morning Good Morning - Estou só!

 Esta é a  canção do Lado B do álbum Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 19 canções com DR's, desta vez, um pouco diferente.

as demais 18 canções de mesmo Assunto e  Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

11. Good Morning Good Morning  (Self Help Song by John Lennon)

John reclama: 'Pessoas correndo em volta, são cinco horas. Por toda parte na cidade está escurecendo. Cada um que você vê está cheio de vida. É hora do chá e de encontrar a esposa''. 
Disfarçado na letra aparentemente jogada, está um John Lennon frustrado com a vida de casado. Ele vê o amigo Paul, livre leve solto, passeando pela cena londrina, participando da vanguarda que surgia, e ele como marido, que tem que voltar pra casa, pra mulher e filho, e ver TV, e os comerciais de Corn Flakes, de onde tira o título da canção. Ele vê que "Everyone you see is full of life" mas ele fica preso porque "It's time for tea and meet the wife", aliás, Meet The Wife era um programa que  ele via na TV, imerso naquele monótono dia a dia, num tempo sem shows, sem viagens, sem programas de auditório, sem entrevistas, apenas do estúdio pra casa, da casa pro estúdio. Depois ele se resigna, "Go to a show you hope she goes... I've got nothing to say but it's O.K. Good Morning Good Morning Good Morning". Típica Help Self Song!

Usei o adjetivo 'jogada' ali de cima foi porque John disse que Good Morning Good Morning era uma das que ele considerava lixo. Nada disso! Aliás, muito longe disso! Além do claro pedido de socorro, a estrutura dela obedece à regra informal de não se repetir letras em versos subsequentes. A última vez em que isso aconteceu foi Do You Want To Know A Secret, lá de 1963, pode conferir.  
Mas John acrescentou um requinte nas rimas que não vi em nenhuma canção dele ou de qualquer Beatle. Refiro-me às rimas dentro dos limites de uma linha! Resolvi desenhar o primeiro verso, em que John meio que se coloca em estado terminal, nada a fazer pra salvar sua vida, onde houve uma profusão delas!  
 
Veja que em cada linha há uma rima interna, portanto são quatro, mais a rima de final de frase. E apenas "life-wife" não é rica! E o show continuou: no Verso 2, John faz o que George fez em Within You Without You, fez um verso de comprimento diferente, sendo que aqui, é mais curto que os demais, tem apenas duas frases. Curto, porém suficiente para dar uma mostra de sua angústia: vai para o trabalho sem vontade de trabalhar, e volta pra casa sem vontade de ir pra casa. E entrega mais uma rima interna, "roam-home", e uma de final, "down-town", ambas ricas. Vem a primeira ponte, em que declara vários motivos de sua solidão, com duas rimas ricas, das quais destaco esta, que considero a melhor de toda a canção: "there's nothing doing" com "it's like a ruin". O Verso 3 volta à estrutura normal, de quatro frases, para contar que havia momentos de alívio da solidão, onde ele sorria e se sentia legal, e nele John entrega mais três rimas internas (deixou escapar uma, se tivesse me perguntado, eu tinha uma boa pra ele, mas eu estava a 6 mil milhas de distância e tinha apenas 9 aninhos, era só trocar "take a walk" por "take a ride", e aí rimava com "now you decide", hehehe), sendo duas novas, "while-smile" e "changed-same", e o verso termina com a mesma última frase do Verso 1, e que é o moto da canção "I've got nothing to say but it's OK". 
Ok Ok rimar clock com dark foi apelação 
Na ponte que vem a seguir, a última, é onde ele mostra aquela inveja contada no caput desta análise, e ela merece mais um desenho, pois é mais uma profusão de rimas, internas, mas agora cruzadas, entre linhas, veja que legal!
O Verso 4 (final), também é longo, também termina com o moto da canção, seu significado é mais otimista, e entrega três novas rimas dentro de frases: a primeira é "time" com "I'm", genial, mas acho que Paul já havia usado, falha-me a memória agora onde foi; a segunda é "skirts", ou seja, as saias das meninas que ele olha, que rima com "flirt", que é o que ele vai fazer, paquerá-las; e a terceira, ele rima "go to a show" com "I hope she goes", e aqui eu acho que ele volta a resignar-se, com Cynthia sendo "she", que não desejaria sair com ele, mantendo-o naquela vida caseira. Pode ser! Verso e canção terminam com o moto "I've got nothing to say but it's OK". Bem, fez as contas, né, QUATRO versos e DUAS pontes, todas diferentes entre si! Rico, riquíssimo!!  
O show segue na parte musical, também muito rica, e que começa com uma base inusitada: é John na guitarra de ritmo, Ringo na bateria, George no pandeiro (e aquele seria o único instrumento que ele tocaria na canção) e Paul, também na bateria (!!), mais especificamente, de pé, tocando o tambor vertical. Paul assumiu essa posição porque o tempo da canção era complicadíssimo para Ringo acertar: para se ter uma ideia, só no primeiro verso há a conjunção de 3 tempos, 3/4, 4/4, e 5/4, um ouvido educado perceberá, o meu não é, mas assim li, assim transmito a vocês! Numa segunda sessão, oito dias depois,  Paul acrescentou sua linha de baixo e John, seu vocal principal, e daí ficaram 25 dias sem se dedicar à canção, porque John não se decidia em qual instrumentação queria acrescentar. Foi no glorioso 13 de março de 1967 que chegaram ao estúdio os 'metaleiros' da Sounds Incorporated, uma banda amiga dos Beatles de longa data. Entenda-se por metaleiros, os tocadores de metais, instrumentos metálicos de sopro, e foram saxofones (3), trompetes (2) e uma trompa, já nossos conhecidos, os dois primeiros utilizados em Got to Get You Into My Life, e a última em For No One. Uma curiosidade sobre a sessão, é que passaram horas papeando sobre reminiscências, e também ouviram, em primeira mão, o que já estava sendo gravado em Sgt. Peppers, e ficaram simplesmente embasbaca dos. Quando foram educadamente chamados ao trabalho, receberam as partituras que George Martin havia criado a partir das instruções de John ao piano, e passaram outras horas gravando a parte mais marcante da canção, ouça se não!! E também está assim tão potente porque os técnicos estavam sob pressão de John que queria um som diferente de tudo o que se ouvira anteriormente. Microfonagem próxima, compressão de som, ADT, tudo o que estava ali disponível foi usado! Para ótimo efeito! Um desejo Beatle era uma ordem!! Entretanto, mais 14 dias se passaram até a sessão final, que teve um novo vocal principal de John, os vocais de apoio de Paul (sem George), e uma pesada guitarra solo de ... Paul! Sim, mais uma vez, Paul assumia o papel de George, que, como já dissemos, estava meio desestimulado! Mas não foi só isso! John não queria simplesmente terminar a canção, precisava mais novidade. Como o título lembrasse um acordar estrepitoso, ele se lembrou do canto de um galo, e também quis outros animais, de fazenda, ou até da selva, mais ou menos obedecendo à cadeia alimentar,  e então vieram, na ordem, galo, aves, gato, cachorro, carneiro, leão, elefante, cães caçando raposas e cavalos galopando, finalizando com uma galinha, tudo ao som de seguidos Good Mornings. Sugiro fortemente que se ouça com fone de ouvido, aliás sempre sugiro, para notar o movimento da matilha e cavalos por sua mente, do ouvido direito ao esquerdo!! E, para finalizar a dedicação em estúdio, a marca registrada do álbum Sgt. Pepper's, com seu final mesclando com o início da próxima canção, no caso, a despedida da banda, a reprise da canção título do álbum, com letra um pouco alterada.
E, claro, como já estamos acostumados, nossos salvadores, The Analogues, apresentam-nos como seria Good Morning Good Morning com os recursos de hoje! Aqui, neste LINK!

