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quarta-feira, 30 de junho de 2021

Mais 5 Questões sobre Ringo Starr

Este é um texto da Ringo Starr Week

Os demais 10 estão aqui, neste LINK

Ringo Starr faz 81 anos em7 de julho.



Um post meu que deu muita repercussão no Facebook dizia:

Quando os Beatles terminaram, o mais velho deles não tinha 30 anos!

O motivo, claro, era como conseguiram fazer tanto, em tão pouco tempo, e ainda terem suas obras reverberadas até hoje, tal, mas o ponto deste post não é esse. 

Preparei 10 questões para conhecerem melhor a figura!

As 5 primeira questões estão neste LINK.

As outras, abaixo


6. Qual era o Beatle mais engraçado,  QUAL, QUALQUAL? 
A classificação abaixo é a que mais frequentemente se aplica aos rapazes de Liverpool, desde aqueles gloriosos anos.

John era o Smart Beatle, 
          Paul era o Cute Beatle, 
                    George era o Quiet Beatle,

Mas Ringo era o Funny Beatle!
Todos tiveram seus ótimos momentos em entrevistas, mas Ringo se destacava e associava com a linguagem corporal, com suas leves caretas, com seus movimentos de cabeça enquanto tocava seu instrumento, além do que seu nariz pronunciado, que certamente contribuía para a graça!! 

Três de suas respostas quando chegaram à América são até hoje lembradas.

"How do you find America?"
"Turn left at Greenland.”
"How do you like America?" 
“America? It's like Britain, only with buttons.”
“What do you think of Beethoven”
“Great, especially his poetry”

Isso, além de seu tino para a comédia, estampado nos dois primeiros filmes de banda de rock da história. Em “A Hard Day’s Night’, todos fazem caras e bocas e palhaçadas, mas apenas Ringo tem uma cena longa, de três minutos, em que seu personagem se perde do grupo e se mete em encrencas, ao som da linda “This Boy” cantada pelos outros três em perfeita harmonia vocal tripla, e que, aliás, nem fez parte da trilha sonora. E em “HELP”, por causa desse histrionismo natural, é Ringo quem usa o famoso anel vermelho, objetivo da seita maluca que persegue o quarteto nos quatro cantos da Terra... Ah, ia me esquecendo que até no desenho animado “Yellow Submarine” é Ringo quem se perde, até ser encontrado na terra dos Blue Meanies.

 

7. Qual Beatle se casou com uma Bond Girl, QUAL, QUALQUAL?


Sim, amigo, super Ringão, não é pra qualquer um, não!! E era Barbara Bach, a linda morena que encantou o James Bond de Roger Moore em "O Espião Que Me Amava". E vão completar 40 anos de casados ano que vem (falo mais deles adiante) E tem com ela uma fundação beneficente com muitos serviços prestados! 

Antes Ringo se casou com Maureen Cox, sua namoradinha raiz de Liverpool, em 1965, já grávida de Zak, que herdou (e alguns dizem que superou) as artes do pai e é, hoje, o baterista do The Who. Ringo ficou com ela por 10 anos. Teve outras duas filhas, já tem oito netos e já é bisavô
Contribuiu para a separação uma traição que eu conto neste link sobre ‘As Cometências dos Beatles’..... mas como também eu sei que poucos abrem os links internos, aqui vai a transcrição do episódio: 
“Maureen entretanto, também foi saidinha, e teve um caso com ninguém menos que George Harrison (que sacana!), veja só. Até John ficou espantado, e disse que isso era quase um incesto. Ringo, quando soube, ficou abalado, mas disse ao amigo traidor: 'Ao menos, foi com você!'.”

8. Qual Beatle fez carreira de ator após o fim da banda, QUAL, QUALQUAL?

Claro, não poderia deixar de ser, nosso eclético Ringo Starr!  .... John até fez um filme (“How I Won The War”, de humor negro, mas sem sucesso comercial) ainda na época dos Beatles, mas Ringo já mostrava seu tino nos filmes da banda lançados na década de 1960, como falei acima. Veja como é o início do verbete dele na Wikipedia: 
Sir Richard Starkey Kt, MBE (Liverpool, 7 de julho de 1940), mais conhecido pelo seu nome artístico Ringo Starr, é um músico, compositor e ATOR britânico, que ganhou fama como baterista dos Beatles. 
Ele investiu mesmo na carreira, com algum sucesso comercial. Participou, como protagonista ou co-adjuvante em mais de 10 filmes. Era considerado um ótimo ator, um natural! Fez dublagens. Narrou um programa infantil  e  como ator em uma temporada da série spin-off do programa, pelo qual ganhou até indicação a um prêmio Emmy. 
Pode-se dizer que ele cumpriu parte da profecia da canção que gravou em HELP, veja parte da letra: 
They're gonna put me in the movies
They're gonna make a big star out of me
We'll make a film about a man that's sad and lonely
And all I gotta do is act naturall
Well, I'll bet you I'm gonna be a big star
Might win an Oscar, you can never tell
The movies gonna make me a big star
'Cause I can play the part so well
 
Seu grande sucesso como ator, entretanto, e para a vida, foi seu encontro com Barbara Bach nas gravações de Caveman em 1980. Foi com ela a New York para ficar com Yoko, um dia depois que John foi assassinado. Ele foi o único Beatle a fazê-lo!  Casaram-se no ano seguinte, estando juntos até hoje, para o bem e para o mal, afinal ela juntou-se a ele no vício do álcool, e internaram-se juntos em rehab sete anos depois, por seis semanas, deu certo e estão clean há décadas!

