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segunda-feira, 22 de junho de 2020

Dante - Livro I - O Inferno de Homerix

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Baseado na obra-prima de Dante Alighieri, escrita por volta de 1310, apresento 
um resumo d'O Inferno de Dante, na mesma métrica inventada pelo florentino,
considerado o maior poeta do Cristianismo. 
Serão 8 cantos, em terças de versos decassílabos com rimas encadeadas. 
Como pré-requisito, necessário saber que Beatriz é um amor platônico
da juventude do poeta, que a viu apenas duas vezes, aos 8 e aos 16 anos de idade.
E, para melhor aproveitarem o conteúdo, aconselho declamarem,
e tomando em conta a pontuação!!!



Canto I – O Início da Jornada

Meio que preocupado com desvios
Possa em sua vida ter cometido,
Dante busca da meada os fios.

Em ‘selva selvagem’, se vê perdido,
E após noite de angústia e solidão,
Dela se livra mas, inda contido

Por três feras, onça, loba e leão,
É salvo por uma alma bem-vinda,
Enviada por Beatriz, paixão

De sua adolescência que ainda
Olha por ele, beata, no céu.
Virgílio, de sabedoria infinda,

Poeta que merece mausoléu,
Romano que morreu antes de Cristo,
É a alma a levantar o véu,

Pois recebeu dos céus o visto,
Pra descerrar todo e qualquer portal,
Dos caminhos até e após Mefisto,

E partem, juntos, ao Reino do Mal.


Canto II – Arquitetura do Inferno
Que tal uma voltinha no Inferno de Dante Alighieri? - La Parola 
De engraçada, A Comédia nada tem.
Não é fácil ver as penas destinadas
Àqueles que não praticam o bem.

E se vê isso inda logo na entrada,
Aonde vagam os tristes ignavos,
Que não fizeram mal em sua estrada,

Mas relaxaram ao negar centavos
A instâncias de qualquer bem, moral
Ou físico, o que lhes gerou agravos,

E fadados são, até o final,
A correrem de malvados enxames
De vespas, em castigo bestial.

Ao final do vestíbulo, há exames
Feitos à beira do Rio Aqueronte,
E o vil responsável pelos ditames

É o deplorável barqueiro Caronte,
Que analisa os crimes dos danados,
E não há alma sequer que o afronte

Ao ditar os andares destinados.
O Inferno é uma grande cratera
Como gigantesco cone avessado,

Cujo vértice é o centro da esfera,
Onde habita o Satanás tão temido,
Lá, onde o frio execrável impera.

Em suas garras, estão os punidos
Pelo crime maior, a traição,
A sentirem os piores pruridos,

No Círculo NOVE da construção.
Depois dos Ignavos, lá em cima,
O Círculo UM nos chama a atenção:

Num ‘Nobre Castelo’, a pantomima,
Para os sempre fadados a vagar
Ainda que sem pena que os oprima,

Por motivo muito peculiar:
A falta do Diploma de Batismo!
Por ali, em eterno caminhar,

Os precedentes ao Cristianismo!
Nesse Limbo, estão Horácio e Homero,
Ovídio e Lucano, pais do lirismo.

Dali saiu Virgílio, com esmero,
Para cumprir a missão lá do Céu.
Dali, escapou o Primeiro Clero,

Quando Jesus, em enorme escarcéu,
Antes de ascender, ressuscitado,
Derrubou a porta do mau quartel

Pra resgatar profetas do passado,
Davi e Noé, Moisés e Abraão,
E outros, assim, beatificados!


Canto III – Inferno – As Transgressões

Conhecida a arquitetura do Inferno,
E como ele começa e termina,
Partimos prum relato nada terno,

Mostrando o passo a passo da ruína
Que o ser humano semeia com atos
Na passagem pela vida ferina.

Decerto, não se constitui em fatos,
Porém, a escala de crimes e penas
Desenvolve um intrigante retrato,

Que nos faz estrebuchar as antenas.
Se lembram da onça, loba e leão,
Que fizeram Dante rezar novenas?

Cada qual representa transgressão,
Punida nos infernais arrabaldes,
Em ordem crescente de punição,

Incontinência, Violência e Fraudes.
Notaram qual é a principal delas?
Em quem mais vão despejar fogo em baldes?

Não é quem mata, esfaqueia, escalpela,
Mas quem engana, corrompe, desvia!
E não dá pra esquecer nossa novela,

Onde em época de vil pandemia,
Políticos desviam da saúde
O recurso que a salvação traria.

E deixar de raciocinar não pude:
Se as somas não irão pra UTI’s,
Aumenta é o número de ataúdes!

