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domingo, 4 de julho de 2021

As covers de Ringo Starr

Este é um texto da Ringo Starr Week

Os demais 10 estão aqui, neste LINK 

Textos em vermelho são LINKS para mais informação


No começo da carreira dos Beatles, em que pese já terem um arsenal respeitável de composições autorais, graças principalmente à proeminência de seus dois principais compositores, John Lennon e Paul McCartney ele preenchiam os álbuns com canções de outros compositores, as chamadas Covers, que estavam acostumados a cantar em seus show ao vivo nos shows que faziam em Liverpool, norte da Inglaterrra e Hamburgo naquela época. E era assim que Ringo, e também George podiam mostrar seu valor, enquanto não lhes despertava a veia de compositores.

Nosso querido baterista então se utilizou desse recurso 4 vezes. Vou resumir alguns aspectos delas aqui.


1. Boys (Dixon-Farrell) - LP Please Pleas- Abril de 1963


Registre-se que estamos no comecinho de tudo, eles ainda eram uma banda de rock comum, com duas guitarras, baixo e bateria. Não esperem muitas inovações. O primeiro instrumento afora aqueles (e uma gaita de John e um piano eventual de George Martin) viria apenas em 1965, aquela flauta de You've Got To Hide Your Love Away

Os Beatles já haviam lançado dois compactos ainda em 1962, portanto 4 canções já estavam prontas para o 1º LP. As outras 10 foram TODAS gravadas num único dia, um histórico 11 de fevereiro de 1963, completando as 14 canções de Please Please Me. Ali naquela primeira sessão, já se instalava o costume de reservar uma oportunidade para Ringo brilhar. E foi em Boys, sempre tocada nos shows da banda naquele começo de carreira, para gáudio das fãs, uma interpretação vigorosa do nosso querido baterista cantor, coisa raríssima naqueles dias, mais um daqueles nunca-antes-na-história-das-bandas-de-rock. Interessante que era uma canção sobre meninos cantada por The Shireless, um grupo vocal feminino americano (do qual Dione Warwick fez parte algumas vezes), lado B de um compacto de 1960.  Então, eles mudaram um pouco a letra, passando para a perspectiva pronominal masculina "My GIRL says when I Kiss HER lips, take a trip around the world, hey, hey"), Já era um número de Ringo em sua antiga banda, Rory Storm and The Hurricanes, da qual John e Paul o sequestraram para os Beatles. Ela foi gravada em APENAS UM TAKE! Era a minha PREFERIDA do LP Beatles Again, lançado no Brasil, quando ainda não se adotava o catálogo oficial britânico. Era junho de 1964 e Boys era a 2ª faixa, logo após Please Please Me. Veja como era aquele saudoso LP.

 


 











2. Matchbox (Carl Perkins) - EP Long Tall Sally - Junho de 1964 

https://blogdohomerix.blogspot.com/2021/06/as-4-cancoes-cover-de-past-masters1.html 

Em Junho de 1964, os Beatles lançaram um EP (Extended Play), ou, como era conhecido aqui, um compacto duplo, com quatro canções, sendo uma original Lennon/McCartney, a fenomenal I Call Your Name, e três covers, sendo uma delas Matchbox, cantada por nosso astro. Nela, Ringo se resigna:

  1. I ain't got no matches, but I sure, Got a long way to go
  2. I'll never be happy, cause everything I've ever did was wrong  
  3. I got news for you, baby, leave me here in misery 
  4. And when your big dog gets here. Watch how your puppy dog runs

 A numeração corresponde à finalização de cada um dos versos diferentes da canção, naquela estrutura comum dos lamentos do blues, uma frase, depois ela é repetida, e depois vem a conclusão. O 1º verso é repetido na finalização da canção.

A letra, de autocomiseração, "ó vida, ó azar!", é típica das preferências de Ringo, que adorava esse tipo de declaração, de dar essa conotação de sad and lonely poor boy que viria em várias de suas outras 10 participações como vocalista na carreira dos Beatles, duas delas com autor da canção. E também seria a physique de role de seu papel como ator Beatle, em 3 dos 5 filmes da banda, abrindo com a sensacional cena de A Hard Day's Night, que é  acompanhada por uma This Boy instrumental, depois sendo O CARA que é perseguido por uma seita maluca em HELP!, e mesmo na animação Yellow Submarine, sendo O CARA que aperta o botão errado e é ejetado da nave que viajava por mares psicodélicos. Grande Ringão! 
 
A sessão de gravação ocorreu no mesmo 1º de junho de Slow Down, acima descrita, e Matchbox foi a primeira gravada. E foram 5 takes, dos quais 3 completos, e com tudo dentro, todos tocando, inclusive George Martin ao piano, e Ringo cantando, em sua bateria. O curioso é que foi John quem fez o solo na guitarra, entre o 3º e o 4º versos. Posteriormente, Ringo dobrou seu vocal, depois triplicou seu vocal, o que dá pra ser notado explicitamente em algumas ocorrências do "Weeeell" no começo de alguns dos versos, que se ouve 3 vezes claramente. Uma figura ilustre estava nos estúdios, o próprio autor Carl Perkins, então em excursão pela Inglaterra, que foi convidado para testemunhar a primeira de 3 composições que ele autorizou, com muita satisfação, que os Beatles regravassem, as outras sendo Honey Don't, tambem com Ringo e Everybody Is Trying To Be My Baby, com George, outro admirador do roqueiro americano. 
 
Nos EUA, as duas canções do Lado B do EP foram lançadas em compacto simples, com grande sucesso, tendo inclusive a de Ringo alcançado melhor posição que a de John nas paradas americanas. Ringo era o mais popular dos Beatles naqueles tempos, terra de Tio Sam, sendo inclusive lançado para Presidente dos EUA! Hehehe!