 9.  Qual era o Beatle mais baixo, QUAL, QUAL, QUAL?
Ói o Ringo aí outra vez, geeente!
John, Paul e George tinham ao redor de 1,79 metro enquanto nosso Ringão ficava 10 centímetros lá embaixo. A similaridade dos três da linha de frente trouxe um charme especial para as apresentações ao vivo, mas Ringo criou uma peça de palco que o deixava acima deles. Inspirado pelas fãs que o adoravam, foi ele o primeiro baterista a colocar seu instrumento em cima de um tablado, de maneira que fosse visto por elas!! 
E esse seu movimento causou um de muitos evento do tipo ‘antes-e-depois dos Beatles’. A bateria Ludwig, com aquele logotipo aparecendo ao vivo para 73 milhões de americanos no Ed Sullivan show, mais a adoção formal de Ringo da marca fábrica americana  fechar aquele ano com o dobro de vendas e os próximos 20 anos como líder no mercado americano de baterias... tanto que o próprio Ludwig fez questão de presentear Ringo com uma bateria revestida a ouro! 
.... e já que falamos de bateria ....


10. Qual Beatle era canhoto, QUAL, QUALQUAL,

                    mas tocava seu instrumento para destros (peguei!)?


Hehehe, reconheço que apelei.... mas é fato.  
Paul era canhoto e usava seus baixos e guitarras apropriados para canhotos, com as cordas e acionamentos invertidos, já Ringo tocava bateria de destros, o que ajudou a criar um estilo único, admirado por seus colegas bateristas, que não se cansam de exaltá-lo. Alguns deles ficam se perguntando até hoje como canções como “Rain”, “Tomorrow Never Knows”, “Come Together”, “Something” e outras foram executadas. Podem procurar no YouTube alguns ‘isolated drums’ para admirar!!  
Além disso, ele tinha uma noção de ritmo como poucos, que foi fundamental para as gravações e shows ao vivo, se bem que com o tremendo barulho das fãs, ele admitiu que às vezes precisava se orientar pelo movimento das bundas dos amigos... 
Não foi em 100% dos shows dos Beatles que Ringo atuou como baterista. Apareceu uma amigdalite (a saúde novamente) nas vésperas de uma turnê internacional em 1964, e tiveram que chamar um certo Jimmy Nicol, que teve que aprender tudo em poucas horas, para 12 shows. Ringo não gostou nada disso, mas depois se recuperou rápido e foi para o final da excursão na Austrália, chegou numa manhã bem cedinho e os outros Beatles nem puderam se despedir do novato, que levou um cheque de 500 libras e um relógio de ouro com um agradecimento gravado.  
Não foi em 100% das gravações que Ringo atuou como baterista. Nas sessões do Álbum Branco, ele se sentiu meio jogado e abandonou a banda, para retorno triunfal alguns dias depois. Nesse meio tempo, Paul levou a batera na importantíssima "Back In The USSR". Noutra ocasião, John voltou da lua de mel inspirado e apenas Paul estava em Londres, e gravaram só os dois "The Ballad of John & Yoko". 
Nos 8 anos de gravações em Abbey Road, não chegaram a uma dúzia o número de vezes que um take foi interrompido por conta de uma falha do baterista, isso é, uma eficiência memorável. Conta-nos Mark Lewisohn, que teve acesso a todos os registros da EMI.
Para finalizar, foi só na gravação da última música ("The End") do último LP (Abbey Road) que Ringo teve uma chance de fazer um daqueles solos, que frequentemente os bateristas fazem de vez em quando em outras bandas, para sentir o gostinho do protagonismo, e o fez para entrar na história, ficou magnífico!!
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Em seguida, 

5 Questões sobre Ringo Starr

 Este é um texto da Ringo Starr Week

Os demais 10 estão aqui, neste LINK


Ringo Starr faz 81 anos em 7 de julho.

Preparei uma homenagem a ele, dando-lhe o devido valor



Um post meu que deu muita repercussão no Facebook dizia:

Quando os Beatles terminaram, o mais velho deles não tinha 30 anos!

O motivo, claro, era como conseguiram fazer tanto, em tão pouco tempo, e ainda terem suas obras reverberadas até hoje, tal, mas o ponto deste post não é esse.

Proponho 10 questões a vocês para conhecerem melhor a simpática figura.

As primeira 5 neste post!
 
Minha primeira questão para vocês é:

1. Quem era o mais velho dos Beatles, QUEM, QUEMQUEM?
Ringo Starr prepara megaevento on-line para comemorar seus 80 anos
Claro que já saberão, por causa do título mas DUVIDEODÓ que a maioria acertaria, se fosse num teste. 
Ringo Starr completa, ou completou, a depender de quando você está lendo este texto, 81 anos em 7 de julho de 2021. 
Parabéns, Ringão!!!  
Peace and Love!!!
O segundo mais velho era John, nasceu em 9 de outubro de 1940. 
O terceiro mais velho era Paul, nasceu em 18 de junho de 1942. 
O mais novo era George, nasceu em 25 de fevereiro de 1943.
Ringo comemorou seus 80 anos com um ótimo evento on-line.
https://www.youtube.com/channel/UCqESxycliXwDheOseXqmq8w