6 comentários:

  1. Imaginei q o feroz solo fosse de Paul McCartney..
    Música meio maluca mas perfeita para esse disco

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  2. Como sempre um texto cheio de boas novidades. Nunca tinha visto textos com tantos detalhes sobre as gravações. So´não posso concordar que a bateria fosse muito complicada para Ringo e por isso Paul teve de assumir seu papel. Fica a pergunta: isso foi informado em alguma página confiável? Que Ringo não tinha capacidade para tocar a bateria dessa música? Ou alguém imaginou isso? Como sabe, há campanha vergonhosa contra Ringo por aí, e por conseguinte, contra os Beatles. Se ele realmente tentou e não conseguiu, nada a fazer. Mas meu receio é que isso não tenha acontecido e mesmo assim está sendo divulgado que Ringo era incompetente como baterista. Para mim ele é fantástico. Paul o reconhece como o melhor baterista do mundo. Peço por favor que esclareça isso.
    Quanto a parte do sentimento de frustração de John por ter de voltar para casa enquanto Paul participava da vida rica londrina diariamente é algo que sempre suspeitei. O menino casou muito jovem. E então não podia levar uma vida como a que Paul levava no centro de Londres Para piorar se mudou para a subúrbio. Penso que esta especulação faz sentido. E explicaria outras coisas. A letra da música realmente nos leva a pensar nisso que você informou.

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    1. Querida, você é a minha melhor comentadora no blog, sempre me desafiando, e foi mais de uma vez que eu corrigi meu post graças a você!
      Mas aqui, você errou! Eu nunca disse que Paul ASSUMIU a bateria, disse que ele tocou BUMBO, em pé, tocando aquele rufar que aparece de vez em quando, para que Ringo pudesse se dedicar às intrigante mudanças de compasso. Vou até colocar uma foto com a comprovação!
      Sou fã do Ringo!! Acho que ele foi fundamental pra o sucesso da banda e é ótimo baterista.

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    2. Dou minha mão à palmatória. Entendi errado ao ler que "Paul assumiu essa posição porque o tempo da canção era complicadíssimo para Ringo acertar". Me pareceu que Ringo tinha dificuldades no seu instrumento. Se fosse complicado...teria de ser o Paul. rs rs rs. Confesso que pensei assim e peço desculpas pelo meu engano. Fico feliz ao saber que a intenção não foi desmerecer Ringo. Que bom.

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  3. Texto fantástico para uma música genial!

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