-

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band --- O show vai começar

Esta canção abre o álbum Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 15 canções com Discurso para um Grupo, 

as demais 14 canções de mesmo Assunto e  Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

1. Sgt. Pepper's Lonely Hearts CB (Group Speech Song by McCartney)

Paul apresenta"Somos a banda dos Corações Solitários do Sargento Pimenta! Esperamos que vocês gostem do show! Somos a banda do Sargento Pimenta e seus Corações Solitários! Sentem-se e deixem a noite passar!"  
A ideia de tudo veio numa viagem de avião, de Nairóbi a Londres, na época em que as refeições eram servidas com requinte. Paul estava com Mal Evans, o roadie gigante que o acompanhava como guarda-costas, que lhe pediu para passar 'Salt and Pepper' e Paul entendeu 'Sargent Pepper?', daí veio a inspiração de fazer a canção sobre o Sargento Pimenta e sua banda, do começo do século. Os 'Corações Solitários' vieram depois. Há rumores de que Mal Evans teria importante participação em vários trechos da letra, e chegou-se a cogitar em se declarar a canção como uma Lennon/McCartney/Evans, ideia logo descartada, com o OK do último, que amava os amigos, mas ganhou alguns royalties de presente. E a presença de Lennon foi apenas por causa do histórico acordo de parceria, pois não há registro de nenhuma contribuição dele na letra! Seja como for, trata-se de uma pérola inovadora, sob vários aspectos. Em termos de estrutura, por exemplo, veja que trata-se de uma escadinha de subida até o Refrão no topo, e depois descendo até o final, como se percorresse um pódio de 7 lugares. Imagine!!!
____
O 1° degrau é uma introdução de sons em que se percebe os músicos da famosa banda afinando seus instrumentos e a plateia se acomodando em seus assentos (ih, rimei!),
No 2° degrau, entra a banda em um 1° Verso de boas-vindas, longo, de 7 frases! 
It was twenty years ago today 
Sgt Pepper told the band to play.
Thei've been going in and out of style
But they're guaranteed to raise a smile
3° degrau é uma Ponte, instrumental, durante a qual a plateia
reage, gostando do que vê, com satisfação e risadas.
O 4° degrau é o topo, com um Refrão em que eles se apresentam 
We're Sergeant Pepper's Lonely Hearts Club Band
We hope you will enjoy the show...
5° degrau, já descendo do topo, é uma 2ª Ponte, 
com a Pepper Band encantada com seu público 
It's wonderful to be here. It's certainly a thrill.
You're such a lovely audience.
We'd like to take you home with us, we'd love to take you home
6° degrau é o 2° Verso, final, com a banda lamentando o final da canção
mas apresentando a próxima atração (rimei de novo!), que termina com
So let me introduce to you
The one and only Billy Shears
And Sergeant Pepper's Lonely Hearts Club Band
O 7° e último degrau,  outra sessão instrumental, preparando a próxima canção a ser cantada pelo astro Billy Shears, que na verdade será nosso querido Ringo Starr, cantando With a Little Help From My Friends. Nada menos que genial! 
____
Mas, não para por aí!
As rimas merecem um capítulo à parte, em quatro aspectos.

1.     Em primeiro lugar, as desejadas rimas ricas estão lá, "today" com "play", "show" com "know", "song" com "along", "show" com "go".

2.     Tem UMA rima pobre no 1° Verso, “style” com “smile”, dois substantivos, Caco Antibes diria "Tenho horror a (rima) pobre!" Mas tem um aspecto que perdoa a ocorrência: o profundo significado da frase! Veja bem,  eles se apresentam como uma banda que varia os estilos (“in and out of style”) mas que garantem que provocarão um sorriso (“raise a smile”), e nós, beatlemaníacos, sabemos que aquela banda era um alter-ego dos Beatles, que foram mestres em apresentar canções com estilos diversos, fato que nós recebíamos com um largo sorriso. Até então, já nos brindaram com baladas, rocks, rythm&blues, valsas, clássicos, ska, música infantil, e naquele álbum ainda viriam vaudeville e circo e mais música oriental. Os sorrisos perdoam a pobreza da rima.

3.     A Ponte cantada não tem NENHUMA rima, o que por si só já é um espanto.

4.     E, finalmente, Paul inaugura a ‘rima transcontinental’, quer dizer, nem sei como se chamaria o que ele inventou, não sei se já existia. Veja bem, no verso final, ele precisava de um nome para o ‘astro’ da banda que se apresentaria na canção seguinte. E ele escolheu Billy Shears, para emparelhar com “years”!! “Years” ?!! Mas aonde está “years”?? Procure bem, ela está lááá no 1° Verso, lááá no começo da escadinha, do verdadeiro pódio que é a estrutura da canção. Beeem distante, portanto eu a batizei de "transcontinental". Se aquilo não for genial, não sei mais o que é! Olha, acho que é até mais que isso! Vejam minha ilustração! Nem bem nasceu e eu já a rebatizo de Rima Interplanetária!





