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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Within You Without You, feita pela alma dos Beatles

Esta abre o Lado B do álbum Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 5 canções com Discursos para o Mundo

as demais 4 canções de mesmo Assunto e  Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

8. Within You Without You  (World Speech Song by George Harrison)

George aconselha: "Tente perceber está tudo dentro de si mesmo, ninguém mais pode fazer você mudar. E veja que você é realmente muito pequeno, e a vida flui dentro de você, e sem você"
Segunda incursão a fundo de George na música indiana, a outra fora Love You To, em Revolver, além é claro de outras participações daqueles intrigantes instrumentos orientais, como a cítara em Norwegian Wood, "a primeira cítara, a gente nunca esquece", ou a tambura em Getting Better trazendo aquele clima sinistro para a hora em que se fala que o autor batia em sua mulher, affff. Porém, ali eram participações puntuais. Aqui, como na anterior citada, ele vai a fundo naquele intrigante som. Decerto foi fruto das seis semanas que passou na Índia, no intervalo entre Revolver e Sgt. Pepper's, quando imergiu na cultura indiana, e religião, e filosofia, aprendendo a tocar cítara com o mestre Ravi Shankar, e praticando yoga para educar a coluna para suportar a dor nas costas por ter que tocar cítara sentado no chão... 
Foi a única participação autoral dele no disco! Desta vez, não há nadinha dos demais Beatles, apenas músicos indianos, que provocaram uma sessão inusitada em Abbey Road, com tapetes no chão para os músicos, luz baixa, motivos indianos nas paredes e muito incenso! John esteve lá só para assistir. Em verdade, naquele ano, George  estava mesmo desinteressado no universo criado por Paul para  o disco, e atuou quase como um músico contratado! Voltando ao cerne indiano, além da cítara e tambura, que George tocou, havia um tocador de tabla, outro de swarmandal, uma espécie de harpa indiana e, fundamental para o efeito, dois dilrubas, um mix de violino e violoncelo indiano, tocado com arco, que acompanha a voz de George ao longo de toda a canção. Foi difícil o ensaio até se chegar à segurança de que poderiam começar a gravação. Os instrumentistas profissionais, não existia esse negócio de viver de música indiana, antes de George Harrison. Os músicos eram padeiro, motoristas, faxineiros, que trabalhavam de dia e tocavam de noite! George é considerado um herói nacional da música indiana, jamais antes havia se dado tamanho destaque à cultura indiana como naquele Summer of Love de 1967. Ah, sim, George Martin compôs arranjo de violinos e violoncelos ocidentais,  que entram no segundo verso, seguem  na sessão instrumental, e em breves entradas até o final. Foi grande a dificuldade de colocar músicos ocidentais tocando música oriental, indo muito além das 12 notas  tradicionais (vejam, no piano, as 7 notas cheias e brancas, ivory, e as 5 intermediárias, os bemóis e sustenidos negros, ebony). Foi fundamental para o sucesso a orientação do George Beatle ao George Maestro, perfeito link entre as duas culturas.  Aliás, esta foi a última sessão de gravação de Sgt. Peppers's, e foi sem a presença de nenhum outro Beatle. Paul, por exemplo, estava a 8 h de diferença de fuso horário, na Califórnia, fazendo Brian Wilson (dos Beach Boys) chorar, como contei na análise de She's Leaving Home. E o dia seguiu cansativo, com George adicionando toques de cítara na sessão instrumental, e muito importante, o seu vocal solo, cuja voz cansada de um dia atarefado encaixou perfeitamente no clima da séria canção, cheia de mensagens para o mundo.
Falei  em 'verso', e 'sessão instrumental', e 'mensagens', vamos à estrutura da canção. São 3 versos e dois refrões, todos diferentes entre si, nas letras, com o requinte de que a melodia do Verso 1 nunca mais repetida, pois os Versos 2 e 3 vêm com alteração na melodia, afinal, George é um Beatle. Uma breve passagem pela origem da canção: foi num retiro na casa do amigo Klaus Voorman (baixista alemão que fez a ilustração da capa de Revolver) em que os dois casais e amigo passaram longas horas conversando sobre a filosofia que George aprendera naquele período indiano, após as quais George se sentou a um harmônio, e quatro palavras vieram à mente, acompanhadas de quatro notas: "We were talking...", que era realmente o que eles vinham fazendo, mas ficou nisso! De volta à casa, começou a escrever o resto, mas o título veio num telefonema de sua cunhada, que lera em um livro de um autor indiano: "Life goes on within you and without you", Sempre achei intrigante o título, porque Within não é antônimo de Without, que seria With, sendo Out o verdadeiro antônimo da palavra. E foi isso que fez Jenny ligar para George.  
No Verso 1, "falávamos das pessoas que se escondem em ilusões, que é melhor que descubram a verdade, antes que seja tarde, antes de morrerem". No segundo verso, com melodia igual mas que se altera no final, indo lá no alto, entra o amor "que todos deveríamos compartilhar", finalizando com a principal mensagem da canção "com nosso amor, podemos salvar o mundo!". Vem o primeiro refrão, onde ele chama as pessoas a "perceberem que tudo está ao seu alcance, sem a ajuda de ninguém", finalizando com o título da canção "veja que você é realmente muito pequeno, e a vida flui dentro de você e sem você". O Verso 3, com melodia igual ao 2, ele alerta as "pessoas que ganham o mundo e perdem suas almas, elas não sabem, elas não podem ver", talvez num recado aos próprios companheiros), e conclui inquirindo "Você é uma delas?". No refrão final, ele conclama  todos a buscarem a paz na mente, que tudo está ao nosso alcance. George estava verdadeiramente elevado, espiritualmente. Não é à toa que dizem que John era a Mente dos Beatles, Paul era o Corpo, George era a Alma, e Ringo era o Baterista! Perdoem-me a piada. Rimas! Sim, três, uma em cada verso, "all" com "wall, " share" com "there", "cold" com "soul". Nenhuma rima nos refrões. No need! 
Bem, os Beatles não tocavam mais nada ao vivo e, se tocassem, jamais tocariam Within You Without You, evidentemente! Felizmente, hoje existem The Beatles Analogues, e eles não recusaram o desafio. Aprenderam a tocar cítara, dilruba, e swarmandal, chamaram um tocador de tabla e mandarm ver, ao vivo, sensacional. Apenas o tambura, que é aquele som de drone (zumbido) ao fundo de toda a canção foi eletrônico, ao menos não vi sua presença no palco. E ainda chamaram um violoncelo e dois violinos para o acompanhamento ocidental. Obrigado, Analogues, vocês são demais!! 
Para terminar, a maior mensagem ao mundo, no idioma!

