Esta é uma prévia do Capítulo 39
Da minha saga
O Universo das Canções dos Beatles
Esta é uma prévia do Capítulo 39
Da minha saga
O Universo das Canções dos Beatles
EU JÁ ESCUTEI McCARTNEY III
12. You Can't Do That (DtR Girl Song by John Lennon)
John ameaça: "Eu tenho algo a dizer que talvez lhe cause dor: se eu pegar você falando com aquele garoto de novo, eu vou te decepcionar, e te deixar imediatamente, porque eu já te disse antes, oh, você não pode fazer isso"
Canção típica de DR entre casais, mas com ameaças! Ela foi feita em Miami, em meio ao estrondoso sucesso da invasão da América. A intenção é que fosse incluída no filme A Hard Day's Night, mas foi deixada de lado com a chegada da canção título! Retrato da possessividade de John em relação à sua amada, ciúme explícito, não querendo nem que ela converse com outros rapazes, apesar de ele não fazer a parte dele, com inúúúmeras puladas de cerca. Ele podia, né! Ai ai ai!
Bem, esse ciúme, essa possessividade toda, foi magnificamente traduzido na fórmula que eles preferiam na época, verso-verso-ponte-verso, sem refrão, e com letras diferentes. No Verso 1, vem o primeiro aviso e ameaça de deixá-la se falar de novo com aquele garoto, mas parece que a garota não levou muito a sério, porque, no Verso 2, ele diz de novo que a viu conversando com o cara, reclama que é pecado, e ameaça deixá-la de novo, mas segue com ela, e na ponte, ele argumenta que todos estão invejosos por ele estar com ela e reclama que todos vão rir se ela continuar fazendo isso, mas a menina é insistente e no verso final nosso herói segue reclamando e ameaçando.... mas continua com ela, hehehe. Depois do verso final, ainda levam um verso instrumental, repetem a ponte e repetem ainda o verso final. Aliás, foi nesta canção que eu entendi expressão que usamos aqui 'verde de inveja', vem de lá. Ouça John cantando:
Ev'rybody's gree-een,'cause I'm the one who won your love!
COWBELL
Esplêndida também musicalmente, a começar pelo riff matador de dois compassos (conte duas vezes, até 4) na guitarra que abre solitário e arrebatador a canção, para entrarem apenas depois os outros instrumentos. Foi a primeira vez em que os Beatles fizeram desse jeito, e repetiram a fórmula em Day Tripper, Ticket To Ride, I Feel Fine e coincidentemente todas de John, mas houve outras. Ouvem-se os ecos do riff ao longo de toda a canção e ele volta, triunfal, ao final! Siga encantado com os duelos vocais, com Paul e George enfatizando em harmonia dupla as ameaças de John, a partir do segundo verso. E também no "GREEEEEEN" da ponte. E ouça o solo de guitarra de John (raríssimo!), o bongô de Ringo, mas principalmente o 'cowbell' tocado por Paul em overdub, ao longo de toda a canção, quase religiosamente quatro vezes por compasso, com breves interrupções, cheguei a contar, foram 260 vezes que Paul bateu com sapiência aquele sonoríssimo instrumento de percussão que eu adoro.
You Can't Do That veio à luz em 25 de fevereiro de 1964, na 1ª sessão de gravação após a triunfal viagem aos Estados Unidos. Foram nove takes, com John cantando sempre e com todos em seus instrumentos, sendo cinco deles incompletos. O Take 6 foi perfeito, mas só tinha John no vocal, e podemos ouvi-lo porque foi lançado oficialmente no projeto Anthology, ouça neste LINK. Interessante que apenas no Take 9 houve a decisão de colocar harmonias vocais então Paul e George entraram magnificamente, sem ensaio e saiu aquela coisa maravilhosa e definitiva que ouvimos até hoje!
Ela foi tocada ao vivo na BBC, quase um mês antes de ser lançada como Lado B do compacto liderado por Can't Buy Me Love, Número 1 imediato nas paradas, e seguiu sendo tocada nos shows das excursões pós-filmagens, deixo aqui uma mostra, neste LINK! Um sucesso!!!
9. I´ll Cry Instead (Dispair Miss Song by John Lennon)
John se oferece: "Eu tenho todos os motivos do mundo para estar louco porque eu acabei perder a única garota que eu tinha. Se eu pudesse fazer do meu jeito, eu me trancaria a chave hoje, mas eu não posso, então em vez disso, eu choro."
