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sábado, 27 de fevereiro de 2021

Blue Jay Way - a segunda rua

 Esta é a  4ª canção abre o álbum Magical Mystery Tour

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 8 canções com História na primeira pessoa

as demais 7 canções de mesmo Assunto e  Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.


4. Blue Jay Way (Self Story Song by The Beatles)

George lamenta "Há um nevoeiro sobre Los Angeles (L.A),  e meus amigos perderam o rumo. 'Estaremos aqui em breve' eles diziam. Agora eles se perderam em vez disso."

 

George e Pattie chegaram de Londres e se hospedaram em uma mansão cedida pelo dono (que viajava), na Blue Jay Way, uma rua numa colina de Los Angeles. O principal objetivo da viagem era ver um show de seu amigo e professor de cítara Ravi Shankar, no Hollywood Bowl.  George esperava por Derek Taylor, ex-assessor de imprensa dos Beatles, que agora era produtor de vários astros, que viria buscá-lo para uma entrevista no mesmo dia, para promover o show, mas demorava a chegar por causa de um denso nevoeiro que baixara na cidade. Incomodado pelo jetlag (de 8 horas), pegou um teclado Hammond que havia na casa, e compôs a canção, soturna, lenta, monótona até, expressando seu estado de espírito e o da própria cidade enevoada! Gente que procura pelo em ovo acha que, quando ele diz "Please don't be long!" no refrão, na verdade é "Please don't belong!", uma incitação à juventude para se libertarem das amarras da sociedade, afinal, era o Summer of Love, não é mesmo? E ainda atrelado à interpretação do "my friends have lost their way" que iria nesse mesmo sentido. Isso vai por água abaixo quando no refrão e no repetitiiiivo final, várias vezes ele diz "Please don't you be very long!".  Sai pa lá!

 

Decerto que Blue Jay Way não era uma de minhas preferidas, estava lá embaixo nos Bottom 10%, mas vim me educando, inteirando-me mais e mais sobre ela ao longo das décadas. E hoje, equipara-se a muitas outras, Top 30%, sem dúvida! O estilo é o indiano clássico, no qual George estava inserido à época, porém apenas usaram instrumentos ocidentais. São três versos e um mooonte de refrões, aquele "Please don't be long!", mas, como não podia deixar de ser, cada um tem um detalhe diferente, um tempo a mais ou  a menos, um violoncelo aqui, e ali de outro jeito. Aliás, o violoncelo merece um parágrafo à parte, mais adiante! E de repente chegamos à música, justamente pelo instrumento que entrou só no final!

 

A base foi apenas George no piano, Paul no baixo e Ringo na bateria. John ficou de fora provavelmente se inspirando para fazer algo diferente no vocal. Nos overdubs, George acrescentou o 'Drone sound' (ver abaixo), e Ringo caprichou na bateria, com inúmeras viradas, muito preciso na caixa e pratos, além de um fundamental pandeiro!! A canção saiu povoada de notas e acordes dissonantes, e com aqueles backing vocals tétricos de John e Paul, assustadores, e com alguns vocais tocados em reverso, e com um ritmo de marcha fúnebre. Ouça no fone de ouvido (aliás, como sempre, afinal é uma Beatles Song), aquilo podia ser  trilha sonora de filme de Zumbi!
Falando em dissonantes, dá só uma olhada nos acordes para violão, só até o primeiro verso: C C6 Cmaj7 C5 Cmaj7 C6 Cmaj7 Cadd9 C Cmaj7 C C Cdim C, tudo em volta da Nota Dó (C). Até pra quem entende, é muito acúmulo de diminutas, sétimas e nonas num verso só! Ufa, melhor dar uma pausa neste parágrafo, até cansei de tanto Dó.... Decerto, um recorde na carreira dos Beatles!

 

Note que aquele Dó é tocado ao fundo de toda a canção, um zumbido, como um zangão voando, um drone soundmais ou menos como ele fez em Within You Without You, alguns meses antes em Sgt. Peppers, só que lá, ele usou um tamboura, instrumento indiano, aqui, é tocado por George no teclado Hammond, às vezes aumentado pelo baixo de Paul. Os vocais, o violoncelo e o 'drone' foram submetidos a um uso obsceno do ADT - Authomatic Double Tracking - fazendo, no caso das vozes, com que parecessem verdadeiras almas penadas aterrorizando gente assustada num nevoeiro, que praticamente dá pra se imaginar ao ouvir a canção. Foi a canção de George que mais se utilizou de efeitos de estúdio. Ah, sim, o violoncelo.. 
Não se sabe por que, mas o brilhante violoncelista, que deu show em Blue Jay Way, não foi creditado em lugara nenhum. Mr. Cellus Incognitus aparece logo de cara na introdução, depois em vários trechos, nos versos e nos refrões, em legato, em staccato, em slides, e às vezes acompanhando a melodia, ele é até considerado o instrumento solo da canção, note que a guitarra ficou de fora! E, como ele entrou depois, os Beatles tiveram que retornar às filmagens de Magical Mistery Tour, para uma filmarem um ótima cena, em que simulam tocar um exemplar branco do instrumento, enquanto os outros três brincam com uma bola! 
George pouco tocou canções da época Beatle durante a carreira solo, com uma quase única exceção a do show do Japão, e dentre elas não estava Blue Jay Way. Felizmente, ela é uma canção de filme!!! E nós temos a cena do filme!!! E ela é ótima, divertida!!!! Veja aqui, neste LINK. E, claro, hoje existem os análogos!!! Veja aqui, The Analogues tocando Blue Jay Way, neste LINK.

 

E por que eu falei em 'segunda rua' no titulo desta análise? É porque foi a segunda vez em que nomearam uma canção com um nome de rua. A primeira vez havia sido naquele ano mesmo, quando lançaram Penny Lane em compacto, e da qual falaremos ainda neste capítulo sobre o LP Magical Mistery Tour. E haveria mais uma rua mencionada na carreira dos Beatles, só que não em canção, mas em álbum, e para a posteridade:

ABBEY ROAD! 

2 comentários:

  1. rs rs rs. E Eu nunca tinha pensado em almas penadas na música, no nevoeiro...Mas agora que você falou impossível não pensar nisso. E posso apostar que era exatamente o que George queria porque de fato havia um nevoeiro. Ingles...deve ter pensado nas ruas de Londres cheias de fumaça com Jack o estripador á solta.
    Já eu...sempre gostei da música desde o início. Melodia muito bonita. Os arranjos...o cello que você cita. E faço parte do time que gosta de pensar em Please, don't belong. Pode não ter sido isso, mas pegou muito bem pensar que sim. Sim, era o verão do amor. E, ao contrário do que disse a Revista Veja, os Beatles se envolveram no Verão do Amor. Até ajudaram na promoção do primeiro festival hippie que considero mais interessante que Woodstock. O Monterey Pop festival promovido por Derek Taylor! Fizeram até um poster para o Festival. George levou Ravi Shankar. Paul sugeriu The Who, Donovan e Jimi Hendrix. Não preciso contar a história, acho que todos sabem. Donovam não teve como ir por problemas relacionados a drogas., Não tinha visto de entrada. Mas Hendrix virou super estrela ali graças a Paul que insistiu na sua contratação.
    E fico aqui pensando...Quando estou entediada, esperando por algo que está demorando...nada tenho a fazer. George compóe uma maravilha dessas. Isso é que chamo de artista natural. A música simplesmente chega. Fez o mesmo esperando por Bob Dylan uma vez. E Dylan completou a música.

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  2. Excelente!!! Muitas informações para os fãs dos Beatles! 👏👏👏👏👏

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