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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Lucy in the Sky with Diamonds, que viagem!

 

Esta é a  canção do Lado A do álbum Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band

a história do álbum, cenário, assuntos e canções, aqui neste LINK

É uma de 4 canções com Histórias Alucinógenas

as demais 3 canções de mesmo Assunto e  Classe, neste LINK

Atenção, canções com títulos em vermelho 

são links que levam a análises sobre elas.

3. Lucy In The Sky With Diamonds (Story Acid Song by John Lennon)

John conta: 'Flores de celofane amarelas e verdes elevadas sobre a sua cabeça. Procure pela garota com o sol em seus olhos e ela se foi... Lucy no céu com diamantes ... Lucy no céu com diamantes... Lucy no céu com diamantes''. 

Julian, em seus 4 aninhos, mostrou a seu pai um desenho que fez para sua amiguinha, e disse:
'It's Lucy ... in the Sky ... with Diamonds'
Só que o pai de Julian se chamava John Lennon e ele disse para si: 'Isso dá samba!'  Ele garante que não viu essas três  letras com o destaque que eu dei, mas o fato é que fez uma letra psicodélica, colorida, com citações que só com a mente alterada sairiam, coisas como 
'homens a cavalo de pau comendo torta de marshmallow', 'táxis-jornal aparecendo na praia', 'céus de marmelada', 'gravatas de espelho', e claro, 'a garota com olhos vidrados' ('caleidoscope eyes'), que é como ficam os olhos da pessoa com LSD nas ideias. Diz John que as imagens de Alice no País das Maravilhas vieram muito fortes em sua mente, as obras de Lewis Carroll afinal eram salpicadas de imagens que se encaixavam perfeitamente naqueles tempos psicodélicos. Curiosidades: (1) A menina Lucy O'Donnel morreu cedo, com Lupus, aos 46 anos; (2) o desenho de Julian está com David Gilmour, guitarrista do Pink Floys, que o arrematou em um leilão por uma pequena fortuna. 
Bem, a contribuição de Paul na letra foram as frases das duas pontes, que apresentam os refrões: 'Cellophane flowers' e 'Newspaper taxis'. Tenha ou não a canção sido inspirada em drogas, a canção é linda, maravilhosa! A começar pelo riff de abertura num órgão Lowery tocado por Paul, que só tem o defeito ser tão curto, mas fica marcado de muito tempo em nossas mentes. A voz de John está especialmente trabalhada para conceder um clima etéreo. George confere um clima indiano ao arranjo, e não se esqueça de se arrepiar com a batida de Ringo anunciando o refrão e com a linha de baixo espetacular de Paul!! E mesmo com tudo isso, John ainda achou que a canção não teve o arranjo adequado!!
Uma palavrinha sobre a estrutura e tempos da canção. Acho que no manual de estrutura musical se aprende que uma canção padrão teria repetições do trinômio verso-ponte-refrão nessa ordem: num verso, a apresentação de um tema, numa ponte, uma evolução para o clímax, e o refrão explodindo em nossas ideias. Todas as canções têm versos, mas nem todas têm pontes, outras não têm refrões. Se fosse se imaginar um ritmo, uma valsa se aplicaria, imagine: Pum-Pa-Pa, Pum-Pa-Pa, VERso-PONte-reFRÃO, VERso-PONte-reFRÃO. LITSWD é bem assim, básica na estrutura. Aqui, John e Paul se preocuparam em colocar o feijão com arroz: são três vezes o trinômio, ou quase, porque na última viagem, eles pulam o rio, desprezando a ponte, vão direto da margem do verso à margem do refrão. E, falando em valsa, é assim o tempo dos versos e pontes, um compasso 3 por 4, imagine de novo o Pum-Pa-Pa, Pum-Pa-Pa, e acompanhe comigo o primeiro verso, marcadinho: "PIC-ture-your, SELF-in-a, BOAT-on-a, RI-ver-with, TAN-ge-rine, TREES- -in, MAR-ma-lade, SKIES" e segue "SOME-bo-dy, CALLS-you-you, AN-swer-quite, SLOW-ly-a, GIRL-with-ka, LEI-dos-cope, EYES"! Gostei da brincadeira de 'traduzir' o tempo na letra, mas paro por aqui! Passei a mensagem? Note que o baixo de Paul é tocado nas primeiras sílabas das tríades, aqui ressaltadas em maiúsculas! O tempo em 3 por 4 segue nas pontes, mas depois que a bateria de Ringo anuncia o refrão, num Pum Pum Pum inesquecível, ele fica mais rápido e passa a um compasso 4x4. Outra coisa notável é a variação no tom: LA nos versos, SI Bemol nas pontes e SOL nos refrões. Intrincada estrutura melódica!
A gravação tomou 24 horas de estúdio (apenas, se comparado a algumas outras canções do LP), ao longo de 3 dias. A base tinha John num guia vocal e com chocalho, Ringo na bateria, George num violão, George Martin num piano e Paul num magnífico teclado Lowery, que se ouve na introdução, solo, e nos versos, ao fundo da voz de John, e que você não sabe se é um cravo, ou uma harpa, ou uma guitarra, na verdade, foi uma mistura disso tudo que Paul criou, provocando um som sensacional. O guia vocal de John tinha os versos em apenas uma nota. O vocal definitivo, com as variações melódicas que conhecemos, veio num dia posterior, bem como Paul harmonizando nos refrões, lá no alto, como sempre, e John dobrando seu vocal em partes selecionadas (veja na frase dos "kaleidoscope eyes").  George trouxe um tambura (instrumento indiano que eu gostaria de ter em casa, como decoração, é impressionante), que provoca aquele som de zumbido (drone) durante os versos, pena que quase desapareceu na versão final. Mas se ouve muito bem a guitarra dele dobrando os vocais de John nas pontes, e ao longo da canção, distorcida, através de um alto-falante Leslie, que já fora usado em Tomorrow Never Knows. Aliás, a voz de John também passou pela geringonça. Ficou maravilhosa! Importantes foram os efeitos de eco colocados entre versos e pontes, perceba, como dá um climão etéreo perfeito! Não se deve deixar de destacar uma das melhores linhas de baixo de Paul, preste atenção, especialmente nos refrões, gosto muito. Sua atuação no baixo, mais o teclado Lowery, fazem de Paul o principal destaque instrumentista da canção!