2. Quem é o mais novo Beatle, QUEM, QUEMQUEM?
De novo, amigo, é o Ringão!!!  
John era líder de uma banda (os Quarrymen), quando chamou Paul (6 de julho de 1957, O Dia Que Mudou o Mundo), que depois chamou seu amigo George (6 de fevereiro de 1958), e os três decidiram por chamar Ringo, num episódio que contei neste link, que discute QUANDO os Beatles começaram de fato. Entretanto, como sei que dificilmente as pessoas clicam nos links internos, transcrevo aqui:
Num certo de 6 de junho de 1962, ainda com Pete Best na bateria, os Beatles estiveram na EMI, com George Martin, que aliás nem os ouviu ao vivo, ficou só na fita, mas enxergou longe, adorou o carisma dos rapazes, assinou contrato, mas recomendou que trouxessem outro baterista. E somente aí, apareceu a chance de Ringo. Já era o melhor baterista de Liverpool (era o único dos quatro que tinha um carro), astro da banda Rory Storm and The Hurricanes (foto), era claro que John e Paul o queriam na banda. Fizeram o convite, ele se manteve nas duas bandas por um tempo, até que, num 22 de agosto de 1962, assumiu as baquetas da bateria Beatle, para nunca mais largá-las, exceto num par de três ou quatro breves oca siões, por saúde, férias ou briguinhas... The Beatles estavam completos!
Pra mim, os Beatles, que já adotaram esse nome em 1960, só começaram de fato quando Ringo chegou.... portanto, ainda faltam dois anos para comemorar os 60!!!

3. Qual Beatle compôs menos canções, QUAL, QUALQUAL?

Sim, amigo, de novo nosso querido Ringão. Também, era difícil competir com John e Paul (que compuseram 162 canções) e com George (responsável por 22). Ringo tentava, mas sempre que apresentava suas propostas de ‘originais’, os mais produtivos começavam a cantarolar a canção de quem ele plagiou, não podia.

Quatro canções têm o crédito Starkey (seu nome é Richard Starkey), mas na vera mesmo, considero apenas “Octopus´s Garden“, e “Don´t Pass Me By“, como sendo de sua autoria. Das outras duas, uma é claramente uma concessão de Lennon, “What Goes On“, porque ele a cantou muito bem, e outra é uma Jam Session instrumental, “Flying“. Mais detalhes:




Mesmo assim, amigo, ele compôs infinitas mais canções que Charlie Watts, baterista dos Rolling Stones, John Bonham, do Led Zeppelin, que não compuseram nenhuma canção sozinhos, e igual número de Nick Mason, do Pink Floyd!!! GRANDE RINGÃO!!!!

Além disso, teve uma carreira solo bem legal, que um dia, falo dela!!!


4. Qual Beatle cantou menos canções, QUAL, QUALQUAL?

Novamente, nosso campeão octogenário. Além das que compôs, John fez a linda canção de ninar “Good Night“ especialmente para Ringo cantar pra seu (de John) filho Julian, então com 5 anos, e Paul fez duas, uma delas pra aproveitar sua condição de ‘menos aquinhoado’ cantor, adaptando o tom para seu menor alcance, “With a Little Help From My Friends”, e outra pra aproveitar seu sucesso com as crianças, “Yellow Submarine”.  E John e Paul deram-lhe ainda  “I Wanna Be Your Man’, uma canção que eles haviam dado de presente para os Rolling Stones terem seu primeiro sucesso. Resumindo:



E, claro, teve ótimas interpretações de covers. 




“Boys” é minha cover preferida dele, desde criança, quando a ouvi no LP Beatles Again, que foi lançado só no Brasil, com canções dos primeiros LP's e compactos dos Beatles, ah como eu ouvi aquele disco.

Em apenas dois dos 13 LP's dos Beatles, Ringo não faz um ‘lead vocal’, A Hard Day's Night - 1964 e Let It Be, 1970.

Procura pra ver se os bateristas dos Rolling Stones, The Who, Led Zeppelin, Pink Floyd, U2, Aerosmith cantaram 'lead vocal' alguma canção em qualquer álbum de suas bandas!! Procura!! Mas procura sentado!!

5. Qual Beatle não completou a educação formal, QUAL, QUALQUAL? 

Sua infância em Dingle, bairo pobre de Liverpool
 Sim, amigo, sempre ele, e não foi por causa de leseira, não, se bem que sua infância bem pode ser comparada a um cenário de pobreza de Charles Dickens, como lembrou Bob Spitz, um grande biógrafo, recomendo o livro (link). 
Filho único de pais separados, com a mãe trabalhando como faxineira e depois garçonete, teve ainda uma saúde bastante fragilizada. Nem bem completou 7 anos, teve uma apendicite que complicou para uma peritonite que e o deixou em coma por 15 dias, à morte, e o obrigou a ficar internado por um ano inteiro, atrasando seu aprendizado.  
Uma vizinha da família lhe tutorava duas vezes por semana, ele aprendia bem, quase alcançou e nível dos demais mas, aos 13 anos, chegou-lhe uma tuberculose que o internou num sanatório por outros dois anos!!! Uau!
Seus amigos o apelidaram de Lázaro! 
Nunca mais voltou à escola... mas isso não o impediu de ter um bom nível intelectual e se tornar destaque não só por seu desempenho como instrumentista.
Mais 5 Questões Neste Link

Rain... I don't mind!

