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Canto IX – O Inferno - Penas da Fraude Simples, Parte 2
Agora, nós vamos direto ao ponto!
Na Vala 1, Sedutores, Rufiões
Correm em constante contraponto,
Pagando por suas embromações
Com a lábia que o diabo lhes deu,
Têm as costas em rudes arranhões
Açoitados por demônios só seus.
Aduladores, na vala segunda,
Lisonjeadores no próprio apogeu
De suas fezes em rotina imunda.
De tanto venderem indulgências,
Simoníacos em grota profunda
Têm pés pra fora em perene inclemência
De chamas em eterna combustão.
Isto, na Vala 3, sem condolências.
Na quarta, pagando por compulsão
Em enganar, antevendo o futuro,
Os Adivinhos choram em aflição
Com a frente sempre para o escuro,
Suas cabeças para trás torcidas,
Pagando suas mentiras com juros.
Na Vala Cinco, castigam-se as vidas
Dos vis Corruptos e Traficantes,
Com todas as partes imergidas
Em alcatrão fervente e causticante,
E a cada tentativa de escapar,
Encontram 10 demônios vigilantes,
Com dupla missão: dilacerar
As cabeças que encontrarem pra fora,
Reformá-las para ao pixe voltar.
Chegando ao meio círculo agora,
Uma parada se faz necessária
Pra descansar a Caixa de Pandora.
O nome desta câmera mortuária,
Na língua da Florença erudita,
É Malebolge, na acepção primária,
Quer dizer Bolsas ou Valas Malditas,
As quais continuamos a descrever
Em nossa missão deveras bendita.
Na Sexta Vala, se vê o sofrer
Dos Hipócritas, sempre caminhando
Sob peso de impossível soer
Para lembrarem-se de quão nefando
Era o hábito de enganar os viventes.
Porém Dante viu lá, não carregando
A vestimenta de chumbo inclemente,
Mas crucificado, era aquele primaz
Que acusou, e convenceu tanta gente
Que Cristo era pior que Barrabás,
Agora sofrendo as mesmas vis dores
Do Salvador. Seu nome: Caifás!
A Vala Sete pune os pecadores
Que tomavam o que não era deles,
Os Ladrões, de variados pendores.
Serpentes lhes dilaceram as peles,
Tomando-lhes suas feições humanas,
Coligindo depois o corpo a eles,
Para renovadas aflições insanas.
Os Maus Conselheiros têm seu lugar,
A Vala Oito, em condições tiranas,
Envoltos em chamas a mergulhar
Em oceanos de lava, e açoitados
Por raios a aumentar seu penar.
Na Vala Nove estão lá apenados
Os Cismáticos, os semeadores
De desunião, tanto motivados
Por religião ou por desamores
No seio familiar, e seu castigo
É recheado de aflições e dores,
Carregando sempre consigo
As partes que lhes foram decepadas
Conforme as leis, incisos e artigos
Das discórdias em vida provocadas.
Um desfile de entranhas, mãos e pés,
Línguas, orelhas, cabeças cortadas.
Afinal, chegamos à Vala DEZ
Do Círculo OITO do Canto UM
Da Comédia, a merecer rapapés
Ao firme ritmo sem descanso algum.
Fiz esse stop pra não perder a conta
Da saga avassaladora incomum
De Dante Alighieri, que aponta
Os caminhos para além desta vida,
Em crueza que por vezes afronta!
Nesta última vala, reina a ferida.
Falsificações de todo jaez
São aqui severamente punidas
Por ulcerações de dura agudez:
Alquimistas, inchados, hidropsia;
Simuladores, lepra, em fetidez;
Falsos ficam loucos em agonia;
Mentirosos, com febre ardente, sede.
Findamos!! Mas é breve a alforria!
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