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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Fixing a Hole - Sentido Figurado

Esta é a  canção do Lado A do álbum Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 6 canções ensimesmadas, centradas na mente.

as demais 5 canções de mesmo Assunto e  Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

5. Fixing A Hole (Mind Self Song by Paul McCartney)

Paul pensa: 'Estou consertando um buraco por onde a chuva cai, e impede minha mente de vagar. Aonde ela irá?''. 
E quando ele pensa, ele se lembra de múltiplas coisas, inclusive das garotas que tentam invadir sua casa, e depois se autoafirma, dizendo que está certo, esteja ou não certo, e, mais pro final, diz que vem gastando mais tempo em coisas que não eram importantes antes. Reflexões, nada mais que isso O buraco que ele conserta é em sua mente!! Uma pessoa pensando sobre sua vida, o que tem que consertar, o que tem que combater, apenas isso. A canção é uma das oito que saíram da ideia de Paul no álbum que saiu da ideia dele. Como expressão 'fix a hole' era o mesmo que  'aplicar uma injeção', diziam que a canção era uma alusão a heroína, droga injetável. Cá entre nós, era um saco isso, hein?
Na próximo verso, ele fala em "painting my room in the colourful way", pronto, imagem inspirada por LSD, ou "I get high with a little help from my friends", pronto, amigos fornecedores de droga,
 ou "I'd like to turn you on", a canção é banida por incitação a drogas. Cacete! Gente chata! Querendo encontrar pelo em ovo! Paul nunca entrou nessa onda, mas admitiu que a maconha foi inspiradora de algumas reflexões. Aliás, quando Paul realmente falou sobre a danada, ninguém percebeu, precisou ele confessar em uma entrevista muito tempo depois, que Got To Get You Into My Life era sobre maconha. Truco, imprensa especializada! Rumores diziam que o roadie Mal Evans teria parte na letra, mas ficou mais uma vez a ver navios...
A estrutura é padrão, após uma introdução comum, lindo cravo em staccato e o chimbal de Ringo, vem Verso 1-Verso 2-Ponte 1-Verso 3-Verso 4-Ponte 2-Verso 5, além de um Verso 1, pela metade, modificado no final. Afora o Verso 4, ocupado por um solo de guitarra, os demais são cantados com letras diferentes, na preferência padrão Beatle.  Nessa linha, apesar de as duas pontes dizerem a mesma coisa, elas têm letras diferentes, atestando a capacidade do letrista. Primeiro, note que são introduzidas por um Beatle Break (sem instrumentos) nas duas palavras iniciais "And it", depois percebam que vêm em tom diferente dos versos (em FA), e elas começam iguais ("...really doesn't matter if I'm wrong, I'm right, where I belong I'm right, where I belong"), depois Paul as canta lá no alto, quase em uma nota só, mas seguem com letras diferentes em cada uma, pra reclamar das pessoas que insistem em invadir a casa do compositor. Paul disse que chegou a convidar uma ou outra a conhecer a casa, mas desistiu da prática educada quando começou a repetir-se o hábito de, no dia seguinte, irem com suas mães aos jornais para declarar o noivado... Para concluir a sessão letra, faltava a consideração sobre as rimas. Aqui, é fácil: não ocorre NENHUMA rima, e ainda assim, é tão rica!
Musicalmente, houve  uma novidade logística. Os estúdios da EMI não estavam disponíveis quando os Beatles se decidiram a gravá-la e lá se foram eles para o Regent Studios, onde os Rolling Stones gravaram seus primeiros trabalhos. No ano seguinte, Hey Jude seria gravada ali, e em 69, I Want You (She's So Hevy). A base teve configuração também ímpar: Paul usou um cravo, Ringo, sua bateria, John ficou no baixo e George tocou .... chocalho!! Pra completar a novidade, Paul cantou logo na base, ao invés de deixá-la para os overdubs, prática abandonada desde Revolver. Note que a bateria de Ringo começa apenas com o chimbal no Verso 1, entrando firme nos versos e pontes subsequentes. A segunda sessão, já de volta a Abbey Road, e sob o comando de Geoff Emmerick que fora proibido de trabalhar naquele outro estúdio concorrente, empregado que era da EMI. George Martin pôde, pois não era mais empregado! Os acréscimos constaram de Paul dobrando seu vocal em partes selecionadas (em todos aqueles que lembram uma canção do Velho Oeste, "where it will go", "there I will go" e "and I still go" com falsetto na palavra final, e também nas pontes),  George grava sua ótima guitarra solo, com direito a sessão-solo no Verso 4, e John e George apenas acrescentam vocais em U-U's na Ponte 2 e no Verso 5. Note que não há harmonização vocal, pois trata-se de uma Self Song, então apenas o compositor canta as falas da canção. É mais ou menos uma política! 
A canção teve a 'honra' de ser referenciada, nem que fosse ironicamente, por John, em Glass Onion, "fixing a hole in the ocean...", um ano depois. E, na ausência de Beatles tocando ao vivo, deixo aqui três versões:

    1. Neste LINK, Paul ao piano, num tom abaixo do original
    2. Neste LINK, Paul e banda, com direito a Linda no chocalho
    3. Neste LINK, The Beatles Analogues, com direito a cravo e arranjo idêntico

ENJOY!

13 comentários:

  1. Gosto das suas informações sobre os arranjos, quem tocou o que...estou até aprendendo coisas como 'ponte'...Desconhecia o uso da palavra ponte na música. E entendi do que se trata lendo seus textos. Obrigada.

    Eu entendia a letra um pouco diferente da sua tradução. Para mim ele dizia que não tinha muita importancia estar certo ou errado porque onde ele pertencia ele estava certo. E isso serviu para mim diversas vezes na vida quando diziam que eu estava errada em alguma coisa não bem aceita por todos. E eu pensava que entre meus pares (onde eu pertenço) eu estava certa. :)

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    1. Sim, você está com a razão!! Nas duas coisas!Vou modificar!!

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  2. Pode espichar o texto
    Quero muitos detalhes kk
    Mas tá ótimo
    Essa música é a favorita de muita gente..
    Eu gosto demais dela..

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  3. Excelente, Homero!

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  4. Muito bom, como sempre - Homero! Seus textos têm o requinte de vc falar quem fez o quê, e situar de forma histórica reunindo o maior número de informações - e sem ser enfadonho - o que é uma proeza! - fazendo um painel o mais próximo de 360 graus desse quebra cabeças que é cada abordagem sobre os Beatles.

    Abs Carlos Navarro

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  5. Fico imaginando o alcance mundial desse Blog caso tivesse uma opção em inglês.

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  6. Muito bom, Homero! Os Beatles e sua canções dão muito assunto! Abs!

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  7. Você analisa brilhantemente. E eu componho uma homenagem ao nosso amado Paul. Talvez única no mundo do para um só beatle: https://youtu.be/r2DIrDNb710

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  8. Sensacional! É um verdadeiro tratado sobre a canção _Fixing a Hole_ (“Tapando um buraco”). Esse Paul é realmente genial. Gostei muito da participação de Linda no chocalho. Paul quer consertar um buraco em sua mente!
    Vera Mussi

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  9. Que análise riquíssima. Impossível não revisitar a música, mas com a análise na cabeça. É como se estivéssemos nos deparando com outra canção . Quanto ao cravo, acho um dos instrumentos mais lindos e harmônicos que há.
    Forte Abraço
    Roberto Bazolli

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  10. Mais uma grande matéria.

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