 Esta é a 4ª canção da coletânea Past Masters #2, 15º Álbum Oficial dos Beatles

a história do álbum, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 6 canções que falam sobre o estado da Mente

                                        as demais 5 canções de mesmo Assunto e Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

4. Rain (Self Mind Song by John Lennon)

John conta 'Chuva, eu não ligo. Brilhe, o tempo está bom. Você pode me ouvir que quando chove ou brilha o sol é só um estado da mente. Pode me ouvir, pode me ouvir?
 
Chuva ou sol é só um estado da mente. Não importa, o que vale é seu estado mental. Inspirada por uma chuva torrencial na Austrália, onde estiveram em turnê, que fez John pensar, Rain é considerada o melhor Lado B dos Beatles. Veja bem, apesar de terem inaugurado a era dos Double A Sides no ano anterior com We Can Work It Out e Day Tripper, o lançamento de Rain junto com Paperback Writer no Lado A não é considerado um deles. Rain é Labo B mesmo, e ela merece a alcunha de melhor de todos. Tem ótimos desempenhos do baixo de Paul e da bateria de Ringo, tem a inovação técnica desenvolvida intramuros Abbey Road, de sigla ATOC, que faz com que a voz de John fosse ouvida mais alto, e foi também a primeira vez em que se ouvem trechos tocados em reverso na história da música, que ficou marcante na canção. Além de harmonias vocais sensacionais! Além disso, seu vídeo promocional era uma coisa inédita, a ponto de George dizer, anos depois: 'Nós inventamos a MTV!'.  Nota-se no vídeo um Paul com uma cicatriz no lábio, proveniente de um acidente de moto uns meses antes, que foi o gerador do boato 'Paul is Dead' que se desenvolveu ao longo dos anos seguintes, com evidências 'claríssimas' de que ele era um sósia, especialmente nas capas de Sgt. Peppers e Abbey Road. Ai ai ai... 
 
Bem, o que está escrito até este ponto foi o que eu encontrei no capítulo de minha saga que listava as Self Mind Songs. Não me arrependo de classificá-la assim, embora analisando melhor, poderia muito bem tê-la colocado no grupo das Speech Songs, na Classe Pessoa ou Grupo, porque lá no meio ele se dirige a alguém, como no Verso 3: "I can show you that when it starts to rain, everything's the same, I can show you, I can show you." e no Verso 4: "Can you hear me that when it rains and shines, it's just a state of mind, can you hear me, can you hear me?", explicando o que ressaltei no começo. Não adianta reclamar se chove, 'Aproveite cada momento! Está tudo em sua mente!', aliás, esse trecho bem poderia ter sido escrito por George, nosso místico Beatle. 
 
Falando em Versos, é uma boa hora pra comentar a estrutura da letra. O 1º e o 2º Versos abrem a canção e são críticas ao comportamento dos que acham a chuva uma coisa ruim, aliás, eu mesmo me questiono por que a gente diz: "Nossa, como o tempo está feio!" Feio, por quê? É muito relativo! No 1º Verso, John até diz que tem gente que preferia estar morta a testemunhar um dia chuvoso, um exagero, mas que teve ótimo efeito na letra, veja: "If the rain comes they run and hide their heads, they might as well be dead. If the rain comes, if the rain comes." E no 2º, ele diz que quando o sol brilha, eles correm pra fora pra sorver suas limonadas à sombra, hehehe: "When the sun shines they slip into the shade, and sip their lemonade. When the sun shines, when the sun shines.". Todos esses versos são entremeados pelo magnífico refrão que resume o estado de mente do autor, duas vezes, a primeira após o Verso 2, a outra entre os Versos 3 e 4: 
 
"Raaaain, I don't mind! Shiiiiine, the weather's fine!" 
 
Essa pérola de letra foi feita por John, mas Paul reclama um 30% de participação, o que lhe pode ser atribuído, pois houve uma sessão de trabalho dos dois sobre ela, na casa de John, em Weybridge. Ela ganhou vida em duas sessões de estúdio, a 1ª no dia 14 de abril de 1966, um dia trabalhoso, onde após 5 horas dedicadas ao Lado A do compacto, passaram ao Lado B por outras 5 horas, onde foi feita a base, com John e George em suas guitarras (base e solo, porém sem seção solo), Paul no baixo e Ringo em sua bateria. Paul melhoraria sua linha de baixo em posterior overdub, mas Ringo não precisou: ele estava possuído e entregou, naquela noite/madrugada aquele que ele mesmo considera seu melhor desempenho da carreira como baterista! Note logo no começo, no destaque da introdução que ele abre solo, na caixa, e logo depois que entram os demais, ele dá uma virada ainda na caixa (a la atração de circo) para introduzir o 1º Verso. Ao longo dele, ele dá mais quatro viradas, estava inspirado o rapaz. E ele parece que gostou da ideia e segue virando nos demais versos, variando a quantidade, a duração, e as batidas, sempre inovando, às vezes abrindo as viradas no chimbal (hit-hat). Legal que nos refrões, é Ringo quem os abre com batidas nos dois pratos na primeira nota ("Rain") e depois fica quieto, deixando o show para o baixo de Paul, mas logo fica com saudade e retoma com outra espetacular virada para introduzir, ou a 2ª parte do refrão ("Shine"), ou o verso que vem depois. Um espetáculo, de verdade. 
 