“Então, ó pessoas públicas vis,
Sabei que com esses atos danados,
Para muitas mortes contribuís!”

Para eles, os infernais magistrados,
Somariam, sem a menor clemência
Os castigos ora abaixo listados:

Imersos, pelo crime de Violência,
Em sangue fervente pela garganta.
E pelo Roubo, a eterna pestilência

De serpentes em dioturna janta,
Causando-lhes freqüentes aflições!
O canto seguinte detalha e canta

Os restantes crimes e punições.



Canto IV – Penas da Incontinência

Estendi-me um pouco que demais
Nos lamentos que experimentamos
Nos execráveis tempos atuais,

Mas eu agora garanto que vamos
Ser mais céleres na vã descrição
Do que é o Inferno em seus tristes ramos.

Nos Círculos DOIS ao SEIS, há, então,
Os que morreram em Incontinência,
Assim dita Primeira Transgressão.

Naqueles estão, sem qualquer clemência,
Avaros, Pródigos, Luxuriosos,
Que dos crimes não tomaram tenência,

Assim como Heréticos e Gulosos,
Também os Rancorosos, Iracundos.
Tivessem alguns em vida, ditosos,                                               

Se arrependido dos atos imundos,
Teriam um lugar no Purgatório,
Apenados por seus erros rotundos,

Mas em pleno processo expiatório,
Com chances de ascender ao Paraíso.
Retornemos, então ao falatório,

(ai, não consigo ser mesmo conciso)
Descrevendo as vis penas capitais
Pelos pecados de mesmo juízo.

As Luxúrias na vida são banais
Mas ali se lhes pune o negro vento,
A sacudi-las pra frente e pra trás,

Provocando permanente lamento.
Decerto, é menor que os pares da Gula,
Submergidos em solo lamacento,

Açodados por neve, chuva fula,
Granizo, e não só isso, ameaçados,
Por Cérbero, que sempre perambula

Co’as três cabeças por todos os lados
A intimidar, espancar, incessante,
Os pecadores, pra sempre acordados.

A crueza da pena avilta Dante,
Que não entende tamanho tormento,
Porém segue seu caminho adiante.

Não se perca que segue o sofrimento.
A Avareza está no Círculo QUATRO
Co’a Gastança, mesmo fim virulento.

Um bloco incomensurável e atro
É empurrado por sobre enorme aro
Por um Pródigo em lúgubre teatro,

Vendo igual tarefa de um par Avaro
Percorrendo o outro lado da figura
Até encontrar o violento amparo

Do grande bloco d’outra criatura.
E se voltam pelo mesmo caminho
Pra seguir repetindo a desventura,

Um pro outro, em enorme burburinho
“Por que poupas?” ou “Por que dilapidas?”,
E tudo sob o comando daninho

De Plutão, amplificando as feridas,
O demônio horroroso e assustador.
No CINCO, os que tiveram suas vidas

Dominadas pela Ira e Rancor,
Mergulhadas no Estige em negro lodo,
Os Irados em módulo agressor,

Esmurrando-se febris o tempo todo,
Os outros submersos por completo,
Borbulhando e lamentando o engodo

Das vidas a somarem desafetos.
No último círculo incontinente,
Que é o SEIS, para ser mais correto,

Apena-se quem viveu resistente
Aos dogmas ditados pela Igreja.
Aos Heréticos, o fogo inclemente

Envolve cada tumba malfazeja,
Sem tampa, mas sem deixar saída
E pra que cada tortura se veja.

Escapam da punição vil, doída,
Os outros três Pecados Capitais
Que apenas ganham firme guarida

Fora destas câmaras infernais.
Então o Orgulho, a Inveja e Preguiça
São sujeitos a injunções penais

No Purgatório, sob outra premissa:
A expiação, de onde vão ao Paraíso,
Em verdadeira ponte levadiça!


Canto V – Penas da Violência e Bestialidade

É, parece que não tem jeito mesmo...
Achei que ia ficar em alguns cantos,
E fui criando umas terças a esmo,

E acabei me envolvendo tanto, tanto,
Que o canto acabou ficando enorme.
Porém, não vamos nos encher de prantos

Mas sim, seguir em frente nos conformes.
Não vou poupar verso, métrica ou rima
Pra que uma correta idéia se forme.

A Segunda Transgressão se aproxima:
Violência e Bestialidade!
É o Círculo SETE, torpe vindima

De castigos sem sinal de bondade.
O círculo é dividido em três giros,
Conforme a vítima, a severidade,

Cada pena que era melhor um tiro:
Contra Si Próprio, o Próximo ou Deus.
Maldades que só de ler eu transpiro!