Após um encontro com Bob Dylan em janeiro, em que os Beatles se deliciaram com um disco do bardo, John havia se decidido que era hora de começar a falar menos para adolescentes e mais sobre seus sentimentos. Esta canção tem um leque memorável de angústias expostas com relação a seu relacionamento perdido, em que ele passa
mas como não pode e até conseguir, ele apenas chora, que é o título da canção. Aliás, que nem se pode chamar de refrão, mas é a ÚNICA letra que se repete ao longo de todas as linhas, impressionante a construção lírica do poema!
Musicalmente, nem há destaques a serem feitos, apenas quatro músicos excelentes tocando magistralmente seus instrumentos regulares, com John no violão, Paul no baixo (ok, foi bem variado!), George na guitarra e Ringo na bateria (ah, ele tocou pandeiro também). John cantou sozinho, sem as tradicionais harmonias que eles faziam tão bem.
O fato notável é que ela foi feita por encomenda para musicar aquela cena em que os quatro fogem das fãs e fazem malabarismos, para a qual foi aproveitada Can't Buy Me Love, porém foi considerada carregada de emoções demais, havemos de concordar, não é mesmo? Além disso, ficou curta para preencher a cena toda. Ela nunca foi tocada ao vivo, mas felizmente foi ressuscitada num tributo a Lennon, num relançamento do filme em 1981, de fundo a uma série de fotos deles em 1964 passando em ritmo alucinante!
... eu disse 'felizmente' porque fizeram o tributo
mas foi 'infelizmente' por causa da razão para ele...
Lançamento apenas nos EUA |
Esta é uma canção do A Hard Day’s Night, 3° álbum
dos Beatles
Outras canções do álbum e seu contexto, neste LINK
Outras canções da Classe Return das Miss Songs, neste LINK
John clama: "Olha, eu te implorei de joelhos! Se apenas você ouvisse as minhas súplicas. Se existe algo que eu possa fazer, pois eu não suporto, estou tão apaixonado por você! Me diga por que você chorou e por que mentiu pra mim!"
Apesar de parecer uma DR, preferi classificar a saudade e o desejo de retorno depois de uma briga como a tônica da canção, que fecha o Lado A, última pertencente à trilha sonora do filme. A canção é 100% de John, o que leva a concluir-se que o 'you' era Cynthia, com quem era casado! Musicalmente, considero a bateria introdutória de Ringo como o ponto alto da canção, com viradas precedendo dois acordes de guitarra e ao piano de George Martin, quatro vezes. E Ringo repete as viradas mais seis vezes, a chamar refrões, e versos, e a ponte, e ainda mais duas vezes no final. Um show do nosso baterista! O refrão, aliás, abre a canção, como em It Won't Be Long! As harmonias vocais perfeitas de Paul e George (ambos nos graves com John nos agudos, algo bem incomum!) dialogam em triplo nos versos, respondendo nas frases pares às chamadas de John nas frases ímpares, expliquei-me? Melhor desenhar:
Note, assim, rapidamente, duas coisas importantes, denotando a qualidade deles como letristas
- Que segue válida a política de não repetirem letras, como descobri ao descrever Do You Want To Know A Secret: os dois versos (1-4 e 5-8) têm letras diferentes;
- Que TODAS (as quatro) rimas são RICAS!
- 1-3: verbo com adjetivo;
- 2-4: adjetivo com verbo;
- 5-7: verbo com preposição;
- 6-8: verbo com substantivo.
Ah, os três entram também entram em falseto ("If there's anythin' I can do") na ponte! Impecáveis!
No filme, Tell Me Why abre a sequência final de trechos de três canções tocadas "ao vivo no programa de TV, juntamente com If I Fell (que já aparecera na íntegra em ensaio) e I Should Have Known Better (que já aparecera na íntegra na cena do trem). Deixo o vídeo aqui, neste LINK, para que deliciem-se:
(i) com o sorriso de Ringo,
(ii) com a gaita de Paul,
(iii) com as harmonias vocais dos três, e, claro,
(iv) com a dancinha das perninhas de George!
Bem, para finalizar, vocês gostaram de ver Tell Me Why tocada ao vivo? Pois contentem-se, porque foi a PRIMEIRA e ÚLTIMA vez. Nunca a tocaram nas turnês, nem nos programas de TV, nem John, muito menos Paul em suas carreiras solo lembraram-se dela!
Esta é uma canção do A Hard Day’s Night, 3° álbum
dos Beatles
Outras canções do álbum e seu contexto, neste LINK
Outras canções da Classe Flirt das Girl Songs, neste LINK
Paul esclarece: "Vou te dar tudo que eu tenho pra dar se você disser que me ama também. Eu posso não ter muito pra dar, mas o que eu tenho, eu darei a você."