O tal 'show' no baixo de Paul veio na sessão seguinte, dois dias depois, que durou 11 horas (!) integralmente dedicadas a overdubs à canção. Tanto durou a sessão pois foi objeto de muita experimentação. Uma delas foi o uso de um alto-falante na saída do amplificador do baixo, fazendo o instrumento soar como nunca antes. E Paul se inspirou, floreando suas linhas de baixo de três modos diferentes nos três primeiros versos, e variando inclusive nos refrões: no primeiro, bate 16 notas Sol, uma em cada tempo, mas no segundo, faz 8 tercinas descendentes (meu filho explicou que são queálteras de 3, uau!), Sol-Re-Sol, ou seja, colocando 24 notas no mesmo espaço que as 16 do 1º refrão. Genial! Rogo especialmente que, ao ouvirem, USEM FONES DE OUVIDO. Os alto-falantes de equipamentos multimídia raramente têm energia mecânica suficiente para reproduzirem essas nuances maravilhosas. Sem fones de ouvido, não ouviam o baixo! Outros Beatles também deram show naquela sessão. Ringo (novamente), agora num pandeiro muito bem colocado, e os outros 3 nos vocais! O vocal principal, claro, é de John, dobrado artificialmente nos versos, e harmonizado com ele mesmo nos refrões. Paul e George se juntam a John, em harmonia tripla, nas respostas ao vocal principal de John durante os versos 2 ( “when the sun shines down.”, depois "sun shines"), 3 (“when the rain comes down” , depois "show you") e 4 (“when it rains and shines” e "can you hear me"). 
 
Finalmente, o tal vocal reverso. Era prática comum entregar aos compositores (se eles assim o requisitassem) uma cópia do som que gravaram num dia para que ouvissem em casa e buscassem oportunidades de melhoria. Os quatro Beatles tinham um equipamento apropriado em casa. Assim foi feito na madrugada daquele dia 14. Ao chegar em casa, meio chapado, ao montar a fita no gravador, ele o fez ao contrário. Muitos não saberão do que se trata essa operação, só os mais velhos, ou os curiosos deste tempo facilitado pela tecnologia digital. A fita vinha num carretel, toda enroladinha, e com seu final soltinho, aí você colocava o carretel no equipamento e, manualmente, acoplava aquela ponta solta num local apropriado para que fosse sensível ao cabeçote de reprodução ou gravação. Sugiro até que vejam no YouTube. Só que existe uma forma certa de se encaixar o carretel, assim ou assado, do outro lado. O fato é que John a colocou assado, e ao dar play, a fita começou ao rodar ao contrário. E John fez uma viagem. E achava que era produto da maconha que estava em sua mente. Ficou extasiado! E na sessão seguinte, disse: "Quero isso na minha canção!". Havia acabado de acontecer uma 'serendipity', tenho até um post em que explico o termo (LINK). Eles passaram aquele dia brincando com a novidade de tocar em reverso tudo, todos os instrumentos e vocais, mas o que sobrou na canção foi aquilo que se houve após o Verso 4, que é o trecho “when the rain comes they run and hide their heads.” tocado ao reverso. Ainda vem um "Rain" em falsete triplo, e mais um reverso de “when the sun shines,”. A técnica seria usada muitas vezes pelos Beatles e, claro, por muitos outros artistas que beberam da mesma fonte. 
 
O compacto Paperback Wtriter / Rain foi lançado em 30 de maio na Inglaterra e 10 dias depois nos EUA. Foi Nº 1 apenas em UK. A canção Rain não passou da posição 23 na Billboard, acho que os americanos não entenderam a mensagem e a soberba técnica utilizada, enfim. Nos países de língua hispânica, foi lançado como na imagem, não me canso de divulgar. É muito engraçado! 
 
'Lluvia' nunca foi tocada ao vivo pelos Beatles, mas felizmente houve filmes promocionais. Escolhi este (LINK) porque eles estão dublando razoavelmente bem, dá pra notar um pouco da febre de Ringo na bateria e finaliza com um sorridente Lennon dublando o vocal reverso no final!

terça-feira, 29 de junho de 2021

O 1º Compacto Duplo Lado A dos Beatles

Este foi o 1º Compacto Duplo Lado A lançado pelos Beatles 

O compacto Duplo Lado A, com We Can Work it Out e Day Tripper, foi lançado em 3 de dezembro, concomitantemente com o álbum Rubber Soul, ambos indo diretamente ao topo das paradas. 

Foi o primeiro de uma série desses lançamentos dos Beatles, em que não há distinção de importância entre duas canções lançadas. 

Nos Estados Unidos, as paradas consideravam muitos aspectos, além das próprias vendas físicas, por exemplo, a preferência dos DJs das rádios. Dentre as duas lançadas, somente We Can Work It Out atingiu o topo das paradas, com Day Tripper e seu excepcional riff de guitarra, ficando na 5ª posição. 

Como ilustração desta análise, deixo uma cópia do que os argentinos receberam quando compraram o compacto. Descobri isso quando comprei a coletânea 1, em 2000, quando mostraram como saíram os compactos em vários países.

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.


Vamos a elas!

1. We Can Work It Out (DtR Girl Song by Paul McCartney)

Paul conta: "Podemos dar um jeito! A vida é muito curta, e não há tempo para implicância e brigas, meu amigo. Sempre pensei que isso é um crime assim pedirei a você novamente. Tente ver do meu ponto de vista!"

* Como saiu a canção em países de língua hispânica. 
 