Ai Ai Ai, essa história de analisar as rimas chegou a um limite... Prometo me conter nas próximas análises! Vamos à música! A canção título, que abre o LP, foi apenas a 5ª a ser atacada em estúdio, cerca de 70 dias e 23 sessões após a inaugural. Strawberry Fields Forever e Penny Lane foram as que tomaram a maioria das sessões até então, e seriam lançadas em compacto.  Também gravaram uma velha canção de Paul, When I'm 64, feita anos antes em homenagem a seu pai, e também a novíssima A Day In The Life, que acabaria sendo útil para a canção objeto desta análise. Naquele 1° de fevereiro de 1967, os presentes à sessão viram que havia um retorno ao bom rock'n roll na faixa título, como se estivéssemos nos primeiros tempos da banda. E testemunharam a primeira vez em que Paul pediu para tocar a guitarra de ritmo, na faixa base instrumental, pois ele sabia exatamente o que queria para a canção. Então comece a anotar:
Paul tocou a guitarra de ritmo
John aceitou numa boa e foi para o baixo, apesar de não ter nenhuma intimidade com o instrumento. Sabedor dessa incompatibilidade, Geoff Emmerick reservou um canal para o baixo de John (lembrem-se, eram apenas 4 canais), para possibilitar posterior gravação por cima, sem ruídos. George na guitarra solo, e Ringo na bateria completaram a base. O baixo de John durou até o final daquela mesma sessão, quando Paul gravou sua linha de baixo. Então siga anotando: 
Paul tocou a guitarra baixo
Próxima sessão, dia 2, foi dedicada aos vocais, primeiro o estonteante principal de Paul, depois ele, John e George harmonizando na ponte e no refrão e depois, mais 3 vozes entraram na equação do refrão: Ringo, e os roadies Mal Evans e Neil Apsinal este, como Mal, também companheiro dos tempos de Liverpool! No dia 3 ..... de março (sim, um mês, e 6 canções depois) os Beatles reataram o relacionamento com a canção, convocando músicos com suas trompas, sem saberem o que iriam tocar. Ao chegarem, viram que não havia pautas escritas, sim, mais uma vez se viu Paul solfejar o queria para a Ponte instrumental que seguia o 1° Verso e antecedia o Refrão, e também as quatro notas descendentes no meio deste último, após o "...and let the evening go", e o acompanhamento na 2ª Ponte, cantada, e o breve instrumental do final. Dispensados os músicos, as atenções foram voltadas para a guitarra solo. George não conseguia entregar satisfatoriamente, e Paul assumiu e gravou as notáveis partes solo de guitarra da canção, anotou? 
Paul tocou a guitarra solo
George aceitou numa boa (já escrevi isso?). Pois é, pela primeira e única vez na carreira dos Beatle, Paul foi o responsável pelas três guitarras da banda. Nada como ser o dono da ideia, o dono da canção, o dono do conceito! E este último veio três dias depois. Ainda não se tinha ideia da ordem das canções e algo ocorreu a Paul, 'Por que não pegar o clima de um show ao vivo, e usar a canção como apresentação das demais?". Então, foram atrás das gravações da orquestra de A Day In The Life, para a introdução descrita, e fuçaram os bancos de sons da EMI para agregar à canção aquelas magníficas reações do público, de risos e aplausos, que se ouvem ao longo da canção! Estava terminado mais um clássico dos Beatles!
Os Beatles já não tocavam ao vivo desde 29 de agosto de 1966, e não o fariam durante 30 meses, quando fizeram sua última aparição. E a partir de Revolver, nenhuma canção dos Beatles viu as luzes da ribalta, tocada pelos Beatles. Paul McCartney, entretanto, satisfez nossos desejos de ver e ouvir algumas daquelas canções, uma delas esta Sgt. Pepper's, em inúmeras ocasiões. Optei, porém, por deixar aqui com vocês, um cover, mas um cover espetacular! Eles se chamam The Beatles Analogues, isso mesmo, nome justíssimo: eles reproduzem à perfeição os arranjos originais, com o auxílio luxuoso de instrumentos de orquestra. Eles traziam violinos e violoncelos e harpa e metais conforme estava nas fichas técnicas e em nossos ouvidos e corações. Em específico, este vídeo mostra a grandiosidade do esquema necessário para reproduzir maravilhas, e uma razão por que nossos ídolos pararam de fazer ao vivo. Naquela época, era inconcebível. Então, apresento a vocês, 'As Trompas de Sgt. Pepper's', neste LINK.

Sit back and let the evening go!



12 comentários:

  1. Fabuloso mergulho nas profundezas do oceano do conhecer, e na clareza e rigor. Um prazer, com sempre. Parabéns ao autor pelo legado.

    ResponderExcluir
  2. Faça textos longos homerix
    Seja bem minucioso
    É sgt Peppers !!

    ResponderExcluir
  3. Adorei. Muito boa mesmo. A análise das rimas ficou um primor. Parabéns

    ResponderExcluir
  4. Pô Homero, parecia que estavas lá acompanhando os caras
    Excelente, meu amigo

    ResponderExcluir
  5. Ressaltando que na capa se garante um bom momento para todos, cada um encontrará o que desejar encontrar.Fenomenal ironia, já indicada na criação
    de Pepper que , no burlesco, sinaliza a personagem caricata e zombeteira, entre as muitas interpretações que ela comporta. Ou seja, cada um terá seu bom momento(A splendid time is guaranteed for all)

    ResponderExcluir
  6. Parabéns Homerix, sempre detalhista.
    Os "caras" eram super criativos e foram muito bem assessorados, tornando-se a referência de sucesso que todos viemos a conhecer.

    ResponderExcluir
  7. Você é demais

    ResponderExcluir
  8. Tudo novidade para mim. Agradeço.

    ResponderExcluir
  9. Esta passagem do Jonh ir para o baixo mostra desprendimento e versatilidade , aspectos importantes para um grande artista
    Roberto Bazolli

    ResponderExcluir
  10. É muito bom bom conhecer todos esses detalhes sobre esse LP tão importante na história da música. Obrigado Homerix!

    ResponderExcluir