A paquera evolvendo amor e dinheiro passeia pelo blues animado que Paul criou, sozinho, com quase nenhuma ajuda de John. São 3 versos com letras diferentes, entremeados por uma ponte "Can´t buy me love, everybody tells me so". O Verso 1 tem as promessas de comprar um anel ou qualquer coisa pra garota se sentir bem, e o Verso 2 tem o trecho descrito no caput desta análise. No Verso 3, ele já aparece cansado das coisas materiais e pede que ela deseje coisas que o dinheiro não pode comprar. Os três versos terminam da mesma forma, com o rapaz dizendo que não liga pra dinheiro.
Ela foi escrita enquanto estavam na maratona parisiense de dois shows por noite, em janeiro de 1964, mas tinham um piano na enorme suíte que ocupavam no luxuoso Hotel George V, que usavam para compor as canções que precisavam para seu 1º filme, A Hard Day's Night, àquela altura ainda longe de ter um nome. E gravaram lá mesmo, no Pathé Marconi Studios da EMI, única vez na carreira que gravaram fora da Inglaterra, no dia 29, numa sessão em que também vieram à luz as únicas canções cantadas em alemão pelos Beatles (neste LINK). E foi tudo muito rápido, com os quatro tocando seus instrumentos habituais, em quatro takes. Depois, apenas George teve tempo de voltar ao estúdio fazer um overdub de seu solo de guitarra, e dá pra se notar o solo original em partes da gravação final. Essa sessão foi em 25 de fevereiro... entre as duas sessões, eles cruzaram o oceano para conquistar a América. Aliás, esse solo inaugurava uma prática que seria adotada dali em diante: a composição do solo de guitarra. Até então, George chegava e tocava o que lhe dava na telha! Outro que teria que voltar ao estúdio para fazer um overdub seria Ringo, mas a agenda não deixaria espaço: ele tinha inúmeras cenas solo no filme, ganhou destaque logo que perceberam seu lado histriônico. Então, como os pratos necessitassem de mais agudos, quem resolveu foi mesmo o engenheiro Norman Smith, apenas no hi-hat (chimbal) não creditado!
O ponto alto da canção, entretanto, é o vocal vigoroso de Paul, apenas ele canta, apesar de John aparecer cantando junto ao vivo (ver neste LINK), embora eu particularmente ache muito interessantes os backing vocals de John e George que se ouvem em versão alternativa que saiu no Anthology 1, nas partes "ooooh satisfied" ou "ooooh just can't buy," e equivalentes (ouça, neste LINK, e note que gravaram num tom acima do original). A ideia de começar pelo nome da canção (e também terminá-la) com um trecho da ponte, foi de George Martin, para causar impacto, o que claramente foi conseguido. Notáveis também são os já tradicionais Beatles Breaks, momentos em que os instrumentos param, deixando apenas a voz do cantor, prática que usaram em algumas canções, e notavelmente logo na primeira, Love Me Do. Aqui, eles ocorrem, brilhantemente, nos trechos em que Paul canta "much for money". Eu gostava mais do final da versão de Anthology, com apenas baixo e bateria. A canção era uma favorita de shows nas turnês de 1964 pelo mundo afora...
No filme, a cena em que a canção aparece é an-to-ló-gi-ca, quando os quatro, em meio à fuga dos fãs, fazem malabarismos acrobáticos mil, lembrando muito cenas do cinema mudo, tipo Comedy Capers. Deixo a cena aqui (um pouco modificada, com tempo variado), neste LINK, para lembrança e exaltação.
Antes de ser a sétima canção do álbum, a canção foi lançada em compacto, com You Can't Do That no Lado B, em 20 de março de 1964, quatro dias depois do lançamento nos Estados Unidos, onde Can't Buy Me Love foi imediatamente para o topo da parada, comandando um trenzinho de cinco canções dos Beatles nas posições 2 a 5 (as outras eram Twist And Shout, She Loves You, I Want To Hold Your Hand e Please Please Me), fato único na história da música. E juntando-se a outras nove, até a posição 100, feito também inédito.
A América estava definitivamente conquistada.
Uma boa razão para se investir em um pacote desses? Na época houve duas composições rejeitadas: uma de John, “What’s The New, Mary Jane” e outra de George, “Not Guilty”, esta seguramente a campeã de takes, acho que passou de 70 o número de tentativas para se chegar à versão ideal, sem sucesso, infelizmente, porque era infinitamente superior a “Long, Long, Long”. Felizmente, agora viram a luz do sol e foram oficializadas na discografia oficial dos Beatles. Para os beatemaníacos, um 'must': como pode haver canções oficiais dos Beatles sem que as tenhamos em casa?