 With our love, we could save the world!

7 comentários:

  1. Sei não. Acho essa coisa de George desinteressado muito do gosto dos anti Beatles, o que, evidentemente, não o seu caso. Como falei aqui recentemente George se emocionou muito com She1s leaving Home. Falou sobre a música no maior entusiasmo. Se estive assim tão sem interesse no disco idealizado por Paul ele não teria vibrado com a música. E isso mostra que o fato de as vezes não participarem de alguma gravaçao não significa que não gostem da música. Mais um detalhe: eles podiam ter vetado esta gravação indiana de George...E se ela faz parte do disco, e é parte importantíssima do disco, é porque a aprovaram.
    Bom ver também a carinha dele super feliz no lançamento do disco. Há vários fotos na casa de Brian Epstein. Se ele não estava a fim...nem teria ido ao lançamento. Mas estava e com todo sorridente.

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  2. Mais uma análise perfeita do Homerix!!��

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  3. Mais um excelente post. George realmente estava em um estágio elevado de espiritualidade, caminho que seguiu até o fim

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  4. As vezes eu escuto só essa faixa quando pego o sgt Peppers...
    George desabrochando para a vida...
    Hare Krishna 🕉️

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  5. Canção maravilhosa. Quando a ouvi, em 1967, fiquei deslumbrado. Minha mãe nasceu no Líbano e cresci ouvindo música árabe. A mesma sonoridade, e era Beatles!
    Também creio que George estava deixando de ser um Beatle, mas os quatro colaboraram - ou se aturaram - até quando foi possível.
    Ótima análise, Homero!
    Obs: também fiquei intrigado com as palavras do título da canção...

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  6. Ouvi esse disco em dezembro de 67, de cara She´s leaving home e Within foram as musicas que ouvia primeiro e depois colocava o disco completo pra uma audição...

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  7. Interessante a evolução musical dos Beatles como banda e individualmente, os mais favorecidos nesse processo fomos nós.

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