Aqui, vale o mesmo das canções anteriores. Não deixe de conhecer, ou relembrar, a espetacular versão que fez da canção o grande Elton John. Ele contou que queria gravar algo do amigo, e John reclamou que ninguém ainda se havia lembrado de Lucy! Elton aceitou! Que bom! A versão é longa, mais de 6 minutos, com um riff de entrada longo (que ótimo!) e, após uma rendição obediente à original, permite-se mudanças de ritmo, e mudanças de melodia que só acresceram ao conjunto. E até hoje eu me lembro do grito: 'Lucy, oh oh oh Lucy' paralelo ao refrão! Conheçam ou relembrem aqui, neste LINK.

7 comentários:

  1. Excelente detalhamento. Está é o tipo de musica que fica tatuado na mente.
    Realmente uma “ viagem”

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  2. Sinto q estou em outra dimensão ouvindo essa música..tudo é perfeito na música mas as linhas de baixo na minha opinião foram as melhores que ouvi em toda minha vida ! Mágico

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  3. Quando ouvi esta música pela primeira vez achei ela meio estranha para uma banda de rock - na época. Com o tempo aprendi a entendê-la melhor, tanto como música como pela sua letra super na vanguarda e até hoje atual. Parabéns pela análise.

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  4. Kaleidoscope eyes pode ser apenas pessoas cujos olhos mudam de cor a todo momento. Sinceramente, nunca ouvi dizer que as pessoas que tomam LSD. Como nunca tomei, e nunca estive com uma pessoa sob efeito, eu não sei. Mas sei que diziam os olhos da minha mãe mudavam de cor de acordo com a roupa ou a luminosidade do dia. Por isso diziam que pareciam calesdocopio... Uai, como se escreve essa palavra em português? Enfim, pode ser que John pensava nisso. Paul tem olhos assim. Hazel. Mudam sempre de cor. Quem sabe Lucy, a amiga de Julian, tinha olhos assim também?
    Nem tudo é o que parece ser. Isso me fez lembrar de uma amiga super espírita...Para ela tudo estranho que acontece e coisa dos espíritos. Fui contar para ela sobre o medo que passei certa vez no Rio de Janeiro. No hotel. A maçaneta da porta começou a girar sozinha. Antes que eu terminasse o caso ela explicou o que acontecia. " Era o ectoplasma." Eu fiquei tão sem graça que deixei ela pensar que sim. Na verdade, era apenas o hóspede do quarto ao lado que veio me pedir desculpas depois.
    John disse várias vezes que a música nada tem a ver com LSD. Sabemos que eles negavam coisas, contavam mentirinhas, mas nem sempre. O desenho existe. O nome foi dado pelo menininho. Até prova em contrário a história é essa.
    John era fã incondicional de Lewis Carroll. Seus livros eram cheios de coisas assim parecidas com a letra de Lucy in the Sky with Diamonds. Pode sim ter se inspirado na literatura maluquete de Carroll.
    Como pode não ser. Enfim, há como afirmar nem sim nem não. Praticamente tudo na vida e música dos Beatles é assim. Impossível saber ao certo. Tudo misterioso. E isso os torna ainda mais interessantes.
    Sobre a letra da música: uma pequena parte dela foi escrita por Paul. Acho que a parte dos newpapers taxis on the shore.

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  5. Linda música, linda letra, linda harmonia e linda explicação .
    Roberto Bazolli

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  6. Como não entendo nada de música, a não ser o bem que faz aos meus ouvidos, me atento à letra. Ela sempre me passou uma sensação de infinito. Não conhecia sua história e versões (LSD). Agora, mais do que nunca, ela me conduz ao infinito de um misto de sentimentos. Muito bom este aprendizado.

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  7. LSD é psicodélica pura.

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