Giro 1, Contra o Próximo, um liceu
De aulas em rio de sangue fervente,
Centauros a flechar o fariseu

Que do nível da pena saliente,
Os Tiranos, até cobrir a visão;
Os Homicidas, com garganta quente;

Salteadores, com menor aflição,
Com sangue até a altura do peito.
Giro 2, numa selva em profusão,

Suicidas se arrependem do feito,
Transformados em árvores frondosas,
Hárpias a atacar sem preconceitos,

Sangrando-lhes em dores horrorosas.
Em companhia, estão os Perdulários
Sempre a fugir de cadelas raivosas.

Mutilados em eternos calvários,
Com os membros refeitos em seguida,
Para retornar aos ritos sumários.

Giro 3, é muito duro o pós-vida
De Blasfemos, em areião ardente,
Deitados em perene desvalida

Em chuva de chispas incandescentes,
Os usurários, ali a sentar,
Enquanto os Sodomitas, inclementes,

Fadados a eterno caminhar
No mesmo deserto avassalador.
Se estranham a pena espetacular

Para o modo homossexual de amor,
É só lembrar que no Século Vinte
O gênio Alan Turing, o inventor

Do computador, sofreu o acinte
De uma torpe química castração,
Imagine então, por conseguinte,

Como era a triste situação
Daqueles irmãos em 1300.
Porém, não consegui explicação,

Nas escrituras e procedimentos,
Da razão de se tachar a Usura
Como heresia a Deus, aos olhos bentos.

Seguiremos, agora, sem brandura
À próxima transgressão infernal.
Aconselho preparar a armadura...






Canto VI - Penas da Fraude Simples, Parte 1

Chegamos à Terceira Transgressão!
É a Fraude, que vem em duas partes:
A Fraude Simples e a Traição.

A Simples, pra punir todas as artes,
É um cilindro que vem em 10 valas,
Não vá se perder nem sofrer enfartes!

Antes de ver o destino dos malas,
Lembro que o relato é feito por Dante.
Do mentor Virgílio, ouve-lhe as falas,

E vai encontrando, sempre adiante
Figuras da Clássica Antiguidade,
E gente que lhe foi interessante.

Com a jornada refeita em nossa idade,
E se correta for essa visão,
Figuras de torpe notoriedade,

Lá nas valas infernais estarão,
Sofrendo pelo que fizeram em vida,
Pulhas do mensalão, do petrolão,

E outros ãos que terão a acolhida
De demônios e infames sofrimentos,
Essa raça que deixou combalida,

Em meio a sórdidos tormentos,
Gente que depende do governo,
Suas instituições e instrumentos.

Sugiro que se anote num caderno,
Na medida em que identificar
Nomes de nosso ambiente interno,

Em que for possível associar
Àlguns dos crimes relacionados.
E não poderia deixar de lembrar

Que Hitler, Stálin, e outros celerados,
Como Saddam, Gaddafii, Mao, Pol Pot,
Seriam estranhamente condenados

A castigos mais leves no caixote
De penas, no panorama dantesco.
Comparável a um leve convescote.

Sem dúvida, é um ponto pitoresco
A alertar nossos corruptos de plantão:
“Acabem com esse costume grotesco,

Devolvam o que afanaram de antemão,
Pra ficar melhor na fotografia!”
Nossa, demorei muito na ilação!

Vou deixar o detalhe da porfia
Pra ser descrito no próximo canto
Irei vala por vala na desvalia.

E, sim, terminarei, isso eu garanto!


Canto VII - Penas da Fraude Simples, Parte 2

Agora nós vamos direto ao ponto!
Na Vala 1, Sedutores, Rufiões
Correm em constante contraponto,

Pagando por suas embromações
Com a lábia que o Diabo lhes deu,
Têm as costas em rudes arranhões

Açoitados por demônios só seus.
Aduladores, na vala segunda,
Lisonjeadores no próprio apogeu

De suas fezes em rotina imunda.
De tanto venderem indulgências,
Simoníacos em grota profunda

Têm pés pra fora em perene inclemência
De chamas em eterna combustão.
Isto, na Vala 3, sem condolências.

Na quarta, pagando por compulsão
Em enganar, antevendo o futuro,
Os Adivinhos choram em aflição,

Com a frente sempre para o escuro,
Suas cabeças para trás torcidas,
Pagando suas mentiras com juros.