3. Honey Don't (Carl Perkins) - LP Beatles For Sale - Dezembro de 1964 


Honey Don't abre o reinado de Carl Perkins em Beatles For Sale, na posição 3 do Lado B do LP. Ela era o Lado B de Blue Suede Shows, compacto lançado em 1956. Na voz de Ringo, Perkins quer conhecer melhor sua 'Honey', um dos mais famosos qualificativos de 'Amorzinho' na língua inglesa. Ele é o único autor a ter duas canções gravadas pelos Beatles num único álbum! E foi mais uma oportunidade para Ringo brilhar! Era John quem cantava a canção nos shows em Liverpool e Hamburgo, mas ele considerou que o range vocal de Ringo estava OK para ela, e a partir de então, foi o baterista quem a cantou ao vivo, nos shows subsequentes. Ela foi gravada na última sessão de gravação do LP, em 28 de outubro. 
 

4. Act Naturally (Larry Williams) - LP HELP! - Agosto de 1965 

Duas canções cover abrem e fecham o Lado B do álbum, a primeira dando a honra a Ringo de abrir um lado de disco Beatle pela primeira vezEle voltaria a repetir a façanha em "Rubber Soul" no mesmo ano (What Goes On) mas, ainda mais poderoso, seria o Lado A de um compacto no ano seguinte, com Yellow Submarine! Em "HELP!", a canção era Act Naturally, anteriormente lançada em 1963 por Buck Owens, composição de Russel. Era perfeita para o range vocal do baterista, e tinha uma letra leve, engraçada e profética, porque falava em um sonhador que queria fazer sucesso no cinema, até quem sabe ganhar um Oscar "you can never tell", e estava particularmente feliz porque o papel era fácil de fazer por se tratar de um cara 'sad and lonely' e 'And all I gotta do is act naturally'.  E por que profética? Ringo empreenderia uma boa carreira de ator ao sair dos Beatles, aproveitando o talento que ele percebeu ter, justamente, nos dois filmes dos Beatles, em que ele tinha destaque! A canção foi tocada ao vivo pelos Beatles, e Ringo mandava muito bem e com o auxílio luxuoso de um Paul McCartney na harmonia vocal, vejam aqui neste LINK. Hilário é o começo, pré-show, quando ele se mata de rir ao ser anunciado como MBE (Member of Brittish Empire), logo ele, garoto pobre, que sobreviveu a um coma por tuberculose, e a dois períodos de mais de ano de internação em hospitais que fizeram com que não completasse sua educação básica. Realmente, improvável!

 

Próximo capítulo da Ringo Starr Week

Dia 5: 
A 1ª Lennon McCartney a gente nunca esquece!


Um comentário:

  1. Gostei de ver você salientando que o baterista ter vez era coisa rara. Isso é importante porque já percebi que muitos não se dão conta disso e até reclamam que Ringo tinha pouco espaço. O normal era espaço algum para bateristas cantando a menos que o baterista fosse o fundador da banda com seu nome bem na frente, caso do Dave Clark 5. Basta olharmos para as outras bandas para ver como os Beatles mudavam tudo para melhor. Alguém já ouviu a voz de Charlie Watts cantando? Eu nunca ouvi. Era comum não ver nem as carinhas dos bateristas. Tinha aquela banda de som delicioso chamada the Byrds. Achei tão lindinho o baterista deles...Vi a foto na capa do disco. Pois não vemos o bichinho nos videos da banda. Escondidinho lá atrás.
    Ringo tinha até um palquinho especial para ele colocado sobre o palco para que fosse sempre visto. Alguém já viu entrevistas de outras bandas com todos recebendo atenção? Só mesmo os Beatles com os jornalistas fazendo perguntas a todos os quatro. Olha, isso vale também para guitarristas. Keith Richard, parceiro de Mick Jagger nas composições, raramente abriu a boca para cantar. Brian Jones nunca abriu a náo ser nas vozes de fundo ...e bem baixinho porque eles não davam muito enfoque nas harmonias. Era uma banda de um único cantor praticamente. Mas os Beatles chegaram para mudar e inovar.
    E assim Ringo tinha seu momento especial não só nos discos como nos shows. Parabéns por mostrar isso aqui no seu blog.

    A que mais gosto das citadas é Act Naturally. A letra combina com ele porque, de fato, foi colocado nos filmes do cinema. E tudo que precisava fazer era atuar com naturalidade.

    Muita coragem deles, muita ousadia no melhor sentido da palavra, ( Os beatles eram ousados) gravarem uma musica louvando os rapazes num mundo tão homofóbico. Sim, eles tiveram de mudar a letra. Fizeram boa adaptação. Mas e o refrão? Permaneceu igual ao que as meninas cantavam. I am talking about boys, hey hey boys, don't you know I mean boys... E fizeram muito bem porque rapazes precisam mesmo ser louvados. E fizeram com tanta naturalidade que escaparam de falatórios numa boa. E isso também foi revolucionário como praticamente tudo que faziam. Quebraram um tabu.

    A propósito vi um artigo sobre isso em inglês, não sei mais onde...Não sobre Boys especificamente, mas sobre o fato de terem gravado tantas musicas que foram compostas para cantoras e mantendo o mesmo estilo da Tamla Motown. O mesmo arranjo de vozes. Mr. Postman foi citada. Ali eles revelavam o mesmo sentimento que as meninas sentiam esperando por uma carta de amor. Meninas podiam dizer que se emocionavam com isso. Homens tinham de ser durões. Eles mostraram que também podiam ficar impacientes a espera do carteiro trazendo cartinhas. Cantaram o lado feminino como apenas homens de verdade são capazes de fazer.

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