Acabei a Divina Comédia de Dante.... e publiquei em alguns Cantos.
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Canto XXVI – Paraíso – Rosa Mística e Empíreo
Quando saíram do Móbil Primeiro
Dante sentiu melhorar-lhe a visão,
E no Empíreo, se entregou por inteiro
Ao assombro da prima Criação.
Deus, inda Luz em todo seu Esplendor,
Quem O olha ganha Paz de antemão.
Da Rosa Mística, em pleno fulgor,
Em seu centro, está a Virgem Maria.
Nas pétalas dessa sagrada Flor,
Milícia de Beatos na alegria,
Já com as faces que os corpos terão
No Juízo Final que os inebria.
Outra em constante feliz evolução,
A dos Anjos em perpétuo doar
O que foram receber na ascensão
Ao Pai, em firme vaivém singular.
Quem agora aparece é São Bernardo.
Beatriz se dirigia ao seu lugar
E o pôs a orientar o felizardo,
Ao final de seu glorioso caminho,
Livrando a beata do feliz fardo.
E Dante a vê em seu divino ninho
E lhe dirige um agradecimento
Por ter-lhe abençoado com carinho
Na sua jornada de salvamento.
São Bernardo segue em sua lição,
De apresentar a Dante o ajuntamento
De beatos, em santa profusão,
Circundando a Virgem Maria em luz.
Ao lado esquerdo se coloca Adão,
E no direito, Pedro, a quem Jesus
Deu as chaves de nossa Santa Igreja,
À frente, com a glória de quem conduz
Um povo inteiro à terra benfazeja,
Está Moisés, e ao lado o Evangelista
João, a quem sua caridade enseja
Aquela declaração imprevista
De Jesus: “Mulher, eis aí teu filho!”
“Eis aí tua Mãe!”, por todos vista
Na Cruz, todo ferido e maltrapilho.
Inda no sacro redor, Santa Ana
E Santa Luzia, quem dá o brilho
Aos olhos de quem tem a vista insana.
Aos pés da Virgem está a bela Eva
Ainda com a luz de primeira humana
De antes de levar todos à treva.
E lhe seguem Raquel, Judite e Rute,
Outras mulheres que Jesus eleva,
Lá no mais inferior azimute,
Salvando-as do Limbo do Inferno,
Decisão certa, que não se discute.
Mais abaixo, o contemplativo terno
São Francisco, Bento e Santo Agostinho.
E fechando da lição o caderno,
São João Batista, a cabeça no ninho.
E então, São Bernardo pede a Maria,
Em seu novo papel de bom padrinho,
Que conceda a Dante a sã alegria:
Conhecer o mistério da Trindade!
Sua visão clareia qual magia,
E ele vê, com imensa potestade,
Os três círculos de cores variadas,
No mesmo espaço, e mesma irmandade,
O Espírito Santo em firmes jorradas
De fogo sobre os dois primeiros pares,
E o Filho com imagens espelhadas
No Pai, contendo os dois, humanos ares,
Imagem, Semelhança, pode crer.
Em homenagem, cá as singulares
Últimas terças de Dante, a saber:
“Até que minha mente foi ferida
Por um fulgor que cumpriu seu querer
À fantasia foi minha intenção vencida
Mas já a minha ânsia, e a vontade volvê-las
Fazia, qual roda igualmente movida
O Amor que move o Sol e as mais estrelas”