Na Vala Cinco, castigam-se as vidas
Dos vis Corruptos e Traficantes,
Com todas as partes imergidas

Em alcatrão fervente e causticante,
E a cada tentativa de escapar,
Encontram 10 demônios vigilantes,

Com dupla missão: dilacerar
As cabeças que encontrarem pra fora,
Reformá-las para ao pixe voltar.

Chegando ao meio círculo agora,
Uma parada se faz necessária
Pra descansar a Caixa de Pandora.

O nome desta câmera mortuária,
Na língua da Florença erudita,
É Malebolge, na acepção primária,

Quer dizer Bolsas ou Valas Malditas,
As quais continuamos a descrever
Em nossa missão deveras bendita.            

Na Sexta Vala, se vê o sofrer
Dos Hipócritas, sempre caminhando
Sob peso de impossível soer,

Para lembrarem-se de quão nefando
Era o hábito de enganar os viventes.
Porém, Dante viu lá, não carregando

A vestimenta de chumbo inclemente,
Mas crucificado, era aquele primaz
Que acusou, e convenceu tanta gente

Que Cristo era pior que Barrabás,
Agora sofrendo as mesmas vis dores
Do Salvador. Seu nome: Caifás!

A Vala Sete pune os pecadores
Que tomavam o que não era deles,
Os Ladrões, de variados pendores.

Serpentes lhes dilaceram as peles,
Tomando-lhes suas feições humanas,
Coligindo depois o corpo a eles,

Para renovadas aflições insanas.
Os Maus Conselheiros têm seu lugar,
A Vala Oito, em condições tiranas,

Envoltos em chamas, a mergulhar
Em oceanos de lava, e açoitados
Por raios a aumentar seu penar.

Na Vala Nove estão lá apenados
Os Cismáticos, os semeadores
De desunião, tanto motivados

Por religião ou por desamores
No seio familiar, e seu castigo
É recheado de aflições e dores,

Carregando sempre consigo
As partes que lhes foram decepadas,
Conforme as leis, incisos e artigos

Das discórdias em vida provocadas.
Um desfile de entranhas, mãos e pés,
Línguas, orelhas, cabeças cortadas.

Afinal, chegamos à Vala DEZ
Do Círculo OITO da Canção UM
Da Comédia, a merecer rapapés

Ao firme ritmo sem descanso algum.
Fiz esse stop pra não perder a conta
Da saga avassaladora incomum

De Dante Alighieri, que aponta
Os caminhos para além desta vida,
Em crueza que por vezes afronta!

Nesta última vala, reina a ferida.
Falsificações de todo jaez
São aqui severamente punidas

Por ulcerações de dura agudez:
Alquimistas, inchados, hidropsia;
Simuladores, lepra, em fetidez;

Falsos ficam loucos em agonia;
Mentirosos, com febre ardente, sede.
Findamos!! Mas é breve a alforria!



Canto VIII – Penas da Traição

Chegamos ao Círculo NOVE, o fim!
Lá embaixo encontra-se o Diabo,
O rebelde caído querubim.

Neste Canto, enfim, eu levo a cabo
A descrição do Inferno de Dante,
Missão de que, decerto, me gabo.

Pra começo de papo, é intrigante
Que o pior dos crimes, a Traição,
Não está punido em fogo flamante,

Mas é gelo o que comanda a aflição!
São quatro as esferas de pecadores.
Caína, pois Caim matou o irmão,

Onde se castiga os vis traidores
De parentes, que tinham confiança,
Submersos em lagos congeladores

Até seus ventres, adeus, temperança.
Antenora, do troiano Antenor,
Que com gregos fez aliança,

Pune quem da Pátria é vil traidor.
Estão só com as cabeças de fora.
E em um terceiro gélido horror,

A chorar pelos crimes de outrora,
Está quem traiu gente convidada,
Só a face de cada um aflora

Mantendo as lágrimas congeladas.
Ptoloméia é como chama a esfera
Lembrando na Jericó sitiada,

Simão e seus dois filhos à espera
Da boa recepção de Ptolomeu,
Que entretanto na espada os dilacera.

No último gelado perigeu,
Quem a Mestres e Reis traiu
Está sob o domínio de Asmodeu,

Submerso em seu gélido covil.
Só três tem tratamento diferente:
Satanás, em peludo corpanzil,

Com suas três cabeças, inclemente,
Mastiga os três maiores traidores,
Brutos, Cássio e apenas e tão somente,

Judas, culpado de todas as dores
De Cristo, em sua missão redentora.
Judeca, chama a esfera dos horrores.

Ai, mas que jornada assustadora
Tiveram Dante e Virgílo, seu mentor.

Seguem na viagem libertadora.

- FIM -

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