Paul estava num climão com sua namorada naquela segunda metade de 1965. Jane Asher achava que antes de ser namorada de um Beatle, ela era uma atriz e não podia abandonar as oportunidades da carreira e, sendo assim, embarcou para uma longa temporada teatral em Bristol, no oeste da Inglaterra. Era outubro de 1965 e Paul discutia com ela sobre sua decisão de partir. Os primeiros argumentos foram nesta canção. Não devem ter dado muito certo e ela partiu. Mais adiante, ele levantou o tom em You Won't See Me e I'm Looking Through You, que ele trouxe posteriormente para o 2º álbum do ano, 6º da carreira, o fantástico Rubber Soul. Em termos de composição, Paul teve a ideia, elaborou o título otimista, fez a letra dos primeiros dois versos e sua melodia, enquanto visitava seu pai nas imediações de Liverpool. Neles, Paul está conciliador, ao mesmo tempo, ameaçador, 'tente ver sob meu ponto de vista, pois do seu, pode ser que o amor acabe'. 
 
Voltando a Londres, Paul apresentou seu projeto a John que elevou um pouco o tom da discussão numa ponte, com linda melodia, que acabou em ritmo de valsa e com ótima harmonia vocal entre os dois, "Life is very short, and there's no time for fussing and fighting, my friend. I have always thought that it's a crime, so I will ask you once again", e ajudou no verso final, em que se retoma a argumentação, mas ameaçando que se ela não mudar de opinião, eles podem se separar, veja: "Try to see it my way. Only time will tell if I am right or I am wrong. While you see it your way, there's a chance that we might fall apart before too long". Eles podiam ter caprichado um pouco mais nas rimas, veja aqui neste Verso 3, que repete "way" e lá no Verso 2, repetiram "saying", mas isso é eu sendo chato, porque há outras bastante engenhosas, como o "go on - gone" no Verso 1 e "short - thought" e "friend - again" na ponte. Vá lá! E eu gosto muito do efeito sonoro do duplo F na primeira 'valsa' da ponte, o "Fussing and Fighting". 
 

Começaram a gravação no dia 20 de outubro e dedicaram perto de 11 horas à canção naquele dia e em outra sessão nove dias depois, constituindo-se na canção a que os Beatles dedicaram mais tempo de gravação até então. Aquela seção valsa que mencionei, na ponte, aparece nos últimos 4 compassos da ponte (que tem 12) e foi ideia de George Harrison, nos ensaios antes de ligarem os gravadores. E ela foi a causa da necessidade de um 2º Take, pois Ringo se enganou na segunda ponte e não entrou no tempo 3/4 da valsa. Senão, teria sido mais uma canção de um take só. De qualquer modo, não passou do 2º. E passaram aos overdubs. Olha só a base dessa canção: Paul no baixo, John no violão, Ringo na bateria e George? No pandeiro!!! E não foi assim, "vai lá George, toca o pandeiro!" Ele foi estudado, ensaiado, praticado, pra ficar marcante como ele é! Acertada a base, veio o vocal de Paul, depois dobrado, e depois John na harmonia principal na ponte que ele mesmo criou, com Paul no vocal secundário agudo, e também John naquele instrumento marcante na canção que parece uma sanfona, mas não é: trata-se de um harmônio, tão importante que fiz questão de que fosse a imagem a ilustrar este post. Tudo isso veio no mesmo dia, e eles achavam que tinha acabado. Só que não! Após uma mixagem mono que fizeram para ser usado num programa de TV, onde dublariam várias canções frente às câmeras, ele viram que precisavam melhorar os vocais, o que fizeram por mais duas horas no dia 29.
 
 
Aquele programa foi um grande sucesso, com vários artistas de sucesso á época, e uma parte dele está disponível. Deixo aqui neste LINK como curiosidade, sua introdução e primeiras atrações (não achei as partes 2 e 3)! Na apresentação, são listados os artistas, depois vem a orquestra de George Martin tocando sobre palanques, com o maestro ao piano, tocando trechos de clássicos e de sucessos dos Beatles orquestrados. Depois vêm John e Paul fazendo um sketch (quem tiver legendado me avisa, porque é difícil entender), e prestem atenção que vem uma canção Lennon/McCartney que muitos não conhecem, The World Without Love, cantada por Peter & Gordon (o primeiro é irmão de Jane Asher, a namorada com que Paul discute a relação na canção) e depois tem Lulu cantando I Saw Him Standing There (sim, porque ela adapta a letra nos pontos pronominais). E deixo aqui a canção objeto desta análise, neste LINK, com os Beatles dublando a canção, notem John no harmônio, ok, correto, mas George na guitarra, bem fake, porque o que ele toca na gravação, como falei, é o pandeiro! Ao final, uma micagem de John, com a desaprovação sorridente de Paul. 

 

 

2. Day Tripper (Sex Girl Song by John Lennon)

Paul conta: "Tenho uma boa razão para pegar o caminho mais fácil. Tenho uma boa razão para pegar o caminho mais fácil, agora. Ela era uma viajante diurna, bilhete só de ida, yeah! Demorei tanto para descobrir e eu descobri"
 
A canção é de John, com pequena participação de Paul. Entretanto é Paul quem começa cantando a canção, na primeira metade do verso, com John assumindo na parte final, que até poderia ser considerado como um refrão ("She was a day tripper, one way ticket, yeah, It took me so long to find out, and I found out,") mas não, é apenas a conclusão da mensagem do verso. O mesmo se repete nos outros dois versos, todos com letras diferentes. Uma ponte 'apenas' instrumental complementa a canção, entre os Versos 2 e 3. A aspas eu explico mais adiante! 
 
