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sexta-feira, 27 de novembro de 2020

McCartney III - by Cláudio Tehran

 EU JÁ ESCUTEI McCARTNEY III

O novo disco de Paul McCartney estava programado para
11 de dezembro. Adiaram para o dia 18. Tive a sorte de
ouvir antes, aliás, estou ouvindo e apreciando.
É um álbum de experimentos sim, mas não pense muito
nos McCartney I e II porque não há quase nada daqueles
na concepção do Terceiro, e nem faria sentido.
O que observei nas primeiras audições é um Paul como
de praxe inquieto, seja pelo isolamento imposto pela
pandemia, seja por tudo que andou ouvindo durante
este período, e a decisão de fazer tudo sozinho.
Ele compensa a limitação da falta de outros músicos
com boas ideias, arranjos inspirados, e coesão. E não
falta ousadia também, pois McCartney III podia surfar
na obviedade, repetir-se e dar ao público o deleite
de ficar captando Beatles e outras sonoridades de
sua riquissima carreira solo. Paul rechaçou.
Então atualize seus ouvidos para captar. O que temos
não é um novo clássico, é Paul McCartney buscando
o novo aos 78 anos. É o melhor desta aventura.
LONG TAILED WINTER BIRD
Faixa quase instrumental e bastante experimental.
Tem bateria pesada. Com boa vontade guarda um
certo parentesco com sons do McCartney I.
FIND MY WAY
Eu teria colocado esta para abrir o disco. A levada
com duas guitarras tem uma sonoridade em que Paul
busca o contemporâneo como em Egypt Station.
PRETTY BOYS
Primeira balada do álbum belamente executada ao
violão. Tem leveza e a entrega solitária do compositor
em isolamento. Candidata a pequeno clássico.
WOMEN AND WIVES
Composição quase solene, reflexiva com piano e violão
como base do arranjo para a surrada voz de Paul.
LAVATORY LIL
Um dos achados do disco por sua levada urgente com
guitarras inspiradas e percussão forte. Provavelmente
inspirada no que Paul andou ouvindo em isolamento.
SLIDDIN’
Pesada desde a introdução, vocais dobrados e cheios
de efeitos. Arranjo que mistura sons percussivos, eco,
guitarras, teclados... Tem muito experimentalismo.
DEEP DEEP FEELING
Começa com Paul esmurrando a bateria, enquanto
o arranjo remete a Egypt Station. A faixa mais longa
de McCartney III também é marcada por esboços de
quebra de ritmo sobre a mesma percussão. E boas
e bem vindas surpresas vocais e sonoras.
THE KISS OF VENUS
Talvez tenha sido composta ao ar livre, debaixo de
um sol. Remete ao passado, a Red Rose Speedway,
a um tempo de recolhimento e ideias na cabeça.
O Beijo de Venus é um título tão sugestivo quanto
o som do violão dedilhado com maestria. A voz
envelhecida de Paul acrescenta uma bossa extra
a esta segunda candidata a pequeno clássico.
SEIZE THE DAY
Mais uma canção inspirada no que ficou na cabeça
de Paul a partir de Egypt Station. Esta faixa caberia
perfeitamente naquele álbum. É uma balada elétrica
quase dançante. "Aproveite o dia", diz Paul.
DEEP DOWN
A última das três que formam a trinca de sons mais
experimentais com Long Tailed Winter Bird e Sliddin’.
A voz de Paul se assenta sobre um arranjo em que
sobressaem metais (de teclado) e percussão.
WINTER BIRD/WHEN WINTER COMES
Ao ouvir essa talvez fique a impressão de que o disco
tocou de cabeça pra baixo. Sons inspirados de violão
na introdução servem de cortina para a verdadeira
composição que vem a seguir. When Winter Comes
é uma canção de límpidos e precisos vocais, e da ao
público o Paul McCartney eternizado como um dos
maiores melodistas da história. Outro cara abriria
o disco com esta, mas o Sir jamais será óbvio...

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