Nitidamente se fala de um interesse apenas sexual, que é uma provocadora, que só faz programas de uma noite ("She only plays one night stands"), talvez pagos, ou não. Há uma conotação com drogas (o 'trip' com ''one-way ticket' significaria uma viagem sem volta), também, mas por causa do SHE, optei apô-la na Classe Sexo. E, pra corroborar, a intenção do "She's a big teaser" era "She's a PRICK teaser", ou seja em vez de 'grande provocadora", seria "provocadora de pênis", os mais jovens entenderam o recado.  
 
Entretanto, mais que a letra, o mais impressionante dessa canção é a música. O espetacular riff de entrada, de apenas dois compassos, é criação de John mas execução perfeita de George, ao longo de toda a canção, acompanhando as mudanças de acorde, só interrompendo quando começa a seção 'refrão' dos versos. A entrada é antológica, em 10 compassos, nos dois primeiros apenas a guitarra de George, nos dois seguintes entra o baixo de Paul, e nos dois a seguir junta-se a guitarra rítmica de John, e também seu pandeiro (que vem em overdubs) e a partir do 7º compasso entra a bateria integral de Ringo, num crescendo instrumental sensacional. Paul entra cantando no tom da canção por 4 compassos depois muda nos quatro seguintes, e então entra John no "She was a day tripper" num terceiro acorde, menor. Nessa seção, George muda a batida com tocadas a cada um dos tempos do compasso, e Paul entra numa sequência de subidas e descidas com seu baixo até o final do verso. Note ali o pandeiro nervoso de John anunciando um segundo verso no mesmo esquema. 
 
Terminado o 2º Verso, os próximos 12 compassos se constituem no clímax da canção, que até merece este parágrafo de destaque, uma ponte instrumental e harmonizada vocalmente, estonteante! Ela começa com  três vezes o riff de guitarra num acorde superior ao normal, acompanhado do prato de Ringo, e notas em escadinha da guitarra de George, e nos últimos seis compassos, Paul e John harmonizam um crescente vocal que termina em mais pandeiros e pratos, de John e Ringo, e mais um solo de guitarra de George (que veio em overdubs, claro), tudo fenomenal. Entendeu as aspas que coloquei no 'apenas' lá em cima?  
O último verso vem com letras diferentes, mas com o detalhe do falsete de John no "it took me so-o-long". Finalmente, repete-se a introdução com os riffs de George agora com Paul e John harmonizando em '"Day tripper... day tripper yeah" em fade-out até o final! Eu já disse 'fenomenal'? Sim? Então, digo de novo. 
 
Tudo isso foi feito e 8,5 horas do dia 16 de outubro, terceiro dia de gravações para Rubber Soul, mas a metade desse tempo foi gasta em discussões sobre o arranjo, e quando ligaram os gravadores, tudo já estava decidido quanto à estrutura da canção e o que fariam na ponte instrumental. Foram necessários 3 takes até que saiu tudo perfeito, e aí partiram para os overdubs, dos vocais e das guitarras e do pandeiro, conforme descrito acima. Após as mixagens naturais, fizeram as gravações para um programa  de TV, A Música de Lennon/McCartney Foi o PRIMEIRO vídeo-clipe da história (LINK). Note como eles estão assim meio sem graça, cantando de mentirinha. Day Tripper foi tocada ao vivo nas excursões que se seguiram, a última na Inglaterra, em dezembro, a última 'mundial' (Japão e Filipinas), em junho/julho e a última americana, em agosto de 1966. 
 
Day Tripper saiu no dia 3 de dezembro de 1965 num compacto Duplo Lado A, o primeiro de uma série deles dos Beatles, juntamente com We Can Work It Out, direto para os topos das paradas no mundo todo. Como ilustração desta análise, deixo uma cópia do que os argentinos receberam quando compraram o compacto. Descobri isso quando comprei a coletânea 1, em 2000, quando mostraram como saíram os compactos em vários países.

 

Demais não!!??

Paperback Writer, Não volto mais!

Esta é a 3ª canção da coletânea Past Masters #2, 15º Álbum Oficial dos Beatles

a história do álbum, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 9 canções com Contos 

                                        as demais 8 canções de mesmo Assunto e Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

3. Paperback Writer (Tale Story Song by Paul McCartney)

Paul conta: "Prezado senhor ou senhora, vocês podem ler o meu livro? Levei anos para escrevê-lo, vocês não vão dar uma olhada? É baseado num livro escrito por um homem de nome Lear. E como preciso de trabalho eu quero ser um escritor de romances"
 
Aaaahh, como Paul captou, há mais de 50 anos, o drama de milhares de escritores tentando achar seu lugar ao sol... Aaaahh como eu me identifico com esse drama... Quem me conhece sabe por quê. Bem, Paperback é como são designados em inglês aqueles livros de bolso, com letras bem pequenas e que ficam amarrotados ao final. Note que o romance escrito pelo cara que quer ser escritor é sobre um sujeito que trabalha em jornal, tem uma mulher que não o entende e tem um filho que quer ser escritor, está fechado o loop. No terceiro verso, tem mais um motivo pra minha identificação.

 It's a thousand pages, give or take a few. I'll be writing more in a week or two

I can make it longer if you like the style

I can change it 'round, but I want to be a paperback writer

Conheço uma escritora muito querida que adora escrever livros grandes, pena que ela não leva 'a week or two', talvez 'a year or two' seria mais apropriado. Ela mora aqui em casa. Aliás, eu posso até imaginar minha filha escrevendo a carta que Paul elaborou em seu esboço, afinal aquele "Dear Sir or Madam" que inicia a canção é típico de uma carta a um destinatário editor, em que não se sabe se é homem ou mulher que vai ler.   
 
Alguns Paperback Writer facts: 
  • A canção foi a única lançada em 1966 e a última 'nova' da carreira Beatle a ser tocada em shows pagos. A qualificação é necessária porque houve aquele show lá na cobertura do edifício da Apple, em 30 de janeiro de 1969, que ninguém pagou. Nenhuma outra canção lançada posteriormente a Paperback Writer foi tocada para um público pagante; 
  • A canção foi promovida por filmes promocionais, que são considerados pioneiros do vídeo-clipe; 
  • A ideia veio de um artigo de jornal que Paul leu, na casa de John, que ajudou em partes da letra;
  • Coincidiu com a sugestão de uma tia dele (Aunt Lil) que o desafiou a escrever algo que não fosse uma canção de amor, então foi aí a origem do gatilho para Paul se tornar o maior Storyteller da banda, o que geraria outras 15 pérolas do cancioneiro Beatle;  
  • É considerada a melhor linha de baixo de Paul até então, aliás, nota-se que ele está bem ocupado com seus dedos, com floreios mil. Associa-se uma inovação na gravação de um engenheiro de som que atrelou um loudspeaker, pela primeira vez, ao amplificador dedicado ao baixo;
  • Note que, o verso todo é acompanhado por acorde único; 
  • Note o duelo vocal em contraponto, ressaltado por George Martin como a primeira vez que isso ocorria... sempre os Beatles pioneiros;
  • Foi lançada como Lado A de um compacto que tinha a maravilhosa Rain, de John, no Lado B. Foi Número 1 nos EUA, sendo apenas desbancada por Frank Sinatra com a linda Strangers in the Night;
  • Acho que chega de Paperback Writer facts? 
Não, uma canção dessas requer um pouco mais de detalhes!! Tudo até aqui foi o que escrevi enquanto listava as canções que contavam historinhas, 9 ao todo na carreira dos Beatles, sendo 7 de autoria de Paul, na primeira parte de minha Saga, quando eu nem sonhava em entrar em tantos detalhes como tenho feito em minhas análises. Veja bem, há outras histórias compostas por Paul, principalmente, e John, mas elas se encaixam em outras classse, como Solidão e Engraçadas. 
 
Agora, se eu traduzi o Verso 1 no caput, descrevi o Verso 2 em seguida e transcrevi o Verso 3 logo depois, não tem por que deixar o Verso 4 enciumado, é ou não é? Recapitulando, no 1º ele se apresenta, no 2º ele dá a sinopse do livro, no 3º ele diz que pode escrever mais, e finalmente no 4º ele até cede os direitos do livro em troca de uma oportunidade, veja:  
If you really like it, you can have the rights,
You can make a million for you overnight
If you must return it, you can send here
But I need a break, 
and I want to be a paperback writer. 

Apesar de a concepção da letra ser de Paul, a sessão de trabalho na casa de John começou sem a música, então dá-se a entender que John teve maior contribuição nesse quesito, além de uma que outra ajuda no primeiro. Isso combina com a ideia de John de fazer canções com um acorde só, e pouca variação. Ele havia feito Tomorrow Never Knows assim, e mesmo George havia oferecido nesse mesmo tema, Love You To, pois era uma coisa que acontecia na música indiana que inspirara-o em sua obra. 
 
A gravação ocorreu ao longo de duas sessões, em 13 e 14 de abril de 1966, tendo no 1º dia se acertado a base e alguns overdubs, e o 2º com os restantes necessários a transformá-la no sucesso que foi. A base tinha Paul na guitarra solo distorcida, John na guitarra rítmica, George no baixo e Ringo na bateria. Nos overdubs, Paul e George voltaram a seus instrumentos habituais, com o primeiro inovando em sua linha de baixo de maneira incrível, mas George não mexendo nos riffs de Paul tão característicos da canção. Ringo acrescentou um pandeiro, mas não precisou mudar nada de sua bateria, que estava perfeita. O mais notável acréscimo entretanto, foi o vocal. Claro, o vocal principal de Paul, firme como sempre, mas as harmonias espetaculares de John e George foram objeto de, não um, mas três overdubs, baseado no desejo original de Paul, mas exaustivamente ensaiados com o maestro George Martin, causando aquela coisa maravilhosa a capella que se ouve na introdução da canção, cheia de falsetes e categoria, e também entre os versos 2 e 3, e também na conclusão, além dos falsetes durante os versos cantados por Paul. Muito trabalho, mas que valeu muito a pena! Deixo aqui o vídeo promocional, em que eles dublam, nem sempre perfeitamente, neste LINK. 
 
A razão de eu acrescer um 'Não volto mais' ao título desta análise foi porque esse foi o título da versão que Renato Barros fez para a canção Beatle e gravou com seus Blue Caps. Aqui, o maior versionista dos Beatles no Brasil ligou de novo o seu Blue Cap Translator e produziu mais uma letra que não tem nada a ver com a original, inclusive é uma canção de amor, coisa que o autor Paul justamente evitou de fazer. Mas em seu valor, ouça no LINK. Renato em entrevistas admitiu que era impossível reproduzir vocais e desempenhos da gravação dos Beatles.